“O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) como sentinela de saúde do Oceano Atlântico” por Maíra Duarte Cardoso Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Salvatore Siciliano Rio de Janeiro, fevereiro de 2013. Esta dissertação, intitulada “O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) como sentinela de saúde do Oceano Atlântico”. apresentada por Maíra Duarte Cardoso foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof.ª Dr.ª Fernanda Imperatrice Colabuono Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira Prof. Dr. Salvatore Siciliano – Orientador Dissertação defendida e aprovada em 22 de fevereiro de 2013. Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública C268 Cardoso, Maíra Duarte O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) como sentinela de saúde do Oceano Atlântico. / Maíra Duarte Cardoso. -- 2013. viii,101 f. : il. ; tab. ; graf. Orientador: Siciliano, Salvatore Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2013 1. Aves. 2. Oceano Atlântico. 3. Saúde Ambiental. 4. Compostos Organoclorados - análise. 5. Metais análise. 6. Análise Bacteriológica. I. Título. CDD - 22.ed. – 363.73 Dedico este trabalho ao meu avô Gabriel (in memoriam), por ter-me ensinado a importância do estudo e aos meus pais, por me permitirem trilhar um caminho diferente do tradicional “formar-se e arrumar um ‘emprego de verdade’”. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, por todo o apoio e, como foi dito na dedicatória, por me haverem ajudado a trilhar um caminho mais longo até o objetivo final. A toda a minha família, por entender meus momentos de ausência. Ao meu namorado, Oswaldo Maciel, por todo o apoio e, principalmente, pela paciência. Aos amigos antigos, por também entenderem os meus momentos de ausência, e aos novos, feitos no mestrado, por atravessarem comigo todas as dificuldades e até torná-las engraçadas. Um agradecimento especial a minha amiga Vivian Wienskoski (in memoriam), que infelizmente não pôde ver mais esta etapa cumprida, mas merece esta deferência, por ter passado pela minha vida, preenchendo-a de luz e felicidade. Ao meu orientador, Salvatore Siciliano, pela dedicação e contribuição para o trabalho e para o meu crescimento acadêmico e ainda por conseguir realizar o papel de orientador de forma leve e divertida. À equipe do GEMM-Lagos, pelo fornecimento de material para o estudo, em especial ao Jailson Fulgencio de Moura, que além de toda a ajuda, ainda tornou esta jornada engraçada. À equipe do Laboratório de Absorção Atômica da PUC-Rio, em especial ao Rodrigo Gonçalves, pela dedicação em ensinar as técnicas utilizadas, e ao Douglas Cordeiro, por toda a ajuda. Ao Professor Reinaldo Calixto de Campos (in memoriam), por ceder o laboratório para esta pesquisa. Agradeço também à Rachel Hauser Davis e ao Ricardo Lavandier, que apesar de pertencerem a outros laboratórios, também contribuíram muito para a realização deste estudo. Um agradecimento muito especial às equipes do Laboratório de Química Orgânica Marinha do Instituto Oceanográfico da USP e do Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas do Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, pelas análises realizadas. À amiga Leila Lemos, pela ajuda essencial ao longo de todas as etapas de realização deste trabalho. A todos os professores das disciplinas cursadas, pela contribuição no enriquecimento do trabalho. À CAPES, pela bolsa fornecida. E por último, mas não menos importante, aos membros da banca, por lerem e avaliarem este trabalho, resultado de dois anos de esforço e dedicação. “Ver na vida algum motivo pra sonhar. Ter um sonho todo azul, azul da cor do mar.” (Tim Maia) RESUMO As aves marinhas vêm sendo utilizadas há muito tempo para monitorar a contaminação ambiental. O objetivo deste estudo foi testar a competência do bobo-pequeno, Puffinus puffinus (Aves: Procellariidae) como sentinela de saúde ambiental, através da pesquisa de contaminantes (metais-traço e compostos organoclorados) em tecidos de carcaças e do isolamento de bactérias dos gêneros Vibrio e Aeromonas em exemplares vivos. Para isso, foram recolhidas 35 carcaças de Puffinus puffinus arribados na costa centronorte do estado do Rio de Janeiro e duas carcaças em Aracruz, no litoral do Espírito Santo, de onde foram coletados fragmentos de tecido hepático e muscular, com objetivo de análise de contaminantes. Além disso, foram coletados swabs de onze exemplares encontrados ainda vivos nas praias do litoral centro-norte fluminense, para o isolamento das bactérias citadas. A concentração média de mercúrio em fígado foi de 7,19 mg/kg (ps) e em músculo foi de 1,23 mg/kg (ps); de selênio foi de 34,66 mg/kg (ps) (fígado) e de 7,98 mg/kg (ps) (músculo); de cádmio, 22,33 mg/kg (ps) (fígado) e 1,11 mg/kg (ps) (músculo); e de chumbo, 0,1 mg/kg (ps) (fígado) e 0,16 mg/kg (ps) (músculo). Em todos os espécimes analisados foram detectados compostos organoclorados. No grupo dos pesticidas, os maiores níveis foram encontrados no grupo dos DDTs. No caso das bifenilas policloradas, foram predominantes os congêneres de maior grau de halogenação. Quanto à contaminação microbiológica, foram isoladas bactérias do gênero Vibrio de 91% dos espécimes avaliados, onde Vibrio harveyi foi a espécie predominante, e em 18% dos espécimes foram isoladas bactérias do gênero Aeromonas, sendo Aeromonas sobria a única identificada. O Puffinus puffinus demonstrou ser um competente sentinela de saúde do Oceano Atlântico, e um monitoramento dos níveis de contaminantes e do isolamento de bactérias de interesse para a Saúde Pública deve continuar. i ABSTRACT Seabirds have been used for a long time to monitor environmental contamination. The aim of this study is to test the competence of Manx shearwater, Puffinus puffinus (Birds: Procellariidae) as a sentinel of environmental contaminants health, using levels (trace metals and organochlorines compounds) in tissues of carcasses and the isolation of Vibrio spp. and Aeromonas spp. in live specimens. To this end, 35 carcasses of Puffinus puffinus wrecked on the central and northern coast of the state of Rio de Janeiro and two carcasses recovered in Aracruz, on the coast of the state of Espírito Santo were selected, and fragments of muscular and hepatic tissues from those carcasses were collected for analysis of contaminants. Furthermore, swabs from eleven birds found alive at the central and northern coast of Rio de Janeiro were collected for isolation of aforementioned bacteria. The average concentration of mercury in their liver was 7.19 mg/kg (dw); in their muscle, 1.23 mg/kg (dw); for selenium, 34.66 mg/kg (dw) (liver) and 7.98 mg/kg (dw) (muscle); for cadmium, 22.33 mg/kg (dw) (liver) and 1.11 mg/kg (dw) (muscle); and for lead, 0.1 mg/kg (dw) (liver) and 0.16 mg/kg (dw) (muscle). Organochlorine compounds were detected in all specimens studied. Among pesticides, the highest levels found were from the DDT group. Among polychlorinated biphenyls, higher halogenation degree congeners predominated. With respect to microbiological contamination, bacteria of the Vibrio genus were isolated from 91% of the analyzed specimens. Vibrio harveyi was the predominant species. Bacteria of the Aeromonas genus were isolated from 18% of the specimens. Aeromonas sobria was the only identified species. Puffinus puffinus has proven to be a competent sentinel of ocean health. Therefore, monitoring contaminants levels and isolation of Public Health interest bacteria must go on. ii SUMÁRIO Lista de Figuras ......................................................................................... v Lista de Tabelas ......................................................................................... vii 1. Introdução .............................................................................................. 1 2. Referencial Teórico ................................................................................ 3 2.1 A saúde dos oceanos e sua influência na saúde humana ..................... 3 2.2 Os metais, seus efeitos na vida marinha e na saúde humana ............... 5 2.3 Os compostos organoclorados, seus efeitos na vida marinha e na saúde humana ............................................................................................. 10 2.4 Bactérias dos gêneros Vibrio e Aeromonas ........................................... 15 2.5 Aves marinhas no papel de sentinelas ecológicas ................................. 17 2.6 O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) ...................................................... 19 3. Justificativa ............................................................................................ 24 4. Pergunta de Pesquisa............................................................................ 25 5. Objetivos ................................................................................................. 25 5.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 25 5.2 Objetivos Específicos ............................................................................. 25 6. Metodologia ............................................................................................ 25 6.1 Área de Estudo ...................................................................................... 25 6.2 Recolhimento de Material Biológico ....................................................... 26 6.3 Análise de Contaminantes ..................................................................... 28 6.3.1 Análise de Metais ................................................................................ 28 6.3.1.1 Determinação de Cádmio, Chumbo e Selênio ................................. 28 6.3.1.2 Determinação de Mercúrio ............................................................... 29 6.3.1.3 Garantia de Qualidade ..................................................................... 31 6.3.1.4 Determinação do Peso Seco ........................................................... 32 6.3.2 Análise de Compostos Organoclorados .............................................. 32 6.3.2.1 Cuidados Analíticos ......................................................................... 33 6.3.2.2 Soluções Padrões ............................................................................ 34 6.3.2.3 Curva Analítica ................................................................................. 34 6.3.2.4 Preparo das Amostras ..................................................................... 35 6.3.2.4.1 Extração ........................................................................................ 35 6.3.2.4.2 Purificação .................................................................................... 35 iii 6.3.2.5 Estimativa da quantidade de lipídios extraíveis ............................... 36 6.3.2.6 Análise dos compostos por cromatografia em fase gasosa ............. 36 6.3.2.7 Controle de qualidade ...................................................................... 37 6.4 Análises Microbiológicas ........................................................................ 38 6.5 Análise estatística .................................................................................. 39 7. Resultados e Discussão ........................................................................ 40 7.1 Ano, praias e municípios de proveniência das amostras ....................... 40 7.2 Comprimento total e envergadura das aves .......................................... 43 7.3 Período de arribamento das aves .......................................................... 43 7.4 Análise de contaminantes ...................................................................... 45 7.4.1 Análise de metais ................................................................................ 45 7.4.1.1 Análise de metais – ano de 2010 ..................................................... 55 7.4.1.2 Ano e as concentrações dos elementos .......................................... 56 7.4.1.3 Concentração de um mesmo elemento em tecido muscular e hepático ....................................................................................................... 57 7.4.1.4 Relações interelementares .............................................................. 59 7.4.2 Análise de compostos organoclorados ............................................... 62 7.4.2.1 Análise de compostos organoclorados – ano de 2010..................... 68 7.4.2.2 Ano e as concentrações dos compostos organoclorados ................ 71 7.4.3 Níveis dos diferentes tipos de contaminantes ..................................... 72 7.5 Análises microbiológicas ........................................................................ 73 8. Conclusão............................................................................................... 79 9. Recomendações .................................................................................... 79 10. Referências Bibliográficas .................................................................. 80 11. Apêndices ............................................................................................. 100 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1: Exemplar de bobo-pequeno descansando em Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, em novembro de 2011. Foto: Carlos Eduardo Amorim...............................................................................................................21 Figura 2: Área de estudo, que compreende a região centro-norte do estado do Rio de Janeiro, incluindo os municípios litorâneos existentes entre Saquarema e São Francisco do Itabapoana. Adaptado de IBGE, 2011...............................26 Figura 3: Coleta de musculatura peitoral de um exemplar de Puffinus puffinus para análise de contaminantes..........................................................................27 Figura 4: Distribuição das carcaças de Puffinus puffinus (n=37) utilizadas no estudo por praia, onde BZ = Armação dos Búzios, CF = Cabo Frio, ARCZ = Aracruz, AC = Arraial do Cabo, AR = Araruama e SFI = São Francisco do Itabapoana.........................................................................................................41 Figura 5: Distribuição das praias de obtenção das carcaças de Puffinus puffinus (n=37), por ano, onde BZ = Armação dos Búzios, CF = Cabo Frio, ARCZ = Aracruz, AC = Arraial do Cabo, AR = Araruama e SFI = São Francisco do Itabapoana...................................................................................................42 Figura 6: Distribuição das carcaças de Puffinus puffinus recolhidas para o estudo por município (n=37)..............................................................................42 Figura 7: Período de recolhimento das amostras de Puffinus puffinus (n=37) na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011................43 Figura 8: Concentrações de mercúrio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011.........................................................................45 Figura 9: Concentrações de selênio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011.........................................................................46 v Figura 10: Concentrações de cádmio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011.........................................................................47 Figura 11: Concentrações de chumbo em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011.........................................................................48 Figura 12: Diferenças de concentração dos metais nos tecidos muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, nos anos de 2005 a 2011, onde A corresponde às concentrações de mercúrio; B de selênio; C de cádmio e D de chumbo.....58 Figura 13: Frequência de isolamento de Vibrio spp. e Aeromonas spp. em exemplares de Puffinus puffinus (n=11), através de swabs coletados na região centro-norte fluminense, entre 2009 e 2012......................................................73 Figura 14: Frequência de isolamento de bactérias do gênero Vibrio, por espécie, nas amostras de Puffinus puffinus coletadas na região centro-norte fluminense, entre 2009 e 2012..........................................................................74 vi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Análise e recuperação do material de referência (DORM-2) através dos procedimentos descritos neste estudo........................................................31 Tabela 2: Análise e recuperação do material de referência (DOLT-3) através dos procedimentos descritos neste estudo........................................................31 Tabela 3: Diferenciação dos PCBs em função de seu grau de halogenação. Adaptada de Lavandier, 2011............................................................................33 Tabela 4: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo em tecido hepático, reportadas em estudos envolvendo Puffinus puffinus.............................................................................49 Tabela 5: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo em tecido muscular, reportadas em estudos envolvendo Puffinus puffinus.............................................................................50 Tabela 6: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo, em peso seco, reportadas em estudos envolvendo Puffinus spp.......................................................................................................53 Tabela 7: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo, em peso úmido, reportadas em estudos envolvendo Puffinus spp.......................................................................................................54 Tabela 8: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos elementos analisados em tecidos de Puffinus puffinus, entre todos os anos e o ano de 2010..........................................................................55 Tabela 9: Média, desvio padrão, valor mínimo, valor máximo e limite de quantificação do método, obtidos na análise de pesticidas organoclorados em amostras de tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13) arribados na costa centro-norte fluminense, nos anos de 2005 a 2011...........................................63 Tabela 10: Média, desvio padrão, valor mínimo, valor máximo e limite de quantificação do método, obtidos na análise de PCBs em amostras de tecido vii muscular de Puffinus puffinus (n=13) arribados na costa centro-norte fluminense, nos anos de 2005 a 2011...............................................................64 Tabela 11: Teor lipídico em amostras de musculatura de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense, entre os anos de 2005 e 2011.....65 Tabela 12: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos pesticidas organoclorados analisados em tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13), entre todos os anos e o ano de 2010........................69 Tabela 13: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos congêneres de PCBs analisados em tecidos de Puffinus puffinus (n=13), entre todos os anos e o ano de 2010......................................70 viii 1. Introdução Os oceanos cobrem aproximadamente 70% da superfície da Terra (ODUM & BARRET, 2008). Massas de água circulam continuamente na superfície e nas profundezas dos oceanos, gerando amplas variações de temperatura, salinidade, nutrientes e de outros fatores, que são responsáveis por condicionar a vida nesses locais (BASTIDA & RODRÍGUEZ, 2003). As comunidades biológicas têm influência considerável na composição dos sedimentos e gases das profundezas, em solução e na atmosfera, e por isso pode-se dizer que os oceanos têm participação na moldagem do clima em todo o planeta. A vida marinha se concentra próximo ao litoral, na plataforma continental, onde as condições de nutrientes são favoráveis. Nenhuma outra área tem variedade de vida comparável a esta região, nem mesmo as florestas tropicais úmidas (ODUM & BARRET, 2008). Aproximadamente 60% da população humana mundial vive em áreas litorâneas, e grande parte desta depende do mar para seu sustento (GESAMP, 2001). A plataforma continental representa a região de maior concentração de pesca comercial do mundo, especialmente em áreas de ressurgência, onde poucas espécies constituem a maior parte do pescado comercialmente utilizado (ODUM & BARRET, 2008). A contaminação e a poluição dos ambientes aquáticos são preocupantes, principalmente pelos efeitos deletérios à sua biota, sendo esta e o sedimento os compartimentos mais utilizados para o monitoramento do ambiente (NIENCHESKI & FILLMAN, 2006). Entre os agentes impactantes do meio ambiente, os metais se destacam atualmente, em virtude de suas características de serem persistentes no ambiente, perturbarem processos biológicos, em função de sua acumulação e alta toxicidade a determinados processos metabólicos, e outros efeitos adversos que podem causar aos ecossistemas aquáticos. Os metais tendem a se acumular em tecidos de organismos aquáticos, o que leva a grandes riscos de contaminação dentro da cadeia trófica (NIENCHESKI & FILLMAN, 2006). As atividades industriais são as principais fontes de emissão de metais para o ambiente, por descargas no solo, na água e no ar (LIU et al., 2008). Além das 1 fontes antrópicas, estes elementos também se encontram de forma natural nos ambientes marinhos, tornando-se tóxicos na presença de concentrações crescentes (TAIT & DIPPER, 1998). O cádmio, o mercúrio e o chumbo são utilizados nas atividades humanas há muito tempo e são considerados ameaças à saúde (JÄRUP, 2003). Em razão disso, estes foram os metais escolhidos para o presente estudo. Outro agente impactante importante é o selênio. Não se trata tecnicamente de um metal, mas de um metaloide, tendo propriedades similares à dos metais em certas formas. É um micronutriente essencial para a maioria dos organismos, que, assim como os metais citados anteriormente, se torna tóxico em concentrações crescentes (SEIXAS & KEHRIG, 2007; LIU et al., 2008). As atividades antrópicas vêm aumentando a emissão desta substância no meio ambiente, principalmente no compartimento aquático (SEIXAS & KEHRIG, 2007). A principal via de exposição para o homem e outros animais é a alimentar, e é válido salientar que esta substância, assim como as citadas anteriormente, também é capaz de bioacumular na cadeia trófica (SEIXAS & KEHRIG, 2007). Os compostos organoclorados são contaminantes orgânicos resultantes da ação antrópica nos ecossistemas. Alguns destes compostos estão incluídos na lista de poluentes orgânicos persistentes (POPs) da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) e, por isso, vêm recebendo atenção especial. Assim como os metais e o metaloide citados, os organoclorados também possuem a característica de bioacumulação (NIENCHESKI & FILLMAN, 2006). Quando na biota ocorre um acúmulo de contaminantes é chamado de bioacumulação; e quando o contaminante é transportado ao longo da cadeia trófica, é chamado de biomagnificação (MARQUES JR et al., 2009). As aves marinhas, por sua ampla distribuição, são muito utilizadas para monitorar a abundância de peixes e a poluição (FURNESS & CAMPHUYSEN, 1997; SMICHOVISKY et al., 2006). Mudanças inesperadas em quantidade, na saúde e na reprodução destes animais podem ser um alarme dos problemas relacionados à poluição ou ao suprimento de alimento. Como são predadoras, ocupando altos níveis da cadeia alimentar marinha, também são potenciais 2 monitores de poluentes capazes de se acumular em níveis tróficos (FURNESS & CAMPHUYSEN, 1997). O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) é uma ave marinha migratória, pelágica, da família Procellariidae, que se alimenta de peixes e cefalópodes, ou seja, um predador de topo de cadeia (THOMPSON, 1987). As colônias reprodutivas encontram-se no Atlântico Norte. Destes locais, as aves iniciam a migração, partindo para a América do Sul e, às vezes, para a África, durante o inverno do hemisfério norte, sendo a costa brasileira um dos principais destinos (THOMPSON, 1987; GUILFORD et al., 2009; HAMER, 2003 apud GUILFORD et al., 2009, WILSON et al., 2009). Segundo Shaffer e colaboradores (2006), existe atualmente uma diminuição nas populações de bobos-pequenos e estes animais podem ser indicadores importantes de mudanças climáticas e de saúde dos oceanos, por atuarem em escala global. Guilford e colegas (2009) também ressaltam a importância de estudar estas aves migratórias, integradoras globais de recursos marinhos, para que se entendam os impactos das mudanças em saúde dos oceanos. Deve-se lembrar que o homem também se encontra no topo da cadeia alimentar e que se alimenta de proteína de origem marinha, estando cronicamente exposto às substâncias citadas por via digestiva, razão por que se destaca a importância deste estudo para a Saúde Pública. 2. Referencial teórico 2.1 A saúde dos oceanos e sua influência na saúde humana A influência do meio ambiente na saúde humana vem ganhando considerável destaque nas discussões científicas, frente ao intenso processo de degradação ambiental pelo qual o planeta está passando, processo este que culmina em consequências diretas sobre a qualidade de vida e as condições de saúde da população. A saúde e o ambiente são “bens” coletivos e por isso precisam ser internalizados no campo da Saúde Coletiva (AUGUSTO et al., 2003). Dentro desta questão, pode-se realçar a influência dos oceanos na saúde humana. “Oceanos e Saúde Humana” é uma área de estudos 3 interdisciplinar que engloba desde a oceanografia física à biologia molecular, passando pela epidemiologia, entre outras, que trata das interações entre os oceanos, as atividades humanas e a saúde humana, revelando que os processos oceânicos são influenciados pela atividade humana e têm importantes implicações em Saúde Pública (LAWS et al., 2008; KITE-POWELL et al., 2008). É importante destacar que os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e que aproximadamente 60% da população mundial vive em áreas litorâneas (GESAMP, 2001; ODUM & BARRET, 2008). A Saúde dos Oceanos pode ser definida pela “reflexão da condição do ambiente marinho sob a perspectiva dos efeitos adversos causados por atividades antropogênicas, em particular destruição de habitats, mudanças nas taxas de sedimentação e a mobilização de contaminantes” (IOC, 2002). Fatores antrópicos estressores como degradação costeira, sobrepesca e contaminação das águas com produtos químicos e micro-organismos patogênicos estão alterando cada vez mais a condição de saúde dos oceanos (LAFFERTY et al., 2004). As interações entre os oceanos e a saúde humana podem ser benéficas ou maléficas (KITE-POWELL et al., 2008). Entre os benefícios que os oceanos trazem para o homem, pode-se destacar o valor nutricional do pescado, o uso das águas para a recreação, o uso de organismos marinhos para a fabricação de medicamentos, cosméticos, suplementos naturais ou como modelos marinhos para estudos neurofisiológicos, de desenvolvimento, de preservação de células e embriões, de carcinogênese, genômicos e fisiológicos. Se a saúde dos oceanos for negativamente afetada, pode haver perda destes benefícios (KNAP et al., 2002; FLEMING et al., 2006; KITE-POWELL et al., 2008; MOURA et al., 2008; LAWS et al., 2008). Entre os malefícios da interação, algumas questões merecem destaque. Os oceanos têm papel vital na regulação do clima ao redor do mundo e na variabilidade interanual do clima (como exemplo, temos o El Niño/Oscilação Sul). Essa variabilidade influi sobre fenômenos de chuva e seca, que por sua vez influenciam a dispersão de vetores de doenças e também a agricultura e, consequentemente, a nutrição dos seres humanos. Também não se pode deixar de citar as mudanças climáticas globais e seus impactos diretos e indiretos em Saúde Pública (FLEMING et al., 2006; MOURA et al., 2008). Outra 4 questão é a produção de toxinas por floração de algas tóxicas, que podem bioacumular ao longo da cadeia trófica, causando intoxicações alimentares em humanos que podem ser fatais ou levar a sequelas. Além disso, há a contaminação microbiológica e química das águas de recreação e do pescado. Entre os contaminantes químicos antropogênicos mais importantes estão os poluentes orgânicos persistentes (POPs), os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e os metais, que se caracterizam por persistência no ambiente, bioacumulação e, em alguns casos, biomagnificação (KNAP et al., 2002; FLEMING et al., 2006; MOURA et al., 2008; KITE-POWELL et al., 2008; LAWS et al., 2008). Todos os países litorâneos devem desenvolver estratégias de monitoramento oceânico, onde a comunidade científica tem papel fundamental (STRAIN & MACDONALD, 2002). As determinações de mudanças físicas, biológicas e ecológicas e de contaminantes químicos vêm sendo usadas como indicadores de saúde dos oceanos (KNAP et al., 2002; STRAIN & MACDONALD, 2002). Várias espécies marinhas são usadas como indicadores ou sentinelas de estresse ambiental e de possíveis ameaças à saúde humana (STEWART et al., 2008). A detecção precoce de alterações nestes indicadores pode levar à preservação de recursos naturais e à prevenção de doenças humanas associadas (KNAP et al., 2002). Grande parte dos agravos à saúde humana advindos do oceano é determinada pela deterioração deste bioma, e medidas de preservação dos oceanos são, consequentemente, medidas de Saúde Pública (MOURA et al., 2008). 2.2 Os metais, seus efeitos na vida marinha e na saúde humana Os metais apresentam propriedades como alta refletividade, alta condutividade elétrica e térmica e alta resistência mecânica. Dos elementos da tabela periódica, 75% são considerados metais e oito elementos são considerados metaloides, que são substâncias com características intermediárias a metais e não-metais (LIU et al., 2008). Os elementos que antigamente eram chamados de metais pesados conquistaram essa nomenclatura em função da densidade, já que eram considerados como tais os 5 metais que apresentavam densidade específica maior do que 5 g/cm³ (JÄRUP, 2003). Neste trabalho, o mercúrio (Hg), o cádmio (Cd), o chumbo (Pb) e o metaloide selênio (Se) serão enfatizados. O cádmio, o mercúrio e o chumbo são utilizados nas atividades humanas há muito tempo e são considerados ameaças à saúde. Apesar disso, a utilização destas substâncias continua e até aumenta em alguns países, especialmente nos países em desenvolvimento (JÄRUP, 2003). Como já citado, os metais possuem as características de persistência no ambiente e bioacumulação e se encontram de forma natural no ambiente, tornando-se tóxicos apenas em concentrações crescentes, situação em que as emissões antrópicas tratam de participar (TAIT & DIPPER, 1998; NIENCHESKI & FILLMAN, 2006). No ambiente aquático são encontrados de forma natural, em baixas concentrações, por apresentarem baixa solubilidade (TAIT & DIPPER, 1998). Os relatos da utilização do chumbo datam de 5000 anos atrás, quando era utilizado em materiais de construção, em pigmentos para cerâmica e em tubos para o transporte de água. Na Roma antiga, o chumbo era muito utilizado para adocicar vinhos velhos. Os mesmos romanos faziam uso do mercúrio para amenizar as dores da erupção dos dentes decíduos nos bebês. A partir de 1300, o mercúrio passou a ser utilizado no tratamento da sífilis, o que ocorreu até o final do século XIX. Na metade desse século, o artista plástico Claude Monet utilizava pigmentos à base de cádmio, prática que perdurou entre os artistas até o início do século seguinte. Nos dias de hoje, o mercúrio ainda é utilizado nas atividades de mineração, em diversas partes da América Latina e em amálgamas dentários; o chumbo ainda é um aditivo comum de combustíveis automotivos em alguns países em desenvolvimento; e o cádmio é amplamente utilizado em baterias recarregáveis, que muitas vezes são dispostas em lixo comum, contaminando o meio ambiente (JÄRUP, 2003). O selênio, apesar de não ser um metal, assume as propriedades respectivas em certas formas. É um elemento essencial para homens e animais, tornando-se tóxico em altas doses, sendo esta toxicicidade relacionada a sua forma e a sua solubilidade (LIU et al., 2008). O selenato (SeO2-4) e o selenito (SeO2-3) são altamente solúveis em água e são tóxicos para os sistemas biológicos, mesmo em concentrações muito pequenas; o 6 selênio elementar (Se0) é insolúvel em água e não possui propriedades tóxicas; e o seleneto (Se2-) é altamente tóxico e reativo, porém, em contrapartida, é facilmente oxidado a selênio elementar. A linha entre as concentrações essenciais e tóxicas do selênio é muito tênue (WACHOWICZ et al., 2001). Segundo Hamilton (2004), concentrações pequenas de selênio são necessárias para o crescimento e o desenvolvimento normal de diversas espécies; em concentrações moderadas, ele já começa a ser acumulado, porém sem efeitos deletérios; e concentrações altas podem resultar em efeitos tóxicos para o organismo. Este autor chama atenção ainda para o fato de que a indústria e a agricultura têm tornado o selênio cada vez mais disponível no ambiente aquático através de drenagem de água da agricultura, esgoto industrial, cinzas de usinas termoelétricas, refinarias de petróleo e atividades de mineração. O metaloide também possui capacidade de bioacumulação, e a principal via de exposição para homens e animais é a alimentar. Uma propriedade curiosa do selênio é a função protetora e antagônica à ação tóxica de metais como o mercúrio, o chumbo e o cádmio (SEIXAS & KEHRIG, 2007). Cada vez mais substâncias atingem os mares através dos efluentes lançados em rios e estuários, incluindo substâncias novas, pouco estudadas e persistentes no ambiente. A circulação de águas no oceano é lenta e a dispersão destes materiais pode ser um processo bem demorado (TAIT & DIPPER, 1998). Uma substância em concentrações consideradas acima do normal em um determinado ecossistema é considerada um contaminante. Esta substância passa a ser um poluente quando, de alguma forma, altera esse ecossistema. É o que ocorre com os metais, ao atingirem os oceanos em quantidades superiores às naturais. Eles são incorporados ao sedimento marinho e também o são pelo fitoplâncton, entrando na cadeia alimentar oceânica, podendo ocorrer bioacumulação e biomagnificação, atingindo o zooplâncton, os crustáceos, os moluscos, os peixes e, por fim retornando aos seres humanos por via alimentar (NIENCHESKI, 2000). Alguns efeitos dos poluentes na vida marinha são: o sufocamento e a intoxicação de organismos aquáticos; a interferência na fisiologia e no comportamento das espécies; e o aumento ou a diminuição da produtividade biológica, com efeitos na cadeia trófica. Os bivalves tendem a acumular metais 7 em seus tecidos, mas não parecem intoxicar-se; a maioria dos peixes e crustáceos tem facilidade de excretar os metais assimilados, com exceção do mercúrio e do cádmio, o que faz com que alguns peixes de topo de cadeia excedam os níveis seguros destes metais para o consumo humano. Estes organismos marinhos que acumulam grandes concentrações de metais tóxicos parecem tornar-se cada vez mais resistentes aos seus efeitos (TAIT & DIPPER, 1998). As aves marinhas contaminadas por mercúrio apresentam redução na produção e na resistência dos ovos; e o chumbo causa alterações comportamentais relacionadas ao crescimento e à sobrevivência dos filhotes, demonstradas em experimentos de laboratório (BURGER & GOCHFELD, 1988; SICILIANO et al., 2005). Doses tóxicas de selênio são capazes de causar efeitos teratogênicos em peixes e aves, existindo alguns relatos de eliminação de certas espécies de peixes em ambientes contaminados por selênio (HAMILTON, 2004). As fontes naturais do cádmio são os minérios. Nas atividades humanas, ele é usado como estabilizador de produtos de cloreto de polivinil (PVC), em pigmentos, ligas, agentes anticorrosivos, fertilizantes fosfatados e, principalmente, em baterias. Os produtos que contêm cádmio raramente são reciclados e, em consequência, são jogados em lixo comum, e às vezes até incinerados, contaminando o ambiente. As principais vias de exposição para os humanos são a alimentar e a inalatória, sendo o tabagismo uma via importante. A intoxicação causa danos renais e ósseos, como por exemplo, as deformidades ósseas apresentadas por indivíduos com a doença de Itai-Itai, vista no Japão, nos anos 50, quando água contaminada por cádmio foi utilizada para irrigar plantações de arroz (IARC, 1993; JÄRUP, 2003). Além dos malefícios à saúde citados, o cádmio é classificado pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como carcinogênico para os humanos (Grupo 1) (IARC, 1993). O mercúrio é utilizado em termômetros, barômetros, nas atividades de mineração, em amálgamas dentários e em indústrias de cloretos alcalinos, de soda cáustica e papel. Até os anos 70, era bastante utilizado como fungicida de sementes. As fontes naturais também são os minérios (IARC, 1993; TAIT & DIPPER, 1998; JÄRUP, 2003). O mercúrio inorgânico pode ser convertido a metil mercúrio, através de um processo de metilação realizado por micro8 organismos, que é uma forma bastante estável, tóxica e capaz de se acumular ao longo da cadeia trófica, sendo a mais importante forma de exposição para os humanos pela via alimentar (TAIT & DIPPER, 1998; JÄRUP, 2003; FLEMING et al., 2006). A intoxicação crônica pelo mercúrio inorgânico leva a sintomas neurológicos e psicológicos, como tremores, ansiedade, mudanças de personalidade, distúrbios de sono, inquietação e depressão. Também pode causar danos renais e eczema por contato. A intoxicação por mercúrio orgânico leva a danos no sistema nervoso, causando parestesia e entorpecimento das mãos e dos pés, incoordenação motora e transtornos visuais. Em exposições de grande magnitude, pode ocorrer morte. Exemplos de grandes problemas de intoxicação por metil-mercúrio foram a catástrofe de Minamata, no Japão dos anos 50, onde as pessoas ingeriram peixes contaminados; e nos anos 70, no Iraque, onde 10.000 pessoas se intoxicaram, ingerindo pães feitos a partir de trigo cujas sementes estavam contaminadas. A população geral não apresenta risco significativo quanto à intoxicação por metil-mercúrio, com exceção de grupos que consomem grandes quantidades de peixe (JÄRUP, 2003). O metilmercúrio é classificado pela IARC como possivelmente carcinogênico para os humanos (Grupo 2B), e o mercúrio inorgânico como não classificável quanto à sua carcinogenicidade para humanos (Grupo 3) (IARC, 1993). As principais fontes antrópicas de emissão de chumbo são os aditivos de combustíveis automotivos. Este uso foi proibido na maioria dos países desenvolvidos nas últimas décadas, mas ainda permanece em alguns países em desenvolvimento. Antigamente, um grande problema eram as panelas feitas de chumbo, que contaminavam os alimentos. Esta substância contamina o ar, sendo a inalação uma via de exposição importante. O chumbo contido no ar pode se depositar no solo e na água, entrando em contato com o homem também através da cadeia alimentar. Em intoxicações agudas, os sintomas são cefaleia, irritabilidade, dor abdominal e outros relacionados ao sistema nervoso, podendo ocorrer encefalopatia. Em intoxicações crônicas, podem ocorrer distúrbios de memória e distúrbios cognitivos, e um sinal comum é uma linha escurecida nas gengivas. Em crianças intoxicadas, são observados sinais como distúrbios comportamentais e dificuldade de aprendizado e concentração (JÄRUP, 2003). A IARC classifica o chumbo como provavelmente carcinogênico para os humanos (Grupo 2A) (IARC, 2006). 9 A exposição ao selênio por humanos, em baixas doses, parece ajudar a prevenir certos tipos de câncer, como câncer de pulmão, de cólon, de próstata e de reto (WACHOWICZ et al., 2001). Intoxicações agudas por selênio são raras, mas os sintomas são náusea e emese, edema pulmonar e colapso cardiovascular. A intoxicação crônica, chamada de selenose, tem efeitos dérmicos e neurológicos, como perda das unhas, descoloração dentária, confusão mental, paralisia e, ocasionalmente, hemiplegia (LIU et al., 2008). As plaquetas sanguíneas são ricas em selênio, o que sugere que este elemento tenha participação nas suas funções. Porém, em doses tóxicas, o metaloide inibe a agregação plaquetária (WACHOWICZ et al., 2001). Por todos estes perigos ao ambiente e à saúde humana, deve-se realizar um monitoramento destes elementos no ambiente e nas fontes dos mesmos para os humanos. 2.3 Os compostos organoclorados, seus efeitos na vida marinha e na saúde humana Os compostos organoclorados são aqueles que apresentam um ou mais átomos de cloro em sua estrutura química (DEL GRANDE et al., 2003). São estáveis, lipossolúveis e persistentes, tornando-se contaminantes onipresentes e acumulando-se ao longo da cadeia alimentar. Como são estruturalmente muito diferentes das substâncias normalmente presentes na natureza, alguns organismos não são capazes de metabolizar alguns destes compostos, o que causa a sua acumulação e toxicidade, contribuindo para a degradação de ecossistemas aquáticos tropicais (a distribuição dos compostos é facilitada em regiões de altas temperaturas e chuvas fortes) e de suas biotas, principalmente em regiões industrializadas e de alta densidade demográfica. Porém, a contaminação não se restringe a estas áreas, já que atinge até as regiões polares através do ar e das correntes marinhas, o que pode ser demonstrado por meio da biota, da atmosfera, da água e dos sedimentos. A emissão destes compostos no solo e nas águas se dá por intermédio de efluentes industriais, esgotos e lixiviação (TAIT & DIPPER, 1998; DEL GRANDE et al., 2003; TARDIVO & REZENDE, 2005; TANIGUCHI et al., 2009). Neste trabalho, serão abordados os pesticidas organoclorados e as bifenilas policloradas (PCBs). 10 O dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) é um composto organoclorado que foi muito utilizado como inseticida a partir de 1943, principalmente na agricultura e em controle de insetos vetores de doenças, tendo sido muito importante nas campanhas de controle da malária, da febre amarela, do tifo e da doença do sono (tripanossomíase africana). Nos anos 1970 e 1980, principalmente por considerações ecológicas, levantadas pela autora Rachel Carson em seu livro “Primavera Silenciosa” de 1962, o DDT foi banido da maioria dos países, mas ainda habita diversos compartimentos ambientais por sua alta persistência, redistribuição global e alta lipofilicidade. Além disso, em alguns países em desenvolvimento, o DDT continua sendo utilizado para fins de Saúde Pública, como por exemplo, o controle da malária (IARC, 1991; SMITH & GANGOLLI, 2002; COSTA, 2008). No ambiente, o DDT é ubíquo, sendo encontrado em alimentos, no solo e em sedimentos, e existe a característica de bioacumulação. Ele atinge o ambiente aquático por aplicação direta, resíduos da aplicação, erosão e escoamento de terras agrícolas ou descargas de esgoto industrial ou doméstico. A exposição pode ocorrer durante a produção, a aplicação ou por via alimentar, sendo esta última importante para animais de topo de cadeia, incluindo o homem, e para os lactentes, já que uma das vias de excreção desta substância é o leite (IARC, 1991; DEL GRANDE et al., 2003; TURGUT, 2003; COSTA, 2008; MURALIDHARAN et al., 2009). Nos animais, o DDT penetra nas células facilmente, por sua característica lipossolúvel e é metabolizado em DDE, DDD e DDA. O DDT e o DDE ficam armazenados principalmente no tecido adiposo. Pode-se observar a presença destas substâncias no tecido adiposo de espécies predatórias aquáticas, já que elas penetram na cadeia alimentar, ocorrendo bioacumulação (TURGUT, 2003; COSTA, 2008). No homem, a toxicidade aguda é moderada, sendo os sintomas de ordem neurológica, como: agitação motora, hipersensibilidade a estímulos externos, tremores, podendo ocorrer convulsões tônico-clônicas e morte por falência respiratória após 24-72 horas. A exposição crônica é a principal preocupação, tendo efeitos tóxicos principalmente no fígado e no sistema reprodutivo. O DDT é classificado pela IARC como possivelmente carcinogênico para humanos (Grupo 2B). Uma característica importante da substância é que ela age como disruptor endócrino, podendo inclusive ser associada a tipos de câncer 11 sensíveis a hormônios, como câncer de mama, de endométrio e de próstata (IARC, 1991; COSTA, 2008). O DDT é um dos pesticidas mais estudados na classe dos organoclorados, mas, além dele, outros serão abordados neste estudo (MEYER et al., 1999). Eles atingem os ambientes aquáticos da mesma maneira que o DDT e também apresentam a característica de bioacumulação (TURGUT, 2003). Como são substâncias lipofílicas, têm facilidade de interação com membranas nos organismos animais, apresentando alta toxicidade cumulativa (SUWALSKY et al., 1999). O hexaclorobenzeno (HCB) é estável, de baixa volatilidade, praticamente insolúvel em água, extremamente persistente e foi utilizado como fungicida de uso agrícola por várias décadas após a 2ª Guerra Mundial, sendo este uso descontinuado em muitos países nos anos 70, por preocupações com efeitos adversos no meio ambiente e na saúde humana. Além disso, trata-se de um resíduo industrial e de queima, continuando a contaminar o ambiente, mesmo após a descontinuação do uso como pesticida (IARC, 2001; TARDIVO & REZENDE, 2005). O metoxicloro é um inseticida que começou a ser bastante utilizado depois que o DDT foi banido. Ele é rapidamente metabolizado e nãocumulativo nos tecidos (MEYER et al., 1999; COSTA, 2008). Os ciclodienos são um grupo de pesticidas organoclorados ao qual pertencem clordanas, dieldrin, aldrin, heptacloros, endrin, endosulfan. Estas substâncias foram introduzidas no mercado no final da década de 1940 e início de 1950, tendo sido bastante utilizadas e depois banidas na maioria dos países, pelos mesmos motivos do DDT. As clordanas eram utilizadas no controle de cupins, o endrin é um rodenticida, e os outros eram primariamente utilizados na agricultura. Vale ressaltar que estes compostos são prontamente absorvidos pela pele e a intoxicação leva a sinais de ordem neurológica (COSTA, 2008). Os hexaclorociclohexanos (HCH) são inseticidas introduzidos na mesma época dos ciclodienos, com características toxicológicas bem semelhantes às destes. Também foram banidos na maioria dos países, com exceção do lindano (γ-HCH), que além de ser utilizado na agricultura, também é 12 amplamente utilizado como escabicida e pediculicida, em forma de shampoos e loções (COSTA, 2008). O mirex é um formicida que teve sua utilização iniciada no final dos anos 1950 e assim como todos os outros citados, possui grande estabilidade ambiental, ligada principalmente a sua lipofilicidade (MEYER et al., 1999; COSTA, 2008). Vale ressaltar que os pesticidas organoclorados de todos os grupos citados podem agir como disruptores endócrinos (MEYER et al., 1999). Além dos pesticidas, o grupo dos organoclorados também conta com as bifenilas policloradas (PCBs), que são uma classe de compostos organoclorados sintetizados a partir da reação do grupo bifenila com o cloro anidro, na presença de um catalisador. A produção de PCBs teve início nos Estados Unidos, em 1920, pela Monsanto, com o nome comercial de Aroclor®, sendo importado pelo Brasil com o nome de Ascarel®. Estas substâncias eram consumidas pela indústria eletrotécnica, em transformadores, capacitores e fluidos de transferência de calor, e também eram utilizadas como aditivos na formulação de plastificantes, adesivos, tintas e pesticidas, porém em 1966 começaram a ser reconhecidas como contaminantes ambientais, sendo proibidas a partir de 1988 em todo o território americano (USEPA, 1983; PENTEADO & VAZ, 2001). No Brasil, a primeira legislação a respeito foi a Portaria Interministerial nº 19, de 29 de janeiro de 1981, que estabeleceu a proibição da fabricação, da comercialização e do uso de PCBs em todo o território nacional, porém quanto aos equipamentos já instalados, estes ficavam sendo utilizados até sua substituição integral ou a troca do fluido. A portaria também proíbe o descarte de PCBs em cursos d´água e a exposição dos equipamentos que os contenham a intempéries (BRASIL, 1981). As principais rotas de contaminação ambiental por PCBs são: acidentes no manuseio de produtos que os contenham, vaporização de componentes contaminados por PCBs, vazamento de fluidos hidráulicos que os contenham, armazenamento irregular de resíduos contendo PCBs, fumaça decorrente de incineração de produtos com tais compostos e efluentes industriais ou esgotos despejados em rios e lagos. Atingindo os compartimentos ambientais, estes se tornam reservatórios destas substâncias, que posteriormente contaminam a biota, podendo ocorrer bioconcentração e biomagnificação ao longo da cadeia 13 trófica. O homem, ao ocupar o topo da cadeia, está bastante sujeito a exposição aos PCBs por via alimentar. Além disso, a contaminação humana pode ocorrer por contato direto com a água que contenha estes químicos (PENTEADO & VAZ, 2001). Os efeitos toxicológicos demonstrados em cobaias são principalmente de ordem reprodutiva (estes compostos também são disruptores endócrinos), sendo que em exposições humanas ocupacionais ou em acidentes foram observados sintomas como cloracne, hiperpigmentação, alterações oculares, alterações hepáticas e renais, alterações na morfologia dos dentes, alterações psíquicas, perda de libido, além de efeitos teratogênicos e cancerígenos, sendo observados nestes grupos elevados índices de mortalidade por câncer no fígado e na vesícula biliar. Dois acidentes famosos envolvendo as bifenilas policloradas foram os casos conhecidos como Yusho, no Japão de 1968, com 1.600 pessoas envolvidas; e Yu-Cheng, em Taiwan, em 1979. Ambos foram causados por contaminação de óleo de arroz por PCBs (BRASIL, 1981; USEPA, 1983; PENTEADO & VAZ, 2001; SMITH & GANGOLLI, 2002). Os compostos organoclorados, seus resíduos e metabólitos são encontrados cada vez mais no ambiente por três motivos principais: o gás cloro é barato e de disponibilidade imediata em escala industrial, por isso foi muito utilizado; muitos destes compostos são resistentes à biodegradação; e o uso e a descarga incontrolados dos compostos resultaram em acúmulo e persistência nos compartimentos ambientais. Estes compostos conseguiram espalhar-se pelo globo através da lixiviação pela chuva, da percolação de lençóis freáticos e do transporte por aves e outros animais que se alimentaram de sementes contaminadas, podendo entrar na cadeia alimentar, indo atingir outros animais e o homem (SMITH & GANGOLLI, 2002). Traços destes compostos são constantemente encontrados na vida marinha, sendo associados em alguns casos a anomalias reprodutivas, neoplasias e emergência de doenças infecciosas em animais marinhos, como sirênios, cetáceos, pinípedes e outros carnívoros de hábitos marinhos, como ursos polares e lontras. Alguns organismos marinhos são extremamente sensíveis a estas substâncias, como é o caso de alguns crustáceos, que morrem na presença de pequenas concentrações. Outros organismos têm sua função reprodutiva afetada, como o afinamento das cascas dos ovos que 14 levaram a diminuição da população de pelicanos, biguás, trinta-réis e águias pescadoras no início dos anos 1970. E também existe o extremo, de animais bastante resistentes à contaminação por organoclorados, como as gaivotas (TAIT & DIPPER, 1998; SMITH & GANGOLLI, 2002; SICILIANO et al., 2005). É interessante encontrar estas substâncias na vida marinha, tendo em vista que são compostos com baixa solubilidade em água. Isto ocorre porque são substâncias lipofílicas e, desta forma, são solúveis em gordura, como o óleo das células de diatomáceas. Assim sendo, são absorvidos primariamente pelo fitoplâncton, que é ingerido pelo zooplâncton, junto com sua carga de contaminantes, que o zooplâncton não é capaz de metabolizar e excretar. O mesmo ocorre quando pequenos peixes ingerem o zooplâncton e assim sucessivamente, com peixes maiores, aves marinhas, mamíferos marinhos e o homem (TAIT & DIPPER, 1998; SMITH & GANGOLLI, 2002). O homem se expõe principalmente por via alimentar, sendo esta fonte responsável por 90% da exposição humana, com grande importância para alimentos de origem animal, sobretudo peixes com alto teor de gordura, a mesma forma de exposição das aves marinhas aqui estudadas. Também se deve dar atenção ao leite materno, já que ele é a principal via de exposição para crianças pequenas. A carne e o leite de animais de produção participam da mesma forma desta via de exposição (SMITH & GANGOLLI, 2002). Os compostos organoclorados tiveram grande importância para a humanidade, mas agora seu uso tem sido descontinuado, o que não impede que a sociedade ainda pague seu preço (SMITH & GANGOLLI, 2002). 2.4 Bactérias dos gêneros Vibrio e Aeromonas As bactérias das famílias Vibrionaceae e Aeromonadaceae são autóctones de ambientes marinhos, encontradas especialmente em ambientes costeiros e estuarinos, podendo causar doenças em humanos ou em animais e algumas espécies podem ser agentes de zoonoses (STAPLES, 2000; PEREIRA et al., 2008; AUSTIN, 2010). O gênero Vibrio é composto por bactérias Gram-negativas que se encontram amplamente distribuídas em ambientes costeiros e estuarinos (FARMER et al., 2005 apud AUSTIN, 2010). Algumas espécies, como V. 15 anguillarum e V. tapetis são bastante associadas a doenças em animais aquáticos, enquanto outras, como V. cholerae são associadas a doenças em humanos. Há ainda espécies comuns aos homens e aos animais, potenciais agentes de zoonoses, como V. alginolyticus, V. harveyi, V. cholerae, V. fluvialis, V. furnissii, V. mimicus, V. metschnikovii, V. parahaemolyticus e V. vulnificus. A contaminação de humanos e animais pode ser veiculada pela água ou por alimentos ou pode ocorrer através de ferimentos em contato com a água contaminada (AUSTIN, 2010). Existe grande preocupação com que aves migratórias sejam responsáveis por carrear micro-organismos patogênicos para diversas partes do planeta (HUBÁLEK, 2004; HALPERN et al., 2008). Dentre estes microorganismos carreados, destaca-se o V. cholerae, que pode atingir locais onde a cólera não ocorre normalmente, culminando em surtos epidêmicos da doença (HUBÁLEK, 2004). O gênero Aeromonas foi inicialmente classificado como parte da família Vibrionaceae, até que ganhou a sua própria família, a Aeromonadaceae, graças a técnicas moleculares mais modernas (COLWELL et al., 1986; RUIMY et al., 1994). Esta classificação conjunta a bactérias do gênero Vibrio ocorreu pela semelhança de fenótipos, de ecossistemas (aquático e organismos de peixes, répteis e anfíbios) e das características das doenças que causam (principalmente gastroenterite e septicemia) (JANDA & ABBOTT, 1998). As principais espécies responsáveis por doenças em humanos são A. hidrophila, A. caviae e A. veronii biogrupo sobria (JANDA & ABBOTT, 1998). As bactérias do gênero também podem causar doenças em animais e estes podem até tornar-se reservatórios de diferentes espécies de Aeromonas. Uma via de infecção importante para os humanos é a alimentar. As bactérias do gênero podem estar presentes em vegetais, laticínios e carnes, em especial no pescado, uma vez que elas habitam ambientes aquáticos (JANDA & ABBOTT, 2010). Esta via de infecção é comum aos homens e a outros animais, incluindo a ave marinha da qual este estudo trata (MIYASAKA et al., 2006; HALPERN et al., 2008). 16 2.5 Aves marinhas no papel de sentinelas ecológicas Aves marinhas são aquelas associadas a ambientes marinhos, sejam estes áreas costeiras, estuários, alagados ou ilhas oceânicas, alimentando-se de recursos do mar, como peixes, cefalópodes e crustáceos. São consideradas marinhas as aves das ordens Sphenisciformes, Procellariiformes, Pelecaniformes e algumas espécies da ordem Ciconiiformes e Charadriiformes (algumas espécies destas duas ordens não são consideradas aves marinhas verdadeiras). Trata-se, geralmente, de animais de vida longa, maturidade sexual tardia, hábitos coloniais, com poucos filhotes a cada ciclo reprodutivo e períodos extensos de cuidados com os filhotes, e com adaptações ao meio marinho, como as gândulas de sal e a coloração de suas penas (SCHREIBER & BURGER, 2002). As aves marinhas se expõem ao longo da vida a uma grande quantidade de produtos químicos por via alimentar, já que ocupam níveis tróficos superiores, sendo vítimas da biomagnificação (BURGER & GOCHFELD, 2004). Existe atualmente uma preocupação com a saúde do ambiente por parte dos governantes, gestores, conservacionistas e do público em geral. Este fato faz com que se busquem indicadores de status e tendências, relacionados aos ecossistemas, principalmente o aquático, que é mais vulnerável pelo rápido movimento de contaminantes (BURGER & GOCHFELD, 2004). Os animais são utilizados há séculos como indicadores precoces de perigos ambientais, como era o caso de canários utilizados para detectar escapes de monóxido de carbono nas minas, já que são mais sensíveis a este gás do que os humanos (GROVE et al., 2009). Também existe o registro de mortes de aves aquáticas na Baía de Minamata, no Japão, nos anos 1950, antes das mortes de seres humanos, tendo estas perdas animais sido um dos primeiros sinais de contaminação no local (KURLAND et al., 1960 apud DALE et al., 1973). Dito isto, pode-se perceber que uma forma de monitorar a saúde do ambiente aquático é a utilização de espécies sentinelas. Segundo Beeby (2001), espécies sentinelas são aquelas que acumulam determinado poluente em seus tecidos sem efeitos adversos significativos, utilizadas para medir a quantidade de poluente biologicamente disponível, o que é bem diferente da simples medição da quantidade de poluente presente 17 no meio. Alguns fatores relacionados ao meio e ao próprio organismo influenciam a biodisponibilidade dos poluentes para os organismos. Como exemplo de fatores relacionados ao meio, temos: variações de temperatura, estações do ano, interações com outros poluentes, precipitação, tipo de solo e sedimento, salinidade e pH. Já os fatores intrínsecos dos organismos são: idade, tamanho, sexo, dieta, estado nutricional, interação com outras espécies, níveis de exposição e diferenças genéticas (BEEBY, 2001; SICILIANO et al., 2005). O termo “espécie sentinela” foi utilizado pela primeira vez na década de 1950, em estudos para detectar e mapear radioatividade, que anos depois deram origem ao US Mussel Watch Programme (GOLDBERG et al., 1983 apud BEEBY, 2001). Beeby (2001) faz a distinção entre os termos “espécies monitoras”, “espécies indicadoras” e “espécies sentinelas”. Segundo o autor, espécies monitoras são aquelas que sinalizam determinado impacto através de um prejuízo de suas funções; espécies indicadoras são capazes de indicar poluição por suas condições de ausência ou abundância; e espécies sentinelas são capazes de mapear a biodisponibilidade de um poluente em um ecossistema, pela fração retida em seus tecidos. Bons organismos sentinelas são aqueles abundantes, ubíquos, de fácil identificação, com tamanho suficiente para prover material para análise, com a fisiologia bastante conhecida, de vida longa e que apresentem um habitat bem definido (BEEBY, 2001; GROVE et al., 2009). Análises de contaminantes em tecidos de animais vertebrados costumam ser mais eficientes em termos de custo-benefício do que análises em água, sedimentos ou animais invertebrados (BURGER & GOCHFELD, 2004). Diversas espécies de aves marinhas vêm sendo utilizadas há algum tempo para monitorar a disponibilidade de peixes e poluição nos oceanos. As aves marinhas podem ser consideradas bons organismos sentinelas por serem bastante estudadas, conspícuas, ubíquas, abundantes, grandes, de vida longa, estimadas pelas pessoas e por serem predadoras de topo de cadeia, característica importante quando se trata de indicar a presença de substâncias químicas capazes de bioacumular e biomagnificar ao longo da cadeia trófica, como é o caso dos compostos orgânicos persistentes, como os organoclorados e os metais-traço. Mudanças inesperadas em quantidade de indivíduos, estado 18 de saúde e sucesso reprodutivo das aves podem ser um alarme de problemas ambientais. A manifestação tóxica de alguns poluentes em aves marinhas costuma aparecer no desenvolvimento dos embriões e filhotes, no sucesso reprodutivo e no comportamento dos filhotes (FURNESS & CAMPHUYSEN, 1997; BURGER & GOCHFELD, 2004; SICILIANO et al., 2005). Como bioindicadoras, as aves marinhas podem ser utilizadas de diversas formas: seja pela medição dos níveis de contaminantes em tecidos, por estudos epidemiológicos dos efeitos a campo, ou por estudos experimentais de dose e efeito, em laboratórios. Embora estudos em laboratório sejam importantes, mais importantes são os estudos a campo, com exposições a concentrações reais e misturas de contaminantes (BURGER & GOCHFELD, 2004; GROVE et al., 2009). Os tecidos mais utilizados para a análise de contaminantes nas aves marinhas são: o sanguíneo, o hepático, o renal, o encefálico e o muscular. Métodos não-invasivos, como a coleta de penas, podem ser utilizados para a análise de alguns metais (BURGER & GOCHFELD, 2004). A partir do momento em que se tem conhecimento do comportamento e da dieta de determinada espécie sentinela, existe a possibilidade de extrapolação dos achados para outras espécies, expostas às mesmas fontes de contaminação. É o caso das aves marinhas, que podem ser utilizadas como sentinelas de saúde de comunidades marinhas e costeiras, incluindo comunidades humanas, que consomem proteína de origem marinha e utilizam o mar de diversas formas (BEEBY, 2001; BURGER & GOCHFELD, 2004). As aves migratórias a princípio podem não parecer boas espécies sentinelas, por não serem fiéis a um ambiente específico, mas se o objetivo for obter dados de ampla escala, é ideal que se trabalhe com elas (FURNESS & CAMPHUYSEN, 1997). Isso nos mostra que as aves marinhas podem ser sentinelas em escalas locais, regionais ou globais (BURGER & GOCHFELD, 2004). 2.6 O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) O bobo-pequeno (Puffinus puffinus), também conhecido como pardela, corva, pardela-sombria, patagarro e petrel-de-Manx, pertence à ordem 19 Procellariiformes, que reúne uma grande parte das aves marinhas. Os representantes desta ordem são aves pelágicas, encontradas principalmente no hemisfério sul. Dentro da ordem Procellariiformes existem quatro famílias: Diomedeidae, à qual pertencem os albatrozes; Pelecanoididae, composta pelos petréis-mergulhadores; Hydrobatidae, à qual pertencem os painhos e almasde-mestres; e, por fim, Procellariidae, composta por pardelas, petréis, pombasdo-cabo e bobos, incluindo o objeto deste estudo (SICK, 1997; SCHREIBER & BURGER, 2002). Os representantes da família Procellariidae são aves oceânicas, sendo a maioria visitante da costa brasileira há muito tempo, já que fósseis de procelarídeos foram encontrados em sítios arqueológicos pré-colombianos no sudeste do Brasil. Algumas espécies de procelarídeos apresentam as colônias mais numerosas do mundo. Possuem narinas tubulosas, glândula de sal, um cheiro penetrante de almíscar e voam velozmente pela superfície do oceano, seguindo uma trajetória sinuosa. Habitam principalmente a plataforma continental, onde a alimentação é mais rica, aproveitando-se muitas vezes dos cardumes atraídos por barcos pesqueiros. Orientam-se pelo faro para a alimentação e para a localização de suas colônias. Muitas espécies são migratórias, espalhando-se pelos mares antes de se tornarem adultos, com cinco ou mais anos de idade. Durante esta migração, costumam tentar fugir do mau tempo, aparecendo em locais atípicos, podendo seguir rios e chegar ao interior do continente, conforme já registrado com diversas aves da família, incluindo o Puffinus puffinus (SICK, 1997). O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) possui em média 35 centímetros de comprimento. Com seu bico fino, alimenta-se de peixes e cefalópodes e possui a parte superior do corpo negra e uniforme e a parte inferior branca (Figura 1) (THOMPSON, 1987; SICK, 1997). Esta espécie atinge a maturidade sexual por volta dos cinco anos de idade, reproduzindo-se em colônias na Ilha da Madeira, Açores, nas ilhas do Reino Unido, Ilhas Faroe e Islândia, sendo que as maiores colônias reprodutivas localizam-se nas ilhas Skomer (com estimadamente 102.000 pares reprodutivos) e Bardsey, no País de Gales e na ilha Rum, na Escócia (THOMPSON, 1987; SICK, 1997; SMITH et al., 2001; WILSON et al., 2009). Em 1977, foram encontrados os primeiros ninhos de Puffinus puffinus em Middle Lawn Island, Newfoundland and Labrador, no Canadá, indicando 20 que estes animais expandiram suas fronteiras reprodutivas, já que antes eram apenas visitantes e de 1977 até os dias de hoje, vêm reproduzindo-se no local (STOREY & LIEN, 1985; ROUL, 2010). Antes disso, em 1973, foi reportado o nascimento de um indivíduo da espécie, em um ninho em Penikese Island, Massachusetts, nos Estados Unidos, mas esta colônia não seguiu adiante como a do Canadá (BIERREGAARD JR et al., 1975). Figura 1: Exemplar de bobo-pequeno descansando em Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, em novembro de 2011. Foto: Carlos Eduardo Amorim. Durante o inverno setentrional os bobos-pequenos migram ao Atlântico meridional, onde permanecem em alto-mar durante alguns meses. Neste período, não é raro vê-los na costa brasileira, um de seus principais destinos, onde existem registros de interações antrópicas, como a presença de plástico e partículas de polietileno em seus estômagos e a presença de óleo na superfície corporal (THOMPSON, 1987; SICK, 1997; GUILFORD et al., 2009; HAMER, 2003 apud GUILFORD et al., 2009, WILSON et al., 2009). Um estudo de Barbieri (2009) demonstrou que 86% dos Puffinus puffinus recolhidos em Ilha Comprida, no litoral de São Paulo apresentavam partículas de plástico em seus estômagos, em quantidades que poderiam ser suficientes para reduzir o 21 volume de alimento na moela ou afetar sua assimilação. Estudos semelhantes foram conduzidos por Colabuono e colaboradores (2009; 2010), envolvendo aves recolhidas no Sul do Brasil. No primeiro, a frequência de ocorrência de plástico em Puffinus puffinus foi de 60% e, no segundo, foi de 17%. Neste, os autores ainda analisaram os fragmentos e pellets de plástico encontrados no trato digestivo das aves quanto à presença de PCBs e pesticidas organoclorados, indicando que estes compostos não só penetram no organismo das aves através do consumo de peixes contaminados, como também através de plásticos ingeridos por elas, confundidos com presas. Além dos problemas de saúde imediatos decorrentes da ingestão de plástico, como diminuição de assimilação dos alimentos, obstruções e impactações, ainda existe o risco de contaminação por compostos organoclorados. A temporada reprodutiva do bobo-pequeno é prolongada, porém a quantidade de filhotes produzidos é baixa, já que cada casal incuba apenas um ovo por temporada, em um ninho escavado no solo. A postura de um segundo ovo na mesma temporada só ocorre se o primeiro for danificado logo no início da incubação. As aves em reprodução retornam às colônias em fevereiro e março, preparando seus ninhos e suas reservas corporais. A postura começa na segunda semana de maio, e o período de incubação dura 51 dias, quando o macho e a fêmea se revezam sobre o ovo. Quando o filhote nasce, os pais continuam chocando-o por alguns dias, mas depois de um tempo, eles só são visitados e alimentados durante a noite, sempre com cuidados biparentais (THOMPSON, 1987; QUILLFELDT et al., 2004; GRAY et al., 2005). Isto ocorre para que os pais fiquem menos visíveis a predadores, tendo sido observado que em períodos de lua cheia chegam a diminuir a frequência de alimentação da cria (RIOU & HAMER, 2008). Uma característica interessante da espécie é o enorme acúmulo de gordura que os recém-nascidos apresentam. É tão grande que, hipoteticamente, estes animais seriam capazes de viajar diretamente do mar da Irlanda até as águas do Brasil. Com 50 dias de idade, o filhote pesa 1,5 vezes mais que o adulto e aos 55-70 dias, começa a receber uma quantidade menor de alimento, para que perca peso (THOMPSON, 1987; SICK, 1997; HAMER & HILL, 1997; GRAY & HAMER, 2001; RIOU & HAMER, 2010). Este acúmulo lipídico parece ocorrer para que os recém-nascidos sobrevivam a longos 22 intervalos onde os pais não estejam aptos a alimentá-los, o que faz sentido quando se tem conhecimento de que estes animais não são alimentados todas as noites (LACK, 1968 apud HAMER & HILL, 1997; GRAY et al., 2005; RIOU & HAMER, 2008). No mês de setembro, os filhotes emplumam completamente e estes indivíduos juvenis migram imediatamente para a costa da América do Sul. No primeiro ano de vida, eles não retornam às colônias e nos verões seguintes, começam a passar cada vez mais tempo nas colônias, até que comecem a se reproduzir, a partir dos cinco anos de idade (THOMPSON, 1987). A expectativa média de vida de um P. puffinus é de 15 anos, porém um exemplar de 31 anos foi encontrado morto pela equipe do Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos) em 12 de outubro de 2009 na Praia de Maguinhos, em Armação de Búzios, e em junho de 2003, um exemplar vivo de 49 anos, 11 meses e 5 dias foi encontrado pelo Copeland Bird Observatory, em County Down, Irlanda do Norte, sendo este o bobopequeno mais velho registrado no mundo (BTO, 2011; GEMM-Lagos, dados não publicados). Como o P. puffinus é longevo, um organismo de topo de cadeia, bem estudado e um integrador de recursos oceânicos devido a sua migração, acredita-se que ele possa servir como um bom sentinela de saúde ambiental. Por atuar em escala global, ele pode ser um bom indicador de mudanças climáticas e consequentes mudanças na saúde dos oceanos, sendo importante ressaltar que as populações de bobos-pequenos vêm diminuindo ao longo dos anos (SHAFFER et al., 2006; GUILFORD et al., 2009). Alguns autores vêm chamando atenção para diminuição na população de certas espécies marinhas. Crawford e colaboradores (2011) documentaram uma diminuição de mais de 60% dos pares reprodutivos de pinguins africanos (Spheniscus demersus), em um período de apenas oito anos, nas colônias da África do Sul. Estes autores chegam a usar a palavra colapso para descrever a situação da espécie, que passou de aproximadamente 56.000 pares reprodutivos no ano de 2001 para 21.000 pares em 2009. Este estudo propõe que o impacto antrópico das atividades pesqueiras, que está deslocando os cardumes de anchova e sardinha (principais itens alimentares da espécie) para muito longe da costa, seja a principal causa da diminuição de pinguins. Outra 23 redução dramática, documentada por Niles e colaboradores (2008), vem acontecendo com o maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus rufa), que teve sua população reduzida de 100.000 – 150.000 exemplares em 1985 a 18.000 – 33.000 exemplares em 2006. Esta queda populacional rápida não está muito bem elucidada, mas acredita-se que esteja relacionada à exploração não-sustentável do caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus), na Baía de Delaware, nos EUA, já que a maioria da população de Calidris canutus rufa realiza uma parada para se alimentar dos ovos desse crustáceo, nesta Baía, antes de seguir viagem para o Ártico, para a reprodução. Estes maçaricos são grandes migradores inter-hemisféricos, deslocando-se do Ártico Canadense à Patagônia, e retornando, assim como os bobos-pequenos, o que ressalta a importância de se estudarem estas espécies integradoras de recursos marinhos dos hemisférios norte e sul. 3. Justificativa O trabalho visa a utilização do bobo-pequeno (Puffinus puffinus) como sentinela de saúde e qualidade ambiental, por intermédio de avaliação da presença de micro-organismos patogênicos e de contaminantes em seus tecidos (Hg, Cd, Pb, Se, pesticidas organoclorados e PCBs). O bobo-pequeno alimenta-se de diversas espécies de peixes e cefalópodes. Se este pescado estiver contaminado por substâncias químicas ou por patógenos, a contaminação será então detectada nos tecidos dos animais utilizados para o presente estudo, podendo servir como modelo de inferência para a contaminação humana, visto que esta espécie também se alimenta de recursos alimentares marinhos. Os metais e os organoclorados são poluentes persistentes no ambiente e possuem características de bioacumulação e, em alguns casos, de biomagnificação, devendo, por isso, ser avaliados em espécies que ocupam níveis tróficos superiores, como as espécies de aves marinhas, que já vêm sendo utilizadas há muito tempo para monitorar poluição. O bobo-pequeno realiza migrações ao longo do Oceano Atlântico, portanto é um integrador de recursos oceânicos e, ao ser utilizado como sentinela, permite a avaliação da condição de saúde de toda essa região, e 24 como da saúde dos oceanos depende a saúde humana, destaca-se a importância deste estudo no âmbito da Saúde Pública. 4. Pergunta de pesquisa O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) pode ser utilizado para traduzir a saúde do Oceano Atlântico? 5. Objetivos 5.1 Objetivo geral - Avaliar o potencial do bobo-pequeno como sentinela de saúde do Oceano Atlântico. 5.2 Objetivos específicos - Avaliar a concentração de contaminantes (chumbo, cádmio, mercúrio, selênio, pesticidas organoclorados e PCBs) em tecidos hepático e muscular de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte do estado do Rio de Janeiro; - Comparar os resultados com estudos semelhantes na mesma espécie; - Avaliar a presença de agentes bacterianos nos animais ainda vivos, arribados nas praias. 6. Metodologia 6.1 Área de Estudo As carcaças de bobos-pequenos arribados foram recolhidas a partir de monitoramentos de praia, no estado do Rio de Janeiro, nos anos de 2005 a 2011, pelo Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos). O projeto abrange a região de Saquarema a São Francisco do 25 Itabapoana, no extremo norte do litoral fluminense (Figura 2). As amostras microbiológicas coletadas de animais vivos são provenientes da mesma área. Figura 2: Área de estudo, que compreende a região centro-norte do estado do Rio de Janeiro, incluindo os municípios litorâneos existentes entre Saquarema e São Francisco do Itabapoana. Adaptado de IBGE, 2011. O estudo também conta com duas carcaças de bobos-pequenos recolhidas em Aracruz, no estado do Espírito Santo, no ano de 2011, cedidas por uma pareceria entre o GEMM-Lagos e a empresa CTA – Serviços em Meio Ambiente, que cumpre condicionante ambiental imposta pelo IBAMA à Petrobrás para avaliação dos potenciais impactos causados por atividades de exploração de petróleo e gás a aves, quelônios e mamíferos marinhos na Bacia de Campos e no Espírito Santo. 6.2 Recolhimento de Material Biológico O GEMM-Lagos é um grupo de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), que realiza monitoramentos de praia da região centro-norte do litoral do estado do Rio de Janeiro desde 1999. Desde esta época iniciou-se o recolhimento de 26 material biológico de aves, quelônios e mamíferos marinhos encalhados e arribados nestes locais, o que levou a uma rotina de monitoramentos de praias, que se expande cada vez mais. O projeto hoje abrange as áreas litorâneas que vão de Saquarema até São Francisco do Itabapoana, extremo norte do estado do Rio de Janeiro. Para este estudo, foram recolhidas, pelo GEMM-Lagos, carcaças de bobos-pequenos que ainda não se encontravam em estágio avançado de decomposição. Estas foram necropsiadas e delas foram coletadas amostras de musculatura peitoral e de fígado, com o objetivo de pesquisa de contaminantes (Figura 3). E se por ventura, um bobo-pequeno fosse encontrado vivo, eram coletadas amostras microbiológicas através de swabs cloacais e orais. Figura 3: Coleta de musculatura peitoral de um exemplar de Puffinus puffinus para análise de contaminantes. Foto: Oswaldo Maciel. No presente estudo, para a pesquisa de contaminantes foram recolhidas 37 carcaças, todas encontradas nas praias nos meses de julho a dezembro dos anos de 2005 a 2011. A maioria das amostras (68%) é advinda do ano de 2010, durante um evento de acentuada mortalidade nas praias. Os órgãos internos se decompõem com maior rapidez do que o exterior da carcaça e por esse motivo, os fragmentos de fígado de 17 destas carcaças não puderam ser coletados durante a necropsia. Destas, conta-se apenas com os fragmentos de musculatura peitoral. Quanto aos swabs, estes foram coletados em duplicata, de onze animais moribundos nas praias, nos anos de 2009, 2010 e 2012. Em um destes 27 animais, além dos swabs cloacais e orais, também foram coletados swabs de traquéia e, em outro, também foram coletados swabs oculares. 6.3 Análise de Contaminantes 6.3.1 Análise de Metais Os tecidos recolhidos para pesquisa de contaminantes foram acondicionados em freezers do GEMM-Lagos, a - 20° C. Os fragmentos de musculatura peitoral (n = 37) e fígado (n = 20) foram analisados no Laboratório de Absorção Atômica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), a fim de se detectarem as concentrações de mercúrio presentes nos tecidos, através da técnica de espectrometria de absorção atômica com vapor frio (CV-AAS); e de cádmio, chumbo e selênio, através da técnica de espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS). 6.3.1.1 Determinação de Cádmio, Chumbo e Selênio A determinação dos níveis de cádmio, chumbo e selênio nas amostras de musculatura e fígado foi realizada através da técnica de espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS). As amostras foram primeiramente descongeladas, homogeneizadas em um microprocessador de alimentos Black & Decker® e alocadas em tubos Falcon de 50 mL, devidamente identificados. Entre as homogeneizações de amostras diferentes, o aparelho era lavado com detergente Triton® 0,1%, água deionizada e água mili-Q, a fim de evitar contaminações entre as amostras. Em seguida, foram pesados aproximadamente 0,5 g de cada amostra, em triplicata, no caso da matriz muscular; e aproximadamente 0,1 g, em duplicata, no caso da matriz hepática, que foram acondicionadas em tubos Falcon de 50 mL. Estas amostras então passaram pelo processo de digestão, no qual 5 mL de ácido nítrico subdestilado (HNO3) foram adicionados em cada tubo, no caso da matriz muscular; e, no caso da matriz hepática, 1 mL do ácido foi adicionado. Os tubos seguiram para um bloco digestor, onde permaneceram a 80°C até que houvesse a digestão completa do material, processo que 28 durava em torno de uma hora. Foram feitos também nove brancos para cada matriz (três a cada bateria de amostras que eram acondicionadas no bloco digestor), que se tratava de tubos Falcon de 50 mL contendo apenas os 5 mL ou 1 mL de ácido nítrico subdestilado (dependendo da matriz acompanhada por eles) e que passaram pelo processo de digestão juntamente com os tubos contendo as amostras, com o objetivo de se atestar que as amostras não tenham sido contaminadas por metais durante o processo, já que nos brancos não deveria haver níveis detectáveis destas substâncias. Após a digestão, as amostras foram mantidas em refrigeração a -4°C, até o momento da leitura, quando foi adicionada água mili-Q a cada tubo Falcon, até que o volume de 50 mL fosse completado, no caso da matriz muscular e, 30 mL, no caso da matriz hepática. Os conteúdos foram então homogeneizados, e foi realizada a leitura no aparelho ICP-MS (Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry) 7500 Series Agilent Technologies®, utilizando-se do argônio como gás de arraste. As concentrações dos metais foram obtidas por intermédio de comparação com curvas de calibração externas, realizadas com solução-padrão da Merck®. Os resultados foram expressos em peso úmido (pu) e em seguida, convertidos a peso seco (ps), conforme a descrição do item 6.3.1.4 deste trabalho. Os limites de detecção, na análise da matriz músculo, foram 0,072 mg/kg para selênio, 0,071 mg/kg para cádmio e 0,097 para chumbo. Na análise da matriz fígado, os limites de detecção foram 0,59 mg/kg para selênio, 0,28 mg/kg para cádmio e 0,009 mg/kg para chumbo. A diferença admitida entre os resultados das triplicatas ou duplicatas das amostras não deveria ultrapassar 30%. 6.3.1.2 Determinação de Mercúrio A determinação dos níveis de mercúrio nas amostras de musculatura e fígado foi realizada através da técnica de espectrometria de absorção atômica com vapor frio (CV-AAS). As etapas de descongelamento e homogeneização foram idênticas àquelas realizadas para a determinação dos outros metais. Porém, para esta análise foram pesadas em balança analítica aproximadamente 0,5 g de cada 29 amostra de musculatura, em duplicata; e aproximadamente 0,15 g de cada amostra de fígado, também em duplicata. Em seguida, o processo de digestão foi realizado com o uso de 5 mL de solução sulfonítrica, que consiste em ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3), na proporção de 1:1, e pentóxido de vanádio (V2O5) a 0,1% e com os tubos seguindo para o bloco digestor, onde permaneceram a 80°C até a completa digestão do material, processo que durava em torno de 20 minutos. A cada bateria de amostras que passavam pelo processo de digestão eram feitos dois brancos (tubos contendo apenas os 5 mL de solução sulfonítrica), com o objetivo já explicado anteriormente. Após a digestão, foi adicionado aos tubos o permanganato de potássio (KMnO4) a 5%, até que a solução adquirisse uma coloração violeta. Esse procedimento garante um meio com excesso de oxidante, permitindo que o mercúrio permaneça na amostra até o momento da leitura, já que se trata de uma substância bastante volátil. As amostras foram congeladas até o momento da leitura, não passando de 72 horas para que fossem realizadas leituras sem perdas de mercúrio. A maioria das amostras foi lida no mesmo dia em que foi realizada a digestão. Anteriormente à leitura, a solução redutora de hidroxilamina era adicionada a cada tubo, até que a solução perdesse a coloração violeta. Em seguida, adicionava-se água mili-Q até que 50 mL fossem completados e em seguida a solução era homogeneizada. A leitura foi realizada em um espectrômetro de absorção atômica com vapor frio Perkin Elmer 3300, utilizando-se 15 mL de cada solução. O gás de arraste utilizado para a leitura no equipamento foi o Nitrogênio (N), e o limite de detecção do método era de 0,02 mg/L. As concentrações de mercúrio foram obtidas comparando-se os resultados emitidos pelo equipamento com curvas de calibração externas, feitas com solução-padrão da Merck®. Os resultados foram expressos em peso úmido (pu) e em seguida convertidos a peso seco (ps), conforme a descrição do item 6.3.1.4 deste trabalho. A diferença admitida entre os resultados das duplicatas das amostras não deveria ultrapassar 30%. 30 6.3.1.3 Garantia de Qualidade A qualidade dos testes é garantida através de leituras de materiais de referência (CRM) certificados pelo National Research Council Canada, o DORM-2 (Dogfish Muscle Certified Reference Material for Trace Metals, ou seja, músculo de peixe-cão Squalus acanthias) e o DOLT-3 (Dogfish Liver Certified Reference Material for Trace Metals, ou seja, fígado de peixe-cão Squalus acanthias). Estes materiais foram utilizados por serem os materiais de referência existentes mais próximos das matrizes analisadas nesse estudo. Foram realizadas leituras destes materiais, em triplicata, utilizando-se dos mesmos equipamentos e processos usados para as análises das amostras. As médias dos valores encontrados e os níveis de recuperação são demonstrados nas Tabelas 1 e 2. Tabela 1: Análise e recuperação do material de referência (DORM-2) através dos procedimentos descritos neste estudo. Elemento Média dos Valores Encontrados (mg/kg) 0,04 Recuperação (%) n Cd Valor de Referência DORM-2 (mg/kg) 0,043 ± 0,008 97% 3 Hg 4,64 ± 0,26 4,83 104% 3 Pb 0,065 ± 0,007 0,07 104% 3 Se 1,4 ± 0,09 1,39 99% 3 Tabela 2: Análise e recuperação do material de referência (DOLT-3) através dos procedimentos descritos neste estudo. Elemento Valor de Referência DOLT-3 (mg/kg) Recuperação (%) n 19,4 ± 0,6 Média dos Valores Encontrados (mg/kg) 17,45 Cd 90% 3 Hg 3,37 ± 0,14 3,17 94% 3 Pb 0,319 ± 0,045 0,29 92% 3 Se 7,06 ± 0,48 6,98 99% 3 31 6.3.1.4 Determinação do Peso Seco Inicialmente, de cada amostra de tecido muscular foram pesadas alíquotas de aproximadamente 0,5 g; e de cada amostra de tecido hepático, alíquotas de aproximadamente 0,2 g. Os tubos contendo as alíquotas seguiram para a estufa a 60°C por 24 horas. O material foi novamente pesado e a operação de estufa foi repetida, até que as amostras obtivessem peso constante. Com este procedimento, foi possível obter um fator de umidade, que foi aplicado individualmente às concentrações dos metais para que os resultados fossem convertidos a peso seco. Em duas amostras de musculatura e em cinco de fígado, a quantidade de material não foi suficiente para a realização deste procedimento, então uma média dos fatores de umidade encontrados para cada matriz foi utilizada na conversão em peso seco destas amostras. 6.3.2 Análise de Compostos Organoclorados Fragmentos de tecidos musculares de 13 carcaças recolhidas foram encaminhados ao Laboratório de Química Orgânica Marinha do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, para a detecção e quantificação de pesticidas organoclorados e bifenilas policloradas (PCBs). Para isso, foi utilizado o procedimento descrito por MacLeod e colaboradores (1986), otimizado no laboratório para a análise em tecidos de aves. Os pesticidas organoclorados analisados foram α-hexaclorociclohexano (α-HCH), β-hexaclorociclohexano (β-HCH), γ-hexaclorociclohexano (γ-HCH), δhexaclorociclohexano (δ-HCH), hexaclorobenzeno (HCB), heptacloro, heptacloro epóxido A, oxiclordana, heptacloro epóxido B, γ-clordana, αclordana, aldrin, isodrin, dieldrin, endrin, dicloro-difenil-tricloroetano (op' DDT, pp' DDT) e seus metabólitos, dicloro-difenil-dicloroetileno (op' DDE, pp' DDE) e dicloro-difenil-dicloroetano (op' DDD, pp' DDD), endosulfan II, metoxicloro e mirex. Os congêneres de bifenilas policloradas (PCBs) analisados foram PCB 8, PCB 28, PCB 31, PCB 33, PCB 44, PCB 49, PCB 52, PCB 56/60, PCB 66, PCB 70, PCB 74, PCB 77, PCB 81, PCB 87, PCB 95, PCB 97, PCB 99, PCB 32 101, PCB 105, PCB 110, PCB 114, PCB 118, PCB 123, PCB 126, PCB 128, PCB 132, PCB 138, PCB 141, PCB 149, PCB 151, PCB 153, PCB 156, PCB 157, PCB 158, PCB 167, PCB 169, PCB 170, PCB 174, PCB 177, PCB 180, PCB 183, PCB 187, PCB 189, PCB 194, PCB 195, PCB 203, PCB 206 e PCB 209. Estes congêneres se diferenciam pelo grau de halogenação e pela posição do cloro na molécula (Storelli et al., 2003), o que é demonstrado na Tabela 3. Tabela 3: Diferenciação dos PCBs em função de seu grau de halogenação. Grau de Halogenação Congêneres de PCBs Cl 1 PCB 1 – 3 Cl 2 PCB 4 – 15 Cl 3 PCB 16 – 39 Cl 4 PCB 40 – 81 Cl 5 PCB 82 – 127 Cl 6 PCB 128 – 169 Cl 7 PCB 170 – 193 Cl 8 PCB 194 – 205 Cl 9 PCB 206 – 208 Cl 10 PCB 209 Fonte: Adaptada de Lavandier (2011). 6.3.2.1 Cuidados Analíticos A vidraria utilizada foi previamente lavada com detergente e enxaguada em água corrente. Depois de seca, foi coberta com alumínio e levada à mufla por quatro horas, a 450°C. As vidrarias volumétricas que não podiam ser mufladas e as colunas de purificação foram enxaguadas com água corrente e lavadas com hexano/diclorometano (1:1, v/v) e n-hexano. A água utilizada na desativação da sílica e da alumina foi purificada por extração com n-hexano, repetida por cinco vezes. O sulfato de sódio anidro, a sílica gel e a alumina foram calcinados por quatro horas, a 450°C, e mantidos em dessecador até o momento de serem usados. 33 6.3.2.2 Soluções Padrões Foram utilizadas soluções de organoclorados AccuStandard®. Três tipos de soluções foram preparadas a partir dos padrões certificados: as misturas com os padrões externos (uma para PCBs e uma para pesticidas), os surrogates e o padrão interno. A mistura de PCBs continha 51 congêneres, com compostos contendo de 2 a 10 átomos de cloro (numeração IUPAC: 8, 18, 28, 31, 33, 44, 49, 52, 56, 60, 66, 70, 74, 77, 81, 87, 95, 97, 99, 101, 105, 110, 114, 118, 123, 126, 128, 132, 138, 141, 149, 151, 153, 156, 157, 158, 167, 169, 170, 174, 177, 180, 183, 187, 189, 194, 195, 199, 203, 206 e 209). A mistura de pesticidas continha os DDTs e os seus metabólitos (o,p’DDD, p,p’-DDD, o,p’-DDE, p,p’-DDE, o,p’-DDT, p,p’-DDT), HCHs (α-HCH, βHCH, γ-HCH (lindano), δ-HCH), clordanas (γ-clordana, α-clordana), drins (aldrin, isodrin, dieldrin, endrin), heptacloro, heptacloro epóxido A e B, endosulfan I e II, metoxicloro, HCB e mirex. Ambas as misturas possuíam concentração de 1,0 ng/µL. A solução dos surrogates continha o PCB 103 e o PCB 198 e a solução de padrão interno (PI) continha o composto TCMX (2,3,5,6-tetracloro-m-xileno), todas em concentração de 1,0 ng/μL. 6.3.2.3 Curva Analítica Para cada grupo (PCBs e pesticidas organoclorados) foi utilizada uma curva analítica contendo nove concentrações (1, 5, 10, 20, 50, 80, 100, 150 e 200 pg/μL), para que fosse realizada a quantificação dos compostos. O coeficiente de correlação para as curvas era maior ou igual a 0,995. A partir dos tempos de retenção no cromatograma, a identificação dos pesticidas e dos PCBs foi realizada. Para os PCBs, além dos tempos de retenção, também foram utilizados os íons de quantificação e os íons de confirmação. Já as concentrações dos compostos, estas foram obtidas através das razões entre os surrogates e os compostos de interesse, baseada nas curvas analíticas. 34 6.3.2.4 Preparo das Amostras Para a análise de organoclorados, foram enviados ao laboratório aproximadamente 2,5 gramas de cada uma das amostras musculares, liofilizadas. 6.3.2.4.1 Extração Cada amostra tecidual foi macerada com cerca de 10 gramas de sulfato de sódio anidro. Em cada uma das amostras, foi adicionado 100 µL de cada um dos surrogates (PCB 103 e PCB 198). As amostras foram extraídas em Soxhlet por 8 horas, com 80 mL de nhexano e diclorometano (1:1, v/v). O extrato foi concentrado a 1,0 mL, de onde foi retirado 0,1 mL para a estimativa de lipídios. 6.3.2.4.2 Purificação As amostras foram submetidas à cromatografia de adsorção em uma coluna contendo 16 gramas de alumina sobre 8 gramas de sílica, ambas 5% desativadas com água. No topo da coluna, foi adicionado aproximadamente 1,5 cm de sulfato de sódio. As amostras foram eluídas com 80 mL de diclorometano e n-hexano 50%. Este procedimento elimina alguns lipídios, pigmentos e partículas da amostra, mas no caso de amostras biológicas, não é suficiente para a retirada total de lipídios, sendo necessária nova etapa de purificação. Por isso, depois do procedimento descrito, as amostras foram concentradas a 0,5 mL e submetidas à cromatografia a líquido de alta eficiência (HPLC), com a utilização de diclorometano como eluente, a um fluxo de 5 mL/min. Duas colunas de exclusão por tamanho para cromatografia de permeação em gel foram utilizadas: a pré-coluna foi a Phenogel 100 A, com 7,8 x 50 mm; e a coluna, a Phenogel 100 A com 22,5 x 250 mm da Phenomenex®. Durante a corrida em HPLC, foram coletadas duas frações de cada uma das amostras: a primeira, contendo lipídios, do início da corrida até aproximadamente 29,5 minutos, posteriormente descartada; e a segunda, de 35 29,5 até 43 minutos, contendo os compostos de interesse para análise. Esta foi concentrada e recuperada em n-hexano e o padrão interno TCMX foi adicionado, obtendo-se volume final de 0,9 mL. 6.3.2.5 Estimativa da quantidade de lipídios extraíveis Este procedimento foi realizado por análise gravimétrica. Foi retirada uma alíquota de 0,1 mL do extrato concentrado. Esta foi acondicionada em pequenos frascos vítreos, previamente pesados. Cada frasco foi novamente pesado após a evaporação total. A diferença entre os pesos foi utilizada no cálculo da percentagem de lipídios, cuja equação utilizada foi: Lipídios extraíveis = __resíduo (mg) x volume total do extrato (mL)__ vol. alíquota (mL) x quant. amostra extraída (g) 6.3.2.6 Análise dos compostos por cromatografia em fase gasosa Para análise de PCBs, os extratos foram injetados em um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massas (CG-MS) com impacto de elétrons 5973N da Agilent Technologies®. O equipamento funcionou no modo de monitoramento seletivo de íons (SIM) (70eV). Uma coluna capilar de 5% fenil metilsiloxana, com 30 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro interno e 0,25 µm de espessura de filme foi utilizada. O gás de arraste foi o hélio, com fluxo constante de 1,1 mL/min e o volume de injeção foi de 1 μL no modo sem divisão de fluxo (splitless). As temperaturas no GC-MS na interface, na fonte e no quadrupolo foram, respectivamente de 280°C, 300°C e 200°C. A rampa de temperatura utilizada na separação dos PCBs teve início em 75°C, sendo esta temperatura mantida por 3 minutos e, após este tempo, a temperatura subia a uma taxa de 15ºC/min até atingir 150ºC. Ao chegar a esta temperatura, a temperatura passou a ser elevada a uma taxa de 2ºC/min até alcançar a temperatura de 260ºC. Por fim, a temperatura foi elevada até 300ºC a uma taxa de 20ºC/min e permaneceu estável por 1 minuto. 36 Já os pesticidas organoclorados, estes foram analisados em um cormatógrafo a gás acoplado a detector de captura de elétrons (CG-ECD) 6890N da Agilent Technologies®. Foi utilizada uma coluna capilar igual a que foi descrita para PCBs. O gás de arraste utilizado foi o hidrogênio (pressão constante de 40 kPa a 100°C) e o nitrogênio foi o gás auxiliar (make up), com fluxo de 60 mL/min. O volume injetado foi de 2 µL no modo sem divisão de fluxo (splitless). As temperaturas do injetor e do detector foram, respectivamente, de 280°C e 320°C. A rampa de temperatura utilizada para a separação dos pesticidas organoclorados teve início em 70°C, permanecendo nesta temperatura por 1 minuto. Depois a temperatura subia a uma taxa de 40°C/min, até atingir 170°C, e então passava a subir 1,5°C/min, até a temperatura de 230°C, na qual permaneceu por um minuto e então foi subindo a 20°C/min até 300°C, temperatura mantida por 5 minutos. 6.3.2.7 Controle de qualidade Para verificar a precisão e a exatidão das análises, foi feito um controle de qualidade contendo um branco, um branco fortificado, uma matriz e sua duplicada, uma matriz fortificada e um material de referência certificado, conforme os critérios de Wade e Cantillo (1994). O branco mostrava a possibilidade de haver contaminação; a duplicata servia para avaliar a homogeneidade da amostra e a precisão analítica do método, já que a diferença entre os resultados da amostra original e da duplicata nunca deveria ultrapassar 25%; e a matriz fortificada foi utilizada no intuito de verificar a eficiência do método com influência da matriz a ser analisada. O material de referência certificado (CRM) utilizado foi o SRM 1945 (Standard Reference Material 1945 – Organics in Whale Blubber), do NIST (National Institute of Standards and Technology), que trata-se de um homogeneizado de tecido adiposo subcutâneo de baleia-piloto (Globicephala sp.). Todos os compostos analisados apresentaram-se dentro da faixa aceitável, apresentada no certificado. Os surrogates foram adicionados a todas as amostras. Na matriz fortificada e no branco fortificado foram adicionados 50 µL de cada uma das 37 misturas contendo os compostos a serem analisados (PCBs e pesticidas), a uma concentração de 1 ng/µL. O objetivo era o de corrigir as variações, já que a recuperação deveria estar entre 50 e 120%, caso contrário, a análise seria repetida. As recuperações médias dos surrogates PCB 103 e PCB 198 foram de 85% e 90%, respectivamente. A recuperação dos padrões de PCBs no branco fortificado variou entre 90 e 119% e, na amostra certificada, entre 88 e 115%. Para os pesticidas, a variação foi de 69 a 101% no branco e de 67 a 114% na amostra. Ou seja, todos apresentaram recuperações satisfatórias. 6.4 Análises Microbiológicas As amostras microbiológicas foram coletadas cuidadosamente, a fim de evitar contaminações externas e encaminhadas, em meio de transporte CaryBlair, ao Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas do Instituto Oswaldo Cruz, na Fundação Oswaldo Cruz (LRNEB/IOC/FIOCRUZ), em um período máximo de quatro dias. O objetivo foi realizar a cultura e o isolamento de bactérias dos gêneros Aeromonas e Vibrio, importantes no meio marinho. No laboratório, as amostras foram semeadas em Água Peptonada Alcalina (APA), contendo 1% de NaCl e incubadas a 37°C, por 18 a 24 horas. Em seguida, foi realizada a semeadura em Ágar de Tiossulfato, Citrato, Bílis e Sacarose (TCBS), seletivo para o isolamento e o cultivo de bactérias do gênero Vibrio; e Ágar de Glutamato Amido Vermelho de Fenol (GSP), seletivo para bactérias dos gêneros Aeromonas e Pseudomonas. Depois, foi realizada a incubação a 37°C over night. As colônias suspeitas, fermentadoras ou não de sacarose, foram repicadas para os meios de triagem (Ágar de ferro de Kligler e Ágar de ferro lisina) e para Ágar Nutriente, acrescido de 1% de Cloreto de Sódio (NaCl). Em seguida, foram realizados testes bioquímicos, visando o isolamento das bactérias das famílias Vibrionaceae e Aeromonadaceae, segundo Noguerola e Blanch (2008) e Janda e Abbott (2010), respectivamente. 38 6.5 Análise estatística A análise estatística do presente trabalho foi realizada com o auxílio do software SPSS Statistics 17.0®. Os resultados das análises de metais, dos compostos organoclorados e bacteriológicas foram trabalhados separadamente. No caso dos metais, as variáveis utilizadas foram: ano, praia e município de obtenção das amostras e as concentrações de cada um dos elementos metálicos em tecido muscular e hepático. Primeiramente, foi realizada a estatística descritiva básica, calculando-se os valores de média, desvio-padrão e valores máximos e mínimos, no caso das variáveis quantitativas. No caso das variáveis qualitativas, a estatística descritiva básica, consistiu em cálculo das frequências dos dados. Como no ano de 2010 houve elevada mortalidade de P. puffinus na área de estudo, a estatística básica descritiva foi repetida, porém com a utilização apenas das amostras recolhidas no ano em questão. Em seguida, os dados foram testados quanto à distribuição normal através do teste de Shapiro-Wilk. A distribuição normal foi observada nas variáveis: concentração de mercúrio em tecido muscular e em tecido hepático e concentração de selênio em tecido muscular; e a distribuição não-normal, nas variáveis: ano, praia, município, concentração de selênio em tecido hepático, concentração de cádmio em tecido muscular e hepático e concentração de chumbo em tecido muscular e hepático. Como a maior parte das variáveis apresentava distribuição não-normal, optou-se pela utilização dos testes nãoparamétricos. Então, o teste de qui-quadrado de Pearson (X²) foi utilizado para verificar a existência ou não de diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis: ano e as concentrações dos elementos. Já o coeficiente de correlação de Spearman (ρ), foi utilizado para verificar a força de associação entre as variáveis: concentração de um mesmo elemento em tecido muscular e hepático; e as relações interelementares. No caso dos compostos organoclorados, as variáveis foram: ano e as concentrações de cada um dos compostos em tecido muscular. Os compostos que se apresentavam abaixo do limite de detecção em todas as amostras foram descartados da análise estatística (exceto da estatística descritiva 39 básica). Foram eles: α-HCH, β-HCH, γ-HCH, δ-HCH, Heptacloro, γ-clordana, αClordana, Aldrin, Isodrin, Endrin, op' DDE, op' DDD, pp' DDT, Endosulfan II, Metoxicloro, PCB 8, PCB 28, PCB 31, PCB 33, PCB 52, PCB 44, PCB 70, PCB 95, PCB 97, PCB 81, PCB 77, PCB 110, PCB 123, PCB 114, PCB 132 e PCB 169. A estatística básica e o teste da normalidade foram realizados da maneira já descrita para os metais. As variáveis concentrações dos compostos HCB, Heptacloro Epóxido A, Dieldrin, pp´ DDE, op´ DDT e Mirex apresentaram distribuição normal, pelo teste de Shapiro-Wilk, enquanto as variáveis ano e as concentrações dos compostos Oxiclordana, Heptacloro Epóxido B, pp´ DDD e todos os PCBs apresentaram distribuição não-normal. Por isso, optou-se pela utilização de testes não-paramétricos. O teste de qui-quadrado de Pearson (X²) foi utilizado para verificar a existência ou não de diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis: ano e concentração dos compostos. Também foi realizada a estatística descritiva básica apenas dos espécimes recolhidos no ano de 2010. Por último, no caso das análises bacteriológicas, a frequência de isolamento de Vibrio spp. e de Aeromonas spp. foi calculada, além da frequência de cada espécie isolada. 7. Resultados e Discussão 7.1 Ano, praias e municípios de proveniência das amostras Conforme já descrito anteriormente, 68% das amostras foram recolhidas no ano de 2010. Além disso, 18% das amostras eram provenientes de arribamentos ocorridos no ano de 2011; 8% de 2009; 3% de 2006; e 3% de 2005. Quanto às praias, a maioria das carcaças foi encontrada na Praia de Manguinhos, em Armação dos Búzios (36%), seguida da Praia da Marinha, Cabo Frio (17%); Praia Rasa, Armação dos Búzios (17%); Praia do Peró, Cabo Frio (6%); Praia Grande, Arraial do Cabo (6%); Praia do Sonho, São Francisco de Itabapoana (6%); Praia de Tucuns, Armação dos Búzios (2%), Praia da Figueira, Arraial do Cabo (2%); e Praia Seca, Araruama (2%); além das 40 amostras cedidas da Praia do Coqueiral, Aracruz, Espírito Santo (6%) (Figuras 4 e 5). Dito isto, quanto ao município, percebe-se que a maioria das amostras provém de Armação dos Búzios (56%), seguida de Cabo Frio (22%); Arraial do Cabo (8%); São Francisco do Itabapoana (6%); Aracruz (6%); e Araruama (2%) (Figura 6). Figura 4: Distribuição das carcaças de Puffinus puffinus (n=37) utilizadas no estudo por praia, onde BZ = Armação dos Búzios, CF = Cabo Frio, ARCZ = Aracruz, AC = Arraial do Cabo, AR = Araruama e SFI = São Francisco do Itabapoana. 41 Figura 5: Distribuição das praias de obtenção das carcaças de Puffinus puffinus (n=37), por ano, onde BZ = Armação dos Búzios, CF = Cabo Frio, ARCZ = Aracruz, AC = Arraial do Cabo, AR = Araruama e SFI = São Francisco do Itabapoana. Figura 6: Distribuição das carcaças de Puffinus puffinus recolhidas para o estudo por município (n=37). 42 7.2 Comprimento total e envergadura das aves A média do comprimento total das aves utilizadas neste estudo (n=37) foi de 32,88 cm, com desvio padrão de 0,49. O valor mínimo encontrado foi de 30 cm e o máximo de 36 cm. Já a média da envergadura, foi de 72,24 cm, com desvio padrão de 0,52. O valor mínimo encontrado foi de 69 cm e o máximo de 76 cm. 7.3 Período de arribamento das aves As aves utilizadas no presente estudo (n=37) arribaram entre os meses de julho e dezembro. A maioria das aves (43%) foi recolhida na segunda quinzena de setembro, seguida pela primeira quinzena de setembro (22%), segunda quinzena de dezembro (13%), primeira e segunda quinzenas de outubro (5% cada), primeira quinzena de julho (3%), primeira quinzena de agosto (3%) e primeira e segunda quinzenas de novembro (3% cada). Não houve arribamentos na segunda quinzena de julho, na segunda quinzena de agosto e nem na primeira quinzena de dezembro (Figura 7). Figura 7: Período de recolhimento das amostras de Puffinus puffinus (n=37) na costa centronorte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011. 43 Em um estudo brasileiro revisando as recapturas de aves marinhas visitantes anilhadas, Olmos (2002) relatou a recaptura de 150 bobos-pequenos ao longo do território brasileiro e uruguaio, de 1953 a 2002, todos procedentes de ilhas britânicas. Os litorais sul e sudeste do Brasil contaram com a maior parte das aves recuperadas e apesar da espécie ter sido recapturada em todos os meses do ano, o estudo demonstra um pico de recapturas de setembro a dezembro, assim como no presente estudo. O estudo demonstra que as aves mais velhas tendem a chegar primeiro ao Brasil do que as aves mais jovens. Outro estudo semelhante, porém envolvendo também outras aves que não marinhas e abordando somente o território brasileiro, entre 1927 e 2006, Mestre e colaboradores (2010) destacaram o P. puffinus como a segunda ave mais recuperada neste período, no Brasil, com 172 registros. Todas as aves eram provenientes do Reino Unido e foram recuperadas principalmente nas regiões sul e sudeste. Os registros de recapturas envolvem quase todos os meses, porém com pico de setembro a dezembro, com a maioria dos indivíduos sendo recapturados mortos. Os autores descrevem a migração da espécie como regular e anual e ainda encontram uma segregação temporal de migração, com os adultos tendendo a chegar mais cedo nos locais de invernada do que os juvenis, ratificando a afirmação de Olmos (2002). Em estudo semelhante aos anteriores, porém mais antigo, LaraRezende (1983) registrou a recuperação de 83 exemplares de P. puffinus em território brasileiro até 1980. Todos os animais foram anilhados no Reino Unido, mas a autora não demonstrou a separação das recuperações através dos meses do ano. Em censos de aves marinhas realizado no litoral do Rio Grande do Sul, Petry e Fonseca (2002) encontraram 61 P. puffinus mortos e a frequência de ocorrência foi maior nos meses de outubro e novembro. Algumas destas carcaças apresentavam sinais de impactos antrópicos: presença de óleo, marcas de interação com a pesca e/ou presença de materiais sintéticos no conteúdo estomacal. 44 7.4 Análise de contaminantes 7.4.1 Análise de metais Os espécimes avaliados obtiveram uma média de concentração de mercúrio em tecido muscular de 1,23 mg/kg, com desvio padrão de 0,53 e mediana de 0,97 mg/kg. O valor mínimo encontrado foi de 0,47 mg/kg e o máximo de 2,31 mg/kg. Quanto a concentração de mercúrio em tecido hepático, a média encontrada foi de 7,19 mg/kg, com desvio padrão de 3,37 e mediana de 7,22 mg/kg. O valor mínimo encontrado foi de 1,16 mg/kg e o máximo de 14,22 mg/kg (Figura 8). Figura 8: Concentrações de mercúrio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011. Os espécimes obtiveram uma média de concentração de selênio em tecido muscular de 7,98 mg/kg, com desvio padrão de 3,68, mediana de 7,4 mg/kg e valores mínimo e máximo de, respectivamente, 3,17 mg/kg e 19,01 mg/kg. A média de concentração de selênio em tecido hepático foi de 34,66 45 mg/kg, com desvio padrão de 20,14, mediana de 27,72 mg/kg, com valores mínimo e máximo de, respectivamente, 10,56 mg/kg e 75,20 mg/kg (Figura 9). Figura 9: Concentrações de selênio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011. Quanto ao cádmio, a média da concentração em tecido muscular foi de 1,11 mg/kg, com desvio padrão de 1,72, mediana de 0,32 mg/kg, com valor mínimo abaixo do limite de detecção e valor máximo de 8,94 mg/kg. No tecido hepático, a média de concentração de cádmio foi de 22,33 mg/kg, com desvio padrão de 25,46, mediana de 16,25 mg/kg, com resultados variando entre 2,31 mg/kg e 113,01 mg/kg (Figura 10). 46 Figura 10: Concentrações de cádmio em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011. Por último, a média da concentração de chumbo em tecido muscular foi de 0,16 mg/kg, com desvio padrão de 0,09, mediana idêntica à média, com valor mínimo abaixo do limite de detecção e valor máximo de 0,43 mg/kg. No tecido hepático, a média da concentração de chumbo foi de 0,1 mg/kg, com desvio padrão de 0,06, mediana de 0,07 mg/kg e valores variando entre 0,036 mg/kg e 0,28 mg/kg (Figura 11). 47 Figura 11: Concentrações de chumbo em tecido muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, entre 2005 e 2011. Os achados deste trabalho, em relação ao mercúrio, encontram-se em conformidade com a bibliografia mundial. A média da concentração de mercúrio em tecido hepático de P. puffinus no presente estudo é um pouco mais alta do que a média encontrada nesta espécie por Dale e colaboradores (1973), mas, em contrapartida, é um pouco mais baixa em comparação com o estudo de Osborn e colaboradores (1979). No entanto, o valor máximo encontrado no presente estudo é mais alto do que o valor máximo descrito por Osborn e colaboradores (1979) (Tabela 4). Quando se trata do tecido muscular, a média da concentração do presente estudo é um pouco mais alta do que a média encontrada naquele estudo (Tabela 5). Tais comparações sugerem não ter havido muita variação nas concentrações de mercúrio em tecidos de P. puffinus da década de 1970 até os dias atuais. A média dos níveis hepáticos de cádmio no presente trabalho é mais alta do que a média descrita por Osborn e colegas (1979) e também mais alta do que a média de Garcia (2008) (Tabela 4). Tal fato ocorre principalmente por conta de outliers na determinação do metal em questão. Se, ao invés da média, a mediana fosse considerada, ter-se-ia uma medida de tendência central de 48 16,25 mg/kg, valor idêntico à média relatada pelos primeiros autores e até um pouco inferior à média encontrada por Garcia (2008). Em relação ao cádmio muscular, a média encontrada é menor do que as médias encontradas nos estudos de Osborn e colaboradores e de Garcia, porém, novamente ocorre o que foi descrito para o mercúrio, com relação aos valores máximos encontrados (Tabela 5). É interessante a comparação com o trabalho de Garcia (2008) visto que este também foi realizado com P. puffinus em migração pelo Brasil. Os resultados apresentados foram semelhantes. Tabela 4: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo em tecido hepático, reportadas em estudos envolvendo Puffinus puffinus. Estudos (P. [Hg] (ps) [Se] (ps) [Cd] (ps) [Pb] (ps) Local do puffinus) (mg/kg) (mg/kg) (mg/kg) (mg/kg) Estudo Litoral centro- Presente 7,19 ± 3,37 34,66 ± 20,14 22,33 ± 25,46 0,1 ± 0,06 norte estudo (1,16 - 14,22) (10,56 - (2,31 - (0,036 - 0,28) fluminense e 75,20) 113,01) Aracruz – ES, Brasil Dale et al., 5,15 ± 0,3 1973 (4,6 - 5,7) Hébridas, - - - Escócia Arquipélago Osborn et 10,2 ± 1,7 al., 1979 (5,66 - 13,9) 16,2 ± 2,94 - (10,6 - 24,4) de Saint - Kilda, Escócia 17,67 ± 4,06 Garcia, 2008 - - (11,11 21,37) Praia do - Cassino, RS, Brasil ps = peso seco 49 Tabela 5: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo em tecido muscular, reportadas em estudos envolvendo Puffinus puffinus. Estudos (P. [Hg] (ps) [Se] (ps) [Cd] (ps) [Pb] (ps) Local do puffinus) (mg/kg) (mg/kg) (mg/kg) (mg/kg) Estudo Litoral centro- Presente 1,23 ± 0,53 7,98 ± 3,68 1,11 ± 1,72 0,16 ± 0,09 norte estudo (0,47 - 2,31) (3,17 - 19,01) (<LD - 8,94) (<LD - 0,43) fluminense e Aracruz – ES, Brasil Arquipélago Osborn et 0,912 ± 0,25 al., 1979 (0,349 - 1,56) - 2,73 ± 0,752 - (0,495 - 3,64) de Saint Kilda, Escócia 1,96 ± 1,38 Garcia, 2008 - - (1,20 - 4,40) Praia do - Cassino, RS, Brasil <LD = abaixo do limite de detecção; ps = peso seco A partir deste momento, comparações com estudos em outras espécies do mesmo gênero, com hábitos semelhantes serão feitas. Muirhead e Furness (1988) e Thompson e Furness (1989), em estudos envolvendo as espécies Puffinus gravis e Puffinus assimilis, no arquipélago de Tristão da Cunha, no Atlântico Sul, encontraram resultados de concentração de mercúrio menores do que os apresentados no presente estudo (Tabelas 6 e 7). Tal fato pode se dever às diferenças de habitat, visto que as colônias das espécies citadas encontram-se no Arquipélago de Tristão da Cunha, local onde a contaminação por metais praticamente não existe, em contrapartida com as colônias de P. puffinus, no Reino Unido, berço da Revolução Industrial, área bem mais contaminada (Muirhead & Furness, 1988). No estudo de Muirhead e Furness (1988), as concentrações de cádmio também foram mensuradas nas espécies citadas e encontram-se bem maiores (quase o dobro) do que a concentração do metal no presente estudo (Tabela 7). Os autores chamam atenção para o fato de que as concentrações de cádmio costumam ser maiores em espécies que têm grande parte de sua alimentação constituída por cefalópodes, uma vez que estes animais tendem a acumular o elemento em seus tecidos e são importantes vetores de 50 transferência de cádmio dentro da cadeia trófica (MARTIN & FLEGAL, 1975; BUSTAMANTE et al., 1998; DORNELES et al., 2007). É o caso das espécies de Puffinus spp. apresentadas pelos autores, naquele habitat. O P. puffinus, nas colônias do Reino Unido, se alimenta de lulas pequenas, principalmente juvenis da família Ommastrephidae, e de peixes com mais de 80 mm, onde os principais são galeotas, espadilhas e exemplares juvenis de arenque. A proporção de peixes na dieta parece aumentar, em relação à proporção de lulas, no período de cria dos filhotes (THOMPSON, 1987). Dados mais recentes das colônias canadenses mostram que o P. puffinus alimenta-se principalmente de peixes, em sua maioria da espécie Mallotus villosus (BUNDY et al., 2000). Em um estudo brasileiro, Petry e colaboradores (2008) demonstraram que os cefalópodes estavam presentes em 56% dos estômagos de P. puffinus analizados, sendo a principal espécie a Argonauta nodosa; e os peixes, em 52% dos exemplares, sendo Paralonchurus brasiliensis a principal espécie. Então, a ingestão de lulas pode explicar os níveis de cádmio encontrados no presente estudo, porém as espécies do estudo de Muirhead e Furness (1988) parecem alimentar-se de uma proporção maior de cefalópodes ou de cefalópodes de espécies que acumulem uma concentração maior de cádmio. Os autores citam a importância dos cefalópodes na alimentação das espécies de Puffinus spp. da região do Arquipélago de Tristão da Cunha. Essa diferença entre os itens alimentares de P. gravis e P. puffinus é demonstrada no estudo de Petry e colaboradores (2008). Outra suposição é de que os espécimes do estudo de Muirhead e Furness (1988) fossem mais velhos do que os espécimes do presente estudo, uma vez que o cádmio tende a acumular com a idade (NORHEIM, 1987). Como não se tem dados da idade dos animais neste estudo, não se pode afirmar esta relação. Os níveis de cádmio em P. gravis se mostraram acima dos níveis encontrados em P. puffinus no presente trabalho também no estudo de Garcia (2008), conduzido no litoral do Rio Grande do Sul (Tabela 6). A autora compara os níveis nas duas espécies e o P. gravis apresenta valores um pouco maiores em comparação com o P. puffinus. 51 Em um estudo no Brasil, envolvendo apenas exemplares da espécie P. gravis, Barbieri e colaboradores (2007) encontraram uma quantidade ainda menor de cádmio do que a apresentada neste trabalho (Tabela 6). O estudo comparou os resultados em tecidos de exemplares adultos e juvenis e encontrou maior concentração em exemplares adultos, como era de se esperar, visto que o acúmulo deste metal nos tecidos é dependente da idade (MUIRHEAD & FURNESS, 1988). As concentrações de chumbo encontradas por Barbieri e colaboradores (2007) foram baixas, em conformidade com o presente trabalho. Os níveis de chumbo nas cadeias alimentares marinhas parecem ser mesmo pequenos e, além disso, os níveis parecem decair ao longo da cadeia trófica, fenômeno chamado de biodiluição (JOAHNSEN et al., 2000; CHEN et al., 2000; CAMPBELL et al., 2005). No estudo de Bekhit e colaboradores (2011), com a espécie P. griseus, foram encontradas as menores concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo de todos os estudos aqui citados (Tabela 7). Talvez pela espécie nidificar também no Oceano Pacífico, além do Oceano Atlântico e se espalhar por todo o mundo, os padrões de contaminação sejam diferentes dos de P. puffinus (Bekhit et al., 2011). Com exceção do chumbo, que sempre apresenta resultados muito baixos, e do cádmio apresentado por Muirhead e Furness (1988) e por Garcia (2008), as concentrações de metais na espécie que nidifica no hemisfério norte (P. puffinus) são um pouco maiores do que as concentrações nas espécies nidificantes no hemisfério sul (outras espécies de Puffinus apresentadas nas tabelas 6 e 7). Pode ser que o Atlântico Norte seja mais contaminado por metais, até por conta do histórico de industrialização do planeta, ou podem se tratar apenas de diferenças na alimentação das espécies. Ainda tratando da alimentação, vale ressaltar que a maioria das espécies de cefalópodes e todas as espécies de peixes citadas como alimento do bobo-pequeno nos trabalhos de Thompson (1987), Bundy e colaboradores (2000) e Petry e colaboradores (2008) tratam-se de espécies também consumidas pelo homem, podendo o ser humano estar exposto a contaminações através desta fonte alimentar (FAO, 2013; FISHBASE, 2013). 52 Tabela 6: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo, em peso seco, reportadas em estudos envolvendo Puffinus spp. Estudos (Puffinus sp.) Espécie Matriz [Hg] (ps) (mg/kg) [Se] (ps) (mg/kg) [Cd] (ps) (mg/kg) [Pb] (ps) (mg/kg) Presente estudo P. puffinus Fígado 7,19 ± 3,37 (1,16 - 14,22) 34,66 ± 20,14 (10,56 75,20) 22,33 ± 25,46 (2,31 113,01) 0,1 ± 0,06 (0,036 0,28) Presente estudo P. puffinus Músculo 1,23 ± 0,53 (0,47 - 2,31) 7,98 ± 3,68 (3,17 - 19,01) 1,11 ± 1,72 (<LD - 8,94) 0,16 ± 0,09 (<LD - 0,43) P. gravis Fígado 4,5 ± 2,6 (2,0 11,9) - - - Thompson & Furness, 1989 P. assimilis Fígado 3,1 ± 0,4 (2,7 - 4,1) - - - Barbieri et al., 2007 P. gravis Fígado (adultos) - - 10,52 ± 4,8 0,28 ± 0,2 Barbieri et al., 2007 P. gravis Fígado (juvenis) - - 5,03 ± 1,18 0,07 ± 0,07 Garcia, 2008 P. gravis Fígado - - Garcia, 2008 P. gravis Músculo - - Thompson & Furness, 1989 26,94 ± 6,21 (20,21 35,94) 4,24 ± 4,59 (1,48 4,46) - - Local do Estudo Litoral centronorte fluminense e Aracruz – ES, Brasil Litoral centronorte fluminense e Aracruz – ES, Brasil Ilha de Gonçalo Álvares, Arquipélago de Tristão da Cunha, Atlântico Sul Ilha de Gonçalo Álvares, Arquipélago de Tristão da Cunha, Atlântico Sul Praia de Atalaia, Aracaju, Sergipe, Brasil Praia de Atalaia, Aracaju, Sergipe, Brasil Praia do Cassino, RS, Brasil Praia do Cassino, RS, Brasil <LD = abaixo do limite de detecção; ps = peso seco 53 Tabela 7: Médias, desvios padrões e faixas de concentrações de mercúrio, selênio, cádmio e chumbo, em peso úmido, reportadas em estudos envolvendo Puffinus spp. Estudos (Puffinus sp.) Espécie Matriz [Hg] (pu) (mg/kg) [Se] (pu) (mg/kg) [Cd] (pu) (mg/kg) [Pb] (pu) (mg/kg) Presente estudo P. puffinus Músculo 0,33 ± 0,14 (0,12 - 0,58) 2,13 ± 0,95 (0,72 - 4,34) 0,28 ± 0,39 (<LD - 1,66) <LD (<LD - 0,132) Presente estudo P. puffinus Fígado 2,7 ± 1,22 (0,41 5,1) 13,2 ± 6,8 (4,0 29,0) 8,6 ± 9,5 (0,8 43,5) 0,038 ± 0,022 (0,013 0,106) P. gravis Fígado 2,0 ± 1,66 (0,8 - 6,5) - 15 ± 5,8 (6,0 27,0) Muirhead & Furness, 1988 P. assimilis Fígado 1,2 ± 0,31 (0,6 - 1,6) - 14,0 ± 6,4 (9,0 21,0) - Bekhit et al., 2011 P. griseus Músculo (ano 2007) 0,02 ± 0,05 (0,03 - 0,33) 0,91 ± 0,12 (0,67 - 1,05) 0,03 ± 0,02 (0,01 - 0,07) 0,02 ± 0,03 (<LD - 0,06) Nova Zelândia Bekhit et al., 2011 P. griseus Músculo (ano 2008) 0,07 ± 0,06 (<LD - 0,32) 0,94 ± 0,18 (0,71 - 1,25) 0,04 ± 0,01 (0,03 - 0,05) 0,06 ± 0,04 (<LD - 0,16) Nova Zelândia Muirhead & Furness, 1988 - Local do Estudo Litoral centronorte fluminense e Aracruz – ES, Brasil Litoral centronorte fluminense e Aracruz – ES, Brasil Ilha de Gonçalo Álvares, Arquipélago de Tristão da Cunha, Atlântico Sul Ilha de Gonçalo Álvares, Arquipélago de Tristão da Cunha, Atlântico Sul <LD = abaixo do limite de detecção; pu = peso úmido É sabido que as aves pelágicas tendem a apresentar concentrações de mercúrio e cádmio maiores do que as aves costeiras (MUIRHEAD & FURNESS, 1988). É importante ressaltar que, nas aves, existe uma forma de excreção do mercúrio através das penas. Durante a época da muda, os níveis de mercúrio decaem em todos os tecidos, já que o elemento está sendo excretado através das novas penas (HONDA et al., 1986). Isso pode ser uma das razões pelas quais os níveis de mercúrio em tecidos de aves não são tão altos quanto os níveis encontrados, por exemplo, em cetáceos (POMPE-GOTAL, 2009; LEMOS, 2012). Por isso, aves com ciclos de muda mais lentos acumulam o mercúrio nos tecidos por um período mais longo, o que não é o caso das aves 54 do gênero Puffinus, que realizam uma muda completa anualmente (THOMPSON & FURNESS, 1989). Além das penas, o mercúrio também pode ser excretado através dos ovos, por isso as fêmeas tendem a ter uma quantidade menor de mercúrio em seus tecidos do que os machos (GOEDE & WOLTERBEEK, 1994). Além da excreção do mercúrio através das penas, no fígado das aves ocorre uma espécie de detoxificação: a demetilação, onde o metil-mercúrio é transformado em mercúrio inorgânico, forma menos tóxica do que o metilmercúrio. Desta forma, enquanto a proporção de metil-mercúrio no fígado das aves cai, aumenta a quantidade de mercúrio total (THOMPSON & FURNESS, 1989; EAGLES-SMITH et al., 2009). 7.4.1.1 Análise de metais – ano de 2010 Como em 2010 observou-se elevada mortalidade de P. puffinus na área de estudo, optou-se pela realização da estatística descritiva básica das concentrações dos elementos analisados somente dos espécimes daquele ano. A comparação entre o ano de 2010 e todos os anos (exceto 2010) encontra-se na tabela 8. Tabela 8: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos elementos analisados em tecidos de Puffinus puffinus, entre todos os anos e o ano de 2010. Concentração dos 2005 – 2011 (exceto Elementos 2010) (ps) (mg/kg) [Hg] Tecido Muscular 1,32 ± 0,64 (0,48 – 2,31) 1,19 ± 0,48 (0,47 – 2,28) [Hg] Tecido Hepático 2,18 ± 1,44 (1,16 – 3,19) 7,75 ± 3,05 (2,52 – 14,22) [Se] Tecido Muscular 7,78 ± 4,92 (3,17 – 19,01) 8,08 ± 3,02 (3,97 – 13,46) [Se] Tecido Hepático 15,85 ± 4,42 (12,72 – 36,76 ± 20,14 (10,56 – 18,97) 75,20) [Cd] Tecido Muscular 1,49 ± 2,59 (<LD – 8,94) 0,92 ± 1,13 (<LD – 4,28) [Cd] Tecido Hepático 11,89 ± 13,55 (2,31 – 23,49 ± 26,45 (3,33 – 21,47) 113,01) [Pb] Tecido Muscular 0,15 ± 0,08 (<LD – 0,35) 0,17 ± 0,1 (<LD – 0,43) [Pb] Tecido Hepático 0,1 ± 0,08 (0,036 – 0,16) 0,1 ± 0,06 (0,048 – 0,28) 2010 (ps) (mg/kg) 55 Como pode-se observar na tabela 8, as concentrações dos metais em tecido muscular no ano de 2010 encontram-se bem próximas às concentrações de todos os anos, porém, em tecido hepático, as concentrações do ano de 2010 encontram-se bem maiores do que as concentrações do restante do período de estudo, com exceção do chumbo. O arribamento de uma grande quantidade de aves ao mesmo tempo, como ocorrido com a espécie no ano de 2010 na área de estudo, pode estar ligado a intoxicações por substâncias químicas ou biotoxinas, mas é mais comumente ligado a jejum prolongado, levando à desnutrição, ou a condições climáticas extremas, como tempestades em alto mar (COULSON et al., 1968; SCOTT et al., 1975; JURY, 1991; PIAT & VAN PELT, 1997; WORK & RAMEYER, 1999). No caso das aves aqui estudadas, em 2010, qualquer destas hipóteses pode ter ocorrido, visto que grande parte dos exemplares, à necropsia, apresentava estado nutricional severo e outras não apresentavam alteração alguma. As aves podem ter sido vítimas de caquexia, intempéries no mar ou de intoxicações por metais. Esta última hipótese toma importância dado à concentração de metais no fígado, que se apresentou maior no ano de 2010 do que nos outros anos de estudo. A alta concentração destes elementos em tecido hepático sugere uma exposição recente das aves a eles (SCHEUHAMMER, 1987; KIM et al., 1996). 7.4.1.2 Ano e as concentrações dos elementos De acordo com o teste de qui-quadrado de Pearson (X²), não há diferenças estatisticamente significativas entre os anos de arribamento e as concentrações dos elementos, uma vez que os resultados de p-valor encontrados entre ano e concentração de mercúrio em tecido muscular; ano e concentração de mercúrio em tecido hepático; ano e concentração de selênio em tecido muscular; ano e concentração de selênio em tecido hepático; ano e concentração de cádmio em tecido muscular; ano e concentração de cádmio em tecido hepático; ano e concentração de chumbo em tecido muscular; e ano e concentração de chumbo em tecido hepático, foram, respectivamente de, 0,099; 0,381; 0,305; 0,381; 0,143; 0,381; 0,581; e 0,221. 56 Deve-se lembrar de que o ano de 2010 apresentava valores diferentes dos outros anos, segundo o item anterior. O que pode ter ocorrido é que a contaminação no ano de 2010 foi suficiente para fazer com que a concentração média dos elementos subisse naquele ano, mas não foi suficiente para gerar diferenças estatisticamente significativas entre os anos. 7.4.1.3 Concentração de um mesmo elemento em tecido muscular e hepático Para verificar a força de associação entre a concentração de um elemento em tecido hepático e a concentração do mesmo elemento em tecido muscular, fez-se uso do coeficiente de correlação de Spearman (ρ). Segundo Bryman e Cramer (2011), a correlação é considerada muito fraca quando ρ se encontra entre 0,00 e 0,19; fraca entre 0,20 e 0,39; moderada entre 0,40 e 0,69; forte entre 0,70 e 0,89; e muito forte quando entre 0,90 e 1,00. Estes parâmetros foram levados em consideração na análise de todos os resultados de coeficiente de correlação de Spearman deste trabalho. Em todos os resultados deste trabalho também foi considerado um p-valor menor que 0,05 para que houvesse significância estatística. De acordo com o coeficiente de correlação de Spearman (ρ), a correlação encontrada entre mercúrio em tecido muscular e mercúrio em tecido hepático foi positiva e moderada (ρ = 0,50), com significância estatística. Entre selênio muscular e selênio hepático foi positiva e moderada (ρ = 0,48), com significância estatística. Entre cádmio muscular e cádmio hepático, foi positiva e forte (ρ = 0,81), com significância estatística. E, por último, entre chumbo muscular e chumbo hepático, foi encontrada uma correlação positiva fraca (ρ = 0,29), com ausência de significância estatística As diferenças das concentrações dos elementos entre os tecidos podem ser visualizadas na figura 12, onde todos os elementos, exceto o chumbo, apresentam um padrão semelhante, onde as concentrações são maiores em tecido hepático do que em tecido muscular. 57 Figura 12: Diferenças de concentração dos metais nos tecidos muscular (n=37) e hepático (n=20) de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense e em Aracruz-ES, nos anos de 2005 a 2011, onde A corresponde às concentrações de mercúrio; B de selênio; C de cádmio e D de chumbo. No caso do cádmio, 90% do elemento no organismo de uma ave encontra-se acumulado no fígado e nos rins, sendo estes últimos os principais sítios de toxicidade do cádmio (SCHEUHAMMER, 1987). O presente estudo encontra-se em conformidade com este padrão de distribuição, onde a concentração de cádmio encontrada em tecido hepático foi maior do que a concentração do elemento em tecido muscular. Segundo Scheuhammer (1987), o melhor tecido para monitorar a exposição ao cádmio trata-se mesmo do tecido hepático, uma vez que ele acumula grande parte do total de cádmio do organismo de forma estável, sendo resistente aos efeitos tóxicos do 58 elemento, ao contrário dos rins, onde a concentração vai decaindo conforme a instalação dos efeitos tóxicos (WHITE & FINLEY, 1978; GOYER et al., 1984). O melhor tecido para o monitoramento da exposição de mercúrio em aves também é o tecido hepático e a determinação de mercúrio neste tecido deve vir sempre acompanhada pela determinação de selênio, devido à correlação entre os dois elementos, que será melhor explicada no item 7.4.1.6 (SCHEUHAMMER, 1987). No presente trabalho, concentrações maiores de mercúrio e selênio foram encontradas no tecido hepático, ratificando a afirmação anterior. Neste trabalho, o chumbo apresentou um padrão de acúmulo diferente dos outros elementos, tendo as concentrações maiores em tecido muscular do que em tecido hepático. Porém, deve-se ter atenção para os níveis do elemento, que se encontram bem baixos tanto em músculo quanto em fígado, não apresentando, portanto, uma diferença tão grande entre os dois tecidos. O elemento em questão acumula-se primariamente nos ossos das aves. Nos tecidos moles, o principal local de acúmulo são os rins (CUSTER et al., 1984; SCHEUHAMMER, 1987). É sabido que o chumbo pode ocupar os sítios de ligação do cálcio e, talvez por isso ele esteja em maior concentração no músculo, no presente trabalho (BARTON et al., 1978). Segundo Scheuhammer (1987), o melhor tecido para o monitoramento de chumbo seria o ósseo, para o caso de exposições a longo prazo, e o renal, para o caso de exposições recentes. 7.4.1.4 Relações interelementares Utilizando-se ainda do coeficiente de correlação de Spearman (ρ), entre mercúrio e selênio musculares, encontrou-se uma correlação positiva muito fraca (ρ = 0,05) e sem significância estatística. Porém, ao se tratar dos mesmos elementos em tecido hepático, a correlação encontrada foi positiva e moderada (ρ = 0,46), com significância estatística. Entre mercúrio e cádmio musculares, a correlação encontrada foi negativa e muito fraca (ρ = -0,04) e sem significância estatística. Já entre mercúrio e cádmio hepáticos, a correlação encontrada foi positiva e moderada (ρ = 0,52), com significância estatística. 59 Entre mercúrio e chumbo musculares, a correlação encontrada foi negativa e muito fraca (ρ = -0,06), sem significância estatística. Os mesmos elementos em tecido hepático apresentaram correlação positiva muito fraca (ρ = 0,10), sem significância estatística. Entre selênio e cádmio musculares, a correlação encontrada foi positiva e muito fraca (ρ = 0,04) e sem significância estatística. Os mesmos elementos em tecido hepático apresentaram correlação positiva moderada (ρ = 0,50), com significância estatística. Entre selênio e chumbo musculares, a correlação encontrada foi positiva e fraca (ρ = 0,20), sem significância estatística. O mesmo ocorreu entre selênio e chumbo hepáticos (ρ = 0,20; p > 0,05). Por último, a correlação encontrada entre cádmio e chumbo musculares foi positiva e fraca (ρ = 0,20) e sem significância estatística. A correlação encontrada entre estes elementos em tecido hepático foi positiva e muito fraca (ρ = 0,16), sem significância estatística. Então, as correlações interelementares mais importantes encontradas neste trabalho foram as correlações positivas moderadas entre mercúrio e selênio em fígado, entre mercúrio e cádmio em fígado e entre selênio e cádmio em fígado. O selênio e o mercúrio tendem a co-acumular no fígado de aves, onde o selênio atua reduzindo a toxicidade do mercúrio (GANTHER et al., 1972; CUVIN-ARALAR & FURNESS, 1991; GOEDE & WOLTERBEEK, 1994; SCHEUHAMMER et al., 1998; EAGLES-SMITH et al., 2009). Na verdade, a capacidade do selênio em detoxificar o mercúrio ainda não foi muito bem elucidada. Os mecanismos possivelmente envolvidos são: a redistribuição do mercúrio pelo organismo, na presença do selênio; a competição entre mercúrio e selênio por sítios de ligação; a formação de complexo entre os elementos; a conversão de formas tóxicas de mercúrio em formas menos tóxicas, como a desmetilação do metil-mercúrio pelo selênio; e a prevenção do estresse oxidativo, causado pelo mercúrio (RIDLINGTON & WHANGER, 1981; CUVIN-ARALAR & FURNESS, 1991; JI et al., 2006). Nos mamíferos marinhos, é sabido que existe uma razão molar 1:1 entre Hg e Se, encontrada quando o selênio é utilizado para detoxificar o mercúrio e vice-versa (KOEMAN et al., 1975). Nas aves, esta razão molar quase nunca é 60 encontrada (KOEMAN et al., 1975; CUVIN-ARALAR & FURNESS, 1991; GOEDE & WOLTERBEEK, 1994). No presente estudo, a razão molar encontrada foi de 1:5, ou seja, também é diferente da razão encontrada nos mamíferos marinhos. Talvez por isso, a correlação entre mercúrio e selênio obtida aqui tenha sido moderada e não forte ou muito forte, como costuma acontecer com os mamíferos marinhos (CAURANT et al., 1994; KUNITO et al., 2004; LEMOS, 2012). Os peixes que servem de alimento para os mamíferos marinhos também não apresentam esta relação, por isso, presume-se que se trata de um mecanismo protetor inerente aos mamíferos marinhos (KOEMAN et al., 1975). Uma quantidade superior de selênio em relação ao mercúrio em tecidos de aves marinhas ou aquáticas é encontrada em diversos estudos, em conformidade com o presente trabalho, impossibilitando assim a relação molar 1:1 (GOEDE & WOLTERBEEK, 1994; DIETZ et al., 2000; JI et al., 2006). No estudo de Goede e Wolterbeek (1994), a correlação entre mercúrio e selênio encontrada no fígado de aves aquáticas foi negativa, contrariando os achados do presente estudo. Já no estudo de Ji e colaboradores (2006), a correlação encontrada entre mercúrio e selênio em fígados e outros órgãos de patos domésticos foi positiva e forte. Isso demonstra uma falta de consistência nos achados, talvez explicada por diferenças interespecíficas. Assim como a correlação entre mercúrio e selênio, as correlações entre selênio e cádmio e entre mercúrio e cádmio também vêm sendo demonstradas em aves marinhas (NORHEIM, 1987). Além da detoxificação do mercúrio, o selênio também tem o papel de detoxificar o cádmio incorporado por estes animais (MAGOS E WEBB, 1980 apud NORHEIM, 1987). O metalóide pode atuar alterando a disponibilidade de metais traço, sendo a terapia com ele eficiente contra a toxicidade de alguns metais em mamíferos, peixes e vegetais (RIDLINGTON & WHANGER, 1981; PAULSSON & LUNDBERGH, 1989; GLYNN et al., 1993; SHANKER et al., 1996; FEROCI et al., 2005). Segundo Ridlington e Whanger (1981), o selênio é altamente efetivo contra os danos produzidos em um organismo pelo cádmio, é efetivo contra a toxicidade do mercúrio inorgânico, altamente efetivo contra a toxicidade do 61 metil-mercúrio e tem pouquíssimo efeito contra a toxicidade do chumbo. Talvez por isso, selênio, cádmio e mercúrio estejam correlacionados no presente estudo e o chumbo não. 7.4.2 Análise de compostos organoclorados As médias, desvios-padrões e valores máximos e mínimos dos compostos organoclorados analisados encontram-se nas tabelas 9 e 10. 62 Tabela 9: Média, desvio padrão, valor mínimo, valor máximo e limite de detecção do método, obtidos na análise de pesticidas organoclorados em amostras de tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13) arribados na costa centro-norte fluminense, nos anos de 2005 a 2011. Média (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD DP - Mínimo (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD Máximo (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD Limite de detecção do método (ng/g) 1,02 5,25 3,80 2,21 HCB 16,7 8,66 5,97 34,3 1,27 Heptacloro Heptacloro Epóxido A Oxiclordana Heptacloro Epóxido B γ-clordana α-Clordana <LD - <LD <LD 5,00 9,59 <LD 6,31 - <LD <LD 20,8 13,8 5,49 4,19 <LD <LD <LD - <LD <LD <LD 7,28 <LD <LD 4,26 5,94 2,79 Aldrin Isodrin Dieldrin Endrin <LD <LD 31,39 <LD 16,72 - <LD <LD 11,6 <LD <LD <LD 65,2 <LD 1,24 4,73 2,23 3,71 op' DDE pp' DDE op' DDD pp' DDD op' DDT pp' DDT <LD 175,09 <LD 8,45 9,88 <LD 175,16 6,46 8,52 - <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 626 <LD 15,7 25,1 <LD 5,07 1,89 2,51 2,60 4,03 5,25 Endosulfan II <LD - <LD <LD 5,66 Metoxicloro <LD - <LD <LD 1,81 Mirex 8,94 11,12 <LD 36,9 5,83 Compostos α-HCH β-HCH γ-HCH δ-HCH <LD = abaixo do limite de detecção. DP = desvio padrão 63 Tabela 10: Média, desvio padrão, valor mínimo, valor máximo e limite de detecção do método, obtidos na análise de PCBs em amostras de tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13) arribados na costa centro-norte fluminense, nos anos de 2005 a 2011. Compostos PCB 8 PCB 28 PCB 31 PCB 33 PCB 52 PCB 49 PCB 44 PCB 74 PCB 70 PCB 66 PCB 95 PCB 56/60 PCB 101 PCB 99 PCB 97 PCB 81 PCB 87 PCB 77 PCB 110 PCB 151 PCB 123 PCB 149 PCB 118 PCB 114 PCB 153 PCB 132 PCB 105 PCB 141 PCB 138 PCB 158 PCB 126 PCB 187 PCB 183 PCB 128 PCB 167 PCB 174 PCB 177 PCB 156 PCB 157 PCB 180 PCB 169 Média (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 5,21 <LD 9,54 <LD <LD <LD 22,59 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 54,92 <LD 139,1 <LD 8,95 <LD 172,63 3,8 <LD 48,23 24,09 18,43 7,06 <LD 5,26 3,87 <LD 116,93 <LD DP 5,88 9,57 20,58 53,54 170,23 11,87 182,23 5,49 47,64 30,32 17,87 8,15 7,11 5,2 167,36 - Mínimo (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 3,22 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 7,81 <LD 13,9 <LD <LD <LD 18,9 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD 9,83 <LD Máximo (ng/g) (ps) <LD <LD <LD <LD <LD 3,5 <LD 16,9 <LD 32,2 <LD 2,7 6,22 70,5 <LD <LD 5,88 <LD <LD 4,58 <LD 8,55 186 <LD 627 <LD 42,5 6,25 632 17,7 5,93 165 106 62,4 27,5 5,49 24,7 16 8,24 611 <LD Limite de detecção do método (ng/g) 3,26 4,82 4,09 2,54 2,15 2,90 3,67 2,79 2,34 3,06 3,66 2,15 3,34 2,60 4,05 2,53 1,67 4,09 4,93 3,28 4,47 2,79 4,10 3,05 6,67 3,53 8,50 3,12 6,01 3,54 5,29 7,72 2,96 4,60 2,30 3,22 3,53 2,23 3,16 7,32 3,42 64 PCB 170 PCB 201 PCB 203 PCB 189 PCB 195 PCB 194 PCB 206 PCB 209 ∑PCBs 45,18 8,11 14,8 <LD 4,04 16,42 <LD <LD 729,16 56,03 11,91 26,48 6,51 23 - <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD - 192 36,1 86 6,29 18,6 76,8 21,6 6,76 - 5,42 3,58 3,03 1,73 2,71 3,09 4,95 4,84 - <LD = abaixo do limite de detecção. DP = desvio padrão A tabela 11 apresenta o teor lipídico das amostras musculares utilizadas nas análises. Tabela 11: Teor lipídico em amostras de musculatura de Puffinus puffinus arribados na costa centro-norte fluminense, entre os anos de 2005 e 2011. Amostras PUF04 PUF05 PUF06 PUF08 PUF09 PUF12 PUF13 PUF14 PUF17 PUF26 PUF28 PUF31 PUF32 Teor lipídico no músculo (%) 2,4 4,0 4,6 4,4 3,2 5,2 2,6 3,4 3,2 4,0 2,4 4,2 15,0 Neste trabalho, nenhuma ave encontrava-se livre de contaminação por compostos organoclorados. Entre os pesticidas organoclorados, houve o predomínio dos DDTs, com destaque para o pp´ DDE e, entre os PCBs, houve o predomínio dos compostos mais pesados. Pelos desvios padrões apontados nas tabelas 9 e 10, não se pode deixar de notar a imensa variação individual de carga de contaminantes. Esta variação é esperada, mesmo entre espécimes no mesmo estágio de maturidade, em aves longevas e com maturidade sexual tardia e pode estar relacionada com a distribuição, a migração, a dieta ou a idade das aves (COLABUONO et al., 2012). Além disso, trata-se de uma espécie migratória e 65 cada indivíduo pode ter uma dieta diferente, dependendo dos locais por onde passa durante a migração, refletindo a contaminação dos sítios de reprodução e de migração (TANAKA et al., 1986). Os HCHs não foram detectados nas amostras, provavelmente porque as aves marinhas conseguem metabolizar rapidamente estes compostos e apresentam altas taxas de eliminação dos mesmos (MOISEY et al., 2001). No grupo das clordanas, a oxiclordana é um metabólito de grande persistência no ambiente e de difícil biotransformação em aves marinhas, sendo geralmente acumulado por estes animais em maior quantidade do que os outros compostos do grupo (GURUGE et al., 2001; COLABUONO et al., 2012). Entretanto, no presente estudo, este composto foi detectado em apenas cinco exemplares e em concentrações baixas, tanto que sua média encontrouse abaixo do limite de detecção. Os compostos γ-clordana, α-clordana e heptacloro não foram detectados. No grupo dos drins, apenas o dieldrin foi detectado. Isto pode ser devido ao fato de que, no organismo animal, o aldrin é rapidamente convertido em dieldrin e é armazenado nesta forma (BANN et al., 1956). O isodrin é um isômero do aldrin e o endrin pode não ter sido detectado porque também é rapidamente metabolizado e excretado, apresentando baixo acumulo no tecido lipídico (ATSDR, 1996). No grupo do DDT e seus metabólitos, o pp´ DDE foi encontrado em maior quantidade e foi também a substância encontrada em maior quantidade em todo o grupo dos pesticidas, em conformidade com outros estudos (BOURNE & BOGAN, 1972; COLABUONO et al., 2012). Este composto é geralmente encontrado em tecidos de aves e de outros predadores de topo de cadeia por ser muito estável e pelas características de persistência no ambiente, bioconcentração e bioacumulação (JONES & VOOGT, 1999). Em um estudo com pombos expostos a DDT e DDD por via alimentar, em laboratório, Bailey e colaboradores (1969) demonstraram que, em diferentes tecidos, o DDT tem uma meia-vida de 28 dias e é transformado em DDE e DDD e, o DDD tem uma meia-vida de 24 dias, dando origem ao DDMU e ao DDE. Então é normal que haja um decréscimo de DDT e DDD e um aumento de DDE ao longo do tempo e isto pode explicar porque o DDE é 66 encontrado em maior quantidade do que as outras formas de DDT no tecido muscular. O endosulfan não foi detectado no presente estudo. Esta substância também é metabolizada e excretada com certa rapidez e talvez isso explique a sua ausência (ATSDR, 2000). O mesmo ocorre com o metoxicloro e também pode explicar a sua ausência nos tecidos examinados (KAPOOR et al., 1970). O HCB é de grande persistência no ambiente e nos organismos, assim como o mirex, sendo o provável motivo da detecção destas substâncias nos tecidos dos P. puffinus no presente trabalho (ATSDR, 1995; ATSDR, 2002). Quanto aos PCBs, houve predominância dos pentaclorobifenis, hexaclorobifenis, heptaclorobifenis e octaclorobifenis. Isto ocorre porque as aves tendem a metabolizar e excretar os PCBs de baixo peso molecular e acumular os PCBs de alto peso molecular, com maior grau de halogenação (MAERVOET et al., 2004). Em um estudo com P. puffinus, entre outros Procellariiformes, no Rio Grande do Sul, Brasil, Colabuono e colaboradores (2012) encontraram o mesmo padrão de contaminação nos tecidos: predominância de PCBs mais pesados e, entre os pesticidas, predominância dos DDTs, em especial o DDE. Os autores chamam atenção para a influência da condição corporal na redistribuição dos organoclorados no organismo. Situações que envolvam o uso de reservas lipídicas podem fazer com que estas substâncias recirculem no organismo destes animais e causem intoxicação. Vale lembrar que muitos dos espécimes utilizados neste trabalho, à necropsia, encontravam-se em severo estado nutricional. O estudo também encontrou um padrão semelhante de contaminação em relação aos outros pesticidas organoclorados, com exceção de HCHs, endosulfan e metoxicloro, que não foram detectados no presente estudo, porém o foram em pequenas quantidades no estudo de Colabuono e colaboradores (2012). Os resultados em musculatura de P. puffinus apresentados por Walker (1990), no Mar Mediterrâneo e Mar Negro, continham valores de pp´ DDE maiores e valores de PCBs menores do que os encontrados no presente estudo. Em outro estudo conduzido no Brasil, Ferreira (2012), trabalhou com exemplares de P. puffinus recolhidos na Baía da Ilha Grande e encontrou 67 quantidades detectáveis de todos os congêneres de PCBs analisados no tecido hepático destas aves. Dentre os congêneres de PCBs, os pentaclorobifenis apresentaram os mais altos níveis detectados, mas ao contrário do que ocorreu no presente estudo, os níveis de hexaclorobifenis e heptaclorobifenis foram baixos. No trabalho de Bourne e Bogan (1972), com aves marinhas do Atlântico Norte, incluindo o P. puffinus, o DDE também foi o pesticida organoclorado mais comumente encontrado e os PCBs foram detectados em quantidades mais altas do que os pesticidas, em conformidade com o presente estudo. Porém, estes autores descrevem uma uniformidade nos níveis de organoclorados nos tecidos das aves analisadas, diferente do que foi descrito nos estudos de Colabuono e colaboradores (2012) e no presente. 7.4.2.1 Análise de compostos organoclorados – ano de 2010 Das amostras utilizadas para a análise de compostos organoclorados, 69% eram provenientes do ano de 2010, 23% do ano de 2011 e 8% do ano de 2009. Devido à elevada mortalidade no ano de 2010, foi realizada a estatística descritiva básica das concentrações dos compostos organoclorados apenas dos espécimes recolhidos neste ano. Os resultados são apresentados nas tabelas 12 e 13. 68 Tabela 12: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos pesticidas organoclorados analisados em tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13), entre todos os anos e o ano de 2010. Compostos 2009 – 2011 (exceto 2011) (ng/g) (ps) 2010 (ng/g) (ps) α-HCH <LD <LD β-HCH <LD <LD γ-HCH <LD <LD δ-HCH <LD <LD HCB 16,52 ± 6,6 (10,1 - 25,2) 16,8 ± 9,8 (5,97 - 34,3) Heptacloro <LD <LD Heptacloro Epóxido A 7,9 ± 2,55 (5,67 - 10,7) 10,34 ± 7,43 (<LD - 20,8) Oxiclordana 4,86 ± 5,77 (<LD - 11,4) <LD Heptacloro Epóxido B <LD <LD γ-Clordana <LD <LD α-Clordana <LD <LD Aldrin <LD <LD Isodrin <LD <LD Dieldrin 25,48 ± 11,9 (11,6 - 40,5) 34 ± 18,5 (12,3 - 65,2) Endrin <LD <LD op' DDE <LD <LD pp' DDE 233,8 ± 273,76 (29,2 - 626) 149 ± 124,2 (<LD - 388) op' DDD <LD <LD pp' DDD 7,26 ± 6,09 (<LD - 14,9) 8,98 ± 6,9 (<LD - 15,7) op' DDT 9,04 ± 8,59 (<LD - 20,3) 10,25 ± 9,00 (<LD - 25,1) pp' DDT <LD <LD Endosulfan II <LD <LD Metoxicloro <LD <LD Mirex 12,73 ± 17,42 (<LD - 36,9) 7,25 ± 7,82 (<LD - 20,6) <LD = abaixo do limite de detecção. 69 Tabela 13: Comparação entre média, desvio padrão e faixa de variação de concentração dos congêneres de PCBs analisados em tecido muscular de Puffinus puffinus (n=13), entre todos os anos e o ano de 2010. Compostos 2009 – 2011 (ng/g) (ps) 2010 (ng/g) (ps) PCB 8 <LD <LD PCB 28 <LD <LD PCB 31 <LD <LD PCB 33 <LD <LD PCB 52 <LD <LD PCB 49 <LD <LD PCB 44 <LD <LD PCB 74 5,99 ± 7,99 (<LD - 16,9) 4,87 ± 5,24 (<LD - 16,8) PCB 70 <LD <LD PCB 66 10,42 ± 11,7 (<LD – 26,6) 9,15 ± 9,24 (<LD - 32,2) PCB 95 <LD <LD PCB 56/60 <LD <LD PCB 101 <LD <LD PCB 99 26,58 ± 30,74 (3,22 - 70,5) 20,8 ± 16,43 (8,37 - 62,4) PCB 97 <LD <LD PCB 81 <LD <LD PCB 87 <LD <LD PCB 77 <LD <LD PCB 110 <LD <LD PCB 151 <LD <LD PCB 123 <LD <LD PCB 149 <LD <LD PCB 118 67,05 ± 82,09 (7,81 - 186) 48,52 ± 40,82 (18,8 - 154) PCB 114 <LD <LD PCB 153 205,4 ± 286,6 (13,9 - 627) 109,63 ± 97,41 (37,1 - 360) PCB 132 <LD <LD PCB 105 14,38 ± 20,04 (<LD - 42,5) <LD PCB 141 <LD <LD PCB 138 221,93 ± 282,2 (18,9 - 632) PCB 158 4,12 ± 5,49 (<LD – 11,6) 3,67 ± 5,82 (<LD - 17,7) PCB 126 <LD <LD PCB 187 51,1 ± 58,01 (<LD - 130) 46,96 ± 46,21 (11,9 - 165) 150,72 ± 134,89 (44,9 496) 70 PCB 183 33,54 ± 49,12 (<LD - 106) 19,89 ± 20,24 (5,2 - 72,1) PCB 128 19,24 ± 21,99 (<LD - 49,7) 18 ± 17,25 (4,7 - 62,4) PCB 167 9,21 ± 12,54 (<LD - 27,5) 6,1 ± 6,1 (<LD - 21) PCB 174 <LD <LD PCB 177 4,72 ± 5,52 (<LD - 10,5) 5,5 ± 8 (<LD - 24,7) PCB 156 5,13 ± 7,55 (<LD - 16) 3,31 ± 4,25 (<LD - 13,7) PCB 157 <LD 86,79 ± 89,17 (21,8 - 315) PCB 169 <LD 184,76 ± 286,31 (9,83 611) <LD PCB 170 60,9 ± 89,05 (<LD - 192) 38,19 ± 39,46 (8,98 - 139) PCB 201 9,31 ± 14,37 (<LD - 30,3) 7,57 ± 11,59 (<LD - 36,1) PCB 203 22,88 ± 42,16 (<LD - 86) 11,21 ± 18,41 (<LD - 57,4) PCB 189 <LD <LD PCB 195 3,41 ± 5,7 (<LD - 17,46) PCB 194 5,45 ± 8,9 (<LD - 18,6) 22,68 ± 36,33 (<LD - 76,8) 13,64 ± 16,42 (<LD - 55,2) PCB 206 5,4 ± 10,8 (<LD - 21,6) <LD PCB 209 <LD <LD ∑PCBs 990,19 607,93 PCB 180 <LD <LD = abaixo do limite de detecção. Com relação aos pesticidas organoclorados, a comparação entre o ano de 2010 e todos os outros anos foi inconstante, havendo poucas médias aumentadas no ano de 2010. A maioria se manteve ou foi menor. Já no caso dos congêneres de PCBs, houve certa variação, mas as médias diminuíram, então a grande mortalidade de P. puffinus do ano de 2010 não poderia ser explicada por contaminação por compostos organoclorados, provavelmente sendo atribuída aos outros motivos já explicados no item 7.4.1.1. 7.4.2.2 Ano e as concentrações dos compostos organoclorados De acordo com o teste de qui-quadrado de Pearson (X²), não há diferenças estatisticamente significativas entre os anos de arribamento e as concentrações dos compostos organoclorados, uma vez que os resultados de p-valor encontrados entre ano e concentração de cada um dos compostos 71 organoclorados em tecido muscular foram todos bem acima de 0,05 e encontram-se no Apêndice 1 do presente trabalho. Dito isto, pode-se concluir que não há nenhum ano de valores excepcionais, tendo as concentrações se mantido constantes ao longo dos anos de estudo. 7.4.3 Níveis dos diferentes tipos de contaminantes Após uma análise dos resultados dos níveis dos diferentes tipos de contaminantes, pode-se concluir que os exemplares que apresentaram os mais altos níveis de contaminação por pesticidas organoclorados não foram os mesmos que apresentavam os níveis mais altos de contaminação por PCBs e tampouco os mesmos que apresentavam os níveis mais altos de contaminação por metais-traço. Quanto aos níveis de metais-traço, não houve um padrão, diferentes exemplares apresentavam os níveis mais altos de contaminação, dependendo do elemento em questão. Os padrões se mostraram nos níveis de compostos organoclorados: as aves que apresentaram os maiores níveis de contaminação pelos diferentes pesticidas organoclorados foram as que receberam os códigos PUF 05, PUF 08, PUF 09, PUF 31; e as aves com os maiores níveis de contaminação pelos diferentes congêneres de PCBs foram as que receberam os códigos PUF 04 e PUF 31, sendo às vezes, as únicas a apresentarem níveis detectáveis de determinados congêneres. As aves de código PUF 05 e PUF 08 foram recolhidas na Praia de Manguinhos, em Armação dos Búzios e a ave de código PUF 09, na Praia da Marinha, em Cabo Frio. Todas estas aves foram recolhidas na mesma época (PUF 05 e PUF 09 em 21/09/2010 e PUF 08 em 22/09/2010). Em contrapartida, a ave de código PUF 31 foi recolhida na Praia do Sonho, em São Francisco do Itabapoana, mais de um ano depois (23/10/2011). A ave de código PUF 04 foi recolhida em época e local bem diferentes da ave de código PUF 31, já descritos anteriormente. Tratava-se da Praia da Marinha, em Cabo Frio, em 22/09/2010. 72 7.5 Análises microbiológicas No presente trabalho, foram detectadas bactérias do gênero Vibrio em 91% dos indivíduos analisados (n=11) (Figura 13), sendo a espécie mais frequente V. harveyi, presente em 22% dos casos, seguida de Vibrio mediterranei e V. parahaemolyticus, cada uma presente em 19% dos casos. Também foram isoladas as espécies V. fluvialis (7%), V. fisheri (7%), V. cincinnatiensis (7%), V. orientalis (4%), V. cholerae não 01/não 0139 (4%), V. gazogenes (4%) e V. alginolyticus (4%). Em 3% dos casos, não foi possível a classificação por espécie, tendo sido detectada apenas a presença de bactérias do gênero Vibrio (Figura 14). Quanto às bactérias do gênero Aeromonas, estas foram detectadas em apenas 18% dos espécimes (Figura 13), sendo que na maioria dos casos (67%) apenas foi detectada a presença, sem que se pudesse chegar em nível classificatório por espécie. No restante dos casos (33%), somente uma espécie foi encontrada, a Aeromonas sobria. Figura 13: Frequência de isolamento de Vibrio spp. e Aeromonas spp. em exemplares de Puffinus puffinus (n=11), através de swabs coletados na região centro-norte fluminense,entre 2009 e 2012. 73 Figura 14: Frequência de isolamento de bactérias do gênero Vibrio, por espécie, nas amostras de Puffinus puffinus coletadas na região centro-norte fluminense, entre 2009 e 2012. As espécies do gênero Vibrio mais frequentemente associadas a doenças em animais aquáticos, segundo Austin (2010) são V. anguillarum e V. tapetis e nenhuma das duas espécies foi encontrada no presente estudo. O autor cita também as espécies que acometem comumente os homens e os animais, potenciais agentes de zoonoses. São elas: V. alginolyticus, V. harveyi, V. cholerae, V. fluvialis, V. furnissii, V. mimicus, V. metschnikovii, V. parahaemolyticus e V. vulnificus. Deve-se atentar para o fato de que cinco destas espécies foram encontradas nos swabs coletados no presente trabalho. Uma das vias de infecção de tais bactérias para as aves é, assim como para os humanos, a alimentar (MIYASAKA et al., 2006; HALPERN et al., 2008). Em um estudo com aves aquáticas na Flórida e em Connecticut, EUA, Buck (1990) isolou bactérias do gênero Vibrio em fezes de todas as espécies de aves analisadas e em 50% dos espécimes. Algumas espécies de Vibrio isoladas são coincidentes com o presente estudo, como V. parahaemolyticus, isolado de todas as espécies na Florida e em gaivotas em Connecticut; V. alginolyticus, isolado em gaivotas, cisnes e gansos canadenses em Connecticut e em gaivotas e pelicanos na Florida, tendo sido o primeiro relato mundial desta espécie em aves aquáticas; V. cholerae não 01, isolado de 74 gaivotas em Connecticut; e V. fluvialis, isolado de pelicanos na Florida e de gaivotas em Connecticut, também o primeiro relato desta espécie em aves aquáticas. As quatro espécies, como dito anteriormente, podem infectar humanos e animais. Em um trabalho semelhante a este, Roges e colaboradores (2010) coletaram swabs de aves marinhas arribadas na costa centro-norte do estado do Rio de Janeiro e na costa norte do Rio Grande do Sul e a espécie mais frequente nos achados foi V. alginolyticus, isolada em uma minoria de animais no presente estudo. Além do fato de se somar amostras do litoral gaúcho, a diferença provavelmente se dá porque o número de amostras coletadas por Roges e colaboradores é bem maior e esta amostragem envolve uma quantidade maior de espécies de aves marinhas e não apenas o P. puffinus, havendo espécies não migratórias e espécies com rotas de migração diferentes, expondo-se a micro-organismos diferentes. Algumas espécies isoladas por Roges e colaboradores, além da já citada, são coincidentes com as deste estudo, como V. fluvialis, V. parahaemolyticus, V. cincinnatiensis, V. harveyi e V. cholerae não 01/não 0139, todos apontados pelos autores como potencialmente patogênicos para humanos e/ou animais, ou seja, importantes do ponto de vista da Saúde Pública. Deve-se atentar para o risco que existe no contato próximo de aves marinhas com a indústria de pescado, seja durante a atividade pesqueira em si, ou nas áreas de processamento de pescado e em fazendas marinhas, e como isso pode contribuir para a dispersão de micro-organismos patogênicos e facilitar a infecção humana (BUCK, 1990). Dispersores importantes de micro-organismos são as aves migratórias, que podem carreá-los de três diferentes formas: os animais podem ser portadores do patógeno, adoecendo ou não; podem ser carreadores mecânicos, quando o patógeno não se multiplica no organismo da ave, sendo carreado na superfície do corpo ou no trato gastrointestinal, eliminado ainda viável; ou podem carrear ectoparasitos infectados com o patógeno. Além disso, ao migrar, estas aves costumam se encontrar em determinados pontos, facilitando a transmissão interindividual e interespecífica, até porque o estresse de migração contribui em diminuir a resistência dos indivíduos a infecções (HUBÁLEK, 2004). 75 Um patógeno importante carreado pelas aves marinhas migratórias é o Vibrio cholerae (HUBÁLEK, 2004; HALPERN et al., 2008). Desta forma, surtos de cólera podem ocorrer em regiões distantes das áreas endêmicas (HUBÁLEK, 2004). Por isso, Ogg e colaboradores (1989) se preocuparam em isolar esta bactéria em aves aquáticas, no Colorado e em Utah, nos EUA. A bactéria foi isolada de 17, 5% das fezes analisadas, estando presente nas fezes de 20 das 28 espécies utilizadas para o estudo. Os autores também conseguiram isolar a bactéria de swabs cloacais de filhotes, coletados nos ninhos, indicando que estas aves já se tornam portadoras de V. cholerae muito jovens. Na maioria dos isolamentos, tratava-se de V. cholerae não O1, como no presente estudo, onde a bactéria foi isolada de apenas um animal, em swab cloacal, também se tratando do V. cholerae não 01. Os autores isolaram V. cholerae 01 biovar eltor subtipo Ogawa das amostras fecais de três espécimes. É importante saber se trata-se do sorogrupo O1 ou O139 por serem estes os sorogrupos responsáveis pelo cólera (RABBANI & GREENOUGH III, 1999). Outro fato importante é que a incidência da bactéria, no estudo de Ogg e colaboradores, aumentou com o retorno das aves migratórias, ressaltando a importância das aves migratórias na propagação do patógeno. Uma característica importante de algumas espécies do gênero Vibrio, como V. vulnificus, V. parahaemolyticus e V. cholerae, é que sua sobrevivência no ambiente aquático encontra-se relacionada à temperatura da água, onde a maioria das infecções ocorre no verão, através do consumo de pescado contaminado ou do contato da água contaminada com ferimentos (KANEKO & COLWELL, 1974; KELLY, 1982; LEE at al., 1982; TILTON & RYAN, 1987; MIYASAKA et al., 2006; AUSTIN, 2010). Miyasaka e colaboradores (2006), em um estudo com aves aquáticas em Kunamoto, Japão, isolaram V. parahaemolyticus de 55,4% das aves, frequência maior do que a encontrada no presente estudo, e V. vulnificus de 14,1% das aves, através de amostras fecais. Os autores perceberam que as bactérias eram isoladas das fezes das aves mesmo no inverno, quando a frequência de isolamento era baixa na água, demonstrando que estas bactérias podem se multiplicar nos organismos das aves quando as condições ambientais não são favoráveis. Da mesma forma, Lee e colaboradores (1982) conseguiram isolar V. cholerae em 6% dos swabs cloacais de gaivotas aparentemente saudáveis, em 76 Kent, Inglaterra, em períodos nos quais a temperatura da água encontrava-se muito fria para a presença do micro-organismo. Os autores chamam atenção para o fato de que a sobrevivência desta espécie no trato gastrointestinal destas aves, por apenas alguns dias, já é suficiente para a dispersão do microorganismo para grandes distâncias. O estudo também contou com o isolamento de V. cholerae não 01 em fezes frescas de dois cisnes brancos (Cygnus olor). Deve-se lembrar que a região abordada no presente estudo encontra-se sob influência do fenômeno da ressurgência, que faz com que a temperatura das águas diminua nos meses de primavera e verão, por conta de um afloramento de águas frias, profundas e ricas em nutrientes, a Água Central do Atlântico Sul (ACAS). O fenômeno ocorre devido às características geológicas, físicas e meteorológicas da região de Arraial do Cabo e Cabo Frio, que forçam as águas superficiais quentes da corrente do Brasil para longe da costa, ocorrendo o afloramento da ACAS próximo à costa. Nos meses de setembro a abril, a temperatura na água de superfície raramente ultrapassa os 18°C (índice térmico superior da ACAS) e nas águas mais profundas, ela é frequentemente inferior a 15°C (VALENTIN, 1984; VALENTIN & COUTINHO, 1990; LEITE et al., 2006). E é nesta época que o P. puffinus aparece na costa brasileira. Deste modo, a espécie pode ser uma importante carreadora das bactérias do gênero Vibrio quando a temperatura da água está baixa. As bactérias do gênero Aeromonas também habitam ambientes aquáticos, sendo encontradas em todos os tipos de água, até em águas cloradas para o consumo humano e não somente em água salgada ou salobra. A maioria das gastroenterites causadas por Aeromonas spp. também ocorre no verão, período de águas mais quentes na maior parte do mundo, uma vez que a maior parte dos isolamentos ocorre justamente em temperaturas ambientais elevadas (BURKE et al., 1984; MOYER, 1987; KIROV, 1993; PEREIRA et al., 2008). Tal fato leva a pensar que a hipótese das aves aquáticas serem mantenedoras do micro-organismo nos períodos de temperatura ambiental desfavorável também se aplique aqui e deve-se levar em conta o período sobre influência da ressurgência na área de estudo aqui apresentada. Moyer (1987), ao pesquisar a fonte de infecção de pacientes com diarreia causada por Aeromonas spp., relatou que alguns deles se 77 contaminaram por meio da ingestão de bivalves, da pesca e do ato de nadar em águas não tratadas. Além disso, um dos pacientes era funcionário de um mercado de peixe. Estas formas de infecção indicam a importância dos animais na transmissão de doenças causadas por Aeromonas spp. As aves aquáticas, dentre todas as aves, são as que estão mais relacionadas ao carreamento de diferentes espécies de Aeromonas em seu trato gastro-intestinal (STAPLES, 2000). Em dois estudos realizados em no Canadá, Lévesque e colaboradores (1993; 2000) isolaram altas concentrações de bactérias do gênero Aeromonas de fezes de gaivotas-de-bico-riscado (Larus delawarensis), ressaltando a importância de monitoramentos, uma vez que as aves podem contaminar águas de recreação por meio das fezes, levando à contaminação de humanos por ferimentos em contato com a água ou por ingestão de pescado contaminado (HANSON et al., 1977; JOSEPH et al., 1979; KIROV, 1993; LÉVESQUE et al., 1993, 2000). O principal desfecho causado por Aeromonas spp. em humanos é a gastorenterite, que no caso da A. sobria, única espécie identificada no presente estudo, costuma cursar de forma aguda. A maioria das cepas desta espécie apresenta uma toxina semelhante à toxina colérica (MOYER, 1987; ALBERT et al., 2000; PEREIRA et al., 2008). Além da gastroenterite, bactérias do gênero Aeromonas também costumam causar, em humanos, bacteremia, meningite, infecções em ferimentos e nos pulmões (JANDA et al., 1996). 78 8. Conclusão Com o presente estudo podemos concluir que o Puffinus puffinus é um competente sentinela de saúde do Oceano Atlântico, visto que a partir de seus tecidos, pôde-se detectar diferentes tipos de contaminantes químicos e, a partir da coleta de swabs, pôde-se isolar espécies de bactérias comuns em ambientes aquáticos. Os níveis de metais nos tecidos avaliados encontram-se em conformidade com outros estudos envolvendo a espécie. Com relação aos pesticidas organoclorados, o grupo dos DDTs foi o que apresentou os maiores níveis de contaminação, com destaque para o composto pp´ DDE. Na análise dos PCBs, os congêneres com maior grau de halogenação foram os que apresentaram os níveis mais elevados nos tecidos de P. puffinus. Nas análises bacteriológicas, grande parte dos exemplares apresentava contaminação por Vibrio spp. e boa parte também por Aeromonas spp. Conforme descrito, o bobo-pequeno alimenta-se de espécies de peixes e cefalópodes que também são consumidas pelos humanos, ressaltando a contribuição do trabalho no âmbito da Saúde Pública. Este trabalho foi o primeiro a descrever os níveis de metais-traço e o segundo a descrever os níveis de compostos organoclorados em tecidos de P. puffinus recolhidos nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Além disso, o trabalho contou com uma quantidade relativamente grande de exemplares analisados, ao contrário dos outros estudos envolvendo a espécie. Vale a pena ressaltar a importância dos monitoramentos de praia e a necessidade de uma estrutura adequada para o acondicionamento de amostras e para as diversas etapas do trabalho. 9. Recomendações Como o bobo-pequeno se mostrou um bom organismo sentinela, recomenda-se que os níveis de contaminantes e a frequência de isolamento de micro-organismos sejam monitorados na espécie, para avaliar possíveis agravamentos de perda de qualidade ambiental. 79 10. Referências Bibliográficas ALBERT, M. J.; ANSARUZZAMAN, M.; TALUKDER, K. A.; CHOPRA, A. K.; KUHN, I.; RAHMAN, M.; FARUQUE, A. S. G.; ISLAM, M. S.; SACK, R. B.; MOLLBY, R. Prevalence of Enterotoxin Genes in Aeromonas spp. Isolated From Children with Diarrhea, Healthy Controls, and the Environment. Journal of Clinical Microbiology, v. 38. n. 10. p. 3785-3790. 2000. ATSDR (Agency for Toxic Substances and Disease Registry). Toxicological Profile for Mirex and Cholordecone. U.S. Department Of Health And Human Services, Public Health Services. 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Apêndices Apêndice 1: Resultados de p-valor do teste de qui-quadrado de Pearson (X²) entre as variáveis ano e concentração dos compostos organoclorados Composto p-valor HCB 0,35 Heptacloro Epóxido A 0,28 Oxiclordana 0,56 Heptacloro Epóxido B 0,78 Dieldrin 0,35 pp´ DDE 0,35 pp´ DDD 0,25 op´ DDT 0,25 Mirex 0,79 PCB 49 0,16 PCB 74 0,85 PCB 66 0,66 PCB 56 / 60 0,79 PCB 101 0,79 PCB 99 0,35 PCB 87 0,41 PCB 151 0,79 PCB 149 0,90 PCB 118 0,35 PCB 153 0,35 100 PCB 105 0,65 PCB 141 0,79 PCB 138 0,35 PCB 158 0,70 PCB 126 0,79 PCB 187 0,35 PCB 183 0,35 PCB 128 0,25 PCB 167 0,66 PCB 174 0,79 PCB 177 0,79 PCB 156 0,85 PCB 157 0,41 PCB 180 0,35 PCB 170 0,35 PCB 201 0,79 PCB 203 0,79 PCB 189 0,41 PCB 195 0,70 PCB 194 0,66 PCB 206 0,63 PCB 209 0,41 101