O ENSINO DE CIÊNCIAS E LINGUAGENS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM EXERCÍCIO DA INTERDISCIPLINARIDADE Área temática: Educação. Responsável pelo trabalho: SANTOS, D. G. dos. Instituição: Universidade Federal do Pará (UFPA) Autores: Diana Gonçalves dos Santos1; Cristina Maria da Silva Lima2; Jesus de Nazaré Cardoso Brabo3. RESUMO: Este trabalho relata e tece reflexões sobre uma experiência na iniciação à docência, vivenciada em uma escola pública da periferia de Belém (PA), a partir de uma ação extensionista desenvolvida por duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), graduandas do curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens da Universidade Federal do Pará (UFPA). O objetivo da ação foi desenvolver uma sequência didática de caráter interdisciplinar, para contribuir com o processo de alfabetização dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. A sequência foi desenvolvida em uma turma do segundo ano e envolveu atividades de leitura de lendas amazônicas, exibição de filmes sobre noções de astronomia para crianças, realização de debates a partir das dúvidas ou comentários dos estudantes a respeito do que havia chamado a atenção deles e a construção coletiva de uma maquete do sistema solar. A ação possibilitou a reflexão sobre metodologias e estratégias interdisciplinares de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, que considerem o contexto regional, bem como contribuiu para a motivação e a aprendizagem participativa dos estudantes. Espera-se que este trabalho possa incentivar os professores a diversificar suas estratégias de ensino. Palavras-chave: Ensino Fundamental. Alfabetização Interdisciplinar. Ciências e Linguagens. Introdução A ação extensionista abordada neste trabalho foi desenvolvida no âmbito das atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), por duas bolsistas que são graduandas do curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens da Universidade Federal do Pará (UFPA). Neste processo de iniciação à docência, a ação foi pensada como forma de possibilitar o 1 Discente do Curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens (UFPA). Bolsista do PIBID. E-mail: [email protected]. 2 Discente do Curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens (UFPA). Bolsista do PIBID. E-mail: [email protected]. 3 Professor do Instituto de Educação Matemática e Científica (UFPA). Orientador do trabalho. E-mail: [email protected]. 2 desenvolvimento de investigações sobre o tema, bem como contribuir para a formação inicial no Curso de Licenciatura Integrada, tendo em vista a articulação com a proposta interdisciplinar apresentada em seu currículo e projeto pedagógico. A motivação para o desenvolvimento da ação extensionista surgiu a partir da necessidade de investigar as possibilidades do trabalho com as lendas amazônicas para o aprendizado da leitura e da escrita de estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. Neste sentido, o objetivo da ação foi desenvolver uma sequência didática de caráter interdisciplinar, para contribuir com o processo de alfabetização dos estudantes. Este trabalho descreve o planejamento, a execução e a avaliação desta ação, que foi desenvolvida ao longo de uma semana em uma turma com quinze estudantes do segundo ano do ensino fundamental da Escola Estadual Monsenhor Azevedo, mantida em Regime de Convênio, localizada na periferia de Belém (PA), a partir da autorização da professora regente da turma. Procura descrever as reações das crianças, suas dúvidas, inquietações e insights, ocorridos ao longo da execução das atividades. A proposta mostrou-se desafiadora e ao mesmo tempo significativa para o ensino de conhecimentos envolvendo a leitura, a escrita e o ensino de ciências, sendo utilizadas lendas amazônicas, apresentação de curtas metragens sobre a formação do sistema solar, bem como atividades que foram realizadas a partir de aulas dialogadas. Material e Metodologia A ação extensionista realizada consistiu em uma sequência didática de caráter interdisciplinar, desenvolvida em agosto de 2013, ao longo de uma semana, com quinze estudantes do segundo ano do fundamental da Escola Estadual Monsenhor Azevedo, mantida em Regime de Convênio, na periferia de Belém (PA). A proposta foi desenvolvida por duas bolsistas do PIBID, graduandas do curso de Licenciatura Integrada da UFPA, sob orientação do coordenador do PIBID na unidade acadêmica. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa, com a seleção e leitura de material bibliográfico que possibilitasse conhecimentos para desenvolver uma sequência didática diferenciada. Recorreu-se aos estudos teóricos de Kleiman (1995; 2006), Delizoicov (2011) e Langhi e Nardi (2004). Após a pesquisa bibliográfica, iniciou-se a ação extensionista na turma, a partir da observação das aulas desenvolvidas pela professora titular, bem como a observação das dificuldades apresentadas pelos estudantes na compreensão dos conteúdos que estavam 3 sendo trabalhados. Neste processo de observação, durante os dois primeiros dias, optou-se pela abordagem qualitativa. Com ele, analisou-se a necessidade do desenvolvimento de uma sequência didática que fosse significativa para o processo de alfabetização e aprendizagem dos alunos. Assim, no terceiro dia, iniciou-se a sequência didática. Optou-se por uma linguagem interdisciplinar, que proporcionasse aos estudantes uma compreensão positiva no processo de aquisição de leitura e escrita, além de desenvolver as primeiras práticas de iniciação científica, com o ensino do sistema solar. Dentre os recursos materiais utilizados, destaca-se o caderno de campo, câmera, folhas de isopor, papel A4, Data-Show e vídeo. A princípio, perguntou-se aos estudantes se eles já tinham escutado falar da lenda da vitória-régia. Houve um não coletivo dos estudantes. Narrou-se, então, a lenda para a turma. Em seguida, solicitou-se que eles escrevessem ou representassem os seus entendimentos sobre o contexto narrado. Alguns estudantes conseguiram retextualizar a lenda. E, a partir das atividades de retextualização dos estudantes, houve a necessidade de se falar do sistema solar, pelo fato de ter surgido inquietações nos mesmos, de como as estrelas se formavam no céu, uma vez que a lenda descrevia todo o processo de como a índia se tornou uma estrela do mar. Neste contexto, direcionou-se o trabalho com o ensino de ciências, focalizando o ensino do sistema solar, para possibilitar novos conhecimentos aos estudantes, reforçando a aquisição de leitura e escrita em um novo contexto de ensino. No quarto dia, apresentou-se o vídeo “a grande viagem ao espaço”, sendo explicado, a partir de indagações aos estudantes, como se formam as estrelas no céu, o porquê da proximidade da lua com o planeta terra, dentre outras indagações que surgiram. Após isso, sugeriu-se a eles que desenvolvessem um pequeno texto em grupos de quatro. Para expor seus entendimentos a respeito do tema, houve estudante que desenvolveu seu texto em forma de desenhos alinhando os planetas em suas respectivas órbitas. No quinto dia, solicitou-se que os estudantes construíssem uma maquete do sistema solar, utilizando a criatividade para inserir os planetas em suas posições no espaço, como foi feito na atividade escrita. A partir da construção da maquete e dos planetas alinhados em suas órbitas, realizou-se uma avaliação, com os estudantes, da atividade desenvolvida. Resultados e Discussões Desenvolver a ação extensionista possibilitou a reflexão sobre novas propostas didáticas, principalmente por se tratar de um assunto que é de fundamental importância na 4 sociedade, que é fazer com que os estudantes sejam alfabetizados nos primeiros anos iniciais. Com base nesta proposta, optou-se por uma metodologia de ensino que envolveu tipologia de textos, como lendas, e contextos científicos envolvendo o ensino de ciências, e que teve como ferramenta principal o estudo do sistema solar. Kleiman (2006, p. 4), ressalta que “[...] um agente se engaja em ações autônomas de uma atividade determinada e é responsável por sua ação, em contraposição ao paciente, recipiente ou objeto, ou ao sujeito coagido”. Assim, o professor deve ser um agente de letramento, agindo com métodos diferenciados em prol da coletividade, com o objetivo específico de beneficiar e atribuir aos estudantes o sentido da palavra escrita. Uma atividade que envolva o imaginário da criança, incentivado suas habilidades em desenvolver o que se pensa através do ato da leitura e escrita é de grande importância para a aquisição de novos conhecimentos no processo de alfabetização. Observou-se que os estudantes demonstraram-se bastante motivados com a didática proposta, já que a mesma foi apresentada de maneira diferenciada, pois os alunos participaram com seus entendimentos, suas interpretações e colocações na construção do saber, o que corrobora muito sobre a relevância de que é preciso escutar os estudantes, para assim conhecê-los e valorizá-los, enquanto sujeitos participantes de uma sociedade. Delizoicov (2011, p. 153) aponta que “tornar a aprendizagem dos conhecimentos científicos em sala de aula num desafio prazeroso é conseguir que seja significativa para todos, tanto para o professor quanto para o conjunto de alunos que compõem a turma”. Observou-se, durante o desenvolvimento das atividades, que os estudantes dos anos iniciais também expressam seu conhecimento através da linguagem pictórica. Para eles, este método pode ser um facilitador na compreensão do assunto ensinado, uma vez que os mesmos estão adquirindo novos conhecimentos da linguagem escrita, e para eles as novas palavras adquiridas precisam ter sentidos e formas. Langhi e Nardi (2004, p. 4) sugerem que os “Estudantes descubram os conceitos astronômicos por elas mesmas, utilizando-se principalmente de atividades práticas e simples, mas sempre levando em consideração suas próprias ideias e pensamentos a respeito do assunto que está sendo estudado”. A atividade passou ser diferenciada e significativa para os estudantes. Observou-se que a sintonia e a socialização de ideias para alinhar os planetas em suas devidas órbitas foi motivo de várias conversas entre eles. Algumas vezes, foi necessário o questionamento para estimular a habilidade de compreensão dos estudantes sobre astronomia. 5 Durante a avaliação do trabalho desenvolvido, os estudantes responderam que essa experiência foi de grande motivação para eles usarem a criatividade e descobrirem novos sentidos nas histórias das lendas. Assim, quando os estudantes compartilham conhecimentos e interagem entre si, o aprendizado se torna mais significativo no processo de alfabetização científica e, ao mesmo tempo, contribui com a leitura e escrita. Acredita-se na potencialidade de estratégias que despertem o interesse dos estudantes, fazendo com que eles envolvam-se e participem na construção do saber, expressando-se de diferentes formas, como na fala, escrita ou gestos, dos quais o ser humano utiliza para exprimir suas ideias e sentimentos. Como foi o caso da sequência didática desenvolvida a partir da lenda da vitória-régia, que focalizou o ensino em uma linguagem interdisciplinar, valorizando e contribuindo para a autoestima destes estudantes que estão iniciando a busca de conhecimentos. Conclusão A ação extensionista realizada serviu de motivação para que a professora titular desenvolvesse atividades diferenciadas, uma vez que a mesma vinha apenas reproduzindo o conhecimento que utilizava dos livros didáticos, não buscando novos métodos que despertasse a atenção e a participação dos estudantes nas atividades propostas. Desta forma, conclui-se que a sequência didática desenvolvida possibilitou o desenvolvimento de novas práticas de ensino, valorizando o uso da linguagem e resgatando a cultura popular pouco valorizada no mundo pós-moderno, bem como contribuiu com o processo de alfabetização dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. Referências DELIZOICOV, Demétrio. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011. KLEIMAN, Angela B. Professores e agentes de letramento: identidade e posicionamento social. Revista Filologia e Linguística Portuguesa, n. 08, p. 409-424, 2006. ______ (org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995. LANGHI, Rodolfo; NARDI, Roberto. Um estudo exploratório para a inserção da Astronomia na formação de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Revista Tecné, Episteme y Didaxis, n. 16, 2004.