Agrupamento de Escolas António Sérgio – V. N. Gaia ESCOLA SECUNDÁRIA/3 ANTÓNIO SÉRGIO BIOLOGIA E GEOLOGIA – Módulo 1 – 10º CTec CURSO CIENTÍFICO-HUMANÍSTICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS N O M E______________________________________ ____ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ N ª_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 24/10/2013 Formação do Sistema Solar Em 1755, o filósofo alemão Immanuel Kant sugeriu que o Sistema Solar se teria originado a partir de uma enorme nuvem de gases e finas poeiras em rotação, uma ideia que não encontrou o eco merecido na comunidade científica até algumas décadas atrás. Diversas descobertas astronómicas apoiam atualmente a proposta de Kant, de cuja refinação resultou a teoria conhecida como Hipótese Nebular. Os telescópios mais potentes têm revelado que o espaço entre os diversos sistemas estelares e galáxias não se encontra vazio, mas sim preenchido difusamente por matéria sobretudo gasosa - hidrogénio e hélio -, e alguma sólida (um fino pó quimicamente semelhante às rochas existentes na Terra). Em alguns pontos esta matéria adensa-se, formando vastas nuvens designadas por nébulas. Vejamos então como o Sol e os planetas surgiram segundo a referida teoria (fig. 1). Há cerca de 4600 milhões de anos, a matéria da Nébula Solar Primitiva (a "nébula-mãe" do Sistema Solar) começou, pelos efeitos cumulativos da rotação e da gravidade, a concentrar-se no centro da nuvem, formando uma enorme e densa esfera de gases e algumas poeiras - o proto-Sol. Comprimido pelo seu próprio peso, o material dessa proto-estrela tornou-se cada vez mais denso e inevitavelmente quente. A certo momento, a temperatura e a pressão atingiram valores que despoletaram a fusão nuclear do hidrogénio. Nesta reação, que prossegue nos dias de hoje e à qual se deve a luz e o calor que suportam a Vida na Terra, dois átomos de hidrogénio combinam-se (fundemse) para gerar um de hélio. Como este átomo tem uma massa menor que a soma dos dois de hidrogénio, isso significa que parte da matéria inicial se converte numa elevada quantidade de energia, como Einstein preconizou com a sua famosa equação E = mc2. Pode-se dizer que a proto-estrela se incendiou, nascendo o Sol... Embora a maioria da matéria nebular tenha estado envolvida na formação da estrela, persistiu em seu redor um disco rotativo de gás e poeiras. Mais quente junto do Sol - e uma atração gravítica mais intensa -, mais frio na periferia, geraram-se no disco condições para uma condensação diferenciada das partículas da nuvem. Figura 1 – Formação do Sistema Solar Nas proximidades do Sol acumulou-se uma maior quantidade de matéria, quimicamente mais densa e com um ponto de fusão mais elevado (caso do magnésio, do silício e do ferro). Com o Página 1 de 3 FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR arrefecimento do disco, as partículas aglutinaram-se primeiro em pequenos grãos sólidos e, depois, em corpos com centenas de metros de diâmetro - os planetesimais. A continuação deste processo - a acreção, basicamente a agregação de partículas ou corpúsculos por condensação, atração gravítica e colisões - conduziu ao aparecimento de corpos maiores, os protoplanetas. Estes, aumentando de dimensão e sofrendo um rearranjo interno dos materiais constituintes, converteram-se nos planetas. Assim, os corpos que orbitam a menor distância do Sol são genericamente rochosos, mais densos e pequenos (compactos) e, dado que as temperaturas a que se formaram terão dispersado os elementos mais voláteis, possuem atmosferas rarefeitas. Quanto aos planetas formados na zona exterior da Nébula Solar, são compreensivelmente mais gasosos (com um núcleo rochoso), ricos em elementos leves como o hidrogénio, hélio, carbono e azoto (que escapam mais facilmente à influência gravitacional do Sol), pouco densos e de grandes dimensões. Como é que a Terra passou de uma simples amálgama de materiais - o resultado de uma acreção errática - para um planeta com uma massa organizada em camadas distintas? A resposta é o processo de diferenciação. Os protoplanetas rochosos, em virtude do calor produzido pela contração gravítica, colisões e desintegração radioativa, terão aquecido até aos 1000 °C na superfície e aos 5000 °C no centro. Ocorreu, assim, uma fusão parcial destes corpos celestes, pelo que os elementos mais densos terão afundado no seio de uma massa viscosa e ainda homogénea. Os elementos menos densos, como o silício, o oxigénio e o carbono, migraram preferencialmente para a região superficial, formando a protocrosta; a profundidades intermédias acumularam-se compostos de silício, magnésio e ferro. Em suma, a diferenciação planetária fez-se de acordo com a densidade dos materiais. Figura 2 - A diferenciação do protoplaneta resultou numa Terra com zonação interna. Com a irradiação de calor para o Espaço e o fim da acreção. a Terra arrefeceu e solidificou. A natureza dos materiais. a temperatura e as pressões determinaram que uma zona da camada intermédia mantivesse alguma plasticidade. As correntes de materiais que aí se estabeleceram, devido a gradientes térmicos, forçam ainda hoje o movimento e colisão das placas que dividem a camada superficial do nosso planeta. Paralelamente à diferenciação rochosa da crosta terá ocorrido a libertação de diversos elementos leves sob a forma de gases. Essa lenta desgaseificação originou a primeira atmosfera da Terra, composta por dióxido de carbono, vapor de água, amoníaco, metano e algum hidrogénio. Desde então a atmosfera mudou bastante, numa evolução que tem acompanhado de perto a da Vida (fig. 3). “A verdade é como o Sol. Ela permite-nos ver tudo, mas não deixa que a olhemos” Hugo, Victor Página 2 de 3 FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR Figura 3 - Evolução composicional da atmosfera terrestre. A diminuição do teor em CO2 e o aumento do de O2 devem-se ao aparecimento dos organismos fotossintéticos. Como qualquer outra teoria, a Hipótese Nebular é uma tentativa de explicação e não uma resposta definitiva para o problema da origem do Sistema Solar, em contínuo aperfeiçoamento com a acumulação de novos dados (necessários para, por exemplo, compreender a baixa velocidade de rotação do Sol). Naturalmente, existem explicações alternativas. Uma delas, catastrofista, propõe que os planetas surgiram com a colisão entre o proto-Sol e uma protoestrela mais pequena, soltando porções que se agregaram e evoluíram em corpos diferenciados presos à gravidade do Sol; de tão simplista e incompatível com as observações mais recentes, esta é uma teoria praticamente abandonada. Em contrapartida, temos de reconhecer que a Hipótese Nebular é consistente com boa parte do atual conhecimento sobre os corpos do nosso sistema e respetiva dinâmica, mecânica e geológica. O facto de: - os planetas interiores serem notoriamente distintos dos mais afastados no que respeita às dimensões, constituição e densidade, - todos os corpos do Sistema Solar partilharem uma matriz química (C, H, O e N, entre outros elementos) e terem presumidamente a mesma idade, - os planetas apresentarem órbitas regulares, quase circulares, e movimento de rotação, levam a maioria dos cientistas a crer que o Sol e os planetas se formaram de um modo similar ao descrito neste texto. “A verdade é como o Sol. Ela permite-nos ver tudo, mas não deixa que a olhemos” Hugo, Victor Página 3 de 3