Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. CONSIDERAÇÕES DE PROJETO PARA OS RETIFICADORES BOOST BÁSICO E INTERCALADOS ALUIZIO ALVES DE MELO BENTO, ANTONIO WALLACE ANTUNES SOARES, RAFAEL MEDEIROS ARAÚJO, LEONARDO VALE DE ARAÚJO Laboratório de Eletrônica, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Av. Salgado Filho 3000, Candelária, Natal - RN E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract This paper presents a comparative study among three boost rectifiers topologies used for power factor correction. Nine option are considered, defined by the rectifier topologies and operating modes (continuous, discontinuous and critic current conduction). In the comparative analysis for operation at variable load, the stress and ripple current are considered, as well as the inductors volume, and the power losses. Keywords boost rectifiers, power factor correction, interleaved rectifiers. Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo comparativo entre três topologias de retificadores boost usados para correção de fator de potência. São consideradas nove opções de retificadores definidas pelas topologias e pelos modos de operação empregados (condução de corrente contínua, descontinua e crítica). Na análise comparativa para operação a carga variável, são considerados os esforços e a ondulação de corrente de rede; o volume dos indutores; e as perdas de potência. Palavras-chave retificadores boost, correção de fator de potência, retificadores intercalados. 1 Introdução Este artigo apresenta um estudo comparativo entre os retificadores boost básico, figura 1, boost intercalado paralelo, figura 2, e boost intercalado série, figura 3, usados para correção de fator de potência. Figura 1: Retificador boost básico. Figura 2: Retificador intercalado paralelo; No estudo são considerados quatro modos de operação para os retificadores boost básico e boost intercalado paralelo: modo de condução contínua de corrente (MCC); modo de condução crítica de corrente (MCCrít); modo de condução descontínua de corrente senoidal (MCDS); e modo de condução descontínua de corrente quase senoidal (MCDQS). O retificador boost intercalado série opera exclusivamente no MCDQS. Na análise comparativa para operação a carga variável, são considerados os esforços de corrente, δI; a ondulação de corrente de rede, ΔIPP; o volume dos indutores, ε; e as perdas de potência. O objetivo deste trabalho é preparar um tutorial para projetos envolvendo retificadores boost. 2 Revisão Básica O princípio de funcionamento do retificador boost básico é o seguinte: durante o intervalo de condução da chave S a rede fornece energia ao indutor L e, durante o bloqueio da chave S, a energia armazenada no indutor é transferida para a seção de saída, através do diodo D. O regime de trabalho da chave S define o modo de operação do retificador. A razão cíclica, d, é definida como a fração do período de chaveamento na qual a chave S conduz, d Figura 2: Retificador intercalado paralelo; ISBN: 978-85-8001-069-5 tON , TS (1) onde, tON é o intervalo de condução da chave S e TS. é o período de chaveamento, TS.=1/ fS. A função de transferência do conversor cc-cc para o MCC e o MCCrít é dada por 4353 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. E 1 , vG 1 d (2) onde, |vG| é a tensão de rede retificada, vG VG sen2f G t , (3) e E, a tensão na carga, que é sempre maior ou igual à magnitude da tensão da rede, VG: E (4) M 1 . VG Onde M é denominada transferência estática. Para operação a potência variável, a relação entre as potências de entrada máxima e mínima é denominada dinâmica de carga ρ: PGmáx PGmín (5) Os esforços de corrente, δI, razão entre o valor da corrente de pico no indutor, ILpico, e a magnitude da corrente de entrada IG, são definidos por I I Lpico IG . I 1 1 Remín 11 , 2 Lf S M (9) onde, Remáx é a mínima resistência de entrada, obtida para corrente de entrada máxima, I G max . O volume equivalente do indutor é dado por: 1 Remín 1 L 1 1 2 2 Lf S M 2 2 . I G max (10) A ondulação pico a pico de corrente, figura 5, ao longo de um semiciclo é dada por: iN ,LPP (t ) sen(G t ) sen(G t )1 M 2 (11) 2.1.2 Modo de Condução Crítica A corrente de entrada para o MCCrít, figura 6, é senoidal sendo obtida com chaveamento a frequência variável. (6) O volume equivalente do indutor, representado pela máxima energia no núcleo, ε, que é denotada por 1 2 (7) LI Lpico 2 2.1 Modos de Operação A escolha dos quatro modos de operação se deu pela representatividade dos mesmos. Assim, o MCC representa as estratégias de controle pela corrente média de entrada, por histerese de corrente e pela corrente de pico. O MCCrít representa as estratégias de frequência de chaveamento variável, com baixas perdas por comutação e esforços de corrente iguais a dois. O MCD, com baixas perdas por comutação e com chaveamento a frequência fixa, é apresentado nas versões senoidal e não senoidal. O objetivo desta seção é apresentar as principais equações utilizadas no texto. Uma análise detalhada da obtenção destas equações é apresentada em (Bento, 2009). Figura 4: Corrente de entrada do retificador boost básico no MCC. 2.1.1 Modo de Condução Contínua No MCC, a corrente de entrada só assume valor zero nas extremidades do semiciclo da rede conforme ilustrado, em p.u., na figura 4, obtida à frequência de chaveamento de 2.5 kHz para melhor visualização da forma de onda da corrente. Para o MCC é necessário um indutor de valor mínimo, L Remáx , 2 fS (8) Remáx é a máxima resistência equivalente de entrada, obtida para corrente de entrada mínima, I Gmín . Os esforços de corrente no MCC são dados por ISBN: 978-85-8001-069-5 Figura 5: Ondulação de corrente de entrada do retificador boost básico no MCC. Figura 6: Corrente de entrada do retificador boost básico no MCCrít. 4354 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Para operação a potência de carga e tensão de rede variáveis, a variação da frequência de chaveamento pode ser obtida por f Smáx M máx . f Smín M máx 1 (12) A frequência mínima, fSmín, ocorre no centro do semiciclo da rede à potência máxima (Remín) e tensão de rede mínima (Mmáx). A frequência máxima, fSmáx, ocorre nas extremidades do centro do semiciclo da rede à potência mínima (Remáx). A indutância no MCCrít é calculada por: Remín 1 1 . 2 f S min M L (13) I 2 (14) . (15) 2.1.3 Modo de Condução Descontínua Senoidal O comportamento da corrente de entrada para o MCDS apresenta média senoidal e chaveamento a frequência fixa, figura 7. A razão cíclica d que produz corrente média senoidal é calculada pela expressão d (G t ) 2 Lf S Re 1 sen (G t ) . 1 M (16) Remín 1 1 2 fS M Y1( ) 2 2 . (21) 1 ) tan ( 2 1 2 1 2 Os esforços de corrente são dados por . Remín . d Lf S (22) O volume equivalente do indutor é obtido de: PGmáx 1 . f S M Y1 ( ) (23) A expressão da corrente média de entrada em função da amplitude da fundamental de corrente senoidal equivalente é dada por iL ( t ) I Gmáx sen(G t ) . (24) 2 Y1 ( ) M sen(G t ) Que é não senoidal, com baixo fator de potência e considerável distorção harmônica, figura 8. 2.2 Retificadores Boost Intercalados Paralelos Nas últimas décadas, é crescente o interesse em relação aos conversores de potência intercalados, que A indutância é calculada por L (20) onde, 1/ M e Y1 ( ) é uma função calculada em (Liu, 1989; Simonetti, 1999), dada por L max O volume do indutor é dado por: 2 PGmáx 1 1 f S min M Remín M 1 Y1 ( ) , f S M 2 L I MCDQS Os esforços de corrente, δI, são iguais a dois. L max (Rossetto, 1994). É a técnica mais simples e de menor custo. A indutância para o MDCQS é calculada por (17) Os esforços de corrente são dados por I M1.5 2Remín 2M LfS 3 3 I M1.5 2Remín 1 1 LfS M . (18) O volume equivalente do indutor, , é dado por M1.5 M 1.5 2 RemínIGmáx 4M 2 27 fS 2 emín Gmáx R I fS . Figura 7: Corrente de entrada. Retificador boost básico no MCDS. (19) 1 1 M 2.1.4 Modo de Condução Descontínua Quase-Senoidal O Modo de Condução Descontínua QuaseSenoidal MDQS, figura 8, também denominado seguidor de tensão opera a frequência de chaveamento fixa e intervalo de condução da chave, tON, fixo ISBN: 978-85-8001-069-5 Figura 8: Corrente de entrada. Retificador boost básico no MCDQS. 4355 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. são compostos por várias células conectadas em paralelo (dividem a corrente de entrada) ou em série (dividem a tensão de entrada). As células se alternam na transferência de energia da rede para a carga e os sinais de controle das células são defasados entre si. Resultando numa redução significativa na ondulação de corrente, além de possibilitar melhoria de rendimento, robustez, densidade de potência; redução de custo e aumento da banda-passante do sistema (Chan, 1997; Batchavarov, 2002; Andrade, 2004). A figura 9 ilustra as formas de onda da corrente de entrada para os retificadores intercalados paralelos e a figura 10 ilustra as ondulações pico-a-pico da corrente de entrada (Andrade, 2004; Bento, 2009). Nos retificadores boost intercalados paralelo, figura 2, e série, figura 3, cada célula processa 50% da potência de saída e os comandos das chaves são defasados de 180º entre si. (a) (a) (b) (b) (c) (c) (d) (d) Figura 9: Correntes para os retificadores intercalados paralelos: (a) MCC; (b) MCCrít; (c) MCDS; (d) MCDQS. Figura 10: Ondulação de corrente para os retificadores intercalados paralelos: (a) MCC; (b) MCCrít; (c) MCDS; (d) MCDQS. 2.2 Retificador Boost Intercalado Série No retificador intercalado série proposto em (Nabae, 1994) , figura 3, os capacitores C1 e C2 atuam como divisores de tensão e as células são compostas pelos indutores L1-S1 e L2-S2. O valor de L1,2 é calculado por ISBN: 978-85-8001-069-5 4356 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. A corrente de entrada é não senoidal, porém com menor distorção harmônica e maior fator de potência se comparado ao retificador básico no MCDQS. L Remín Y ( / 2) . M 1 4f S (25) Os esforços de corrente são dados por I . M Y1 2 PGmáx 2 fS M . Y1 2 I Gmáx M M sen ( G t ) sen ( G t ) Y1 ( / 2) 2 M sen( G t ) (29) I B I B B I Gmáx . (30) A base para normalização da energia no indutor, B , é dada por (27) A ondulação de corrente é dada por I GPP Remín . 2 fS A base para normalização das correntes, I B , da ondulação de corrente, I B , e dos esforços de corrente, B , é o valor da máxima magnitude de corrente de rede I Gmáx . (26) O volume equivalente é dado por máx LB (28) A figura 11(a) ilustra a forma de onda da corrente de entrada para o retificador boost intercalado série (valor médio das correntes dos indutores de cada célula) e, a figura 11(b) ilustra a ondulação pico-a-pico da corrente de entrada (Andrade, 2004; bento, 2009). 2.3 Normalização É ainda necessário normalizar as grandezas como corrente, tensão e volume de indutores a fim de se obter resultados independente da potência e da frequência de chaveamento. A normalização da indutância é feita pela base B PGmáx . 2 fS (31) Assim, as grandezas normalizadas, LN , I N e N são obtidas por XN X / XB . (32) 3 Análise Comparativa A comparação é feita com base nos esforços de corrente, no volume do indutor, nas perdas de potência e nas exigências para o circuito de controle. 3.1 Indutância e Esforços de Corrente As indutâncias foram calculadas no limite de cada modo. Para o MCC é considerada a potência de entrada mínima (que depende da dinâmica de carga) e, para os demais modos é considerada a potência de entrada máxima. A figura 12 ilustra os esforços de corrente para o retificado boost básico nos diversos modos de operação. Os esforços de corrente mais elevados ocorrem no MCDQS, seguido pelo MCDS (δI =2 para M >1,5 e δI >2 para M < 1,5) e pelo MCCrit (δI =2). No MCC, os esforços de corrente diminuem com o aumento da dinâmica de carga. 3.2 Volume do Indutor (a) Uma vez definido o tipo de núcleo para confecção dos indutores, a energia máxima, além da qual o indutor satura, é diretamente proporcional ao volume do núcleo. (b) Figura 11: Retificador boost intercalado série: (a) corrente de entrada e (b) ondulação de corrente de entrada. ISBN: 978-85-8001-069-5 Figura 12: Esforços de corrente para o retificador boost básico. 4357 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Na figura 13, o volume do indutor no MCC aumenta proporcionalmente com a dinâmica de carga, resultando numa redução nos esforços e na ondulação de corrente. Pode-se notar que, para M > 2 os volumes dos indutores são semelhantes. A curva de volume do indutor no MCDQS cruza as curvas para o MCC (M=1,942 e ε = 2,205) e o MCDS (M=1,13 e ε =0,757). Porém, no caso de retificadores com correção de fator de potência é comum operar com valores de transferência estática M próximos da unidade. Onde o MCC apresenta o maior volume de indutores, seguido pelos MCDQS e MCDS e pelo MCCrít, que emprega o menor volume, porém opera a frequência de chaveamento variável. 3.3 Controle A largura máxima (ou mínima) dos pulsos de acionamento da chave, dTS, vai definir aplicabilidade da estratégia frente à frequência de chaveamento e às velocidades da chave e dos circuitos de acionamento (drivers) empregados. A figura 14 ilustra os comportamentos das razões cíclicas d ao longo do semiciclo da rede, para cada modo de operação, para M igual a 1.1, 1.5 e 3. Pode-se observar que para operação nos MCC e MCCrít é necessário gerar pulsos de bloqueio, tOFF, muito estreitos (d ≈1) nas extremidades do semiciclo para qualquer valor de M. Tais exigências se apresentam como dificuldades de projeto e de implementação dos circuitos de acionamento. Além disso, para o MCC, o sensor de corrente e a malha de controle de corrente são relevantes no custo. Os MCDS e MCQS só apresentam pulsos de condução, tON, muito estreitos (d ≈ 0) para M ≈ 1. O resultado da impossibilidade de se gerar pulsos muito Figura 13: Volume dos indutores para o retificador boost básico. estreitos é o aumento da distorção na corrente e consequente degradação do fator de potência. 3.4 Perdas Algumas considerações acerca das perdas de potência no retificador boost são feitas aqui, de forma qualitativa. São consideradas as perdas por condução, por comutação da chave S e por recuperação reversa no diodo D. Principalmente no caso de se utilizar MOSFET como chave, as perdas por condução estão relacionadas com os esforços de corrente, ou com a corrente eficaz (rms) na chave. O MCC possui os menores esforços de corrente e por isso apresenta as menores perdas por condução. Por outro lado, o MCDQS apresenta as maiores perdas por condução, seguido pelo MCDS e o MCCrít. Além disso, esforços de corrente maiores impõem o uso de chaves mais caras. As perdas por comutação estão relacionadas com as transições saturação-corte e corte-saturação, sendo a segunda associada às perdas de recuperação reversa do diodo. O MCC apresenta as maiores perdas pois a chave S comuta a corrente e tensão não nulas e o diodo D apresenta perdas por recuperação reversa. Para operação no MCD e no MCCrít, a transição corte-saturação (fechamento) da chave S ocorre a corrente nula, o que elimina as perdas nessa transição além das perdas por recuperação reversa no diodo D. Portanto, as perdas por comutação ficam reduzidas àquelas da transição saturação-corte (bloqueio), que depende, basicamente, das características da chave, da frequência de chaveamento e dos esforços de corrente. Assim, as maiores perdas por comutação ocorrem no MCC, seguido em ordem decrescente, pelos MCDQS, MCDS e MCCrít. O peso de cada tipo de perda no rendimento final vai depender da frequência de chaveamento, da chave e do diodo utilizados. Chaves do tipo MOSFET são velozes e têm baixas perdas por comutação. Já as perdas por recuperação reversa implicam no uso de diodos rápidos, normalmente de custo elevado. A tabela 1 resume as principais características de cada modo de operação para o retificador boost básico. 3.5 Comparação entre os Retificadores Intercalados A análise comparativa entre os retificadores intercalados é feita para operação a potência fixa e considera os esforços de corrente; o volume do indutor; a ondulação de corrente e as perdas de potência (Teodorescu, 2001). Nesta comparação, os volumes dos indutores e as chaves do boost básico e intercalado foram mantidos iguais, considerando cada modo de operação. Com relação ao boost básico, os retificadores intercalados paralelos reduzem pela metade os Figura 14: Razão cíclica o retificador boost básico. ISBN: 978-85-8001-069-5 4358 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. esforços de corrente e as perdas por condução na chave S. Na figura 15, os esforços de corrente do retificador intercalado série são, aproximadamente, três vezes maiores que os do boost paralelo e isto resulta em maiores perdas de condução. As perdas por comutação no retificador boost intercalado série também são as maiores, exceto se comparadas à operação no MCC. Na figura 16, o retificador intercalado série tem volume de indutores maior do que os retificadores intercalados paralelos, principalmente para M ≈ 1. Se comparado com o retificador boost básico, uma das vantagens mais visíveis dos retificadores intercalados é a drástica redução da ondulação de corrente, figuras 10 e 11 (MCC com menor ondulação), e a frequência da ondulação resultante de 2fS, que se traduz na redução do volume do indutor e/ou na ondulação do retificador básico e/ou na redução da frequência de chaveamento. Ou, ainda, na redução do volume do filtro de linha. Tabela 1. Análise comparativa do retificador boost básico. MCC MCCrít MCDS MCDQS 1 2 3 4 4 1 2 3 I B 1 2 3 4 Perdas condução 1 2 3 4 Perdas comutação 4 1 2 3 Esforços, Volume, B B Ondulação, * 1,2,3,4: ordem crescente do valor comparado O nível de ondulação de corrente para o retificador intercalado série é comparável àquele para o MCC. Porém, apresenta a vantagem da frequência da ondulação valer 2fS. Quanto às perdas de potência, o modo MCC intercalado, embora apresente a melhor redução de ondulação de corrente, figura 10, necessita de indutores com maior volume, figura 16, produz mais perdas de potência por comutação e necessita de dois sensores de corrente. O modo MCDS intercalado apresenta um menor volume de indutores, figura 16, baixas perdas e, embora a ondulação de corrente nestes casos seja alta para M ≈ 1, como ilustrado na figura 10, a frequência de ondulação de corrente é o dobro. A escolha de se operar no modo MCDS ou no MCC, além de considerar a relação entre os volumes de indutores em cada opção, deve-se também levar em consideração o tamanho do filtro de entrada. Em alguns casos o menor volume da opção MCDS pode compensar esta última opção com um filtro de linha. O modo MCCrít intercalado apresenta um volume de indutores reduzido, baixas perdas e, embora a ondulação de corrente nestes casos seja alta, a frequência de ondulação de corrente é o dobro. A escolha deste modo, com frequência de chaveamento variável, é mais apropriada para aplicações com dinâmica de carga reduzida. A tabela 2 resume as principais características de cada modo de operação para os retificadores boost intercalados. 3.6 Projeto do Conversor Boost Figura 15: Retificadores intercalados série e paralelos. Esforços de corrente para os diversos modos de operação. Com a finalidade de embasar a comparação entre os diversos modos de operação estudados, são feitas especificações de projetos para operação com carga variável, tabela 3. Dos resultados obtidos se pode concluir que a variação de frequência no MCCrít (de 50 kHz a 6,8 MHz) o torna proibitivo. No MCC, o indutor calculado é impraticável tanto pelo grande volume quanto pela lenta resposta de corrente, impossibilitando o rastreamento da corrente a potências mais elevadas. Assim, as opções MCC e MCCrít são descartadas para as especificações de potência variável. Tabela 2. Análise comparativa dos retificadores boost básico intercalados. MCC MCCrít MCDS MCDQS Série 1 2 3 4 5 4 1 2 3 5 Ondulaç. I B 1 2 3 4 5 Perdas cond. 1 2 3 4 5 Perdas comut. 5 1 2 3 4 Esforços, Volume, Figura 16: Retificadores intercalados série e paralelos. Volume dos indutores para os diversos modos de operação, normalizados. ISBN: 978-85-8001-069-5 B B * 1,2,3,4: ordem crescente do valor comparado 4359 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. Tabela 3: Resultados para carga variável e rendimento unitário. vG :85 (M=3,33 ) a 260 (M=1,08 ) VRMS (60 Hz); E = 400 V (M = 1,08 a 3,33); PO = 50 a 500 W ; Indutância Pico de corEnergia do fS (kHz) (μH) rente (A) indutor (mJ) 14,14 50 MCC 13720 1370 101 16,64 13,98 MCCrít 50 a 6800 101 16,64 13,98 50 MCD senoidal 53,6 17,64 8,34 50 MCD quase-senoidal A principal desvantagem de operação nos modos MCDS e MCDQS são os elevados esforços de corrente, que produzem um nível elevado de harmônicos de alta frequência e exige o uso de filtro de linha com dimensões consideráveis O MCDQS, apesar de possuir o menor volume de indutor para M≈1, figura 13, apresenta esforços de corrente mais elevados que o MCDS e um fator de potência menor. Em aplicações de baixa potência, em que as dimensões e o custo do circuito são priorizados em detrimento do fator de potência e do nível de ondulação de corrente, o MCDQS pode ser apropriado. 4 Conclusões Este artigo apresentou um estudo comparativo entre os retificadores boost básico, boost intercalado paralelo e boost intercalado série. As duas primeiras topologias foram analisadas para quatro modos de operação e a terceira opera apenas no MCD. Na comparação foram considerados os esforços de corrente, o volume de indutores, a ondulação de alta frequência da corrente e as perdas de potência. Foram apresentadas as dificuldades de projeto para operação a carga variável. Onde, a operação no MCC pode se tornar impraticável devido ao aumento de volume do indutor L e, a operação no MCCrít pode se tornar impraticável devido ao aumento demasiado da frequência de chaveamento. Por fim, a dinâmica de carga no MCD não apresenta problemas de volume do indutor. Porém, as perdas de condução e os altos esforços de corrente são fatores limitantes desse modo. Os resultados apresentados em curvas (em p.u.) são de uso imediato na escolha da topologia e do modo de operação do retificador para cada aplicação. Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, pelo suporte financeiro. Referências Bibliográficas proc. of IEEE Power Electronics Specialist Conference, pp. 2353--2359. Batchavarov, J. S.; Valchev, V. C. and Yudov, D. D.; Duarte, J. L., September 2002, “Investigation of Chaos in Interleaved Power Converters” - First international IEEE symposium intelligent systems, vol. 1, pp. 79-83. Bento, A. A. M. (2009). A Técnica de Controle de Um Ciclo Aplicação à Correção do Fator de Potência com Retificadores Boost. Tese de Doutorado, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Campina Grande. Chan, C. H. and Pong, M. H. (1997). 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