0 FACULDADE DE AMERICANA CURSO DE FARMÁCIA JOÃO VITOR FELTRIN SIGNORI THIAGO WELLINGTON CORREA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E IDENTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS DE PLANTAS MEDICINAIS DE USO POPULAR AMERICANA – SP 2015 1 FACULDADE DE AMERICANA CURSO DE FARMÁCIA JOÃO VITOR FELTRIN SIGNORI THIAGO WELLINGTON CORREA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E IDENTIFICAÇÃO DE COMPOSTOS DE PLANTAS MEDICINAIS DE USO POPULAR Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao curso de Farmácia da Faculdade de Americana (FAM), como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Farmácia, sob orientação da Profa. Msc. Alik Teixeira Fernandes dos Santos e co-orientação da Profa. Dra. Leila Aidar Ugrinovich. AMERICANA – SP 2015 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca Central da FAM S575a Signori, João Vitor Feltrin. Atividade antimicrobiana e identificação de compostos de plantas medicinais de uso popular. / João Vitor Feltrin Signori, Thiago Wellington Correa. -Americana, 2015. 47f. Orientador: Alik Teixeira Fernandes dos Santos. Coorientador: Leila Aidar Ugrinovich. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) Curso de Farmácia, Faculdade de Americana. 1. Plantas Medicinais. 2. Atividade Antimicrobiana. 3. Uso Popular. I. Correa, Thiago Wellington. II. Santos, Alik Teixeira Fernandes dos. III. Ugrinovich, Leila Aidar. IV. Título. CDU 615.1 2 RESUMO A pesquisa etnofarmacológica com raizeiros, em ervanarias localizadas nas cidades de Americana e Campinas, ambas no estado de São Paulo (Brasil), revelou o uso popular de plantas no combate a diferentes infecções. As plantas estudadas foram: cana do brejo (Costus sp.), carobinha (Jacaranda sp.), cavalinha (Equisetum sp.), copaíba (Copaifera Officinalis), erva baleeira (Cordia cf. verbenácea), manjericão (Ocimum sp.), tansagem (Plantago sp.) e unha de gato (Uncaria sp.). Foi realizada uma revisão bibliográfica que buscou informar as características, os usos, a composição química, as áreas de ocorrência e outras informações de tais plantas. Foram feitos testes de identificação, visando a busca de alcaloides, flavonoides, antraquinonas, saponinas (índice de espuma) e taninos. Analisou-se, ainda, a capacidade microbicida, através da difusão com discos, em ágar Mueller-Hinton, contra as bactérias Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Os testes revelaram capacidade inibitória contra S. aureus, a partir dos extratos de copaíba e unha de gato. Nenhum extrato revelou eficácia para a inibição de E. coli. Apesar dos resultados, existe a necessidade de se testar novas concentrações desses extratos contra as referidas bactérias, uma vez que o uso popular de tais substâncias pode contribuir para a busca de novos antibióticos. Palavras-chave: Plantas medicinais; Costus; Jacaranda; Equisetum; Copaifera; Cordia; Ocimum; Plantago; Uncaria. 3 ABSTRACT The root’s ethnopharmacological research, with herbs bought in Americana’s and Campinas’ specialized stores, both in the state of São Paulo (Brazil), showed the ordinary use of plants in infections treatment. The studied herbs were: cana do brejo (Costus sp.), carobinha (Jacaranda sp.), cavalinha (Equisetum sp.), copaíba (Copaifera Officinalis), erva baleeira (Cordia cf. verbenácea), manjericão (Ocimum sp.), tansagem (Plantago sp.) and unha de gato (Uncaria sp.). A literature review related the features, the uses, the chemical composition, the occurrence areas and other information about those plants. Identification tests were performed seeking alkaloids, flavonoids, anthraquinones, saponins and tannins. The microbicide capacities were analyzed through diffusion with discs on Mueller-Hinton agar against Staphylococcus aureus and Escherichia coli. Tests with copaiba and unha de gato extracts indicated inhibitory ability against S. aureus. Neither of them were efficient against E. coli. Despite the results, new tests with other extracts concentrations of those plants against the studied bacteria are necessary, given the fact that ordinary use of such substances may help the scientists to find new antibiotics compounds. Key words: Medicinal Plants; Costus; Jacaranda; Equisetum; Copaifera; Cordia; Ocimum; Plantago; Uncaria. 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 6 2. JUSTIFICATIVAS ........................................................................................................... 8 3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 9 3.1. Objetivo Geral ................................................................................................................... 9 3.2. Objetivos Específicos ......................................................................................................... 9 4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 10 4.1. Pesquisa em ervanarias e aquisição das drogas vegetais ............................................. 10 4.2. Revisão bibliográfica ....................................................................................................... 10 4.3. Pesquisa de compostos .................................................................................................... 10 4.3.1. Pesquisa de alcaloides .............................................................................................. 11 4.3.2. Pesquisa de flavonoides ........................................................................................... 11 4.3.3. Pesquisa de heterosídeos antraquinônicos ............................................................. 12 4.3.4. Pesquisa de heterosídeos saponínicos ..................................................................... 12 4.3.5. Pesquisa de taninos .................................................................................................. 13 4.4. Teste de inibição do crescimento bacteriano ................................................................ 13 4.4.1. Extrato ...................................................................................................................... 13 4.4.2. Difusão com discos ................................................................................................... 14 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 15 5.1. Plantas .............................................................................................................................. 15 5.1.1. Cana do Brejo - Costus spp. .................................................................................... 15 5.1.2. Carobinha - Jacaranda spp. .................................................................................... 16 5.1.3. Cavalinha - Equisetum spp. ..................................................................................... 18 5.1.4. Copaíba - Copaifera Officinalis ............................................................................... 20 5.1.5. Erva Baleeira - Cordia verbenacea DC. .................................................................. 23 5.1.6. Manjericão - Ocimum spp. ...................................................................................... 24 5 5.1.7. Tansagem - Plantago spp. ........................................................................................ 26 5.1.8. Unha de Gato - Uncaria spp. ................................................................................... 27 6. RESULTADOS ................................................................................................................ 30 6.1. Pesquisa em ervanarias ................................................................................................... 30 6.2. Pesquisa de alcaloides ..................................................................................................... 30 6.3. Pesquisa de flavonoides................................................................................................... 31 6.4. Pesquisa de heterosídeos antraquinônicos .................................................................... 31 6.5. Pesquisa de heterosídeos saponínicos ............................................................................ 32 6.6. Pesquisa de taninos ......................................................................................................... 33 6.7. Teste de disco-difusão ..................................................................................................... 34 7. DISCUSSÃO .................................................................................................................... 37 8. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 41 9. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 42 6 1. INTRODUÇÃO O Brasil é um país de dimensões continentais, no qual ocorrem grandes variações ecológicas, resultando em zonas biogeográficas distintas. Essa variedade de biomas resulta na maior biodiversidade do planeta, abrigando mais de 20% do número total de espécies da Terra [BRASIL, 2015], incluindo plantas e fungos, o que corresponde a quase 10% do total mundial [FORZZA et al. 2010a]. Toda essa riqueza biológica pode representar um enorme potencial na descoberta de substâncias biologicamente ativas. Os produtos naturais ainda são importantes na produção de fármacos, assim como já foram utilizados na origem de inúmeros outros. Desta forma, a biodiversidade brasileira figura como uma possível fonte de novos fármacos e já sendo testemunha de vários casos de sucesso [BARREIRO; BOLZANI, 2009]. Comunidades que ocupam ambientes diversificados e com grande número de espécies podem vir a desenvolver uma vasta farmacopeia natural. A riqueza florística de locais diferentes e o tempo que essas populações ocupam estes lugares tende a influenciar na diversidade e conhecimento de espécies utilizadas medicinalmente. [AMOROZO, 2002; AMOROZO, 1996]. A abordagem ao estudo de plantas medicinais já utilizadas por sociedades tradicionais ou autóctones tem grande importância, pois podem ser úteis na elaboração de estudos farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos, representando uma economia de tempo e dinheiro. O conhecimento destas populações sobre as plantas e seus usos, formado empiricamente ao longo do tempo, pode ter sua comprovação científica, habilitando estes usos pela sociedade industrializada. [AMOROZO, 2002; AMOROZO, 1996]. Os antibióticos tiveram e tem grande importância no mundo. Eles são responsáveis pelo aumento na expectativa de vida, além de serem necessários em diversos procedimentos médicos, como cirurgias e transplantes, que uma vez sem eles seriam praticamente impossíveis [BRITO; CORDEIRO, 2012]. A resistência das bactérias aos antibióticos ocorre de maneira inevitável e irreversível. Elas têm curto tempo de geração e podem responder rapidamente a mudanças no ambiente. 7 Desta forma, a resistência bacteriana ocorre de maneira natural, sendo consequência da habilidade adaptativas das bactérias [SANTOS, 2004]. Tendo em vista que os antibióticos são indispensáveis atualmente, ocorre muita preocupação no que diz respeito à resistência bacteriana. Observa-se uma diminuição na suscetibilidade aos antibióticos com o tempo e o aumento da resistência bacteriana entre patógenos potencialmente perigosos. Por outro lado, não há novas classes destes fármacos sendo desenvolvidas e somente há um pequeno número, lançados nos anos recentes, com potencial contra bactérias resistentes [BRITO, CORDEIRO, 2012]. Conforme os dados levantados, a pesquisa de novos antibióticos faz-se necessária. A biodiversidade, fonte potencial na descoberta de novos fármacos, juntamente com o conhecimento popular, representam uma alternativa à pesquisa e ao desenvolvimento de novos antibióticos. Nesta linha de pensamento, esse estudo buscou avaliar a inibição de crescimento de bactérias in vitro por plantas de uso popular, assim como identificar os compostos presentes nas drogas vegetais testadas. 8 2. JUSTIFICATIVA A resistência bacteriana aos antibióticos existentes e o baixo número de novos fármacos desta classe levam a recorrer à grande biodiversidade brasileira, fonte potencial na descoberta de novos fármacos, e ao conhecimento popular, que possui sua base empírica formada ao longo do tempo, para a busca de produtos naturais com propriedades antibacterianas, com possível economia de tempo e dinheiro e taxas elevadas de sucesso. 9 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral Realizar uma pesquisa etnofarmacológica, junto a raizeiros em ervanarias, a respeito de plantas utilizadas contra bactérias e, a partir disto, identificar os compostos apresentados pelas drogas vegetais, bem como testá-las frente a bactérias com potencial patogênico. 3.2. Objetivos Específicos Consultar raizeiros em duas ervanarias, uma situada na cidade de Americana-SP e outra da cidade de Campinas-SP, a respeito de plantas utilizadas contra diferentes infecções e como antissépticas. Realizar testes de identificação de compostos nas drogas vegetais obtidas e testá-las quanto a sua capacidade inibitória perante as espécies bacterianas Staphylococcus aureus e Escherichia coli, através do método de difusão com disco em ágar Mueller-Hinton. 10 4. METODOLOGIA 4.1. Pesquisa em ervanarias e aquisição das drogas vegetais Primeiramente foi realizado consultas a raizeiros em duas ervanarias, uma localizada na cidade de Americana e outra em Campinas, ambas no interior do estado de São Paulo, Brasil. Foram questionados a respeito de plantas medicinais utilizadas em infecções e como antissépticas. Os resultados obtidos na consulta foram somados e posteriormente utilizados para adquirir as drogas vegetais secas ou o óleo, no caso da copaíba. Todas elas foram adquiridas na ervanaria localizada na cidade de Campinas-SP. 4.2. Revisão bibliográfica Foram realizadas pesquisas em livros, artigos e periódicos a respeito das plantas indicadas na pesquisa com raizeiros. Buscou-se informar as características, os usos, a composição química, as áreas de ocorrência e outras informações relacionadas aos vegetais. 4.3. PESQUISA DE COMPOSTOS Todas as drogas vegetais secas foram testadas na identificação ou pesquisa de alcaloides, flavonoides, heterosídeos antraquinônicos, heterosídeos saponínicos e taninos. Os testes foram baseados em Costa [2000], com adaptações. Devido à copaíba se apresentar na forma de óleo-resina, não foram realizados os testes de identificação com a mesma, pois seria preciso empregar outra metodologia. Antes de cada um destes testes, as drogas vegetais foram transferidas para um grau e trituradas com pistilo. 11 4.3.1. Pesquisa de alcaloides Pesaram-se 2 g de cada droga vegetal pulverizada, que foram transferidos para um béquer. Adicionaram-se 20 ml de solução aquosa de ácido clorídrico a 1%, aquecendo até o inicio da ebulição. Após esfriar, filtrou-se o extrato aquoso ácido em um funil de vidro com papel filtro. A extração e a filtração foram repetidas mais uma vez. Alcalinizou-se o filtrado com solução de hidróxido de amônio a 10%, verificando o pH até se alcançar de 9 a 10. Extraiu-se, por três vezes, a solução alcalina com 15 ml de clorofórmio. Após as extrações, o clorofórmio foi evaporado em chapa até a secura, para depois redissolver o resíduo resultante em 2 ml de solução de ácido clorídrico a 1%. Adicionou-se uma gota da solução obtida anteriormente e uma gota de um dos reativos de precipitação (Dragendorff, Mayer e Bouchardat) em lâmina de microscopia. Uniram-se as duas gotas com um bastão de vidro e procurou-se o aparecimento de precipitado colorido na zona de contato entre os dois líquidos. Os testes foram repetidos com cada um dos reativos. 4.3.2. Pesquisa de flavonoides Transferiram-se 4 g da droga pulverizada e 40 ml de etanol a 70% para um béquer, que foi aquecido até o início da ebulição. Após isso, o extrato foi filtrado, com algodão, em um funil de vidro. Na reação com hidróxidos alcalinos, foram transferidos 10 ml do extrato diluído (leve coloração amarela) para um tudo de ensaio. Acrescentaram-se algumas gotas, pelas paredes do tubo, da solução aquosa de hidróxido de sódio 1N. Na presença de flavonoides, a coloração amarela aumenta intensamente. Na reação de cianidina (ou reação de Shinoda), foram adicionados 3 ml do extrato, juntamente com 2 a 3 fragmentos de magnésio metálico e 1 ml de HCl concentrado. Procurou-se o desenvolvimento de coloração. 12 Na reação com cloreto de alumínio, foram umedecidas áreas de um papel filtro com o extrato. Em uma das regiões umedecidas, foi adicionada uma gota de solução alcoólica de cloreto de alumínio a 5%. Após secar o papel filtro, foram comparadas as florescências das áreas na incidência de luz UV. 4.3.3. Pesquisa de heterosídeos antraquinônicos Foram transferidos 2 g da droga vegetal rasurada para um béquer. Adicionaram-se 60 ml de álcool a 70% e a mistura foi aquecida e mantida em ebulição por três minutos. Filtrouse ainda quente. Do filtrado, foram transferidos 10 ml para um béquer, acrescentado 0,5 ml de HCl e fervido por 2 minutos. O conteúdo do béquer foi transferido para um tubo de ensaio, no qual foram adicionados 10 ml de éter e posteriormente agitado. Foram separados 5 ml da camada orgânica para outro tubo de ensaio e posteriormente adicionado 4 ml de amônia. Esperou-se cinco minutos para se observar o resultado. 4.3.4. Pesquisa de heterosídeos saponínicos Pesou-se 1 g da droga vegetal rasurada em um béquer e foram adicionados 100 ml de água destilada. Ferveu-se por 5 minutos e se observou o pH da solução. Ela foi filtrada em funil de vidro com algodão hidrófilo e posteriormente o volume do filtrado foi completado com água destilada até atingir 100 ml. Em dez tubos de ensaios iguais, foram marcadas as graduações correspondentes a 10 ml de volume e 1 cm linear acima. Os tubos de ensaio também foram numerados de 1 a 10. No tubo nº 1 foram adicionados 1 ml da solução extrativa e 9 ml de água destilada, totalizando 10 ml. No tubo nº 2 foram adicionados 2 ml da solução extrativa e 8 ml de água destilada, totalizando 10 ml, e assim sucessivamente até o tubo nº 10, este com 10 ml da solução extrativa e 0 (zero) ml de água. 13 Cada tubo foi agitado igualmente por 20 segundos, no sentido longitudinal. Após isso, o conjunto ficou em repouso por dez minutos e foi observado, posteriormente, qual dos tubos apresentou uma camada de espuma de 1 cm de espessura. Com o resultado foi possível calcular o índice de espuma. 4.3.5. Pesquisa de taninos Ferveu-se por 5 minutos 1 g da droga pulverizada com 50 ml de água destilada. Após a fervura, foram completados os 50 ml com água destilada. Esperou-se o extrato esfriar e foi filtrado em papel filtro. Durante as reações a seguir, os reativos foram pipetados nas laterais dos tubos de ensaio para a melhor visualização dos resultados. Na reação com sais de ferro, foram transferidos 0,5 ml do extrato aquoso para um tubo de ensaio. Adicionaram-se 5 ml de água destilada e algumas gotas de solução de cloreto férrico a 2%. Observou-se o resultado. Na reação com acetato de cobre, foram transferidos 3 ml do extrato aquoso para um tubo de ensaio e posteriormente adicionaram-se algumas gotas de uma solução aquosa de acetato de cobre a 3%. Observou-se o resultado. Na reação com acetato de chumbo, foram adicionados 3 ml do extrato aquoso em um tubo de ensaio e algumas gotas da solução aquosa de acetato de chumbo. Observou-se o resultado. 4.4. TESTE DE INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO BACTERIANO 4.4.1. Extrato O extrato foi obtido através de remaceração. Foram pesados 2 g da droga vegetal seca e utilizados 30 ml de álcool P.A. em cada maceração. O béquer que foi utilizado nas 14 macerações foi tampado com plástico filme e mantido ao abrigo de luz. Após a primeira maceração, o primeiro extrato filtrado foi envasado em recipiente de vidro âmbar e mantido em geladeira a 4ºC. Após filtragem da segunda maceração, os extratos foram unidos no recipiente de vidro âmbar, formando um único extrato alcoólico. Posteriormente, o extrato alcoólico foi evaporado em chapa quente e redissolvido com 2 ml de solução fisiológica estéril, no máximo possível, em temperatura ambiente. O extrato final foi envasado em recipiente de vidro âmbar estéril e mantido em geladeira. Como a copaíba foi adquirida na forma de óleo, ela não passou pela extração. 4.4.2. Difusão com discos O teste foi baseado no método de Kirby e Bauer [MOURA et al., 1982], com alterações. Foram utilizados ágar Mueller-Hinton, semeados com as bactérias Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Os extratos das drogas vegetais em solução fisiológica e o óleo de copaíba foram utilizados neste teste. Papeis filtros cilíndricos esterilizados, de 6 mm de diâmetro, foram impregnados (10 μl) com os extratos (ou o óleo) das plantas e aplicados sobre os meios de cultura de ambas as bactérias. Os meios de cultura permaneceram em estufa por 24 horas. Para controle positivo, foram utilizados os antibióticos ciprofloxacina (5 mcg) e gentamicina (10 mcg). Como controle negativo, utilizou-se solução fisiológica estéril. Após a realização dos testes acima, os resultados foram anotados. 15 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5.1. Plantas 5.1.1. Cana do Brejo - Costus spp. A Costus spicatus, popularmente conhecida como cana do brejo, é uma planta da família Costaceae e do gênero Costus L. [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013], nativa em quase todo o Brasil, principalmente na região amazônica e da mata atlântica [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013; LORENZI; MATOS, 2002]. Trata-se de uma planta perene, rizomatosa, ereta, cespitosa e não ramificada, podendo atingir de 1 a 2 metros de altura [LORENZI; MATOS, 2002] e de caule cilíndrico. As folhas são verdes [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], alternas, membranáceas, dotadas de bainhas papiráceas, velutina nas duas faces [LORENZI; MATOS, 2002], dispostas em espiral no caule [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013] e podem atingir de 25 a 40 centímetros de comprimento e 6 a 10 centímetros de largura [LORENZI; MATOS, 2002]. As inflorescências se apresentam em espigas terminais estrobiliformes [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013; LORENZI; MATOS, 2002], possuem brácteas em espiral, imbricadas, densa, glabra e de coloração vermelha [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013], as quais protegem as flores de cor amarelada [LORENZI; MATOS, 2002]. Os frutos são capsulares [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. Multiplica-se por sementes ou rizomas [LORENZI; MATOS, 2002]. A cana-do-brejo ainda possui vários outros nomes populares, como, por exemplo, cana-de-macaco, cana-mansa, periná, pobre-velho, canarana, cana-do-mato, heparena, ubacaia, jacuacanga, caatinga, cana-branca, paco-caatinga, pacová, cana-roxa-do-brejo e pacotinga [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013; CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003; LORENZI; MATOS, 2002]. No Brasil, além da espécie Costus spicatus, estão presentes as espécies Costus spiralis e Costus cuspidatus, todas com características e propriedades muito semelhantes, inclusive compartilhando os mesmos nomes populares [LORENZI; MATOS, 2002]. As espécies 16 Costus spicatus e Costus spiralis também apresentam as mesmas utilizações na medicina tradicional [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013]. Na composição química da planta é encontrado ácido oxálico, taninos, sitosterol, saponinas, sapogeninas, mucilagens, pectinas [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003; LORENZI; MATOS, 2002], flavonoides [AZEVEDO et al., 2005], inulina [LORENZI; MATOS, 2002], potássio, magnésio [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003] e alcaloides [BITENCOURT; ALMEIDA, 2014] A cana do brejo é muito utilizada como planta ornamental [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], tanto para jardins como para flor de corte [LORENZI; MATOS, 2002]. Na medicina popular, seu chá é utilizado como depurativo, adstringente e diurético. O suco da haste fresca, diluída em água, é utilizado contra gonorreia, sífilis, nefrite, picada de insetos, diabetes e problemas na bexiga. [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013; LORENZI; MATOS, 2002]. Informações etnofarmacológicas têm registros do uso das raízes e rizomas como diurético, tônico, emenagogo e diaforético. Externamente, a decocção é utilizada para aliviar irritações vaginais, leucorreia e tratamento de úlceras. Também externamente, mas na forma de cataplasma, é empregada para amadurecer tumores [LORENZI; MATOS, 2002]. A família Costaceae antigamente era classificada como uma subfamília de Zingiberaceae (Costoideae). Devido à análise cladística molecular do genoma nuclear de cloroplasto e também pelas diferenças anatômicas e estruturais, ela foi reclassificada. [PAES; MENDONÇA; CASAS, 2013]. 5.1.2. Carobinha - Jacaranda spp. O nome carobinha ou caroba é popularmente atribuído a várias espécies do gênero Jacaranda [ARRUDA et al. 2012; MARTINS; CASTRO; CAVALHEIRO, 2008; CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003; OLIVEIRA et al., 2003; FENNER et al., 2006], um dos mais importantes da família Bignoniaceae [MARTINS; CASTRO; CAVALHEIRO, 2008]. No Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil [FORZZA et al. 2010a] são descritas 35 espécies do gênero no Brasil, sendo 31 destas endêmicas. 17 A espécie Jacaranda decurrens é descrita como um arbusto campestre pouco ramoso, com raízes lenhosas e caule que pode ser pubescente quando jovem e posteriormente glabro. É muito comercializada por raizeiros em mercados municipais, feiras livres ou bancas em vias públicas, que a indicam em forma de chá ou garrafada contra infecções ginecológicas e para depurativo do sangue [OLIVEIRA et al., 2003]. Ela é uma espécie nativa e não endêmica do Brasil, de ocorrência nas regiões Centro-Oeste (MT; GO) e Sudeste (MG; SP), no domínio fitogeográfico do Cerrado [FORZZA et al. 2010a]. Já a Jacaranda brasiliana é uma espécie nativa e endêmica do Brasil, de ocorrência nas regiões Norte (PA; TO), Nordeste (MA; PI; CE; RN; PB; PE; BA; AL; SE), Centro-Oeste (MT; GO; DF) e Sudeste (MG), nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. [FORZZA et al. 2010a]. É descrita como um arbusto trepador, com folhas opostas, inervadas, compridas e palmadas. As raízes são roxas, com o interior amarelado. Suas flores são dispostas em cachos ou espigas e os frutos são capsulares, lenhosos e achatados. [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. A Jacaranda puberula apresenta altura de 4 a 7 metros e tronco com 30 a 40 centímetros de diâmetro. Suas folhas são compostas bipinadas de 20 a 25 centímetros de comprimento, folíolos glabros de 3 a 5 centímetros de comprimento [MARTINS; CASTRO; CAVALHEIRO, 2008]. Trata-se de uma espécie nativa e endêmica do Brasil, com ocorrência na região Sudeste (MG; ES; SP; RJ), no domínio fitogeográfico da Mata Atlântica. [FORZZA et al. 2010a]. Espécies do gênero Jacaranda podem apresentar diferentes nomes populares, como, por exemplo, carobinha, caroba, caraúba, jacarandá-caroba [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], jacarandá e bolacheira [ARRUDA et al. 2012]. O nome popular “jacarandá” também é atribuído à espécie arbórea que se extrai madeira de lei, pertencente à família Leguminosae e subfamília Papilionoideae [MARTINS; CASTRO; CAVALHEIRO, 2008]. Entre algumas espécies do gênero Jacaranda estudadas, sob o ponto de vista fitoquímico, as principais classes de substâncias isoladas foram terpenóides, quinonas, flavonóides, ácidos graxos, cetosídeos e um dímero feniletanóide [ARRUDA et al. 2012]. A prospecção fitoquímica da Jacaranda cuspidifolia revelou a presença de taninos, flavonoides, terpenos, cumarinas e esteroides [ARRUDA et al. 2012]. Em um estudo das 18 raízes da Jacaranda decurrens foram detectados a presença de esteroides/triterpenos, açúcares redutores, amido, mucilagem e saponinas [OLIVEIRA et al., 2003]. Na triagem fitoquímica feita por Hernandes [2015], do extrato bruto de Jacaranda caroba e Jacaranda decurrens, ambas apresentaram saponinas, flavonoides, taninos e glicosídeos cardiotônicos, porém somente a espécies Jacaranda decurrens apresentou antraquinonas. A Jacaranda brasiliana é utilizada em quadros febris, inflamações de garganta e, como uso externo, em feridas [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. A Jacaranda cuspidifolia apresenta propriedade inseticida e sua raiz pode ser utilizada em sarnas. É depurativa do sangue e utilizada em infecções bacterianas, como nos casos de sífilis e blenorragia [ARRUDA et al. 2012]. Raizeiros indicam a Jacaranda decurrens, na forma de chás ou garrafadas, contra infecções ginecológicas e como depurativo do sangue [OLIVEIRA et al., 2003]. Em um levantamento bibliográfico etnobotânico, sobre plantas utilizadas pela população brasileira no tratamento de sinais e sintomas relacionados às infecções fúngicas, as espécies Jacaranda caroba, Jacaranda copaia, Jacaranda decurrens, Jacaranda oxyphylla, Jacaranda paucifolialata, Jacaranda puberula e Jacaranda rufa são utilizadas em impigens. A Jacaranda copaia também é utilizada em úlceras e a espécie Jacaranda micranta é utilizada em feridas [FENNER et al., 2006]. 5.1.3. Cavalinha - Equisetum spp. A cavalinha é uma planta do gênero Equisetum L., o único representante da família Equisetaceae, composto por aproximadamente 30 espécies. A maioria dessas espécies é baixa, chegam a atingir 1 m de altura. São uniformemente distribuídas no mundo e possuem alta adaptação a climas diferentes. Esse pode ser o gênero mais antigo não extinto da Terra [MELLO; BUDEL, 2013]. A Equisetum possui coloração que varia do verde claro a cinza-esverdeado. As folhas envolvem os caules e os nós, são pequenas, em forma de escama, geralmente soldadas entre si na base [MELLO; BUDEL, 2013] e possuem textura rugosa [CORRÊA; BATISTA; 19 QUINTAS, 2003]. Os caules são canelados e os principais são ocos, com cerca de 0,8 a 4,5 milímetros de diâmetro, articulados nos nós. Os ramos aéreos podem ser muito ramificados em ramos axilares [MELLO; BUDEL, 2013], embora possam ser simples [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. Os ramos axilares são delgados e podem se ramificar [MELLO; BUDEL, 2013]. Multiplica-se por rizomas e por esporos [LORENZI; MATOS, 2002]. A Equisetum giganteum pode atingir de 80 a 160 centímetros de altura, é nativa de áreas pantanosas de quase todo o Brasil e cultivada muitas vezes como planta ornamental, embora possa se tornar uma planta daninha. É amplamente usada na América do Sul e Brasil na medicina caseira [LORENZI; MATOS, 2002]. Outras espécies como Equisetum martii, Equisetum hiemale e Equisetum arvense têm características e usos semelhantes [LORENZI; MATOS, 2002]. A Equisetum arvense pode atingir de 10 a 30 centímetros de altura [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], sendo originária da Europa e trazida ao Brasil para ser cultivada com fins medicinais. Dentre as espécies presentes e cultivadas no Brasil, a Equisetum arvense é a mais utilizada e descrita do gênero na medicina tradicional [MELLO; BUDEL, 2013]. Na composição química da cavalinha, pode-se encontrar esteróis, como o betasitosterol, campesterol, isofucosterol, colesterol (traços) e triglicerídeos, isoquercina, alcaloides, como a nicotina, equispermina e palustina, sais minerais, sílica, ácidos silícicos, saponinas (equisetonina), flavonas glicosadas, como isoquercitrina, equisetrina e galuteolina, ácido ascórbico, cristais de KCl, compostos fenólicos, flavonoides (luteolina), resinas e taninos (ácido gálico), óleos voláteis [MELLO ; BUDEL, 2013], e a enzima tiaminase [LORENZI; MATOS, 2002]. O chá de suas hastes estéreis é utilizado como adstringente, diurético e estípticas. Também é empregado no tratamento de gonorreia, diarreia e infecções dos rins e da bexiga. Na forma de tintura, interna e externa, é usada para estimular a consolidação de fraturas ósseas [LORENZI; MATOS, 2002]. Em estudos etnofarmacológicos, seu uso também é registrado como digestivo, antianêmico, anti-inflamatório, tratamento de hemorroidas, problemas oftálmicos e hipertensão [MELLO; BUDEL, 2013]. O uso ainda pode ser 20 encontrado para o tratamento de úlceras pécticas e úlceras varicosas [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. O uso em grandes quantidades é tóxico, podendo levar a fraqueza, ataxia, perda de apetite e exaustão muscular [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. 5.1.4. Copaíba - Copaifera Officinalis O nome copaíba é atribuído às espécies do gênero Copaifera L. São árvores da família Leguminosae e subfamília Caesalpinoideae, que podem atingir de 25 a 40 metros de altura, possuem crescimento lento e longevidade de até 400 anos. O tronco é áspero e escuro, medindo de 0,4 a 4 metros de diâmetro [JUNIOR; PINTO, 2002]. A folhagem é densa e formada por folhas compostas pinadas, alternas, com folíolos coriáceos de 3 a 6 centímetros de comprimento [LORENZI; MATOS, 2002]. As flores possuem tamanho pequeno e coloração branca, dispostas em panículos axilares. Os frutos possuem formato de vagem carnosa e contêm uma semente de forma ovoide [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. A copaíba é uma planta nativa da região tropical da América Latina e também da África ocidental [JUNIOR; PINTO, 2002]. Pode ser encontrada em diversos lugares do Brasil, como nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Pará, Minas Gerais, Paraná e locais úmidos da região nordeste, contudo é na Amazônia que se encontra o seu melhor habitat [LORENZI; MATOS, 2002]. As espécies mais comumente citadas são Copaifera Officinalis, Copaifera Langsdorffii, Copaifera Reticulata, Copaifera guianensis, Copaifera Oblongifolia, Copaifera nítida e Copaifera luetzelburgia. Apesar de suas diferenças botânicas, elas são muito parecidas, sendo a todas atribuída a mesma utilização medicinal [LORENZI; MATOS, 2002]. No Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil [FORZZA et al. 2010b] são descritas para o Brasil 24 espécies e 8 variedades nativas do gênero Copaifera L., sendo, respectivamente, 14 e 5 endêmicas. A copaíba, ou seu óleo-resina, ainda podem ser conhecidos por outros nomes populares, como, por exemplo, copaíba-verdadeira, copaíba-da-várzea, copaíba-vermelha, copaibo, copai, copal, copaibarana, copaibeira, copaibeira-de-minas, copaúba, copaúva, 21 cupiúva, oleiro, pau-de-óleo, podoi, jatobá-mirim, marimari, bálsamo-de-copaíba, bálsamo dos jesuítas, bálsamo e óleo branco [PIERI; MUSSI; MOREIRA, 2009; LORENZI; MATOS, 2002; CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. A confusão com os sinônimos populares é grande. Algumas de suas designações populares também podem fazer referência a plantas de outros gêneros sem ser o Copaifera L., além de uma única espécie de copaíba possuir diferentes nomes populares. O óleo-resina também é confundido com óleos de outras árvores da família Leguminosae [JUNIOR; PINTO, 2002]. A copaibeira é utilizada para diversos fins. A madeira é empregada na marcenaria, nas construções civil e naval, e como carvão. O chá, de suas cascas e sementes, é utilizado medicinalmente [PIERI; MUSSI; MOREIRA, 2009; JUNIOR; PINTO, 2002]. O óleo de copaíba pode ser usado para fins medicinais na medicina popular, fixador em perfumes, solvente para tintas em pó na pintura de porcelanas, “amolecedor” de vernizes de pinturas antigas em telas, como combustível utilizado por caboclos na iluminação pública, entre outros. Na indústria de cosméticos, o óleo é empregado pelas propriedades emolientes, bactericidas e anti-inflamatórias. Também é utilizado na fabricação de xampus, sabonetes, espumas de banho, cremes condicionadores, loções hidratantes e amaciantes de cabelo [PIERI; MUSSI; MOREIRA, 2009; JUNIOR; PINTO, 2002]. Outros usos do óleo de copaíba são como secativo na indústria de vernizes, acelerador na indústria fotográfica, como aditivo para butadieno na confecção de borracha sintética e como inibidor da corrosão de aço em solução salina. Ele também vem sendo avaliado como combustível ecologicamente limpo, tendo sucesso na mistura de proporção 1:9 com o óleo diesel [PIERI; MUSSI; MOREIRA, 2009; JUNIOR; PINTO, 2002]. Uma pesquisa feita por Souza et al. [2012], a respeito de patentes depositadas em relação à copaíba, demonstrou que a área de processos é a que registra o maior número, com 144 patentes, seguida pelas áreas de cosméticos, com 69, e alimentação, com 63. Em quarto lugar se encontra a área de aplicações farmacêuticas, com 53 patentes, e essa, se somada com as da área de aplicações medicinais, tem um total de 90 patentes depositadas. A designação correta para o óleo de copaíba é a de óleo-resina. Ele também é chamado, erroneamente, de bálsamo de copaíba, apesar de não ser um bálsamo verdadeiro [JUNIOR; PINTO, 2002]. Depois de filtrado, a cor pode variar do amarelo-pálida a pardo- 22 esverdeada, podendo gerar ligeira florescência [LORENZI; MATOS, 2002]. Somente na espécie C. Langsdorffii o óleo se apresenta vermelho [JUNIOR; PINTO, 2002]. Possui sabor amargo e odor aromático característico. A parte volátil é formada por compostos sesquiterpênicos, principalmente beta-cariofileno e menores proporções de outros sesquiterpenos. A parte fixa tem predominância de ácidos diterpênicos, especialmente o copálico [LORENZI; MATOS, 2002]. Diversas técnicas de retirada do óleo-resina já foram relatadas, muitas extremamente agressivas à árvore, podendo causar até mesmo sua morte. Muitas destas técnicas já foram abandonadas, sendo que a única prática não agressiva consiste em uma incisão, com trado, a cerca de 1 m de altura do tronco e, terminada a coleta, o buraco é tampado com argila, o que impede a infestação por fungos e cupins, além de facilitar para próximas extrações através da retirada da argila [JUNIOR; PINTO, 2002]. Devido ao interesse em sua madeira, o óleo se tornou subproduto da indústria madeireira, por aproveitamento do mesmo escorrido durante a serragem [JUNIOR; PINTO, 2002; LORENZI; MATOS, 2002]. O óleo é utilizado na medicina popular para diversos fins [JUNIOR; PINTO, 2002]. Externamente, índios o utilizam para doenças de pele e proteção contra picadas de insetos. Seu uso generalizou-se na medicina popular como cicatrizante e anti-inflamatório local, e internamente, é usado como expectorante, diurético e antimicrobiano das afecções urinárias e da garganta, neste caso com mel de abelhas e limão [LORENZI; MATOS, 2002]. Outras indicações etnofarmacológicas para o óleo de copaíba são, nas vias urinárias, como antiblenorrágico, anti-inflamatório, antigonorréico, antisséptico, cistite, estimulante, incontinência urinária e sífilis. Para as vias respiratórias são encontrados usos em caso de bronquite, inflamação de garganta (embrocação), entre outros. Também é utilizado em psoríase, úlceras, antitetânico, antirreumático, anticancerígeno, leucorréia, picada de cobra, etc. O chá das cascas e sementes é utilizado como anti-hemorroidal e purgativo, na Venezuela e Colômbia, e indicado, na Amazônia brasileira, no tratamento de moléstias pulmonares e asma [JUNIOR; PINTO, 2002]. Em análise feita por Souza et al. [2012], sobre patentes relacionadas a aplicações medicinais do óleo de copaíba, é constatado que o maior número de patentes está relacionado a sua aplicação pela atividade antimicrobiana, seguido pela atividade tóxica e pelas propriedades anti-inflamatórias. 23 Vários componentes do óleo-resina possuem atividade farmacológica já comprovada cientificamente, porém tem-se observado que o óleo integral tem maior eficiência que qualquer um de seus constituintes isolados [LORENZI; MATOS, 2002]. 5.1.5. Erva Baleeira - Cordia verbenacea DC. A espécie Cordia verbenaceae DC. é um arbusto ereto, muito ramificado e aromático, podendo atingir 1,5 a 2,5 m de altura. As folhas possuem de 5 a 9 cm de comprimento, são simples, alternas, coriáceas [LORENZI; MATOS, 2002], vigorosas, sem brilho e com superfície crespa. As flores são pequenas, de corolas brancas e reunidas em inflorescências escorpioides e vistosas [PEREIRA, 2013]. Os frutos são cariopses esféricas [LORENZI; MATOS, 2002]. Ocorre em todo o litoral brasileiro em áreas abertas de pastagem, beira de estradas e terrenos baldios, onde é considerada uma planta daninha [LORENZI; MATOS, 2002]. É também uma planta comum na Floresta Tropical Atlântica [PEREIRA, 2013]. Vários nomes populares podem ser atribuídos a Cordia verbenacea, dentre eles ervabaleeira, baleeira, maria-preta, maria-milagrosa, catinga-de-barão [PEREIRA, 2013], cordia, erva-balieira, balieira-cambará, erva-preta, salicinia, camarinha [LORENZI; MATOS, 2002]. Na planta podem ser encontrados lipídios totais, óleos essenciais, esteroides, terpenoides com grupo carbonila, compostos fenólicos, flavonoides, pectinas, saponinas, taninos e traços de alcaloides [PEREIRA, 2013]. É amplamente utilizada na medicina caseira, indicada como anti-inflamatória, antiartrítica, analgésica, tônica e anti-ulcerogênica. O chá das folhas picadas é utilizado para reumatismo, artrite reumatoide, gota, dores musculares, dores da coluna, prostatites, nevralgias e contusões. O chá também é empregado para cicatrização de feridas externas e úlceras. Algumas de suas utilizações na medicina tradicional já foram validadas em estudos científicos [LORENZI; MATOS, 2002]. Em testes, apresentou atividade contra algumas cepas de fungos e ação antibacteriana [PEREIRA, 2013]. 24 5.1.6. Manjericão - Ocimum spp. O nome manjericão é popularmente atribuído a espécies do gênero Ocimum, da família Lamiacea. Este gênero compreende mais de 64 espécies herbáceas e subarbustivas. O manjericão é encontrado em regiões tropicais e subtropicais da Ásia, África, América Central e América do Sul [VIEIRA, 2009]. As espécies com maior importância, cujo óleo essencial é utilizado na produção de fármacos, cosméticos e perfumes, são Ocimum basilicum, Ocimum gratissimum, Ocimum tenuiflorum e Ocimum selloi Benth [PEREIRA; MOREIRA, 2011] A espécie Ocimum basilicum L. é descrita como um subarbusto aromático, ereto e muito ramificado. Possui de 30 a 50 centímetros de altura. Suas folhas podem atingir 4 a 7 centímetros de comprimento, são simples, membranáceas, com margens onduladas, nervuras salientes [LORENZI; MATOS, 2002], ovaladas, verdes claras e com cheiro forte e ardente, mas fresco [PEREIRA; MOREIRA, 2011]. As flores são brancas, reunidas em racemos terminais curtos. É uma planta nativa da Ásia e introduzida no Brasil pela colônia italiana [LORENZI; MATOS, 2002]. Na composição química desta espécie são encontrados taninos, flavonoides, saponinas, cânfora e óleo essencial contendo timol, estragol, metil-chavicol, linalol, eugenol, cineol e pireno. As folhas contêm vitaminas A, B1, B2, B3, C, cálcio, fósforo e ferro [PEREIRA; MOREIRA, 2011]. A planta é utilizada para aliviar espasmos, baixar a febre, melhorar a digestão e contra infecções bacterianas e parasitas intestinais. O chá é considerado estimulante digestivo, antiespasmódico gástrico, galactógeno, béquico e antirreumático. Na forma de infusão é indicado para problemas digestivos gerais [LORENZI; MATOS, 2002] e, em crianças recémnascidas, para tratamento caseiro de cólicas. Também é utilizado em casos de afecções do estômago, gripes e problemas respiratórios [PEREIRA; MOREIRA, 2011]. O uso da planta não é recomendado para gestantes nos primeiros três meses da gravidez [LORENZI; MATOS, 2002]. 25 Ela também é fornecedora de óleo-essencial, por isso é largamente utilizada como tempero de pratos, em licores, como aromatizante, e em perfumes [LORENZI; MATOS, 2002]. Devido a grande variedade de Ocimum basilicum, é possível encontrar diferenças no tamanho das folhas e na coloração. Existem plantas com as folhas arroxeadas, utilizadas como ornamentos [PEREIRA; MOREIRA, 2011]. A espécie Ocimum gratissimum L. é um subarbusto aromático, ereto, que pode atingir até 1 m de altura. As folhas são ovalado-lanceoladas, bordos duplamente dentados, membranáceas, e atingem de 4 a 8 cm de comprimento. As flores possuem tamanho pequeno, coloração roxo-pálidas, dispostas em racemos paniculados eretos, geralmente em grupos de três. Os frutos contêm quatro sementes de forma esférica. É originária do oriente e subespontâneo em todo Brasil [PEREIRA; MOREIRA, 2011; LORENZI; MATOS, 2002]. Estudos histoquímicos dos cortes transversais da folha de Ocimum gratissimum L. apresentaram resultados positivos para lipídeos totais, lipídeos ácidos e neutros, óleos essenciais, esteroides, lactonas sesquiterpênicas, terpenóides com grupo carbonila, compostos fenólicos, flavonoides e alcaloides [SANTOS, 2013]. A planta possui ação larvicida e repelente de insetos. Seu óleo tem ação bactericida e analgésica de uso odontológico. É utilizada na medicina caseira para preparações de banhos antigripais, contra nervosismo e paralisia. O chá é utilizado como carminativo, sudorífico e diurético [LORENZI; MATOS, 2002]. A presença de eugenol na planta a torna útil como antisséptica contra alguns fungos, e o eucaliptol é expectorante e desinfetante pulmonar [PEREIRA; MOREIRA, 2011]. Existem vários nomes populares para designar uma ou mais espécies do gênero Ocimum, como, por exemplo, manjericão, alfavaca, alfavaca-cheirosa, alfavaca-da-américa, basílico-grande, basilicão, erva real, manjericão-doce, manjericão-grande, quioio, alfavacacravo, entre outros [LORENZI; MATOS, 2002]. 26 5.1.7. Tansagem - Plantago spp. O nome tansagem ou tanchagem é popularmente atribuído às espécies do gênero Plantago L., da família Plantaginaceae. Muitas destas possuem propriedades medicinais, com diversas indicações terapêuticas. O gênero Plantago conta com cerca de 16 espécies distribuídas no Brasil [ROCHA et al. 2002]. A espécie Plantago major L. é uma pequena erva perene, ereta, sem caule, com cerca de 20 a 30 cm de altura [LORENZI; MATOS, 2002]. As folhas são grandes, ovais, largas, de margens onduladas [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], dispostas em roseta basal, com pecíolo longo, lamina membranácea com nervuras bem destacadas, de 15 a 25 cm de comprimento [LORENZI; MATOS, 2002]. As flores são pequenas, de coloração brancoesverdeada [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], dispostas em inflorescências em espigas eretas sobre haste floral, podendo atingir de 20 a 30 cm de comprimento. Posteriormente se transformam em frutos (sementes). A espécie é multiplicada apenas por sementes [LORENZI; MATOS, 2002]. Ela é uma espécie nativa da Europa, porém se naturalizou em todo o Sul do Brasil, onde pode ser considerada como uma planta daninha [LORENZI; MATOS, 2002]. A planta apresenta ação expectorante, hemostática e cicatrizante. É indicada em casos de infecções das vias aéreas superiores, bronquite crônica, coadjuvante no tratamento de úlceras pépticas e antidiarreica [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003; LORENZI; MATOS, 2002]. O chá das sementes é utilizado como laxativo e depurativo, quando ingerido em jejum [LORENZI; MATOS, 2002]. Pode ser utilizada externamente em feridas, nas odontalgias [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003] e afecções da pele (acne e espinhas). O gargarejo do chá das folhas picadas, duas a três vezes ao dia, é útil contra amigdalite, faringite, gengivite, estomatite, traqueíte e desintoxicante das vias respiratórias de fumantes [LORENZI; MATOS, 2002]. Na composição química da Plantago major é possível encontrar flavonoides, esteroides, mucilagens, taninos, saponinas, ácidos orgânicos e alcaloides [LORENZI; MATOS, 2002]. 27 A Plantago lanceolata é uma planta herbácea, com caule pubescente e folhas lanceoladas, cobertas por uma fina “penugem”. As flores possuem coloração avermelhadas e às vezes brancas. O fruto é uma baga oval e comprida, com sementes lisas [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003]. Os nomes populares atribuídos a uma ou a várias espécies do gênero Plantago são tanchagem-maior, tanchagem-menor, cinco-nervos [CORRÊA; BATISTA; QUINTAS, 2003], tanchagem-média, plantagem, sete-nervos, tanchás, tranchagem, entre outros [LORENZI; MATOS, 2002]. 5.1.8. Unha de Gato - Uncaria spp. As espécies do Gênero Uncaria são conhecidas como “unha-de-gato”, pertencentes à família Rubiaceae [ZEVALLOS-POLLITO; FILHO, 2010]. As espécies representantes deste gênero nas Américas do Sul e Central são a Uncaria tomentosa e Uncaria guianensis [VALENTE, 2006]. A Uncaria tomentosa é uma liana lenhosa, trepadeira ou às vezes arbusto decumbente. Pode atingir até 35 m de comprimento e 12 cm de diâmetro. Possui caule cilíndrico, casca externa de cor marrom ou marrom escuro e casca interna de coloração ouro-avermelhada ou avermelhada. As folhas são simples, opostas, dísticas, oblongas, oblongo-ovadas ou elípticoobovadas. As inflorescências são terminais ou axilares [ZEVALLOS-POLLITO; FILHO, 2010]. Possui espinhos semicurvados, pontiagudos e de consistência lenhosa, que facilitam a aderência da planta às cascas de ramos de árvores. Sua distribuição é ampla na Amazônia e na América Central, abrangendo vários países. No Brasil, a planta ocorre nos estados do Acre, Amapá, Amazonas e Pará [VALENTE, 2006]. A Uncaria guianensis é uma liana lenhosa ou arbusto rasteiro, podendo atingir até 20 m de comprimento e 10 cm de diâmetro. Possui caule cilíndrico, casca externa de coloração marrom e casca interna ouro-parda ou vermelho-amarelada. Folhas simples, opostas, dísticas, elípticas ou elíptico-oblongas [ZEVALLOS-POLLITO; FILHO, 2010]. O espinho possui forma de gancho, encontrado em cada axila foliar [LORENZI; MATOS, 2002]. Devido à forma dos espinhos, com a ponta dobrada para dentro, há uma maior dificuldade em sua 28 aderência às árvores [VALENTE, 2006]. As inflorescências são em glomérulos axilares, pedunculados, de forma globosa, com flores branco-amareladas [LORENZI; MATOS, 2002]. É amplamente distribuída na Amazônia, abrangendo vários países. No Brasil, ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins [VALENTE, 2006]. Diferenciam-se a Uncaria tomentosa da Uncaria guianensis principalmente pelos espinhos menos curvos, pelas hastes mais anguladas e pelas folhas pouco menores. Ambas possuem características e propriedades mais ou menos semelhantes [LORENZI; MATOS, 2002]. As duas espécies possuem vários nomes populares, inclusive em outros países [ZEVALLOS-POLLITO; FILHO, 2010]. Alguns nomes populares atribuídos a uma ou às duas espécies são unha-de-gato, unha-de-cigana, carrapato-amarelo, garra de gavião [LORENZI; MATOS, 2002], unha de onça, espera-aí, jupindá, entre outros [ZEVALLOSPOLLITO; FILHO, 2010]. Na Uncaria tomentosa podem ser encontrados alcaloides, glicosídeos de ácido quinóvico, taninos, flavonoides, frações de esterol, triterpenos [SOUZA; CIMERMAN, 2010], saponinas e açúcares redutores [RIBEIRO, 2008]. Os usos tradicionais da Uncaria tomentosa são abscesso, artrite, asma, câncer, contracepção, efeitos colaterais da quimioterapia, febres, feridas, fraqueza, hemorragias, inflamações, irregularidades menstruais, limpeza dos rins, prevenção de doenças, purificação da pele, purificação do sangue, reumatismo, revigorante e úlcera gástrica. Já os usos tradicionais para Uncaria guianensis são câncer do trato urinário, cirrose, contracepção, diabetes, disenteria, feridas, gastrite, gonorreia, inflamações, problemas intestinais, reumatismo, tumores e úlcera gástrica [VALENTE, 2006]. Compostos da Uncaria tomentosa foram avaliados em culturas de células apresentando ação antiviral e anti-inflamatória. Esta mesma planta apresentou ação antimutagênica em sistemas fotomutagênicos in vitro e efeito protetor contra a citotoxicidade induzida por raios UV. Também apresentou efeito modulador sobre o sistema imunológico, incluindo aumento do potencial de divisão dos linfócitos e da atividade fagocítica [SOUZA; CIMERMAN, 2010]. 29 O extrato da Uncaria tomentosa é utilizado em casos de alergias, como agente antiinflamatório, antimicrobiano e antioxidante. Também é utilizada na artrite, tratamento de câncer e displasia na cérvix, na doença de Crohn, em diverticulite, endometriose, fibromialgia, esclerose múltipla, rosácea, lúpus eritematoso sistêmico, entre outros [GAMA et al. 2010]. 30 6. RESULTADOS 6.1. Pesquisa em ervanarias A pesquisa com raizeiros em ervanarias foi realizada nas cidades de Americana-SP e Campinas-SP. Na cidade de Americana, os nomes de plantas medicinais indicados foram copaíba, cana do brejo, cavalinha e carobinha. Na ervanaria localizada na cidade de Campinas, os nomes de plantas indicados foram copaíba, cavalinha, manjericão, tansagem, erva baleeira e unha de gato. As plantas foram adquiridas na ervanaria da cidade de Campinas, na forma de droga vegetal seca. A exceção foi a copaíba, adquirida na forma de óleo-resina (óleo de copaíba). As drogas vegetais eram majoritariamente compostas pelas folhas rasuradas das plantas, porém a da cavalinha (Equisetum sp.) era majoritariamente pelos caules rasurados. 6.2. Pesquisa de alcaloides Os resultados obtidos na pesquisa de alcaloides podem ser observados na Tabela 1. Tabela 1: Pesquisa de alcaloides. Plantas Reativos de Precipitação Nome científico Nome popular Dragendorff Mayer Bouchardat Costus sp. Cana do Brejo + + + Jacaranda sp. Carobinha - - - Equisetum sp. Cavalinha - - - Erva Baleeira - - - Ocimum sp. Manjericão + + + Plantago sp. Tansagem - - - Uncaria sp. Unha de Gato + + + Cordia cf. verbenácea 31 As plantas positivas para a presença de alcaloides foram a cana do brejo, o manjericão e a unha de gato. No manjericão os resultados para os reativos de Dragendorff e Mayer não ficaram tão visíveis quanto nas outras plantas que resultaram positivo. Já com o reativo de Bouchardat, o resultado ficou igualmente claro em todas. 6.3. Pesquisa de flavonoides Os resultados referentes à identificação de flavonoides são encontrados na Tabela 2. Tabela 2: Pesquisa de flavonoides. Plantas Nome científico Reação Nome popular Hidróxidos Cianidina alcalinos Costus sp. Cloreto de Alumínio Cana do Brejo + + + Jacaranda sp. Carobinha + + + Equisetum sp. Cavalinha + + + Erva Baleeira + + + Ocimum sp. Manjericão - + + Plantago sp. Tansagem + + + Uncaria sp. Unha de Gato + - - Cordia cf. verbenácea Neste teste, todas as plantas acusaram a presença para pelo menos uma reação de flavonoides. A carobinha foi a planta que apresentou os resultados mais “intensos” ou visíveis. Nas outras plantas, os resultados positivos se apresentaram com intensidade média ou leve. 6.4. Pesquisa de heterosídeos antraquinônicos Os resultados referentes à pesquisa de heterosídeos antraquinônicos podem ser conferidos na Tabela 3. 32 Tabela 3: Pesquisa de heterosídeos antraquinônicos. Plantas Nome científico Nome popular Resultados Costus sp. Cana do Brejo - Jacaranda sp. Carobinha - Equisetum sp. Cavalinha - Erva Baleeira - Ocimum sp. Manjericão - Plantago sp. Tansagem - Uncaria sp. Unha de Gato - Cordia cf. verbenácea Conforme observado, nenhuma das plantas revelou, na reação, possuir heterosídeos antraquinônicos. 6.5. Pesquisa de heterosídeos saponínicos O teste de índice de espuma revelou diferentes quantidades para cada planta. Após o repouso de 10 min, os tubos de ensaio que apresentaram camada de espuma de 1 cm foram o nº 4 da planta unha de gato (Uncaria sp.), os nos 7 das plantas carobinha (Jacaranda sp.) e tansagem (Plantago sp.), o nº 8 do manjericão (Ocimum sp.) e o nº 10 da cavalinha (Equisetum sp.). As plantas erva baleeira (Cordia cf. verbenácea) e cana do brejo (Costus sp.) apresentaram todos os tubos de ensaio com camada de espuma abaixo de 1 cm, por isso o índice de espuma não pôde ser calculado. Ambas apresentaram camada de espuma de aproximadamente 0,5 cm no tubo nº 10. O resultado do índice de espuma nas plantas pode ser observado na Tabela 4. 33 Tabela 4: Pesquisa de heterosídeos saponínicos. Plantas Nome científico Nome popular Índice de Espuma Costus sp. Cana do Brejo <100 Jacaranda sp. Carobinha 142,85 Equisetum sp. Cavalinha 100 Erva Baleeira <100 Ocimum sp. Manjericão 125 Plantago sp. Tansagem 142,85 Uncaria sp. Unha de Gato 250 Cordia cf. verbenácea A unha de gato foi a que apresentou o maior índice das plantas testadas, seguida pela carobinha e tansagem, ambas com o mesmo resultado. Como as quantidades das plantas cana do brejo e erva baleeira não puderam ser calculadas, foi atribuído o valor <100 às mesmas, já que o valor mínimo para as diluições realizadas nesta pesquisa é 100. 6.6. Pesquisa de taninos O resultado referente à pesquisa de taninos pode ser encontrado na Tabela 5. Tabela 5: Pesquisa de taninos. Plantas Nome científico Costus sp. Reação Nome popular Sais de Ferro Acetato Acetato de de cobre chumbo Cana do Brejo - + + Jacaranda sp. Carobinha + + + Equisetum sp. Cavalinha - + + Erva Baleeira + + + Ocimum sp. Manjericão + + + Plantago sp. Tansagem - + + Uncaria sp. Unha de Gato - + + Cordia cf. verbenácea 34 Conforme observado, todas as plantas acusaram a presença de taninos com acetato de cobre e acetato de chumbo. Na reação com sais de ferro, os resultados foram variados: três plantas resultaram positivo e as outras negativo. 6.7. Teste de difusão com discos No teste de disco-difusão, as plantas copaíba (Copaifera Officinalis) e unha de gato (Uncaria sp.) apresentaram inibição do crescimento de Staphylococcus aureus. O halo de inibição referente à copaíba apresentou 15 mm, enquanto o halo de unha de gato apresentou 7 mm (resultados demonstrados na Figura 1). Figura 1: Inibição do crescimento de Staphylococcus aureus. Nenhuma das plantas testadas foi capaz de inibir o crescimento da bactéria Escherichia coli. O resultado do teste pode ser observado na Figura 2. 35 Figura 2: Inibição do crescimento de Escherichia coli. O controle positivo com antimicrobiano gentamicina apresentou um halo de inibição de 19 mm para Staphylococcus aureus e 20 mm para Escherichia coli, enquanto o controle positivo ciprofloxacina provocou a formação de um halo de inibição de 25 mm para S. aureus e 37 mm para E. coli. A solução fisiológica não foi capaz de inibir nenhuma das espécies bacterianas testadas. O teste pode ser observado na Figura 3. 36 Figura 3: Teste de controle positivo e negativo. 37 7. DISCUSSÃO A pesquisa de plantas medicinais utilizadas em casos de infecções, assepsia e contra bactérias revelou as espécies comumente indicadas nestes casos pelos raizeiros, nas ervanarias consultadas. Pelo que se pôde observar na literatura, os vegetais adquiridos são realmente utilizados medicinalmente. Na pesquisa de compostos, a planta cana do brejo (Costus sp.) apresentou resultados que reconfirmam a literatura na presença de alcaloides [BITENCOURT; ALMEIDA, 2014; AZEVEDO et al., 2005], flavonoides [AZEVEDO et al., 2005], taninos [LORENZI; MATOS, 2002] e ausência de antraquinonas [BITENCOURT; ALMEIDA, 2014]. O índice de espuma não pôde ser calculado, pois a droga vegetal em questão apresentou quantidades menores que a detectável na metodologia. Bitencourt e Almeida [2014] não detectou no extrato bruto etanólico a presença de saponinas, já Azevedo et al. [2005] detectou a presença de saponinas na fração butanólica das folhas e caules. No teste de inibição de crescimento das bactérias, a cana do brejo não foi capaz de inibir as cepas testadas, confirmando dados apresentados por Bitencourt e Almeida [2014]. Os pesquisadores testaram a capacidade inibitória da planta contra E. coli, S. aureus e Klebsiella pneumoniae, nas concentrações 25 µg/mL, 50 µg/mL e 100 µg/mL do extrato bruto etanólico e constataram não haver formação significativa de halos em comparação aos antibióticos testados. A pesquisa da planta carobinha (Jacaranda sp.) confirmou dados da literatura para a presença de flavonoides, taninos, saponinas e para a ausência de alcaloides, quando comparada com a triagem fitoquímica realizada por Hernandes [2015], do extrato bruto da espécie Jacaranda decurrens e Jacaranda caroba. O teste de antraquinonas indicou a ausência na droga vegetal estudada, coincidindo com o resultado da espécie Jacaranda caroba e contrariando o da Jacaranda decurrens, que apresentou presença de antraquinonas [HERNANDES, 2015]. O teste de inibição de crescimento das bactérias pela planta carobinha (Jacaranda sp.) não apresentou resultado positivo para nenhuma das bactérias testadas, concordando parcialmente com o estudo de Costa-Campos et al. [2012], no qual o extrato hidroalcoólico da 38 planta não conseguiu inibir a bactéria E. coli, mas foi capaz de inibir S. aureus na concentração de 50 mg/ml. Já no teste feito por Zatta [2008], o extrato etanólico das folhas de Jacaranda decurrens foi capaz de inibir o crescimento de todas as bactérias. A cavalinha (Equisetum sp.) apresentou resultados que confirmam a literatura na presença de flavonoides, taninos e saponinas [MELLO; BUDEL, 2013]. O resultado negativo para alcaloides contradiz o que é citado por Lorenzi e Matos [2002] e Mello e Budel [2013], porém em teste fitoquímico da espécie Equisetum giganteum, realizado por Moraes [2011], a ausência de alcaloides também é relatada. A ausência de antraquinonas também ocorreu com o teste de Moraes [2011]. Não foi observada sensibilidade à cavalinha no teste de inibição do crescimento das bactérias, contrariando os resultados de Geetha, Lakshmi e Roy [2011], nos quais a Equisetum arvense foi capaz de inibir o crescimento bacteriano. O óleo de copaíba (Copaifera Officinalis) apresentou-se positivo para inibição do crescimento da cepa de S. aureus testado, formando um halo de inibição de 15 mm, mas foi negativo para inibição de E. coli. Em um teste realizado por Braga e Silva [2007], o extrato aquoso das folhas da espécie Copaifera langsdorffii também foi capaz de inibir o crescimento de cepas de S. aureus. Em outro estudo, a casca do tronco da espécie Copaifera langsdorffii, em extrato hidroalcoólico, não foi capaz de inibir o crescimento de E coli e S. aureus, mas apresentou halo de inibição contra os microrganismos Proteus mirabilis e Shigella sonnei [GONÇALVES; FILHO; MENEZES, 2005]. Nos testes realizados com a erva baleeira (Cordia cf. verbenácea DC.), a presença de flavonoides, taninos e a ausência de antraquinonas apresentam resultados congruentes com Pereira [2013]. O índice de saponinas não pôde ser calculado, pois apresentou quantidades menores que a detectável nesta metodologia. Pereira [2013] detectou a presença saponinas. Os alcaloides não foram detectados no teste e Pereira [2013] considerou presente apenas traços. A erva baleeira não foi capaz de inibir o crescimento de nenhuma das bactérias testadas. Os resultados foram parcialmente parecidos com Pinho et al. [2012], que demonstrou que a erva baleeira apresentou atividades contra o S. aureus em concentrações superiores a 400 mg/ml e não apresentou atividade contra a E. coli. 39 O manjericão (Ocimum sp.) apresentou resultados que confirmam a literatura na presença de alcaloides, flavonoides [PEREIRA ; MOREIRA, 2011; SANTOS, 2013], taninos e saponinas [PEREIRA ; MOREIRA, 2011; LORENZI; MATOS, 2002]. O resultado do teste de inibição do crescimento de bactérias se apresentou negativo. Nenhuma das duas cepas de bactérias foi inibida e os resultados foram condizentes com os apresentados por Haida et al. [2007]. Já em outros estudos, o manjericão foi capaz de inibir o crescimento de S. aureus [SANTOS; BARREIRO; ANDRADE, 2011] e E coli [NAHAK; PATTANAIK; SAHU, 2011]. A tansagem (Plantago sp.) apresentou resultado congruente com a literatura na presença de flavonoides, saponinas e taninos [LORENZI; MATOS, 2002]. O teste de alcaloides apresentou resultados negativos, contradizendo o que é citado por Lorenzi e Matos [2002]. No teste de inibição microbiológica, a planta não conseguiu inibir nenhuma cepa de bactéria. Em um estudo feito por Souza et al. [2014], confirmaram-se os resultados obtidos no teste contra a bactéria E.coli, no qual o extrato das folhas de Plantago major não conseguiu inibir o seu crescimento. Já no estudo de Freitas et al [2002], o extrato hidroalcoólico da espécie Plantago major L. foi capaz de inibir o crescimento de S. aureus. A unha de gato (Uncaria sp.) reafirmou o que foi dito na literatura, apresentando-se positiva para alcaloides, flavonoides, taninos [SOUZA; CIMERMAN, 2010] e saponinas [RIBEIRO; 2008] Quanto à inibição de crescimento, a unha de gato foi capaz de inibir a cepa de S. aureus, formando um halo de 7 mm. A planta não conseguiu inibir o crescimento da cepa de E. coli testada. Em testes realizados por Ribeiro [2008], a Uncaria guianensis, confirmou os resultados obtidos no presente estudo, inibindo o crescimento de S. aureus e não inibindo o de E. coli. A copaíba apresentou o melhor resultado no teste de difusão com disco contra a bactéria S. aureus, mas deve-se frisar que a mesma não passou pelos processos de extração da droga vegetal seca, secagem do macerado e nova diluição em solução fisiológica, portanto não é possível uma real comparação com as outras plantas estudadas. 40 A unha de gato foi a única planta extraída das drogas vegetais que apresentou resultado positivo para a inibição do crescimento da cepa da bactéria S. aureus testada. Os testes de identificação majoritariamente foram condizentes com a literatura e, provavelmente, as diferenças encontradas podem ser resultado de diferenças nas drogas vegetais obtidas, devido, por exemplo, à sazonalidade da colheita [RODRIGUES et al. 2011], aos métodos de secagem [VIGO; NARITA; MARQUES, 2004] e à falta de controle de qualidade [ALVARENGA et al, 2009]. Os extratos das drogas vegetais secas, utilizados no teste de inibição de crescimento bacteriano, não possuíam controle correto das concentrações utilizadas. A solução fisiológica não conseguiu diluir todo material seco das drogas vegetais, comprometendo o conhecimento das concentrações. Desconhecendo as concentrações, não é possível realizar uma comparação proporcional com outros estudos publicados. Em estudos futuros, recomenda-se que sejam testadas mais amostras da mesma espécie vegetal, evitando, assim, resultados alterados por variações de uma única amostra. Também é indicado que se utilize outra metodologia de extração das drogas vegetais, além de diferentes concentrações de extratos. 41 8. CONCLUSÃO As plantas utilizadas popularmente representam uma economia de tempo e dinheiro para os pesquisadores [AMOROZO, 1996], uma vez que a entrevista com raizeiros demonstrou que as partes de algumas das plantas indicadas realmente possuem ação antimicrobiana, pelo que se pôde observar na literatura e nos testes realizados. Os testes de identificação majoritariamente foram congruentes com a literatura e, no teste de inibição de crescimento, a unha de gato e a copaíba apresentaram ação antimicrobiana contra a bactéria S. aureus. Novos testes como estes, quando realizados, devem utilizar mais exemplares de drogas vegetais para uma única espécie e a extração das drogas deve ser feita com uma metodologia que permita a obtenção de diferentes concentrações, possibilitando, desta forma, minimizar possíveis interferências, como a qualidade da planta obtida ou a sazonalidade da colheita. Conclui-se com este estudo que a diversidade de espécies presente na flora brasileira pode auxiliar no desenvolvimento de novas drogas com atividade microbicida, e que novos estudos serão necessários para que se possa determinar as concentrações inibitórias das mesmas. 42 9. REFERÊNCIAS -ALVARENGA, F.C.R et al.; Avaliação da qualidade de amostras comerciais de folhas e tinturas de guaco. Rev. Bras. Farmacogn. Braz J. Pharmacogn. 19(2A): Abr./Jun. 2009. -AMOROZO, M.C.M. 2002. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leveger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(2): 189-203. -AMOROZO, M.C.M. 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