Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Modelo de Negócios para Unidade de Pesquisa Clínica em Estudos de Fase I em Oncologia no INCA por Flávia Vieira Guerra Alves Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientadora: Profa. Dra. Cristiane Quental Rio de Janeiro, janeiro de 2013 Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Esta dissertação intitulada “Modelo de Negócios para Unidade de Pesquisa Clínica em Estudos de Fase I em Oncologia no INCA” Apresentada por Flávia Vieira Guerra Alves Dissertação foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof. Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira Prof. Dr. Adriano Proença Profa. Dra. Cristiane Quental- Orientadora principal Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública Alves, Flávia Vieira Guerra Modelo de Negócios de uma Unidade de Pesquisa Clínica em Estudos de Fase I para o INCA / Flávia Vieira Guerra Alves. 2012. x f : t Orientadora: Quental, Cristiane Dissertação (Mestrado)- Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Rio de Janeiro, 2012 1. Pesquisa Clínica. 2. Estudos Clínicos Fase I. 3. Oncologia. 4. Modelo de Negócios 5. Inovação. I. Título. CDD - “Pesquise para ver o que todos têm visto, e para pensar o que ninguém tenha pensado”. (Albert Szent-Gyorgyi, Prêmio Nobel de Medicina, 1937.) À minha família. Aos que convivemos, aos que já não estão mais conosco, aos que me escolhem, a quem eu escolho como família e aos que ainda estão por vir. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi incentivado por muitos. E é para eles que expresso minha gratidão. Primeiramente agradeço ao atual Diretor do Instituto Nacional de Câncer, com admirável e incentivadora forma de gestão, Dr. Luiz Antônio Santini e da mesma forma, ao Coordenador Geral Técnico e Científico, Dr. Luiz Augusto Maltoni. À Coordenadora de Pesquisa do INCA, Dra Marisa Breintenbach, por proporcionar esta singular oportunidade. É imprescindível, a sua citação, pelo apoio, incentivo, confiança, pela contribuição intelectual, pela inspiração profissional e representatividade nacional em pesquisa clínica, ao Coordenador de Pesquisa Clínica do INCA, Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira. À minha parceira e ao meu exemplo, a qual tenho muito orgulho, Gerente Médica de Pesquisa Clínica do Hospital do Câncer II, Dra Andréia Melo. Pelo incentivo diário, agradeço Dra Angélica Rodrigues. Às minhas amigas que me permitem desfrutar de suas amizades dentro e fora da Instituição, Alessandra Marins e Cecília Silva, e ao meu conselheiro e amigo William Avelar, pelos momentos que compartilhamos as alegrias e pelos incentivos para enfrentar os desafios. Incluo também os demais profissionais da Instituição que oferecem suporte no dia a dia. Ao meu parceiro, amigo e amor que comigo esteve e estará 100% do tempo ao meu lado construindo um futuro melhor para nós, Rafael Aguiar. Aos coordenadores do MPCTIS, Dr. Carlos Augusto Grabois Gadelha, Dr. José Maldonato e Dr. Francisco Javier Uribe Rivera, pela contribuição da incorporação do conceito inovação juntamente com a visão econômica para a área da saúde pública, incluindo a oncologia em nível mundial. Aos demais professores, mestres e doutores que compartilharam seus saberes. E à equipe da secretaria do curso pelo profissionalismo e conforto. À minha orientadora, Dra Cristiane Quental, a quem agradeço especialmente por infinitos momentos de conhecimento, por nortear o caminho, indicando a melhor direção e caminhando comigo para atingir este objetivo e certamente os que estão por vir. E ainda por ter me apresentado Dr. Adriano Proença, que admiro pelo profissionalismo e agradeço por compartilhar parte do mundo do “Bussiness Model Generation”. É uma atribuição difícil escrever em poucas palavras o que representam essas pessoas para o meu crescimento pessoal e profissional, assim como definir os inesquecíveis momentos gratificantes incluindo estes 2 anos de convivência, mas é uma satisfação saber que haverão muitos outros e que o nosso trabalho está apenas começando. RESUMO O presente estudo teve como objetivo desenvolver um quadro referencial para fundamentar a estruturação e gestão de uma Unidade de Pesquisa Clínica (UPC) Fase I no INCA e apresentá-la na forma de Modelo de Negócios. Com uma metodologia exploratória e qualitativa, foi possível identificar que as regulamentações existentes não contribuem para o direcionamento e definição política e estratégica deste tipo de unidade como parte do Sistema de Saúde Brasileiro. Utilizamos, então, o referencial proposto por Osterwalder & Pigneur (2010), para expor a concepção do empreendimento nascente. Juntamente com a criação de cenários, simulações e especificação do ambiente em que a UPC fase I está inserida, foi mapeado, primeiramente, os aspectos mercadológicos, macroeconômicos, tendências e concorrentes em nível internacional e nacional. Em seguida foram estruturados os elementos pertinentes ao Modelo incluindo proposta de valor, interface com clientes, gestão de infraestrutura e aspectos financeiros. Os resultados apontam que os valores que a unidade proporciona é o diferencial dos serviços ofertados e possivelmente desperta o interesse para os clientes estreitarem relações. Os clientes incluem Governo e Órgãos de Saúde, Indústrias Farmacêuticas Nacionais e Indústrias Farmacêuticas Multinacionais, sendo esses últimos os principais geradores de receitas para a UPC fase I. Os recursos mais valiosos são os humanos, que por mais que representem o maior custo para a unidade, suas competências são inestimáveis. As parcerias estabelecidas são fundamentais para o crescimento nacional e permitem amortizar alguns custos facilitando a viabilidade em desenvolver estudos clínicos de fase I. Embora o Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur (2010) aborde pouco meios para garantir a viabilidade financeira, o estudo mostrou que foi possível fundamentar a estruturação e gestão da UPC fase I, assim como ampliou possibilidade para se construir diretrizes estratégicas governamentais de forma estimularem inovações na área da saúde direcionadas para atender às necessidades da população que requer assistência oncológica. Algumas propostas foram sugeridas e uma validação ao Modelo criado foi sugerida em experiências de outras unidades. Palavras-Chave: Inovação em Saúde, Gestão em Saúde, Oncologia e Pesquisa Clínica. ABSTRACT This study aimed to develop a standard of reference to support the structure and management in the Clinical Research Unit in Phase I (CRU Phase I) at INCA and present it as a Business Model. With an exploratory and qualitative methodology, we found that current National regulations do not contribute for the direction as well as not to set policy and strategy for this type of Unit as part of Brazilian Health System. We propose a single reference model in order to explain a startup business according Business Model Generation by Osterwalder & Pigneur (2010). Using scenarios and simulations, first we design the macroeconomic and market aspects, trends and international and national competitors. Following we described the Business Model using categories such as Key Activities; Key Resources; Partner Network; Value Proposition; Customers; Channels; Finances, Cost Structure as well as Revenue Streams. The results show that the Value Proposition is the differential of the services offered by the Unit in addition raise the interest for customers to make these relations closer. Customers include Health Government Agencies, National Pharmaceutical Industries so as to Multinational Pharmaceutical Industries as the main generators of revenue for the CRU Phase I. Human resources are the most valuable due to their skills although represent high costs for the Unit. Partnerships are important for National growth in Science and Technology and helps to amortize costs to make feasible the phase I trials. Although the Business Model Generation by Osterwalder and Pigneur (2010) did not emphasize financial aspects, this study results that it is possible to support the structure and management a CRU Phase I, as well as to build government strategies to improve innovations process in health care to end up solutions for the Brazilian population who require cancer care. Some proposals have been suggested such as create a method for validating the business model based on the experience of other research instuitions. Keywords: Innovation in Health, Health Management, Oncologu and Clinical Research. SUMÁRIO 1.Introdução 1.1 Justificativa 1.2 Objetivo 1.3 Organização da Dissertação 1 4 5 5 2. Base Conceitual, Teórica e Normativa 2.1 Estudos Clínicos de Fase I 2.2 Regulamentações Para Estudos Clínicos Fase I 2.3 Trâmite Regulatório para Aprovação de Estudos Clínicos no Brasil 2.4 Aspectos Técnicos e Infraestrutura para Centros de Pesquisa Clínica no Brasil 2.5 Modelo de Negócios 7 7 10 21 25 29 3. Metodologia 3.1 Desenho do estudo 3.2 Considerações Éticas 37 37 43 4 O Ambiente de Instalação da UPC Fase I 4.1 Forças de Mercado 4.2 Forças dos Concorrentes 4.3 Principais Tendências 4.4 Forças Macroeconômicas 43 44 53 81 83 5 Modelo de Negócios do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA 5.1 Proposta de Valor do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA 5.2 Interface com os clientes 5.2.1 Segmento de Clientes 5.2.2 Relacionamento com o Cliente 5.2.3 Canais de Comunicação 5.3 Gestão de Infraestrutura: Atividades-Chave, Recursos-Chave e Parcerias-Chave 5.3.1 Atividades-Chave 5.3.2 Recursos – Chave 5.3.3 Parcerias – Chave 5.4 Aspectos Financeiros 85 86 90 91 92 93 94 94 96 101 105 6 Modelo de Negócios UPC fase I 6.1 A UPC fase I como uma startup 6.2 A Proposta de Valor da UPC fase I 6.3 Interface com os clientes 6.3.1 – Segmento de Clientes 6.3.2. – Relacionamento com o Cliente 6.3.3.– Canais de Comunicação 6.4 Gestão de Infraestrutura 6.4.1 Atividades-Chave 6.4.2 Recursos – Chave 6.4.3 Parcerias– Chave 6.5 Aspectos Financeiros 6.5.1 Receitas 6.5.2 Custo 6.6 Simulações 105 105 107 110 110 111 111 113 114 117 124 127 128 132 143 7. Propostas 8. Considerações Finais 9. Referencias Bibliográficas Anexos 148 154 158 LISTA DE TABELAS Tabela 1 -Estudos Abertos para a Inclusão de Voluntários Registrados na Base Clinicaltrials.gov em setembro de 2012 3 Tabela 2 – Moléculas em teste nos EUA em fase I por tipo de câncer 50 Tabela 3 – Distribuição Mundial dos Estudos Clínicos no Ano de 2010 em % 54 Tabela 4 – Estudos Clínicos Fase I em Oncologia Abertos nos países Brasil, China e Índia até setembro de 2012 56 Tabela 5 – Comparação de Preços de Procedimentos Médicos entre Índia, China, Brasil (SUS e INCA) e EUA 56 Tabela 6 – Centros de Pesquisa Clínica em Oncologia no Brasil 59 Tabela 7 – Complexidade dos Estudos Clínicos 113 Tabela 8 – Valor Total de Investimento e Custo Anual de Depreciação 134 Tabela 9 – Custo Mensal com Recursos Humanos Chave 134 Tabela 10 – Estimativa de Custo de Insumos por Procedimento 136 Tabela 11 – Custo Mensal de Remuneração por Bolsa Científica 137 Tabela 12 – Custos Variáveis Mensais com Recursos Humanos 138 Tabela 13 – Custo Mensal com Materiais de Escritório 140 Tabela 14 –Custo por Paciente Recrutado e Incluído Proveniente de outro Estado para um período de tratamento de 120 dias 141 Tabela 15: Desafios Iniciais da UPC fase I 154 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Resoluções Nacionais em Pesquisa Clínica 20 Quadro 2 - Aspectos Técnicos e de Infraestrutura para Pesquisa em Território Nacional 25 Quadro 3 – Esquema Metodológico Norteador para Construção do Modelo de Negócios 40 Quadro 4 - Principais Concorrentes Nacionais do INCA 78 Quadro 5: Vantagens e Desvantagens do Brasil Sob a Ótica das Indústrias Farmacêuticas 83 Quadro 6: Principais Serviços da Pesquisa Clínica do INCA 86 Quadro 7 – Potenciais Clientes do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA: Indústrias Farmacêuticas Multinacionais 90 Quadro 8 – Potenciais Clientes do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA: Indústrias Farmacêuticas Nacionais 90 Quadro 9 – Meios para Realizar Parcerias com o Serviço de Pesquisa Clínica do INCA 102 Quadro 10 - Proposta de Valor da UPC fase I 107 Quadro 11 Recursos Físicos-Chave 118 Quadro 12 – Responsabilidades dos Recursos Humanos Chave 123 Quadro 13 – Etapas da UPC Fase I para Estabelecer Parcerias 126 Quadro 14 – Recomendações para o Contrato e Orçamento de um Estudo Clínico 128 Quadro 15 – Receitas da UPC Fase I 130 Quadro 16: Taxa de Depreciação Anual 133 Quadro 17: Receitas versus Custos Totais da UPC Fase I 145 Quadro 18: Ações em curto, médio e longo prazo resultante dos Serviços da UPC fase I 153 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Organização da Dissertação 6 Figura 2 - Principais Manuais e Diretrizes da FDA e EMA direcionados aos Estudos Clínicos Fase I 10 Figura 3 - Tempo de Aprovação Regulatória no Mundo 23 Figura 4 – Recrutamento de um Estudo Clínico Fase III na América Latina 24 Figura 5 – The Business Model Canvas 30 Figura 6 – Pilares e Componentes Propostos por Osterwalder e Pigneur (2010) 31 Figura 7 – Fatores Externos do Ambiente de Instalação do Modelo de Negócios 35 Figura 8 - Estudos Clínicos Fase I Abertos em Oncologia no Mundo pela base de dados ClinicalTrials.gov em setembro de 2012 54 Figura 9 - Mapa dos Estudos Clínicos Fase I em Oncologia Abertos para a Inclusão na América do Sul de acordo com ClinicalTrials.gov em Setembro de 2012 58 Figura 10: As cinco partes fundamentais de uma organização 98 Figura 11: Etapas que compõem o Processo de Contratação do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA 101 Figura 12: Recursos Humanos-Chave 122 Figura 13 - The Bussiness Model Canvas da UPC fase I 150 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Produtos Investigacionais em teste pertencentes às indústrias farmacêuticas no ano de 2010 14 Gráfico 2 – Investimento em P&D na Europa, EUA e Japão (em milhões de dólares) 45 Gráfico 3 – Projetos em Desenvolvimento das Indústrias Farmacêuticas 46 Gráfico 4 – Projetos em Desenvolvimento das Indústrias Farmacêuticas Americanas em 2010 47 Gráfico 5 - Distribuição por área terapêutica dos projetos em desenvolvimento das empresas dos EUA no ano de 2010 47 Gráfico 6 - Distribuição Global de Investimentos em P&D das indústrias americanas por área 49 Gráfico 7 – Estudos Clínicos Fase I Abertos para Inclusão no Mundo 49 Gráfico 8 – Total de Receitas Geradas por Tipo de Estudo Clínico 144 LISTA DE ABREVIATURA ABRACRO - Associação das Organizações Representativas de Pesquisas Clínicas ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul BVS - Biblioteca Virtual de Saúde CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CBER - Center for Biologic Evoluation Research CDER - Center for Drug Evoluation Research CE - Comunicado Especial CEMO - Centro de Transplante de Medula Óssea CHMP - Comitê de Medicamentos para Uso em Humano CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; CNS – Conselho Nacional de Saúde CIS - Complexo Industrial de Saúde CONEP - Conselho Nacional de Ética em Pesquisa CONFAP - Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa CRF – Case Report Form CRO – Contract Research Organization DEH - dose equivalente em humano DIPAT - Divisão de Patologia EAS - Estabelecimentos Assistenciais de Saúde EAS - Eventos Adversos Sérios ECG - Eletrocardiograma EMEA – European Medicine Agency ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública EUA – Estados Unidos das Américas FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FPAS - Fundo de Previdência e Assistência Social GCP – Good Clinical Practice ICH – International Conference Harmonization INCA – Instituto Nacional de Câncer IND - Investigational New Drug LI - Licença de Importação MABEL - Minimum Antecipated Biological Effect Level MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MRSD – Maximun Recomended Starting Dose NIH - National Institutes of Health NOAEL - No Observable Adverse Effect Level) ORPC – Organização Representativa de Pesquisa Clínica PET-CT - Tomografia por emissão de pósitrons P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PNAO - Política Nacional de Atenção Oncológica PNCTIS - Política Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação em Saúde PhRMA - Pharmaceutical Research and Manufactures of America PI – Produto Investigacional POP - Procedimento Operacional Padrão RHAE – Recursos Humanos em Áreas Estratégicas RNM – Ressonância Nuclear Magnética RNPC – Rede Nacional de Pesquisa Clínica RNPCC - Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer REDEFAC - Rede Nacional de Desenvolvimento e Inovação de Fármacos Anticâncer SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SIGTAP - Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS SPA - Serviço de Pronto Atendimento SISPLAN – Sistema de Planejamento SUS - Sistema Único de Saúde SUSAR – Reações Adversas Sérias Suspeitas e Inesperadas TC – Tomografia Computadorizada TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TFD – Tratamento Fora de Domicílio UCO – Unidade de Custo Operacional UPC– Unidade de Pesquisa Clínica US FDA – United States Food and Drug Administration 1. Introdução O câncer é a segunda causa mais comum de morte por doença nos países desenvolvidos e com uma perspectiva similar para países em desenvolvimento, acarretando em impactos negativos econômicos e sociais. Por existir uma discrepância na sobrevida entre países em desenvolvimento, 2 à 4 anos, e países desenvolvidos, 12 à 16 anos (BRASIL, 2012), a maior parte do ônus global do câncer é observada nos países em desenvolvimento. Um valor de 2,2 bilhões de reais foi direcionado pelo Governo para a atenção oncológica em 2011 no Brasil e estima-se que estes investimentos aumentem, tendo em vista a previsão de 520 mil novos casos pela doença para o ano de 2012 (BRASIL, 2012). Este contexto envolve segmentos industriais de grande dinamismo e lucratividade, e retrata um panorama nacional de dependência de importação de tecnologias (GADELHA, 2003), visto que as empresas nacionais, não atendem todas as necessidades de inovações no campo da saúde. E ainda, ao considerarmos o potencial para o controle do câncer eficaz diretamente relacionado ao dinamismo das inovações e ao tratarmos de tecnologias e conhecimento para o desenvolvimento de novos medicamentos, as instituições nacionais comumente lidam com a difusão da tecnologia pronta e não com o processo de como ela é gerada, repercutindo no incremento dos gastos públicos em assistência oncológica, onerando o sistema público de saúde (GADELHA, 2003) e do déficit da balança comercial brasileira, que, na área da saúde atingiu 12 bilhões de dólares em 2011 (VALOR, ECONÔMICO, 2012). A falta de investimento das empresas nacionais na pesquisa e desenvolvimento (P&D) farmacêutico faz com que potenciais inovações oriundas da academia não sigam seu caminho através das etapas subseqüentes do desenvolvimento tecnológico. Após a descoberta, sínteses de compostos, testes farmacológicos e toxicológicos, seguemse os ensaios ou estudos clínicos divididos em quatro fases: fase I, da avaliação de segurança; II, para determinar da atividade; para a confirmação da eficácia, III; e finalmente a fase IV pós comercialização (ANVISA, 2004). Num processo que leva mais de uma década, o investimento pode chegar à 1.400 bilhões de dólares (MORGAN et al, 2011). Indústrias farmacêuticas e centros de pesquisa em países desenvolvidos têm uma base sólida para P&D em saúde (DIMASI, GRABOUWSKI & VERNON, 2004). Entretanto, 1 impulsionados por necessidades científicas e econômicas, essas indústrias e centros se beneficiaram da globalização para inclusão de alguns países emergentes na realização da pesquisa clínica. Ainda que existam algumas barreiras como as regulatórias, de infraestrutura e de recursos humanos, as vantagens em aumentar o número de países envolvidos foram soberanas à medida que pode encurtar o tempo de desenvolvimento de uma pesquisa clínica e diversificar o conjunto de participantes (BROWN, 2003). Seguindo esta tendência, consagra-se como uma realidade a inclusão do Brasil neste cenário e sua crescente participação na condução de pesquisas clínicas, respaldada pelos princípios da bioética bem estabelecidos e fundamentados através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 1996) e a aprovação da lei 9.276 que reconhece a concessão de patentes, no mesmo ano (BRASIL, 1996). Além disso, o país atende aos critérios utilizados para garantir a inclusão e participação nos estudos clínicos, incluindo a disponibilidade de captação dos sujeitos de pesquisa; qualidade dos pesquisadores; qualidade do sistema de revisão ética e potencial do mercado local para comercialização do medicamento, ainda que exista como critério negativo, a não flexibilidade do sistema regulatório que retratam o longo tempo de aprovação de um estudo clínico pelas instâncias regulatórias locais (ABRACRO, 2012). Este novo cenário de inclusão do país na rota das pesquisas clínicas permite acesso às novas tecnologias e aos tratamentos inovadores, e com isso incentiva o país a formular políticas públicas que resultem no estímulo ao conhecimento científico, transferência de tecnologias e desenvolvimento tecnológico. Entretanto, a participação de centros de pesquisa no Brasil está voltada, em sua maioria, para estudos clínicos nas fases finais de desenvolvimento e com a subordinação direta às indústrias farmacêuticas e instituições de pesquisas estrangeiras (QUENTAL & FILHO 2006). Ratificam esta informação, estatísticas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que contabilizam a aprovação no ano de 2010 com 4 % de fase I, 22 % na fase II, 63% em fase III, e 11 % de fase IV (ANVISA, 2011). Dados provenientes de Paschoale (2009) também constataram no perfil dos pesquisadores brasileiros que 11 % tinham experiência em estudos de fase I, enquanto que 57% tinham experiência em estudos de fase II e 77 % em fase III. 2 Este panorama se reproduz no âmbito da pesquisa em oncologia como mostra a Tabela 1. A Tabela foi estruturada para demonstrar a posição do Brasil em relação aos cinco primeiros países com maior número de centros de pesquisa1 enfatizando a pesquisa de participação dos estudos abertos em fase I em oncologia no Brasil comparativamente aos demais países. Tabela 1 – Estudos Abertos para a Inclusão de Voluntários Registrados na Base Clinicaltrials.gov em setembro de 2012 Países EUA Alemanha França Canadá Espanha Brasil Total Estudos abertos para a inclusão (todas as fases) 18727 2644 2792 2885 1287 828 29163 Estudos Abertos para a Inclusão em Oncologia (todas as fases) Estudos Fase I abertos para a 6507 795 941 943 445 172 9803 3424 234 225 259 127 45 4314 inclusão Estudos Fase I abertos para a inclusão em oncologia 1995 140 159 173 97 9 2573 Fonte: Elaboração própria a partir de Clinicaltrials.gov (setembro de 2012) __________________________________ 1. Um estudo desenvolvido por Thiers (2007) destaca os EUA na liderança, em número de centros de pesquisa, com aproximadamente 36.281. Em segundo, Alemanha com 4214 centros, seguido da França com 3226, Canadá com 3032 e Espanha com 2076. Ao abordar os países em desenvolvimento, posiciona o Brasil em 17º com 754 centros de pesquisa atrás da Argentina e Índia com 757. 3 1.1 Justificativa O Instituto Nacional de Câncer (INCA) desempenha o papel de Instituição de Ciência e Tecnologia, e junto ao Ministério da Saúde, é responsável pela indução, promoção e implantação de políticas públicas em todo o território nacional, conforme portaria nº 2439 de 2005, que instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica (BRASIL, 2005). Além disso, articula a assistência, ensino, pesquisa e prevenção (BRASIL, 2010) e promove o incentivo para o incremento ao desenvolvimento técnico, científico e produtivo em sincronia com a Política Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação em Saúde – PNCTIS (BRASIL, 2008), norteados pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Entendendo a pesquisa clínica como uma estratégia nacional para programas de desenvolvimento em saúde, à Coordenação de Pesquisa Clínica e Aplicada do INCA compete programar, supervisionar e promover estudos clínicos aplicados ao diagnóstico e à detecção precoce de doenças malignas (BRASIL, 2010). Considerado estratégico para o estímulo de desenvolvimento de inovações, suas ações na pesquisa clínica vão além da prestação de serviços e absorção de novas tecnologias, visam prover serviços especializados que demandam e induzem inovações aos outros setores industriais direcionadas às necessidades da população brasileira. Com o início de suas atividades no ano de 1998, acumula até agosto de 2012 uma expertise de aproximadamente 136 estudos de fase III, 79 estudos fase II e 7 estudos de fase I (dados não publicados), oriundos de demanda das indústrias farmacêuticas multinacionais ou de iniciativa de seus pesquisadores. Essa trajetória, se por um lado retrata a experiência na pesquisa clínica em câncer no Brasil e no INCA em estudos de fase II e III, por outro lado mostra a insipiente participação em desenho e condução de estudos fase I, não compactuando com a busca pela redução da dependência estrangeira, já que mantém o predomínio das indústrias farmacêuticas internacionais em relação à demanda nacional específica do SUS. O pequeno número de centros nacionais, incluindo o INCA, em estudos clínicos fase I, é justificado por uma associação de fatores, a considerar o quantitativo de sujeitos para a obtenção de dados estatísticos necessários durante a primeira fase clínica, a nacionalidade da criação da molécula e do Produto Investigacional, sendo predominantemente estrangeira, a indicação da medicação teste voltada para determinadas doenças por vezes não compatíveis com a demanda 4 brasileira (SENNES & FILHO, 2011) e carência de profissionais com expertise para aprovação de estudos fase I inclusive nas instâncias regulatórias brasileiras (PASCHOALE, 2009). Destaque-se que o INCA faz parte da Rede Nacional de Pesquisa Clínica (RNPC), que incentiva o compartilhamento de conhecimento, por meio da criação e consolidação de centros de pesquisas clínicas vinculados aos hospitais de ensino, objetivando disp onibilizar uma infraestrutura básica p ara o desenvolvimento de todas as fases de ensaios clínicos de fármacos, p rocedimentos, equip amentos e disp ositivos p ara diagnósticos (BRASIL, 2011). E ainda, mais especificamente, com a consolidação da sub-rede, a Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC), instituída pela Portaria nº 12 de 13 de dezembro de 2011, o Serviço de Pesquisa Clínica e Aplicada do INCA assume um papel estratégico ao ser uma instituição consultiva aos órgãos regulatórios e de suporte aos demais centros de pesquisa em câncer em nível nacional, e assim desenvolver a qualificação profissional associada aos estudos clínicos direcionados às necessidades da população brasileira nas suas diferentes fases (BRASIL, 2011). Na perspectiva de atender a demanda da RNPCC e de suprir o hiato existente atribuído a pouca participação em estudos de fase I, o INCA apresenta um projeto pioneiro de criação da Unidade de Pesquisa Clínica em Estudos de Fase I em Oncologia (UPC fase I), em um cenário definido pela ausência de padronização para estabelecer a estrutura organizacional de um serviço e para definição de logísticas e condutas, e da incipiente capacitação de profissionais que conduzam especificamente pesquisas clínicas nesta fase incluindo a especialidade oncologia. Diante disso, a questão norteadora deste trabalho apresenta-se em como estruturar e gerir a unidade de pesquisa clínica fase I no INCA? 1.2 Objetivo Buscar um Quadro referencial para fundamentar a estruturação e gestão de uma Unidade de Pesquisa Clínica em Estudos Fase I a ser criada no INCA e aplicá-lo ao caso em questão. 1.3 Organização do Trabalho A abordagem adotada e a organização do trabalho podem ser visualizadas de maneira esquemática na Figura 1. 5 6 2 Base Conceitual, Teórica e Normativa 2.1 Estudos Clínicos de Fase I Tradicionalmente, estudos clínicos de fase I envolvem a administração de doses subterapêuticas de um novo Produto Investigacional para voluntários saudáveis com vistas a avaliar sua toxicidade. Entretanto, algumas patologias restringem a inclusão a doentes, como o caso do câncer, no qual estudos nesta fase podem representar uma verdadeira opção terapêutica para alguns pacientes que não responderam a outros tratamentos ou para os quais não existem outras terapias disponíveis naquele momento (ASCO, 1997). Os objetivos convencionais de estudos clínicos de fase I incluem a determinação da dose e periodicidade de administração do Produto Investigacional, além da avaliação da segurança e toxicidade, e do conhecimento sobre farmacocinética (PERCY et al, 2010). Entretanto, tendo em vista a mudança de paradigma terapêutico na última década de agentes citotóxicos para terapias alvo molecular, os objetivos de identificar alterações moleculares específicas de atividades tumorais nas diferentes populações de sujeitos envolvidos e evidências de respostas de inibição desta atividade, têm sido propostos, juntamente com novos desenhos de protocolo para fase I em oncologia. (BOOTH et al, 2008; PERCY et al, 2010). Atualmente subdividem em duas fases, fase IA e IB, e diferenciam-se apenas quanto ao ineditismo da administração do Produto Investigacional, sendo a sua ocorrência pela primeira vez em seres humanos denominado “first-in-human trial” ou fase IA e quando são aplicados pela primeira vez para uma indicação terapêutica diferente, fase IB (PERCY et al, 2010). Esses estudos são tipicamente pequenos, braço único, abertos, seqüenciais, por vezes envolvendo coleta do tecido para a análise em nível molecular posterior, e incluem pacientes com um bom estado geral e que já se submeteram previamente a um tratamento padrão (LE TOURNEAU et al 2009) Há uma concordância entre alguns autores (EISENHAUER et al, 2000; MILLER & JOFFE, 2008; BACHELOT et al, 2000; AGRAWAL & EMANUEL, 2003; MASSARD et al, 2007; WHELER et al, 2012) quanto ao benefício esperado aos pacientes que participam de estudos de fase I, inclusive aqueles com prognóstico de doença avançada, ou seja, fora de possibilidades curativas. Embora a resposta antitumoral do tratamento não possa ser definida 7 como um objetivo nesta fase, é de extrema importância a observação cuidadosa e a documentação da eficácia do potencial anticancerígeno. Por esse motivo, há certo benefício, ainda que a probabilidade de ocorrência de toxicidade seja alta e a expectativa de vida seja baixa. (MILLER & JOFFE, 2008; BACHELOT et al, 2000; AGRAWAL & EMANUEL, 2003; MASSARD et al, 2007; WHELER et al, 2012). Os cuidados paliativos2 em câncer também são avaliados para os pacientes incluídos em estudos de fase I. Por meio de análise comparativa, Finlay et al (2009) concluíram que os voluntários participantes de estudos nesta fase requereram menos intervenção paliativa quando comparados aos que não participaram, porque eram frequentemente avaliados quanto ao manejo de toxicidade do tratamento e sintomas da doença. Estabelecendo parâmetros de avaliação com o enfoque no tempo de sobrevida de pacientes que participam de estudos de fase I, alguns autores abordam os fatores prognósticos como análise e propõem, de acordo com parâmetros laboratoriais, clínicos, co-morbidades e estadiamento da doença, uma classificação por periodicidade em meses da sobrevida dos pacientes incluídos (BACHELOT et al, 2000; HAN et al 2003; PENEL et al 2008; ARKENAU et al. 2008; VEMULAPALLI et al 2009; WHELER et al, 2012). Em contrapartida, outros enfatizam a relevância de incluir no desenho do estudo, a análise da taxa de resposta objetiva com o tratamento proposto, juntamente com a toxicidade e a sobrevida, (ROBERTS et al 2004; BACHELOT et al, 2000; NURGAT et al, 2005), tendo em vista que a principal razão pela aceitação dos participantes em estudo clínico fase I, embora não sendo o objetivo principal, consiste na possível obtenção de benefício terapêutico, seguidos do vínculo estabelecido com o médico, na oportunidade em realizar um tratamento considerado como o mais atual, e no acompanhamento com consultas em intervalos mais curtos. (NURGAT et al, 2005), _______________________________ 2 – “cuidados paliativos é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares frente a problemas associados à doença terminal, através da prevenção e alívio do sofrimento, identificando, avaliando e tratando a dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espirituais” (WHO, 2002, p. 84) 8 Sendo assim, Eisenhauer et al (2000); Miller & Joffe (2008); Agrawal & Emanuel, (2003); Seidenfeld et al (2008); Jenkins (2011), Schwartsmann et al (2001); abordam em seus trabalhos, questões éticas e diante das especificidades, incluem a importância da aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sugerindo a descrição detalhada de informações e estratégias de comunicação eficaz que proporcione o entendimento do paciente candidato a ser incluído neste tipo de estudo3. Associando todas as considerações supracitadas, consideramos o desenho do estudo clínico fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Assim, fundamentado por Eisenhauer et al (2000); Schwartsmann et al (2001); Hanauske (2008); Dowlati et al (2008); Le Tourneau et al (2009), que definem os princípios e práticas para equipes de pesquisadores que pretendem desenhar e conduzir a fase I ou que já o fazem, incluem como compulsória as informações sobre o número de pacientes necessários para a inclusão, metodologia do escalonamento da dose, manejo da toxicidade, tempo de exposição ao Produto Investigacional, conduta terapêutica, critérios para aumento da dose, e a importância do conceito de dose máxima tolerada. Diante do exposto, um desenho de protocolo bem estruturado associado a uma equipe capacitada para a sua condução e que atue fundamentada nos princípios de pesquisa clínica publicados por instâncias regulamentadoras consiste na chave para o desenvolvimento do estudo clínico com um mínimo de intercorrências. _______________________ 3 – A complexa abordagem na aplicação do TCLE de estudos de fase I ao paciente com câncer não será abordada neste trabalho, por não fazer parte do objetivo proposto, mas pode ser mais aprofundada em consulta às referencias no parágrafo citado. 9 2.2 Regulamentações Para Estudos Clínicos Fase I Uma pesquisa junto aos órgãos regulatórios foi realizada com o intuito de obter as regulamentações sobre estudos clínicos de fase I. Dessa maneira foram consultadas as agências dos EUA: US Food and Drug Administration (FDA), da União Européia: European Medicines Agency (EMEA), e do Brasil: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Conselho Nacional de Saúde (CNS). A Figura 2 lista os materiais disponíveis para fundamentar o desenho e a condução de estudos clínicos de fase I, e que serão abordados de uma forma sucinta neste capítulo. Figura 2 - Principais Manuais e Diretrizes da FDA e EMEA direcionados aos Estudos Clínicos Fase I Fonte: Elaborado pelo próprio autor a partir de dados contidos nas fontes www.anvisa.gov.br; www.fda.gov; www.ema.europa.eu (2012) 10 ! US Food and Drug Administration – FDA É uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, desde 1930. É constituída de um Gabinete Diretivo e quatro comitês supervisores, no qual o comitê supervisor de Gerência de Produtos Médicos e Tabaco é o responsável pela autoria de diretrizes aplicáveis a este trabalho, elaboradas juntamente com dois centros: Center for Biologic Evaluation Research (CBER), responsável por formular e divulgar informações e regulamentações de produtos biológicos para uso em seres humanos, e o Center for Drug Evaluation Research (CDER), certificando que medicamentos seguros e eficazes estão disponíveis à população americana. São três as diretrizes correspondentes aos estudos fase I. A primeira a ser abordada foi publicada em sua primeira versão em 1988 e periodicamente é revisada, tendo a última revisão realizada em 2011. Em “Avaliações de Novas Drogas Investigacionais: Fases da Investigação” (FDA, 2012), ratifica e define as etapas necessárias ao desenvolvimento de um medicamento, incluindo estudos clínicos de fase I. A segunda diretriz instrui a submissão de um novo Produto Investigacional para avaliação e, caso seja aprovado, iniciar a sua aplicação em estudos de fase I (FDA, 1995). O mecanismo de solicitação da aprovação para iniciar ensaios clínicos nos Estados Unidos é a apresentação à FDA de um pedido de registro Investigational New Drug (IND) que deve vir acompanhado de um plano investigacional, desenho do estudo e brochura do investigador. Após um período de análise de 30 dias, se a revisão do IND não identificar problemas com a segurança, o IND é considerado aberto ou ativo. Caso contrário, a FDA entra em contato com o responsável e expede uma suspensão clínica impedindo, o início de estudos em seres humanos. Este por consequência, após ajustes, terá o direto de resposta para uma nova avaliação. E por fim, a diretriz que trata de “Estudos Exploratórios para Novas Drogas Investigacionais” (FDA, 2012) tem o intuito de reduzir o tempo investido no desenvolvimento de medicamentos e identificar mais precocemente possível, produtos que não serão promissores, por meio de abordagens exploratórias, em concordância com a regulamentação de pesquisa clínica, mantendo as proteções necessárias aos sujeitos de pesquisa. São conhecidos também como estudos clínicos fase 0. 11 Tendo em vista que estudos exploratórios são realizados antes de se estabelecer a dosagem inicial, segurança e tolerância do Produto Investigacional, a sua duração deve ser curta, em média 7 dias são considerados suficientes para reunir informações relevantes que permitam avaliar a viabilidade do desenvolvimento de um novo produto, e começar a fase I. Este tipo de estudo não apresenta objetivos terapêuticos ou diagnósticos, mas pode ser útil ao determinar se um mecanismo de ação identificado em experimentos com animais pode ser observado em seres humanos, fornecer informações sobre farmacocinética, farmacodinâmica e biodistribuição, com vistas a minimizar a exposição aos sujeitos de pesquisa e otimizar os recursos investidos, de modo a direcionar o desenvolvimento de novas drogas com produtos eficientes. Quando se trata de administração de um novo produto em estudos exploratórios, o que os diferencia dos estudos clínicos propriamente ditos de fase I além da duração da exposição à droga, seria a sub-dosagem administrada apenas para gerar efeitos farmacológicos que são considerados insuficientes para trazer risco potenciais de toxicidade aos sujeitos de pesquisa e por isso demandariam períodos mais curtos que os estudos tradicionais. Embora estudos exploratórios se apliquem ao desenvolvimento de produtos direcionados para qualquer indicação, FDA considera relevante direcionar esta diretriz ao tratamento de doenças graves, incluindo o câncer, já que esta abordagem permite identificação de produtos potenciais com maior rapidez e precisão. ! European Medicines Agency – EMEA Criada em 1995, localizada em Londres, responsável pela avaliação científica dos fármacos desenvolvidos por empresas farmacêuticas que queiram comercializar seus produtos na União Européia. O processo de avaliação científica dos pedidos de autorização de comercialização de medicamentos é centralizado, de maneira que um pedido uma vez que é validado, tem abrangência em toda a União Européia. Ainda, a Agência monitora e intervém na segurança dos medicamentos por meio de uma rede de farmacovigilância, publica diretrizes sobre qualidade, segurança e eficácia sobre pesquisa clínica, e presta consultoria a outras instituições. É constituída de seis comitês científicos, no qual o Comitê de Medicamentos para Uso em Humano (CHMP) se aplica à publicação de Manuais e Diretrizes para nortear a fundamentação de estudos clínicos fase I. 12 Seis manuais foram publicados por essa agência, a iniciar pelas “Considerações Gerais em Pesquisa Clínica” (EMEA, 1998), publicado em 1998, primeiro documento a auxiliar na identificação de características essenciais para os estágios iniciais de desenvolvimento e planejamento de novos medicamentos. As cinco publicações seguintes ocorreram após 2006, motivadas pela ocorrência do incidente conhecido como “TeGenero”. Um anticorpo monoclonal, conhecido como TGN1412, desenvolvido por um laboratório alemão, ao ser administrado pela primeira vez em 6 voluntários de um ensaio fase I em um hospital de Londres, via endovenosa e in bolus (infusão rápida em média menor que 2 minutos diretamente na corrente sanguínea) ocasionou eventos adversos graves em todos os participantes. Após a averiguação de um grupo de peritos em estudos de fase I, sob a liderança do professor Gordon Duff, estabeleceu-se 22 recomendações sobre como aperfeiçoar a segurança em estudos de fase I conhecidas como “Relatório de Duff” (EMEA, 2007). O incidente de “TeGenero” despertou a atenção das indústrias farmacêuticas e órgãos regulatórios a desenvolver manuais e diretrizes, a partir do “Relatório de Duff”, para padronizar condutas de forma a minimizar ou evitar a ocorrência de eventos adversos durante a condução de estudos especialmente àqueles que expõem pela primeira vez seres humanos. Dessa maneira, o manual intitulado como “Gerenciamento de Medicamentos de Alto Risco para Ensaios Não Clínicos e Clínicos de fase I” (EMEA, 2007) estabeleceu critérios para classificar o risco de novos medicamentos com base em padrões de qualidade, aspectos nãoclínicos e aspectos clínicos de fase I. Para definir se um medicamento pode ser considerado como alto risco, é necessário relacioná-lo à frequência de efeitos adversos graves e obter informações sobre o mecanismo de ação, a natureza do alvo e a relevância dos testes com modelos de animais, envolvendo o conhecimento sobre a farmacodinâmica e farmacocinética. O manual também enfoca a temática sobre o cálculo da primeira dose em seres humanos. E para isso são citadas três metodologias: “NOAEL, MRSD e MABEL”. Para os casos em que os métodos de cálculos demonstrem diferentes estimativas para a primeira dosagem, o valor mais baixo deve ser utilizado como referência. De uma maneira geral, o cálculo seguro sugerido primeiramente é a conversão do nível de efeito adverso não observado - “NOAEL” (no observable adverse effect level) em dose equivalente em humano (DEH), por meio da sua superfície corporal. Em seguida deve-se selecionar a DEH e aplicá-la a mais apropriada espécie animal. A partir daí, aplica-se um limite de valor de segurança para se alcançar a máxima dose 13 recomendada inicial (MRSD – maximun recomended starting dose). E por último, um método alternativo e complementar recomendado para medicamentos de alto risco, uma abordagem adicional para o cálculo da primeira dosagem é recomendada com a utilização do “MABEL” (Minimum antecipated biological effect level) – nível mínimo de efeito biológico esperado. De acordo com este manual, os itens compulsórios para o desenho de estudos clínicos de fase I, que um protocolo deve especificar são: a população do estudo; justificativa da população envolvida sendo saudáveis ou doentes; valor da primeira dose; coorte; informações sobre o aumento da dose por coorte; metodologia para a transição da dosagem para a coorte seguinte; regras de interrupção do estudo; manejo de toxicidade e interrupção da medicação do estudo; descrição de um plano de monitoramento de segurança; escolha da via de administração do Produto Investigacional, metodologia para administrar o Produto Investigacional; cronograma para acompanhamento do aparecimento de efeitos adversos. Sob esta perspectiva, a EMEA considera que para a maioria dos estudos que utilizam novos medicamentos, os dados de farmacologia e toxicologia obtidos na fase não-clínica fornecem dados de segurança suficientes para estimar o risco durante a primeira administração em seres humanos. Entretanto, não afasta a hipótese de que para alguns novos produtos estes dados não podem prever reações adversas graves. Com base nisso, em caráter complementar, publicou dois outros manuais “Estratégias de Identificação e minimização de riscos com Produtos Investigacionais em estudos de fase I” e “Estratégias para identificar e minimizar os riscos aos seres humanos que participam de estudos de fase I para produtos biológicos e novos compostos químicos” (EMEA, 2007). A escolha da população do estudo, se saudáveis ou doentes, deve ser justificada, considerando vários aspectos como: riscos inerentes ao medicamento, a alvo molecular aplicável, presença de alvos específicos em indivíduos doentes, potencial para ocorrência de toxicidade a curto e longo prazo, capacidade de tolerabilidade dos indivíduos às possíveis toxicidades, assim como de obtenção de benefícios, tempo previsto de utilização do Produto Investigacional. Nos casos em que a população do estudo seja de doentes, estudos de fase I podem ser direcionados aos pacientes em bom estado geral, mas que sejam portadores de doenças crônicas, como asma, diabetes tipo II e hipertensão; aos pacientes com câncer que incluem estudos com drogas citotóxicas, e pacientes com doenças crônicas hepáticas e renais 14 A menos que dados comprovem o contrário, todos os novos Produtos Investigacionais são considerados com altos potenciais para desenvolvimento de riscos de eventos adversos e devem ser avaliados individualmente. E por isso, é aconselhável que o primeiro sujeito incluído no estudo seja observado durante a administração do Produto Investigacional, para minimizar a ocorrência de riscos ao próprio e aos que serão incluídos. O número de sujeitos a ser incluídos em uma coorte irá variar de acordo com os objetivos do estudo, apesar de coortes maiores serem capazes de fornecer dados mais precisos, podem não ser necessárias para alcançá-los. A administração do PI para a próxima coorte não deve ocorrer antes do final do tratamento e da obtenção do resultado pertinente. Qualquer resultado observado deve ser comparado ao resultado esperado e nos casos de imprevistos poderá haver a revisão do valor da dosagem e do intervalo de tempo de administração, por isso é considerado um estudo de avaliação caso à caso. O aumento da dose deve ser realizado com cautela tendo em vista os fatores de risco identificados a partir dos estudos não-clínicos. O aumento da dose entre dois níveis deve ser fundamentado pela relação dose e toxicidade, e dose e efeito esperado. Uma vez que as doses iniciais podem ser consideradas baixas, as coortes iniciais podem não desempenhar efeitos farmacológicos visíveis e mesmos nesses casos as precauções para minimizar os riscos para o próximo grupo devem ser as mesmas existentes na coorte anterior. Nos casos em que houver um risco previsível de exposição do sujeito de pesquisa a uma toxicidade conhecida, um plano de tratamento deve estar claramente descrito. A duração do período de acompanhamento e monitoramento do evento adverso também deve estar descrita, e a comunicação de eventos adversos graves e inesperados sejam eles suspeitos ou comprovados (SUSAR’s) deve ser realizada de forma a envolver os patrocinadores, equipes dos centros de pesquisa, sujeitos, entidades regulatórias. Além disso, é preferência que o estudo seja conduzido em um centro único, pela facilidade de acompanhamento de informações sobre a segurança do Produto Investigacional. Entretanto, caso seja necessário se torne multicêntrico, o motivo deve estar justificado e um sistema de comunicação deve ser provido entre os centros envolvidos. Ao tratar os recursos existentes para a condução de estudos clínicos de fase I, dois manuais devem ser utilizados como referência, o “Guia para Estudos clínicos Fase I (EMEA, 2007)”, é considerado principal fonte de informações sobre instalações, recursos humanos, 15 equipamentos, procedimentos, aspectos éticos, e se aplica a todos os profissionais atuantes em diferentes áreas como as entidades regulatórias éticas e técnicas, patrocinadores e equipe do centro de pesquisa. E o manual complementar sobre os principais aspectos que devem ser considerados em uma unidade de fase I de acordo com as Boas Práticas Clínicas (EMEA, 2008). Apesar dos manuais especificarem os tipos de Produtos Investigacionais como produtos quimicamente novos, anticorpos monoclonais, hormônios, proteínas recombinantes e produtos geneticamente modificados, os requisitos de uma unidade de pesquisa clínica para estudos de fase I permanecem os mesmos. Ambos manuais recomendam que todos os estudos clínicos de fase I sejam conduzidos em unidades apropriadas com recursos humanos experientes e capacitados, e recursos materiais específicos. No que diz respeito a estrutura física, esta deve ser construída com base na logística necessária à condução de estudos, com enfoque ao acesso aos serviços de emergência e prover espaço suficiente para locomoção de sujeitos de pesquisa, incluindo aqueles que necessitam de macas ou cadeiras de rodas. A este respeito, recomenda-se que as áreas para procedimentos médicos clínicos, consultas, farmácia, laboratório, administração, banheiros, lavanderia, restaurantes, estejam em ambientes separados, dando destaque para as áreas críticas como laboratórios e áreas de refeições que incluem cuidados específicos para descarte de resíduos químicos e infectantes. Para os casos em que o Produto Investigacional seja administrado em sujeitos de pesquisa da mesma coorte e em tempo quase que concomitante, os sujeitos devem estar acomodados em um mesmo ambiente e em macas identificadas com o mesmo padrão de segurança e espaço físico que permitam o conforto e bem-estar dos mesmos, ao mesmo tempo em que permita, caso necessário, a realização de procedimentos de emergência. Para minimizar os riscos de eventos adversos graves, se necessário, deve-se internar o paciente para uma observação mais rigorosa durante o período noturno. Ficou estabelecido que a unidade fase I, caso não tenha internamente um serviço de emergência, deve ter um acordo estabelecido com outro hospital, de maneira que permita o atendimento pela equipe de saúde ao sujeito de pesquisa em poucos minutos após alguma ocorrência e se necessário a transferência para uma unidade de terapia intensiva. 16 No que diz respeito aos equipamentos médicos hospitalares, os considerados essenciais incluem: cardioversor, monitor, eletrocardiograma, equipamentos para processar e armazenar amostras biológicas, como centrífugas e câmara de refrigeração, sistemas de alarme em caso de funcionamento de equipamentos prejudicados, e relógios sincronizados para que os procedimentos ocorram de maneira coordenada em toda a unidade. Além disso, para estes equipamentos, recomenda-se que um profissional seja responsável por assegurar a qualidade e funcionalidade dos mesmos, por meio de checagem diária e de solicitação de serviços de manutenção e calibração. Quando inclui equipamentos de informática, o acesso ao banco de dados eletrônico deve ser restrito, assim como o sistema de backup. O setor de farmácia é considerado um setor crítico, o espaço deve ser com acesso restrito e seguro, amplo o suficiente para armazenar Produtos Investigacionais de diferentes estudos, em ambientes individualizados e identificados, ter controle de temperatura e umidade com sistema de alarme, ser protegido contra luz solar, ter sistema de contabilidade dos produtos investigacionais. E caso, seja necessário manipular o Produto Investigacional, deve haver a capela de fluxo laminar. Além disso, medicamentos para o manejo de eventos adversos devem ser providenciados e armazenados de forma segura. Já o setor de Laboratório de Análises Clínicas é recomendado que tenha certificado de proficiência e de Boas Práticas Laboratoriais, além de: equipamentos de rotina para análise de hematologia, bioquímica e testes sorológicos, procedimentos que envolvam calibração e controle de qualidade, transporte do material coletado da unidade clínica até o laboratório que é analisado, controle de temperatura para a câmara de refrigeração, comunicação com os médicos, caso exista alguma anormalidade nos resultados laboratoriais, apresentar estoque de materiais e equipamentos para proteção individual. Ao tratar de recursos humanos, no que diz respeito à equipe de pesquisa, não há um quantitativo estabelecido e padronizado, apenas especifica-se que o número de membros deva ser suficiente para garantir a condução de estudos com qualidade. Sobre a avaliação e capacitação de cada membro da equipe, inclui principalmente a documentação de formação acadêmica, disponibilizando as evidências por meio do curriculum vitae e certificados de treinamento em Boas Práticas Clínicas, em suporte básico e avançado de vida, para situações de emergência médica que podem ocorrer. 17 Entre a categoria profissional médica recomenda-se que o médico diretor, hierarquicamente superior ao investigador principal, tenha pelo menos 5 anos de experiência em pesquisa clínica fase I, seja responsável pelo treinamento dos demais membros da equipe e participe ativamente das atividades do estudo. Ao Investigador Principal, recomenda-se que tenha pelo menos 4 anos de experiência médica em geral e 2 anos em estudos de fase I. Em algumas unidades ambos os cargos de médico diretor e o investigador principal são atribuídos a um mesmo profissional. Ao enfermeiro, são preconizados que pelo menos um profissional deva ter qualificação em pesquisa clínica e acumule experiência com estudos de fase I, cuidados intensivos e de emergência, sendo que este seria intitulado como sênior e estaria apto a gerenciar os demais profissionais. É recomendável que pelo menos, um enfermeiro esteja presente na unidade de pesquisa durante a administração do Produto Investigacional. No que diz respeito aos farmacêuticos, não há obrigatoriedade quanto aos critérios de experiência em estudos clínicos de fase I. O manual especifica apenas que deva haver experiência e um número suficientes de farmacêuticos responsáveis. A equipe de suporte inclui administrativos, gerentes de qualidade, gerente de dados, estatísticos, gerente de projetos. Entretanto, não aborda a função dos coordenadores de estudos e biólogos. Sobre os sujeitos de pesquisa, independente do método pelo qual tenham sidos recrutados, devem ser capazes de decidir e a participação por si próprio no estudo, ter capacidade cognitiva para entender os objetivos do estudo, quaisquer riscos existentes, e ser orientado pela possibilidade de desistência sem prejuízos em qualquer momento do estudo. E ainda, não é permitida a participação de mais de um estudo clínico concomitante ou de iniciar a administração de um medicamento investigacional em período inferior a 3 meses. Sobre os documentos essenciais, os mesmos devem ser gerados e arquivados e sempre estarem acessíveis mesmo após o estudo finalizar. Enfatiza a importância dos documentos de delegação de atividades, de acesso e treinamento referente à captura de dados, de tipo de documentos-fonte, de armazenamentos de registro médico e arquivamento dos mesmos em longo prazo. Além dos que foram aprovados pelo Comitê de Ética, destacando o Protocolo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 18 Informações sobre contrato também são indiretamente relacionados aos sujeitos de pesquisa. A assinatura do contrato entre o patrocinador, investigador principal e instituição onde é realizado o estudo oficializa a logística e responsabilidade de cada um. Assim como, seguro e indenização se aplicáveis ao sujeito de pesquisa, e seguro de responsabilidade profissional para os membros da equipe. O local de arquivamento dos documentos deve ser restrito aos membros da equipe, ser seguro contra fogo, enchentes, pestes e umidade, pois ficam armazenados por até 5 anos após o termino do estudo. ! Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA e Conselho Nacional de Saúde – CNS Em território nacional, identificamos a ausência de manuais, diretrizes e atos normativos que tratem especificamente de estudos clínicos de fase I. Entretanto, em âmbitos gerais, as principais resoluções em pesquisa clínica vigentes podem ser visualizadas no Quadro 1. As equipes de pesquisadores brasileiros, inclusive os pertencentes ao INCA, fundamentam suas práticas estipuladas pela ANVISA e CNS, entretanto há necessidade de complementar suas rotinas. Por isso associam suas condutas em regulamentações internacionais da FDA e EMEA, tendo em vista a não publicação específica de fase I dos órgãos regulatórios nacionais. É notória a necessidade do aprimoramento legal e ético no Brasil com enfoque na fase inicial de desenvolvimento de um medicamento que norteie as diretrizes e justifique a prática para o desenho e condução de estudos de fase I, assim como a logística de infraestrutura física e humana para desempenhá-los. 19 Quadro 1– Resoluções Nacionais em Pesquisa Clínica Resolução Data Especificações CNS 196 10/10/1996 Estabelece os requisitos para realização de pesquisa clínica de produtos para a saúde, utilizando seres humanos CNS 240 05/07/1997 Define o termo “usuários” para efeito de participação dos voluntários nos CEP’s CNS 251 07/08/1997 Destina-se a aprovação de normas de pesquisa envolvendo seres humanos na área temática de pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos CNS 292 08/07/1999 Dispõe sobre pesquisas coordenadas no exterior ou com a participação estrangeira e pesquisa que envolvam remessa de material biológico para o exterior RDC 26 17/12/1999 Normaliza e avalia a aprovação de programas de acesso expandido CNS 301 16/03/2000 Ratifica os princípios da Declaração de Helsinque CNS 303 06/07/2000 Complementa a resolução 196/96 RDC 340 08/07/2004 Aprova as diretrizes para o desenvolvimento da pesquisa na área temática especial de Genética Humana RDC 219 20/09/2004 Aprova o regulamento para elaboração de dossiê para a obtenção do comunicado especial (CE) para produtos ou medicamentos para a saúde CNS 346 13/01/2005 Estabelece regulamentação para tramitação de projetos multicêntricos no sistema dos CEP’s e CONEP CNS 347 13/01/2005 Destina-se a aprovação de diretrizes para análise ética de projetos de pesquisa que envolvam armazenamento de materiais ou uso de materiais armazenados em pesquisa anteriores. RDC 39 05/06/2008 Aprova o regulamento para a realização de pesquisas clínicas RDC 404 01/08/2008 Assegura aos sujeitos de pesquisa o acesso aos melhores métodos comprovados pelo estudo, sejam eles profiláticos, diagnósticos ou terapêuticos IN 04 04/05/2009 Dispõe sobre o guia de inspeção em Boas Práticas Clínicas nos centros de pesquisa. Fonte: Modelo desenvolvido pelo próprio autor a partir de informações contidas no site ANVISA (2012). 20 2.3 – Trâmite Regulatório para Aprovação de Estudos Clínicos no Brasil Todas as fases de estudos clínicos são realizadas de acordo com as Boas Práticas Clínicas fundamentadas no Documento das Américas (ICH, 2005), do qual o Brasil é signatário. Para que se inicie um estudo clínico em território nacional são necessárias aprovações pela ANVISA, pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e em condições especiais pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), respaldadas nas principais resoluções já apresentadas no Quadro 1. Dados publicados pela ANVISA (2012) apontam que em média 268 estudos clínicos são avaliados por ano, sendo que em 2011, dos estudos analisados, 4 % fase I, 22 % fase II, 63 % fase III e 11 % fase IV. A maioria desses estudos é promovida por indústrias farmacêuticas multinacionais em parceria com instituições de saúde (DAINESI, 2011), e proporcionam aos investigadores e pesquisadores brasileiros oportunidades em publicações internacionais e proposta para desenho de protocolos de interesse institucional e nacional. O estabelecimento de diretrizes para a pesquisa clínica começou na década de 80 com a resolução 01 de 1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 1988), que apesar de ser considerada completa, refletiu com pouco significativamente na pesquisa (DAINESI, 2011). Foi revogada pela resolução 196/96 (CNS, 1996), que regulamentou de forma efetiva toda e qualquer pesquisa que envolva seres humanos e culminou na criação dos CEP’s e da CONEP. Apesar de somente no Brasil existir um conselho nacional, a existência dos CEP’s forneceram condições éticas igualitárias com os países da Europa, EUA e Japão. A CONEP tem como missão elaborar e atualizar diretrizes e normas para a proteção dos sujeitos de pesquisa, cabendo avaliar e acompanhar os protocolos de pesquisa, em áreas temáticas especiais: genética e reprodução humana; novos equipamentos; dispositivos para a saúde; novos procedimentos; população indígena; projetos ligados à biossegurança e como participação estrangeira, o que constitui em média 10% da quantidade analisada pelos CEP’s. Além disso, atua na coordenação da rede de CEP’s das instituições (CNS, 2012). Atualmente são 645 CEP’s cadastrados pela CONEP, e dentre as suas atribuições destacam a avaliação de projetos de pesquisa a serem desenvolvidos em suas instituições ou as referenciadas, e o acompanhamento da execução das pesquisas (CNS, 2012). De acordo com a Resolução 196/96 (CNS, 1996), os CEPs fornecem proteção ética aos voluntários envolvidos e avaliam principalmente o estudo clínico do ponto de vista da 21 qualificação dos investigadores envolvidos, da confecção do termo de consentimento livre e esclarecido, da segurança e ao acesso à medicação, e o orçamento do estudo. Apesar disso, considerações metodológicas podem ser pertinentes e abordadas, dependendo da formação profissional, do interesse e conhecimento do relator, e do estudo em questão. A criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio da lei 9.772 de 1999 (ANVISA, 1999), constitui uma autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, organizada em gerências, dentre as quais a responsável pela anuência e monitorização de pesquisa clínicas é a Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos. Além da aprovação ética, para o início da realização de ensaios clínicos, padronizada pela RDC 39 de 2008 (ANVISA, 2008) é preciso obter um Comunicado Especial (CE), documento de caráter autorizador necessário para a execução de um determinado protocolo de pesquisa e a Licença de Importação (LI) necessária a importação de produtos sob vigilância sanitária. Apesar de o sistema regulatório ético nacional ser considerado recente, alguns autores alertam a morosidade na análise por motivo de excesso de regulamentação (THIERS, 2007; PASCHOALE, 2009; DAINESI, 2011, SENNES & FILHO, 2011). Outra constatação é o Brasil como o único país do BRICS4 onde se registra uma redução no número de pesquisas clínicas para o desenvolvimento de novos medicamentos e no número de voluntários recrutados entre 2002 e 2007 (THIERS, 2007). A Figura 3 esquematiza um estudo desenvolvido por Hurley (2006), compara o tempo de aprovação de um estudo clínico em âmbito mundial destacando a discrepância em relação ao tempo do processo regulatório nacional. A demora no tempo de aprovação traz conseqüências negativas como a redução da participação do Brasil em pesquisas clínicas realizadas simultaneamente em vários países, nos casos dos estudos multicêntricos, cuja inclusão de voluntários é competitiva, levando a perda de vagas para centros de pesquisa de outros países acarretando na inclusão de um número inferior de pacientes em nível nacional. À medida que a difusão de ensaios clínicos aumenta, para inclusive diminuir o tempo de desenvolvimento de um medicamento, o número total de pacientes para serem incluídos por estudo é mais rapidamente alcançado influenciado diretamente pela velocidade no recrutamento. __________________________ 4 – BRICS: Sigla denominada ao grupamento dos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRASIL MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2012 22 Figura 3– Tempo de Aprovação Regulatória no Mundo !"#$%&'()'*+"%,#-.%'/)012#34"5#' 6%'716(% 3–4 Meses 3-4 Meses 5 Meses SUÉCI A CANADA 3 Meses 4-5 meses REINO UNIDO FRANÇA ESTADOS UNIDOS 1 ano 3 Meses 3 Meses M ÉXICO COLOM BIA 3–4 Meses 4–4,5 Meses 4 meses BRASIL PERU 10-14 meses AUSTRÁLI A CHILE ARG ENTINA 4–4,5 Meses 6 Meses 4 meses Fonte: Hurley (2006) Dainesi (2011) destaca a agilidade do Brasil em recrutar voluntários para estudo de fase II e III, o que compensa parcialmente o atraso na aprovação regulatória. É o que se observa na Figura 4, em um estudo desenvolvido por Hurley apud Dainesi (2011) o recrutamento de um ensaio clínico multicêntrico fase III realizado na América Latina, no qual o principal centro de pesquisa estava localizado no Brasil e constata a agilidade do país em incluir pacientes em um curto período de tempo quando comparados aos demais países. Para fase I, entretanto, o atraso regulatório é uma barreira quase intransponível. Nas situações de inclusão competitiva, o pequeno número de pacientes estatisticamente necessários para compor a coorte do estudo, seria atingido pelos outros países, cujo processo regulatório é mais ágil e por isso iniciam o processo de recrutamento antes do Brasil. Nesse aspecto ser apenas um inclusor ágil não é suficiente para ser um país competitivo, nem mesmo as características genéticas se sobreporiam a importância de se aprovar um estudo em um tempo razoalmente competitivo. É necessário ter em associação instâncias regulatórias 23 específicas para analisar particularidades como esta e equipe com expertise para solicitar as avaliações e enviá-las prioritariamente. Apesar de não existir dados que quantifiquem a perda da inserção brasileira nos estudos multicêntricos pela morosidade regulatória, podemos afirmar que este fator repercute negativamente na participação dos centros de pesquisa, inclusive do INCA. Figura 4 – Recrutamento de um estudo clínico fase III na América Latina Fonte: Hurley apud Dainesi (2011) 24 2.4 Aspectos Técnicos e Infraestrutura para Centros de Pesquisa Clínica no Brasil O Brasil apresenta uma rede de centros de pesquisa e dispõe de cientistas com expertise reconhecida internacionalmente, bem como grandes hospitais de referência. Numa estrutura composta por instituições de saúde e CEP’s qualificados para fazer estudos clínicos, estima-se que nos últimos 10 anos, mais de 100 mil brasileiros participaram de estudos clínicos (INTERFARMA, 2010). Neste sentido, iremos abordar, de forma sucinta, referenciais que abordem aspectos técnicos e de infraestrutura necessários para a realização de pesquisa em território nacional, listados no Quadro 2. Quadro 2 - Aspectos Técnicos e de Infraestrutura para Pesquisa em Território Nacional RDC número 50, de 21 de fevereiro de 2002 RDC número 103 de 8 de maio de 2003 Roteiro desenvolvido por Lousana & Acceturi Instrução Normativa número 4 de 11 de maio de 2009 Fonte: Elaborada pela própria autora a partir de ANVISA (2002; 2003; 2009) e Lousana e Acceturi (2007) ! RDC número 50, de 21 de fevereiro de 2002 (ANVISA, 2002) Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS), de maneira a incluir a fundamentação para a estruturação de uma unidade de pesquisa clínica. Esta resolução é de caráter prático e está dividida em três partes, sendo a primeira destinada à elaboração de projetos físicos, a segunda aplicada a programação físico-funcional, que contempla um Plano de Atenção à Saúde, incluindo a pesquisa em suas modalidades, e a última voltada aos critérios para os projetos de EAS. Para cada etapa de elaboração do projeto físico, há a especificação dos aspectos pertinentes a arquitetura, instalações (elétrica, eletrônica, hidráulica, fluido-mecânica e climatização), estrutura e fundações, além das responsabilidades de cada órgão e categoria profissional, seguida da apresentação de desenhos, plantas e documentos necessários. Nesse sentido, as atividades de pesquisa podem ser adaptadas de acordo com os ambientes dos EAS dependendo da abrangência do centro de pesquisa e da estrutura exigida para a 25 condução de um estudo clínico, como por exemplo, para consultas médicas ambulatoriais de um estudo clínico, serão aplicáveis as recomendações destinadas ao item referente ao atendimento ambulatorial no ambiente consultório indiferenciado, cujas medidas físicas são as mesmas encontradas especificadas na RDC aplicáveis a quaisquer tipos de consultas nesta modalidade. ! RDC número 103 de 8 de maio de 2003 (ANVISA, 2003) Esta resolução trata particularmente de um roteiro de inspeção de normas e regulamentos técnicos para os Centros que realizam estudos de Biodisponibilidade e Bioequivalência para fins de registro de medicamentos. Apesar de não ser aplicada à pesquisa clínica com protocolos investigacionais para desenvolvimento de novos medicamentos, itens relevantes nesta RDC são regidos pelas mesmas normas internacionais e podem respaldar a estruturação de um centro de pesquisa clínica. Para esta área de atuação é compulsória a certificação do centro de pesquisa pela ANVISA antes de iniciar o funcionamento, diferente de um centro de pesquisa clínica que conduz estudos clínicos com Produtos Investigacionais que pode experimentar inspeções, embora não seja mandatória a certificação prévia para início das atividades. Aplica-se, então aos centros de pesquisa de Bioequivalência e Biodisponibilidade um roteiro de inspeção que perpassa as três etapas do processo sendo: clínica, analítica e estatística. Para cada item listado no roteiro é aplicado um critério de cumprimento classificado em imprescindível, necessário, recomendável e informativo. Cada etapa apresenta sua particularidade, apesar de existir itens a serem inspecionados comuns às três como: fornecimento de informações gerais de dados de identificação do centro e do corpo técnico, instalações principais e auxiliares, informações específicas de procedimentos de estudo, procedimentos operacionais padrão (POP’s), manual da qualidade, arquivo e documentação de cada estudo, organização do ambiente laboratorial e da bancada de trabalho, biossegurança; proteção individual, e comprovação do exercício de boas práticas clínicas e laboratoriais. ! Roteiro desenvolvido por Lousana & Acceturi (2007) Foi estruturado a partir das duas resoluções anteriores acrescido de informações das Boas Práticas Clínicas e Documento das Américas (ICH, 2005). 26 Para as autoras este roteiro de inspeção é aplicável a avaliação da estrutura de um centro de pesquisa e contém perguntas abertas e fechadas para prover as informações gerais sobre o centro de pesquisa e o seu sistema operacional, e sobre os membros que compõe equipe de pesquisa clínica, assim como dados cadastrais da instituição e equipe nos casos do centro de pesquisa manter algum tipo de parceria ou convênio. Abrange também inspeções aos setores que formam a estrutura física do centro de pesquisa, incluindo local de armazenamento do arquivo do pesquisador, sala de coleta e preparo de material biológico, sala de armazenamento e preparo de medicações, unidade de terapia intensiva, recursos materiais e equipamentos médicos hospitalares incluindo a estrutura de serviços e medicamentos de emergências clínicas, situações de segurança, emergência e plano de contingência. Apesar de citar a necessidade da elaboração de Procedimentos Operacionais Padrão (POP), neste roteiro não há especificado quais seriam os necessários. O roteiro descrito por Lousana & Acceturi (2007) vai além da avaliação da capacidade física instalada, compromete-se ao cumprimento, por parte da equipe, das atividades de condução de um estudo clínico resguardando a ética ao sujeito de pesquisa. E por isso, após listar itens básicos que um centro de pesquisa necessita para viabilizar as suas atividades, há também o apontamento dos documentos necessários para a condução de em estudo clínico que permita avaliar se o mesmo está sendo desempenhado pela equipe de acordo com as Boas Práticas Clínicas, sendo possível atender a todos esses critérios, e comprová-los mediante análise dos mesmos previamente organizados no arquivo do investigador do próprio estudo. ! Instrução Normativa número 4 de 11 de maio de 2009 (ANVISA, 2009) Dispõe de um guia para realizar inspeções nos centros peticionados, verificando o grau de aderência à legislação brasileira vigente e às Boas Práticas Clínicas nas pesquisas clínicas com medicamentos e produtos para saúde, assegurando um padrão unificado de qualidade dos resultados de eficácia e segurança obtidos, bem como assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade cientifica, aos sujeitos de pesquisa e ao Estado, utilizando como base um estudo clínico. Esta instrução normativa poderá influenciar na existência de um centro de pesquisa e de um estudo clínico, pois dependendo da repercussão do relatório de inspeção, a ANVISA poderá 27 determinar a interrupção temporária do estudo, suspensão das atividades de pesquisa clínica do investigador envolvido na condução inadequada de um protocolo, ou mesmo o cancelamento definitivo de um estudo clínico no centro em questão ou em todos os centros no Brasil. Com base no relatório final da inspeção, a ANVISA também poderá notificar outros órgãos pertinentes (como o Conselho Federal de Medicina e Conselho Nacional de Saúde) e manter uma lista de centros não recomendados. Neste guia, tem-se uma relação de aproximadamente 155 itens a serem cumpridos estabelecidos em um roteiro estruturado, que são classificados quanto a sua relevância e impacto do seu cumprimento, podendo ser críticas, maiores, menores e informativas, envolvendo as seguintes particularidades: - Informações gerais sobre o estudo clínico; - Instalações físicas e equipamentos do centro de pesquisa; - Sistema de Gestão da Qualidade provendo uma listagem obrigatória de 17 Procedimentos Operacionais Padrão (POP’s); - Documentos Essenciais dos Estudos Clínicos e do Centro de Pesquisa. A compilação da regulamentação técnica e dos três roteiros para inspeção vai de um caráter amplo ao mais específico, tratando de infraestrutura de estabelecimentos assistenciais de saúde ao direcionamento na área da pesquisa clínica, e em alguns casos contendo itens até repetitivos. Dessa maneira, permite criar subsídios, de maneira genérica, que viabilize o desenvolvimento dos critérios mínimos necessários para a estruturação e gestão de um centro de pesquisa, inclusive do INCA, baseado em um leque de ambientes e atividades, incluindo o cumprimento da comprovação científica e ética, a dinâmica existente entre a equipe de profissionais e o envolvimento dos pacientes incluídos. Podemos perceber que nenhuma dessas regulamentações aborda especificamente de estudos de fase I, mas apesar de não serem direcionadas a esta prática, incluem informações mínimas que podem respaldar construção de infraestrutura e acomodações, como por exemplo, hotelaria para pacientes recrutados nos estudos clínicos, e demais condutas realizadas pelos centros de pesquisa permitindo ações padronizadas entre eles. 28 2.5 Modelo de Negócios As atividades a serem realizadas e as regulamentações vigentes impõem algumas exigências de infraestrutura e práticas de qualidade. Entretanto, essas mesmas regulamentações não ajudam no direcionamento e definição da orientação política e estratégica de unidade de pesquisa clínica fase I inserido no sistema de saúde brasileiro. Com o intuito de encontrar respostas para essas indagações, utilizamos o conceito de Modelo de Negócios direcionado a operação desta unidade. O conceito Modelo de Negócio foi divulgado mais amplamente após o ano de 2006, impulsionado pelo advento da internet, que permitiu às empresas vivenciarem novas formas de criar valor, considerando a possibilidade de atuar em rede e de se beneficiarem dos resultados de outros parceiros (OROFINO, 2011). Ultrapassando o modelo digital, a mais recente definição de Modelo de Negócios desenvolvida por Osterwalder e Pigneur (2010, p. 14), é o “modo que uma organização cria, entrega e captura valor.”, representando os processos de como se oferece valor aos seus clientes, obtém lucro e se mantém de forma sustentável, auxiliando no processo do desenho ou projeto de um empreendimento. Adotando a definição do Modelo de Negócios proposta por Osterwalder e Pigneur (2010) que favorece o entendimento da dinâmica de um negócio por meio da análise, da experimentação e de busca por novas propostas de valor, incluindo a concepção de um novo empreendimento, atribuiremos como referência para o desenvolvimento dessa dissertação, o conceito e metodologia desenvolvidos por estes autores. Osterwalder (2004) desmembra a expressão “Modelo de Negócio” e atribui à palavra "Modelo" a definição de uma descrição simplificada de um processo complexo que requer um importante esforço de conceituação e pela palavra "Negócio" que diz respeito às atividades relacionadas com a oferta de bens (produtos e serviços). Modelos de Negócios podem ser considerados como um elo entre a estratégia, processos organizacionais e sistemas de informação, facilitando a comunicação entre os profissionais. (OSTERWALDER, 2004). A necessidade de um empreendimento em desenvolver este Modelo pode ser direcionada a satisfazer as exigências do mercado, gerar novos bens ou serviços, aprimorar ou transformar um mercado existente ou criar um completamente novo. E ainda para aquelas empresas que já possuem um negócio, a construção de um modelo pode ser incentivada por uma deficiência no Modelo de Negócio existente, necessidade melhorar ou se adaptar a um ambiente de mudanças, trazer novas tecnologias, 29 produtos ou serviços para o mercado; ou preparar a empresa para o futuro explorando novos modelos de negócio. ! Estrutura do Modelo de Negócios Para representar um Modelo de Negócios, Osterwalder e Pigneur (2010) abordam o conceito de ontologia, definida como uma estrutura que proporciona uma compreensão comum e partilhada de um conjunto de elementos e suas relações que possa ser divulgado entre pessoas, chamado de “Bussiness Model Canvas” (Figura 5). Em um cenário interativo de trocas entre diferentes atores e ambientes, a partir de uma arquitetura com quatro grupos principais são constituídos nove elementos, conforme Figura 5 e 6. Figura 5- The Business Model Canvas Fonte: Osterwalder e Pigneur (2010, p. 44) 30 Figura 6 – Pilares e Componentes propostos por Osterwalder e Pigneur Fonte: Elaborado pelo próprio autor a partir de Osterwalder e Pigneur (2010) Os nove elementos envolvem (OSTERWALDER & PIGNEUR, 2010): 1 – Propostas de Valor: É possivelmente o componente mais destacado e está localizado no centro do modelo, de modo que a maioria dos outros componentes esteja interagindo diretamente. “Descrevem o pacote de produtos e serviços com atributos e características adicionais agregadas de benefícios que criam valor e atendem às exigências de um segmento de clientes específicos”. Dessa maneira, o foco não está nos bens ofertados, mas no que os tornam atrativos, sendo o motivo pela qual os clientes mudam de uma empresa em detrimento de outra. “Alguns elementos podem contribuir para a criação de valor como a novidade, desempenho, customização, design, marca, preço, redução de custo, redução de risco, acessibilidade e conveniência. Deve-se ser capaz de responder os seguintes questionamentos: Qual o valor entregue para o cliente? Que problemas do cliente este Modelo de Negócio ajudará? Quais as necessidades dos clientes estão sendo atendidas? Que pacotes de bens e serviços se está oferecendo para cada segmento de clientes?” 2 – Segmento de Clientes: Descreve o mercado que é atendido pela proposta de valor da empresa. “São vitais e devem ser rentáveis. Há diferentes tipos de segmentos: mercados de massa (grande grupo de clientes, com necessidades semelhantes), mercados de nicho (pequeno grupo de clientes, com necessidades específicas, especializadas), mercados segmentados (divisão dos 31 clientes por grupos, com diferentes características), mercados diversificados (diferentes propostas de valor para diferentes grupos de clientes) e mercados multilaterais (diferentes grupos de clientes, que negociam entre si)”. Vale ressaltar que, cada segmento pode ser associado a diferentes propostas de valor, requerendo diferentes mecanismos de relacionamento e entrega. 3 - Relacionamento com o Cliente: Pode variar desde um sistema automatizado até o contato pessoal impulsionados pela possibilidade de fidelização com o cliente pela aquisição e retenção do mesmo e de aumento na produção de bens e serviços. “Incluem assistência personalizada, assistência personalizada exclusiva, self-service e comunidades. Algumas perguntas que podem auxiliar a formulação do relacionamento com cliente são: Que tipo de relacionamento cada um dos segmentos de clientes espera ter com a empresa? Quais desses tipos a empresa já possui? Quanto eles custam? Como eles se integram com o resto do Modelo de Negócio?” 4 – Canais: “Estabelece a maneira de comunicação entre empreendimento e cliente para que seja ofertada uma proposta de valor informando quais os produtos e serviços oferecidos e a maneira de se obter um suporte contínuo permitindo uma avaliação dos mesmos. Os canais de distribuição devem responder a seis perguntas: Através de que canais nossos clientes desejam ser alcançados? Como os profissionais da empresa pretendem se comunicar? Quais dos canais são mais efetivos? Quais são mais eficientes com relação a seus custos? Como a empresa está integrando seus canais com a rotina de seus clientes?”. 5 – Parcerias-chave: “São compostas por uma rede de fornecedores e parceiros de forma possibilitar a operacionalização e otimização dos negócios por meio da minimização dos riscos e aquisição de novos recursos. Incluem alianças estratégicas entre empresas não concorrentes, parcerias estratégicas entre concorrentes, Joint Ventures, relacionamento fornecedorcomprador para garantir o abastecimento confiável e de forma sustentável”. 6 – Atividades-chave: o que é mais relevante para um empreendimento executar a fim de que o seu Modelo de Negócio tenha êxito. “As atividades-chave podem ser divididas em: Produção (incluem atividades relacionadas ao design, produção e distribuição de produtos em 32 quantidades consideráveis e/ou em qualidade superior); Solução de problemas (utilizam gestão do conhecimento e treinamento contínuo). Plataforma/rede (que unem dois ou mais segmentos de clientes)”. 7 – Recursos-chave: “Envolvem os insumos mais importantes que permitem que uma empresa crie e ofereça uma proposição de valor, alcance os mercados, mantenha um relacionamento com os segmentos de clientes e obtenha receitas. Podem ser próprios ou terceirizados e incluem: Físicos (fábricas, prédios, veículos, máquinas, sistemas, sistemas de vendas e redes de distribuição), Intelectual (marcas, propriedade intelectual, patentes, parcerias e criação de banco de clientes), Humano e Financeiro”. 8 - Receitas: Representa o quantitativo financeiro que um empreendimento gera a partir de cada segmento de cliente. “Pode envolver dois tipos diferentes: aquelas resultantes dos pagamentos dos clientes em um único momento; ou aquelas recorrentes, resultantes de pagamentos em curso, que entrega uma proposta de valor para os clientes ou oferece um suporte pós venda. Envolvem algumas maneiras como: venda de ativos, taxas de utilização, assinaturas, aluguéis ou licenciamentos, além das formas não financeiras, que geram dinheiro de forma indireta como valorização da marca e reputação”. 9 – Custo: É destinada a descrever principalmente os custos fixos, custos variáveis, economias de escala e economias de escopo. “Após se estabelecer os custos, devem-se distinguir as duas grandes classes: a orientada pelos custos ou pautada por valores. Perguntas que podem ajudar a descrever a estrutura de custos incluem: quais os custos mais significativos no Modelo de Negócio? Que recursos-chave são mais caros? Que atividades chave são mais caras? Deve-se procurar reduzir custos em qualquer Modelo de Negócio, mas em alguns modelos uma estrutura de baixo custo é mais importante do que em outra”. 33 ! Ambiente de Instalação do Modelo de Negócios Os modelos de negócios são concebidos e executados em ambientes específicos. Analisar continuamente o ambiente da sua organização ajuda a criar modelos de negócios mais competitivos, assim como adaptar os existentes à realidade. Para compreender como os fatores externos influenciam na dinâmica de um empreendimento, Osterwalder e Pigneur (2010) sugerem mapear o ambiente em quatro áreas principais: forças de mercado, forças dos concorrentes, principais tendências e forças macroeconômicas, conforme Figura 7. As forças de mercado incluem a análise mercadológica, principalmente os segmentos de mercado, as necessidades e demandas. As forças dos concorrentes englobam a análise competitiva, como os concorrentes, novos entrantes, as ameaças e produtos e serviços substitutos. As principais tendências envolvem a previsão de ocorrências que podem influenciar no Modelo de Negócios, como aspectos regulatórios, novas tecnologias, mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas. E as forças macroeconômicas englobam as condições globais de mercado como infraestrutura e status econômico do país e do mundo (OSTERWALDER E PIGNEUR, 2010). 34 Figura 7 – Fatores Externos do Ambiente de Instalação do Modelo de Negócios Fonte: Elaborada pela própria autora por Ostervalder & Pigneur (2010) ! Técnicas Recomendadas para a construção de um Modelo de Negócios Após definir os elementos que compõem um completo Modelo de Negócios e o ambiente em que está instalado o empreendimento, Osterwalder e Pigneur (2010) listam seis ferramentas utilizadas na construção do design do negócio que permita que conceitos abstratos tornem-se tangíveis e facilite a exploração de novas idéias, a saber: - Cenários: É uma ferramenta de geração de idéias pretendidas com um futuro provável. A construção de cenário tem a função de detalhar o contexto do projeto, de forma específica, existindo 2 tipos, o primeiro refere-se ao cliente e descreve as suas características, como o produto ou serviço é utilizado, quais os anseios e desejos. O segundo refere-se ao ambiente com o objetivo de imaginar possibilidades futuras com detalhe de idéias. 35 - Ideação (ideation): O processo ocorre quando uma equipe de especialistas é convocada para participar de um evento constituído por diversas seções para gerar idéias ou soluções para a criação do valor. Este processo é composto por duas fases. A primeira consiste na geração de idéias, estimulada pela expressão “E se... ou What if...” e a segunda consiste na síntese, na qual as melhores idéias são associadas. - Insight do cliente: O sucesso na inovação de modelos de negócio requer um profundo entendimento dos clientes, do ambiente em que eles estão inseridos, suas rotinas e aspirações e por isso essa ferramenta significa desenvolver um Modelo de Negócio sob a perspectiva do olhar do cliente. Este experimento deve responder as seguintes perguntas: Como e o que o cliente observa em seu ambiente? O que influencia as decisões do cliente? Qual a forma de pensar do cliente? Qual a especialidade do cliente? Quais seus principais desafios e perspectivas? - Narrativa: O ato de contar histórias para compartilhar conhecimentos estimula a curiosidade do ouvinte e resgatam a memória empresarial. Torna o novo mais tangível, clarifica as idéias e engaja as pessoas no projeto - Pensamento visual: Tem a função básica de trocar palavras ou números por desenhos livres destinados a expressar idéias, utilizando-se de vários recursos como papéis coloridos, canetas de diversas cores, recortes e gravuras, ou Post-it™, e por isso facilita a participação do grupo durante o processo. - Protótipos: Representam o potencial do futuro Modelo de Negócio por consistir uma alternativa de identificar a aceitação do produto e coletar feed back imediato dos clientes, podendo reduzir a margem de erro e auxiliar na aceitação final dos bens originados. 36 3. Metodologia 3.1 Desenho do Estudo O desafio metodológico, neste trabalho, foi a forma de pensar e conceber um Modelo de Negócios, mediante o desenvolvimento de um conjunto de categorias centrais com suas interrelações, como as análises estratégicas ambientais e análises político-legais. Escolhemos o conceito de Modelo de Negócios como o referencial a ser utilizado para pensar na estruturação e gestão da UPC fase I por meio da articulação de informações detalhadas, incluindo o ambiente em que será criada, os serviços oferecidos, seu público-alvo, concorrentes, parceiros, agências de fomento, planejamento e avaliação da viabilidade com vistas a ampliar as chances de sucesso da existência desta unidade. Foram três, as etapas para a construção do Modelo de Negócios, que forneceram uma idéia básica da natureza do empreendimento e uma perspectiva da viabilidade da estruturação desta unidade tendo em vista sua posição e relação no ambiente interno e externo. - Etapa 1: Caracterização do ambiente e mapeamento das forças macroeconômicas, forças de mercado, principais tendências e forças dos concorrentes. Para o cumprimento desta etapa utilizamos a revisão da literatura (Gil, 1999) que serviu de base ao desenho do estudo incluiu consulta as seguintes bases de dados: - PubMed: a partir dos descritores: “Phase I and Cancer and Management”; “Phase I and Cancer and Guideline”; “Phase I and Guideline”; “First in Man Trial and Guideline”. O material obtido permitiu uma análise primária dos aproximadamente 2500 artigos, nos quais 24 referiam-se ao tipo de metodologia, manuais e padronizações aplicadas para estudos clínicos fase I, sejam considerações éticas e de conduta terapêutica. Os demais artigos tratavam dos resultados do Produto Investigacional utilizados nos estudos clínicos propriamente ditos e por isso não foram utilizados. - National Institutes of Health - NIH, do governo americano, por meio da National Library of Medicine, disponível em www.Clinicaltrials.gov. 37 Artigos publicados em sites como Valor Econômico (www.valor.com.br), Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE (www.ibge.gov.br), Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) -Projeto PIB (GADELHA et al, 2009) e materiais de consultoria como: Pharmaceutical Research and Manufactures of America (PhRMA), Intercontinental Medical Statistics (IMS Health), European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations (EFPIA), Tufts Center for Study of Drug Development (Tufts CSDD). Como recorte temporal limitou-se a utilização de materiais entre 2002 e 2012 (últimos 10 anos). - Etapa 2: Estruturação do Modelo de Negócios da Coordenação de Pesquisa Clínica e Incorporação Tecnológica do INCA. Como a UPC fase I estará inserida setor, faz-se necessário o conhecimento do Modelo ao qual a unidade será subordinada. Utilizaremos para esta etapa a Análise Documental como Documentos Técnicos e Normativos que constam nos sites das agências regulatórias técnicas do Brasil, dos EUA e da União Européia com o intuito de obter os atos normativos, diretrizes, regulamentações e manuais sobre o tema proposto. -Agência Nacional de Vigilância Sanitária: ANVISA, www.anvisa.gov.br/medicamentos/pesquisa; - US Food and Drug Administration – FDA, agência regulatória técnica dos Estados Unidos da América, www.fda.gov; - European Medicines Agency – EMEA, agência regulatória técnica da União Européia, www.ema.europa.eu. - E as Regulamentações em Pesquisa Clínica como ICH/ GCP e Portarias do Ministério da Saúde da RNPCC e REDEFAC. - Etapa 3: Estruturação do Modelo de Negócios da UPC Fase I utilizando os pilares e componentes, descritos por Osterwalder e Pigneur (2010), conforme Quadro 3 - Esquema Metodológico Norteador para a Construção do Modelo de Negócios. Constam os componentes, os equivalentes questionamentos, as fontes de informação utilizadas e referenciais bibliográficos correspondentes. - Etapa 4: Construção de cenários, como forma de tornar tangível os conceitos abstratos de acordo com a técnica utilizada descrita pelos mesmos autores (OSTERWALDER E PIGNEUR, 38 2010). Foram criadas hipóteses com possibilidades concretas que orientaram o pensamento da organização, descritas por meio de exemplos e simulações que materializem as ações de como os produtos ou serviços de um empreendimento pode ser utilizados. O exemplo utilizado foi Estudo Clínico Fase I para tratamento de câncer cujo método para o escalonamento de dose utilizado foi Fibonacci5, baseado no artigo de Le Tourneau et al (2009) e Rogatko et al (2007), o que nos permitiu trabalhar com a hipótese de um número de mínimo e máximo de pacientes incluídos em uma coorte – 3 e 18. O mesmo exemplo foi aplicado para duas realidades: estudo clínico patrocinado e um estudo clínico institucional demonstrando as receitas e os custos. As simulações foram fundamentadas na Pesquisa Documental (Gil, 1999). Incluíram Relatório de Gestão do Exercício de 2011 do INCA (BRASIL, 2012), do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS - SIGTAP (BRASIL, 2010), assim como portarias e políticas do Governo Federal, mais especificamente, do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência e Tecnologia. Com esta etapa foi possível materializar valores financeiros para estimar receitas, custos, ponto de equilíbrio, propostas financeiras que serão detalhados na seção 6.5 deste trabalho. _______________________________ 5 O padrão método de escalonamento da dose de sequência modificada de Fibonacci consiste das seguintes partes: a identificação dos grupos de doses a serem apurados e um algoritmo para escolher a máxima dose tolerada ou mínima dose terapêutica, a partir deste conjunto de doses. Permite pelo desenho do estudo avaliar três coortes de pelo menos três pacientes, tratadas com doses escalonadas do Produto Investigacional. Se nenhum dos três pacientes em uma coorte experimenta uma toxicidade limitante da dose, mais três pacientes serão tratados ao nível de dose imediatamente superior. No entanto, se uma das primeiras três pacientes com uma toxicidade dose-limitante, mais três doentes serão tratados ao nível de dose igual. O aumento da dose continua até que pelo menos dois pacientes experimentem uma toxicidade dose limitante de uma coorte de 3-6 (isto é, " 33% dos doentes com uma toxicidade limitante da dose em que o nível de dose). Portanto, o mínimo de pacientes é 3 e o máximo é 18. O recomendado da dose para ensaios clínicos de fase II é convencionalmente definido como o nível de dose logo abaixo do nível da dose tóxica. O padrão modificado Fibonacci tem sido o desenho mais comum para estudos clínicos de fase I em câncer, por minimizar o número de avaliações necessárias para reduzir o intervalo de incerteza. Uma revisão detalhada da literatura sobre este método concluiu que este método parece ser mais frequentemente citado e copiado do que verdadeiramente entendido (ROGATKO et al 2007; LE TOURNEAU et al, 2009). 39 Quadro 3 – Esquema Metodológico Norteador para Construção do Modelo de Negócios Modelo de Negócios Proposta de Valor Questionamentos Principais Fontes de Informação Qual será a localização da unidade? Referências Bibliográficas: Livros, Artigos, Qual será o nível de abrangência que a unidade exercerá suas atividades (internacional, nacional e local)? Dissertações e Teses Análise Documental: - Regimento Interno dos Órgãos do Ministério da Quais os objetivos específicos da unidade? Saúde (Portaria nº 3.965, de 14 de dezembro de 2010); - Documentos Técnicos e Normativos: US FDA; Qual o valor entregue para o cliente? EMEA; ANVISA; Que problemas do cliente este Modelo de Negócio ajudará? - Regulamentações em Pesquisa Clínica; - PNAO; Quais as necessidades dos clientes estão sendo atendidas? - PNCTIS; Que pacotes de bens e serviços se está oferecendo p ara cada segmento de clientes? - ICH/GCP; - RNPCC; Interface com os Clientes Questionamentos Quais são os potenciais mercados e segmentosalvo? O que motivará a procura dos serviços da unidade pelos clientes? Que tipo de relacionamento cada um dos segmentos de clientes espera ter com a empresa? Principais Fontes de Informação Referências Bibliográficas: Livros, Artigos, Dissertações e Teses Análise Documental: - Documentos Técnicos e Normativos: US FDA; EMEA; ANVISA; Como os clientes se integram com o resto do Modelo de Negócio? - Regulamentações em Pesquisa Clínica; Quais as estratégias de divulgação, distribuição e captação de serviços? - RNPCC; - ICH/ GCP; Quais os canais de comunicação mais efetivos? Quais são os mais eficientes com relação a seus custos? Como os profissionais da empresa pretendem se comunicar internamente? 40 Como os profissionais estão integrando seus canais com a rotina de seus clientes? Gestão de Infraestrutura Questionamentos Como estabelecer e manter parceiras? Principais Fontes de Informação Referências Bibliográficas: Livros, Artigos, Dissertações e Teses Quem são os parceiros-chave? Como viabilizar novas parcerias? Quais serão as atividades-chave desempenhadas pela equipe da UPC fase I e os seus parceiros? Documentos Técnicos ou Normativos: - US FDA; - EMEA; - ANVISA; - ICH/ GCP; Qual a capacidade máxima estimada para a produção e execução de serviços? Como os serviços serão realizados? - CONEP; Documentos Institucionais: Quais serão as necessidades imediatas da unidade? - Regimento Interno dos Órgãos do Ministério da Como será a Planta Física da Unidade? 2010); Saúde (Portaria nº 3.965, de 14 de dezembro de 41 Quais os ativos essenciais que permitam à UPC fase I desempenhar suas atividades? Consulta às Agências de Fomento: - FAPERJ - CNPQ - FINEP - CONFAP - BNDES Materiais de Consultoria: - Parexel´s Pharmaceutical R&D Statistical Sourcebook Pesquisas em sites específicos: - Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA); - Pharmaceutical Research and Manufactures of America (PhRMA). - Intercontinental Medical Statistics (IMS Health); - Tufts Center for the Study of Drug Development; - Associação das Organizações Representativas de Pesquisas Clínicas (ABRACRO); - Registro Internacional de Pesquisa Clínica, disponível em www.Clinicaltrials.gov; Aspectos Financeiros: Receitas e Custos Questionamentos Quais são as fontes de geração de receitas disponíveis para a unidade? São esperadas outra fontes no futuro? Qual o quantitativo financeiro gerado a partir de cada segmento de cliente? Qual será o aporte aplicado para o investimento na unidade? Qual o montante de capital previsto para o funcionamento da unidade, incluindo ativos tangíveis e recursos humanos? Principais Fontes de Informação Referências Bibliográficas: Livros, Artigos, Dissertações e Tese Pesquisa Documental: - Relatório de Gestão de Exercício do INCA de 2011; - Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP); Materiais de Consultoria; Qual seria o aporte necessário estimado para suprir as contingências? - Parexel´s Pharmaceutical R&D Statistical Sourcebook Quais os custos mais significativos para o Modelo de Negócios proposto? Sites para pesquisa de precificação: 42 Que recursos e atividades-chave são mais dispendiosos? Como funciona a dinâmica de movimentação financeira da UPC fase I? - Associação Brasileira de Laboratórios de Anatomia e Patológica e Citopatologia (ABRALAPAC) Regulamentações, Documentos Técnicos ou Normativos: -Manual de Pré-Qualificação de artigos médicohospitalares (ANVISA 2010); - Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS); Fonte: Elaboração Própria Autora (2012) 3.2 Considerações Éticas Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (Anexo 1). 4 O Ambiente de Instalação da UPC Fase I Antes de iniciarmos a elaboração do Modelo de Negócios, seguindo Osterwalder e Pigneur (2010), é fundamental conhecer o ambiente em que a UPC fase I será instalada e inclui a análise das forças de mercado, forças dos concorrentes, as principais tendências e forças macroeconômicas. Neste trabalho iremos enfatizar as forças de mercado e as forças dos concorrentes. 43 4.1 Forças de Mercado !Panorama Mundial A saúde é a área mundial que concentra os maiores esforços em P&D, incorpora um campo de alta intensidade de conhecimento e inovação, em conjunto com a área de defesa, respondem isoladamente por cerca de 25% de toda despesa mundial (GADELHA et al, 2009) O estudo Global Innovation 1000 (JARUZELSKI et al, 2011), afirma que em 2010, um dos setores que apresentou maior aumento no percentual de P&D foi a saúde, cujo investimento é realizado principalmente por companhias farmacêuticas liderados pela Roche, Pfizer, Novartis, Merck e Astrazeneca, cujas matrizes são localizadas na Europa e EUA que investem em média 15% das receitas de vendas em P&D de um faturamento expressivo (GADELHA, et al, 2009, p. 19) No Gráfico 1 está exposto o número de Produtos Investigacionais em teste no ano de 2010 das principais indústrias farmacêuticas. Gráfico 1: Produtos Investigacionais em teste pertencentes às indústrias farmacêuticas no ano de 2010 Fonte: PhRMA (2010) 44 Para amortizar o custo de P&D aplicado em uma nova entidade química de aproximados U$ 1,4 bilhões (MORGAN et al, 2011), o tamanho do mercado apresenta relevância, sendo necessário atingir potencias como EUA e Europa, ou um conjunto extenso de mercados menores (CAPANEMA, 2006). Os Estados Unidos são o principal produtor de medicamentos do mundo, respondendo por 39,3% da produção global, seguidos por Japão e Alemanha. Em conjunto, Estados Unidos, Europa e Japão detêm 84% de toda a produção mundial (GADELHA et al, 2009; EFPIA, 2011). Os EUA vêm também adquirindo crescente liderança no investimento em P&D como mostra o Gráfico2. Gráfico 2 - Investimento em P&D na Europa, EUA e Japão (em milhões de dólares) 45000 38428 40000 36608 35000 30969 30000 27200 26010 25000 21364 20000 5000 USA Japan 17849 15000 10000 Europe 21949 12537 11874 11484 7766 6803 5161 6422 10477 7462 0 1990 1995 2000 2005 2007 2008 Fonte: EFPIA (2011) Estes investimentos em P&D refletem o aumento dos projetos em desenvolvimento das principais indústrias farmaceuticas dos EUA, que em 2010 atingiram 8.617 (Gráfico 3). Esses números mostram inclusive um certo grau de isolamento dessas empresas com relação à crise financeira e a crise econômica dos últimos anos. (PhRMA, 2010). 45 Gráfico 3 – Projetos em Desenvolvimento das Indústrias Farmacêuticas Americanas em 2010 Fonte: PhRMA (2010) Quando classificamos esses projetos em desenvolvimento por área terapêutica, temos os agentes antineoplásicos e imunomoduladores, seguidos por neurológicos e anti-infeccionsos, liderando os projetos de novas terapias em nível mundial, considerando que alguns dos 8.617 listados no ano de 2010 (Gráfico 3) podem pertencer a mais de um grupo terapêutico. Com isso, cerca de 30% dos projetos têm efeito anti-câncer (PhRMA, 2010), de acordo com Gráfico 4. Esta liderança por área terapêutica deve-se provalvemente ao maior investimento em P&D conforme mostra o Gráfico 5. 46 Gráfico 4 Distribuição por área terapêutica dos projetos em desenvolvimento das empresas dos EUA no ano de 2010 Fonte: PhRMA (2010) Gráfico 5: Distribuição Global de Investimentos em P&D das indústrias americanas por área terapêutica no ano de 2010 Fonte: PhRMA (2010) 47 No cenário de estudos clínicos de fase I, o investimento mundial em P&D tem crescido anualmente, constituindo em 2006, 5.4 bilhões de dólares e atingindo aproximadamente 7.1 bilhões de dólares em 2010 (IMS Health, 2012). Os custos totais contabilizados pelas indústrias farmacêuticas americanas dominantes no mercado por estudo clínico de fase I, no ano de 2008 atingiram 334 milhões de dólares, divididos em 3,3 milhões referentes aos custos com o centro de pesquisa, incluindo taxações, comitês de ética divulgação e treinamento, e 331 milhões com os procedimentos descritos no protocolo. Entre os anos de 2008 e 2011 os custos continuaram aumentando. Um estudo realizado por Silvermann (2011) comparou 100 estudos clínicos fase I de diversas áreas terapêuticas conduzidos nos EUA e calculou que, nesses três anos, houve um aumento de 46% no custo médio por paciente incluído, contabilizando despesas com o recrutamento, testes para triagem e demais procedimentos. Em que culminou aproximadamente 15 mil dólares em 2008 para 22 mil dólares em 2011. Este aumento pode ser explicado principalmente pela necessidade de testes exigidos na etapa de recrutamento do estudo e por isso geraram incremento nos custos e demandaram tempo maior para iniciar o tratamento do paciente. Os resultados desses testes determinam a população correta de doentes com o perfil genético e acarretam em maior probabilidade do sucesso terapêutico do Produto Investigacional (CUTTING EDGE INFO, 2010). Por outro lado, a especificidade de encontrar o perfil genético adequado pode tornar o recrutamento de pacientes difícil ou irreal para certas indicações terapêuticas. Por isso, investimentos nesta etapa são prioritários para viabilizar o número total de pacientes incluídos exigidos para análise estatística satisfatória, e variam entre os patrocinadores de 13% à 50% do total investido em um estudo de fase I (CUTTING EDGE INFO, 2010). No ano de 2011, 10% dos medicamentos comercializados, a maioria deles para tratar o câncer, recomendam testes genéticos para otimizar o tratamento, entretanto esta porcentagem irá aumentar nos próximos anos, tendo em vista que metade de todos os estudos na fase I para o câncer apresenta desenvolvimento de dados com biomarcadores (KEAN & LESSOR, 2012). Entre os anos de 2001 e 2005 houve um aumento de 7,42% no número de estudos clínicos nesta fase em nível mundial, evoluindo com um número de 1.076 para 1.539 (PAREXEL, 2006). Dados de 2012 (CLINICAL TRIALS, 2012) mostram aproximadamente 5.550 estudos clínicos 48 fase I abertos no mundo, e 3.240 em oncologia, o que registra um crescimento superior a 100%, no que pese a diferença de fontes, como mostra Gráfico 6 e 7. Gráfico 6 – Estudos Clínicos Fase I Abertos para Inclusão no Mundo Fonte: Parexel (2006) e Clinicaltrials.gov (acesso em setembro de 2012) Gráfico 7 – Estudos Clínicos Fase I Abertos para Inclusão no Mundo em Oncologia em setembro de 2012 Fonte: Clinicaltrials.gov (acesso em setembro de 2012) 49 Podemos associar este incremento, aos dados disponibilizados na Tabela 2 quando comparam o número de moléculas em teste na fase I em estudos clínicos em oncologia entre os anos de 2003 e 2010, conforme a localização do sítio primário da doença (Tabela 2). Tabela 2: Moléculas em teste nos EUA em fase I por tipo de câncer. Localização em sítio primário Ano 2003 Ano 2010 Bexiga 1 3 Sistema Nervoso Central 4 13 Mama 14 11 Colo Uterino 2 0 Colon e Reto 12 10 Cabeça e Pescoço 5 3 Rim 4 5 Leucemia 10 28 * Fígado 2 5 Pulmão 17 18 Linfoma 8 45* Mieloma Múltiplo 4 15 Neuroblastoma 0 0 Ovário 9 10 Pâncreas 7 5 Próstata Sarcoma 11 1 16 3 Melanoma 4 17* Tumores Sólidos 45 205 * Estômago 1 1 Outros Câncer 8 38 Inespecíficos Sítios 22 59 Total 191 510 * Aumento expressivo Fonte: Elaborado pela própria autora a partir de PhRMA (2010). 50 ! Panorama Nacional A estrutura da cadeia produtiva da indústria farmacêutica pode ser apresentada em quatro estágios (PALMEIRA & PAN, 2003): P&D; Produção de Farmacoquímicos; Produção de Medicamentos; Marketing e Comercialização. As grandes multinacionais da indústria farmacêutica operam nos quatro estágios distribuídos pelos países, de acordo com a infraestrutura existente e com suas estratégias globais. No Brasil, a maioria subsidiária das multinacionais distribui-se em unidades de manufatura e comércio de medicamentos. A indústria nacional, em geral, não acompanha a fronteira tecnológica do setor e o déficit da indústria farmacêutica na balança comercial é um resultante dos principais consumidores de divisas do país (CAPANEMA, 2006). Acompanhando a tendência internacional, o mercado brasileiro tem características oligopólicas, com áreas divididas por classes terapêuticas e o domínio de atividades de produção, desenvolvimento e comercialização de medicamentos por empresas multinacionais (OLIVEIRA et al, 2009). Existem, aproximadamente, quatrocentas empresas farmacêuticas no Brasil, sendo que, vinte multinacionais dominam cerca de 80% do mercado, enquanto as 380 empresas de capital nacional são responsáveis por, aproximadamente, 20% do faturamento total. Além disso, há um parque público estatal voltado para a produção de medicamentos destinados aos programas de saúde pública, responsável por 3% da produção nacional em valor e 10% em volume equivalente (OLIVEIRA et al, 2009). Com as grandes indústrias farmacêuticas nacionais investindo em genéricos, apesar de significar medicamentos mais acessíveis à população, aumentou a dependência de insumos importados e consequente o déficit comercial, porque mais de 90% da produção local de medicamentos brasileiros dependem desses princípios ativos, que vêm do exterior (PROTEC, 2012). Quatro das 10 maiores empresas do setor farmacêutico instaladas no Brasil são nacionais: EMS Pharma, Aché, Eurofarma e Neo Química. Ainda que detenham domínio do mercado interno, os principais laboratórios resolveram unir forças para continuar competindo com as multinacionais. Foi montada a BioNovis, que engloba patrimônios da EMS, da Aché e da Hypermarca/Neo Química com finalidade de produzir e desenvolver medicamentos biológicos, 51 até o momento biossimilares, e em médio prazo reduzir o déficit da balança comercial da saúde (MARTINS, 2012). Nos mesmos moldes, os laboratórios Biolab, Cristália, Eurofarma e Libbs também se uniram, na empresa Orygen Biotecnologia. A análise do déficit comercial em saúde revela que aproximadamente 64 % encontram-se relacionado com as importações de fármacos e medicamentos e a baixa proporção de exportação de produtos de alto valor agregado (GADELHA et al, 2009). Quando se trata do incremento de gastos federais com serviços oncológicos do SUS, o crescimento anual de valores reflete inclusive na incorporação tecnologias voltadas para equipamentos e medicamentos. As iniciativas de implementação de uma política industrial para o setor Farmacêutico têm evoluído com marcos regulatórios que tentam aproximar a pesquisa científica dos empreendimentos privados, criam incentivos fiscais para despertar interesses das empresas aplicarem em P&D, promovem por meio de intercâmbio, a consolidação e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação visando a competitividade brasileira e o sustento do crescimento nacional. Destacam-se: Lei de Inovação n º 10.973 de 2004 (BRASIL, 2004), Lei do Bem nº 11.196 de 21 de novembro de 2005 (BRASIL, 2005), Política de Desenvolvimento Produtivo (BRASIL, 2012), Mais Saúde (BRASIL, 2008), Plano Brasil Maior (BRASIL, 2011) e Programa de Ciências sem Fronteiras (BRASIL, 2011). Por outro lado, a pesquisa clínica movimenta US$ 40 bilhões em investimentos por ano em todo o mundo. Desses, o Brasil representa US$ 139 milhões, posicionando-o em! 14º no ranking de investimento nessa área. Apesar de reconhecido como uma das maiores economias, o País tem somente 1,2% dos estudos clínicos ativos mundiais (INTERFARMA, 2010). Dentre os investimentos realizados entre os anos de 2002 e 2010, parte foi destinado a estruturação de redes de suporte, incluindo RNPC. Entretanto, do reconhecimento da necessidade para o avanço na área de tecnologias para a saúde, alguns apontamentos dificultam a execução bem sucedida do processo de inovação farmacêutico no Brasil e traz desafios para a implementação de uma unidade de pesquisa clínica fase I (CALIXTO & SIQUEIRA, 2008; SANTOS & SILVA, 2008; YANG, 2010): - Ausência de políticas públicas de longa duração; - Descontinuidade dos programas de apoio a inovação; - Baixo investimento em P&D pelas indústrias nacionais; - Alto custo financeiro e pouca oferta de capital de risco; 52 - Longo tempo de maturação do projeto de P&D; - Desconexão entre pesquisa básica e pesquisa clínica; - Deficiente articulação entre os centros de pesquisa, universidades, laboratórios públicos e o setor privado para realização de pesquisas orientadas ao mercado; - Redução de empresas nacionais por fusão ou aquisição de empresas farmacêuticas multinacionais; - Pouca experiência em inovação tecnológica; - Ausência de pesquisadores dentro das empresas. Dada a necessidade contínua de investimentos em P&D e de incentivos ao progresso, à medida que os esforços para desenvolver novas terapias para o controle do câncer crescem, aumenta também a dependência de investimentos públicos em pesquisa básica, a evolução da medicina translacional, a regulamentação em prol de ciência e tecnologia para o desenvolvimento de medicamentos e a participação das indústrias farmacêuticas multinacionais (DIMASI & GRABOUWSK, 2007). 4.2 - Força dos Concorrentes: ! Concorrência Mundial Os estudos clínicos fase I estão concentrados nos países onde as matrizes das indústrias farmacêuticas estão instaladas ou em suas proximidades. Esses locais possuem infraestrutura e recursos humanos qualificados para esta prática, assegurando a qualidade na condução e economia ao não recrutar centros mais distantes, já que a maioria de estudos nesta etapa inclui número pequeno de pacientes, por consequência envolvendo número menor de centros de pesquisa. Além disso, incluímos o valor implícito no conhecimento em gerar novos compostos e a necessidade de manter esta informação, neste momento inicial de desenvolvimento, mais perto possível de onde ela foi originada. A Tabela 3 mostra a pouca participação da América do Sul e o domínio do mercado pelos EUA ao retratar a participação mundial dos estudos clínicos ativos em todas as modalidades 53 terapêuticas no ano de 2010. A razão desta porcentagem para o Brasil parecer estar relacionada inclusive ao tempo regulatório para aprovação por instâncias regulatórias éticas e técnica e a baixa concentração de matrizes de indústrias farmacêuticas no país. Tabela 3: Distribuição Mundial dos Estudos Clínicos no Ano de 2010 em % Fase I EUA Oeste Europeu Leste Europeu Ásia América do Sul Fase II Fase III 76% 64% 38% 14% 22% 32% 5% 6% 10% 4% 5% 11% 1% 3% 9% Fonte: Center Watch Analysis (2010) Fase IV 47% 31% 7% 11% 4% A Figura 8 mostra um mesmo cenário na área de oncologia ao notarmos o número de estudos clínicos abertos em fase I em oncologia no mundo. Nos EUA, líder em centros de pesquisa e em estudos fase I abertos para a inclusão, os Estados que contém maior número são: Nova York, Pensilvânia, Califórnia e Texas. Na Europa, os países que se destacam pelo quantitativo de estudos abertos são: França, Alemanha, Reino Unido e Espanha. Figura 8: Estudos Clínicos Fase I Abertos em Oncologia no Mundo pela base de dados ClinicalTrials.gov em setembro de 2012 Fonte: Clinicaltrials.gov Acesso em setembro de 2012. 54 ! Concorrência entre os BRICS Os países que compõem o BRICS com potencial de crescimento competitivo além do Brasil, incluem China e Índia, ambos com características semelhantes como o alto índice populacional, difícil acesso à assistência à saúde, baixo custo com estrutura física e mão-de-obra barata (JANKOSKY; JIANG; FARWELL, 2007; GLICKMAN, et al. 2009; LANG & SIRIBADDANA, 2012 ). Um estudo desenvolvido por Jankosky; Jinang e Farwell (2007), calculou a média de preços para implementação de estudos clínicos em ambos os países levando em consideração principalmente os procedimentos e recursos humanos necessários. Os resultados demonstraram que na Índia os procedimentos custam em média 80 % menos quando comparados aos dos EUA e os recursos humanos 50% e na China os procedimentos custam 65% e os profissionais 50% menos que os EUA. A China cresce seus investimentos em P&D anualmente no mercado farmacêutico geral. Oncologia, a maior área terapêutica globalmente, está entre as cinco classes de terapia na China, onde nesta modalidade, o crescimento composto anual ultrapassou 25 % nos últimos cinco anos (IMS Health, 2011). Na Tabela 4 podemos ver o número de estudos clínicos fase I abertos em oncologia no Brasil, Índia e China registrado em Clinicaltrials.gov (2012). Na Tabela 5 podemos comparar exemplos de preços estimados nos países citados acima, sem levar em consideração os impostos sobretaxados. O cálculo para procedimentos do Brasil baseou-se nos valores em reais disponibilizados pelo Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS (BRASIL, 2012) método pelo qual os serviços públicos recebem pelos procedimentos realizados, e quanto a pesquisa clínica do INCA demanda pelos procedimentos - baseados 2 vezes o valor na Tabela CBHPM (CBHPM, 2008). Vale ressaltar que, os valores existentes na Tabela CBHPM e no SUS demonstram valores discrepantes que chegam a atingir 92% em alguns procedimentos. Esse tópico nos permite ressalta sobre o valor médio pago pelo mercado pelos mesmos exames realizados por serviços públicos de saúde, e com base nisso podemos afirmar que um dos motivos para o déficit encontra- 55 se na discrepância entre os valores de reembolso da Tabela SUS, muito abaixo dos da Tabela CBHPM. Tabela 4: Estudos Clínicos Fase I em Oncologia Abertos nos países Brasil, China e Índia até setembro de 2012 Pharmamerging: Estudos Clínicos Abertos para a Inclusão Fase I em Oncologia País N de estudo Brasil 9 China 49 Índia 7 Total 65 Fonte: Elaborado pela própria autora por Clinicaltrials.gov (2012) Tabela 5: Comparação de Preços de Procedimentos Médicos entre Índia, China, Brasil (SUS e INCA) e EUA Brasil Procedimentos de Estudos Clínicos Índia* China* Pesquisa SIGTAP Clínica SUS ** INCA** USA* Aplicação TCLE USD51,00 USD130,00 N/A USD 74,63 USD200,00 Eletrocardiograma (realização e laudo) USD14,00 USD50,00 USD 2,68 USD 23,93 USD119,00 Hora do Trabalho do Enfermeiro USD16,00 USD20,00 USD 3,13 USD 12,60 USD40,00 1 Visita do Coordenador de Estudos USD60,00 USD64,00 N/A USD 24,86 USD125,00 USD32,00 USD98,00 USD 4,97 USD 41,09 USD145,00 Visita Médica (história médica, exame físico e sinais vitais) duração 25 minutos * valor em dólar ** valores convertidos considerando $ 1,00 = R$ 2,01 Não estão computados impostos Fonte: Adaptado pela própria autora a partir de JANKOSKY; JIANG; FARWELL (2007); CBHPM (2008); BRASIL (2010); 56 Apesar da China e Índia apresentarem preços superiores ao do Brasil estão conseguindo participar da dinâmica industrial global de modo ativo, sustentado e competitivo, pois possuem estratégias agressivas de produção e de inovação voltados para o fortalecimento de empresas nacionais. Principalmente a China, concorrente direto do Brasil, se destaca por investimentos e intra estrutura. ! Concorrência na América do Sul O mercado farmacêutico da América do Sul tem despertado interesse das grandes indústrias para investimentos em desenvolvimento de novos Produtos Investigacionais por exibir altas taxas de crescimento. Experimentou entre 2009 e 2010 um aumento de 24 % das receitas oriundas de vendas de medicamentos, enquanto que os EUA e Europa este crescimento foi de 3 % e 1 % respectivamente (IMS Health, 2011). De acordo com o Banco Mundial, o Chile e a Argentina possuem valores aproximados em Renda Per Capita, em 2010 U$ 14,9 mil contra U$ 14,6 mil. Nesse mesmo ano, o Brasil alcançou U$ 10,8 mil (THE WORLD BANK, 2012). Mesmo com uma Renda Per Capita menor, o território brasileiro pode apresentar mercado mais vantajoso sob os demais. Para as indústrias farmacêuticas, o país é mais vantajoso pela sua densidade populacional e crescimento econômicos, e pelas seguintes (ABRACRO, 2012) vantagens específicas: - Experiência dos Investigadores; - Acesso ao quantitativo considerável de pacientes; - Excelente registro e qualidade dos dados coletados; - Valores inferiores de despesas quando comparados com EUA e Europa; - Padrões de doenças similares aos encontrados nos EUA e Europa, inclusive câncer; - Situações climáticas (quando está inverno no Norte, está verão no Sul) pode ser útil para análises de doenças com interferências sazonais; - Relação de confiança entre paciente e médico, o que facilita inclusão nos estudos e adesão ao tratamento. As desvantagens apontadas da América do Sul, como um todo, incluem a diversidade cultura, étnica e governamental entre os países. Entretanto, o maior dificultador é o cenário 57 regulatório que confere tempo superior à aprovação de estudos clínicos e comercialização de medicamentos nos demais países e principalmente no Brasil (RODRIGUES, 2007). Considerada como a maior concorrente do Brasil, Argentina, apresenta em números um pouco menos de experiência. Segundo Clinicaltrials.gov (2012), em setembro de 2012, dos 13 estudos abertos na América do Sul em fase I em oncologia, 9 eram conduzidos pelo Brasil enquanto 6 pela Argentina, (ressaltando que quando o estudo é multicêntrico pode ocorrer em mais centro de pesquisa ao mesmo tempo), conforme Figura 9. Figura 9: Mapa dos Estudos Clínicos Fase I em Oncologia Abertos para a Inclusão na América do Sul de acordo com ClinicalTrials.gov em Setembro de 2012 Fonte: Clinicaltrials.gov (acesso em setembro de 2012) 58 !Concorrência Nacional: Principais Concorrentes da Coordenação de Pesquisa Clínica para Fase I do INCA No que diz respeito ao suporte necessário para o desenvolvimento de um medicamento em oncologia em nível nacional temos um cenário de ausência de padronização de dados publicados por órgãos reguladores. Somando-se os dados registrados na Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC, 2012), ANVISA (2012) e Clinical Trials (2012) há citados aproximadamente 64 centros de pesquisa clínica em oncologia, que desempenham todas as fases de estudos clínicos, distribuídos por Estados, sendo que, 7 centros de pesquisa clínica em oncologia que realizaram ou realizam estudos clínicos na fase I, conforme Tabela 6. No tocante ao Modelo de Negócios, dos 64 centros de pesquisa, notamos em suas páginas na internet (sites) que há diferentes formas de estruturação e gerenciamento. Alguns centros de pesquisa não são totalmente integrados e não possuem uma estrutura centralizada para a condução dos estudos, são compostos por diferentes departamentos, cada qual com sua linha de pesquisa direcionada para diversos tipos de doenças. Nesse cenário cada pesquisador obtém suas receitas oriundas do contrato e do orçamento de um estudo clínico específico de maneira que permita o desenvolvimento do mesmo. Tabela 6: Centros de Pesquisa Clínica em Oncologia no Brasil Estados Total de Centros de Pesquisa em Total de Centro de Pesquisa em oncologia (todas as fases) oncologia com experiência em fase I São Paulo 27 3 Rio Grande do Sul 11 2 Rio de Janeiro 8 2 Bahia 4 0 Paraná 6 0 Goiânia 2 0 Natal 1 0 Minas Gerais 3 0 Ceará 2 0 Total 64 7 Fonte: Elaborada pelo próprio autor a partir de SBPPC (2012), ANVISA (2012) e Clinical Trials (2012) 59 Teoricamente todos os 64 centros de pesquisa clínica conduzem estudos de fase II e III, e podem conduzir estudos clínicos de fase I, tendo em vista a ausência de exigências oficiais, certificações e regulamentações necessárias para conduzi-los. Entretanto, é fundamental a associação de vários tipos de conhecimento no planejamento e gerenciamento do estudo, juntamente com uma complexa infraestrutura, parcerias com indústrias farmacêuticas e outras instituições, recursos humanos qualificados, recursos materiais avançados e disponibilizados, e uma estratégia de recrutamento eficaz de pacientes, o que resulta na competência da equipe de um centro de pesquisa em desenvolver estudos de fase I e, portanto um meio de obter vantagem competitiva sobre os demais (Quental, 2006). Pelo registro na base de dados Clinicaltrials.gov (2012) existem 6 centros de pesquisa nacionais que já realizaram estudos clínicos de fase I, além do INCA. Por meio de informações contidas nas páginas da internet (sites) das próprias Instituições podemos identificar alguma aptidão frente às indústrias farmacêuticas e órgãos reguladores éticos, assim como as possíveis dificuldades para a condução nesta etapa. Apesar de nenhum deles apresentar uma unidade específica para estudos nesta fase, são considerados como concorrentes diretos do INCA, pois podem competir na escolha da indústria farmacêutica quanto ao centro condutor. O Quadro 4 resume o perfil dos centros de pesquisa considerados como principais concorrentes nacionais do INCA. Dentre os 6 centros citados no Quadro 4, o ICESP foi considerado como o concorrente nacional mais importante para o INCA. Pelas razões enumeradas nos seus pontos fortes, o Instituto foi estruturado em 2008 e tem como visão ser um centro de pesquisa de referencia em nível internacional na área do câncer (ICESP, 2012). 60 Quadro 4 - Principais Concorrentes Nacionais do INCA Principais Dificuldades Pontos Fortes Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP, 2012) Maior Hospital Público de SP , Gestão pelo Governo, Secretaria do Estado de Saúde e Fundação Diretrizes ensino, assistência e pesquisa, Vínculo com universidade e hospital de ensino Especializado em oncologia, Parcerias com Indústrias Farmacêuticas e Biotecnologia Setor de Pesquisa Clínica integrado com a Pesquisa Básica e Translacional Capacidade Física instalada, Área Técnica e Administrativa Recursos Humanos especializados, Divulgação sobre estrutura para conduzir estudos de fase I Capacidade para recrutamento Triagem de pacientes restrita no Estado Unidade de Pesquisa Clínica do Hospital do Câncer de Barretos (Hospital do Câncer de Barretos, 2012) Especializado em oncologia, Recursos Humanos especializados Parceria com centro de pesquisa em oncologia molecular Capacidade Física, Imagem favorável, Divulgação sobre estrutura para conduzir estudos de fase I Instituto Particular com parceria com a Secretaria Municipal de SP Organização descentralizada em várias unidades hospitalares Unidade específica para ensino e pesquisa Expertise no desenho e condução de estudos clínicos incluindo fase I Parcerias com MS, indústrias farmacêuticas e órgãos de fomento Parcerias Público-Privada com instituições nacionais e internacionais Foco na pesquisa experimental, pré-clínica e clínica, inclusive oncologia molecular Localização aproximadamente 400 km da Capital Pouca divulgação em nível nacional da pesquisa clinica Capacidade para recrutamento Não realiza atividades exclusivamente na área de oncologia Instituto de Ensino e Pesquisa da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (ALBERT EINSTEIN, 2012) Instituto privado com parceria com a Secretaria Municapal de São Paulo Organização descentralizada em vária unidades hospitalares Não é específico em Oncologia Capacidade de Recrutamento Unidade específica para ensino e pesquisa Expertise no desenho e condução de estudos clínicos incluindo fase I Parcerias com Ministério da Saúde, indústrias farmacêuticas e órgãos de fomento Parcerias Públicos – Privada com instituições nacionais e internacionais Foco na pesquisa experimental, pré-clínica e clínica 78 Centro de Pesquisa Clínica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA, 2012) Hospital Público com convênio com Hospital Não realiza atividades exclusivamente na área de Universitário e Universidade Federal oncologia Recebe apoio financeiro com MS, MCT, MEC e Localização e Acesso FINEP Capacidade de recrutamento Estrutura compartilhada com outras especialidades terapêuticas Hospital da Cidade de Passo Fundo (HCPF, 2012) Conduziu um estudo clínico de fase I em oncologia Localização (região Sul do país) Capacidade de recrutamento Fragilidade na captação de recursos financeiros Não possui serviço específico para oncologia e para pesquisa clínica Unidade de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF, 2012) Atividades de pesquisa clínica não específicas para oncologia Recursos Financeiros oriundos do MS e MCT Capacidade para recrutamento de pacientes Projeto para ampliar infraestrutura em pesquisa Infraestrutura fragmentada de acordo com clínica especialidades terapêuticas Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) adaptado dos sites específicos dos Centros de Pesquisa. Hospital Universitário Do ponto de vista da concorrência regional, temos o cenário do Estado do Rio de Janeiro ainda mais seletivo, mesmo com um número razoável de hospitais e clínicas públicos e privados. Foram listados, na base Clinicaltrials.gov, 4 centros de pesquisa clínica em oncologia, 2 particulares e 2 públicos. Os 2 públicos já realizaram estudos clínicos de fase I e já foram citados (Unidade de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e o INCA), ao contrário dos 2 centros privados que não possuem experiência em estudos nesta fase. Apesar disso, os centros privados concorrentes do INCA apresentam as seguintes características: - Aspectos Estruturais: Apesar de não apresentarem uma demanda de atendimento de pacientes semelhante aos centros públicos em oncologia, os centros de pesquisa privados conduzem estudos clínicos de fase II e III, e apresentam competências componentes e arquiteturais como estrutura física adequada e recursos humanos exclusivos e qualificados para conduzirem estudos de fase I, para os casos em que houver oportunidade. - Perfil de Pacientes: Um fator que pode influenciar positivamente a inclusão de um centro de pesquisa privado é o perfil de pacientes que são atendidos, e que geralmente são 79 diferenciados da parcela da população atendida pelo SUS. São incluídos o nível sócio, econômico e cultural que permitem características comportamentais e maior adesão ao tratamento proporcionado aumentando dos fatores de sucesso para a cura ou o controle da doença. - Aspectos Terapêuticos: Alguns tipos de cânceres permitem que sejam prescritas aos pacientes várias linhas de tratamento, quando o tratamento anterior não produz mais o resultado esperado, é oferecido outro tipo de medicamento. Apesar da crescente incorporação de tecnologias pelo SUS, muitos medicamentos estão disponíveis exclusivamente no sistema privado (REDE CÂNCER, 2012) e em alguns desses casos, as diretrizes terapêuticas podem divergir e influenciar no próximo tratamento a ser realizado. No desenho de um estudo clínico, o tipo de molécula a ser pesquisada pode ser tão seletiva que exige que o paciente tenha sido exposto à outras estratégias terapêuticas existentes somente em redes privadas, direcionando ainda mais os critérios de seleção de pacientes para a entrada em um estudo clínico. 80 4.3 Principais Tendências Cacciotti et al (2012), listam três questões fundamentais para destacar a oportunidade de desenvolvimento de medicamentos no mercado, e nessas três questões a especialidade oncologia pode ser a resposta: Onde está permanecendo a necessidade médica? Quais são os medicamentos que continuam a ganhar força com a inovação? Onde há oportunidade para uma forte proposta de valor para os clientes? A biotecnologia modificou o modus operandi de P&D farmacêutico, sendo o início da cadeia de valor dessas indústrias e o valor de criação mais importante desse setor. Os novos produtos de base biotecnológica constituíram-se um nicho lucrativo. O segmento de medicamentos oncológicos foi um dos mais impactados pela biotecnologia moderna, particularmente com a descoberta dos anticorpos monoclonais (MABs)6. Segundo dados do IMS Health (2011), respondeu por quase 7% do mercado farmacêutico mundial em 2010 (U$ 751 bilhões), e tem crescido a taxas superiores à média da indústria. Dos 10 produtos biológicos líderes em vendas em 2010, cinco eram MABs e quatro destes antineoplásicos. No Brasil, apesar de constituírem somente 2% de medicamentos importados, representam 46% dos gastos públicos com as importações e são consumidos apenas dentro de hospitais, não disponibilizados em farmácias (ARAGÃO, 2011). No caso dos produtos biotecnológicos contra o câncer, a Genentech, adquirida pela Roche em 2009, é a responsável por líderes de venda desse segmento, como o Avastin, o Mabthera e o Herceptin e tem levado grandes corporações farmacêuticas a adquirir e controlar processos tecnológicos e mercados associados relativos a esses produtos. IMS Health (2012) estima que até 2016, sete dos dez principais medicamentos globais será um biológico. E a adoção de genéricos como alternativa de baixo custo para os medicamentos biológicos originais permanecerão limitada, pois os biológicos permanecem protegidos por patentes ou exclusividade de mercado em muitos países. ____________________________ 6 A descoberta por César Milstein e Georges Köhle, em 1975, de que era possível gerar proteínas a partir da engenharia genética, substâncias terapêuticas de base biotecnológica, denominadas anticorpos monoclonais (MABs), capazes de serem utilizadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar corpos estranhos (células tumorais, bactérias e vírus), abriu caminho para a investigação de novas possibilidades de diagnóstico e tratamento. Nos anos 80, novas técnicas de engenharia genética possibilitaram a humanização desses anticorpos, mediante a modificação dos genes responsáveis pela produção dessas proteínas, com o objetivo de eliminar a reação imunológica do organismo humano (SANTOS et al, 2006). 81 Na busca pela liderança no ranking das indústrias farmacêuticas global, para obterem portes suficientes e atuarem com mais competitividade, os grandes laboratórios multinacionais desenvolveram novas estratégias como operações de fusões e aquisições (ROSEMBERG; FONSECA & D’ÁVILA, 2010). As grandes farmacêuticas adquiriram empresas de biotecnologia e/ou de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos. O processo de concentração no mercado mundial tem se acentuado (ROSEMBERG; FONSECA & D’ÁVILA, 2010) e essa tendência de investimento e de reestruturações societárias tem efeito direto na estrutura e na dinâmica das indústrias brasileira, uma vez que as empresas estrangeiras têm posição dominante no mercado nacional (CAPANEMA 2006). No caso dos laboratórios públicos nacionais, vem ganhando força importantes instituições como a Fundação para o Remédio Popular- FURP, em São Paulo, ou FarManguinhos, no Rio de Janeiro, que estão entre os maiores produtores públicos no país e integram a Rede Pública de Produção de Medicamentos juntamente com outros 16 laboratórios públicos de medicamentos. Estes laboratórios oficiais desempenham um papel destacado na Política Nacional de Saúde, seja na produção de medicamentos para o SUS, no suporte à regulação ou no processo de capacitação tecnológica (BRASIL, 2012). 82 4.4 Forças Macroeconômicas Do ponto de vista de parceiras, o Brasil tem chamado a atenção dos laboratórios globais por ser considerado do grupo potencial de países emergentes (“pharmamerging”), (PRICEWATERHOUSECOOPERS, 2009), principalmente pela incerta recuperação dos EUA e a necessidade de expansão de mercado, tendo em vista que este país terá dois terços de suas patentes expiradas em 5 anos. Um relatório desenvolvido pela PriceWaterHouseCoopers em 2009 destaca a competitividade do Brasil na perspectiva das indústrias farmacêuticas e listam mais vantagens do que desvantagens, conforme Quadro 5. Quadro 5: Vantagens e Desvantagens do Brasil Sob a Ótica das Indústrias Farmacêuticas Vantagens • Crescimento no médio e longo prazo, à luz do atual baixo índice de consumo médio de medicamentos per capita; Desvantagens • Carga tributária elevada; • Taxa de juros elevada; • Existência de condições produtivas favoráveis decorrentes da existência de um parque de bens industriais e de serviços instalado no país; • Baixo investimento em pesquisa • Crescente base científica no campo da saúde; e desenvolvimento; • Potencial de crescimento do consumo de genéricos; • Desigualdade Social; • Diversidade étnica e perfis epidemiológicos heterogêneos; • Colocação desfavorável no índice de • Sem conflitos étnicos e religiosos; percepção de corrupção da Transparency International; • Não fazem fronteira com países em guerra; • População substancialmente menor • Ambiente regulatório organizado; do que as da China e da Índia (principais • Regime de patentes em conformidade com o Acordo Sobre os Direitos da Propriedade Intelectual; concorrentes). • 85 % da população vivendo em área urbana, o q facilita o acesso aos medicamentos. • Sistema de saúde público teoricamente cobre cerca de 90% da população, o que contribui para a demanda por medicamentos. Fonte: PriceWaterHouseCoopers, 2009 83 Mudanças no ambiente macroeconômico nacional, com a conjugação de esforços para especialização de recursos humanos, parcerias público-privada e o apoio do Congresso Nacional para que a ciência, a tecnologia e a inovação, podem impulsionar a competitividade no campo da saúde caso sejam reconhecidas como prioridades governamentais. No Brasil, os investimentos em P&D destinados à ciência e tecnologia aplicados em 2008 foram de 1,18% do PIB, apesar de não estar no patamar da média dos países da OCDE de 2 % do PIB (GADELHA et al, 2009). Resumindo, os quatro fatores externos do ambiente de Instalação da UPC fase I no Brasil, temos as seguintes afirmações: - Menor investimento em P&D para saúde quando comparado aos EUA, Europa e Japão; -Desvantagem competitiva mundial, China como principal concorrente dos pharmamerging e Argentina como país da América Latina para conduzir estudos clínicos de fase I; - Grande Déficit da Balança Comercial causado pelas importações de oncológicos; - Políticas Públicas Governamentais em desenvolvimento para qualificar recursos humanos, mobilizar instâncias regulatórias, ampliar capacidade física, formar parcerias entre bigfarmas, fortalecer as indústrias farmacêuticas nacionais e laboratórios públicos; - Crescimento no quantitativo de centros de pesquisa clínica em território nacional, entretanto alguns com especialidade em oncologia e poucos com experiência em fase I; - INCA como instituição de referência que regulamenta e direciona práticas preventivas e terapêuticas em oncologia no Brasil, desenvolve pesquisas clínicas para novas estratégias de tratamento e testes diagnósticos, inclusive durante a primeira fase de desenvolvimento concretizando a Unidade de Pesquisa Clínica Fase I em Oncologia. 84 5 - Modelo de Negócios da Coordenação de Pesquisa Clínica e Incorporação Tecnológica do INCA A Coordenação de Pesquisa Clínica e Incorporação Tecnológica do INCA está inserida na Coordenação Geral Técnico-Científica do INCA e está sub-dividido em (INCA, 2012): - Coordenação de Estudos: responsável pela elaboração e condução de estudos clínicos multicêntricos ou não de Fase I a IV para todos os tipos de câncer e pela formação de recursos humanos em pesquisa clínica. - Área Representativa de Pesquisa Clínica (ARPC): responsável pelo fluxo de dados dos estudos institucionais gerenciados pela Coordenação de Pesquisa Clínica sejam eles observacionais ou de intervenção, clínicos ou translacionais, institucionais ou multicêntricos. A Área dá suporte aos estudos da Coordenação de Pesquisa Clínica desde 2004, realizando cálculos amostrais, randomização, elaboração de Case Report Form (CRF)7, criação e gerenciamento de bancos de dados, monitorias, farmacovigilância e análises estatísticas. - Pesquisa Translacional: transforma descobertas científicas produzidas em laboratórios de pesquisa básica, pesquisa clínica e pesquisa populacional em aplicações práticas. A estrutura do Laboratório de Pesquisa Translacional é atualmente coordenada por um Pesquisador Pleno e realizada em conjunto com outros pesquisadores institucionais plenos, juniores, bolsistas de aperfeiçoamento, técnicos, estudantes de pós-graduação e graduandos. - Bioinformática envolve a importância da linguagem de dados de programação dos bancos de dados, sistema operacional, lógica de programação para análise de genomas, transcriptomas e proteomas. A UPC fase I estará inserida na Área de Coordenação de Estudos da Pesquisa Clínica do INCA e para construir o Modelo de Negócios desta unidade foi necessário abordar previamente seu Modelo de Negócios como proposto por Osterwalder e Pigneur (2010). ____________________ 7 Consistem em formulários criados pelos próprios clientes ou por empresas contratadas por eles para coleta dos dados necessários para a análise estatística. Podem ser eletrônicas ou em papel (CRF, 2009). 85 5.1 Proposta de Valor da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA Antes de abordar a Proposta de Valor da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA, listaremos metodologicamente em três etapas, os principais serviços ofertados para o desenho, condução e análise dos estudos clínicos, conforme Quadro 6. Quadro 6: Principais Serviços da Pesquisa Clínica do INCA !"#$%&'()*$ +(",-'%$*$.&'()*$ !/&$.&'()*$ $ $ $ $ 01$ +%&%-2*$)*$!"*'*3*4*$ R1$ D%3"(',E%-'*$)%$3,-)7),'*&$ 051$ ?%32,E%-'*$)*&$),)*&$ 51$ 67,87479,:;*$)*$<+=>$?%,&78747'@$%$$$$$ S1$ O-34(&;*$)%$F,37%-'%&$ 67&7',$)%$A(,47B73,:;*$ C1$ D%3%87E%-'*$),$,F"*G,:;*$)*$ T1$ <*-'"*4%$),&$,'7G7),)%&$%&&%-37,7&$F,",$,$ !"*)('*$O-G%&'7W,37*-,4>$,G,47,:;*$)%$ B,"E,3J('73,$ '*U737),)%&>$"%F*"'%$)%$%G%-'*&$,)G%"&*&$ 0P1$ ="H(7G,E%-'*$)*$%&'()*$ $ &#"7*&>$,3*EF,-2,E%-'*$%E$4*-W*$F",9*$ ,3*EF,-2,E%-'*$),$<MN.!$%$ F,",$3X43(4*$)%$&*8"%G7),>$B,G*"%3%"$ =N6OL=$ E*-7'*"7,&$ P1$ <*-'",'*$ 0K1$ !(8473,:;*$ %U%3(:;*V$,)E7-7&'",:;*$%$,)%"J-37,$,*$ 3%-'"*$)%$F%&H(7&,$F%4,$7-)I&'"7,$ K1$ L(8E7&&;*$,*$<.!$%$ 0C1$ =-X47&%$.&','\&'73,$ 0Y1$ !"%%-327E%-'*$)*$!"#$%&$'()*%+(),$ Q1$ 67&7',$)%$O-737,:;*$ Z<D?[$ 001$<*-'"*4%$%$.-G7*$)%$+*3(E%-'*&$,*$<.!$ Fonte: Elaborada pelo próprio autor (2012) - Pré Estudo 1. Desenho do Protocolo: Quando se trata de estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas, a responsabilidade por garantir que o desenho do protocolo seja válido ética e cientificamente é do patrocinador com a ciência posterior do pesquisador principal da instituição onde será realizado. Por outro lado, quando o estudo é de institucional também conhecido como “patrocinador-investigador”, o investigador submete o desenho do protocolo para uma avaliação interna da indústria farmacêutica que fornecerá a medicação a ser utilizada. 2. Viabilização do CDA, Feasibility e Visita de Qualificação: Depois de estabelecido o desenho do protocolo ou na sua etapa final, o patrocinador identifica e avalia os potenciais 86 investigadores e centros de pesquisa pela a capacidade de recrutamento, infraestrutura disponível e qualidade na prestação dos serviços. Durante esse processo ocorre: o Acordo de Confidencialidade, Questionário de Feasibility e Visita de Qualificação (LOUSANA & ACCETTURI, 2007). A resposta desta avaliação será a aprovação do centro de pesquisa para iniciar o estudo. 3. Aprovação do centro de pesquisa: Em seguida para a aprovação do protocolo por autoridade(s) regulatória(s) éticas e técnicas é preparada uma série de documentações necessárias à apreciação dos comitês que envolvem as equipes do centro de pesquisa e dos patrocinadores. Além disso, o patrocinador se responsabiliza por garantir as Boas Práticas de Fabricação do Produto Investigacional e a Brochura do Investigador atualizada para que sejam fornecidos às instâncias juntamente com outros documentos essenciais (LOUSANA & ACCETTURI, 2007) 4. Submissão ao CEP, CONEP e ANVISA: Um pacote regulatório contendo os documentos essenciais exigidos pelas instancias regulatórias são elaborados em conjunto com a Indústria Farmacêutica e o Centro de Pesquisa, e posteriormente são submetidos à avaliação. 5. Contrato: Independente se o estudo é institucional ou patrocinado, ocorre em sequência, a oficialização entre as partes envolvidas por meio do contrato. 6. Visita de Iniciação: Após a obtenção de todas as aprovações, será realizado um treinamento entre indústria farmacêutica e todos os membros da equipe do centro de pesquisa sobre o tratamento e a logística do protocolo. Esta etapa também é conhecida como Visita de Iniciação (LOUSANA & ACCETTURI, 2007). - Durante a Condução do Estudo: 7. Recrutamento de Candidatos: Após a Visita de Iniciação, a equipe do centro de pesquisa encontra-se apta a iniciar a inclusão de pacientes. A enfermeira de pesquisa desenvolve estratégias de recrutamento de candidatos com perfil dos estudos clínicos de forma manter um número satisfatório de pacientes incluídos. 87 8. Inclusão de Pacientes: Como estudos de fase II e III envolvem um número maior de pacientes a serem incluídos, a inclusão de pacientes é considerada importante para a competitividade do INCA. À medida que o recrutamento é bem sucedido, a inclusão de pacientes mantém crescente. Caso contrário um número alto de falhas de triagem8 pode ocorrer. 9. Condução do estudo propriamente dita: inclui o controle das atividades essenciais para a execução do protocolo com o registro da administração e aderência ao Produto Investigacional, consultas médicas frequentes para avaliação de toxicidades, reporte de eventos adversos sérios, acompanhamento em longo prazo para sobrevida pacientes, acompanhamento de monitorias e soluções de discrepâncias. 10. Preenchimento de formulários: Todas as ocorrências registradas no prontuário do paciente (documento fonte) no período do estudo serão transmitidas pelo Preenchimento do Case Report Form. 11. A elaboração e o envio dos documentos para conhecimento e aprovação do Comitê de Ética é fundamentalmente realizado e controlado pelo centro de pesquisa. Posteriormente ele é conferido pela equipe de monitores. - Pós estudo: 12. O fechamento dos dados coletados inclui a complementação de informações, resolução de dúvidas restantes para a análise estatística; 13. A análise estatística busca reunir e interpretar os dados de forma que estes respondam aos objetivos dos estudos clínicos. Podem ser realizados pela indústria farmacêutica ou pela equipe da ORPC do INCA; 14. A publicação do estudo e apresentação em congressos é um meio de tornar público os resultados do estudo; ________________________ 8 - Pacientes que foram triados, mas por diversos critérios de avaliação não puderam iniciar o tratamento, por exemplo: alguma condição clínica que não permita o paciente fazer uso da medicação do estudo, algum resultado de imagem ou laboratorial que não permita a avaliação futura do paciente, impossibilidade de cumprir o período de triagem, etc. 88 15. Com tudo solucionado o arquivamento de todos os documentos gerados é necessário, pois auditorias internas vinculadas à indústria farmacêutica patrocinadora ou às autoridades regulatórias, como ANVISA, FDA ou EMEA podem decidir por uma inspeção no centro e revisar todos os dados originais do estudo. A proposta de valor da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA inclui como diferencial: - Desempenho: Com equipe especializada e dedicada exclusivamente atendendo aos padrões internacionais de infraestrutura e as exigências das instâncias regulatórias; - Imagem: Reconhecido em nível internacional por ser referência no tratamento oncológico, o INCA apresenta uma imagem positiva; - Acessibilidade: Localizado no centro do Rio de Janeiro com múltiplos meios de transporte para o seu acesso, não haverá quaisquer dificuldades para os envolvidos que necessitem dos serviços ofertados pela UPC fase I; - Redução de Risco: Equipe especializada e treinada, recursos materiais e equipamentos hospitalares modernos e calibrados, setores de atendimento em emergência, terapia intensiva, laboratório de análises clínicas, infusão de quimioterapia, farmácia, exames de imagem com acesso imediato minimizam o risco de intercorrencias no tratamento dos pacientes. Como vantagens competitivas da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA incluem: a capacidade em recrutar pacientes para participar dos estudos clínicos, por ser um setor parte de uma Instituição de Referência em todo o território nacional. Assim como, prover de recursos humanos especializados e dedicados exclusivamente para exercerem suas funções. 89 5.2 Interface com os clientes 5.2.1 Segmento de Clientes Cliente por definição é a pessoa ou instituição que adquire um bem ou serviço (AURÉLIO, 2012). Podemos citar alguns perfis de clientes potenciais e suas demandas mais comuns: - Indústrias Farmacêuticas Multinacionais: Investidoras maciças em P&D, líderes de mercado com uma gama de produtos patenteados, grande potencial para promover inovações radicais, que vêem na UPC fase I um centro de pesquisa apto a realizar atividades de condução de estudos cujos seus Produtos Investigacionais podem ser seguramente administrados. Incluímos, mas não limitamos como potenciais clientes, as indústrias farmacêuticas multinacionais listadas no Quadro 7. Quadro 7 – Potenciais Clientes da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA: Indústrias Farmacêuticas Multinacionais Pfizer GlaxoSmithKline Novartis Merck SanofiAventis Astrazeneca Amgen Whyeth Eli Lilly Morphoteck Roche Bristol Abbott Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) - Indústrias Farmacêuticas Brasileiras: buscam destaque nacional por meio de fusões para tentarem competir em P&D e em produção com as multinacionais. Solicitam os serviços da Pesquisa Clínica do INCA para condução de estudos com seus Produtos Investigacionais. Alguns exemplos estão listados no Quadro 8. Quadro 8 – Potenciais Clientes do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA Indústrias Farmacêuticas Nacionais Aché EMS Pharma Medley Europharma NeoQuímica Biolab Sanus Pharma Recepta Biopharma Libbs Orygen Bionovis Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) 90 - CRO’s8: representantes e intermediadoras contratadas pelas indústrias farmacêuticas para realizar um ou mais de suas atividades e deveres relativos aos estudos clínicos. Durante um estudo clínico, ou até mesmo antes de seu início, o patrocinador pode transferir algumas ou todas as suas obrigações e funções relacionadas ao estudo, incluindo o contato inicial com o centro de pesquisa para iniciar o estudo. Embora as responsabilidades possam ser transferidas a uma CRO, a responsabilidade final pela qualidade e integridade dos dados será sempre do patrocinador (LOUSANA e ACCETURI, 2007). - Empresas de Biotecnologia em Saúde Humana Multinacionais e Brasileiras: Seus negócios estão centrados na genética molecular e frequentemente realizam parcerias com as indústrias farmacêuticas ou são adquiridas pelas mesmas. Utilizam células e biomoléculas para transformá-las em produtos, como meios para diagnósticos, fármacos, vacinas e soros desenvolvidos na pesquisa básica. (FELDBAUM, 2004) - Institucional: Como o cliente o Ministério da Saúde e Governo Federal, o INCA como formulador e executor de políticas públicas contra o câncer tem finalidade de atender a demanda do SUS, por meio inclusive de desenho de estudos clínicos que atendam as prioridades de pesquisas oncológicas com articulação de instituições de pesquisa conforme portarias da RNPCC e REDEFAC (BRASIL, 2011) - Pacientes (cidadãos usuários do SUS): Embora seja um pequeno grupo de clientes, já existem pacientes que por demanda espontânea procuram informações com a equipe de pesquisa clínica do INCA para verificar a disponibilidade de estudos clínicos abertos para direcionados para a sua doença. _____________________ 8 – CRO – sigla que significa contract research organization (LOUSANA E ACCETURI, 2007). 91 O segmento de clientes atende a classificação de Osterwalder e Pigneur (2010) como inseridos em um mercado de nichos, cujos grupos são restritos e apresentam necessidades especializadas. Segundo Pinto (2008), embora existam 10.000 empresas fabricantes de produtos farmacêuticos, em apenas 100 estão concentrados 90% dos produtos farmacêuticos para consumo humano. Os principais segmentos de clientes são as indústrias farmacêuticas multinacionais centradas em um ambiente oligopolizado cujas barreiras à entrada no mercado são grandes e a concorrência se estabelece predominantemente por meio de formas alternativas que não os diferenciais de preços, ou seja, preferencialmente por diferenciações estratégicas baseadas na inovação de produtos, na tecnologia utilizada, no posicionamento das marcas, no portfólio abrangente e na utilização de medicamentos que possuem suas patentes a vencer, sendo apresentados com novas indicações e utilizações. Dessa forma é estabelecido que os clientes (contratantes) são por vezes considerados os patrocinadores dos estudos clínicos. 5.2.2 Relacionamento com o Cliente O relacionamento do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA e das indústrias farmacêuticas é legalmente embasado por contrato, documentos e regulamentações que determinam seus papéis e limites de atuação (ICH, 2005; LOUSANA & ACCETURI, 2007). Inclui: - Acordo de Confidencialidade, quando o pesquisador principal garante o sigilo de informações de propriedade da indústria farmacêutica; - Contrato, que explicita os direitos e deveres de ambas as partes; - Declaração de Infraestrutura, atestando capacidade física instalada para atender aos requisitos dos clientes; - Protocolo, pois é uma forma de ciência para que as atividades previamente planejadas sejam realizadas; - Declarações atestando o cumprimento de regulamentações mundiais e nacionais como Boas Práticas Clínicas (ICH, 2005; CNS, 1996; ANVISA, 2009) que de uma forma geral padronizam as ações necessárias. 92 5.2.3 Canais de Comunicação Para a divulgação dos serviços: Por já possuir uma trajetória de pesquisa clínica, a divulgação dos serviços não é individualizada para cada cliente, pois estes já conhecem a oferta de serviços do INCA, sendo o contato realizado quando há propostas de estudos. Quando o interesse é do pesquisador da instituição, o mesmo submete o projeto à seleção da indústria farmacêutica. Estão incluídos como meios de comunicação reuniões e visitas presenciais de uma forma generalizada, uso de recursos da internet com publicações no site do INCA, registro na base de dados Clinicaltrials.gov, e participação de membros da equipe em conferências, congressos e palestras. Para a realização dos serviços: Capacidade física instalada, recursos de internet e telefone, espaço exclusivo para reuniões são providos pelo Serviço de Pesquisa Clínica do INCA. Além disso, o ambiente hospitalar necessário à execução de atividades do protocolo é compartilhado com a já estruturada infraestrutura do INCA. Para a entrega da proposta de valor: Seguindo os padrões das regulamentações (ICH, 2005), todas as informações sobre a condução do estudo serão transmitidas da mesma maneira entre todas as fases dos estudos clínicos, sejam elas I, II ou III, por meio de formulário de fichas clínicas ou Case Report Form. À medida que os procedimentos ocorrem, a equipe do centro de pesquisa registra as informações necessárias em prontuário médico, que são conferidas pelo monitor de pesquisa clínica, para então serem entregues aos clientes. A avaliação dos clientes: É documentada por relatórios e mensurada pela quantidade de questionamentos e inconsistências dos dados analisados, por uma necessidade de correção ou complementação de informações. Além disso, quando um procedimento não ocorre conforme determina o protocolo, independente da causa, é considerado um desvio ou violação (ICH, 2005) que também são acrescentados pelos clientes e considerados para determinar a qualidade dos serviços gerados pelo centro de pesquisa. 93 5.3 Gestão de Infraestrutura: Atividades-Chave, Recursos-Chave e Parcerias-Chave A gestão do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA se justifica pela priorização e organização para realizar atividades, arrecadar recursos, captar e manter parceiros e clientes. A unidade iniciou suas atividades em 1998 com 3 funcionários e atualmente atua com cerca de 80 funcionários e 70 estudos clínicos em andamento. (Dados não Publicados, INCA, 2012). 5.3.1 Atividades-Chave As atividades-chave incluem: • Seleção de Estudos Clínicos Fundamentais para formar uma logística que concilie os interesses institucionais, governamentais e dos clientes, e garantir a satisfação de todos. Esta seletividade evita a má distribuição no número e na indicação de estudos clínicos direcionados para mesmo perfil de pacientes de forma que concorram em número de pacientes incluídos, e captar estudos que exista necessidade institucional em fornecer alternativas terapêuticas. • Recrutamento: Certamente uma das atividades que mais merece destaque. A capacidade de recrutamento de um centro de pesquisa é uma das características mais relevantes e por isso é uma das primeiras informações que as indústrias farmacêuticas requisitam. Qual é a capacidade do centro de pesquisa em recrutar pacientes com o perfil do estudo clínico e em quanto tempo é possível captar um determinado número de candidatos, são dois questionamentos comuns e que um centro de pesquisa deve fornecer. A depender do tipo de pacientes a ser recrutado, uma estimativa do tempo entre a aprovação final de um protocolo multicêntrico nos EUA e Europa e a inclusão do primeiro paciente está entre 10 à 14 semanas e 13 meses para o término da inclusão (GOLDFARB, 2005). Conforme já abordados no Gráfico7, por exemplo, 30 % do tempo investido nas etapas necessárias para o desenho e condução do estudo correspondem a esta atividade (WOOD, 2004). 94 Um estudo Phrma (2010), afirma que aproximadamente 80% dos estudos clínicos excedem o tempo previsto por dificuldades no rastreamento de candidatos, contabilizando aproximadamente 90 dias de atraso, incrementando os custos. Os dificultadores na captação incluem: - Critérios de inclusão: que apresentam rigidez na seletividade dos pacientes muitas vezes com a necessidade de mutação genética ou características raras; - Cronograma do estudo: acarreta na necessidade de locomoção ao centro de pesquisa tendo em vista que as consultas médicas e procedimentos são freqüentes e demandam do paciente a disponibilidade para o comparecimento. Para cumprir esta atividade-chave, o Serviço de Pesquisa Clínica do INCA possui uma enfermeira de triagem que direciona sua atenção aos pacientes matriculados na Instituição com perfil para participar do estudo clínico por meio de busca ao banco de dados e análise de prontuários. • Preenchimento de Case Report Form (CRF) O documento que formalmente fornece informações aos clientes sobre os sujeitos incluídos no estudo clínico é o Case Report Form. Esses dados estão direcionados para obter as respostas dos questionamentos motivadores do estudo clínico. Sua importância foi brevemente descrita na seção 5.2.3 sobre os Canais de Comunicação. Geralmente essas informações são coletadas do documento-fonte, as quais em sua maioria estão contidas no prontuário médico do paciente, pelo coordenador de estudos. A agilidade dos dados informados, seguidos da precisão e fidedignidade permite aos clientes o acesso as informações e o arquivamento destas no banco de dados para a análise posterior. É inexistente uma regulamentação que determine qual o intervalo de tempo necessário entre a ocorrência de um procedimento, seu registro no documento fonte e a transcrição desses dados na CRF, variando entre 2 e 10 dias úteis o período requisitado. Complementando os prazos, em média os clientes solicitam que entre 5 e 7 semanas após a inclusão do último paciente todos os dados coletados estejam inseridos na CRF e conferidos pelos monitores de pesquisa clínica (GOLDFARB, 2005). Esses dados provavelmente originam análises estatísticas interinas. Estima-se que 75 % dos pacientes incluídos produzem dados avaliáveis (GOLDFARB, 2005). A perda de 25 % é contabilizada pela desistência do paciente no estudo clínico, em 95 falhas no recrutamento, não cumprimento nos critérios estabelecidos para inclusão ou exclusão que excluam o paciente da análise dos dados e uma parcela mínima por perda de registros em documento fontes. • Monitorias Estudos clínicos de fase II e principalmente de III costumam incluir quantidades maiores de pacientes, são multicêntricos, e por terem em seus objetivos análise de eficácia e de sobrevida podem demandar anos para o desfecho. As atividades de monitoria incluem contínua e periodicamente conferência dos dados gerados com os procedimentos dos estudos. É uma forma de fornecer a comunicação aos clientes sobre o que ocorre no centro de pesquisa, assim como é uma forma de prover recursos pelos serviços executados (As informações sobre prover recursos financeiros será abordada no próximo capítulo). 5.3.2 Recursos – Chave Os recursos abordados a seguir incluirão recursos físicos, humanos e financeiros considerados como relevantes. A) Recursos Físicos Os recursos físicos chave incluem aqueles destinados à entrega do serviço, geração de informações e registro das mesmas. Consiste no ambiente com internet e sistema de computação de alta qualidade para envio dos dados e para os dados reportados por papel armazenamento em locais com acesso restrito aos profissionais da equipe para a entrega dos formulários. O espaço físico da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA inclui a área administrativa composta por salas de reunião, salas de coordenação, salas de monitoria, divididas com as demais áreas de Pesquisa incluindo a Pesquisa Básica e a Área Representativa de Pesquisa Clínica. Os recursos físicos da área assistencial apesar de não considerados como chave são relevantes para procedimentos terapêuticos do estudo. A estrutura é compartilhada com a as mesmas do tratamento do INCA, assim como os equipamentos médico-hospitalares e os 96 insumos, incluindo consultórios ambulatoriais, unidades de internação, unidade de quimioterapia, radiologia, laboratorial, radioterapia e emergência. B) Recursos Humanos Antes de abordamos os recursos humanos, iremos brevemente mencionar em que estrutura organizacional se encontra a Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA e em que ambiente os recursos estarão inseridos com base no modelo teórico de Henry Mintzberg (Figura 10). Henry Mintzberg (2003) considera que a atividade humana dá origem a duas exigências fundamentais: divisão do trabalho e coordenação das tarefas, envolvendo parâmetros de design e fatores situacionais que determinam a estrutura organizacional de uma entidade. Mintzberg (2003) classifica em cinco as partes básicas de uma organização: cúpula estratégica, linha intermediária, tecnoestrutura, assessoria de apoio e núcleo operacional. Na cúpula encontramos as pessoas com responsabilidade global pela organização, incluindo o presidente e outros dirigentes de alto nível gerencial. A cúpula estratégica é encarregada de assegurar que a organização cumpra sua missão de modo eficaz e também que atenda às necessidades dos que controlam ou que detêm poder sobre ela. Fazendo uma transferência para a Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA, este seria o diretor da unidade. A linha intermediária representa o ponto de ligação entre a cúpula estratégia e o núcleo operacional. Os gerentes intermediários executam várias tarefas no fluxo de supervisão direta acima e abaixo dele. É representado pelo gerente médico, responsável pelo gerenciamento da parte médica, e gerente de coordenação, pela equipe multiprofissional. O núcleo operacional é responsável pela entrada de matéria prima e pela transformação desta em produto. Seriam todos profissionais que executam tarefas correspondentes aos estudos clínicos voltados para área médica ou para área da condução, como: investigadores principais ou sub-investigadores, coordenadores, enfermeiros, farmacêuticos, biólogos, auxiliar de pesquisa clínica e auxiliar administrativo. A tecnoestrutura é responsável pela definição de processos, pelas especificações do produto e a formalização do comportamento. Enquadra-se nesta função o gerente de qualidade. 97 Assessoria de apoio é a área especializada, terceirizada ou não, que tem a função de apoiar a organização fora do fluxo de produção de seu produto principal. Inclui o gerente financeiro e os responsáveis pelo serviço de suporte: internet e rede, manutenção, calibração preventiva e refrigeração. Os mecanismos de coordenação são baseados no ajustamento mútuo e na padronização de habilidades, centrada na comunicação informal e nos conhecimentos dos profissionais que executam com habilidade necessária um processo de alto grau de imprevisibilidade, fundamentado no conhecimento específico proporcionado pelas instituições de ensino formadoras e sistemas de treinamentos. (MINTZBERG, 2003). Todos os membros da equipe de pesquisa clínica possuem treinamento específico documentado para desempenharem suas funções providos pelo INCA ou pelos clientes patrocinadores. Figura 10: As cinco partes fundamentais de uma organização Fonte: Elaborada pela própria autora a partir de Mintzberg (2003) C) Recursos Financeiros: Será abordado neste tópico o meio pelo qual a Coordenação de Pesquisa Clínica pode arrecadar os recursos financeiros oriundos dos serviços prestados às indústrias farmacêuticas patrocinadoras, constituindo do Processo de Contratação. 98 Antes de um estudo clínico ter início no centro de pesquisa, juntamente com os trâmites para a aprovação ética, é firmado um acordo legal contratual. Devido à sua extensão e à linguagem de cunho jurídico, os contratos de pesquisa clínica necessitam ser elaborados, levando em consideração cada caso, pois não há um modelo padrão, por um profissional dedicado a esta função (MARQUES, 2009; 2008). A apresentação deste acordo é fundamentada pela resolução Resolução 196/96 – no parágrafo VI – item j e corresponde às condições financeiras e administrativas bem como aspectos regulatórios e éticos na realização das pesquisas clínicas, incluindo a abordagem perante os deveres das partes envolvidas, seguro, orçamento, prazo para a realização, divulgação de propriedade intelectual e industrial, indenização e rescisão (CNS, 1996). As informações a seguir são oriundas de dados não publicados e foram baseados na rotina de serviços do INCA. Para a formulação do contrato, geralmente é necessário consentimento de três partes interessadas, a Indústria Farmacêutica, Pesquisador Responsável e Instituição (MARQUES, 2008). Entretanto, na realidade do INCA o contrato é quadripartite, ou seja, inclui a Fundação do Câncer, interveniente administradora responsável por gerir financeiramente e administrativamente os recursos oriundos dos projetos de pesquisa. Concomitante a negociação do contrato inclui-se a análise do orçamento, oriundo do patrocinador, pelo gerente financeiro e a interveniente administradora que fundamentam legalmente o recebimento de receitas ao Serviço de Pesquisa Clínica do INCA. As receitas podem ser obtidas conforme a seguir (MARQUES, 2009): - Patrocínio: quando há reembolso integral dos procedimentos pertinentes ao estudo clínico; - Doação: quando a indústria farmacêutica contribui parcialmente com a cobertura dos custos relativos do estudo clínico. Podendo ser em valores monetários ou em infraestrutura. Geralmente ocorre quando o estudo é de iniciativa do pesquisador da instituição, classificado como um estudo institucional. Os valores negociados para a definição do orçamento não são diferenciados por fase do estudo clínico e sim por custos estipulados de todos os procedimentos, avaliações e exames previstos na execução do mesmo. Assim, à medida que o estudo tem início no centro de pesquisa e as etapas vão se realizando, as receitas são geradas e o repasse é realizado das indústrias farmacêuticas para o centro de pesquisa. 99 A interveniente administradora recebe periodicamente uma determinada quantia, variável de acordo com o tipo e número de procedimentos realizados, e o gere em nome da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA. Dessa maneira, o repasse das receitas oriundas de um estudo clínico sofre dupla checagem, dos profissionais das indústrias farmacêuticas, geralmente monitores, que comprovam a realização cada procedimento registrado e documentado nos arquivos e prontuários médicos, e pelos profissionais da Fundação e administrativos do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA. A padronização de valores cobrados em cada procedimento foi realizada pela equipe de gestão do INCA, incluindo o gerente financeiro, com base dos preços cobrados pela Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos da Associação Médica Brasileira (CBHPM, 2008), na Tabela de Preços Unificada do SUS (BRASIL, 2010) e no valor estabelecido pelos patrocinadores. O INCA, e por sua vez a Coordenação de Pesquisa Clínica, é subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, sendo a geração de receitas capaz de suprir parcialmente o setor, pois aproximadamente 40% dos recursos humanos são estatutários, e os equipamentos médico-hospitalares, incrementos de infraestrutura como suporte predial, suprimentos de energia elétrica, água e serviços de telefonia e rede são pertencentes ao Instituto e não oneram diretamente a gestão da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA. Com isso, o total obtido com os estudos clínicos é destinado ao investimento de recursos humanos, treinamento, novos projetos institucionais, que unem o interesse do pesquisador, da Instituição e do Sistema Único de Saúde, garantidos por meio de parcerias interinstitucionais e governamentais. Dessa maneira quando o INCA é escolhido por uma indústria farmacêutica para a condução de um estudo clínico, antes do mesmo iniciá-lo, os seguintes processos ocorrem alguns concomitantemente e outros seqüencialmente, conforme Figura 11. 100 Figura 11: Etapas que compõem o Processo de Contratação do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA Fonte: Elaborada pela própria autora adaptado por Crosta (2010) Os demais recursos financeiros serão providos pelas relações existentes com as agências de fomento e com as indústrias farmacêuticas nacionais e multinacionais que assumem papel ora de clientes, ora de parceiros e ora pelo orçamento do INCA. E serão abordados a seguir ao abordamos parcerias. 5.3.3 Parcerias – Chave A interação entre múltiplos atores estabelecida por meio de parcerias está explícita no conceito do Sistema Nacional de Inovação (LUNDVALL, 1992), situando a inovação como o ponto central por onde as ações governamentais e esforços empresariais convergem. As nações que mais se destacarão no cenário internacional serão aquelas que tiverem desenvolvido um “Sistema Nacional de Inovação” que faça aumentar o número de participantes—companhias, instituições governamentais e centros de pesquisa—com interação fluida e contando com uma rede de trabalho coesa (LUNDVALL, 1992). 101 O ambiente de pesquisa clínica permite estabelecer parcerias em níveis globais, regionais e locais com finalidades administrativas, técnicas e financeiras. Inclui acordos internacionais, empresas públicas e privadas farmacêuticas e de biotecnologia, assim como parcerias intergovernamentais nacionais, instituições de saúde, universidades, corpo regulatório, e com pesquisadores e profissionais de saúde, conforme Quadro 9. Quadro 9 – Meios para Realizar Parcerias com a Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA Parceiros-Chave Meio para Parcerias Importância Desenvolvimento de Políticas Públicas; Alavancar fontes Governo Federal Chamadas Públicas; adicionais de fomento à educação; Regulamentações; Portarias Fortalecer o Complexo Econômico Industrial da Saúde Intermedia Financiamento de Agências de Fomento Editais e Chamadas Públicas Pesquisa; Desenvolvimento e Fortalecimento Nacional Instituições Nacionais, Contratos e Convênios; Compartilha Conhecimento; Universidades, Hospitais, Centros Consultorias; Acordos de Competitividade Nacional; Gera de Pesquisa e Institutos Públicos de Cooperação; Prestação de Serviços; novos produtos e serviços; Co- Pesquisa Treinamento; titularidade; Licenciamento Exclusivo e não exclusivo de tecnologias; Doação Indústrias Farmacêuticas Nacionais de Recursos (como por exemplo, Capacitação; Aquisição de e Multinacionais para infraestrutura: equipamentos Conhecimento e Técnicas médico hospitalares, construção de destinadas à produção de bens e laboratórios; Patrocínios à eventos; serviços; Agrega valor às empresas Treinamento; Consultorias; Contratos Transferência de Tecnologia; Conhecimento; Aumento da Intergovernamentais Acordo de Cooperação; Produção; Buscar oportunidades Contratos externas; Compartilhar recursos e minimizar riscos; P&D em conjunto de tecnologias de interesse. Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) 102 • Governo Federal O Governo Federal, o Ministério da Saúde e agências de fomento vêm desenvolvendo uma política de Estado para o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, de forma a incrementar a produção nacional de insumos por meio da pesquisa e desenvolvimento (GADELHA, 2003). Parcerias Público-Privadas apresentam expectativa promissora nos quais centros de pesquisa, instituições e laboratórios públicos farmacêuticos e empresas farmoquímicas privadas incentivam o desenvolvimento nacional de medicamentos de doenças que atingem a população brasileira por meio do intercâmbio didático, científico e tecnológico e incentivam a oportunidades que contribuam para a inovação no Brasil. A formação desta relação público-privada integra as diretrizes políticas do Complexo Industrial de Saúde (CIS) do país, cuja meta é fortalecer a capacidade produtiva e a inovação das indústrias nacionais de medicamentos. Com essa política pretende-se fortalecer também a indústria fármaco-químico brasileira, elevar a oferta de medicamentos produzidos no país e incentivar a fabricação de fármacos, além de economizar recursos com importações de medicamentos e estimular a geração de empregos (VIDOTTI, 2007). Para a obtenção de financiamento para os projetos de pesquisa, os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia são instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País, que atuam como recursos complementares no desenvolvimento de setores estratégicos incentivando a geração de conhecimento e a transferência destes para as empresas. São administrados pela Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP) subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Existem quatorze fundos setoriais específicos, sendo um deles direcionado à saúde. Por isso não engloba apenas as instituições de ciência e tecnologia (VIDOTTI, 2007). Dada a relevância social, as articulações políticas de fomento à inovação incluem inscrição nos editais com o governo federal por meio de vários órgãos e agências como: - FINEP (2012), através do Programa de Subvenção; Inova Brasil, apoio aos Planos de Investimentos Estratégicos; o INOVAR, programa estruturado de venture capital; e o JURO ZERO, com empréstimos sem juros e pagamento em 100 parcelas. - BNDES (2012), através do Capital Inovador, para capacitação da empresa a inovar de forma contínua e estruturada; Inovação Produção, investimentos para implantação, expansão e modernização da capacidade produtiva. Inovação Tecnológica, projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação com risco tecnológico. 103 - CNPq (2012), através do RHAE – Recursos Humanos em Áreas Estratégicas, que objetiva apoiar a inserção de pesquisadores nas empresas. • Indústrias Farmacêuticas Nacionais e Laboratórios Públicos Primeiramente, vale destacar a relevante mudança na estrutura da oferta do mercado farmacêutico brasileiro a partir do ano 2000. As empresas nacionais, que possuíam pequena expressão nesse setor, estão ocupando, cada vez mais, o mercado, deslocando tradicionais empresas multinacionais de atuação global. A consolidação dos laboratórios farmacêuticos no mercado brasileiro poderá permitir o desenvolvimento de uma indústria brasileira de farmoquímicos em nichos nos quais possa atuar competitivamente. (CAPANEMA, 2006). Entretanto, o cenário para o setor empresarial brasileiro impõe desafios. É composto por empresas que realizam baixos investimentos na geração de inovações que de modo geral, são do tipo incrementais, poucas são para produtos e para o mercado nacional ou internacional. A interação com o setor acadêmico ainda é baixa, assim como, a capacidade exportadora. As empresas estão principalmente voltadas para a demanda do mercado nacional, inclusive em termos regulatórios (GADELHA et al, 2009). Um ponto forte para a produção pública de medicamentos no Brasil é a atuação do BNDES, através do Profarma (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica), com incentivos à expansão das indústrias farmacêuticas nacionais, entretanto a simples oferta de linha de crédito pode não ser suficiente (BNDES, 2012). Ações complementares constituem da definição, por parte do MS, de quais produtos e tecnologias são estratégicos para o sistema de saúde até a utilização do poder de compra do Estado para alavancar a produção nacional, para que haja retorno aos investimentos provenientes do setor farmacêutico nacional, e segurança ao introduzir os produtos no mercado. A Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA tem potencial para estabelecer parcerias com esses atores no desenho e condução de estudos clínicos de forma a contribuir para o desenvolvimento de medicamentos contra o câncer. • Indústrias Farmacêuticas Multinacionais A parceria com as indústrias farmacêuticas multinacionais pode ser viabilizada nos estudos de iniciativa do investigador (institucionais) ao prover o Produto Investigacional, e em 104 alguns casos, também o medicamento já padronizado. O restante dos procedimentos é incorporado como conduta terapêutica de rotina estabelecida pelo INCA. Por este motivo as indústrias farmacêuticas por ora desempenham papel de clientes e por ora de parceiros. • Parcerias Internacionais: Acordos firmados entre Brasil e Cuba são exemplos de parcerias governamentais internacionais. Uma das ações é estabelecer Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) com vistas à transferência de tecnologias e à produção de medicamentos incluindo oncológicos, mais especificamente anticorpos monoclonais. Cuba tem uma rede de tecnologia reconhecida para o desenvolvimento e produção desses anticorpos – a maior parte ainda em estudo. Por meio do acordo entre os dois países, o Brasil terá acesso a essa tecnologia, o que permitirá estudos em conjunto. Em contrapartida, o Brasil oferece a Cuba estrutura para a realização de estudos clínicos, sustentada tanto pela expertise brasileira na área quanto pelos mecanismos regulatórios bem desenhados que o país possui (REDE CÂNCER, 2011). O grande desafio para garantir acesso a esses medicamentos é o custo elevado, imposto pela complexa infraestrutura necessária à sua produção, que exige fábricas e equipamentos de ponta. Entretanto, enquanto não for possível efetivar a produção nacional, a estratégia para ampliação do acesso a esses medicamentos inclui acordos de transferência de tecnologia firmados com países e laboratórios que detêm a expertise (REDE CÂNCER, 2011). • Parcerias Interinstitucionais Nacionais: Estabelecer parcerias entre os centros de pesquisa clínica nacionais traz diversas vantagens para o país. A RNPC possuía até 2008 19 instituições cadastradas com previsão para aumentar para 30 em 2 anos. (referencia, 2008). O fortalecimento desta área é obtido pelo compartilhamento do conhecimento entre os pesquisadores de diferentes locais do Brasil repercutindo na formação profissional e na capacitação técnico-científica. Por meio de redes se permite alcançar objetivos, que não seriam possíveis através de iniciativa individualizada, citando como exemplo a viabilização de desenho e condução de estudos clínicos multicêntricos nacionais. 105 5.4 – Aspectos Financeiros A geração de receitas e o levantamento dos custos do Serviço de Pesquisa Clínica do INCA não serão abordados neste trabalho, por ser um assunto complexo que demandaria detalhamentos não pertinentes para este momento. 6. Modelo de Negócios da UPC fase I do INCA 6.1 A UPC fase I como uma startup Para o desenvolvimento dessa dissertação o que se objetiva é estruturar um empreendimento em estágio inicial no seu ciclo de vida. Portanto, a UPC fase I será considerada uma startup, podendo ser enquadrada nas seguintes definições: - Um empreendimento que seja capaz de desenvolver suas atividades de maneiras repetíveis e escaláveis e de tornar o incerto em estável (NUNES, 2012); - São empresas com poucos anos de vida, tendo como atividades fundamentais, o planejamento e a operacionalização a fim de coordenar diferentes ações para estabelecer o novo negócio no mercado (NORONHA, et al, 2010) - Um empreendimento embrionário em fase de constituição das suas operações, podendo incluir pequenos projetos, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de idéias inovadoras, freqüentemente de base tecnológica (HERMANSON, 2011). O Modelo de Negócios visa atender a perspectiva de tornar a UPC fase I um empreendimento logisticamente viável, assim como sustentável do ponto de vista econômico, mas que apresente, principalmente, potencial racional para levantar resultados vantajosos que repercutam na expertise do INCA em desenhar e conduzir estudos clínicos de fase I contribuindo para a capacitação do Brasil. O Modelo de Negócios a seguir apresentará as características dominantes que singularizem a UPC fase I e sejam de referencial aos parceiros e clientes. 106 6.2 Proposta de Valor da UPC fase I A oferta de serviços da UPC fase I está centrada no desenho, condução e análise dos estudos clínicos em fase I em oncologia. Em âmbitos gerais as atividades são semelhantes as desempenhadas pela Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA para os estudos de fase II e III (Quadro 6) por existir um padrão de qualidade e de referência para executá-las (ICH, 2005). As atividades diferenciais e fundamentais serão abordadas como atividades-chave no capítulo de gestão de infraestrutura. Os elementos que contribuem para a criação de valor consistem no diferencial que fará com que a UPC fase I do INCA seja escolhida como referência, em detrimento aos seus concorrentes. Estão listadas no Quadro 10. Quadro 10 - Proposta de Valor da UPC fase I Disponibilidade Imagem Desempenho Relevância Política e Governamental Customização Acessibilidade Redução de Custos Redução de Riscos Fonte: Elaborado pela autora a partir de Osterwalder & Pigneur (2010) - Disponibilidade: para o serviço especializado; - Desempenho: Com a centralização de serviços em um mesmo ambiente de referência, criado em conjunto com equipe de arquitetos e engenheiros, a planta física da unidade foi confeccionada para atender toda a demanda dos estudos de fase I em um mesmo ambiente e se encontra no Anexo 2. Os padrões de qualidade dos serviços gerados podem ser acompanhados sistematicamente com indicadores estabelecidos entre clientes e a unidade, assegurando bemestar ao sujeito de pesquisa e o gerenciamento dos dados atingindo padrões de excelência e atendendo exigência nacional e internacional. A qualidade ética e científica da execução dos serviços e do registro das informações representa o objetivo maior da unidade e fornece segurança e respaldo aos clientes sobre o seu próprio produto. - Customização: Individualizar a realização de atividades de forma que se adeque à especificidade de cada estudo clínico e satisfazer a necessidade de cada cliente; - Imagem: A UPC fase I fará parte do INCA e que agrega valor a ambas. 107 - Relevância Política e Governamental: Por meio da PNAO (BRASIL, 2005) o INCA deve definir e articular as condutas no enfrentamento do câncer entre o MS, SES e SMS. A RNPCC (BRASIL, 2011) proporciona o INCA a ser um órgão consultivo às demais Instituições e Agências Regulatórias. Portanto, estruturar uma unidade de referência de estudos de fase I permitirá alinhar as estratégias governamentais em prol do controle e prevenção desta doença em abrangência nacional, de forma que proporcione um retorno positivo, a todos os envolvidos incluindo profissionais, indústrias farmacêuticas, membros do governo e principalmente pacientes. - Acessibilidade: Estima-se não haver quaisquer dificuldades para os envolvidos que necessitem dos serviços ofertados pela UPC fase I por ser bem localizado no centro do Rio de Janeiro; - Redução de Custo: Assim como se espera uma redução do risco com a unidade, a intenção é conduzir estudos clínicos de maneira que os gastos sejam reduzidos tendo em vista a centralização de serviços com a possível redução de terceirizados. Os Custos da UPC fase I serão explorados adiante. - Redução do Risco: A identificação prematura de toxicidades pode ser provida pela equipe especializada e treinada disponível 24 horas por dia por contato telefônico e comunicação direta com setor de atendimento em emergência em 24 horas, minimizam o risco de intercorrencias e eventos adversos durante o tratamento dos pacientes. Prevendo a ocorrência de toxicidades pode-se diminuir o tempo do tratamento do paciente no estudo, tendo em vista a ausência de interrupções temporárias no curso da terapia para intervir e solucionar esses eventos. Estudos de fase I em oncologia são os mais extensos quando comparados aos de fase I de outras modalidades terapêuticas, ficando atrás apenas de estudos cardiovasculares. Levam em média 17 meses para a obtenção dos resultados (WOOD, 2004; DIMASI & GRABOWAKI, 2007). Alguns fatores podem influenciar na variação do tempo e um deles é o aparecimento de toxicidades nos pacientes incluídos. Muitas vezes um estudo bem conduzido, seguindo adequadamente o protocolo, requer habilidades da equipe do centro de pesquisa para evitar ou identificar precocemente o aparecimento de eventos adversos e intervir com o máximo de agilidade, caso haja necessidade. Essa conduta interfere na análise estatística, pois pode 108 aumentar o quantitativo de pacientes no estudo, aumentando a coorte, por consequência, incrementando o tempo e o custo. Esses dados podem ser confirmados por Wood (2004), que listam algumas etapas para a existência de estudos fase I e estimam que o recrutamento de pacientes seguido da fase de tratamento são as que consomem mais tempo, conforme Gráfico11. Gráfico11: Tempo necessário para atividades de desenho e condução de estudos clínicos fase I em % Fonte: Wood (2004) O diferencial da UPC fase I está na qualidade e precisão das atividades, tendo em vista que a logística para realizá-las como horário, maneira, local, processamento são programados e executados por uma equipe de pesquisa clínica especializada e dedicada exclusivamente para esta ação, já que quaisquer oscilações nos padrões de execução podem invalidar as amostras. Considerando a existência de discrepância entre estudos clínicos fase I abertos em oncologia no mundo e no Brasil, a implantação de uma unidade específica com infraestrutura instalada aumentaria as chances de participação nacional na fase inicial do desenvolvimento de novos medicamentos. 109 6.3 Interface com os Clientes 6.3.1 Segmento de Clientes Considerando o estágio inicial da UPC fase I, podemos citar como clientes relevantes: - Indústrias Farmacêuticas Multinacionais: ao contratar os serviços da UPC fase I patrocinam todas as atividades do cronograma do estudo. É importante para a viabilidade financeira da unidade, pois é o meio pelo qual parte das receitas será provida, e para a viabilidade operacional pela conferindo divulgação internacional dos seus serviços, além de promover expertise à equipe. - Indústrias Farmacêuticas Brasileiras: Com incentivos à incorporação da biotecnologia e a internalização de produtos biológicos no portfólio, este grupo possui capacidade de ser cliente da UPC fase I ao contratar seus serviços para auxiliar na etapa clínica inicial do desenvolvimento nacional de medicamentos para o câncer. - Institucional: Governo e órgãos da Saúde podem contratar os serviços da UPC fase I com vistas desenvolver estudos clínicos fase I contra o câncer que sejam prioritários à população brasileira. 110 6.3.2 Relacionamento com o Cliente Documentos e regulamentações que estabelecem a relação legal entre a UPC fase I e os clientes, tais como: Acordo de Confidencialidade, Contrato, Declaração de Infraestrutura e Protocolo (ICH, 2005; CNS, 1996; ANVISA, 2009). Entretanto são complementadas por monitorizações periódicas por envolver a vida de seres humanos, o que os torna fundamentalmente próximo. Ambas as partes monitoram as atividades minuciosamente, de forma a garantir qualidade e segurança na condução dos estudos clínicos e por estarem sujeitos às inspeções de órgãos regulatórios. No caso da fase I, a relação é ainda mais específica facilitada pela existência de um único ou de poucos centros para a condução de estudos, de uma equipe de referência e de um quantitativo menor de sujeitos de pesquisa incluídos quando comparado as demais fases, o que torna o contato mais freqüente, rigoroso, individualizado e específico, nos quais a agilidade no fornecimento de informações aumenta as chances de sucesso de um estudo clínico e a possibilidade de fidelização com o cliente. A assistência pessoal com períodos de dedicação e um espaço exclusivo para cada representante da indústria pode facilitar a aquisição e retenção do cliente e a possibilidade de novos estudos clínicos, tendo em vista que são facilmente identificáveis pelo mercado oligopolizado, sendo mais fácil captar a necessidade dos mesmos. Isto inclui monitorias, reuniões, conferências e treinamentos. 6.3.3 Canais de Comunicação Para a divulgação dos serviços da UPC fase I, as estratégias de comunicação estarão centradas em cada cliente existente. Por ser um serviço especializado, a divulgação poderá ser facilmente difundida. O meio mais importante para difundir a informação é a comunicação direta e presencial realizada por visitas e reuniões com os membros da matriz das indústrias farmacêuticas, incluindo diretores e representantes da molécula a ser testada, e do governo brasileiro. De uma forma generalizada, publicações em site do INCA e participação de membros da equipe em conferências, congressos e palestras. 111 Para a realização dos serviços, o contato aproximado entre clientes e equipe da UPC fase I pode ocorrer de diversas formas, desde o sistema automatizado como web conferências até o contato pessoal de forma que permita uma assistência personalizada exclusiva, na qual as especificidades de cada cliente sejam atendidas. O local da instalação da UPC fase I conta com a estrutura física do INCA e sem ônus para a unidade de modo que seja facilitada a comunicação à distância, como internet e linhas telefônicas exclusivas, e o contato pessoal como salas para reuniões. Para a entrega da proposta de valor. Após um estudo ser iniciado, a maioria das condutas a serem realizadas pela equipe do centro de pesquisa ocorre conjuntamente com a decisão da equipe médica e científica da indústria farmacêutica. E inclui desde a triagem e autorização para a inclusão dos pacientes até alguma alteração de conduta que possa vir a acontecer. Excetuando-se as situações em que os pacientes têm suas vidas em risco, como ocorrências de toxicidades ou eventos adversos graves onde o pesquisador principal deve realizar a alteração de conduta pertinente garantindo primeiramente a segurança, e posteriormente comunicar aos clientes, aguardando o parecer. As informações rotineiras são entregues via Case Report Form. A agilidade, customização, acessibilidade e qualidade no fornecimento de informações garantem a imagem da Instituição, sendo um diferencial desejado pelos clientes da UPC fase I. A avaliação dos clientes pelos serviços prestados na unidade pode ser documentada por relatórios individuais. Tanto os aspectos positivos como os negativos podem ser divulgados à UPC fase I, inclusive o quantitativo de inconsistências e desvios realizados durante o estudo. Direito de Resposta da UPC fase I: Como forma corretiva à alguma inconsistência de dados ou ausência de informação, apontadas no relatório de avaliação, a equipe da UPC fase I irá desenvolver estratégias e ações para evitar a repetição de erros e documentá-las, como por exemplo, treinamentos periódicos. 112 6.4 Gestão de Infraestrutura: Atividades-Chave, Recursos-Chave e Parcerias-Chave Um estudo de Tufts Center for the Study of Drug Development (2008) quantificou as atividades de protocolos de ensaios clínicos no ano de 1999 e 2005, e revelou um aumento no número e freqüência de procedimentos, maior rigidez nos critérios de elegibilidade e maior detalhamento nas informações necessárias para análise estatística, o que incrementa os formulários para a coleta dos dados (Tabela 7). Essas mudanças geram protocolos cada vez mais detalhados pelas características das doenças em investigação e especificidades de tratamentos inovadores. Esta crescente complexidade dos protocolos está contribuindo para o aumento no tempo, custo e risco de desenvolvimento de novos medicamentos (TUFS CENTER FOR THE STUDY OF DRUGS DEVELOPMENT, 2008). Tabela 7: Complexidade dos Estudos Clínicos 1999 2005 Porcentagem da Mudança Procedimentos Clínicos por Estudo (média) 24 35 46% Total de Atividades no Cronograma por Estudo (média) Carga de Trabalho da Equipe do Centro (medida em Unidades de Horas dedicadas/semana) 96 158 65% 21 35 67% Duração do Estudo (dias) 460 780 70% Taxa de inclusão de Pacientes nos estudos 75% 59% -21% Critérios de Elegibilidade 29 49 58% Taxa de retenção de Pacientes nos estudos* 69% 48% -30% * Legenda: Taxa de retenção de pacientes nos estudos (dia da inclusão no estudo até o dia da descontinuação) Fonte: Tufts Center for the Study of Drug Development (2008) A justificativa por uma maior atenção à gestão de infraestrutura baseia-se na complexidade dos estudos clínicos de fase I, relacionada ao maior número de procedimentos envolvidos quando comparada às três fases subsequentes, conforme visualizado no Gráfico12 (PAREXEL, 2006). 113 Gráfico12 Número de Procedimentos por Fase de Estudo Clínico Fonte: Adaptada pela autora (PAREXEL, 2006) 6.4.1 Atividades-Chave As atividades-chave realizadas pela UPC fase I estão direcionadas a seleção dos estudos clínicos, desenho de protocolo e as aplicadas à condução de estudo, como recrutamento, coleta de amostras biológicas e preenchimento de CRF’s. • Seleção de Estudos Clínicos Fase I A seleção de estudos a serem realizados poderá seguir alguns critérios de prioridade: - Estratégicos para o SUS; - Relevância Epidemiológica; - Participação de Pesquisadores Nacionais; - Competitividade com outros estudos clínicos; - Aplicabilidade; - Inclusão de Pesquisa Translacional; - Capacidade Terapêutica do Produto Investigacional; - Conhecimento de Riscos do Produto Investigacional; - Potencial Patentário; - Existência de orçamento; - Cronograma de reembolso; - Assessoria de serviços complementares (monitoria, estatísticos, etc.) 114 • Desenho de protocolo: O desafio principal ao estabelecer o desenho de um protocolo é encontrar um padrão que satisfaça as necessidades estatísticas sem aumentar o tempo de condução e o número de pacientes incluídos desnecessariamente. Isso inclui um equilíbrio entre estabelecer um esquema rápido de escalonamento entre as doses evitando expor pacientes a uma toxicidade excessiva, e um esquema lento não fornecendo aos pacientes uma dosagem abaixo da eficácia. E ainda estabelecer um número de pacientes para definir a Máxima Dose Tolerada e a dificuldade de incorporar toxicidades crônicas nessas decisões (ROBERTS et al, 2004; BOOTH et al, 2008; LE TORNEAU et al, 2009; PERCY et al, 2010). A necessidade de correção de um protocolo posterior ao seu início é possível, embora demande tempo e custo. As modificações por meio de um adendo ao protocolo não são imediatas tendo em vista a obrigatoriedade de aprovação ética, por outro lado, o risco por manter o desenho original do protocolo pode trazer resultados negativos e inibir a capacidade do novo Produto Investigacional progredir para a fase II e III. Diante desta complexidade, é essencial que equipe de investigadores apresente as competências para a execução desta atividade-chave. • Recrutamento: Com os Produtos Investigacionais cada vez mais direcionados ao perfil molecular, encontrar pacientes com características individualizadas por mutações genéticas que tenham indicação terapêutica para iniciar o tratamento deve ser considerada como fator dificultador para a composição da coorte do estudo clínico. Como uma das atividades prioritárias, é relevante a definição de uma logística para o recrutamento de pacientes que envolvam setores internos e de outras instituições, inclusive em âmbito nacional, por meio da divulgação, busca ativa, análise nos bancos de dados e contato com outras equipes assistenciais e de pesquisa clínica. 115 • Coleta de Amostras Biológicas: O comportamento das células tumorais com mutações e expressões genéticas diferentes refletindo bom e mau prognóstico em um mesmo tecido tumoral constitui a questão mais difícil compartilhada por investigadores e inovadores de produto (TEMEL; GREER; MUZIKANSKY, 2010). Esta heterogeneidade põe em questão sobre a provável imprecisão dos resultados de testes diagnósticos obtidos a partir de uma única biópsia de tumor. Algumas estimativas destacam a importância da viabilidade para coleta e armazenamento de amostras biológicas de tecidos tumorais e normais para pesquisas. - 10% dos medicamentos comercializados atualmente nos EUA recomendam testes genéticos antes da sua administração (FDA, 2012); - 50% dos estudos clínicos e 60% de estudos pré-clínicos desenvolvidos em nível mundial dependem de dados provenientes de biomarcadores (TUFTS CENTER FOR THE STUDY OF DRUG DEVELOPMENT, 2010); - 50% de todos os ensaios clínicos coletam material biológico dos pacientes para extrair o DNA e para auxiliar na pesquisa de biomarcadores ( TUFTS CENTER FOR THE STUDY OF DRUG DEVELOPMENT, 2011). O INCA possui um repositório estruturado, o Banco Nacional de Tumores do INCA (BRASIL, 2012), contemplará o registro e armazenamento das amostras biológicas obtidas nos estudos de fase I. Essas amostras também podem ser enviadas para a análise em laboratórios internacionais, sendo necessária nesse caso, aprovação das instâncias regulatórias e uma preparação de documentações. No espaço da UPC fase I foi prevista a logística para esta atividade-chave de forma que as coletas de amostras biológicas séricas e/ou de tecidos tumorais e normais sejam realizadas no momento exato determinado pelo protocolo e pela equipe exclusiva delegada. A inclusão de amostras sanguíneas, tecidos tumorais e normais, serão úteis para os estudos presentes e futuros, incentivam a pesquisa translacional, aproximam a pesquisa básica e pesquisa clínica, sem gerar qualquer ônus para os pacientes, desde que justificado cientificamente e eticamente aprovado pelos comitês. 116 • Preenchimento de Case Report Form (CRF) Sendo um documento que formalmente fornece informações direcionadas aos clientes sobre os pacientes incluídos no estudo clínico, seu preenchimento é uma atividade – chave fundamental na etapa de condução de estudos clínicos e deve registrar informações essenciais sobre: - dispensação, administração e contabilidade do Produto Investigacional; -consultas médicas; - resultados de exames laboratoriais e de imagem; - eventos adversos e uso de medicações concomitantes; - eventos adversos sérios (EAS) relacionados e inesperados8; Estes dados coletados serão checados por meio de monitorias a fim de garantir o gerenciamento das informações, a análise estatística e redação de relatórios. 6.4.2 Recursos – Chave Os recursos necessários ao funcionamento da UPC fase I incluem recursos físicos, humanos e financeiros, e serão detalhados a seguir. A estrutura física foi criada para a capacidade máxima de funcionalidade da unidade, entretanto os recursos humanos são alocados de forma a atender a demanda inicial. A) Recursos Físicos A estrutura principal da UPC fase I pode ser visualizada na planta física (Anexo 2) que foi construída juntamente com membros do Setor de Pesquisa Clínica, de arquitetos e engenheiros do INCA por meio de reuniões periódicas com o respaldo nas regulamentações legais assim como por meio do resultado da contratação de consultoria. No mesmo espaço físico da estruturação da unidade, está sendo criado o Laboratório de Equivalência Farmacêutica do INCA. Entretanto apesar do ambiente ser compartilhado, todo o processo está sendo realizado de forma independente. Dessa maneira a logística para o funcionamento, recursos materiais e humanos, para este laboratório não serão mencionados nesta dissertação. _________________ 9 EAS - Ocorrência médica indesejável e imprevista, sofrida por um sujeito de pesquisa em uso de uma droga investigacional, que em qualquer dose administrada resulte em óbito, ou represente risco de vida, ou requeira hospitalização (ou prolongamento de uma hospitalização programada), ou resulte em uma incapacitação significativa ou persistente, ou promova anomalia/ malformação congênita. Tais ocorrências deverão ser relatadas ao patrocinador em um prazo máximo de 24 horas (ICH, 2005). 117 • A área e os equipamentos a serem utilizados pela UPC fase I estarão em destaque na planta (Anexo 2) e listados no Quadro 11. São considerados como recursos físicos-chave. Quadro 11 Recursos Físicos-Chave Recursos Físicos-Chave Área Administrativa Área de Recepção de Amostra Área de Preparo e Análise Área de Circulação Comum Armários / arquivo de documentos Câmara Científica 2º à 8 º C Câmara Cromatrofaga Assentos sanitários; Mesas e Cadeiras Freezer – 20º C Balança Analítica Pias; Computadores Termohigrômetros Balança de Precisão Geladeira; Aparelho de fax Cabine de Fluxo Laminar Microondas; Impressora Freezer – 80ºC Filtro de água Scanner Termohigrômetros Aparelhos Telefônicos Centrífuga Refrigerada Aparelhos de Ar condicionado Chuveiro de Emergência Manual Condímetro Placa Aquecedora Purificador de água Lava olhos Roto Evaporador Roto Evaporador HPLC Espectofotômetro de Massa Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) 118 Alguns setores, pertencentes a unidade assistencial do INCA, mas que são necessários também para a realização dos serviços da UPC fase I são: • Unidade de Internação (esta unidade pode ser considerada como uma extensão à UPC fase I e situa-se dentro da enfermaria do próprio Hospital. É composta por 3 leitos e é provida com a própria estrutura hospitalar no que diz respeito aos recursos materiais e humanos); • Unidade Ambulatorial (assim como a Unidade de Internação, a unidade ambulatorial situa-se no primeiro andar no prédio Anexo ao Hospital do Câncer II e é composto por 10 salas para atendimento médico e 1 sala para Eletrocardiograma); • Serviço de Pronto Atendimento (SPA) – após a assinatura do consentimento informado pelos pacientes, um telefone de contato 24 horas é fornecido aos mesmos para os casos de dúvidas e situações emergenciais. Caso seja necessário, o paciente é orientado a se dirigir ao SPA localizado no próprio Hospital. A equipe de emergência está orientada a atender o paciente e um contato com a equipe de pesquisa clínica deverá ser realizado; • Radiologia: Exame de Imagens (o INCA conta com 1 tomógrafo; 1 aparelho de ressonância magnética, 1 PET, Ecocardiograma, Ultra- Som e Raio X); • Laboratório de Análises Clínicas (para a análise de exames laboratoriais de rotina e emergenciais) • Quimioterapia (para infusão de medicamentos via endovenosa e aplicações de quimioterápicos via subcutânea ou intramuscular) • Radioterapia (aplicáveis para tratamento na modalidade de teleterapia e braquiterapia com os equipamentos aceleradores lineares, tecobaltoterapia; três sistemas de planejamento computadorizado; um Tomógrafo Simulador, dedicado; dois sistemas computadorizados de Braquiterapia de alta taxa de dose; um aparelho de Ortovoltagem, e um acelerador de alta energia); • Serviço de Farmácia (para controle, recebimento, armazenamento, dispensação e diluição de medicamentos dos estudos clínicos); • Departamento de Patologia Clínica (para laudos e armazenamento tecidos oriundos de biópsia); • Arquivo Médico (responsável pelo arquivamento de prontuários médicos) 119 • Serviço de Informática e Rede de Telefonia; • Setor de Engenharia Clínica (responsáveis pela manutenção preventiva e calibração dos equipamentos médicos-hospitalares); • Gerência de Resíduos (descarte seguro dos materiais e equipamentos capazes de contaminação e infecção); • Serviços Gerais (responsáveis pela limpeza e higienização do setor). B) Recursos Humanos Neste momento inicial de operação da UPC fase I, enquadramos o modelo da organização proposto por Mintzberg (2003) com base nos fatores situacionais. Por se tratar de uma startup que ao mesmo tempo em que é pequena também é estável e complexa, consideramos a organização empreendedora, cuja estrutura é constituída por um líder, dois gerentes intermediários e demais operadores que executam as tarefas. Os mecanismos de coordenação dos Recursos Humanos-Chave da UPC fase I são baseados no ajustamento mútuo e na padronização de habilidades (MINTZBERG, 2003), centrada na comunicação informal e nos conhecimentos dos profissionais que executam com habilidade necessária um processo de alto grau de imprevisibilidade, fundamentado no conhecimento específico proporcionado pelas instituições de ensino formadoras e sistemas de treinamentos. (MINTZBERG, 2003). Com raras exceções, o poder econômico e produtivo de uma moderna corporação está mais na capacidade de serviços intelectual do que nos ativos tangíveis. Está no valor dos conhecimentos intangíveis de cada membro da equipe, como know-how de tecnologia, desenho de produtos, marketing, compreensão das necessidades dos clientes e criatividade pessoal. A contratação dos recursos humanos-chave será provida pela Coordenação de Pesquisa Clínica intermediada pela Fundação para o Câncer nos regimes de remuneração na forma de contrato trabalhista ou bolsas científicas. E serão detalhados no capítulo destinado aos aspectos financeiros. Segundo Huckman & Zinner (2008), a gestão entre o aprendizado e o desempenho é fundamental na prática de centros de pesquisa clínica. A aprendizagem ocorre a partir da repetição de certas rotinas e do volume de produção acumulada, e o desempenho operacional 120 relaciona-se positivamente com o nível de aprendizagem. Assim, desde a seleção de estudos clínicos, será criada uma escala da produção de serviços e com isso um aprendizado que tenderá ao desempenho satisfatório. Essa afirmativa pode justificar a rotina inicial da UPC fase I. Provavelmente as primeiras atividades serão oferecidas em uma escala de produção inferior quando comparadas com a capacidade real a ser atingida pela estrutura da UPC fase I criada. Entretanto, à medida que novos estudos estejam iniciando e a demanda pelos serviços da unidade esteja crescendo, novos investimentos e contratações podem ser realizados. Pela especificidade das atividades, antes de iniciá-las serão realizados e documentados os treinamentos específicos a cada especialidade profissional. Este treinamento será realizado no próprio ambiente de trabalho e supervisionado pelos próprios membros da equipe ou pelos patrocinadores e parceiros. O processo de seleção de funcionários, neste primeiro momento, será interno, embora caso haja necessidade haverá seleção pelos meios de comunicação em massa. Caso exista a necessidade de contratar um outro profissional que detenha de um conhecimento específico não existente na equipe ou que não seja possível viabilizar um treinamento para proporcionar capacitação naquele momento a um funcionário já existente. Enquanto a unidade não inicia as suas atividades, os profissionais encontram-se em fase de treinamento e especialização em instituições parceiras. Específicos da UPC fase I prevemos inicialmente 5 membros da equipe: Gerente Médico, Gerente de Coordenação, Coordenador de Estudos, Auxiliar de Pesquisa Clínica e Auxiliar Administrativo. Entretanto, diante dos futuros serviços oferecidos e da capacidade instalada, os recursos humanos chave se enquadram nos recursos chaves podem ser visualizados na Figura 12 e estão listados como: 121 Figura 12: Recursos Humanos-Chave Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) 122 As responsabilidades gerais de cada recurso humano - chave estão listadas no Quadro 12: Quadro 12 – Responsabilidades dos Recursos Humanos Chave Fonte: Elaborado pela própria autora e adaptado ICH (2005) 123 Há disponibilidade em desenvolver um programa de incentivo aos recursos humanos de modo que os mesmo compartilhem do sucesso da unidade, tais como cobertura dos custos em inscrições em eventos científicos, treinamentos e cursos de aperfeiçoamento. C) Recursos Financeiros: Os recursos financeiros serão providos pelas relações existentes com as agências de fomento e com as indústrias farmacêuticas nacionais e multinacionais que assumem papel ora de clientes e ora de parceiros. A forma de gerar este recurso-chave se dá basicamente pela execução das atividades existentes no protocolo. Embora, outros recursos financeiros também sejam pertinentes como os investimentos à UPC fase I. Quando o estudo clínico é patrocinado, o valor por procedimento é reembolsado à medida que o centro de pesquisa executa uma atividade descrita pelo protocolo. Quando o estudo clínico é institucional, algumas atividades são previamente acordadas como geradoras de receitas, e seguirá a mesma operação dos patrocinados. Para aquelas não reembolsáveis, serão incluídas na rotina específica da assistência do SUS. 6.4.3 Parcerias – Chave A relevância social, científica e tecnológica da UPC fase I estimula a dinâmica empresarial e a interação entre instituições de pesquisa e justifica a necessidade de conciliar interesses para a complementaridade entre políticas públicas e estratégias privadas. Esse contexto concilia o funcionamento da unidade com as estratégias da RNPCC, pois o estabelecimento de parcerias com outros atores do ambiente proporciona benefícios ao transferir tecnologias e gerar de inovações por meio de novos conhecimentos inseridos de forma consistente e contínua. Independente do alcance atingido pelas parcerias, todos os atores têm importância para o investimento em atividades inovativas, sejam suas contribuições técnicas, científicas ou financeiras, desempenham atuações diferentes e complementares em relação às condições criadas para cada tipo de investimento. A natureza do empreendimento permite priorizar parcerias a serem estabelecidas nesta etapa inicial. Aliar-se a nomes de grande peso é uma estratégia para agregar valor aos 124 serviços gerados pela UPC fase I. Identificamos os parceiros fundamentais para a unidade e como esta parceria pode ser viabilizada e bem sucedida: - Governo Federal; - Agências de Fomento; - Indústrias Farmacêuticas Multinacionais. • Governo Federal Como Parceria Política: O Estado constitui um parceiro fundamental para a UPC fase I, pois é um ator chave na elaboração, implementação e sustentabilidade das políticas de inovação, e ajuda a capacitar, articular e estruturar cooperações com o setor privado. Essas cooperações são amparadas por regulamentações que incluem o apoio à participação de centros de pesquisa, instituições e empresas no processo inovativo, a pesquisa tecnológica e a geração da inovação. Para a Obtenção de Financiamento: A parceria da UPC fase I está em consonância com as políticas públicas para saúde, pois ao Estado cabe investir em segmentos, atividades e setores de interesse da sociedade em prol de inovações tecnológicas da saúde. Por meio da submissão dos projetos que envolvam a UPC fase I, os pesquisadores do INCA podem candidatar-se aos editais divulgados pela FINEP, BNDES e CNPq, com vistas a obtenção de investimentos e apoio financeiro. • Indústrias Farmacêuticas Multinacionais Com a criação de um ambiente propício à inovação, indústrias farmacêuticas multinacionais podem desenvolver parcerias com a UPC fase I para P&D de novos produtos na área da oncologia. Parcerias entre os pesquisadores do INCA e das indústrias farmacêuticas possibilitam expertise pelo contato próximo com a matriz detentora do Produto Investigacional na sua etapa inicial de desenvolvimento. Esta parceria é essencial para fomentar estudos institucionais, inclusive aqueles que atendam a demanda do SUS. Entretanto este tipo de parceiro como as empresas privadas ocorrem à medida que as atividades investidas tenham demanda e que lhes dêem alguma vantagem lucrativa. Estas empresas são muito mais sensíveis às condições do ambiente que lhes cerca, reduzindo 125 significativamente seus investimentos em momentos de crise, instabilidade ou escassez de financiamento. Após essa análise, podemos observar nesse primeiro momento de estruturação da UPC fase I, as indústrias farmacêuticas podem ser clientes em um dado momento quando contratam os serviços desenvolvidos pela UPC fase I, e parceiros em outros, quando compactuam recursos fundamentais financeiro, material, físico, intelectual e humano, em prol de objetivos comuns. De uma forma geral, para estabelecer parcerias é importante definir entre as instituições o alinhamento das estratégias de negócios, a necessidade de sigilo, quadro de recursos humanos, infraestrutura e atividades requeridas, o tempo demandado para resultados e quais serão os benefícios com a interação. Para isso é fundamental: conhecimento sobre a instituição, seguir a regulamentação para subsidiar a negociação e formalização como forma de efetivar o contrato. Inclui também a definição de um representante interlocutor apto à negociar e recursos humanos capacitados com alinhamento dos procedimentos internos para agilidade no trâmite (CRÓSTA, 2010). O Quadro 13 lista as etapas da UPC fase I para concretizar parcerias. Quadro 13 – Etapas da UPC Fase I para Estabelecer Parcerias Fonte:Crósta (2010) 126 6.5 Aspectos Financeiros De acordo com o Hermanson (2011) grande parte das micro e pequenas empresas não estão preparadas para enfrentar as dificuldades impostas pelo mercado comprovadas pelas altas taxas de mortalidade: 49,9% das empresas encerram as atividades com até dois anos de existência, 56,4% com até três anos de existência e 59,9% com até quatro anos de existência. Tendo em vista que a UPC fase I é um empreendimento público, não está sujeita às pressões de startups privadas, as quais consideram exclusivamente o lucro como critério de viabilidade. Entretanto, ter uma visão econômica dos fatos evita um aumento dos custos de maneira que os tornem insustentáveis e ameacem a capacidade do sistema para acelerar o progresso na pesquisa do câncer (KEAN & LESSOR, 2012). Tendo em vista a necessidade de contínuos investimentos e perspectivas de retorno financeiro para viabilizar etapas necessárias existentes no processo de desenvolvimento de um novo medicamento, torna-se fundamental esta análise. Utilizamos a técnica proposta por Osterwalder e Pigneur (2010) denominada “Cenários” para materializar a logística de gestão de infraestrutura e a articulação das atividades-chave, parcerias-chave e recursos-chave. O cenário utilizado foi: Estudo Clínico Fase I incluindo os procedimentos comuns necessários seguindo método de escalonamento de dose Fibonacci (LE TOURNEAU et al, 2009)10, correspondendo a 3 o mínimo de paciente incluídos em uma coorte e o máximo 18, dependendo da tolerabilidade dos pacientes ao Produto em Investigação. Adotamos premissas básicas, formadas à luz de experiência prática e informações técnicas extraídas de publicações científicas que combinadas com base neste cenário, resultarão nos resultados apresentados, a seguir. A lógica de rotina foi criada para a condução do estudo e consta no fluxograma inicial (Anexo 3). E para quantificar os aspectos financeiros, dividimos a hipótese do mesmo cenário ser um estudo clínico patrocinado por indústria farmacêutica e um estudo clínico institucional demonstrando as receitas e os custos. __________________________ 10 Método descrito na Metodologia Capítulo 3.1 Desenho do Estudo. 127 6.5.1 Receitas As receitas são representadas pelo quantitativo financeiro que a UPC fase I irá gerar com os serviços prestados a cada segmento de cliente e documentados em forma de orçamento. Para definir-la é necessário previamente o conhecimento do desenho do protocolo e os procedimentos pertinentes, e em seguida precificá-los (KELLY & HART, 2009), comparando o orçamento do estudo. As recomendações para uma negociação ideal de um orçamento foram propostas por Kelly & Hart (2009), conforme Quadro 14. Quadro 14 – Recomendações para o Contrato e Orçamento de um Estudo Clínico Principais Fatores que Interferem no Orçamento de um Estudo Clínico • Fase do estudo clínico; • Tipo e estágio da doença tratada; • Toxicidades Esperadas com o Produto • Recomendações ao Centro de Pesquisa para a Obtenção de um Orçamento Adequado • Análise minuciosa das tarefas específicas de protocolo; • Conhecimento sobre os recursos Investigacional; institucionais disponíveis e Processamento e Envio de Amostras levantamento das necessidades; Biológicas; • Delineamento da logística para o • Definição da logística de tratamento; atendimento dos procedimentos • Prazos de apresentação de relatórios, estabelecidos pelo protocolo; inserção dos dados, recrutamento de • • Conhecimento sobre as legislações pacientes e resolução de federal e estadual que regem a pesquisa questionamentos; clínica; Experiência profissional da equipe do • Estimar o quantitativo previsto para o centro de pesquisa; estudo clínico. Previsão de Inclusão de Complexidade para preenchimento da Pacientes e a média de ciclos ou dias Ficha Clínica do Paciente (Case Report cada um no estudo; Form – CRF); • • • do estudo; Necessidades e Locais para Treinamento. Definição do cronograma de conclusão • Perspectiva de recebimento do pagamento pelas atividades realizadas. Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) a partir de Kelly & Hart (2009) 128 A avaliação ideal proposta por Keven (2011) está baseada no cálculo padronizado por hora que o membro da equipe gasta executando uma tarefa, somando-se aos procedimentos necessários para executá-la. Entretanto, somente depois de estabelecida a operação da unidade é que poderemos iniciar o mapeamento desses dados e ter uma aproximação mais fidedigna do tempo investido para a realização e do valor de cada atividade. Nossa abordagem será neste primeiro momento baseada no Modelo de Negócios da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA, no qual as receitas não são geradas por complexidade do estudo clínico, mas sim por procedimento existente. A negociação para a determinação dos valores justifica-se pela Tabela de Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos da Associação Médica Brasileira (CBHPM, 2008), no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (BRASIL, 2010), no valor estabelecido pelos patrocinadores e na taxa de custos administrativos (que incorpora depreciação de equipamentos, manutenção, mobiliário, imóvel, aluguéis, folha de pagamento, matéria-prima) calculada pelo gestor financeiro da unidade. A obtenção de receitas da UPC fase I diferenciam-se por Estudos Clínicos Patrocinados e Institucionais: - Estudos Clínicos Patrocinados por Indústrias Farmacêuticas – todos os procedimentos pertinentes a todas as etapas pré-aprovação, pós-aprovação, iniciação, condução e finalização dos estudos podem gerar receitas ao centro de pesquisa. - Estudos Clínicos Institucionais – são de iniciativa do investigador, e em sua maioria, estratégicos para a Instituição e o SUS. Particularmente para esses estudos não geram receitas os procedimentos médicos definidos no protocolo que fazem parte da rotina terapêutica (KELLY & HART, 2009). Estudos Clínicos Institucionais surgem a partir de parcerias e mediante negociações entre pesquisador principal, gerente financeiro e membros das indústrias farmacêuticas que detém o Produto. Como proventos à UPC fase I, além dos valores monetários, somar-se-iam as oportunidades de conhecimento, aprendizado e reconhecimento científico dos pesquisadores brasileiros em publicações de grande repercução. Nessa lógica, um estudo fase I patrocinado é capaz de gerar mais receitas à unidade de pesquisa. Em contrapartida, um estudo fase I institucional inclui a participação de pesquisadores nacionais e acarretam em um incremento de vantagens para além dos recursos financeiros, como maior autonomia e publicações relevantes. 129 É importante salientar que, o valor total arrecadado com o estudo clínico irá depender dos procedimentos exigidos e do método estatístico determinante para o quantitativo mínimo e máximo de pacientes a serem incluídos. Existem três questões para as quais, neste momento não é possível precificar, pois depende de cada protocolo: 1) Definição da realização de um teste para mutação genética como critério de elegibilidade de um estudo; 2) Ocorrência de Eventos Adversos Sérios - EAS (ICH, 2005) relacionados ao Produto Investigacional, pois quando ocasionados os custos referentes aos procedimentos decorrentes são repassados à UPC fase I, incluindo exames, consultas e medicamentos, assim como os relatórios reportados em 24 horas à farmacovigilância da indústria farmacêutica. 3) Diferenciação de valor por procedimento pago por cada patrocinador, como forma de valorizar a importância do procedimento para o resultado do estudo. Não há uma padronização de incremento no valor, caso o patrocinador deseje incluir uma taxa para enfatizar a relevância de um procedimento específico. Dividimos as possibilidades da UPC fase I gerar receitas por cada paciente incluído com base no cenário criado. Conforme Quadro 15, as atividades foram divididas em préestudo, durante o estudo e pós-estudo. * Verba destinada ao Comitê de Ética do INCA. Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) 130 As atividades Pré-Estudo incluem o período iniciado entre o primeiro contato do patrocinador com o centro até a aprovação dos documentos regulatórios pelo CEP (LOUSANA & ACCETTURI, 2007), sendo sua maioria não remunerada ao centro de pesquisa, por fazerem parte dos deveres da instituição. O valor de submissão dos documentos regulatórios é destinado ao CEP do INCA. Por outro lado a taxa administrativa destina-se à cobertura de despesas da unidade com a submissão do estudo, sendo este valor padronizado e estipulado pelo o gerente financeiro. As atividades durante o estudo compreendem o período após a aprovação do orçamento, contrato e do CEP até o fim do tratamento do último paciente incluído (LOUSANA & ACCETTURI, 2007). Nesta fase, a unidade obtém o maior valor em receitas. Utilizando o cenário, 1 paciente incluído no estudo clínico institucional, gera em média 18 mil reais, o valor total arrecadado pode variar entre 54 mil reais (se 3 pacientes forem incluídos) e 324 mil (se 18 pacientes forem incluídos) 11 , conforme Anexo 4. O estudo patrocinado por indústria farmacêutica gera em média 30 mil reais por paciente, sendo que o valor total arrecadado pode variar entre 90 mil (quando incluídos 3 pacientes) e 540 mil reais (quando incluídos 18 pacientes), conforme Anexo 5. E quando o estudo é patrocinado por indústria farmacêutica com cobertura dos custos do recrutamento de pacientes proveniente de outros Estados do Brasil, as receitas aumentam para 52.120 mil reais, o valor de 1 paciente. Os valores correspondentes ao recrutamento estão na Tabela 9. Para ambos os exemplos não foram contabilizados custos com medicações correspondentes ao tratamento do paciente porque na grande maioria são repostas ou fornecidas pelas indústrias farmacêuticas, independente do tipo do estudo clínico. Por fim, as atividades pós estudo ocorrem entre o fim do tratamento do último paciente incluído até a análise final dos dados coletados (LOUSANA & ACCETTURI, 2007) e não são remuneradas pelo mesmo motivo das atividades não remuneradas no pré-estudo. Kelly & Hart (2009) defendem que caso seja necessário capitalizar a unidade, o gerente financeiro pode requerer dos patrocinadores o valor total referente a 1 ou 2 pacientes antes mesmo de incluí-los. _____________________ 11 – O número citado 3 e 18 pacientes segue o método Fibonacci, citado na metodologia deste trabalho, capítulo 3.1 Desenho do Estudo. 3 seria o mínimo e 18 seria o máximo de pacientes incluídos em um estudo fase I. 131 6.5.2 – Custos A contabilidade dos custos mensura e relata informações financeiras e outras informações relacionadas à aquisição e ao consumo de recursos pela organização. Nesta etapa descrevem-se principalmente os investimentos, custos fixos, custos variáveis. Este capítulo não se destina a abordar a gestão de custos, mas sim atenuar as incertezas sobre os valores envolvidos e aproximando o máximo possível sua estimativa, já que a competitividade de centros de pesquisa inclui o desenvolvimento de estratégias e manejo dos custos (TENÓRIO et al. 2007). Para Martins (2003), o controle do custo hospitalar é fundamental para a operação do estabelecimento. É parte integrante do processo administrativo e proporciona elementos para o registro dos custos da produção da equipe de saúde, por paciente, da diária do paciente, os que auxiliam nas decisões de vendas de serviços, nos métodos de produção, nos procedimentos de compras, nos planos financeiros de investimentos e resultados, e por fim permite analisar as variações que desviam dos padrões estabelecidos. Seguindo este mesmo autor, o conhecimento sobre os custos auxilia na preparação do orçamento e por isso estenderemos ambas as definições para um centro de pesquisa clínica. A estrutura abordada a seguir baseou-se em valores correspondentes ao ano de 2012 para o INCA. • Investimentos De uma maneira simples, consideraremos como definição de investimento aquela proposta por Menezes (2001), que significa a aplicação de capital em meios de produção, com o intuito de aumentar a capacidade produtiva, ou seja, aquele realizado na aquisição de instalações, máquinas, transporte e infraestrutura. A título de exercício, estimamos o investimento bruto correspondente à aquisição de todas as máquinas e equipamentos abordados como recursos-físicos chave da UPC fase I (Quadro 11), totalizando aproximadamente R$ 1.101.000,00 reais conforme, Tabela 5 e detalhadamente no Anexo 6. Vale ressaltar que a fonte para a consulta desses dados se deu por meio da contratação de consultoria pela Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA, de forma garantir maior precisão nos valores dos equipamentos e que estes atendam às Boas Práticas de Laboratório, 132 Regulamentações Brasileiras, tais como, as determinadas pela ANVISA. O custo desta consultoria foi de R$ 25.000,00. O valor total correspondente aos materiais de escritório e a área de circulação comum se deu por pesquisas em sites de compra e os valores considerados foram calculados pela média de 3 tipos diferentes de fontes de consulta. Os investimentos com a reforma do local foi obtido juntamente com o setor de manutenção e engenharia clínica do INCA e estimou-se R$ 25.000,00. • Custos Fixos A) Depreciação Os bens patrimoniais, devido ao uso e pelo desgaste natural ao longo do tempo, sofrem desvalorização de seu valor original por desgastes, perda de utilidade por uso, ações da natureza ou obsolescência. Consideraremos como custo fixo a depreciação dos investimentos realizados. A Lei Federal n° 4320, de 17 de março de 1964, em seu art. 108 (BRASIL, 1964) dispõe que as previsões para depreciação serão computadas para efeito de apuração do saldo líquido das mencionadas entidades para o balanço econômico das instituições de direito público. Este procedimento deverá ser feito anualmente, atualizando-se o valor de cada item do patrimônio, fazendo-o constar do inventário anual da unidade. Para cada tipo de equipamento e material permanente, deve ser consultada a Norma de Execução n° 06, publicada no Diário Oficial da União de 30 de dezembro de 1993 (BRASIL, 1993). Para fins deste trabalho se aplicam: Quadro 16: Taxa de Depreciação Anual Bem Taxa de Depreciação Anual Instalações Gerais (incluindo escritório) 10% Aparelhos e equipamentos de Medicina, Odontologia e Laboratórios Hospitalares 10% Fonte: (BRASIL, 1993) No Anexo 6 encontram-se os preços de compra de cada equipamento seguido do valor de depreciação anual. Portanto, totaliza-se um custo fixo anual equivalente à depreciação dos bens de R$ 111.272,79 , conforme Tabela 8. 133 Tabela 8: Valor Total de Investimento e Custo Anual de Depreciação Investimento Custo Anual de Total Depreciação R$ Hospitalares e Laboratoriais 1.101.000,00 R$ 110.100,00 Escritório R$ 57.347,00 R$ 829,89 Área de Circulação Comum R$ 4.449,00 R$ 342,90 R$ 1.162.796,00 Total R$ 111.272,79 Fonte: Elaborada pelo próprio autor (2012). Equipamentos Custo Mensal de Depreciação R$ 9.175,00 R$ 69,15 R$ 28,58 R$ 9.272,73 B) Recursos Humanos O Quadro de recursos humanos representa os gastos fixos diretamente vinculados à UPC fase I, os quais não recebem remuneração proporcional às quantidades produzidas. Ao estipularmos os recursos humanos-chave, conforme seção 5.4.3, padronizamos um quantitativo mínimo para a equipe fixa da unidade, com 5 profissionais (gerente médico, gerente de coordenação, coordenador de estudos, auxiliar administrativo e auxiliar de pesquisa clínica). Não contabilizamos aqueles que compõem a equipe em caráter complementar como o gerente de qualidade, gerente financeiro e equipe assistencial de suporte da Instituição – INCA. O cálculo para os custos do empregador baseou-se no salário vigente referente ao mês de agosto de 2012 remunerados pela Fundação para o Câncer que é fundamentado pelo somatório dos encargos considerados no regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) criado pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943 e pelo Código do Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS) 515 referente às empresas cujos recursos humanos atendam aos requisitos dos serviços hospitalares (SISLEX, 2012), conforme Tabela 9. Tabela 9: Custo Mensal com Recursos Humanos Chave Recursos Humanos-Chave Gerente Médico Oncologista Gerente de Coordenação Coordenador de Estudos Auxiliar Administrativo Auxiliar de Pesquisa Clínica Total : Remuneração Mensal Bruta R$ 8.624,00 R$ 5.774,40 R$ 4.054,40 R$ 1.494,40 R$ 1.779,40 Custo para o Empregador R$ 15.000,00 R$ 10.200,00 R$ 7.000,00 R$ 2.500,00 R$ 3.000,00 R$ 37.700,00 Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) 134 • Custos Variáveis: Custos Operacionais na Prestação de Serviços Alguns autores (ANTUNES & GARCIA, 2001; TENÓRIO et al, 2007)) reconhecem que a dificuldade de calcular os custos operacionais de serviços, estimando entre 15% e 50% dos custos diretos totais. Alguns custos operacionais foram baseados no cotidiano do setor de pesquisa clínica do INCA, outros foram contabilizados mediante valores vigentes dos setores administrativos, de compra e almoxarifado do INCA para estimar um valor aproximado para a UPC fase I. • Insumos A obtenção de dados para a construção deste tópico contou com o serviço de engenharia clínica e da central de custos do INCA, por meio de uma listagem de custos de compra dos insumos consumidos na execução de cada procedimento por paciente. A maioria dos equipamentos existentes pertence ao INCA, exceto aqueles adquiridos como investimentos (vide Quadro 11 e Anexo 6). Portanto não contabilizaremos na estruturação da UPC fase I a aquisição de tecnologias como Tomografia Computadorizada (TC), Ressonância Magnética (RNM), Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), Centrífugas de Laboratório, tão pouco seus custos de vida útil como incorporar, utilizar, manter, treinamento de recursos humanos, manutenção preventiva ou calibração periódica destes aparelhos. A provisão dos recursos financeiros para com alguns equipamentos médicoshospitalares é realizada por meio de contratos com o INCA e os fabricantes de cada tecnologia, incluindo os que executam exames de imagem e de análise laboratorial. O primeiro ano após a aquisição de qualquer equipamento geralmente acompanha manutenção preventiva gratuita. Após esse período, o contrato inclui a manutenção preventiva trimestral, com corretivas ilimitadas e fornecimento de partes e peças que são pagos mensalmente para que sejam realizadas trimestralmente. Os valores podem variar, entretanto custa em média R$ 35.000,00 mensais para o INCA do Hospital do Câncer I e R$ 15.000,00 mensais as outras unidades do INCA - HCII, HCIII e HCIV. (INCA 2012, dados não publicados). 135 Quanto aos outros equipamentos, o contrato entre INCA e uma empresa terceirizada responsável por outros equipamentos incluindo de refrigeração e os de pequeno porte é dividido entre as unidades que compõe o INCA, Divisão de Patologia (DIPAT), Hospital do Câncer I, II, III, IV e o Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO). E calcula-se mensalmente R$ 40.000,00 por unidade, exceto DIPAT e CEMO, que estão inseridas em outras estruturas (INCA 2012, dados não publicados). ' O setor de compras do INCA realiza a aquisição dos recursos materiais necessários para realizar os procedimentos da Instituição. Utilizamos o cenário para estimar os valores com custos variáveis operacionais gastos com compra de insumos para cada tipo de procedimento realizado e incluíram valores aproximados de exames de citologia oncótica e biópsias de colo uterino (coleta), exames de sangue e farmacocinética (coleta), exames de imagem (TC, RNM e PET) e eletrocardiograma (ECG) e preparo e infusão da quimioterapia (punção venosa periférica e infusão). Não serão utilizados custos com esterilização, kits para testes com reagentes, corantes, programas de informática que dizem respeito a processamentos de amostras e análises de resultados. Contabilizaremos os materiais direcionados à coleta e realização de cada procedimento. Com isso, cada procedimento realizado com cada paciente incluído no estudo equivaleria ao consumo do insumo utilizado (Tabela 10). Para obtenção dos valores detalhados, verificar Anexo 7. Tabela 10: Estimativa de Custo de Insumos por Procedimento Procedimento Coleta Exame Colpocitologia Oncótica Biópsia de Colo Uterino Exame de Imagem com contraste Coleta de sangue ECG Quimioterapia Total Insumo* Insumo Total do Estudo Clínico** R$ 6,75 R$ 4,49 R$ 20,25 R$ 13,47 R$ 37,69 R$ 3,60 R$ 1,34 R$ 9,83 R$ 26,01 R$ 226,14 R$ 104,40 R$ 2,68 R$ 49,15 R$ 409,34 * Custo do Insumo de cada Procedimento ** Custo do Insumo Baseada na Repetição dos Procedimentos do Estudo Clínico descritos no Cenário Fonte: Setor de compras do INCA e Associação Brasileira de Laboratórios de Anatomia e Patológica e Citopatologia (ABRALAPAC) em http://www.abralapac.org.br/v3/assunto/ (2012); Antunes & Garcia (2001); Tenório et al (2007). 136 • Recursos Humanos O custo com a equipe da unidade será em parte fixo que conta com o quantitativo mínimo para o funcionamento, como já abordado anteriormente, e em parte variável, os quais aumentam ou diminuem com a complexidade de cada protocolo, e por isso os profissionais são contratados para atender a demanda exigida. Os primeiros, a remuneração baseia-se nas leis CLT como já anteriormente abordado, enquanto os segundos, em bolsa científica de aperfeiçoamento. Para este último caso, não há encargos / impostos para a UPC fase I. O valor da remuneração mensal para o funcionário equivale ao mesmo valor do custo da unidade. Para operacionalizar, vamos tomar como exemplo o estudo clínico citado neste trabalho. Para conduzi-lo seria necessária, além da equipe fixa da UPC fase I, os seguintes profissionais: radiologista, técnico de radiologia, biólogo, patologista, cardiologista, fisioterapeuta, radioterapeuta, estatístico, técnico de radioterapia, enfermeiro (para administrar quimioterapia), farmacêutico, técnico de informática e técnico de manutenção. Dessa maneira, utilizamos como base os valores de bolsa científica de aperfeiçoamento vigentes no ano de 2012 da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA que remunera com 40 horas semanais nível superior R$ 2.100,00 e nível técnico R$ 1.575,00, exceto radiologista que exerce 30 horas semanais com um valor de R$ 2.362,00. Se para a UPC fase I fossem contratados todos os profissionais acima citados em um regime de 20 e 10 horas semanais os custos totalizariam R$11.302,16 mensais, conforme Tabela 11. Tabela 11: Custo Mensal de Remuneração por Bolsa Científica Remuneração por Bolsa Científica 20 horas semanais Radiologista 1.574,66 Radioterapêuta 1.050,00 Estatístico 1.050,00 Farmacologista 1.050,00 Enfermeiro 1.050,00 Farmacêutico 1.050,00 Técnico Laboratório 787,5 Técnico de Radioterapia 787,5 Remuneração por Bolsa Científica 10 horas semanais Cardiologista R$ 525,00 Patologista R$ 525,00 Fisioterapeuta R$ 525,00 Técnico de Informática R$ 393,75 Técnico de Manutenção R$ 393,75 Total R$ 11.302,16 Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) por meio de dados não publicados 137 Entretanto, como uma perspectiva de estabelecer parcerias e reduzir custos, o que ocorre no cotidiano é que parte dos recursos humanos da Instituição atua em conjunto com a pesquisa clínica e não gera ônus direto do setor. Assim, o valor acima citado não reflete a realidade. Alguns procedimentos seriam realizados como rotina assistencial independente do paciente ser participante do estudo clínico ou não exigindo do profissional responsável pelo serviço atribuições existentes no seu cotidiano, sem gerar sobrecarga. No cenário estipulado incluem a participação do patologista, cardiologista, fisioterapeuta, técnico de informática e técnico em manutenção. Para os casos em que se exige a participação mais intensiva, a estrutura pode ser provida, como, o radiologista, o técnico de radiologia e o técnico de laboratório, já que os exames de imagem e coletas de material biológico são imprescindíveis e específicos para o estudo clínico. Então, a contratação de membros da equipe no regime de bolsa científica ocorrerá de acordo com a necessidade exigida de cada protocolo que gera uma demanda maior do que a vigente na Instituição. Portanto, o Quadro de recursos humanos variáveis, considerando a Tabela 12 expressa o custo mensal da UPC fase I. Tabela 12 – Custos Variáveis Mensais com Recursos Humanos Remuneração por Bolsa Científica 20 horas semanais Radiologista R$ 1.574,66 Estatístico R$ 1.050,00 Farmacologista R$ 1.050,00 Técnico Laboratório R$ 787,50 Técnico de Radioterapia R$ 787,50 Total R$ 5.249,66 Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) por meio de dados não publicados Como já anteriormente abordado por Wood (2004); Accelerating Clinical Trials (2004); Dimasi & Grabowaki, (2007), a média de tempo para condução de um estudo clínico fase I em oncologia é de 17 meses. Estabelecemos 4 meses o período de tratamento de cada paciente e 13 meses o período de triagem e análise estatística. Estima-se R$ 5.249,66 mensais para o período de 4 meses, pois são necessários todos os recursos humanos listados para compor a equipe de cuidado terapêutico. Para o período de 13 meses, somente o estatístico foi considerado, pois durante os 138 13 meses não estão incluídos atividades assistenciais com tratamento dos pacientes. Então o custo mensal com Recursos Humanos contratados por bolsa científica de 20 horas semanais seriam R$ 1.050,00. • Consumo Mensal de Energia Elétrica Para precisar um valor mensal referente ao consumo de energia elétrica da UPC fase I, julga-se necessário um cálculo aproximado de acordo com a demanda instalada. Entretanto, como o INCA não apresenta um estudo do rateio de custo com eletricidade pelos setores da instituição, considera-se que a tentativa da precisão de cálculo da UPC fase I antes do início da sua operação traria resultados discutíveis. Contudo, iremos estabelecer um valor baseado em Mendes (2008) que realizou um estudo sobre a gestão de custos de um laboratório de saúde pública e estipulou o consumo aparente de energia elétrica mensal em torno de R$ 1.000,00. • Telefonia O custo com telefonia é justificado pela necessidade de comunicação entre setores do Hospital, com os patrocinadores e clientes, e com os próprios pacientes. Os ramais têm liberação para realizar ligações internacionais, inclusive, de uma forma que apenas as ligações para setores do hospital são gratuitas, as demais são oneradas. Solicitou-se as três últimas contas telefônicas mensais ao setor administrativo e constatou-se uma média de R$ 50,00 por cada ramal existente. Então, para a UPC fase I que contará com 3 ramais, estima-se que o custo com telefonia mensal seja de aproximadamente: R$ 150,00. • Materiais de Escritório Apesar da informatização e modernização dos sistemas de registro de dados e de comunicação, para a pesquisa clínica em geral, a necessidade de documentação impressa é predominante, incluindo documentos regulatórios, de comunicação com as instâncias regulatórias, impressos de solicitações de exames e resultados de pacientes, além de documentos específicos, questionamentos e aprovações dos patrocinadores e clientes. 139 Estimamos para este momento inicial, 4 computadores e 1 aparelho multifuncional (impressora, fax, scanner). No serviço de pesquisa clínica do INCA, mensalmente para cada 2 computadores com 2 impressoras e 1 aparelho de fax, o consumo de folhas de ofício e cartucho de tinta de impressora e fax, 1 resma de papel ofício (com 500 folhas), 0,5 cartuchos de impressora e 1 de fax. Portanto, estima-se que para a UPC fase I, o consumo mensal seja de 2 resmas de papel ofício(com 500 folhas cada), 1 cartucho de impressora e 1 de fax além dos suprimentos que incluem canetas, lápis, durex, clips, grampos e grampeador, conforme descrito na Tabela 13. Tabela 13: Custo Mensal com Materiais de Escritório Materiais de Escritório Resma de Papel Ofício Cartucho para Impressora Tonner para fax Demais Suprimentos Total Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) • R$ 20,00 R$ 80,00 R$ 50,00 R$ 15,00 R$ 165,00 Recrutamento e Tratamento Pensando em estratégias de triagem e avançando para modelos de estudos clínicos que justifiquem técnicas de recrutamento mais incisivas, como os que apresentam o perfil de pacientes específico pelos critérios de inclusão, e ainda pensando em atender a demanda da RNPCC estimamos proporcionar o deslocamento de pacientes provenientes de todo o território nacional, exceto o Estado do Rio de Janeiro, para o INCA, com vista à inclusão no estudo clínico proposto. Para isso propõe-se a incluir os custos com a estada do paciente durante todo o período de tratamento, já que é imprescindível a aderência do mesmo ao que será proposto assim como o acompanhamento do seu estado de saúde diário. O período de tratamento foi considerado por 4 meses ou 120 dias e foi dividido da seguinte forma: • Triagem (pré-tratamento): 3 semanas ou 21 dias; • Tratamento: 10 semanas ou 70 dias; • Janela para atraso por toxicidade: 8 dias; • Avaliação pós tratamento: 3 semanas ou 21 dias. 140 Os valores monetários foram baseados na média de 3 fontes de consulta. Consideramos o mesmo estudo clínico como cenário e estimamos conforme a seguir. Paciente proveniente de outro Estado brasileiro triado para estudo clínico fase I com previsão de período máximo para o tratamento de 120 dias (incluindo período de triagem e avaliação após o término do tratamento). Suas despesas seriam: - Valor da Diária do Hotel: R$ 111 reais incluindo café da manhã. Valor Total em 120 dias R$ 13.320,00 - Valor da Refeição: R$ 28,00 por dia. Valor total em 120 dias R$ 3.360,00. - Deslocamento ao Centro de Pesquisa: R$ 6,00 para o transporte público por dia. R$ 336,00 estimando deslocar-se 56 dias (metade dos dias estabelecidos). - Passagem Aérea (valor médio com ida e volta entre todos os Estados por região): • Região Norte: R$ 1100,00 • Região Nordeste: R$ 900,00 • Região Centro Oeste: R$ 400,00 • Região Sudeste: R$ 600,00 • Região Sul: RS 500,00 • Valor Médio entre todos os Estados: R$ 700,00 - Valor do Acompanhante: Caso seja necessário incluir o custo de acompanhante, uma vez que o paciente vindo de outro Estado encontra-se necessitado de suporte familiar, deve-se ser acrescentado o total equivalente à refeição, deslocamento e passagem aérea somando R$ 4.404,00 ao total despendido com o paciente. A hospedagem não foi contabilizada, pois estaria incluído o quarto para uma ou duas pessoas. A Tabela 14 resume as principais despesas que um paciente proveniente de outro Estado geraria, caso fosse incluído em estudo clínico fase I, totalizando aproximadamente R$ 22.120,00 reais. Tabela 14: Custo por Paciente Recrutado e Incluído Proveniente de outro Estado para um período de tratamento de 120 dias Despesas por Paciente Hotel R$ 13.320,00 Refeição R$ 3.360,00 Deslocamento R$ 336,00 Passagem Aérea R$ 700,00 Acompanhante R$ 4.404,00 Total R$ 22.120,00 Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) 141 Vale ressaltar que para este cenário, o custo referente à estada do paciente equivale a duração do tratamento correspondente ao estudo clínico. Caso o tratamento tenha que ser interrompido permanentemente antes do término proposto, o paciente retornará ao domicílio. Caso o paciente apresente alguma condição de saúde que requeira novos medicamentos, cuidado médico e hospitalar o mesmo permanecerá sob cuidados até apresentar condições de retorno. Não cabe a este trabalho julgar se o valor totalizado inviabiliza o recrutamento deste tipo de paciente. Mas podemos apontar algumas estratégias para minimizar estes gastos provenientes de parcerias intra e interinstitucionais e governamentais. - Avaliar a possibilidade conforme os benefícios do Tratamento Fora do Domicilio (TFD), estabelecidos pela Portaria SAS/Ministério de Saúde nº 055 de 24/02/1999 – que dispõe sobre o TFD no Âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)12. - Conhecer a funcionalidade do vínculo existente entre o Ministério da Saúde e o Centro de Transplante de Medula Óssea do INCA (CEMO) no qual provê hospedagem, refeição e transporte aos pacientes e acompanhantes a serem transplantados e avaliar possibilidades de parcerias (SOUZA et al 2011); - Propor alternativas juntamente ao Serviço de Nutrição do INCA para a oferta de refeições diárias para os pacientes no refeitório da unidade; - Inserir a participação de Assistentes Sociais para viabilizar alternativas em prover acomodação, refeições e transporte; - Verificar juntamente à Administração dos Transportes para a possibilidade de locomoção dos pacientes com o veículo do hospital; - Estabelecer parcerias com os Patrocinadores para prover parte dos custos. ________________________ 12- é um instrumento legal que visa garantir, através do SUS, tratamento médico a pacientes portadores de doenças não tratáveis no município de origem por falta de condições técnicas. 142 6.6 – Simulações De acordo com o cenário referenciado neste trabalho, simularemos valores equivalentes à capacidade da UPC fase I em arrecadar receitas diferenciando pacientes incluídos em estudos patrocinados por indústrias farmacêuticas com ou sem inclusão de receitas para o recrutamento, ou estudos institucionais. Estabelecemos possíveis custos variáveis e fixos que foram considerados por 4 meses ou 120 dias (período de triagem e tratamento de cada paciente) e 13 meses (pesquisa de pacientes candidatos, compilação, análise dos dados), totalizando 17 meses de duração. O quantitativo de pacientes utilizados como referência foi 6 (3 institucionais e 3 patrocinados por indústrias farmacêuticas). As informações encontram-se detalhadas nos Anexos 8 à 17 e consistem em 5 etapas: 1ª Etapa: Cálculos dos custos da UPC fase I com a condução dos estudos clínicos divididos 4 possibilidades (Anexo 8) - Custo 1 - Custos Variáveis Operacionais Mensais na Prestação de Serviços Durante o Período de Tratamento dos Pacientes (4 meses) - Custo 2 - Custos Variáveis Operacionais Mensais na Prestação de Serviços Durante o Período de Recrutamento de Pacientes e Análise Estatística (13 meses ) - Custo 3 - Custos Fixos Mensais para 3 pacientes de Estudos Clínicos Institucionais e 3 pacientes de Estudos Clínicos Patrocinados por Indústria Farmacêutica - Custo 4 - Custos Variáveis Mensais por Paciente durante os 4 meses de tratamento (custos com os insumos do tratamento e custos com recrutamento para aqueles que vêem de outro Estado do Brasil, além do Rio de Janeiro). 2ª Etapa: Cálculo do Custo Total para a UPC fase I com base na Criação de Cenários prováveis considerando: 3 pacientes no Estudo Clínico Institucional e 3 pacientes no Estudo Clínico Patrocinado por Indústria Farmacêutica com duração total de 17 meses (4 meses de tratamento e 13 meses de recrutamento e análise estatística) - Cenário A: Somatório de todos os custos (variáveis e fixos) recrutando pacientes do Brasil incluindo. Para os 17 meses o custo estimado foi de R$ 990.716,09 (Anexo 9). - Cenário B: Somatório de todos os custos (variáveis e fixos), entretanto não são recrutados pacientes de fora do Estado do Rio de Janeiro. Para os 17 meses o custo estimado de R$ 857996,09 (Anexo 10). 143 - Cenário C: Custos com Recursos Humanos (Fixos e Variáveis) da UPC Fase I considerando a inclusão de Pacientes do Brasil. Para os 17 meses o custo estimado de R$ 810.724,68 (Anexo 11). - Cenário D: Custos com Recursos Humanos (Fixos e Variáveis) da UPC Fase I, entretanto não recrutando Pacientes de fora do Estado do Rio de Janeiro. Para os 17 meses o custo estimado de R$ 678.004,64 (Anexo 12). 3ª etapa: Geração de Receitas por Tipo de Estudo Clínico. Foi estabelecido o valor total por paciente em cada tipo de estudo clínico: Institucional, Patrocinado pela Indústria Farmacêutica com e sem inclusão de pacientes de outro Estado do Rio de Janeiro. Podemos visualizar no gráfico 8, o total máximo e mínimo de receitas geradas considerando 3 e 18 pacientes incluídos em cada estudo, respectivamente (Anexo 13). Gráfico 8 - Total de Receitas Geradas por tipo de Estudo Clínico Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) 144 4ª etapa: Com os valores de custo total e de receitas, visualizamos os custos, independente dos cenários, muito superiores que os de receitas geradas com o mínimo de funcionamento da UPC Fase I, conforme quadro 17. Quadro 17 - Receitas versus Custos Totais da UPC Fase I Receitas versus Custo Total para 3 pacientes no Estudo Clínico Institucional e 3 pacientes no Estudo Clínico Patrocinado por Indústria Farmacêutica com duração total de 17 meses Cenário A Cenário B Cenário C Somatório de todos os custos recrutando pacientes do Brasil Somatório de todos os custos recrutando pacientes do Estado do Rio de Janeiro Custos com os recursos humanos Contratados (Fixos e Variáveis), recrutando pacientes do Brasil. Sendo: Sendo: Receitas 18.000 x 3 = 54.000 52.000 x 3 = 156.000 -------------210.000,00 - 990.716,09 (custo Total) ----------------- Sendo: Receitas: 18.000 x 3 = 54.000 30.000 x 3 = 90.000 -------------144.000,00 - 857.996,09 (custo Total) ---------------- R$ - 780.716,09 R$ - 713.996,09 Cenário D Custos com os recursos humanos Contratados (Fixos e Variáveis), recrutando pacientes do Estado do Rio de Janeiro Sendo: Receitas: Receitas: 18.000 x 3 = 54.000 52.000 x 3 = 156.000 -------------210.000,00 - 810.724,68 --------------R$ - 600.724,68 18.000 x 3 = 54.000 30.000 x 3 = 90.000 -------------144.000,00 - 678004,64 --------------- R$ - 534.004,64 Fonte: Elaborada pela própria autora (2012) 5ª etapa: Em uma tentativa encontrar no ponto de equilíbrio para a sustentabilidade da UPC Fase I durante os 17 meses, apresentamos algumas hipóteses (Anexo 14): - Se aumentarmos os valores cobrados por procedimento em 50 % com inclusão mensal de 9 pacientes no estudo clínico patrocinado e 10 no estudo clínico Institucional; - Se aumentarmos os valores cobrados por procedimento em 475% com a inclusão mínima de 3 pacientes no Estudo Clínico Patrocinado e 3 Pacientes no Estudo Clínico Institucional; 145 - Se aumentarmos os valores atuais cobrados por procedimento seria necessário incluir 14 pacientes no estudo clínico institucional e 15 pacientes no estudo clínico patrocinado. A escolha do cálculo de 3 pacientes em cada estudo clínico foi baseada na coorte mínima e escolhemos 9 pacientes em cada estudo para o cálculo do ponto de equilíbrio, pois é a coorte máxima caso não haja nenhuma toxicidade dose limitante de acordo com o método Fibonacci. Os custos mais significativos do Modelo de Negócios seriam os recursos humanoschave para a operação da UPC fase I, cujas contratações basearam-se por regime de CLT e os custos com o recrutamento de cada paciente, caso este seja viabilizado apenas pela unidade em um cenário sem parcerias. Entretanto, por estar inserida em uma instituição maior, custos importantes incluindo a vida útil, manutenção, calibração e reparo de tecnologias hospitalares não foram contabilizadas. Outro custo significativo é correspondente ao recrutamento de pacientes de outro Estado do Brasil que não seja o Rio de Janeiro. Acreditamos que caso o estudo apresente critérios de inclusão específicos que dificultem a triagem de pacientes com perfil apropriado, devido aos interesses maiores das Indústrias Farmacêuticas, não haveria obstáculos em cobrir os custos de recrutamento dos pacientes. Entretanto, caso o estudo seja institucional, a cobertura deste custo seria dificultada sem ausência de parcerias. Ao tentarmos aproximar a um ponto de equilíbrio, a alternativa que considera um aumento de 475%, não corresponde a um possível conduta. Apesar de estimarmos valores bem aproximados da realidade, ficou claramente exposto que estudos patrocinados rendem mais receitas do que estudos de iniciativa do pesquisador, entretanto suas receitas finais devem ser interpretadas de maneiras diferentes, pois ambos representam objetivos institucionais diferenciados. A forma de cobrança por serviços da UPC fase I utilizada nesta dissertação foi a mesma utilizada pela Coordenação de Estudos Clínicos do INCA. Especificamente para estudos nesta fase, que são patrocinados por indústrias farmacêuticas, não é adequado seguir o mesmo padrão nos valores existentes e sim refazer o sistema de custo e as maneiras de cobrálos de forma que gere receitas ao empreendimento. Este tipo de cliente visa a qualidade e agilidade dos centros de pesquisa para o desenvolvimento do seu produto. 146 Os estudos clínicos institucionais direcionam-se à demanda da Saúde Pública Brasileira. Suas receitas são menores e oriundas de parcerias com as indústrias farmacêuticas detentoras do produto e de agências de fomento como BNDES, quando visa o desenvolvimento do produto nacional, e DECIT, CNPq e MS, quando destinado às novas condutas terapêuticas, aprimoramento profissional e incorporações tecnológicas em território nacional. Após o cálculo de estimativas dos aspectos financeiros, temos que a UPC fase I não é orientada por custos, mas sim pautada por valores percebíveis e não quantificáveis. Ao tratar a UPC fase I como uma organização, o custo para estruturá-la, mantê-la e gerenciá-la torna-se relevante para os aportes financeiros, entretanto menos considerável ao tornar factível o que se espera de geração de valores pelos múltiplos agentes envolvidos. Os valores ultrapassam os custos de uma organização (PORTER, 1991) e para este momento o que fará a UPC fase I solidificar, além dos investimentos, será a representatividade dos agentes envolvidos como: - Pacientes: vínculo, confiança, segurança e qualidade na assistência prestada; - Parceiros, Clientes e Patrocinadores: capacidade de gerenciar e executar os serviços com qualidade, potencial para futuras parcerias, credibilidade da instituição, equipe qualificada, infraestrutura adequada, possibilidade de transferências de tecnologias, fornecimento de dados fidedignos, geração e difusão do conhecimento - Recursos Humanos: salários, benefícios, retorno institucional, progressos na carreira, infraestrutura, treinamento, capacitação, aprendizado e conhecimento. - Dirigentes: representatividade e estímulos à inovação com abrangência tecnológica, científica e social. 147 7. Propostas O desenvolvimento de um referencial para estruturar e gerir uma unidade de pesquisa clínica de estudos de fase I no Instituto Nacional de Câncer partiu da necessidade em tornar competitiva e sustentável a participação institucional e consequentemente nacional nos estágios iniciais de desenvolvimento de medicamentos em oncologia. A UPC fase I foi idealizada como parte de um Instituto de referência governamental dedicado ao suporte de formulação e implementação de políticas públicas contra o câncer por meio de aconselhamento aos órgãos do governo vinculados. Utilizamos como primeira etapa, a pesquisa exploratória que demonstrou desvantagem nacional e limitado número de recursos humanos com expertise no desenho e condução de estudos clínicos fase I quando comparadas às líderes de mercado mundial. Apontou a necessidade de mobilizar estratégias para aproximar o desenvolvimento científico e tecnológico e articular as especificidades do planejamento e gestão de órgãos públicos de saúde com as particularidades do ambiente de inovações em oncologia. A importância dos recursos humanos foi citada em um estudo desenvolvido por Huckman & Zinner (2008), que abordou a relação entre a gestão, produção e o desempenho de centros de pesquisa que conduzem estudos clínicos. Afirma que grandes investimentos são necessários para a estruturação de um centro e estimula o foco operacional destacando a economia de escala para cobrir os custos fixos de investimentos por meio de atividades que arrecadam mais receitas. E por isso, o foco da atenção está na precisão, qualidade e quantidade de atividades a serem desempenhadas pelos recursos humanos. Cumprida esta etapa, afirmamos que as instâncias técnica e ética brasileiras têm fundamental influência nas regulamentações em pesquisa clínica, entretanto o que podemos perceber é que recursos humanos buscam justificar suas práticas em publicações internacionais e a ausência de normas e padrões específicos para condução de estudos fase I parecem contribuir para um fator que repercute negativamente para atrair novos estudos nesta etapa: a morosidade no tempo de análise e aprovação regulatória. Esta discussão precisa ser incentivada, disseminada e aprofundada. Iniciativas governamentais foram criadas de forma a orientar as instituições envolvidas com a pesquisa clínica, e incluem a RNPC e RNPCC, que podem impulsionar a demanda por estudos clínicos inclusive os de fase I. Entretanto, parece ser necessário solucionar gargalos como prazo 148 regulatório e qualificação profissional, e a partir de então, proporcionar mais benefícios às entidades tecnológicas, comunidade científica e a população brasileira. Nesse sentido temos como Proposta 1: propor a criação de comitês por instâncias nacionais ou locais específicos à análise de estudos na fase I, assim como os existentes no FDA e EMEA que apresentam critérios diferenciados para este propósito. A primeira e mais abrangente conclusão que pode ser derivada deste trabalho é, portanto, a da existência de características, que embora não exclusivas da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA ou das outras organizações nacionais públicas de saúde e pesquisa, formam, em seu conjunto, um arsenal bastante particular de análise. Devido aos elementos identificados na base conceitual, teórico e normativa e a natureza essencialmente distinta dos componentes que formam o ambiente de pesquisa clínica, a elaboração de um modelo para guiar a estruturação e a gestão de uma unidade específica de pesquisa em estágio inicial foi considerado como o método mais adequado para reunir instrumentos para compor as práticas. Foi por este motivo que do ponto de vista metodológico, foi apresentada a arquitetura do Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur (2010). Perpassamos as etapas de mobilização, compreensão e gerenciamento que visaram reunir, pesquisar e analisar todos os elementos envolvidos, reafirmar a necessidade e a motivação para a criação do modelo, e configurar a sua estrutura gerencial. Compuseram o modelo, a proposta de valor, a identificação, relacionamento e canais de comunicação com os clientes, além da infraestrutura e dos aspectos financeiros. Como segunda Proposta o Modelo de Negócios da UPC fase I pode ser visualizado na Figura 13. 149 Figura 13 – The Bussiness Model Canvas da UPC fase I Fonte: Elaborada pela própria autora a partir de Osterwalder e Pigneur (2010) A proposta de valor foi criada com base nas características dominantes e de singularidade do empreendimento. Foi acreditando nos valores oferecidos pela UPC fase I que os padrões institucionais demandados por clientes e parceiros sejam atendidos e repercutam na participação da etapa inicial do desenvolvimento de um novo medicamento. Assim como é vital estabelecer padrões de vantagem competitiva, uma vez que foi identificado o ICESP como principal concorrente da UPC fase I, a interface com os clientes é um dos caminhos para a difusão, troca e avaliação do que está sendo oferecido e do que ainda pode ser criado pela UPC fase I. Consideramos seus principais clientes, neste primeiro momento, Instituições Governamentais Brasileiras e as indústrias farmacêuticas multinacionais e nacionais, com fundamental existência de uma logística de comunicação com elas para que o mecanismo de retroalimentação positiva desencadeie com o número de produtos investigacionais, mais estudos clínicos a serem desenhados e conduzidos, aumentando as chances de participação institucional. A operacionalização com vistas a atender às exigências do mercado e a otimização máxima de recursos foi respaldada com a gestão de infraestrutura que permite a composição 150 principal e a criação de rotina dos profissionais ao utilizarem os recursos físicos chave da unidade. No entanto, novamente ausência de manuais e padronizações nacionais dificulta o processo de fundamentação das atividades. Complementarmente, destaca-se a necessidade de que a UPC fase I desenvolva uma estrutura adequada que perpasse a qualidade dos recursos humanos e da capacidade física instalada. Incluímos juntamente com as competências tecnológicas, a seleção de parceiros e o gerenciamento de relações de cooperação. Vale ressaltar que para a escolha dos parceiros, não consideramos apenas em termos de excelência científica e tecnológica, como também aspectos que dizem respeito à política industrial, para o caso das relações entre as organizações públicas de pesquisa e indústrias farmacêuticas, às necessidades de desenvolvimento e consolidação de sistemas de pesquisa e inovação, sejam eles nacionais, regionais, locais ou setoriais, assim como às relações diplomáticas entre os países, para o caso de parceiros internacionais. Por isso indicamos como Proposta 3: desenvolver uma estrutura em rede voltada à identificação de demandas e oportunidades de prestação de serviços e de parcerias, em prol de estudos clínicos fase I, configurando uma aproximação e profissionalização com a interlocução entre eventuais clientes e parceiros. Ao abordar os aspectos financeiros, consideramos a UPC fase I inserida em uma instituição pública de saúde e por isso o total do custo e de investimentos necessários não devem somente resultar em valores monetários, mas sim avaliar os benefícios de sua existência como a qualidade dos serviços prestados ao público alvo por meio de qualificação profissional e formulações de diretrizes políticas e terapêuticas de seguimento em todo o território nacional. O Modelo de Negócios da unidade foi então construído no contexto financeiro da inexistência de definição sobre vencedores e perdedores. Pelo fato diferenciado de não estar exclusivamente relacionado à garantia da posição competitiva, mas sim ao cumprimento de sua missão institucional. Esta diferenciação, entretanto, não implica imaginar que as organizações públicas de saúde e pesquisa não estejam submetidas permanentemente a um processo seletivo, no qual elas podem evoluir positivamente ou deteriorar-se. Elas, como quaisquer outras organizações, estão imersas em ambientes seletivos específicos com critérios e indicadores, ainda que diferentes dos critérios e indicadores de uma empresa privada (SALLES-FILHO et al, 2000). Proposta 4: Realizar anualmente relatório de gestão da unidade para criar e alimentar indicadores, avaliar a produtividade, estimar a capacidade, 151 fomentar recursos e realizar estudos de prospecção com vistas a otimizar os objetivos da unidade. Vale ressaltar que o Modelo de Negócios vigente na Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA segue as mesmas exigências contratuais para todas as fases do estudo (I à III), apesar da afirmativa de quanto mais prematura é a fase de desenvolvimento do medicamento mais complexo é o desenho e a condução do estudo. Por isso sugerimos como Proposta 4: A criação de uma ferramenta para análise de orçamento específica para estudos clínicos de fase I como medidas que visem o ajuste do valor total de receitas obtidas oriundas de indústrias farmacêuticas para cada paciente incluído. Ainda sob esta ótica, podemos perceber que a principal maneira de gerar receitas com a unidade é pelo modelo das indústrias farmacêuticas que pagam pelos serviços executados por procedimentos com pacientes. Tal fato enfatiza a importância do planejamento, pois as atividades operacionais da unidade continuam mesmo após o término do tratamento dos pacientes. Além disso, a Instituição não dispõe de gestão de custos que possa apurar fidedignamente o micro custeio da unidade dificultando prever o custo total com um estudo de fase I e a avaliação deste apresentar valores elevados ao ponto de impactar o seu início. Proposta 5: Desenvolver a gestão de custos para possibilitar planejamento fidedigno incluindo o cálculo das despesas reais com as atividades cotidianas da UPC fase I. A importância de efetivar a institucionalização das práticas de planejamento e gestão na UPC fase I torna essencial criação de regras e procedimentos formais e de comportamentos específicos que fundamentem as rotinas operacionais com a relação entre os componentes jurídicos e políticos, sustentadas por uma estrutura organizacional específica. Em linhas gerais, trata-se de um movimento a partir do qual as práticas adquirem valor, e tornam-se padronizadas e, por conseqüente, mais consistentes. Ao longo do tempo, a necessidade de justificá-las tendem a diminuir até que tornem legítimas a partir da explicitação de seus benefícios. Finalizamos com a Proposta 6 com as possíveis mudanças que os serviços oferecidos pela UPC fase I podem resultar em curto, médio e longo prazo, conforme Quadro 17. 152 Quadro 18: Modificações potenciais em curto, médio e longo prazo resultantes dos Serviços da UPC fase I Modificações Potenciais Curto Médio Longo * Divulgação para os profissionais *Criar indicadores de qualidade * Tornar o Brasil, país da América do INCA sobre a UPC fase I; que Latina, de referência em fase I; * Incentivo aos pesquisadores serviços da unidade; * Reduzir o tempo de aprovação para desenhar protocolos; * Centro consultivo às instâncias pelas instâncias regulatórias em regulatórias; estudos de fase I; institucional de pesquisa; * Centro de referência para * Facilitar o desenvolvimento de * Aumento no número de Estudos demais centros de pesquisa; pesquisas éticas, que possuem Clínicos Fase I no INCA; * Facilitar desenvolvimento de valor científico e contribuem para estudos de fase 0 e de pesquisa o desenvolvimento sanitário e pacientes incluídos no tratamento translacional; econômico do país; em estudos de fase I no INCA; * Aumentar o quantitativo de *Incentivar a competitividade e estudos clínicos fase II; capacidade * * * Fortalecer Aumento Aumento a no no política número número de de assegurem Estabelecer a oferta parcerias de com de inovação das amostras biológicas coletadas para * análise em estudos futuros de outros países; *Captar número representativo de acordo com as políticas do Banco * Local de treinamento para amostras Nacional de Tumores e DNA do pesquisadores e demais membros incentivar pesquisas básicas; INCA (BNT INCA, 2012); da equipe de outros centros de * Conhecimento à equipe de pesquisa; pesquisa clínica; *Incentivar regulamentações para I criação de comitês exclusivos para multicêntricos e ser o centro análise de estudos de fase I no coordenador; Brasil; * * Incentivar Permitir estudos fase transferência de Estabelecer interinstitucionais biológicas para * Aproximar a performance do Brasil com os demais países; tecnologias; * indústrias brasileiras de saúde; parcerias e público- privadas; * Estimular o debate às instâncias regulatórias éticas e técnica; * Reduzir o tempo de condução de estudos fase I; LFonte: Elaborado pela própria autora (2012) 153 8. Considerações Finais A UPC fase I será estruturada em um contexto no qual a necessidade médica em tratar o câncer é prioridade de saúde nacional e internacional. Os medicamentos ganham força com a inovação e as pesquisas buscam comprovar uma relação direta entre mutações genéticas que desencadeiam o câncer e a eficácia dos medicamentos desenvolvidos com o auxílio de incorporação de tecnologias e de uma infraestrutura eletrônica. O tipo de tratamento mudou com a evolução da tecnologia. O que antes era “one-sizefits-all” (medicamentos atuando em diversas fases do ciclo celular indicados para diversos perfis de pacientes), está sendo gradativamente substituído por uma medicina personalizada cujos produtos são alvo-moleculares específicos. Isto modifica a dinâmica das indústrias farmacêuticas e os critérios de mudança no valor do produto ou do serviço oferecidos pelos centros de pesquisa. Pensando nisso, o projeto da UPC fase I do INCA foi estruturado para atender a demanda da saúde, ser uma Unidade de referencia Nacional e reconhecimento Internacional. Contudo, com a sua existência, listamos alguns desafios evidentes na tabela 15: Tabela 15: Desafios Iniciais da UPC fase I - Recrutar Candidatos com o Molecular do Estudo Perfil - Viabilizar Treinamento dos Recursos Humanos - Manter Equilibro entre Estudos Clínicos - Estabelecer Parcerias com Instituições que Institucionais e Patrocinados por Indústrias disponham de testagem moleculare Farmacêuticas - Estabelecer Parcerias com Instâncias - Captar Recursos Financeiros Regulatórias Fonte: Elaborado pela própria autora (2012) - Recrutamento de Candidatos com o Perfil Molecular do Medicamento em Estudo Embora estudos clínicos de fase I incluam um número menor de pacientes do que estudos de fase II e III esperam-se dificuldades no recrutamento, tendo em vista a exigência de incluir exclusivamente pacientes que possuem o perfil molecular compatível com o 154 mecanismo de ação do medicamento, cumprindo a obrigatoriedade de seguir as etapas iniciais de investigação biotecnológica e de diagnóstico antes de incluir o paciente no estudo. Técnicas de recrutamento de pacientes deverão ser divulgadas em todas as Instituições Nacionais. - Estabelecer Parcerias com Instituições/Laboratórios que disponham de tecnologias para testagem moleculares Juntamente com a divulgação de estratégias para captação de pacientes entre as Instituições Nacionais, devem-se estabelecer logística sobre quais laboratórios serão responsáveis pelos testes moleculares necessários e como estes serão viabilizados. São testes específicos que demandam tecnologias avançadas com intenção de aplicar aos pacientes captados. Consideramos inclusive as opções desses testes não serem realizados pelo INCA e de realizar o recrutamento de pacientes em todo o Brasil, sendo necessário desenvolver uma logística para coleta e processamento das amostras biológicas requeridas. - Captação de Recursos Financeiros Condutas e técnicas avançadas de diagnóstico e tratamento vem sendo incorporadas na assistência oncológica, repercutindo inclusive em modificações nos padrões de recrutamento, testagem moleculares e procedimentos do estudo. Traz como consequencia a previsão de um aumento nos custos necessários para conduzir estudos clínicos, que incluem aprimoramento na infraestrutura e aperfeiçoamento dos recursos humanos. Por isso, um desafio à UPC fase I é desenvolver estratégias e parcerias para captação de recursos financeiros que possam viabilizar o funcionamento da Unidade. - Treinamento dos Recursos Humanos Considerando a pouca experiência de recursos humanos brasileiros em fase I, contratar equipe capacitada e treinada é uma dificuldade prevista, assim como sugerir possíveis Instituições Nacionais como locais de treinamento da equipe. Para isso, incluímos a captação de recursos financeiros e as parcerias com Instituições Internacionais para promover o aperfeiçoamento como os desafios iniciais. 155 - Equilibro entre Estudos Clínicos Institucionais e Patrocinados por Indústrias Farmacêuticas A UPC fase I será estruturada de forma ser imprescindível estabelecer parcerias com agências de fomento, órgãos do Governo e patrocinadores, para tornar factível a realização dos estudos clínicos institucionais sem onerar o Sistema Único de Saúde. Por outro lado, as experiências internacionais em pesquisa clínica demonstram que o financiamento privado é importante e se estabelece com a capacidade de elaboração e execução de projetos das unidades. Portanto, planejar e viabilizar o quantitativo anual de Estudos Clínicos Institucionais e Estudos Clínicos Patrocinados por Indústrias Farmacêuticas torna-se um desafio relevante para garantir o sucesso da unidade e favorecer todos os tipos de clientes e parceiros. É necessário um contingente de recursos financeiros contínuo, obtidos de forma conjunta com recursos públicos e que atendam a projetos de interesse para o desenvolvimento tecnológico e em consonância com as políticas de saúde do Brasil. - Estabelecer Parcerias com as Instâncias Regulatórias Diminuir o tempo de análise regulatória pelas Instâncias Éticas e Técnica Nacionais é fundamental para a operação da UPC fase I. A demora na aprovação de estudos clínicos é uma desvantagem relevante para um país que pretende ser competitivo. Portanto, em conjunto com os desafios supracitados, assim como é imprescindível que a UPC fase I desempenhe a logística com viabilidade operacional e planejamento financeiro, é essencial a parceria com órgãos regulatórios de modo agilizar a iniciação de estudos nesta fase no Brasil. Levando em consideração a estruturação da UPC fase I e os desafios supracitados, o modelo de Osterwalder e Pigneur (2010) e a sua ferramenta Bussiness Model Canvas resume de forma abrangente as variáveis existentes ao criar um Modelo de Negócios. Apresenta um conceito de ontologia bem definido que possibilita a identificação de uma completa e bem delimitada estrutura de trabalho juntamente com o estudo de cada componente do Modelo de Negócios e como eles interagem entre si. Mesmo com as principais dificuldades que incluíram a ausência de padronização nacional que defina a funcionalidade e as especificidades de uma unidade de fase I, criando obstáculos na materialização da logística a ser empregada, foi possível estruturar um novo 156 espaço organizacional com rotinas e gerenciamento estratégico, político e institucional baseada nas práticas profissinais da Coordenação de Pesquisa Clínica do INCA e em referenciais bibliográficas. O Modelo de Osterwalder e Pigneur (2010) apresentou para este trabalho duas lacunas importantes: - Ausência de abordagem sobre modelos de avaliação: Há pouca abordagem aos direcionamentos entre os meios para gerar fonte de receita e gerenciar a estrutura de custo de um empreendimento nascente. O Modelo não discute critérios para estimar a viabilidade e sustentabilidade de diferentes organizações, inclusive as organizações públicas de saúde e de pesquisa. Como alternativa a esta lacuna, a operação da UPC fase I pode ser materializada com a criação de cenários e simulações para possa tornar possível uma visão mais próxima da realidade; - Ausência de Metodologias de Mudança: Não houve abordagem sobre sugestões de métodos como formulação de guias, manuais e procedimentos especificando ações a serem tomadas, quando houver a necessidade de alterar ou adaptar o Modelo de Negócios devido possíveis transformações de negociações ou tecnologias; Portanto, concluímos esta dissertação com a proposta para a continuidade de pesquisas, a iniciar pela validação do Modelo de Negócios da UPC fase I com base em experiências de profissionais de centros de pesquisa clínica nacional e internacional, de forma que permita conhecer outras opções de Modelo de Negócios, confrontar com o existente, e por fim implementá-lo. 157 9. Referências Bibliográficas ABRACRO. Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica. 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