30 anos ÍNDICE A pr esentação presentação 30 anos Reitor 04 05 Pr of odolf o J oaquim Pinto da Luz - R eitor Prof of.. R Rodolf odolfo Joaquim Reitor Ag Agrr adecimento Dir eção do Museu Uni ver sitário Direção Univ ersitário Estr utur a Atual Estrutur utura Rodolfo Joaquim Pinto da Luz Pró-Reitora de Cultura e Extensão Denise Guerreiro Vieira da Silva Diretor do Museu Universitário Gelci José Coelho 06 História do Museu 08 De poimentos de dir etor es Depoimentos diretor etores 13 Museu Universitário 14 Transcrição das entrevistas 15 Edição da Revista 19 Jean Carlos Antônio Sônia Maria Kempner Fotografias Joi Cletison Alves, Francisco do Vale Pereira, Gelci José Coelho, Milton Knabben Fileti Acervo do Museu Seleção de imagens Hermes J. Graipel Júnior, Cristina Castellano, Gelci José Coelho, Francisco Cartaz institucional do MU Contatos www.museu.ufsc.br [email protected] FAX: (48) 331 9325 Tel.: (48) 331 8821 Tiragem e circulação Distribuição: instituições federais, estaduais e municipais, escolas, universidades e associações culturais e museológicas. Alr oino Baltazar Eb le Alroino Eble Por Gelci J osé Coelho “P eninha” José “Peninha” Alr oino Baltazar Eb le Alroino Eble 21 Anamaria Bec k Beck 24 Neusa Maria Sens Bloemer 31 Luis Car los Halfpa p Carlos Halfpap 37 38 Ter esa F ossari eresa Fossari Por Maria J osé R eis José Reis Gelci J osé Coelho "P eninha" José "Peninha" Depoimentos de funcionários Design Gráfico Capa Sílvio Coelho dos Santos 20 do Vale Pereira e Vicenzo Berti. www.vicenzoberti.com.br Os waldo R odrigues Ca br al Osw Rodrigues Cabr bral Por Sar a R egina P oyar es dos R eis Sara Re Po ares Reis 39 40 Hélio Manoel Alv es Alves 41 Pedr o Ger aldo Ba tista edro Geraldo Batista 42 Her mes J osé Gr aipel Júnior Hermes José Graipel 43 44 45 Maria Dor othea P ost Dar ella Dorothea Post Darella Deise Luc y Oli veir a Montar do Lucy Oliv eira Montardo 46 Aldo Litaif Litaifff 47 Francisco do Vale P er eir a Per ereir eira 48 Wanda Ritta Cristina Castellano APRESENT AÇÃO APRESENTAÇÃO MUSEU UNIVERSITÁRIO Museu Uni ver sitário "Os waldo R odrigues Ca br al” Univ ersitário "Osw Rodrigues Cabr bral” Pr of odolf o J oaquim Pinto da Luz Prof of.. R Rodolf odolfo Joaquim Reitor da UFSC Nascido do antigo Instituto de Antropologia, idealizado e implantado pelo professor Oswaldo Rodrigues Cabral como um espaço propício às atividades de pesquisa na área de Antropologia, o Museu Universitário tem sido fiel à sua missão, há mais de três décadas, de buscar a "ampla compreensão da realidade, a partir da região na qual está inserido, refletindo criticamente sobre a diversidade sócio-cultural". Esta postura de reflexão crítica premeia o trabalho realizado no nosso Museu Universitário, como nos mostram os depoimentos que abarcam toda a sua história. O relato do atual diretor, dos ex-diretores, dos colaboradores técnicos e de apoio, são uníssonos na sua declaração de amor ao trabalho que realizam e realizaram neste ambiente propício à pesquisa e de renovação do ensino e da extensão. O Museu é uma porta aberta à comunidade externa, convidando-a a vir até a Universidade Federal de Santa Catarina para conhecer um pouco mais de seu próprio passado e refletir sobre a sua identidade cultural tão diversificada. Além do importante acervo de Arqueologia Pré-Colonial e Histórica, e de Etnologia Indígena, o Museu é guardião da coleção "Profª Elizabeth Pavan Cascaes", preservando o significativo acervo do artista Franklin Joaquim Cascaes, constituído de mais de 2.700 peças - desenhos, manuscritos e 4 Atividade cultural em frente ao Museu Universitário esculturas que retratam o cotidiano, a religiosidade, lendas, mitos folguedos folclóricos e tradições dos primeiros colonizadores da Ilha de Santa Catarina. Lançando sementes, o Museu criou também o Núcleo de Estudos Museológicos que, em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura, está envolvido na capacitação do pessoal que trabalha nos museus localizados nos vários municípios catarinenses. Desejamos que toda esta diversidade de atividades desenvolvidas no Museu vingue, frutifique e se multiplique pelo Estado afora. Esta seria a melhor recompensa e o testemunho histórico do trabalho profícuo de todos aqueles que construíram o Museu Universitário "Oswaldo Rodrigues Cabral". Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br APRESENT AÇÃO APRESENTAÇÃO AGRADECIMENT O GRADECIMENTO A todos que tr abalhar am no Museu Uni ver sitário tra balharam Univ ersitário Dir eção do Museu Direção Desde a sua criação, em 1965, como Instituto de Antropologia, até os dias atuais, quando recebe a denominação Museu Universitário "Oswaldo Rodrigues Cabral", em homenagem ao seu fundador, já se passaram mais de trinta anos. A publicação dessa memória, tem a intenção de divulgar o Museu Universitário através de depoimentos de pessoas que ajudaram a formar sua história por meio da pesquisa, do ensino, da extensão, constituindo um patrimônio significativo na produção científica, na documentação museológica, coleta e aquisição de acervos nas áreas de Arqueologia, Etnologia Indígena e Cultura Popular. Engenho de fabricar farinha de mandioca É impossível denominar a imensa quantidade de colaboradores do Museu: professores, funcionários, estudantes e voluntários que por aqui passaram, deixando sua importante contribuição. A todas as pessoas desejamos agradecer e solicitar a continuação dessa parceria. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 5 ESTR UTURA ESTRUTURA ESTR UTURA ATU AL ESTRUTURA TUAL Setor es e di visões Setores divisões Estr utur a Estrutur utura Diretor: Gelci José Coelho Setor de Arqueologia: Teresa Domitila Fossari Diretora da Divisão de Museologia: Cristina Castellano Setor de Cultura Popular: Gelci José Coelho e Francisco do Vale Pereira Diretora da Divisão de Pesquisa: Teresa Domitila Fossari Secretaria: Elizabeth Pereira Russi Alexandre, Euclides Vargas, Maria Bernadete de Amorim Jollembeck e Sônia Maria Kempner Setor de Etnologia Indígena: Aldo Litaiff, Deise Lucy Oliveira Montardo e Maria Dorothea Post Darella Serviço de Documentação e Arquivo: Cristina Castellano, Hermes José Graipel Júnior e Wanda Ritta Missão O Museu Universitário "Oswaldo Rodrigues Cabral" tem por finalidade pesquisar, produzir e sistematizar o conhecimento interdisciplinar sobre populações pré-coloniais, coloniais, indígenas e ações museológicas, visando a ampla compreensão da realidade, a partir da região na qual está inserido, refletindo criticamente sobre a diversidade sociocultural. 6 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br ESTR UTURA ESTRUTURA Estr utur a or ganizacional Estrutur utura org Direção: Serviço de expediente Divisão de Museologia: Serviço de Documentação e Arquivo Núcleo de Estudos Museológicos - NEMU Divisão de Pesquisa: Setor de Arqueologia Setor de Etnologia Indígena Setor de Cultura Popular Pr ojetos em desen volvimento Projetos desenv DIVISÃO DE MUSEOLOGIA Serviço de Documentação e Arquivo: - Acondicionamento e armazenamento do acervo arqueológico do Museu Universitário. - Acondicionamento e higienização da Coleção Profa. Elizabeth Pavan Cascaes - Exposição itinerante "O Universo Bruxólico de Franklin Cascaes". - Exposição "Peixes Mitológicos" desenhos de Franklin Cascaes. - Visitas guiadas (recepção e orientação aos visitantes do Museu Universitário). NEMU - Núcleo de Estudos Museológicos - Capacitação e aperfeiçoamento dos trabalhadores dos museus do estado de Santa Catarina. DIVISÃO DE PESQUISA Setor de Arqueologia: - Assentamentos pré-coloniais de grupos de tradição Itararé na paisagem da Ilha de Santa Catarina. - Projeto gerenciamento dos sítios arqueológicos do empreendimento Jurerê Internacional. Setor de Etnologia Indígena: - Registros sonoros e pesquisa dos repertórios musicais no Sul e Centro-Oeste do Brasil. - Tradução do Livro: Pramatisme et Sociologie. - Projeto "Sem tekoa não há teko" (Sem terra não há cultura). - Projeto “Resgate Memória Egon Schaden (Museu Universitário/Departamento de Antropologia Setor de Cultura popular: - Registros da religiosidade popular do litoral catarinense (vídeo). - Projeto Pilão da Ilha mapeamento fotográfico seguido de exposição das peças utilitárias. - Mapeamento cultural açoriano do litoral catarinense, em parceria com o Núcleo de Estudos Açorianos - NEA. - Projeto de extensão: palestras sobre a herança cultural de base açoriana. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 7 HISTÓRIA HISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIO "Os waldo R odrigues Ca br al" "Osw Rodrigues Cabr bral" O Museu Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC tem sua origem no Instituto de Antropologia, criado por meio da Resolução nº 089, de 30 de dezembro de 1965. Até 1968 este Instituto funcionava junto ao Curso de História da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da UFSC. Em 29 de maio desse mesmo ano foi inaugurada a sede própria do Instituto de Antropologia, uma edificação reformada e adaptada que integrava o complexo da antiga Fazenda "Assis Brasil", cujo espaço foi transformado no atual campus universitário. Prof. Cabral proferindo discurso de instalação do Instituto de Antropologia Da esquerda para direita, Prof. Cabral e Prof. Egon Schaden O Instituto de Antropologia era composto pelas divisões de Arqueologia e Antropologia Física e Cultural. Suas instalações dentro de uma área de 480m² abrigavam laboratórios, além de uma biblioteca e uma sala de exposições para o acervo arqueológico, indígena e de cultura popular. A Reforma Universitária, implantada na UFSC na década de 1970, implicou a transformação do Instituto de Antropologia em Museu de Antropologia. Esta alteração na nomenclatura não afetou o exercício das atividades de pesquisa que continuavam sendo prioritárias, porém tendo que assumir definitivamente a exposição do acervo, atendendo aos objetivos: ex- 8 tensão e ensino. Para que pudesse haver exposições, foram transformadas três salas de aula que ficavam anexadas ao prédio principal em salas de exposições. Em 1978, por meio da Resolução nº 065, de maio de 1978, o Museu de Antropologia é transformado em Museu Universitário. A partir desse momento o Museu passa a ser uma instituição voltada exclusivamente para a guarda de acervo. Esta denominação sempre causou estranheza ao público em geral, pois, no entendimento do senso comum, se era ou é universitário, percebia-se como um receptor do acervo material dos diversos órgãos que compõem a UFSC. Entretanto, era latente aos técnicos que atuavam no Museu Universitário que seu caráter estava voltado à Antropologia, e a forma "universitário" dava-se ao tripé norteador de uma instituição como a UFSC, voltada ao ensino superior, ou seja, pesquisa, ensino e extensão. Assim sendo, em meados da década de 1980, o Setor de Arqueologia, com uma equipe coordenada por uma arqueóloga, retomou a pesquisa com o projeto intitulado "O povoamento pré-histórico na Ilha de Santa Catarina", financiado pela FINEP. A partir daí outros setores do Museu incrementaram projetos de pesquisa. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br HISTÓRIA bem como em documentação e arquivo, e estudos museológicos. Dentro dessa perspectiva, o atendimento ao público especializado chegou nos últimos quatro anos a 1.354 pessoas. Merece atenção especial o acervo do Museu, não só pela intensa procura por parte de pesquisadores do Brasil e de outros países, como também por parte de instituições que se utilizam dele para exposições, como, por exemplo a "As- Prof. Cabral com assistentes mostrando as futuras instalações do Instituto de Antropologia Em 1991, após ampla discussão interna, foi formado o corpo técnico-científico que elaborou o novo regimento interno objetivando a priori sedimentar o tripé pesquisa, ensino e extensão como forma de atuação de um Museu com um caráter eminentemente antropológico. Em maio de 1993, o Museu completou vinte e cinco anos de existência e passou a ser denominado Museu Universitário "Oswaldo Rodrigues Cabral", por meio da Resolução n.º 106/Cun, de 26 de outubro de 1993, em homenagem a seu idealizador, fundador e primeiro diretor. Cabe ressaltar que, apesar de ser criado em 1965, somente em 1968 foi aberto ao público, ainda como Instituto de Antropologia. Atualmente, o Museu desenvolve atividades de pesquisa, ensino e extensão em Arqueologia (pré-colonial e histórica), Etnologia indígena, Cultura popular e Divisão de Prof. Cabral com pesquisadores do museologia Instituto de Antropologia - 1968 Instituto de Antropologia - Finais da década de 1960 sociação Brasil 500 Anos Artes Visuais - Mostra do Redescobrimento", uma mostra de acervos que denotam a multiplicidade e abrangência da cultura material no Brasil. Tal evento ocorreu no período de 23 de abril a 7 de setembro de 2000 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, com um público visitante que ultrapassou um milhão de pessoas. A mesma exposição foi dividida em módulos e apresentada em: Lisboa, Fundação Calouste Golbenkian, com uma visitação de oitenta e cinco mil pessoas; São Luís do Maranhão, no Convento das Mercês, com sessenta e cinco mil visitantes; Santiago do Chile, no Museu Nacional de Belas Artes, com quarenta e dois mil visitantes. O Museu se fez presente com o empréstimo de vinte e seis peças do seu acervo arqueológico, já estando programado para o ano de 2005 o empréstimo de dez peças do acervo de Arqueologia e Etnologia Indígena para o Museu Nacional da França. Outro ponto relevante do acervo e também motivo de cuidados especiais é a sua diversidade de matérias-primas empregadas. Temos, sob a Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 9 HISTÓRIA posição com textos e fotos intitulada "Índios e terras indígenas em Santa Catarina: situação atual", que está em exposição pelo interior do nosso estado. No que tange as exposições no Museu, é fator limitante e motivo de preocupações suas precárias instalações. Como já foi dito anteriormente, dispomos de três salas denominadas blocos M2, M3 e M4, segundo definição Egon Schaden proferindo palestra no Auditório do Museu Universitário - 1968 guarda do Museu, acervos líticos, cestarias, cerâmicas, vidros, papéis, ósseos, madeiras, fibras vegetais, ferros, materiais fotográficos, tecido e plumária. Esta diversidade está intrinsecamente relacionada à forma de aquisição do acervo que é, na sua maioria absoluta, resultado de pesquisas executadas pelo corpo técnico-científico do Museu. Há coleções que têm forte apelo popular, como por exemplo a coleção "Profª Elizabeth Pavan Cascaes", obra do artista Franklin Joaquim Cascaes, que se tornou referência para a compreensão da ocupação humana na Ilha de Santa Catarina e arredores. Ainda é fruto de exaustivas pesquisas a coleção "Arqueológica", précolonial ou histórica (séc. XVI). O acervo etnográfico indígena foi exposto no Museu Histórico de Santa Catarina a partir do mês de agosto de 2002. Também há uma ex- Laboratório de Antropometria Física 10 Arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, Prof. Cabral e Prof. Paulo Duarte com equipe do Museu do Escritório Técnico-Administrativo (ETUSC), que totalizam 480 m². Cabe salientar que a área utilizável sofre interferência de corredores que ligam um bloco ao outro. Outra questão é a inadequação do espaço, uma vez que são construções da década de 1970, com piso em madeira, janelas venezianas e telhado de amianto sem forro, a princípio construídas para serem utilizadas como salas de aula. Este conjunto impede o controle de umidade, temperatura, iluminação e até mesmo a circulação do público e a segurança do acervo de maneira adequada. Ainda que tenhamos um conjunto de problemas, dificuldades e preocupações, mantemos exposições a fim de atender ao público da UFSC, escolas do ensino fundamental e médio da rede pública e particular, ao público local e aos turistas provenientes do Brasil e outros países. A questão da visitação ao Museu requer condições de segurança tanto para o acervo quanto para o público, que nos Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br HISTÓRIA Vista parcial do prédio do Básico - Década de 1970. Ao fundo, à esquerda, o então Instituto de Antropologia, atual Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral” últimos quatro anos perfizeram um total de 71.140 visitantes. A atuação de museus pós-década de 1980 está sendo norteada pelas Cartas de Caracas e de Santiago do Chile. Ambas centram esforços para que as questões museográficas voltemse para a região na qual está inserido o museu, de forma que a museografia técnica expositiva - contemple aspectos da cultura local. Esta orientação da regionalização já é contemplada historicamente pelo Museu; porém, no que se refere à museografia, temos sérias dificuldades em razão do espaço físico. Mostras museográficas não se restringem em colocar à disposição do público o acervo, pois elas têm como objetivo servir a um processo educacional, permitindo a sua reflexão e compreensão por meio da cultura material. Os objetos no museu adquirem o status de acervo e são descaracterizados de sua função primeira e assim tornam-se signos que por si não falam, mas traduzem o arcabouço cultural de uma sociedade. Dessa forma, é de vital importância que os espaços museográficos tenham uma Sr. Duca, oleiro do município de São José, demonstrando a confecção de cerâmica de torno Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 11 HISTÓRIA Visita do então Reitor, Prof. David Ferreira Lima, recebido pelo Prof. Silvio Coelho dos Santos, no laboratório de Antropometria Física adequação que possibilitem uma interação entre o público e a exposição que os objetos/acervos/ signos não sejam olhados como "curiosidades", mas como ação educativa. Por se tratar de um Museu que desenvolve atividades em uma instituição de ensino superior, a procura de informações pertinentes à área acaba sendo uma constante. Esta demanda, não só pelas prefeituras do estado de Santa Catarina, como também de outros museus e mesmo de instituições do ensino fundamental, médio e superior. Ainda assim, no intuito de otimizar as atividades externas, foram criados dois núcleos de estudos com atribuições específicas, quais sejam: NEMU - Núcleo de Estudos Museológicos e o NEA - Núcleo de Estudos Açorianos. O Núcleo de Estudos Museológicos em conjunto com a Fundação Catarinense de Cultura, por meio da Gerência de Organização dos Museus Catarinenses, oferecem oficinas, cursos, palestras e seminários para mais de cento e quarenta museus do estado de Santa Catarina. A idéia central é a capacitação dos trabalhadores em museus, permitindo desta forma o desdobramento das informações em cada região de atuação do Núcleo. A questão da ocupação humana no litoral de Santa Catarina, a partir do Séc. XVIII, é alvo de atenção do Núcleo de Estudos Açorianos. Dessa forma, o mapeamento cultural - levantamento de dados da cultura material e da cultura oral, tenta perceber na contemporaneidade as permanências e a dinâmica cultural dos descendentes dos antigos povoadores açorianos. Cabe salientar que até a presente data, quarenta e três municípios participam de forma sistemática de eventos que vão desde pesquisas, palestras, seminários, publicações e até festas populares, objetivando incentivar a participação da comunidade de forma lúdica, reconhecendo e valorizando os aspectos da herança cultural de base açoriana, e estimular a organização de grupos folclóricos, de festividades e da produção artesanal, buscando criar um corredor turístico cultural ao longo do litoral catarinense. Hall do Museu Ao fundo, fotografia do Prof. Cascaes Salas de exposição - década de 1970 12 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES DIRET ORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO DIRETORES Nas páginas a seguir você terá o depoimento de diretores do Museu Universitário, desde sua criação, bem como de pessoas próximas a ele. Os depoimentos trazem um pouco das suas experiências à frente da administração do Museu, no dia-a-dia deste setor que prima pela guarda da história de nossos antecessores. Crianças visitando o Museu Universitário. A Bernunça é uma das figuras que compõem o folguedo folclórico do Boi-de-Mamão Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 13 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Pr of waldo R odrigues Ca br al Prof of.. Os Osw Rodrigues Cabr bral (dir etor no período de 1965 a 1969) (diretor Por Sar a R egina P oyar es dos R eis Sara Re Po ares Reis br al of waldo R. Ca Prof of.. Os Osw Cabr bral sobrinha do Pr O Instituto de Antropologia, eu vi nascer do sonho de Oswaldo Cabral. Aos poucos ele foi formando uma equipe na medida das necessidades e tudo foi funcionando, apesar das dificuldades. Quando surgiram problemas para se fazer a restauração de crânios tirados dos sambaquis, foi chamado um dentista, o Dr. Edson Araújo, que criou um sistema para restaurar os crânios; inovação aplaudida por vários pesquisadores. Tudo foi surgindo do nada, foi indo, foi se desenvolvendo no Instituto de Antropologia, embasado no amor daqueles que ali atuavam. Foi um trabalho de amor. Eu era aluna do curso de História e auxiliava nas horas vagas. Aqui onde estamos dando esta entrevista era exatamente o local onde montei a primeira biblioteca do Instituto - era um monte de livros e revistas, a maioria doada por meu tio, tirada da sua biblioteca particular. O pessoal que aqui trabalhava era pouco para o muito que havia para fazer. O senhor Costa (José Antonio Costa) era o secretário e o senhor Hélio (Hélio Manoel Alves) era o servente. O professor Cabral ajudou a fundar a UFSC, foi diretor da Faculdade de Filosofia; mas a "menina dos olhos" dele era o Instituto de Antropologia. A sua maior satisfação era dizer que havia transformado uma estrebaria numa instituição científica. Sim, porque onde estamos era a estrebaria da antiga fazenda "Assis Brasil". Muitas pessoas que freqüentavam o Instituto como palestrantes são ícones da cultura brasileira. Por aqui passaram os eminentes Paulo Duarte e Egon Schaden da USP; professores do Museu do Homem de Paris; Wesley Hart dos USA e tantos outros nomes, no momento, impossíveis de enumerar. Acho que foi uma época brilhante da nossa Universidade. O arqueólogo W. Hart era 14 uma "figura". Trabalhei com ele em escavações e, para mim, foi uma pessoa inesquecível, era uma sumidade! Espero que, a partir desses trinta anos da criação do Instituto de Antropologia, depois transformado em museu, ele possa ir em frente, que consiga verbas e possa voltar a ser aquilo que o Dr. Oswaldo Cabral pretendia, uma instituição de caráter científico, que se possa fazer muito mais pesquisas do que se faz hoje, porque o Museu não era intenção dele; ele não pretendia o Museu. Teria uma sala com objetos arqueológicos encontradas em escavações científicas, mas seriam peças de acervo para estudo, não seriam peças para exposição pública. Ele não chegou a ver essa transformação que ocorreu aqui por causa da sua morte, mas eu acredito que ele não iria se importar com a criação do Museu. Transformações acontecem em qualquer instituição, mas o Museu como instituição de pesquisa, ensino e extensão, chega ao ponto que ele gostaria. Visita guiada Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Sílvio Coelho dos Santos Gostaria de dizer inicialmente que comecei a trabalhar com o professor Oswaldo Rodrigues Cabral na cadeira de Antropologia, como auxiliar de ensino, e foi nesse cenário que acabei fazendo um curso de especialização no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Como o professor Cabral era um entusiasta, ele se cercou de vários jovens que estavam interessados na pesquisa, na área de Antropologia e em campos específicos como Arqueologia, Antropologia Física, Etnologia, e foi assim também que colegas meus, como Anamaria Beck, Marcílio Dias dos Santos, Gerusa Duarte, fizeram seus cursos de especialização. De sorte que pelo ano de 1965, o professor Cabral estava rodeado de auxiliares trabalhando cada um em um campo particular da área de Antropologia. Surgiu nesse cenário a idéia de transformar a cadeira de Antropologia num Instituto de Pesquisa em Antropologia. Lembrome de que eu, o professor Walter Fernando Piazza e o Professor Cabral assinamos um documento que enviamos no início de 1966 para o reitor Ferreira Lima, que autorizou o professor Cabral a ocupar esta edificação da antiga fazenda "Assis Brasil", que estava abandonada. Naquela época era usada por dois moradores que foram transferidos. O gabinete do reitor cedeu uma pequena verba para o professor Cabral. Com aquele pouco dinheiro, ele não só reformou o prédio como comprou móveis e equipamentos e um veículo para garantir a pesquisa. Em 1967, mudamos para cá; creio que no mês de agosto ou setembro. Mas realmente o prédio só foi inaugurado em 1968, quando houve aqui uma reunião do Conselho de Reitores. Lembro-me de que muitos estudantes se colocaram aqui na frente para vaiar o reitor e as demais autoridades que estavam chegando para aquela inauguração formal. Foi motivo inclusive daquela placa de inauguração que está ali na escada. Naquela época, o Instituto era referência não (dir etor no período de 1970 a 1975) (diretor Presépio Natalino confeccionado com fibras naturais e idealizado pelo Prof. Franklin Cascaes só nacional, mas também internacional. Vários pesquisadores estrangeiros já tinham passado por aqui. Alguns pesquisadores se associaram à equipe do Museu, como aconteceu com a professora Anamaria Beck. Teve um professor americano que fez pesquisa com ela, aqui na região Sul, em Laguna. Antes disso, havia o Programa Nacional de Pesquisa Arqueológica, sob a responsabilidade do professor Walter Fernando Piazza. Isto foi anterior à criação do Instituto, nos anos de 1964/1965. Vários estudantes freqüentavam o Instituto, de tal sorte que se criou um ambiente de pesquisa e de ensino. As aulas regulares de Antropologia eram dadas aqui. O ambiente não era apenas de trabalho, era um espaço cordial, camarada. Um ambiente que se transformou, assim, numa espécie de ilha no cenário da Universidade, que naquele tempo era bastante pequena. Podemos dizer que naquele tempo isso aqui já começava a ser uma ilha de excelência. Excelência no sentido de bom ensino, de boa pesquisa. Com a Reforma Universitária em 1970, acabamos sendo surpreendidos pelo veto à palavra Instituto. A organização que se deu à nova administração da Universidade tinha departamentos, centros e as sub-reitorias. Mas a palavra instituto foi julgada como incompatível com essa estrutura. Havia naquele momento, em Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 15 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES 1970, três institutos. Um de pesquisa na área socioeconômica; o Instituto de Antropologia; e um Instituto de Direito do Trabalho que funcionava na antiga Faculdade de Direito. Houve aí razões técnicas, mas também razões políticas para que ocorresse este veto, de maneira que os outros dois institutos realmente desapareceram. O professor Cabral, na última hora, quando o projeto estava indo para o Conselho Universitário, recebeu uma mensagem da reitoria para ver se poderia encontrar outro nome para a nossa organização, para o nosso instituto. Tivemos aí vinte e quatro horas ou quarenta e oito horas para tomar essa decisão. Sem ter outro nome disponível, tomamos o nome de museu. Então em vez de Instituto de Antropologia, passamos a ser Museu de Antropologia. Isto gerou um mal-estar. O professor Cabral imediatamente fez uma carta ao reitor e pediu demissão do cargo de diretor do Instituto de Antropologia, e também do Museu. Essa carta do professor Cabral nunca saiu da gaveta do reitor. O doutor Cabral foi para casa e só vinha aqui para dar aulas, depois entrou em licença. Realmente fiquei como substituto dele, já que era o mais antigo dos auxiliares. Tive que deixar atividades que tinha no período da tarde porque a Universidade só nos remunerava dezoito horas por semana. Não havia período integral. Eu era diretor de um Centro de Pesquisas Educacionais no sistema da UDESC. Fui chamado pelo vicereitor, que estava no exercício da reitoria, o professor Lacerda, que me colocou diante de um dilema: ou eu assumia para fazer os atendimentos administrativos de uma forma plena, ou havia a ameaça do encerramento das atividades do Museu. Consultando meus colegas e o próprio professor Cabral, chegamos a conclusão de que alguém tinha que ir para o sacrifício. Acabei deixando a minha atividade de pesquisador da UDESC. A reitoria me concedeu um regime administrativo de quarenta horas. Então eu pude ficar aqui os dois expedientes. Nessa altura, o Museu começou a receber público, tanto no horário matutino quanto no vespertino. Tudo isso nos levou a discutir a "figura do público", até então para nós era uma incógnita. Éramos professores e pesquisadores. Decorrente das nossas atividades, havia um certo acervo acumulado, originário da 16 O Vendedor de Pássaros - Coleção Escultórica Autoria: Franklin Cascaes pesquisa arqueológica, etnológica, e mesmo da pesquisa de Antropologia Física. Mas não tínhamos prática de atender ao público. Agora eram estudantes de 1º e 2º graus, gente que vinha do interior para conhecer o acervo do Museu. Na verdade, a gente tinha pouca coisa para mostrar. Além da falta de prática, havia a falta de instalações. Nesse cenário, e num contexto de improvisação, fomos salvos por esse nome Museu. Na estrutura da Universidade ficamos muito tempo meio marginalizados. Sabíamos que éramos competentes. Havia realmente uma produção científica, a revista que editávamos, as pesquisas que continuavam. Havia prestígio externo. Mas no cenário da Universidade agora instalada, com uma outra dinâmica, o que interessava era o professor em sala de aula. Então, nesse cenário, ficamos à margem. Fomos lotados como professores no Departamento de Sociologia. O grupo de Sociologia tinha pouca identidade conosco. Essa identidade foi aos poucos sendo construída. Até então nós tínhamos uma vida razoavelmente independente. Os departamentos até 1970 eram muito frágeis. Nesse cenário começamos a pensar, como atender ao público, como assumir o aspecto de face da Universidade, já que o público quando vem aqui na Universidade, no campus, que naquela época era muito pequeno, quer ver alguma coisa; no caso, o Museu. Então fizemos alguns arranjos no prédio: improvisamos uma cobertura aqui, onde estamos, muito pobre; colocamos algumas coisas referentes à Etnologia, à Cultura popular , como carro de boi, boi-demamão, uma carroça, e peças de olaria. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Foi nesse cenário que atraímos o professor Franklin Joaquim Cascaes, que para cá veio por meio de um convênio que atendendo a um apelo meu, foi firmado com a Prefeitura de Florianópolis, cujo prefeito era Nilton Severo da Costa, que havia sido aluno do professor Cascaes na Escola Técnica Federal. O professor Cascaes passou a ser pago por esse convênio com a Universidade. Assim, ficou por dois ou três anos. Ele exigiu, para vir para cá, que houvesse um pouco de dinheiro a fim de que ele pudesse continuar com suas pesquisas. Ele não queria salário. Só três ou quatro anos mais tarde que a Universidade encontrou uma forma para contratar o Cascaes. Nesse ínterim, Cascaes removeu da sua casa para o ambiente do Museu o seu acervo. Na administração do professor Caspar Erich Stemmer (1976/1980), foram construídas duas dessas salas que temos aqui, onde o Cascaes instalou as suas exposições. O acervo do Cascaes chegou num Índio Xokleng. Autoria: Domingos Fossari Técnica carvão sobre papel Índio Kaingang. Autoria: Domingos Fossari Técnica carvão sobre papel Santa Catarina, sobre a cultura do seu povo. O processo de urbanização da Ilha se acentuava. Então o acervo do Cascaes foi redescoberto e começou a ser valorizado. Isso repercutiu na imagem do Museu. Quem queria saber alguma coisa da Ilha recebia a informação "vá ao Museu Universitário, o Cascaes está lá". Ao mesmo tempo as pesquisas de Arqueologia e Etnologia continuavam. Os acervos foram crescendo por meio de doações. Recebemos Índio Guraní. Autoria: Domingos Fossari várias doações importantes, como a Técnica carvão sobre papel do Tom Wildi, que veio para cá nos momento em que anos 70. Desta maneira, o Museu continuou cresFlorianópolis crescendo. Outras salas foram construídas. O nome cia, que a Univermuseu acabou pegando e ficou. Mas, felizmensidade crescia. te, não se perdeu da tradição da qualidade da Alunos vinham do pesquisa que aqui se fazia. Ela teve prosseguiinterior ou de oumento, e também o ensino. tros estados. Ao Devo voltar um pouco atrás para dizer que mesmo tempo cheno ano de 1970, no início, já era rotina a presengava o pessoal da ça dos estudantes graduados que aqui faziam esEletrosul. Acontetágios durante um ano, às vezes mais. A partir ceu uma expansão daqui se candidatavam a fazer pós-graduação urbana. Chegaram no país ou fora dele. Houve vários casos. Recepessoas de outras bemos alunos de todo o estado e de outros loregiões que nada cais. Vieram atraídos pela fama que o Museu sabiam da Ilha de havia adquirido. Nesse cenário, em 1974, pen- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 17 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES samos em criar um curso de especialização em rado de Antropologia, mais ajustado a uma outra Antropologia. Essa idéia tinha a professora proposta que está sendo estudada por parte dos Anamaria Beck, à frente. Mas as negociações colegas de Ciências Sociais, que contemplam um com o Departamento de Sociologia foram difíprojeto de Sociologia Política, também em nível ceis. Nós éramos em seis ou sete e o número de de doutorado. Os alunos fazem intercâmbio de sociólogos já era dez ou onze. Entretanto, o grudisciplinas, etc. po de sociólogos não dispunha de professores Tudo isso demonstra a trajetória que se copós-graduados em número suficiente para tammeçou no Instituto de Antropologia. Esta casa bém propor um curso de especialização. Houve, tem tradição. A parte amarela do prédio era a por parte do Departamento de Sociologia, uma estrebaria da Fazenda "Assis Brasil". Falo isto certa restrição à nossa proposta, desde que essa para lembrar o Dr. Cabral, que gostava de inforse limitava a atender só ao interesse da Antropomar aos visitantes que aqui era a antiga estrebaria logia. Para levar o projeto a termo, tivemos que da Fazenda "Assis Brasil", e completava, "feliz incluir a área de Sociologia. O curso acabou de quem pode transformar uma estrebaria num saindo com a denominação Curso de Pós-Gracentro de ciências". duação em Ciências Sociais, Especialização em Sociologia e Antropologia, instalado em 1976. Já em 1978, esse curso passava para a condição de mestrado. Agora já se discute o doutorado. Nesta altura, já está tudo separado. Nos anos 80, o Departamento de Sociologia passou a se chamar Ciências Sociais. Foi criado um Curso de Graduação em Ciências Sociais. O Departamento de Ciências Sociais obteve boas instalações aqui no prédio do CFH, compartilhando com o grupo de Antropologia. Aquelas dificuldades de relacionamento foram evidentemente superadas. O Departamento cresceu, chegou a um momento que tinha mais de quarenta professores. Nos anos 90 foi criado o Departamento de Antropologia, separando-se do Departamento de Sociologia e da Política. Mas, mesmo assim, mantém com esses nossos colegas relações extremamente Boitata Enamorado. Nanquim sobre papel. Autoria: Franklin Cascaes fraternas. Estamos pensando num douto18 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Alr oino Baltazar Eb le - In memoriam Alroino Eble (dir etor no período de 1975 a 1976) (diretor Por Gelci J osé Coelho “P eninha” José “Peninha” Dirigiu o Museu de Antropologia no período de1975 a 1976, período em que iniciou a ampliação de visitação ao Museu, para a comunidade externa da UFSC, pois na concepção dele o Museu era antes de tudo um Instituto de pesquisas em Antropologia com laboratórios e uma excelente biblioteca especializada. O auditório abria-se à comunidade universitária, provocando uma significativa freqüência de pessoas ao Instituto de Antropologia, que oferecia encontros e palestras com eminentes cientistas nacionais e internacionais, e depois o Museu, além de toda a atividade acadêmica e de pesquisa, apresenta pequenas exposições de objetos arqueológicos, artefatos indígenas , arte popular do fol- clore regional, máquinas pré-industriais como o engenho de fabricar farinha de mandioca e o de fabricar açúcar de cana. Também o torno de oleiro, canoa, carroça, carro de bois, tear manual, pilão, gamela e balaios. Além de todo esse acervo, ingressara no Museu a coleção "Profª. Elizabeth Pavan Cascaes", de autoria do artista e professor Franklin Joaquim Cascaes, que montava exposições de seus conjuntos de esculturas e desenhos no Museu. Toda essa oportunidade era oferecida principalmente ao público acadêmico e o professor Eble buscava ampliar a visitação da comunidade externa ao Museu. Como atrair o público? O Museu só faz sentido com a presença do público. O Eble era vanguarda e apoiou o artista Franklin Cascaes quando da implantação das instalações artísticas com temas que se transformaram em tradição. Principalmente o presépio, atraindo verdadeiras populações para a sua apreciação. Como tais manifestações são realizadas em frente ao Museu, acaba por possibilitar uma visita às exposições, até como um complemento do lazer cultural, permitindo uma ampla visibilidade do Museu e todo o seu significado. Foi um importante início nas atividades educativas voltadas para a comunidade e por ela reconhecido. Professor Eble, como gostava de ser chamado, era um cientista/erudito, de espírito jovem, polêmico e desafiador. Foi um privilégio conviver com semelhante espírito de luz. A professora Anamaria Beck foi quem me apresentou, mas foi o professor Eble que me convidou para trabalhar junto ao setor de Cultura popular, auxiliando o professor Cascaes. Era exatamente o que eu buscava. Tentar aprender e entender a minha própria herança cultural. O Museu é repleto de possibilidades, e estou imensamente agradecido ao professor Alroino Baltazar Eble, in memoriam. Urna Pacoval. Ilha de Marajó. Coleção Tom Wild Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 19 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Alr oino Baltazar Eb le - In memoriam Alroino Eble (dir etor no período de 1975 a 1976) (diretor Por Maria J osé R eis José Reis Em 21 de junho de 1990, parentes e amigos, nos despedimos do Eble (assim eu o chamava), na "sua" Blumenau, de que se fizera filho a partir dos 11 anos de idade. Embora tivéssemos ambos nascido em Rio do Sul (SC), só vim a conhecê-lo pessoalmente em meados da década de sessenta, já na UFSC. Antes dele, chegaram até mim os "diz-que-diz", próprios de uma pequena universidade, que contava, à época, com apenas quinhentos alunos. Comentava-se que ingressara em nosso curso de História um "rapaz de Blumenau" que fazia furor entre os colegas, provocando, também, inquietação e até irritação em alguns professores, satisfação em outros, pelo seu indiscutível preparo intelectual, pela ousadia e irreverência com que expunha suas idéias. Era bem informado em várias áreas de conhecimento, além da História; um pouco ao estilo dos "naturalistas" do século XIX. Aventurava-se, ainda, na literatura, tendo publicado uma coletânea de poesias que escrevera aos dezenove anos de idade. Sua grande paixão, no entanto, já era a Arqueologia. Mal terminara a graduação na UFSC (1969), iniciava um Curso de Pós-graduação em Antropologia na Pennsylvania State University, onde permaneceu por um ano. Ingressamos ambos na UFSC, em março de 1971, como professores. Daí para frente, como eu também optara por fazer carreira na Arqueologia, desenvolvemos juntos várias atividades acadêmicas. Em 1972, visitamos os Museus Antropológicos do Rio Grande do Sul e, no mesmo ano, realizamos levantamentos de sítios arqueológicos no Alto Vale do Itajaí (SC). Em 1973 iniciamos o Mestrado na USP. Em 1976, realizamos pesquisa em sítios da região da Serra do Tabuleiro (SC). Em tudo que compartilhamos, foi 20 Visita guiada um bom companheiro. Eble elegeu, todavia, como sua área preferencial de pesquisa, o Vale do Itajaí, tendo publicado, principalmente nos Anais do Museu de Antropologia da UFSC, vários artigos sobre a Arqueologia da região. Sua trajetória acadêmica incluiu uma curta viagem de estudos a Paris, além de ter dirigido, por um ano, nosso Museu de Antropologia. A par destas atividades, lecionou disciplinas de Antropologia para diferentes cursos. Sua imagem como professor foi sempre contraditória, acredito que pelo caráter polêmi- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Anamaria Bec k Beck O Museu na verdade iniciou como Instituto de Antropologia e foi uma idéia que começou a ser construída no início da década de 1960, quando o Dr. Cabral, o professor Walter Fernando Piazza e o professor Sílvio Coelho dos Santos (na época assistente do Dr. Cabral) resolveram reunir um grupo não apenas de professores mas também de pesquisadores; um grupo de antropólogos. Foi uma idéia muito interessante porque o processo de construção desse grupo, a idéia de termos um Instituto de Antropologia, foi se consolidando. Inicialmente no sentido de formar pessoas, e vários alunos nesse processo foram escolhidos dentro das disciplinas de Antropologia dos cursos de História e Geografia. E nesse sentido, por exemplo, começamos a ter bolsas de estudos das instituições nacionais para fazermos nossa formação fora de Santa Catarina, como foi o caso inicial do professor Sílvio Coelho dos Santos, do Marcílio Dias dos Santos, eu mesma, do professor Luís Carlos Halfpap, do Alroino Baltazar Eble, já falecido, que foi também diretor do Museu, das professoras Maria José Reis, Neusa Maria Sens Bloemer, da Sônia Ferrari e Giralda Seiferth. A Sônia Ferrari hoje está na USP e a Giralda Seiferth está no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Esse conjunto de professores (inicialmente éramos alunos) estava querendo uma pós-graduação para dinamizar esse grupo de estudos de Antropologia, que foi constituindo-se no Instituto de Antropologia. À medida que começávamos a voltar da nossa pós-graduação, conso- (dir etor a no período de 1977 a 1982) (diretor etora Higienização do Acervo de Franklin Cascaes lidou-se a idéia de termos um espaço físico mais amplo do que tínhamos na faculdade de Filosofia, da antiga faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e se optou então por uma área no campus universitário que estava abandonada, e que era um estábulo. O laboratório, por exemplo, era o curral onde as vacas eram ordenhadas, e se transformou inicialmente no laboratório de Arqueologia e Antropologia Física, e atualmente só o laboratório de Arqueologia. Lamentavelmente, com a Reforma Universitária, que foi dura na sua implantação, a idéia de Instituto foi banida, e a única saída regimental, estatutária e burocrática que encontramos para manter o Instituto de Antropologia foi transformá-lo em um Museu. É a partir desse momento então passamos a dar ênfase à parte de exposições. Até então, nos dedicávamos mais às pesquisas e ministrávamos aulas. Todos nós cursávamos alguma disciplina dentro do programa em que atuávamos de acordo com a nossa especialização, nas várias disciplinas da Antropologia mas, a partir da Reforma Universitária, Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 21 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES ocorreu um fenômeno muito interessante, pois se ampliou o grupo de Antropologia porque como disciplina passou a ser ministrada para vários cursos. Então tínhamos que atender a essa demanda e ampliar a área de exposições. Também a partir da Reforma Universitária é que há uma grande ênfase na necessidade de formalizar a pós-graduação. Os cursos de doutorado são concluídos, o grupo vai tornando-se muito mais qualificado. É muito interessante porque é um dos poucos grupos no início de criação da UFSC que teve uma qualificação mais ou menos homogênea; à medida que os novos alunos entravam, já iam para o mestrado ou para o doutorado, tínhamos então um encaminhamento nessa direção. Com a Reforma Universitária, criamos e começamos o trabalho de regulamentação do estágio, recebemos alunos de praticamente todo o Brasil, como estagiários. Não existia ainda a pós-graduação em Antropologia e todo este processo acontecia dentro do Museu, entendia-se que ele funcionava como um órgão suplementar da universidade, assim como a Biblioteca Central, Imprensa Universitária, Restaurante Universitário e outros. O Museu era um órgão suplementar diretamente subordinado ao gabinete do reitor, conseqüentemente não era um órgão didático, não era um departamento de ensino; os professores que ali atuavam ficavam lotados no Departamento de Ciências Sociais e atendiam a toda a parte didática das disciplinas de Antropologia. Houve um momento em que tivemos uma sobrecarga muito grande, o pessoal do Museu fazia tudo, nós tínhamos aula da graduação, o estágio no Museu, atendíamos até doze turmas de estagiários por ano, de acordo com a especialidade. Havia seminários comuns e específicos, dependendo da área da especialização e também atendíamos a nossa pesquisa e a nossa própria pós-graduação, os que já eram professores e já estavam incluídos na carreira. Mudou muito com a Reforma Universitária. Todos nós tínhamos a nossa pós-graduação, mestrado ou doutorado, e não tínhamos uma licença para fazer isso, particularmente o professor Sílvio e eu tivemos esse problema. Nós não fomos dispensados da aula para fazer o doutorado, isso aconteceu com outros professores, só que eles tiveram alguns períodos para que isso pudesse ser feito. Já outros professores fizeram a sua pós22 graduação antes de ingressar na carreira, foi um momento bastante penoso da perspectiva na quantidade de trabalho, mas também foi um momento muito rico na história do Museu, pois tínhamos um intercâmbio muito grande com várias universidades, não só do Brasil, mas com universidades da área do Prata. Chamamos área do Prata por causa da sua área arqueológica que corresponde à Argentina, Uruguai e Paraguai, não só da perspectiva da Arqueologia, mas também da Etnologia indígena. Com a implantação da Reforma Universitária, em 1970, foi muito difícil e assim continuando durante toda essa década. Já há uma regulamentação melhor na questão da pós-graduação; as pessoas já podem sair com bolsas, há substituição de professores que saem para pós-graduação. Criamos um Mestrado de Antropologia Social; conseqüentemente conseguimos trazer também professores doutores Elementos de pescaria para a UFSC. Assim então foi dando um espaço para respirar, mas a década de 1970 foi bastante pesada na perspectiva de trabalho, mas foi também uma década muito rica em termos de experiências que aqui se desenvolveram. A experiência mais rica foi a de trabalhar a questão de ensino e pesquisa de forma articulada, que a mim tocou bastante. Conseguiu-se que todo este grupo pudesse ter efetivamente um momento de encontro, que era exatamente a área didática, porque se não cada grupo ficava no seu setor trabalhando até de uma forma aprofundada, mas Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES um tanto isolada. Foi nesse período também que fizemos uma experiência que infelizmente não continuou. Foram as primeiras reuniões de professores de Antropologia do sul do Brasil, reunindo professores dessa região para trocar experiências, organizar os mestrados que foram criados e as pesquisas. Também passamos a participar de uma Mostra Nacional de Museus. Trouxemos para a universidade, para o hall da reitoria, uma mostra de museus que foi muito interessante, como por exemplo, pequenos museus do interior do estado de Santa Catarina, pequenos museus históricos, etnológicos, de Arqueologia, que estavam na nossa área direta de interesse, trazendo-nos grandes informações do que acontecia em termos de museus e de Museologia no interior do estado. Entendíamos que o papel do Museu era ter uma liderança efetiva nessa área em Santa Catarina, considerando a importância dos museus. Então esse foi mais um setor que tivemos que desenvolver, pois ainda não existia no Museu um setor de Museologia propriamente dito. Toda a nossa atividade a partir da reforma e da transformação do Instituto em Museu foi uma atividade também marcada por esse interesse museológico. Não éramos apenas um museu que mostrava o andar das nossas pesquisas, mas era um museu que tinha preocupação como elemento de informação, comunicação e formação da comunidade catarinense. Também nessa década, foi firmado importante convênio que nos permitiu trazer para o Museu o professor Franklin Joaquim Cascaes - 19791980, período em que eu já era diretora -, dando-nos imensa contribuição, sobre a cultura popular do litoral catarinense. Alguns anos antes do seu falecimento, foi firmado um convênio, no qual deixou toda a sua coleção para a UFSC, o que permitiu a sua permanência em Santa Catarina e também a sua conservação aqui no Museu. Em função disso, algumas pessoas foram mandadas para fazer cursos de conservação em cerâmica e papel, que era fundamental, principalmente no que se refere à coleção Cascaes. Acho que essa perspectiva colocava o Museu como um referencial da cultura e sociedade catarinenses, começando pela Arqueologia de oito mil anos atrás e chegando aos grupos atuais de colonizadores. Na verdade foi uma pers- pectiva que, em termos globais, talvez não tenha se realizado, mas deu, sem dúvida, uma grande contribuição ao aprofundamento e entendimento de algumas questões dessa cultura. Talvez não nos tenhamos aprofundado muito na questão da imigração européia; mas na cultura popular do litoral, na Arqueologia e na questão indígena, o Museu deu e está dando até hoje uma contribuição muito importante para o seu aprofundamento. Um dos seus setores que foi bastante dinamizado é o Setor de Arqueologia (pré-colonial e histórica), até porque Santa Catarina é um estado muito rico na perspectiva arqueológica. Então a Arqueologia brasileira sempre foi extremamente dinamizada, e alguns desses trabalhos importantes na Arqueologia brasileira foram feitos aqui, particularmente os trabalhos com sambaquis. A Arqueologia se constituiu num setor bastante dinâmico do Museu, não só em termos de pesquisa, mas também em exposições. Eu fui diretora no período de dezembro de 1977 a maio de 1982 e, nesse período, dinamizamos as exposições, inaugurando duas salas novas, uma de Geologia e outra com o material do Cascaes. Havia também uma sala de exposições do Setor de Etnologia Indígena e um Setor de exposições de Arqueologia, nos quais expúnhamos o acervo da nossa pesquisa e da nossa produção, no caso do Cascaes, a produção de uma vida, que era uma coisa muito bonita e continua sendo até hoje um dos aspectos muito significativo do Museu. Algumas das coisas boas que fizemos nesse período, além da incorporação do Cascaes, da dinamização da parte didático-pedagógica e didática da Antropologia, foi também essa dinamização no setor de exposições, e poder mostrar em congressos, além de escrever a respeito, os resultados das nossas pesquisas, como também por meio de exposições no Museu. Uma outra coisa de que eu me lembro, são os Anais do Museu de Antropologia, que estamos tentando agora dinamizar. O Museu publicou, e esperamos que continue publicando, uma revista anual inicialmente com a produção do seu pessoal, os pesquisadores, e depois fomos incorporando contribuições de outras áreas da universidade, principalmente de ciências humanas e também de antropólogos de outras universidades. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 23 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Neusa Maria Sens Bloemer Eu estive na direção do Museu de Antropologia, como era chamado na época, no período de 1982 a 1986. Quando fui convidada para assumir a direção do Museu vi-me diante de um desafio, primeiro porque nunca havia administrado um órgão público e segundo porque não se tratava de qualquer órgão público, mas de um Instituto de Pesquisa. O que veio a se constituir o atual Museu Universitário nasceu de um órgão de pesquisa na Universidade Federal de Santa Catarina, criado pelo Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral. Zoólito. Coletado na Ponta do Leal - SC. A primeira iniciativa que tomei no primeiro ano de minha administração foi dar visibilidade ao Museu, usando como recurso a atração de um maior número de visitantes. Aliás, esta era uma antiga idéia do professor David Ferreira Lima porque, na sua concepção, o Museu de Antropologia deveria ser o "cartão postal" da Universidade Federal de Santa Catarina. Afinal, tratava-se, no seu entender, de um local em que se desenvolviam pesquisas, e o material coletado, por exemplo, material arqueológico, deveria ser apresentado ao público com análises e interpretações re24 (dir etor no período de 1982 a 1986) (diretor sultantes destes estudos. Portanto, administrar um órgão com este caráter exigia não só responsabilidade, mas também, muita disposição para a ação, o que encarei como um desafio. Assim, minha gestão foi, em parte, inspirada nessa perspectiva do professor David Ferreira Lima, como também do professor Ernani Bayer, que era o reitor quando assumi a administração do Museu, e que também trazia pessoalmente visitantes para conhecê-lo. Vale ressaltar, no entanto, que nessa época, afinal já estávamos em 1982, o Museu já não tinha mais o mesmo apoio financeiro no âmbito federal, uma vez que as verbas destinadas às pesquisas eram muito disputadas e havia um grande número de pesquisadores concorrendo para obtenção de tais verbas, a maioria delas provenientes de projetos apresentados ao CNPq, Fundação Ford, etc. Pensando, portanto, em divulgar e dar visibilidade ao Museu de Antropologia, foi que passamos a incentivar os diretores de escolas básicas e secundárias da Grande Florianópolis, para que mandassem seus alunos em visita oficial ao Museu da UFSC. Nessa proposta, recomendávamos que marcassem a visita antecipadamente, a fim de que pudéssemos dispor de pessoal para atendimento a estes visitantes especiais, porque se a estes tratava de crianças em formação, que precisavam aprender sobre a importância de um museu, sobre a preservação do patrimônio cultural e, inclusive, sobre como se comportar em um museu. A maioria das crianças nunca tinham visto uma instituição desse tipo e se encanta- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES vam. Em pouco tempo, a demanda foi aumentando e tivemos necessidade de contar com a atuação dos estudantes que estagiavam no Museu de Antropologia, provenientes dos cursos de História, Arqueologia e Ciências Sociais. Estes estagiários eram preparados para acompanhar as visitas, informando e explicando sobre o material que se encontrava exposto em cada uma das salas. Desta forma, os alunos das escolas tinham, além do contato visual com o material, informações sobre sua procedência, forma de coleta, tipo de pesquisa realizada, quem o havia pesquisado, etc. Obtinham, assim, conhecimentos sobre os grupos indígenas de Santa Catarina e alguns outros do Brasil, sobre os sítios arqueológicos e, ainda, sobre alguns costumes dos açorianos que ocuparam o litoral de Santa Catarina. Este trabalho educativo deu visibilidade ao Museu. Foi muito importante porque além de se tornar conhecido por estudantes de diferentes localidades, também adquiriu visibilidade, inclusive, junto à administração da Universidade. Você sabe, quem não é visto não é lembrado e, conseqüentemente passa a ser esquecido. Tratava-se de uma estratégia administrativa. Conseguimos no período de dois anos dobrar o número de visitantes provenientes das escolas. Se no início tínhamos visitas de novecentas crianças por ano, passamos a ter dois mil e quinhentos até quatro mil crianças no decorrer de um ano. Isso foi devidamente registrado nos livros de visitas e nas agendas de visitação. O movimento era tão intenso que, inclusive, alguns colegas da Universidade perguntavam o que estava acontecendo no Museu, com movimento de tantos ônibus estacionados em suas imediações. Tratava-se, apenas, de um serviço que a Universidade por meio do Museu de Antropologia pres- O Cacumbi. Coleção Escultórica. Autoria: Franklin Cascaes tava à comunidade, um verdadeiro trabalho de extensão universitária. Em decorrência desse trabalho, passamos a ser solicitados a proferir palestras em diferentes escolas, para falar sobre os grupos indígenas de Santa Catarina, sobre preconceito, etc; neste trabalho, envolvemos alguns pesquisadores e estagiários do Museu. A aproximação com a comunidade demandou um outro trabalho. Realizamos um projeto de atendimento a pessoas que queriam aprender a fazer alguns trabalhos artísticos. E, com a colaboração de artistas populares, realizamos oficinas nas quais se ensinava a fazer máscaras com papel machet, trabalho com barro, confecção de brinquedos tais como pandorga, etc. Essa demanda exigia a colaboração de pessoas que se prontificavam, como voluntários, a ensinar. Eram os verdadeiros "amigos do Museu". Por outro lado, Florianópolis começara a ser descoberta por gaúchos e paulistas, exigindo que participássemos desse processo, e começamos então a abrir o Museu aos sábados à tarde. Esta era uma ação complicada. Não tínhamos recursos para pagar horas extras aos funcionários e por isso acordamos com eles que teriam um dia de folga durante a semana. Por esta nova proposta, passamos a ser indicados nos folders elaborados pela Secretaria de Turismo do município como um ponto turístico a ser visitado. No Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 25 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES verão, as visitas eram poucas porque as praias da Ilha são muito atraentes, mas no inverno, ao que tudo indicava, visitar o Museu era considerado uma boa opção. Outro desafio a ser vencido foi a retomada da publicação da Revista de Antropologia, cuja publicação, por falta de recursos financeiros, havia sido interrompida, assim como conseguiu recursos para a realização de pesquisas. Graças à visibilidade que o Museu adquirira e a sensibilidade e identificação do professor Sílvio Coelho dos Santos, então pró-reitor de pesquisa, para com as propostas do Museu, obtivemos apoio financeiro para editar a revista, respeitando a sua periodicidade anual. Ela havia deixado de ser publicada por uns cinco anos. A revista ampliou o espaço de divulgação da produção acadêmica, não só para os pesquisadores do Museu de Antropologia, mas abriu também espaço para o Centro de Ciências Humanas. Eu ainda era professora do Departamento de Ciências Sociais, área de Antropologia, e coloquei o espaço da revista à disposição dos colegas pesquisadores. Não tivemos dificuldades em compor os números porque o Centro ainda não tinha uma revista e já contávamos com muitos pesquisadores nos diversos departamentos, produzindo artigos. É interessante ressaltar que a Revista de Antropologia do Museu circulava em âmbito nacional e internacional, e eu tenho certeza absoluta de que, até hoje, a administração recebe correspondência dos E.U.A, solicitando os exemplares da Revista do Museu de Antropologia. A prática da permuta era usual. Nós remetíamos a nossa publicação e em troca recebíamos publicações de diversos institutos de pesquisa não só do Brasil como de institutos internacionais. Assim, a nossa produção era amplamente divulgada e, por outro lado, podíamos conhecer o que estavam pesquisando em outros locais. Os trabalhos de pesquisa relacionados à Arqueologia também foram priorizados com a vinda da arqueóloga Teresa Domitila Fossari para o Museu. Esta profissional teve como desafio identificar e catalogar um imenso material de Arqueologia que se encontrava apenas depositado no Museu, mas ainda pouco trabalhado. Em função dessa sua experiência, posteriormente, o Museu foi chamado a fazer levantamentos arqueológi26 cos em sítios da Ilha de Santa Catarina, com o objetivo de realizar o salvamento desse material, que deveria ser devidamente registrado antes que ali se implantasse um loteamento, como foi o caso de Jurerê Internacional. Além de pesquisas, do atendimento ao público e da publicação dos Anais, no decorrer de 1985, o Museu Máscara Tikuna - Amazonas de Antropologia, por meio de sua direção, envolveu-se politicamente com a demarcação das Terras Indígenas do Toldo Chimbangue. Eu havia sido solicitada, juntamente com a professora Aneliese Nacke para que, como antropólogas, elaborássemos o laudo antropológico que subsidiaria a demarcação daquelas terras indígenas. Devo salientar que a identificação dos funcionários do Museu com a causa indígena foi fundamental para esta luta. Contamos com o apoio de seu corpo administrativo e de seus pesquisadores, de modo especial da Maria Dorothea Post Darella, recémtransferida para o Museu, e da Teresa Fossari que sempre estiveram prontas a colaborar. O Museu transformou-se no local de apoio para os Kaingang do Toldo Chimbangue, em Florianópolis, pois tanto divulgava e informava à imprensa local e nacional sobre sua luta quanto encabeçava listas de abaixo-assinados, encaminhando correspondências para ministros, deputados e senadores para que se comprometessem e se empenhassem na solução do problema e ainda estimulava manifestações públicas. Promovemos um ato público na Assembléia Legislativa, lotando aquele espaço, tanto com indígenas Kaingang que vieram dar o seu depoimento quanto com manifestantes e simpatizantes da causa indígena, mas sem acusar ou pena- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES lizar os colonos que ocupavam as terras porque entendíamos que eles também eram vítimas do processo. Há belas fotos desse ato público. Ocupamos espaço na imprensa local e nacional naquela ocasião. À medida que fomos expandindo as atividades do Museu, tivemos necessidade de aprimorar e aperfeiçoar a nossa mão-de-obra. Uma iniciativa nessa direção foi encaminhar uma estudante para estagiar junto ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo, localizado no bairro do Ipiranga/SP, e por isso conhecido também como Museu do Ipiranga. Todos sabíamos da riqueza desse Museu em termos de coleções etnológicas, arqueológicas, históricas e da competência dos profissionais que lá se encontravam, entre os quais destaco a Dra. Thekla Hartmann e Sonia T. Ferraro Dorta, que deram total apoio à nossa proposta. Estagiar no Museu Paulista era um sonho para muita gente, mas foi realidade para a Cristina Castellano. Quando eu saí do Museu, esta estagiária ainda não havia retornado, mas por certo veio com uma bela bagagem. Ainda em relação à preocupação com o preparo da mão-de-obra que atuava no Museu, ten- tamos envolver seus próprios funcionários nos projetos. Um destes projetos foi a realização de uma festa junina em frente ao Museu de Antropologia, em que se priorizava apresentar somente o que fosse da "tradição junina". Uma espécie de saudosismo tomou conta de todos nós. Os funcionários lembravam de suas festas de infância nos bairros periféricos à Universidade, e cada um dava a sua contribuição em termos de idéias. Neste evento tivemos o total apoio da professora Zuleika Mussi Lenzi, que era diretora do Departamento de Cultura da Universidade. Numa parceria, realizamos a festa, que foi aplaudida pelos funcionários da Universidade e pela comunidade que residia em torno da Universidade; foi um sucesso. Foi uma coisa meio afoita da nossa parte, na medida em que as festas juninas eram realizadas pelas escolas e não pela Universidade. Conseguimos a contribuição do comércio local que fez doação de guloseimas tais como, paçoquinha, pipoca, amendoim, mas sem a proposta de ganhos financeiros porque o objetivo central era apenas retomar uma festa junina como uma "tradição cultural". Foi muito interessante porque nós fizemos em um ano e no seguinte Detalhe da Procissão do Senhor Morto. Coleção Escultórica de autoria de Franklin Cascaes Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 27 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES houve cobrança da comunidade universitária para que se fizesse outra festa. Não me lembro exatamente porque deixamos de promover este evento. Em termos administrativos, vale destacar que a direção do Museu tinha como uma de suas práticas a realização de reuniões quinzenais com todos os funcionários, independente da função que exercessem: serventes, pesquisadores, museólogo, vigilantes, todos deveriam estar comprometidos com os projetos do Museu, desde a idéia original até sua execução. Nestas reuniões os funcionários tinham total liberdade para exporem suas pretensões, o que gostavam e o que não gostavam, as dificuldades que tinham em lidar com o acervo, com os visitantes, enfim, como deveríamos administrar a casa, de forma que todos, ou pelo menos a maioria, estivessem satisfeitos e compreendessem cada trabalho que era executado. Aliás, um dos aspectos ressaltados nestas reuniões era justamente a importância do trabalho de cada um para que o Museu pudesse ser querido e amado pelo público que o visitava. Neste sentido, era necessário, também, envolver o funcionário com o acervo que ele lidava todos os dias. Em decorrência dessa festa junina surgiu uma programação que teve um fim educativo, com ótimos resultados. Surgiu a idéia de abrir um es- Zoólito. Sambaqui do Perrixil. Laguna - SC 28 paço para que os funcionários do Museu criassem alguma coisa relativa à cultura popular da Ilha. Inicialmente, ficaram muito inibidos, até que Gelci José Coelho (Peninha), que havia feito especialização em Museologia, na USP, teve a idéia de representar uma festa junina. Esta festa, criada pelos funcionários do Museu, foi toda representada em bonequinhos de barro, muito pequenos, com uns 8cm de altura, que eles coloriram, apresentando-se como verdadeiros artistas populares. Foi uma coisa magnífica, belíssima. Inclusive, alguns canais da televisão local divulgaram este trabalho para o público. Foi montado um grande estrado no qual se apresentou uma comunidade em miniatura, com representações que iam desde o estábulo, a casa, a igreja local, as barraquinhas de biscoito, barraquinhas de cocada, enfim, tudo que compõe uma pequena comunidade comemorando uma festa junina. É interessante registrar que eles próprios se surpreenderam com a sua capacidade criativa, vibraram com o trabalho que fizeram e se identificaram como artistas. A produção desse trabalho, além de melhorar a auto-imagem dos funcionários, aproximou-os porque, apesar de exercerem funções diferentes, perceberam que se tornaram iguais por meio da criatividade. Aliás, durante a execução do trabalho um auxiliava o outro, trazendo material de casa. Tivemos momentos de grande sintonia. Foi absolutamente feliz a idéia, educativa, tal como desejávamos, porque o acervo do Museu também passou a ser visto com outros olhos. Afinal, puderam compreender o que significa criar e poder apresentar a produção ao público. Como estava dizendo, o resultado deste traba- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES lho foi fantástico porque os próprios funcionários se surpreenderam com a sua criatividade e eles mesmos ficaram empolgados com o seu trabalho. A partir disso, passamos a incentivá-los no sentido de desenvolverem outros trabalhos artísticos. Eu fiquei sabendo, posteriormente, que houve funcionário que começou a pintar. Mas o resultado, a meu ver, mais importante para o Museu foi a compreensão sobre o que seja um trabalho de arte, por meio da própria prática, demonstrando zelo por sua produção e muito orgulho dela. Se, por ventura, alguma criança, ao visitar a exposição, tentasse pôr a mão e pegar um bonequinho, eles se aproximavam e orientavam para ter cuidado e não mexer, apenas olhar. Então foi um aprendizado no sentido de cuidar do Museu, de respeitar e compreender o seu acervo. Isso foi muito positivo, especialmente porque tínhamos a obra de Franklim Cascaes que se encontrava exposta, e é muito frágil, uma vez que também é composta por bonecos de barro e de gesso e exigem um cuidado muito especial ao se tirar o pó, remover de um local para outro, e com isso eles passaram a ter muito mais cuidado com o acervo no sentido de perceber, inclusive, que aquele trabalho já não podia mais ser reposto porque o seu criador não se encontrava mais conosco. Esse trabalho e seu significado para os funcionários foi extremamente positivo e produ- O Vampiro. Nanquim sobre papel Autoria de Franklin Cascaes ziu outros frutos, permitindo que, juntamente com a professora Zuleika Lenzi, fosse possível incentivar os funcionários da Universidade a realizarem exposições das suas obras, dos seus trabalhos. Tínhamos na Universidade pintores, escultores, por vezes desconhecidos pela própria comunidade universitária. Eu penso que isto é positivo na medida em que se estimula e ensina a valorizar o trabalho artístico e cultural e, ao mesmo tempo, faz o funcionário se ver valorizado, com auto-estima positiva. Esta foi, portanto, uma pequena ação que teve resultados extremamente positivos em vários sentidos. Depois que me afastei da direção do Museu de Antropologia, passei a atuar somente no Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 29 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Departamento de Ciências Sociais e o meu contato com o Museu tornou-se esporádico, mas sempre de muita afetividade. Foi motivo de muito orgulho para mim dirigir o Museu de Antropologia, mas foi um desafio pela imagem que eu possuía dele e pela forma como entrei em contato com ele. Entre as razões, lembro-me primeiramente de que aqui neste prédio eu tive o meu primeiro contato com a Antropologia, no então Instituto, por meio das aulas do professor Oswaldo Rodrigues Cabral, na década de 1960, que, além de professor, era pesquisador e diretor desse Instituto. E, em segundo lugar, porque foi neste Instituto que soube o que era ser pesquisador, durante o período em que fui estagiária do Instituto de Antropologia, realizando uma especialização, antes de partir para o Mestrado na Universidade de São Paulo. O Museu de Antropologia, que nasceu como um dos primeiros Institutos de Pesquisa da UFSC, tinha, na década de 1960, um corpo de pesquisadores comprometidos, ética e socialmente. Nossas aulas eram nesta sala do andar superior e, quando entrávamos no Instituto, o funcionário Hélio Manoel Alves cobrava nosso comprovante de freqüência na entrada do prédio. Entregávamos a ele um bilhetinho, como se fosse um passe de ônibus, que trazia um carimbo com a data da aula. O professor Cabral era extremamente organiza- do e não perdia tempo fazendo chamada em sala de aula. Você entregava e subia para a aula. A sala era fechada e lá ocorria a aula cinqüenta minutos cravados, sem perder antes, nem depois; ninguém entrava e ninguém saía para não perturbar a concentração. A exigência, o rigor, a sistematização eram ressaltados como absolutamente necessários para se fazer pesquisa, para se fazer ciência. Apesar da rigidez, todos os alunos adoravam as aulas e nós não faltávamos. Assim, fui despertada para a Antropologia, neste espaço, que hoje é o Museu Universitário. Posteriormente, tivemos aulas com o professor Sílvio Coelho dos Santos, que, por ter sido aluno do professor Cabral, não perdia em nada para o velho mestre em termos de exigência. Aliás, foi exatamente o professor Sílvio que acabou substituindo o professor Cabral, quando este se afastou da direção do Instituto de Antropologia em protesto à Reforma Universitária que se implantara em 1970. Portanto, por todas estas razões, o Museu Universitário continua sendo para mim um espaço que deve manter acesa a chama da pesquisa e do trabalho de extensão universitária, como um local de pesquisa, fazendo ciência e servindo à comunidade ao divulgar os resultados dos seus Higienização e acondicionamento do acervo arqueológico 30 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Luis Car los Halfpa p Carlos Halfpap Para mim, é uma satisfação estar aqui na Universidade apresentando um depoimento sobre a minha atividade no Museu de Antropologia. Considero sempre importante a memória histórica, ela deve ser cultivada porque é por meio dela que se pode passar exemplos a gerações futuras, sendo boas ou más memórias, não importa. Fui diretor nesse Museu de Antropologia no período de 1986 a 1992, portanto fiquei na direção dessa casa quase seis anos; um bom tempo. Tenho a impressão de que fui um dos diretores que permaneceu mais tempo nesse cargo. É evidente que alguma coisa de positivo nesse período se fez. Devo, no momento apropriado, apontar algumas coisas. Queria, antes de mais nada, fazer uma pequena consideração, até porque, creio que no futuro não muito distante, alguém poderá fazer uma história deste Museu e, ao fazê-la, esta pessoa, de uma forma ou de outra, este estudioso, também estará fazendo uma história da Universidade Federal de Santa Catarina. O Museu foi criado pelo professor Oswaldo Rodrigues Cabral, grande historiador, e, como Instituto de Antropologia, foi inaugurado em 1968. Inicialmente o Instituto de Antropologia deveria trabalhar com a pesquisa científica nas áreas da Antropologia e Arqueologia principalmente. No caso da Antropologia era subdividida entre Física e Cultural. O professor Cabral dava muita importância à Antropologia Física e ministrava aulas a respeito desse assunto no Curso de História ou onde essa disciplina era apresentada, e, com o tempo, o Instituto de Antropologia foi crescendo. Em 1970, quando vim trabalhar nesta Universidade, a partir de julho, aconteceu a chamada Reforma Universitária. Ela mudou completamente os cursos, tornando-os semestrais, criando novos setores, enfim, foi um início muito tumultuado e no bojo desta reforma o antigo Ins- (dir etor no período de 1986a 1992) (diretor Auditório do Museu Universitário Prof. Halfpap em primeiro plano tituto de Antropologia passou a ser denominado Museu. Lembro-me, em conversas informais com o professor Cabral, de que ele ficou insatisfeito com isso, tão insatisfeito com os rumos que a Universidade tomou que pediu a sua aposentadoria, deixando-a mais ou menos nesse período. Ele considerava, e disse para mim, que o termo instituto, para ele, era mais adequado. Na época eu não pensei muito no assunto. Então o antigo Instituto passou a ser Museu de Antropologia, mas com um detalhe interessante: naquele período também foi criado o Curso de Ciências Sociais, e, com a Reforma Universitária a disciplina Antropologia era ministrada para vários cursos, os chamados cursos básicos. O número de professores então cresceu no Departamento de Ciências Sociais que, se não me engano, numa época fora chamado de Departamento de Sociologia, mas o campo de trabalho dos professores de Antropologia da época era o Museu. Nós trabalhávamos aqui, e o diretor então era o professor Sílvio Coelho dos Santos. O Museu na década de 1970 era pequeno, e as exposições existentes se reduziam ao pequeno setor de Arqueologia ou ao pequeno setor de Etnologia indígena, ou seja, o setor de Arqueologia em função das pesquisas patrocinadas pelo professor Cabral e o setor de Etnografia indíge- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 31 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES na em função das pesquisas feitas pelo professor Sílvio, que inclusive escreveu uma tese sobre os índios de Ibirama. Mas é preciso dizer que nós, os professores que trabalhavam aqui, não tínhamos muita consciência sobre a Museologia. A nossa atenção maior era voltada para o ensino e a pesquisa. O número de visitantes no Museu não era muito grande e, quando apareciam alguns visitantes, nós é que acompanhávamos essas atividades. Enfim, a atividade museológica, nesse período enquanto éramos professores aqui, era, por assim dizer, uma atividade subsidiária, em que se discutia pouca coisa a respeito de Museu. O que discutíamos eram as aulas, pesquisas eventuais que pudessem ser feitas, era mais ou menos assim. O Museu, portanto, tinha uma formação acanhada. Isso se modifica um pouco quando o Detalhe do maquinário de Engenho de Farinha 32 professor Sílvio, ainda diretor, conseguiu trazer o acervo do professor Franklin Joaquim Cascaes, que começou a ser transferido a partir de 1972 e mais tarde o próprio professor Cascaes, fruto desse convênio, vem trabalhar no Museu. Isso implica, na época, a atividade museológica. Na esteira desse acontecimento que eu considero importante, o "Peninha", como museólogo, também vem trabalhar aqui para acompanhar principalmente a obra do professor Cascaes. Então o Museu na verdade passou a ter três setores: o de Arqueologia, criado basicamente pelo professor Cabral, o de Etnologia indígena, criado pelo professor Sílvio Coelho dos Santos, e o de Cultura popular, criado graças à vinda do acervo do professor Cascaes e do próprio artista, pois aqui trabalhou por um bom período de tempo. Ampliou-se então, consideravelmente, digamos assim, o espaço museológico. Mas nós, professores da Universidade, continuamos muito mais ligados à atividade didática e de pesquisa do que à atividade museológica. Na época, com exceção do "Peninha", não havia funcionários como agora, que se dedicavam aos vários setores. O "Peninha", os funcionários de apoio e os professores que se preocupavam, fundamentalmente, como já disse, com as atividades didáticas. A partir de um certo momento as coisas começaram a mudar, quando, através de pressões do próprio Departamento, nós éramos insistentemente convidados para sair do Museu e trabalhar naquele setor. Partia-se do princípio de que era preciso reunir os professores. De certa maneira, nós aqui no Museu, na época, gozávamos de uma certa autonomia, mas esta relativa autonomia não era bem vista, até porque a própria Reforma Universitária e seus estatutos e normas retirava a possi- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES bilidade de professores continuarem a exercer sua atividade aqui no Museu. Era um período ditatorial; nós vivíamos naquela época sobre a vigência do Ato Institucional número 5, havia pouca liberdade de expressão. Eu Bonecas Karajá - Pará me lembro, como professor da época, de que tínhamos que apresentar a bibliografia que era usada em sala de aula, apresentá-la a pessoas competentes para ver o que estávamos ministrando nas aulas, que autores nós estávamos trabalhando, era um período muito difícil. Nesta época muitos professores saíram do Museu para se instalarem no departamento de Ciências Sociais, ficando apenas o diretor. Foi quando, assumiu a professora Anamaria Beck, dezembro de 1978. Nesse período foi criado o curso de pós-graduação, em nível de aperfeiçoamento ou de mestrado. Era uma idéia bem corrente na época; as pesquisas que os professores realizavam deveriam ser feitas especialmente neste curso, de pós graduação. Ao Museu caberia cuidar das suas exposições, lidar com suas atividades museológicas. Num pequeno parêntese, eu nunca concordei com isso. É claro que hoje existe doutoramento; os cursos de pós-graduação se difundiram muito, inclusive na nossa Universidade; é claro que eles fazem pesquisas, até para que os alunos possam obter seus graus de doutoramento; isso só pode ser feito por meio de uma pesquisa minuciosa. Mas a Universidade é um lugar de estudo, é um dos poucos espaços em que se pode debater qualquer assunto de base científica. Ora, então qualquer setor da Universidade, na minha opinião, pode trabalhar com pesquisa, independente de curso de graduação ou pós-graduação. Eu não vejo, honestamente, nenhuma incompatibilidade, mas na época isso se apresentava, e nós saímos por esta circunstância, na verdade, lembrando um pouco da época; isso foi meio doloroso porque contávamos aqui com um espaço de trabalho, repito, tínhamos uma certa independência intelectual, em uma época que isso era muito difícil de ser mantida. A partir daí então, no meu caso específico a gente se afasta um pouco do Museu, mas no período da professora Anamaria, com todos os entraves de ordem cultural e política, porque a sociedade brasileira começou a se liberalizar a partir de 1984, independente disso a impressão que eu tenho é de que o Museu cresceu, em termos de atividades museológicas. Nesse período, novos funcionários foram contratados, funcionários com determinado nível, que ajudaram a manter essa atividade. Eu voltei ao Museu em 1986 para ser o diretor. Na época o reitor era o professor Rodolfo Joaquim Pinto da Luz e o próreitor de Pesquisa e Extensão, ao qual estava subordinado o Museu, era o professor Antônio Diomário de Queiroz, que mais tarde veio a ser reitor desta Universidade. Ele me convidou para dirigir o Museu quando a professora Anamaria deixou a sua direção. Quando comecei a trabalhar com o Museu, devo confessar honestamente, eu tinha uma visão muito curta da atividade museológica. Eu reconhecia a importância da instituição, sabia do seu acervo aqui existente, é claro, tinha interesse junto com o pessoal de fazer uma boa administração, independente das limitações impostas à Universidade; limitações estas de base orçamentária. Então comecei a trabalhar no Museu, o que me permitiu ter uma visão muito boa da atividade museológica, ao ter participado entre 16 e 18 de fevereiro de 1987, do primeiro Encontro do Sistema de Museu do Estado de São Paulo, e realizado as Oficinas Culturais Três Rios. Foi um dos grandes congressos que eu participei, e lá tive oportunidade de conversar com diretores de museus, assistir a palestras, debates, participar de mesas-redondas, e adquiri uma formação museológica, uma visão da instituição em si, que foi muito útil. Quando voltei dessa reunião tinha uma visão mais aprofundada. Em cima desta visão, começamos a trabalhar com uma relativa força, mas evidentemente em condições sempre limitadas. Lembro-me de que um dos grandes acontecimentos que nós realizamos no Museu, ainda no início da minha gestão, foi o Semi- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 33 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES nário Calha Norte, provavelmente a melhor reunião de estudo que fizemos aqui nesta Universidade. Convidamos especialistas de todo o país para discutir a realidade da Amazônia, todos os problemas da Amazônia, o desflorestamento, a ocupação militar, tema, na época de 1988, muito em voga. Realizamos aqui e durou três ou quatro dias; um seminário que alcançou grande repercussão. Dei-me conta, então, de que não estávamos em um museu qualquer, estávamos na verdade em um Museu Universitário. Ora, um Museu Universitário trabalha com a atividade museológica em si, nós cuidamos disso, mas também de outras atividades. Na época da reunião de São Paulo, por exemplo, um tema que aparecia muito nas mesas-redondas era a iniciação do museu na comunidade, até que ponto o museu preenchia a finalidade a que estava direcionada, tinha condições de atingir a comunidade, tinha visitação ou não tinha, numa Mesa-Redonda dos Museus Universitários, por exemplo, em que o pessoal da USP se queixava de ter os seus museus, o da Pré-história, de não ter visitação. Eu me dei conta na época de que nós aqui não tínhamos esse problema, ou pelo menos não tínhamos como o pessoal da USP. Resolvemos por um lado incrementar essa inserção na comunidade porque isso é uma atividade importante e, no contexto dessa atividade, fizemos inúmeras exposições. Não me lembro de todas, e naturalmente essas exposições devem estar nos relatórios aqui da casa, então basta consultá-los, mas foi o Seminário Calha Norte, que aconteceu aqui nesta Universidade em 1988, só por exemplo, a exposição Universo Açoriano no Museu de Arte de Santa Catarina, com as obras de Cascaes, que obteve grande repercussão na época. Fizemos em 1987, se eu não me engano, a exposição com as peças de Cascaes na casa da ex-alfândega, apresentando as coleções "Procissões da Mudança", "Nosso Senhor dos Passos", "Nosso Senhor Morto", além de aspectos sobre "A Vida de Joana Gomes de Gusmão". Inclusive tenho um filme feito nessa época a respeito do assunto. Além disso, entre tantas outras atividades culturais, ainda gostaria de citar a exposição da "Cultura Açoriana", no hall da reitoria, em 1989; e a "Noite do folclore ilhéu" - que na época (1990) chamou muito a atenção -, que foi realizada em frente ao Mu34 seu, quando mais de mil pessoas compareceram a fim de assistir às brincadeiras de boi-de-mamão, catimbó, a dança dos vinte e cinco bichos do jogo, o cacumbi, enfim uma série de manifestações folclóricas da Ilha de Santa Catarina. Sobre as exposições da "Cultura Açoriana" e da "Noite do folclore ilhéu", nós temos filmes, e os estou passando para o Museu a fim de que permaneçam na posteridade. Além dessas atividades todas, nós fizemos um único experimento que foi o "1º Seminário Franklin Cascaes", em 1990. Foram dois dias de mesas-redondas com temas relacionados à cidade de Florianópolis, com uma boa participação de alunos e de público para assistir às várias mesas-redondas. Nós discutíamos o impacto do turismo, a importância da obra de Cascaes, quando ele compareceu para dar uma palestra. A professora Adalice Maria de Araújo escreveu uma tese de doutorado em cima de obras de alguns artistas de Florianópolis, entre eles Cascaes. Queríamos repetir esse seminário, respeito à cidade de Florianópolis. Na época, como hoje, o turismo é um assunto em voga; era necessário discutir os aspectos positivos e negativos dessa atividade econômica. Fizemos apenas um, e um segundo não conseguimos realizar até por falta de recurso. É preciso dizer que essas atividades davam muito trabalho, e o Museu não tinha, como até hoje não tem, um corpo de funcionários muito grande para dar conta de tanta atividade. Eu gostaria de citar também a realização de duas coisas que eu considero importantes: uma delas foi as comemorações dos 500 Anos do Descobrimento da América e a outra foi a realização de uma atividade aqui entre 1991 e 1992, acho que nunca um evento deu tanto trabalho. Em primeiro lugar, projetamos aqui no auditório do Museu uma série de filmes, principalmente sobre a situação indígena da América Latina. As escolas da comunidade e alunos da Universidade foram todos convidados para assistirem a essas projeções. Isso ocorreu durante todo o ano, além de realizarmos nesse período uma série de mesas-redondas colocando os vários temas que dizem respeito à América Latina. Em 1992, chegamos a fazer no centro da cidade de Florianópolis, em frente à Catedral Metropolitana, uma grandiosa exposição tipo " Museu na Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Higienização do Acervo Arqueológico rua" , situando alguns temas sobre a América Latina, particularmente à respeito da realidade indígena latino-americana, e também brasileira. Foi uma atividade muito grande, fez muito sucesso, trabalhamos muito, mas o Museu se sentiu muito gratificado com toda essa atividade. No final da minha gestão fui designado pelo reitor para dirigir a "IV Semana de Estudos Açorianos" e montamos nossa equipe de trabalho aqui neste Museu, que se realizou em abril de 1992. Foi um trabalho muito interessante, pois vieram professores do Arquipélago dos Açores e discutiu-se sobre a obra do Professor Cascaes. Lembro-me de que priorizamos, pela primeira vez, um assunto que até então era tabu nesse tipo de encontro, que foi a "farra do boi". Conseguimos, com algum trabalho, situar na "IV Semana de Estudos Açorianos" uma mesa-redonda sobre a "farra do boi", com presença maciça de pessoas da época. Esta questão era dis- cutida largamente na imprensa nacional, alguns a favor , outros contra. Realizamos uma mesaredonda com esta temática; enfim, tenho a impressão de que em tempos de realizações culturais, avançamos muito, era uma época em que os funcionários do Museu eram entrevistados; o Museu aparecia muito nos jornais e havia sempre notícias a serem apresentadas. De outro lado, creio também que outro aspecto importante da atividade museológica foi a presença da comunidade aqui. Também se realizou, na semana do índio, projeções cinematográficas com a presença de inúmeras escolas no Museu. Realizamos vários seminários, sobre o Dia da Cultura. Fazíamos mesas-redondas e apresentávamos filmes, atraindo sempre um grande público. Neste aspecto, eu posso dizer com segurança que nos sentimos realizados. Também neste período publicamos dois números da revista Anais do Museu de Antropologia. Quando o professor Cabral criou esta revista, ela devia apenas ser preenchida com artigos dos funcionários ou dos professores aqui existentes e foi publicada também na época do professor Silvio Coelho dos Santos, da professora Anamaria Beck e também da professora Neusa Maria Sens Bloemer. Na minha gestão conseguimos publicar apenas dois números, até por limitações orçamentárias da própria Universidade; não é muito fácil fazer uma revista. Eu achava que qualquer contribuição não apenas do pessoal do Museu era importante, pois, se algum professor tinha algum artigo importante relacionado com a Antropologia, por que não publicar? Espero que no futuro o Museu possa voltar a publicar esta revista, que tem um significado internacional, porque recebíamos correspondência de universidades estrangeiras solicitando seus números, como, por exemplo, da Europa e dos Estados Unidos, tal foi a importância que ela adquiriu em um determinado momento. Creio que esta é uma herança positiva que a publicação dos Anais, de repente, pode ser recuperada, não só com publicações de trabalhos de funcionários do Museu, mas também de professores desta Universidade, desde que eles tenham algum ponto de contato com as Ciências Antropológicas, que é o conteúdo de exposição deste Museu. Também, neste período, talvez até mais do que em ou- Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 35 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Trabalho feminino. Coleção Escultórica Autoria: Franklin Cascaes tros, procuramos divulgar a obra do professor Cascaes realizando várias exposições já citadas aqui. Montamos algumas vezes, principalmente em frente ao Museu, o presépio de natal feito de piteira e barba de velho, em quatro anos consecutivos. Lembro-me muito bem de que o professor Cascaes montava esses presépios com grande repercussão debaixo da figueira na praça central de Florianópolis e, como era muito difícil fazer essa montagem, então passamos a montá-lo aqui durante quatro anos. Enfim, procuramos, na medida do possível, divulgar a obra do Cascaes. Uma administração nunca se completa, realiza muitas coisas boas, mas também deixa de fazer outras. Sempre tivemos problemas com o prédio do Museu, com o resguardo do acervo. Sentimos que a abra do Cascaes se deteriorava; não tínhamos local para a reserva técnica, para resguardar todo esse significativo acervo. Muitas coisas nos preocupavam, e, em função disto, formamos uma comissão de professores e funcionários para avaliação do espaço técnico-administrativo do Museu. Esse relatório ficou pronto em 1991 e foram colocadas as questões não só do pessoal, mas do espaço físico do prédio, com graves problemas; também o resguardo do acervo que, para garantir a conservação, necessita de um espaço para a instalação de uma reserva técnica, por exemplo. Eu sei agora, com satisfação, que esta reserva foi implantada. Na nossa época isso não foi possível, então muita coisa deixou de ser feita, mas claro que uma administração não pode esgotar todos os assuntos, isto é impossível; é a continuação de uma gestão que vai determinar o que foi feito de melhor ou de pior; neste 36 caso, pode ser o governo ou o Museu. Então uma série de coisas não pode ser concluída, como, por exemplo, o resguardo da coleção do professor Cascaes. Embora nos interessamos também pelo setor de Etnologia indígena e pelo setor de Arqueologia; na verdade, eu queria, quase que concluindo essa explanação, dizer que o Museu tem três setores e na nossa administração tentamos trabalhar com os três, não protegendo um em detrimento do outro, na medida do possível se deu força para as três atividades: Arqueologia, Etnologia indígena e Cultura popular. Não se pode esquecer que o Museu de Antropologia é um órgão isolado, ele pertence à Universidaade Federal de Santa Catarina; o seu destino de uma forma ou de outra está ligado ao da Universidade. Temo muito pelo fim da Universidade pública. No fundo, eu sempre a defendi pública e gratuita, pois as universidades públicas e gratuitas são as melhores do país e é lamentável que um dia essa Universidade possa vir a desaparecer, até por política de governos equivocados, pois o Museu, eu repito, está ligado ao destino da Universidade e eu espero que esse destino seja melhor no futuro. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Ter esa F ossari eresa Fossari Zoólito. Antropomorfo. Sambaqui de Mina Velha. Garuva /SC Antes da criação do Instituto de Antropologia, na década de 1960, na época em que era Departamento do Curso de História, já se praticava pesquisa de Arqueologia. Foi o professor Walter Feranando Piazza que começou e depois outros assumiram tais pesquisas como Anamaria Beck, Maria José Reis e Alroino Baltazar Eble. Na década de 1980 não havia nenhum trabalho de Arqueologia no Museu. Quando comecei a trabalhar no Museu, em 1982, as atividades relacionadas à Arqueologia estavam paradas. Comecei tudo de novo, foi "pedra sobre pedra". Em 1987 consegui financiamento da FINEP para desenvolver um levantamento arqueológico na Ilha, criei oportunidade de estágios remunerados para alunos da Universidade, orientei alunos e desenvolvi pesquisas, enfim (re)instalei o Setor de Arqueologia. A partir daí até 1992 era o único setor do Museu que mantinha pesquisa. Em 1992, quando o reitor me convidou para ser diretora do Museu, disse que só aceitaria se fosse para transformar esta Instituição em um verdadeiro museu, (dir etor a no período de 1992 a 1996) (diretor etora com uma concepção de museu e não de espaço de guarda e preservação de acervo. Eu havia estagiado em museus de São Paulo, tinha um referencial. Com toda a equipe do Museu, conseguimos fazer um balanço de como estávamos, o que tínhamos e, assim, esboçamos um projeto apontando para onde queríamos chegar e do que precisávamos para concretizar nosso sonho. No projeto elaborado pela equipe do Museu Universitário constava a história do Museu (desde a sua criação até as transformações pelas quais passou). Os resultados de nossas reflexões sobre o trabalho que vinha sendo feito no Museu apontou para uma prática museológica. Foi com esta vontade de mudar que assumi a sua direção, nossas cabeças ferviam, queríamos mudar, era a oportunidade de sentarmos para uma autocrítica, para enxergarmos o que éramos, e o que queríamos ser. Colocamos tudo no papel, apontamos diretrizes e concluímos que a nossa maior deficiência eram as instalação físicas e a carência de especialistas no quadro de funcionários. Hoje, podemos dizer que nosso esforço está valendo a pena. Aí estão a reserva técnica recémconstruída e o prédio do Museu todo reformado; sem contar que o corpo técnico-científico, apesar de numericamente reduzido, está em busca de seu aperfeiçoamento por meio de cursos de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 37 DEPOIMENT OS DE DIRET ORES DEPOIMENTOS DIRETORES Gelci J osé Coelho "P eninha" José "Peninha" (dir etor desde 1996) (diretor Por ele mesmo Iniciei minhas atividades na Universidade Federal de Santa Catarina no ano de 1970 como secretário do Departamento de História e estudante do Curso de História. Interessado em História da Arte, tive oportunidade de conhecer o artista e professor Franklin Joaquim Cascaes, que utilizava seu talento artístico para documentar as tradições culturais dos descendentes dos antigos colonizadores procedentes do Arquipélago dos Açores. Por meio de convênio com a Prefeitura Municipal de Florianópolis e o Museu Universitário, o artista passou a realizar exposições no Setor de Cultura popular. Desde 1973 passei a conviver intensamente com o professor e artista, objetivando aprender mais sobre o folclore da Ilha de Santa Catarina. Acompanhando pesquisas e revisões dos diversos temas abordados por Franklin Cascaes, acabei sendo transferido para o Museu, que passei a integrar o Setor de Cultura Popular, com especial atendimento ao professor Cascaes, aprendendo a realizar as montagens das maquetes para a exposição dos conjuntos escultóricos, que representam várias das tradições culturais de origem luso-açoriana. O acervo composto de manuscritos, desenhos, esculturas em argila crua e gesso calcinado, acessórios em madeira, tecido, tintas, papel, metais e fibras vegetais implica uma conservação difícil e muito delicada, exigindo amplo conhecimento para garantir a integridade da significativa obra do mestre Cascaes, que, em essência, revela a alma da gente da Ilha de Santa Catarina. Com a doação de todo o acervo do artista ao Museu, a imensa responsabilidade que nos recaiu reforçou cada vez mais a necessidade de buscar conhecimento; então a Universidade proporcionou a minha participação no Curso de Especialização em Museologia que estava sendo oferecido, pela primeira vez, no Brasil, junto à Escola de Sociologia e Política da USP e o Museu de Arte São Paulo, iniciativa da professora doutora Valdisa Russio Camargo Guarniere e Pietro Maria Bardi. Assim, uma nova 38 Banco Kayapó. Xingu museologia foi introduzida na Universidade, buscando dinamizar a atividade museológica, inclusive em todo o estado de Santa Catarina, orientado para a realização de pesquisas e a documentação de acervos, visando à segurança, à conservação e à apresentação como apoio à educação fundamental e ao lazer cultural. Desde 1996 a direção do Museu Universitário "Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral" está sob a minha responsabilidade, cujo objetivo é intensificar a dinâmica de utilização do Museu como aparelho educativo, espaço de apresentação de resultados das pesquisas científicas nas áreas de Arqueologia, Etnologia indígena e Cultura popular por meio de exposições museográficas. Para alcançar o objetivo proposto, além de desenvolver trabalhos na área de ensino, pesquisa, extensão, conservação e documentação, estamos buscando viabilizar a construção do Pavilhão de Exposições, que se encontra em fase de captação de recursos, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS DIRET ORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO DIRETORES A se guir, depoimentos de funcionários do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”. Funcionários que dedicaram suas vidas ao bom funcionamento do departamento. Acondicionamento dos desenhos de Franklin Cascaes Atividade paralela as exposições do Setor de Cultura Popular Oficina: Olaria: cerâmica de torno com o apoio da artesã Tânia Inácio Fernandes Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 39 DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Hélio Manoel Alv es Alves Tanga - Waiwái - Amazônia O mês da inauguração foi em maio de1968, quando o doutor Cabral convidou o reitor e o Ivo Silveira, que era o governador do estado de Santa Catarina. Ele veio para inaugurar e, na véspera do dia da inauguração, estava acontecendo uma manifestação de estudantes contra o reitor. Eles fizeram uma passeata em frente ao Instituto, mas o reitor não deu importância. Os estudantes passaram e não fizeram nada que perturbasse a inauguração do Instituto de Antropologia. Para mim, passados trinta anos desde o Instituto de Antropologia e agora Museu Universitário, é a mesma coisa como se fosse hoje. Claro que é diferente, naquela época não havia a Universidade toda formada, só o Instituto, a Botânica, a Filosofia, e a Engenharia. A reitoria estava sendo construída. Enquanto isso a administração da Universidade era no centro, na Rua Bocaiúva. Era lá onde o exército está agora. Nós trabalhávamos aqui e recebíamos o salário lá. Aqui havia essas casas, a estrada era de chão, os carros circulavam na Trindade. Muita gente vinha a pé, outros de carro; eu vinha de bicicleta. Depois que asfaltaram, melhorou muito. Lá, em 40 (funcionário mais antigo) 1967-1968, quando nós chegamos aqui, havia muitas tropas de boi, que pertenciam ao senhor Pedro Vidal. O Instituto tinha bastante material e aumentava sempre a ponto de o espaço físico se tornar pequeno. Desde então, o Instituto passa a ser um Museu e, unindo esforços, temos tentado melhorar os espaços para a apresentação das exposições. Tudo sempre foi muito trabalhoso, mas o pior é sempre a falta de verbas. Pensávamos em montar alguma exposição e éramos impedido pela falta de recursos, mas mesmo assim se dava um jeito e sempre apresentávamos os acervos. O "Peninha" sempre fez tudo o que pode para que as exposições estivessem sempre em ordem. As exposições mais interessantes, para mim, eram aquelas montadas com o acervo do professor Cascaes. Foi sempre uma felicidade trabalhar no Museu. Aprende-se muito sobre a história; sempre gostei muito de trabalhar aqui. Desde o exigente Dr. Cabral até a animação maior, com as montagens dos grandes presépios criados por Franklin Cascaes, sempre tínhamos novidades. O Museu é um lugar que apresenta coisas do passado, mas é assim, tudo parece sempre novidade. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Pedr o Ger aldo Ba tista edro Geraldo Batista A pedido, fui lotado no Museu de Antropologia em 27 de julho de 1971, cuja direção estava a cargo do professor Sílvio Coelho dos Santos e o secretário era José Antônio da Costa. Como técnico administrativo atuei até 1975 e assumi a função de secretário até 1982. Durante este período, passaram pela direção do Museu os professores Alroino Baltazar Eble e Anamaria Beck. No quadro de pessoal de apoio contávamos com os servidores Valdomiro Gonçalves, Djalma Elias Correa (in memoriam), Osmar Conceição, Hélio Manoel Alves, Cecília Rau (biblioteca) e Dilma Maria Menezes Conceição. Um dos grandes acontecimentos neste período foi a incorporação da coleção Profa. Elizabeth Pavan Cascaes ao acervo do Museu, realizando o desejo do fantástico professor Franklin Joaquim Cascaes. Vista parcial das salas de exposição do Museu Universitário Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 41 DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Her mes J osé Gr aipel Júnior Hermes José Graipel Cheguei ao Museu Universitário em abril de 1989 para desenvolver atividades como secretário na gestão do professor Luiz Carlos Halfpap. Nessa função, organizando e sistematizando toda a parte administrativa, contei com a colaboração de colegas, como Sônia Maria Kempner (Assistente em Administração), Dilma Maria Menezes Conceição (recepcionista), Hélio Manoel Alves (operador de máquinas copiadoras), Euclides Vargas (técnico em restauração), Maria Conceição das Chagas (Costureira), Elizabeth Pereira Russi Alexandre (professora de 1º e 2º graus). Atuava também no recém-criado corpo técnico-científico do Museu, que reunia pesquisadores visando traçar as diretrizes gerais deste órgão suplementar. Com a mudança da direção, ao assumir o cargo a arqueóloga Teresa Domitila Fossari, continuei como secretário e também atuava no corpo técnico-científico. Nesse momento, já delineava-se meu futuro na Divisão de Museologia, uma vez que, sistematicamente, passei a desenvolver algumas atividades nessa área, preparando-me para assumir funções correlatas. Assim, recebi incentivo para participar de vários eventos, como seminários, congressos, palestras e estágios em outras instituições congêneres. Passo a passo, fui encaminhando minha atuação na área administrativa para a área fim do Museu: o público e o acervo; interação essa que forma o processo educacional. Em 1996, assumiu a direção do Museu o Museólogo Gelci José Coelho, liberando-me das funções administrativas para que, definitivamente eu pudesse dedicar-me às atividades de pesquisa dentro do campo museal. Hoje, na Divisão de Museologia, desenvolvo projetos e oriento pesquisas que visam a conservação e guarda do acervo, além de colaborar na montagem de exposições, quando solicitado por outras instituições. 42 A Bruxa Grande. Nanquim sobre papel Autoria de Franklin Cascaes Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Maria Dor othea P ost Dar ella Dorothea Post Darella Quando se pensa em universidade, ainda se percorre as concepções de ensino, pesquisa e extensão, ou estaria tal reflexão ultrapassada? Seria a única? Sinceramente não sei. Gostaria de ponderar, entretanto, quanto à singularidade do Museu Universitário da Universidade Federal Santa Catarina, no qual se realiza mais do que instigante trabalho reunindo ensino, pesquisa e extensão: compõe-se a permanente possibilidade de projeto de vida. Refiro-me especificamente às Ciências Sociais, à Antropologia, às populações indígenas, ainda que tenha clareza da abrangência do desafio que o caminho interdisciplinar enseja. Sim, porque constantemente há envolvimentos com a Arqueologia, a Biologia, a Agronomia, a Pedagogia, a História, a Geografia, a Lingüística, o Direito, para citar algumas disciplinas conexas ao meu trabalho. A partir do Museu, pude elaborar e me envolver com projetos distintos, relacionados à educação, agricultura, direitos fundiários; tive oportunidade de tecer estudos de impacto socioambiental, relatórios de identificação de ter- ras indígenas, laudos antropológicos, trabalhos, textos; elaborei exposições fotográficas; organizei seminários, fóruns, mesas-temáticas, encontros; co-orientei monografias; participei de eventos relacionados à temática indígena. Esse movimento, entretanto, não é solitário e sim solidário: só se faz possível em conjunto com colegas pesquisadores e com profissionais comprometidos e envolvidos com a população indígena. Ele substancializa-se e atualiza-se nas permanentes interlocuções com as comunidades indígenas, com as constantes comunicações numa rede de estudo, atuação e sociabilidade referente aos índios Guarani. É trabalho embebido em reciprocidade. Neste momento formulo meu texto de qualificação do doutorado que denominei "ore roipota yvy porã (nós queremos terras boas)". O movimento do passado ao futuro: territorialidade e temporalidade no presente das aldeias Guarani no litoral de Santa Catarina, desejando que seja um exercício para continuidade das ponderações e efetivações com os índios Guarani. E continuo acreditando que este amálgama é razão de ser das instituições de ensino federais. Cunjunto escultórico. Mito do Dilúvio Guarani/SP Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 43 DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Deise Luc y Oli veir a Montar do Lucy Oliv eira Montardo Após terminar minha graduação em Ciências Sociais, em 1989, comecei a trabalhar no Museu, no qual conclui minha especialização por meio do trabalho com os colegas ou com seu apoio, nas ocasiões em que me afastei para aperfeiçoamento. Durante sete anos participei de várias pesquisas no setor de Arqueologia, nos campos da Arqueologia pré-colonial e histórica, tendo neste período desenvolvido minha dissertação de mestrado "Práticas funerárias das populações pré-coloniais e suas evidências arqueológicas (Reflexões iniciais)" na PUC/RS, Porto Alegre/RS, defendida em 1995. Neste mesmo ano iniciei uma pesquisa sobre a música dos índios, sobre a qual desenvolvi a tese de doutorado "Através do mbaraka: música e xamanismo guarani", defendida em 2002, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, USP/SP. O Museu Universitário é um espaço que permite a ampliação dos horizontes do conhecimento, possibilitada por meio da troca constante entre os três setores que comporta, com outros Departamentos da Universidade, bem como com a comunidade em geral. Colar Kamayurá - Xingu 44 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Cristina Castellano Minha experiência no Museu remonta aos anos 80, quando me tornei funcionária desta Universidade e aluna do Curso de Ciências Sociais. O interesse pela instituição ocorreu por meio da interface entre minha formação acadêmica e a área de atuação deste Museu, com possibilidades de qualificar-me profissionalmente. Então, apresentei-me à professora Neusa Bloemer, diretora do Museu na época. Foi um momento importante, de aproximação com a Arqueologia, pelas mãos carinhosas de Teresa Fossari. Também na ocasião, conheci a obra de Franklin Cascaes, a qual ainda hoje me surpreende pela diversidade de técnicas empregadas e temáticas abordadas. De lá para cá muitas portas abriramse em minha vida profissional e venho me aperfeiçoando no fértil campo da Museologia. Hoje, não me restam dúvidas de que o potencial de uma instituição museística como o Museu Universitário é enorme, tanto para se trabalhar a extroversão museológica, como as atividades de educação e pesquisa. Boneca Karajá. Pará Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 45 DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Aldo Litaif Litaifff A característica do Museu, como centro de extensão, possibilitou-me um contato maior com minha formação acadêmica teórica e prática. Isto acontece, principalmente, pelo perfil de suas atividades as quais relacionam produção acadêmica com a realidade da sociedade envolvente, como é o caso do Setor de Etnologia indígena, com os povos indígenas do estado de Santa Catarina. Tudo isso me possibilitou uma rica experiência, em termos de conhecimento, que somente uma instituição como o Museu pode oferecer. Mbaraka mirim. Guarani. SC 46 Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Francisco do Vale P er eir a Per ereir eira O Museu Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina é uma escola por si só. É um centro de referência na área de Antropologia - a ocupação humana em Santa Catarina. A oportunidade de estar envolvido com os trabalhos de pesquisa, de divulgação, de exposição do acervo do Museu Universitário é ímpar, enriquecedora e instrutiva. Nos anos de 1984 a 1986 trabalhei no Museu Universitário, Setor de Cultura Popular, quando estive em contato direto com os escritos do Professor Franklin Cascaes. Foi um mergulho num mar de informações e conhecimentos da cultura da Ilha de Santa Catarina. Foi a motivação mais forte para seguir meus estudos, já que havia me formado recentemente em História. Um convite, em 1992, para formar um grupo de reorganização do Núcleo de Estudos Açorianos, foi um passo importante para reaproximarme com a cultura popular. Afinal, eu já estava envolvido com os vários encontros de estudos açorianos que já se realizavam na UFSC; também porque aquele primeiro período trabalhando no Museu Universitário foi decisivo para definir as linhas de estudos e gosto pela questão cultural. Boi-de-mamão. São José/SC Depois de assumir outras funções administrativas na administração central da UFSC, regressei ao Museu Universitário em 1999, e desde aquele ano, realizo-me com as questões da Cultura Popular, mais especificamente, da base cultural açoriana. Têm sido anos de muito trabalho, desenvolvendo projetos de revitalização de aspectos da nossa herança cultural. Estar no Museu Universitário é apaixonante e completa todo aquele que busca conhecimento, pois aqui temos um universo cultural significativo e abrangente. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br 47 DEPOIMENT OS DE FUNCIONÁRIOS DEPOIMENTOS Wanda Ritta A Benzedeira. Coleção Escultórica de autoria de Franklin Cascaes Em julho de 1999, assumi neste Museu a função de arquivista, efetivada pelo Ministério da Educação - DEMEC/SC, função esta que veio ao encontro dos objetivos deste Museu: centralizar, organizar e criar um Centro de Documentação. Ao tomar conhecimento de que boa parte do acervo da biblioteca encontrava-se em esta- 48 do de deterioração, em conseqüência de uma enchente, o Diretor me perguntou se eu tinha coragem para recuperá-lo. A partir daí, com sua anuência e como gosto de desafios, iniciei os trabalhos (limpar, restaurar, arquivar, alimentar livros, os que estavam desvanecendo resultante da umidade e do mofo. Foi prazeroso ver o resultado deste trabalho e, principalmente, ver que o tesouro que ali se encontrava, no que se refere à fontes primárias, datavam de 1831 em diante, incluindo o acervo da literatura "Negra" particularmente. Depois de tantas mudanças de sala à procura de espaços mais favoráveis para sua acomodação, o Centro começa a se expandir com novas aquisições. Atualmente, estamos instalados no 1º piso do novo prédio da Museologia, sala ampla e com condições climáticas para que nosso acervo frutifique e breve possa fazer conexão com a Biblioteca Central, oportunizando acesso a todos os usuários desta Universidade. Nosso acervo está constituído dos seguintes títulos: Antropologia, Etnologia, Paleontologia, Sociologia, Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Folclore e Cultura, Artesanato (olaria, rendas), História de Santa Catarina, História, etc., incluindo acervo fotográfico em fase de organização preliminar. Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br