O dilema da Skynet Um debate com ânimos exaltados marcou o encontro entre os representantes do Deseg e um grupo de servidores do Banco Central para discutir a questão dos equipamentos de vigilância instalados nos acessos ao Banco Central me levou a lembrar do pano de fundo do filme “O Exterminador do Futuro”. Na estória, uma rede de computadores criada para proteger o homem criou vida própria e, tendo identificado o homem como a causa dos males do planeta, ordena um ataque nuclear e praticamente erradica de um só golpe toda a humanidade. Isto é, o que foi criado para proteger termina se tornando um risco ainda maior. Em suma, o Banco está criando a sua própria Skynet! A imposição da revista eletrônica para ingresso ao Edifício Sede, na medida em que coloca sob suspeita o maior patrimônio do Banco Central que são os servidores desta casa, caracteriza-se como um erro cujas consequências serão sentidas, tanto agora, quanto no futuro. Fico pensando se uma única ocorrência em 50 anos de existência, o infeliz caso do colega que se suicidou com um tiro de revólver nas dependências do Banco; ou possíveis ameaças de bomba que jamais foram efetivamente comprovadas, seriam justificativas para submeter os servidores desta casa a um constrangimento desnecessário e por suas vidas em risco? Certamente que não. A mensagem que parece clara a partir da imposição da revista eletrônica aos servidores do Edifício Sede é que o Banco entende que somos pessoas perigosas por definição e representamos um risco para a instituição. É fato que as barreiras nos impediriam de entrar no Edifício portando armas brancas ou de fogo, mas certamente não evitariam, por exemplo, que alguém se utilizasse de uma das muitas facas que se encontram nas copas e as utilizasse para matar alguém ou, como fez o nosso desafortunado colega, dar fim à própria vida. Ok, diria a Skynet! Vamos confiscar todas as facas das copas! Quem quiser passar manteiga no pão que use os dedos! Mas um chato de plantão (acho que nesse caso sou eu), diria: mas alguém poderia usar as centenas de tesouras espalhadas pelo prédio e promover uma matança em série! Nada disso, diria a Skynet! Vamos providenciar a substituição de todas as tesouras por modelos escolares com pontas arredondadas! Insistente o chato diria: alguém pode entrar com um tablete de C4 (explosivo plástico) num pacote de goiabada. Pensei nisso, diria a Skynet! Estamos providenciando uma norma interna condicionando a entrada de artefatos adocicados de qualquer espécie à aprovação do seu teor por um agente de segurança habilitado que poderá, no cumprimento do dever, lamber ou mordiscar parte do conteúdo para assegurar que o referido artefato não traga risco para a integridade dos demais servidores desta casa. Isso poderia continuar infinitamente até o absurdo se tornar ainda mais absurdo, até porque se você canonizar a tese de que os servidores são um perigo em potencial não vão ser essas barreiras que vão nos dar mais segurança. A melhor maneira de se evitar problemas de cunho criminal é investir numa boa triagem no processo de admissão e promover um melhor acompanhamento psicológico de pessoas que demonstrem comportamentos considerados nocivos ou potencialmente perigosos. Sem falar na discussão a respeito da exposição à radiação e do desperdício de dinheiro público. Fazendo coro com um colega do Depec, acho que a melhor maneira de se utilizar essas barreiras eletrônicas (estou sendo gentil), seria distribuí-las pelas dependências do Banco para que pessoas de fora do Banco, essas sim, fossem impedidas de ameaçar a segurança dos que estão trabalhando.