Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. ALGORITMO HÍBRIDO PARA DETECÇÃO DE EXPLOSÕES QUÍMICAS EM ÁREAS DE EXPLORAÇÃO DE MINÉRIOS 1 LUCAS P. MOREIRA, 2PEDRO DE A. BERGER, 3GEOVANY A. BORGES, 3FRANCISCO ASSIS DE O. NASCIMENTO 1 2 Departamento de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade de Brasília – UnB Departamento de Ciência da Computação, Instituto de Ciências Exatas, Universidade de Brasília – UnB 3 Departamento de Engenharia Elétrica, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília - UnB Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract Utilizing infrasound signals for monitoring natural and artificial activities in addition to studying the atmosphere’s physical properties has grown in the past decades and much research has been developed in an attempt to extract information as well as the characteristics of infrasonic signals. This study proposes and develops an algorithm for automated detection of chemical explosions using artificial neural networks (ANN) and discrete wavelet transform (DWT) to preprocess infrasound signals. The objective of DWT is to reduce the intrinsic statistical dependence of time infrasound signals and, as a result, improve the neural network’s performance. Normalized wavelet coefficients are used as the feature vector to be processed by the ANN. The system developed was evaluated for chemical explosions generated in mineral exploration quarries and with data registered by the infrasound station I09BR, an arrangement made up of four sensors located in the city of Brasília (Brazil) and operated by the Seismology Observatory at the University of Brasília (UnB). The methodology employed revealed itself to be efficient in extracting characteristics of infrasound signals as well as in rapid processing for real time application. All of the explosion signals were detected by the system meaning that there was 100% detectability. Keywords infra-sound signal, neural network, wavelet transform Resumo A utilização dos sinais de infrassom para monitoramento de atividades naturais e artificiais, além do estudo de propriedades físicas da atmosfera, tem crescido nas últimas décadas e várias pesquisas têm sido desenvolvidas na tentativa de extrair características e informações de sinais infrassônicos. Este trabalho propõe o desenvolvimento de um algoritmo de detecção automática de explosões químicas utilizando redes neurais artificiais (RNA) pré-processadas com transformada wavelet discreta (TWD), por se mostrar eficiente na diminuição da dependência estatística dos sinais e, consequentemente, melhorando o desempenho de detecção da rede neural. O sistema desenvolvido foi avaliado para explosões químicas geradas em pedreiras de exploração mineral e com dados registrados pela estação de infrassom I09BR, um arranjo composto de quatro sensores, localizada na cidade de Brasília e operada pelo Observatório Sismológico da Universidade de Brasília. A metodologia empregada se mostrou eficiente na extração de características dos sinais de infrassom e rápido processamento para aplicação em tempo real. Todos os sinais de explosões foram detectados pelo sistema, apresentando uma detectabilidade de 100%. Palavras-chave Sinal de infrassom, rede neural, transformada de wavelet. 1 Introdução Em um país continental com características sócias econômicas peculiares como é o Brasil, as atividades de exploração de recursos minerais apresentam um papel de destaque no crescimento econômico do país. Contudo, frequentemente essa exploração mineral não é realizada de maneira adequada, provocado alterações ambientais com repercussões ao nível da biodiversidade e dos ecossistemas. O Brasil possui grandes reservas de minerais e, atualmente, mais de 55 diferentes minerais são explorados. Entre os principais minérios metálicos encontrados no Brasil podemos citar: o ferro, a bauxita, o cobre, o cromo, o ouro, o estanho, o níquel, o manganês, o zinco e o potássio. A exploração de minerais não metálicos também apresenta grande importância econômica devido ao seu alto valor de mercado. A exploração desses minerais para uso na indústria de construção civil, indústria do cimento, cal hidráulica e para aplicações ornamentais são frequentes ao longo de todo o território brasileiro. As principais substâncias exploradas são os mármores, grani- ISBN: 978-85-8001-069-5 tos e calcários e também, areias argilas, basalto, calcita, gesso, saibro e outros. Muitas dessas explorações são realizadas em pedreiras com o uso de explosivos químicos. A exploração em pedreiras tem originado grandes extensões de áreas degradadas onde a destruição causa grande impacto visual e enorme prejuízo ao meio ambiente. Em um país das dimensões do Brasil e que possui regiões remotas com baixa densidade populacional, é necessário se desenvolver tecnologias que auxiliem, por exemplo, a fiscalização da frequência do uso de explosivos químicos nos locais de exploração mineral. A atividade de extração de recursos minerais se dá através do desmonte das rochas utilizando explosivos químicos, que tem sua produção, comercialização e utilização regulamentada e fiscalizada pelo Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro. O monitoramento dessas atividades, no entanto, é deficiente devido às dimensões continentais do país, favorecendo a utilização não autorizada de explosivos e extração ilegal de minério. Sinais de infrassom podem propagar por longas distâncias sofrendo baixa atenuação, sendo uma importante ferramenta para detecção de explosões químicas provenientes de extração mineral. Esse é o 3452 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. contexto desse trabalho onde se apresenta um algoritmo dedicado para detectar explosões químicas tendo como referências sinais de infrassom emitidos no processo. O infrassom é uma onda acústica inaudível para o ser humano, ou seja, com frequências abaixo de 16 Hz. Por ser uma perturbação acústica, ela se caracteriza por variações da pressão do ar, sendo este o principal meio de propagação. As fontes desse tipo de onda são variadas, podendo estar relacionadas com eventos naturais, como explosões vulcânicas e raios, ou produzidas pelo homem, como aviões superando a barreira da velocidade supersônica, explosões químicas e nucleares. Por serem de baixa frequência, elas são capazes de percorrer longas distâncias sofrendo baixa atenuação, o que possibilita a pesquisa de importantes propriedades da atmosfera. Os estudos relacionados com sinais de infrassom têm história recente e, por isso, é uma área de pesquisa pouco explorada. O processamento e análise dos sinais de infrassom possuem aplicações variadas, tais como: meteorologia, física da atmosfera, monitoramento de explosões vulcânicas e tornados, detecção de explosões químicas e nucleares, entre outras. Como exemplos de aplicações utilizando dados de infrassom podemos citar Yanjie et al. (2007), que utilizaram sinais de infrassom para desenvolvimento de sistema de detecção de raios, o estudo de Pilger e Bittner (2009) a respeito das mudanças de temperatura na baixa atmosfera (mesopausa) utilizando observações de infrassom registrados na superfície, e o trabalho de Johnson (2003), que observou sinais de infrassom em conjunto com dados sísmicos para detecção e estudo de erupções vulcânicas. Outros trabalhos como detecção e quantificação de meteoros de Edwards et al. (2006) e estudos da alta atmosfera (ionosfera) de Laštovička (2006) também exemplificam aplicações desse tipo de sinal. Após a assinatura do Tratado Completo de Proibição de Testes Nucleares “Comprehensive Nuclear-TestBan Treaty” (CTBT), o interesse no estudo de infrassom, em especial nas ondas geradas por explosões nucleares, aumentou significativamente, e por isso foi, criada uma rede mundial de sensores integrando o Sistema de Monitoramento Internacional (IMS), da Organização para o Cumprimento do Tratado Completo de Proibição de Testes Nucleares “Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization” (CTBTO) (Hedlin, 2003). Devido ao grande número de eventos registrados em várias estações infrassônicas do IMS, algumas chegando a 215.000 eventos no intervalo de 4 anos, o desenvolvimento de um sistema automático de classificação e/ou detecção de eventos de interesse torna-se importante e várias ferramentas tem sido desenvolvidas para análise e processamento de sinais de infrassom. Ham e Park (2002), Ham et al. (2005) e Ham et al. (2007) aplicaram diferentes topologias de redes neurais em diferentes bancos de dados de infrassom para aplicações de sistemas de classificação de eventos, utilizando em todos eles o ISBN: 978-85-8001-069-5 mesmo pré-processamento baseado em coeficientes cepstrais “cepstral coeficients”. Chilo et al. (2005) apresentam as vantagens da utilização da Transformada Wavelet Discreta (TWD) para extração de características em sinais de infrassom. Por fim, Chilo e Lindblad (2008) implementaram um hardware baseado em FPGA para decomposição do sinal em coeficientes wavelets em tempo real. Nesse trabalho propomos um algoritmo baseado em Redes Neurais Artificiais (RNA) pré-processadas com a Transformada Wavelet Discreta (TWD) para a detecção automática de explosões químicas geradas por pedreiras. Os dados utilizados foram adquiridos pela estação de infrassom I09BR, que é parte integrante da rede mundial IMS e está localizada na região central do Brasil. A estação é operada pelo Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) e mantida com recursos do CTBTO. Os sinais utilizados para treinamento e teste do algoritmo desenvolvido são obtidos a partir de explosões químicas geradas por empresas mineradoras dos arredores da cidade de Brasília a uma distância de aproximadamente 20 km da estação I09BR, sendo captados tanto sinais acústicos quanto sinais sísmicos em estações sismográficas da UnB. A estação I09BR possui quatros sensores e disponibiliza simultaneamente quatro sinais como ilustrado na Figura 1. Figura 1. Sinais de infrassom registrados pelos quatro elementos da estação I09BR, com escala de tempo em minutos e o evento da explosão química indicados por setas nos respectivos gráficos. 2 Aquisição dos sinais de infrassom A aquisição dos sinais de infrassom na estação I09BR é feita por um arranjo de quatro sensores dispostos na geometria de um triângulo, com três sensores nos vértices do triângulo e um sensor no centro, conforme pode ser visto na Figura 2. Os pontos designados por “H1, H2, H3 e H4” indicam o posicionamento geográfico dos sensores. 3453 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. 3 Descrição do algoritmo Os módulos individuais do algoritmo de detecção de explosões químicas são mostrados a seguir na figura 4. Observe que o pré-processamento é igual para cada uma dos quatro sinais coletados de forma simultânea pela estação I09BR. O módulo de pósprocessamento trata as saídas das redes neurais e confirma ou não o evento espúrio. Nas próximas seções serão descritos cada módulo que constitui o sistema de detecção de explosões químicas. 2.2 Pré-processamento Figura 2. Geometria da estação I09BR Bedard (2000) apresenta diferentes tipos de ruído de fundo presente em sinais de infrassom e propõe diferentes tipos de abordagem para aumento da relação sinal-ruído para o devido processamento e análise dos sinais. O principal tipo de ruído de fundo é associado a turbulências causadas por: ventos e pequenos redemoinhos, convexões térmicas e ondas gravitacionais. Dessa forma, cada elemento do arranjo contém um sistema de minimização de ruído baseado em um filtro espacial constituído por rosetas de 18 metros de largura (Hedlin et al., 2003). Os sensores utilizados são microbarômetros do modelo MB2000, desenvolvidos pelo Departamento de Análise e Monitoramento Ambiental (Département Analyse, Surveillance, Environnement – DASE), da Comissão de Energia Atômica da França (Commissariat à l'Énergie Atomique – CEA). Esses sensores são sensíveis a variações de pressão menores que 1 mPa e possuem faixa dinâmica de 134 dB, com resposta plana em frequência entre 0,07 e 4 Hz. Os dados são digitalizados pelo registrador Aubrac, também produzido pelo DASE, a uma taxa de vinte amostras por segundo, cada uma delas com 24 bits de precisão. Uma foto do sensor e do digitalizador são mostradas nas figuras 3a e 3b. A finalidade do algoritmo proposto é identificar os eventos transitórios associados às explosões químicas que são sobrepostas em um ruído de fundo nos sinais colhidos a partir dos sensores da estação de infrassom de maneira ininterrupta no tempo. O pré-processamento tem como objetivo a extração de características inerentes à assinatura espectral que diferenciem os sinais de infrassom provenientes de uma explosão química do ruído de fundo superposto, com o intuito de otimizar o treinamento da rede neural e aumentar seu desempenho discriminatório. A figura 5 ilustra em diagramas de blocos os diversos módulos do pré-processamento. Figura 4. Diagrama mostrando uma visão panorâmica do sistema que é constituído pela estação de infrassom I09BR, distribuição geométrica dos sensores (H1, H2, H3 e H4), subsistema de transmissão de sinais, estação remota no departamento de sismologia - UnB e nos módulos do algoritmo de detecção de explosões químicas. (a) (b) Figura 3. a) Foto do microbarômetro MB2000 e b) foto do digitalizador Aubrac, ambos desenvolvidos pela DASE/CEA. Figura 5. Diagrama de blocos descritivos dos módulos constitutivos do pré-processamento dos sinais de infrassom. Primeiramente cada sinal é segmentado em janelas deslizantes de comprimento igual a 256 amostras. ISBN: 978-85-8001-069-5 3454 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Janelas sucessivas terão uma superposição de 75% do seu total de amostras. A remoção da linha de base (componente DC) é efetuada em cada janela, devido à grande amplitude dos ruídos de fundo de baixas frequências inerentes aos sinais coletados. Esses ruídos apresentam componentes de frequência abaixo de 0,5 Hz. Integrado nesta etapa é implementada a minimização de ruídos por limiar suave de Donoho (1995). O objetivo é melhorar a relação sinal-ruído e, consequentemente, realçar a diferença entre a assinatura espectral dos sinais de explosões químicas eventuais e o ruído de fundo característico do processo. Um exemplo é mostrado na figura 6. (a) (b) (c) (d) (a) (b) Figura 7. Na figura 7.a é mostrado o segmento de sinal ilustrado na fugura 6.c o janelamento de Hanning e, analogamente, na figura 7.b é mostrado o segmento de sinal da figura 6.d após o janelamento de Hanning. Em seguida, é realizada uma decomposição em um conjunto de sub-bandas por meio da transformada discreta de Wavelet aplicada a cada segmento do sinal de forma a separar bandas especificas de frequência que permitirão identificar a ocorrência da assinatura espectral de interesse. Foi adotada quatro níveis de resolução utilizando a função Daubechies 4 como wavelet mãe (experimentalmente observou-se que níveis de resolução maiores que 4 não continham informação adicional acerca dos sinais de explosão). Na figura 8 são apresentados exemplos de formas de onda após a decomposição. Figura 6. Exemplos de sinais de infrassom antes e depois da minimização de ruídos onde a figura 6.a se refere a um segmento de 256 amostras com sinal de explosão no centro da janela; figura 6.b a um segmento de 256 amostras de sinal de ruído de fundo; figura 6.c corresponde ao segmento da figura 6.a após redução de ruído; figura 6. D corresponde a janela da figura 6.b após redução de ruído. Após a minimização de ruído, apresentada na seção anterior, os segmentos de janelas de 256 resultantes são processados para se extrair um vetor de características que descreve a assinatura espectral dos sinais de explosões químicas. Esse vetor de características é utilizado como entrada da RNA para a detecção dos eventos de explosões químicas. No processamento em questão, utiliza-se um janelamento de Hanning em cada segmento de amostras no domínio do tempo para minimizar o efeito de bordas e ressaltar componentes espectrais de interesse, como ilustrado da figura 7. A multiplicação pela janela de Hanning pode distorcer, nas proximidades de suas bordas, o evento que se deseja identificar que, geralmente, é de duração menor que a metade do comprimento da janela de segmentação. Face a isto, é justificada a superposição de 75% das amostras entre janelas sucessivas. Isto significa que o deslocamento temporal de 25% do comprimento total da janela permitirá que em algum momento o evento associado à explosão química fique inserido de forma evidente tal que possa ser identificado em uma das janelas de análise. ISBN: 978-85-8001-069-5 (a) (b) Figura 8. Decomposição em sub-bandas para as formas de ondas apresentadas nas figuras 7.a e 7.b respectivamente. Em cada saída do banco de filtros wavelet é calculado o valor RMS para cada janela de sinal obtendo-se quatro valores que são aglutinados na forma de vetores na medida em que outras janelas sucessivas são processadas. A figura 9 mostra um exemplo ilustrativo. (a) (b) Figura 9. Valores RMS computados a partir das formas de onda mostradas na figura 8 para cada uma das quatro sub-bandas. (a) mostra o resultado para o segmento de sinal contendo uma explosão química e (b) análogo a 9.a quando se tem somente do ruído de fundo. 3455 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. O logaritmo neperiano é aplicado em cada um dos valores RMS calculados a partir de cada janela do sinal de infrassom com o intuito de suavizar as transições e, finalmente, a faixa dinâmica é ajustada entre -1 e +1 para se adequar à entrada da rede neural. Na figura 10 é mostrado um conjunto de resultados já no formato para ser processado pela rede neural artificial. (b) (a) Figura 10. Resultado final do pré-processamento (vetor de entrada da RNA) a) para uma janela contendo explosão e b) para uma janela contendo apenas ruído de fundo. Os sinais de entrada inseridos no algoritmo de préprocessamento são originados de sinais de infrassom colhidos por meio da estação I09BR a partir de eventos reais que são armazenados em banco de dados. Na próxima seção serão abordadas as características do módulo de identificação de explosões químicas que utiliza uma rede neural baseada no “perceptron” multicamadas. 3.2 Classificação por meio de Rede Neural Artificial (RNA A técnica baseada em redes neurais artificiais foi adotada para a solução do problema proposto em face de um conjunto de características que se mostraram interessantes como, por exemplo: facilidade de generalização e robustez em processos ruidosos. Foi escolhida a topologia Perceptron Multicamadas (MLP) para a realização da rede neural artificial (RNA). Os vetores de características obtidos no estágio anterior são usados para treinar uma RNA para detectar os sinais de explosões químicas geradas por pedreiras. Como o vetor de entrada da rede possui 4 valores, esse foi o número adotado de neurônios para a primeira camada. A camada de saída possui apenas um neurônio, visto que existem apenas dois possíveis resultados, explosão e ruído. O número de neurônios na camada intermediária foi definido empiricamente, visando encontrar o menor número possível sem comprometer a eficiência da rede na detecção dos eventos de interesse. Os resultados experimentais indicam 2 neurônios para essa camada. A função tangente hiperbólica foi utilizada como função de ativação em todos os neurônios. O treinamento da rede é baseado no algoritmo backpropagation (Hecht-Nielsen, 1989) com taxa de ISBN: 978-85-8001-069-5 aprendizagem variável; coeficiente de momento de 0,9; e função de desempenho de Soma dos Erros Quadráticos (SEQ) com erro alvo de 10-6. Esses limiares foram determinados empiricamente, levando-se em consideração a convergência do treinamento da rede e os resultados obtidos na sua validação. Construiu-se um banco de sinais experimentais de infrassom obtidos a partir da estação I09BR para treinar e também para avaliar o desempenho da RNA. O banco de sinais experimentais é constituído por um conjunto de 80 segmentos (janelas) onde está inserido um sinal contendo uma explosão química. São utilizadas também segmentos de sinais de infrassom contendo apenas ruído. Tais sinais são adquiridos em quatro horários diferentes do dia, visto que a variação diária dos níveis de ruído é significativa. Esses horários são 03, 09, 15 e 21 horas, horário local. Os sinais contendo somente ruído de fundo, em um total de 80 segmentos, também fazem parte do banco de dados usados no treinamento e validação da rede neural. Todos os segmentos de sinais presentes no banco de dados, contendo explosões químicas eventuais e ruídos de fundo, contêm 256 amostras, o que corresponde a 12,8 segundos de sinal digitalizado e transmitido a partir da estação de infrassom I09BR. Metade do banco de dados foi utilizada para treinamento das redes e a outra metade para validação. A estação de infrassom I09BR transmite os sinais produzidos nos quatro sensores (H1, H2, H3, H4) que são processados separadamente. Assim, são implementadas quatro redes com as mesmas configurações, uma para cada sensor. A figura 11 mostra valores da taxa de aprendizado e do erro médio quadrático para cada época de treinamento das quatro redes. Figura 11. Taxa de aprendizagem, em vermelho, e soma dos erros quadráticos, em azul, por época de treinamento para os elementos (a) sensor H1, (b) sensor H2, (c) sensor H3 e (d) sensor H4. A classificação do evento, no entanto, é feita com base no resultado apresentado na saída de cada rede neural. Como os valores de saída da função tangente hiperbólica estão entre o intervalo [-1,1], definiu-se 3456 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. como ocorrência de uma explosão química sinais processados que obtivessem resultados maiores que zero na saída da rede neural, enquanto é considerado ruído de fundo os resultados menores que zero. 3.3 Pós-processamento O procedimento de classificação de eventos consiste na segmentação sucessiva do sinal de infrassom em janelas de 256 amostras e na aplicação dos procedimentos descritos nas seções anteriores: pré-processamento, extração de características e classificação utilizando RNA. Cada novo segmento é tomando utilizando-se superposição (em amostras) entre o atual e o imediatamente anterior. Assim, cada segmento é obtido deslizando-se a janela de 256 amostras sobre o sinal de infrassom segundo um incremento dado também em amostras. Foram avaliados experimentalmente, diversos valores de incremento buscando-se aquele que oferecesse menor esforço computacional sem comprometer a qualidade dos resultados. As explosões químicas são eventos de curta duração e geralmente apresentam duração inferior a 7(sete) segundos. Desta forma, limitou-se o tamanho do incremento, não podendo este, ser maior que a metade do comprimento da janela, ou seja, 128 amostras, a fim de garantir que, no caso de uma explosão, existam dois ou mais resultados positivos consecutivos, ou caso contrário, na ausência de explosão, não existam resultados positivos consecutivos, tornando o critério de detecção da explosão química mais robusto. O número ótimo obtido experimentalmente para esse deslocamento da janela de processamento foi de 64 amostras. A figura 12 ilustra a saída de uma RNA em um arquivo de sinal de 10 minutos de duração obtido a partir de um dos sensores da estação de infrassom para diferentes valores de deslocamento da janela de análise. sucessiva do sinal. Como se digitaliza simultaneamente quatro sinais oriundos dos quatro sensores da estação de infrassom I09BR, o critério de detecção de explosões químicas obtido através da análise conjunta dos resultados das quatro redes neurais é, portanto, finalmente definido como dois resultados positivos consecutivos em pelo menos dois dos sinais obtidos dos elementos da estação de infrassom simultaneamente A figura 13 mostra um exemplo com sinais de infrassom dos 4 elementos do arranjo da estação I09BR e suas respectivas saídas da RNA. A explosão química está sinalizada por uma seta. Analisando os critérios de detecção estabelecidos, é possível observar que somente na presença da explosão a saída das 4 redes apresenta valor próximo de 1 e falsos positivos de um único sensor não é o suficiente para geração de um resultado equivocado. Figura 13. Resultados experimentais para os quatro sinais obtidos da estação I09BR. Os sinais de infrassom têm duração de 10 minutos e o transitório correspondente a explosão química está sinalizada por uma seta. O resultado da saída de cada rede neural é mostrado abaixo do seu respectivo sinal. 4 Resultados Experimentais Os dados utilizados em todas as etapas do projeto são provenientes da estação de infrassom I09BR. Foram usados sinais de explosões químicas geradas nas pedreiras localizadas no entorno da cidade de Brasília, a uma distância aproximada de 20 quilômetros da estação e com carga média de explosão de aproximadamente quatro toneladas de dinamite. Seguindo a definição de detectabilidade (D) e seletividade (S) de Nuh et al. (2002), dada pelas equações: D VP Vp FN (1) Figura 12. De cima para baixo: 10 minutos de sinal de infrassom com sinal de explosão sinalizada por uma seta e saída da RNA para deslocamento de 1, 2, 4, 8, 16, 32 e 64 amostras em janelas ISBN: 978-85-8001-069-5 3457 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. S VP Vp FP (2) onde VP é o número de positivos verdadeiros, FP o número de positivos falsos e FN o número de negativos falsos, a performance de detecção das redes é mostrada na Tabela 1, na qual a primeira coluna representa cada um dos quatro elementos do arranjo da estação I09BR. H1 H2 H3 H4 Tabela 1. Performance dos sistemas de detecção Detectabilidade Seletividade 97,5% 100% 100% 100% 97,5% 97,5% 100% 93,02% Aplicando os arquivos de sinais infrassom contendo 12000 amostras, os resultados de desempenho obtidos estão mostrados na Tabela 2, onde foram utilizados 27 arquivos contendo explosões com características semelhantes às usadas no estágio de treinamento e validação. A Figura 13 ilustra um exemplo de resultado obtido por uso do conjunto de algoritmos mostrados neste trabalho. Observe que, para cada um dos quatro sinais digitalizados e transmitidos pela estação de infrassom I09BR o evento determinado pela explosão está sinalizado por uma seta e, logo abaixo, é mostrada a saída da respectiva rede neural artificial. Percebe-se que as redes detectaram corretamente a explosão em todos os quatro sensores, obtendo dois ou mais resultados consecutivos em cada arquivo. Unindo esse critério de detecção de explosão com o definido anteriormente no estágio de validação, de obter uma explosão em pelo menos dois sensores, pode-se concluir que o resultado obtido foi satisfatório. Tabela 2. Performance do pós-processamento 18 Positivos verdadeiros 9 Positivos falsos 0 Negativos falsos 100% Detectabilidade 66,67% Seletividade Apesar do sistema de detecção apresentar uma seletividade abaixo de 70% todos os eventos de interesse foram corretamente detectados, apresentando uma detectabilidade de 100%, a mesma apresentada por Ham e Park (2002) para RNA com topologia MLP aplicada em eventos de natureza impulsiva, como as explosões químicas registradas na estação I09BR. 5 Conclusões Foi proposto nesse trabalho um algoritmo de detecção de explosões químicas em sinais de infrassom constituído de três módulos: préprocessamento, classificação por meio de redes neurais e pós-processamento que melhora a eficiência do sistema e o torna mais robusto. ISBN: 978-85-8001-069-5 A etapa de pré-processamento procura minimizar o ruído de fundo do sinal original. Apos o préprocessamento calcula-se um vetor de características da assinatura espectral que servirá como entrada do classificador neural. No cálculo desse vetor minimiza-se a correlação intrínseca, separa o sinal em sub-bandas e adapta a um formato interessante para ser tratado pela etapa de classificação. O algoritmo de classificação utiliza uma rede neural artificial baseada no Perceptron Multicamadas. Como na realidade se tem quatro sinais obtidos de forma simultânea de cada um dos quatro sensores da estação de infrassom, se implementou um módulo de pré-processamento e de classificação para cada sinal. A etapa de pós-processamento trata, então a saída das quatro redes neurais e pode ter uma tomada de decisão mais segura quanto à detecção de uma explosão química. A avaliação experimental do método proposto tem se mostrado bastante promissora. Os resultados da classificação de explosões químicas obtidos com sinais oriundos da estação de sinais de infrassom I09BR têm apresentado um excelente desempenho. Uma melhora significativa no desempenho do sistema foi observada com a inclusão do pósprocessamento na saída de cada uma das redes neurais, adotando um processo de contagem de dois eventos positivos consecutivos em pelo menos dois elementos do arranjo da estação simultanemante para a confirmação do fenômeno de explosão. A implementação deste pós-processamento nos arquivos com longa duração elevou a detectabilidade para 100% em todos os sinais até agora chegados ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília. A técnica pode ser adaptada para a investigação e classificação de outros fenômenos que gerem um sinal de infrassom, como por exemplo, explosões nucleares, eventos sísmicos, erupções vulcânicas, monitoração de tornados, detecção de raios atmosféricos, dentre outros. 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