Baixar revista Museu Universitário – UFSC – 30 anos

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30 anos
ÍNDICE
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Rodolfo Joaquim Pinto da Luz
Pró-Reitora de Cultura e
Extensão
Denise Guerreiro Vieira da Silva
Diretor do Museu Universitário
Gelci José Coelho
06
História do Museu
08
De
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etor
es
Depoimentos
diretor
etores
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Museu Universitário
14
Transcrição das entrevistas
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Edição da Revista
19
Jean Carlos Antônio
Sônia Maria Kempner
Fotografias
Joi Cletison Alves, Francisco do Vale
Pereira, Gelci José Coelho, Milton Knabben
Fileti
Acervo do Museu
Seleção de imagens
Hermes J. Graipel Júnior, Cristina
Castellano, Gelci José Coelho, Francisco
Cartaz institucional do MU
Contatos
www.museu.ufsc.br [email protected]
FAX: (48) 331 9325
Tel.: (48) 331 8821
Tiragem e circulação
Distribuição: instituições federais, estaduais e municipais, escolas, universidades e
associações culturais e museológicas.
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Depoimentos de funcionários
Design Gráfico
Capa
Sílvio Coelho dos Santos
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do Vale Pereira e Vicenzo Berti.
www.vicenzoberti.com.br
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Joaquim
Reitor da UFSC
Nascido do antigo Instituto de
Antropologia, idealizado e implantado pelo professor Oswaldo
Rodrigues Cabral como um espaço propício às atividades de pesquisa na área de Antropologia, o
Museu Universitário tem sido fiel
à sua missão, há mais de três décadas, de buscar a "ampla compreensão da realidade, a partir da região na qual está inserido, refletindo criticamente sobre a diversidade sócio-cultural". Esta postura de
reflexão crítica premeia o trabalho
realizado no nosso Museu Universitário, como nos mostram os depoimentos que abarcam toda a sua história. O
relato do atual diretor, dos ex-diretores, dos colaboradores técnicos e de apoio, são uníssonos
na sua declaração de amor ao trabalho que realizam e realizaram neste ambiente propício à pesquisa e de renovação do ensino e da extensão.
O Museu é uma porta aberta à comunidade
externa, convidando-a a vir até a Universidade
Federal de Santa Catarina para conhecer um pouco mais de seu próprio passado e refletir sobre a
sua identidade cultural tão diversificada. Além
do importante acervo de Arqueologia Pré-Colonial e Histórica, e de Etnologia Indígena, o Museu é guardião da coleção "Profª Elizabeth Pavan
Cascaes", preservando o significativo acervo do
artista Franklin Joaquim Cascaes, constituído de
mais de 2.700 peças - desenhos, manuscritos e
4
Atividade cultural em frente ao Museu Universitário
esculturas que retratam o cotidiano, a religiosidade, lendas, mitos folguedos folclóricos e tradições dos primeiros colonizadores da Ilha de Santa Catarina.
Lançando sementes, o Museu criou também
o Núcleo de Estudos Museológicos que, em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura,
está envolvido na capacitação do pessoal que trabalha nos museus localizados nos vários municípios catarinenses. Desejamos que toda esta diversidade de atividades desenvolvidas no Museu
vingue, frutifique e se multiplique pelo Estado
afora. Esta seria a melhor recompensa e o testemunho histórico do trabalho profícuo de todos
aqueles que construíram o Museu Universitário
"Oswaldo Rodrigues Cabral".
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
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AÇÃO
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AGRADECIMENT
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Direção
Desde a sua criação, em 1965,
como Instituto de Antropologia, até os
dias atuais, quando recebe a denominação Museu Universitário "Oswaldo
Rodrigues Cabral", em homenagem ao
seu fundador, já se passaram mais de trinta anos.
A publicação dessa memória, tem
a intenção de divulgar o Museu Universitário através de depoimentos de pessoas que ajudaram a formar sua história
por meio da pesquisa, do ensino, da extensão, constituindo um patrimônio significativo na produção científica, na documentação museológica, coleta e aquisição de acervos nas áreas de Arqueologia, Etnologia Indígena e Cultura Popular.
Engenho de fabricar farinha de mandioca
É impossível denominar a imensa quantidade de colaboradores do Museu: professores, funcionários, estudantes e voluntários que por aqui
passaram, deixando sua importante contribuição.
A todas as pessoas desejamos agradecer e solicitar a continuação dessa parceria.
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Setores
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Diretor:
Gelci José Coelho
Setor de Arqueologia:
Teresa Domitila Fossari
Diretora da Divisão de Museologia:
Cristina Castellano
Setor de Cultura Popular:
Gelci José Coelho e Francisco do Vale Pereira
Diretora da Divisão de Pesquisa:
Teresa Domitila Fossari
Secretaria:
Elizabeth Pereira Russi Alexandre, Euclides
Vargas, Maria Bernadete de Amorim
Jollembeck e Sônia Maria Kempner
Setor de Etnologia Indígena:
Aldo Litaiff, Deise Lucy Oliveira Montardo
e Maria Dorothea Post Darella
Serviço de Documentação e Arquivo:
Cristina Castellano, Hermes José Graipel
Júnior e Wanda Ritta
Missão
O
Museu
Universitário
"Oswaldo Rodrigues Cabral" tem
por finalidade pesquisar, produzir
e sistematizar o conhecimento
interdisciplinar sobre populações
pré-coloniais, coloniais, indígenas e
ações museológicas, visando a ampla compreensão da realidade, a
partir da região na qual está inserido, refletindo criticamente sobre a
diversidade sociocultural.
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Direção:
Serviço de expediente
Divisão de Museologia:
Serviço de Documentação e Arquivo
Núcleo de Estudos Museológicos - NEMU
Divisão de Pesquisa:
Setor de Arqueologia
Setor de Etnologia Indígena
Setor de Cultura Popular
Pr
ojetos em desen
volvimento
Projetos
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DIVISÃO DE MUSEOLOGIA
Serviço de Documentação e Arquivo:
- Acondicionamento e armazenamento do acervo arqueológico do Museu Universitário.
- Acondicionamento e higienização da Coleção
Profa. Elizabeth Pavan Cascaes
- Exposição itinerante "O Universo
Bruxólico de Franklin Cascaes".
- Exposição "Peixes Mitológicos" desenhos de Franklin Cascaes.
- Visitas guiadas (recepção e orientação aos visitantes do Museu Universitário).
NEMU - Núcleo de Estudos Museológicos
- Capacitação e aperfeiçoamento dos trabalhadores dos museus do estado de Santa Catarina.
DIVISÃO DE PESQUISA
Setor de Arqueologia:
- Assentamentos
pré-coloniais de
grupos de tradição Itararé na paisagem da Ilha de
Santa Catarina.
- Projeto gerenciamento dos sítios arqueológicos do empreendimento Jurerê Internacional.
Setor de Etnologia Indígena:
- Registros sonoros e pesquisa dos repertórios
musicais no Sul e Centro-Oeste do Brasil.
- Tradução do Livro: Pramatisme et Sociologie.
- Projeto "Sem tekoa não há teko" (Sem terra
não há cultura).
- Projeto “Resgate Memória Egon Schaden (Museu Universitário/Departamento de Antropologia
Setor de Cultura popular:
- Registros da religiosidade popular do litoral
catarinense (vídeo).
- Projeto Pilão da Ilha mapeamento fotográfico
seguido de exposição
das peças utilitárias.
- Mapeamento cultural
açoriano do litoral
catarinense, em parceria com o Núcleo de Estudos Açorianos - NEA.
- Projeto de extensão: palestras sobre a herança
cultural de base açoriana.
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HISTÓRIA
HISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIO
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O Museu Universitário da Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC tem sua origem no Instituto de Antropologia, criado por
meio da Resolução nº 089, de 30 de dezembro
de 1965. Até 1968 este Instituto funcionava junto
ao Curso de História da Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras da UFSC. Em 29 de maio desse mesmo ano foi inaugurada a sede própria do
Instituto de Antropologia, uma edificação reformada e adaptada que integrava o complexo da
antiga Fazenda "Assis Brasil", cujo espaço foi
transformado no atual campus universitário.
Prof. Cabral proferindo discurso de instalação do
Instituto de Antropologia
Da esquerda para direita, Prof. Cabral e Prof. Egon Schaden
O Instituto de Antropologia era composto
pelas divisões de Arqueologia e Antropologia
Física e Cultural. Suas instalações dentro de uma
área de 480m² abrigavam laboratórios, além de
uma biblioteca e uma sala de exposições para o
acervo arqueológico, indígena e de cultura popular.
A Reforma Universitária, implantada na
UFSC na década de 1970, implicou a transformação do Instituto de Antropologia em Museu
de Antropologia. Esta alteração na nomenclatura não afetou o exercício das atividades de pesquisa que continuavam sendo prioritárias, porém tendo que assumir definitivamente a exposição do acervo, atendendo aos objetivos: ex-
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tensão e ensino. Para que pudesse haver
exposições, foram transformadas três
salas de aula que ficavam anexadas ao
prédio principal em salas de exposições.
Em 1978, por meio da Resolução
nº 065, de maio de 1978, o Museu de
Antropologia é transformado em Museu
Universitário. A partir desse momento o
Museu passa a ser uma instituição voltada exclusivamente para a guarda de
acervo. Esta denominação sempre causou estranheza ao público em geral, pois,
no entendimento do senso comum, se era
ou é universitário, percebia-se como um
receptor do acervo material dos diversos órgãos
que compõem a UFSC. Entretanto, era latente
aos técnicos que atuavam no Museu Universitário que seu caráter estava voltado à Antropologia, e a forma "universitário" dava-se ao tripé
norteador de uma instituição como a UFSC, voltada ao ensino superior, ou seja, pesquisa, ensino e extensão.
Assim sendo, em meados da década de 1980,
o Setor de Arqueologia, com uma equipe coordenada por uma arqueóloga, retomou a pesquisa
com o projeto intitulado "O povoamento pré-histórico na Ilha de Santa Catarina", financiado pela
FINEP. A partir daí outros setores do Museu
incrementaram projetos de pesquisa.
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
HISTÓRIA
bem como em documentação e arquivo, e estudos museológicos. Dentro dessa perspectiva, o
atendimento ao público especializado chegou nos
últimos quatro anos a 1.354 pessoas.
Merece atenção especial o acervo do Museu, não só pela intensa procura por parte de
pesquisadores do Brasil e de outros países, como
também por parte de instituições que se utilizam
dele para exposições, como, por exemplo a "As-
Prof. Cabral com assistentes mostrando as futuras
instalações do Instituto de Antropologia
Em 1991, após ampla discussão interna, foi formado o corpo técnico-científico que elaborou o novo regimento
interno objetivando a priori sedimentar
o tripé pesquisa, ensino e extensão como
forma de atuação de um Museu com um
caráter eminentemente antropológico.
Em maio de 1993, o Museu completou vinte e cinco anos de existência e
passou a ser denominado Museu Universitário
"Oswaldo Rodrigues Cabral", por meio da Resolução n.º 106/Cun, de 26 de outubro de 1993, em
homenagem a seu idealizador, fundador e primeiro
diretor. Cabe ressaltar que, apesar de ser criado
em 1965, somente em 1968 foi aberto ao público, ainda como
Instituto de Antropologia.
Atualmente, o Museu desenvolve atividades de pesquisa, ensino e
extensão em
Arqueologia
(pré-colonial e
histórica),
Etnologia indígena, Cultura
popular e Divisão
de
Prof. Cabral com pesquisadores do
museologia
Instituto de Antropologia - 1968
Instituto de Antropologia - Finais da década de 1960
sociação Brasil 500 Anos Artes Visuais - Mostra
do Redescobrimento", uma mostra de acervos
que denotam a multiplicidade e abrangência da
cultura material no Brasil. Tal evento ocorreu no
período de 23 de abril a 7 de setembro de 2000
no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, com um
público visitante que ultrapassou um milhão de
pessoas. A mesma exposição foi dividida em
módulos e apresentada em: Lisboa, Fundação
Calouste Golbenkian, com uma visitação de oitenta e cinco mil pessoas; São Luís do Maranhão,
no Convento das Mercês, com sessenta e cinco
mil visitantes; Santiago do Chile, no Museu Nacional de Belas Artes, com quarenta e dois mil
visitantes. O Museu se fez presente com o empréstimo de vinte e seis peças do seu acervo arqueológico, já estando programado para o ano
de 2005 o empréstimo de dez peças do acervo
de Arqueologia e Etnologia Indígena para o
Museu Nacional da França.
Outro ponto relevante do acervo e também
motivo de cuidados especiais é a sua diversidade
de matérias-primas empregadas. Temos, sob a
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
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HISTÓRIA
posição com textos e fotos intitulada
"Índios e terras indígenas em Santa
Catarina: situação atual", que está em
exposição pelo interior do nosso estado.
No que tange as exposições no Museu,
é fator limitante e motivo de preocupações suas precárias instalações.
Como já foi dito anteriormente, dispomos de três salas denominadas blocos M2, M3 e M4, segundo definição
Egon Schaden proferindo palestra no Auditório do
Museu Universitário - 1968
guarda do Museu, acervos líticos, cestarias, cerâmicas, vidros, papéis, ósseos, madeiras, fibras
vegetais, ferros, materiais fotográficos, tecido e
plumária. Esta diversidade está intrinsecamente
relacionada à forma de aquisição do acervo que
é, na sua maioria absoluta, resultado de pesquisas executadas pelo corpo técnico-científico do
Museu. Há coleções que têm forte apelo popular, como por exemplo a coleção "Profª Elizabeth
Pavan Cascaes", obra do artista Franklin Joaquim
Cascaes, que se tornou referência para a compreensão da ocupação humana na Ilha de Santa
Catarina e arredores. Ainda é fruto de exaustivas pesquisas a coleção "Arqueológica", précolonial ou histórica (séc. XVI).
O acervo etnográfico indígena foi exposto
no Museu Histórico de Santa Catarina a partir
do mês de agosto de 2002. Também há uma ex-
Laboratório de Antropometria Física
10
Arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, Prof. Cabral e
Prof. Paulo Duarte com equipe do Museu
do Escritório Técnico-Administrativo (ETUSC),
que totalizam 480 m². Cabe salientar que a área
utilizável sofre interferência de corredores que
ligam um bloco ao outro. Outra questão é a
inadequação do espaço, uma vez que são construções da década de 1970, com piso em madeira, janelas venezianas e telhado de amianto sem
forro, a princípio construídas para serem utilizadas como salas de aula. Este conjunto
impede o controle de umidade, temperatura, iluminação e até mesmo a circulação do público e a segurança do acervo de maneira adequada.
Ainda que tenhamos um conjunto
de problemas, dificuldades e preocupações, mantemos exposições a fim de
atender ao público da UFSC, escolas do
ensino fundamental e médio da rede pública e particular, ao público local e aos
turistas provenientes do Brasil e outros
países. A questão da visitação ao Museu
requer condições de segurança tanto para
o acervo quanto para o público, que nos
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HISTÓRIA
Vista parcial do prédio do Básico - Década de 1970. Ao fundo, à esquerda, o então Instituto de Antropologia, atual Museu
Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”
últimos quatro anos perfizeram um total de 71.140
visitantes.
A atuação de museus pós-década de 1980
está sendo norteada pelas Cartas de Caracas e de
Santiago do Chile. Ambas centram esforços para
que as questões museográficas voltemse para a região na qual está inserido o
museu, de forma que a museografia técnica expositiva - contemple aspectos
da cultura local. Esta orientação da
regionalização já é contemplada historicamente pelo Museu; porém, no que se
refere à museografia, temos sérias dificuldades em razão do espaço físico.
Mostras museográficas não se restringem em colocar à disposição do público o acervo, pois elas têm como objetivo servir a um processo educacional,
permitindo a sua reflexão e compreensão por meio da cultura material. Os objetos no museu adquirem o status de
acervo e são descaracterizados de sua função
primeira e assim tornam-se signos que por si não
falam, mas traduzem o arcabouço cultural de
uma sociedade. Dessa forma, é de vital importância que os espaços museográficos tenham uma
Sr. Duca, oleiro do município de São José,
demonstrando a confecção de cerâmica de torno
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HISTÓRIA
Visita do então Reitor, Prof. David Ferreira Lima, recebido pelo
Prof. Silvio Coelho dos Santos, no laboratório de Antropometria
Física
adequação que possibilitem uma interação entre
o público e a exposição que os objetos/acervos/
signos não sejam olhados como "curiosidades",
mas como ação educativa.
Por se tratar de um Museu que desenvolve
atividades em uma instituição de ensino superior,
a procura de informações pertinentes à área acaba sendo uma constante.
Esta demanda, não só pelas prefeituras do
estado de Santa Catarina, como também de outros museus e mesmo de instituições do ensino
fundamental, médio e superior. Ainda assim, no
intuito de otimizar as atividades externas, foram
criados dois núcleos de estudos com atribuições
específicas, quais sejam: NEMU - Núcleo de Estudos Museológicos e o NEA - Núcleo de Estudos Açorianos.
O Núcleo de Estudos Museológicos em
conjunto com a Fundação Catarinense de Cultura, por meio da Gerência de Organização dos
Museus Catarinenses, oferecem oficinas, cursos,
palestras e seminários para mais de cento e quarenta museus do estado de Santa Catarina. A idéia
central é a capacitação dos trabalhadores em museus, permitindo desta forma o desdobramento
das informações em cada região de atuação do
Núcleo.
A questão da ocupação humana no litoral
de Santa Catarina, a partir do Séc. XVIII, é alvo
de atenção do Núcleo de Estudos Açorianos.
Dessa forma, o mapeamento cultural - levantamento de dados da cultura material e da cultura
oral, tenta perceber na contemporaneidade as permanências e a dinâmica cultural dos descendentes dos antigos povoadores açorianos. Cabe salientar que até a presente data, quarenta e três
municípios participam de forma sistemática de
eventos que vão desde pesquisas, palestras, seminários, publicações e até festas populares,
objetivando incentivar a participação da comunidade de forma lúdica, reconhecendo e valorizando os aspectos da herança cultural de base açoriana, e estimular a organização de grupos folclóricos, de festividades e da produção artesanal,
buscando criar um corredor turístico cultural ao
longo do litoral catarinense.
Hall do Museu
Ao fundo, fotografia do Prof. Cascaes
Salas de exposição - década de 1970
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DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
DIRET
ORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO
DIRETORES
Nas páginas a seguir você terá
o depoimento de diretores do Museu
Universitário, desde sua criação,
bem como de pessoas próximas a
ele.
Os depoimentos trazem um
pouco das suas experiências à
frente da administração do Museu,
no dia-a-dia deste setor que prima
pela guarda da história de nossos
antecessores.
Crianças visitando o Museu Universitário. A Bernunça é uma das figuras que compõem o folguedo folclórico do Boi-de-Mamão
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
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DEPOIMENT
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DEPOIMENTOS
DIRETORES
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etor no período de 1965 a 1969)
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sobrinha do Pr
O Instituto de Antropologia, eu vi nascer
do sonho de Oswaldo Cabral. Aos poucos ele
foi formando uma equipe na medida das necessidades e tudo foi funcionando, apesar das dificuldades. Quando surgiram problemas para se fazer a restauração de crânios tirados dos
sambaquis, foi chamado um dentista, o Dr. Edson Araújo, que criou um sistema para restaurar
os crânios; inovação aplaudida por vários pesquisadores. Tudo foi surgindo do nada, foi indo,
foi se desenvolvendo no Instituto de Antropologia, embasado no amor daqueles que ali atuavam. Foi um trabalho de amor. Eu era aluna do
curso de História e auxiliava nas horas vagas.
Aqui onde estamos dando esta entrevista era
exatamente o local onde montei a primeira biblioteca do Instituto - era um monte de livros e
revistas, a maioria doada por meu tio, tirada da
sua biblioteca particular. O pessoal que aqui trabalhava era pouco para o muito que havia para
fazer. O senhor Costa (José Antonio Costa) era
o secretário e o senhor Hélio (Hélio Manoel
Alves) era o servente.
O professor Cabral ajudou a fundar a
UFSC, foi diretor da Faculdade de Filosofia; mas
a "menina dos olhos" dele era o Instituto de Antropologia. A sua maior satisfação era dizer que havia transformado uma estrebaria numa instituição científica. Sim, porque
onde estamos era a estrebaria da
antiga fazenda "Assis Brasil".
Muitas pessoas que freqüentavam o Instituto como
palestrantes são ícones da cultura brasileira. Por aqui passaram
os eminentes Paulo Duarte e
Egon Schaden da USP; professores do Museu do Homem de
Paris; Wesley Hart dos USA e
tantos outros nomes, no momento, impossíveis de enumerar.
Acho que foi uma época brilhante da nossa Universidade.
O arqueólogo W. Hart era
14
uma "figura". Trabalhei com ele em escavações
e, para mim, foi uma pessoa inesquecível, era
uma sumidade!
Espero que, a partir desses trinta anos da
criação do Instituto de Antropologia, depois
transformado em museu, ele possa ir em frente,
que consiga verbas e possa voltar a ser aquilo
que o Dr. Oswaldo Cabral pretendia, uma instituição de caráter científico, que se possa fazer
muito mais pesquisas do que se faz hoje, porque
o Museu não era intenção dele; ele não pretendia
o Museu. Teria uma sala com objetos arqueológicos encontradas em escavações científicas, mas
seriam peças de acervo para estudo, não seriam
peças para exposição pública.
Ele não chegou a ver essa transformação que
ocorreu aqui por causa da sua morte, mas eu acredito que ele não iria se importar com a criação
do Museu. Transformações acontecem em qualquer instituição, mas o Museu como instituição
de pesquisa, ensino e extensão, chega ao ponto
que ele gostaria.
Visita guiada
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Sílvio Coelho dos Santos
Gostaria de dizer inicialmente que
comecei a trabalhar com o professor
Oswaldo Rodrigues Cabral na cadeira de
Antropologia, como auxiliar de ensino,
e foi nesse cenário que acabei fazendo
um curso de especialização no Museu
Nacional, no Rio de Janeiro.
Como o professor Cabral era um
entusiasta, ele se cercou de vários jovens
que estavam interessados na pesquisa,
na área de Antropologia e em campos
específicos como Arqueologia, Antropologia Física, Etnologia, e foi assim
também que colegas meus, como
Anamaria Beck, Marcílio Dias dos Santos, Gerusa Duarte, fizeram seus cursos
de especialização. De sorte que pelo ano de 1965,
o professor Cabral estava rodeado de auxiliares
trabalhando cada um em um campo particular da
área de Antropologia. Surgiu nesse cenário a idéia
de transformar a cadeira de Antropologia num
Instituto de Pesquisa em Antropologia. Lembrome de que eu, o professor Walter Fernando Piazza
e o Professor Cabral assinamos um documento
que enviamos no início de 1966 para o reitor
Ferreira Lima, que autorizou o professor Cabral
a ocupar esta edificação da antiga fazenda "Assis
Brasil", que estava abandonada. Naquela época
era usada por dois moradores que foram transferidos.
O gabinete do reitor cedeu uma pequena
verba para o professor Cabral. Com aquele pouco dinheiro, ele não só reformou o prédio como
comprou móveis e equipamentos e um veículo
para garantir a pesquisa. Em 1967, mudamos para
cá; creio que no mês de agosto ou setembro. Mas
realmente o prédio só foi inaugurado em 1968,
quando houve aqui uma reunião do Conselho de
Reitores. Lembro-me de que muitos estudantes
se colocaram aqui na frente para vaiar o reitor e
as demais autoridades que estavam chegando para
aquela inauguração formal. Foi motivo inclusive
daquela placa de inauguração que está ali na escada.
Naquela época, o Instituto era referência não
(dir
etor no período de 1970 a 1975)
(diretor
Presépio Natalino confeccionado com fibras naturais
e idealizado pelo Prof. Franklin Cascaes
só nacional, mas também internacional. Vários
pesquisadores estrangeiros já tinham passado por
aqui. Alguns pesquisadores se associaram à equipe do Museu, como aconteceu com a professora Anamaria Beck. Teve um professor americano que fez pesquisa com ela, aqui na região Sul,
em Laguna. Antes disso, havia o Programa Nacional de Pesquisa Arqueológica, sob a responsabilidade do professor Walter Fernando Piazza.
Isto foi anterior à criação do Instituto, nos anos
de 1964/1965. Vários estudantes freqüentavam
o Instituto, de tal sorte que se criou um ambiente de pesquisa e de ensino. As aulas regulares de
Antropologia eram dadas aqui. O ambiente não
era apenas de trabalho, era um espaço cordial,
camarada. Um ambiente que se transformou,
assim, numa espécie de ilha no cenário da Universidade, que naquele tempo era bastante pequena. Podemos dizer que naquele tempo isso
aqui já começava a ser uma ilha de excelência.
Excelência no sentido de bom ensino, de boa
pesquisa.
Com a Reforma Universitária em 1970,
acabamos sendo surpreendidos pelo veto à palavra Instituto. A organização que se deu à nova
administração da Universidade tinha departamentos, centros e as sub-reitorias. Mas a palavra instituto foi julgada como incompatível com
essa estrutura. Havia naquele momento, em
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
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DEPOIMENT
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DIRETORES
1970, três institutos. Um de pesquisa na área
socioeconômica; o Instituto de Antropologia; e
um Instituto de Direito do Trabalho que funcionava na antiga Faculdade de Direito. Houve aí
razões técnicas, mas também razões políticas para
que ocorresse este veto, de maneira que os outros dois institutos realmente desapareceram.
O professor Cabral, na última hora, quando
o projeto estava indo para o Conselho Universitário, recebeu uma mensagem da reitoria para ver
se poderia encontrar outro nome para a nossa organização, para o nosso instituto. Tivemos aí vinte
e quatro horas ou quarenta e oito horas para tomar essa decisão. Sem ter outro nome disponível, tomamos o nome de museu. Então em vez de
Instituto de Antropologia, passamos a ser Museu de Antropologia. Isto gerou um mal-estar. O
professor Cabral imediatamente fez uma carta ao
reitor e pediu demissão do cargo de diretor do
Instituto de Antropologia, e também do Museu.
Essa carta do professor Cabral nunca saiu da gaveta do reitor. O doutor Cabral foi para casa e só
vinha aqui para dar aulas, depois entrou em licença. Realmente fiquei como substituto dele, já que
era o mais antigo dos auxiliares. Tive que deixar
atividades que tinha no período da tarde porque a
Universidade só nos remunerava dezoito horas
por semana. Não havia período integral. Eu era
diretor de um Centro de Pesquisas Educacionais
no sistema da UDESC. Fui chamado pelo vicereitor, que estava no exercício da reitoria, o professor Lacerda, que me colocou diante de um dilema: ou eu assumia para fazer os atendimentos
administrativos de uma forma plena, ou havia a
ameaça do encerramento das atividades do Museu.
Consultando meus colegas e o próprio professor Cabral, chegamos a conclusão de que alguém tinha que ir para o sacrifício. Acabei deixando a minha atividade de pesquisador da
UDESC. A reitoria me concedeu um regime administrativo de quarenta horas. Então eu pude ficar aqui os dois expedientes. Nessa altura, o Museu começou a receber público, tanto no horário
matutino quanto no vespertino. Tudo isso nos levou a discutir a "figura do público", até então para
nós era uma incógnita. Éramos professores e pesquisadores. Decorrente das nossas atividades,
havia um certo acervo acumulado, originário da
16
O Vendedor de Pássaros - Coleção Escultórica
Autoria: Franklin Cascaes
pesquisa arqueológica, etnológica, e mesmo da
pesquisa de Antropologia Física. Mas não tínhamos prática de atender ao público. Agora eram
estudantes de 1º e 2º graus, gente que vinha do
interior para conhecer o acervo do Museu. Na
verdade, a gente tinha pouca coisa para mostrar.
Além da falta de prática, havia a falta de instalações. Nesse cenário, e num contexto de improvisação, fomos salvos por esse nome Museu. Na
estrutura da Universidade ficamos muito tempo
meio marginalizados. Sabíamos que éramos competentes. Havia realmente uma produção científica, a revista que editávamos, as pesquisas que
continuavam. Havia prestígio externo. Mas no
cenário da Universidade agora instalada, com uma
outra dinâmica, o que interessava era o professor em sala de aula. Então, nesse cenário, ficamos à margem. Fomos lotados como professores no Departamento de Sociologia. O grupo de
Sociologia tinha pouca identidade conosco. Essa
identidade foi aos poucos sendo construída. Até
então nós tínhamos uma vida razoavelmente independente. Os departamentos até 1970 eram
muito frágeis. Nesse cenário começamos a pensar, como atender ao público, como assumir o
aspecto de face da Universidade, já que o público quando vem aqui na Universidade, no campus,
que naquela época era muito pequeno, quer ver
alguma coisa; no caso, o Museu. Então fizemos
alguns arranjos no prédio: improvisamos uma
cobertura aqui, onde estamos, muito pobre; colocamos algumas coisas referentes à Etnologia,
à Cultura popular , como carro de boi, boi-demamão, uma carroça, e peças de olaria.
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Foi nesse cenário que atraímos o professor
Franklin Joaquim Cascaes, que para cá veio por
meio de um convênio que atendendo a um apelo
meu, foi firmado com a Prefeitura de
Florianópolis, cujo prefeito era Nilton Severo da
Costa, que havia sido aluno do professor Cascaes
na Escola Técnica Federal. O professor Cascaes
passou a ser pago por esse convênio com a Universidade. Assim, ficou por dois ou três anos.
Ele exigiu, para vir para cá, que houvesse um
pouco de dinheiro a fim de que ele pudesse continuar com suas pesquisas. Ele não queria salário. Só três ou quatro anos mais tarde que a
Universidade encontrou uma forma para contratar o Cascaes. Nesse
ínterim, Cascaes removeu da sua casa
para o ambiente do
Museu o seu acervo.
Na administração do
professor Caspar
Erich
Stemmer
(1976/1980), foram
construídas duas dessas salas que temos
aqui, onde o Cascaes
instalou as suas exposições. O acervo do
Cascaes chegou num
Índio Xokleng. Autoria: Domingos Fossari
Técnica carvão sobre papel
Índio Kaingang. Autoria: Domingos Fossari
Técnica carvão sobre papel
Santa Catarina, sobre a cultura do
seu povo. O processo de urbanização da Ilha se acentuava. Então o
acervo do Cascaes foi redescoberto
e começou a ser valorizado. Isso repercutiu na imagem do Museu.
Quem queria saber alguma coisa da
Ilha recebia a informação "vá ao
Museu Universitário, o Cascaes está
lá". Ao mesmo tempo as pesquisas
de Arqueologia e Etnologia continuavam. Os acervos foram crescendo por meio de doações. Recebemos
Índio Guraní. Autoria: Domingos Fossari
várias doações importantes, como a
Técnica carvão sobre papel
do Tom Wildi, que veio para cá nos
momento em que
anos 70. Desta maneira, o Museu continuou cresFlorianópolis crescendo. Outras salas foram construídas. O nome
cia, que a Univermuseu acabou pegando e ficou. Mas, felizmensidade crescia.
te, não se perdeu da tradição da qualidade da
Alunos vinham do
pesquisa que aqui se fazia. Ela teve prosseguiinterior ou de oumento, e também o ensino.
tros estados. Ao
Devo voltar um pouco atrás para dizer que
mesmo tempo cheno ano de 1970, no início, já era rotina a presengava o pessoal da
ça dos estudantes graduados que aqui faziam esEletrosul. Acontetágios durante um ano, às vezes mais. A partir
ceu uma expansão
daqui se candidatavam a fazer pós-graduação
urbana. Chegaram
no país ou fora dele. Houve vários casos. Recepessoas de outras
bemos alunos de todo o estado e de outros loregiões que nada
cais. Vieram atraídos pela fama que o Museu
sabiam da Ilha de
havia adquirido. Nesse cenário, em 1974, pen-
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
17
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
samos em criar um curso de especialização em
rado de Antropologia, mais ajustado a uma outra
Antropologia. Essa idéia tinha a professora
proposta que está sendo estudada por parte dos
Anamaria Beck, à frente. Mas as negociações
colegas de Ciências Sociais, que contemplam um
com o Departamento de Sociologia foram difíprojeto de Sociologia Política, também em nível
ceis. Nós éramos em seis ou sete e o número de
de doutorado. Os alunos fazem intercâmbio de
sociólogos já era dez ou onze. Entretanto, o grudisciplinas, etc.
po de sociólogos não dispunha de professores
Tudo isso demonstra a trajetória que se copós-graduados em número suficiente para tammeçou no Instituto de Antropologia. Esta casa
bém propor um curso de especialização. Houve,
tem tradição. A parte amarela do prédio era a
por parte do Departamento de Sociologia, uma
estrebaria da Fazenda "Assis Brasil". Falo isto
certa restrição à nossa proposta, desde que essa
para lembrar o Dr. Cabral, que gostava de inforse limitava a atender só ao interesse da Antropomar aos visitantes que aqui era a antiga estrebaria
logia. Para levar o projeto a termo, tivemos que
da Fazenda "Assis Brasil", e completava, "feliz
incluir a área de Sociologia. O curso acabou
de quem pode transformar uma estrebaria num
saindo com a denominação Curso de Pós-Gracentro de ciências".
duação em Ciências Sociais, Especialização em
Sociologia e Antropologia, instalado em 1976.
Já em 1978, esse curso passava para a condição
de mestrado.
Agora já se discute o doutorado. Nesta altura, já está tudo separado. Nos anos 80, o Departamento de Sociologia passou a se chamar
Ciências Sociais. Foi criado um Curso de Graduação em Ciências Sociais. O Departamento de
Ciências Sociais obteve boas instalações
aqui no prédio do
CFH, compartilhando
com o grupo de Antropologia. Aquelas
dificuldades de relacionamento foram evidentemente superadas. O Departamento
cresceu, chegou a um
momento que tinha
mais de quarenta professores. Nos anos 90
foi criado o Departamento de Antropologia, separando-se do
Departamento de Sociologia e da Política.
Mas, mesmo assim,
mantém com esses
nossos colegas relações extremamente
Boitata Enamorado. Nanquim sobre papel. Autoria: Franklin Cascaes
fraternas. Estamos
pensando num douto18
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DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Alr
oino Baltazar Eb
le - In memoriam
Alroino
Eble
(dir
etor no período de 1975 a 1976)
(diretor
Por Gelci J
osé Coelho “P
eninha”
José
“Peninha”
Dirigiu o Museu de Antropologia no período de1975 a 1976, período em que iniciou a
ampliação de visitação ao Museu, para a comunidade externa da UFSC, pois na concepção dele
o Museu era antes de tudo um Instituto de pesquisas em Antropologia com laboratórios e uma
excelente biblioteca especializada. O auditório
abria-se à comunidade universitária, provocando uma significativa freqüência de pessoas ao
Instituto de Antropologia, que oferecia encontros e palestras com eminentes cientistas nacionais e internacionais, e depois o Museu, além de
toda a atividade acadêmica e de pesquisa, apresenta pequenas exposições de objetos arqueológicos, artefatos indígenas , arte popular do fol-
clore regional, máquinas pré-industriais como o
engenho de fabricar farinha de mandioca e o de
fabricar açúcar de cana. Também o torno de oleiro, canoa, carroça, carro de bois, tear manual,
pilão, gamela e balaios.
Além de todo esse acervo, ingressara no
Museu a coleção "Profª. Elizabeth Pavan
Cascaes", de autoria do artista e professor
Franklin Joaquim Cascaes, que montava exposições de seus conjuntos de esculturas e desenhos
no Museu. Toda essa oportunidade era oferecida
principalmente ao público acadêmico e o professor Eble buscava ampliar a visitação da comunidade externa ao Museu. Como atrair o público? O Museu só faz sentido com a presença do
público. O Eble era vanguarda e apoiou o artista Franklin Cascaes quando da implantação
das instalações artísticas com temas que se
transformaram em tradição. Principalmente o
presépio, atraindo verdadeiras populações
para a sua apreciação. Como tais manifestações são realizadas em frente ao Museu, acaba
por possibilitar uma visita às exposições, até
como um complemento do lazer cultural, permitindo uma ampla visibilidade do Museu e
todo o seu significado. Foi um importante início nas atividades educativas voltadas para a
comunidade e por ela reconhecido.
Professor Eble, como gostava de ser chamado, era um cientista/erudito, de espírito jovem, polêmico e desafiador. Foi um privilégio conviver com semelhante espírito de luz.
A professora Anamaria Beck foi quem me
apresentou, mas foi o professor Eble que me
convidou para trabalhar junto ao setor de Cultura popular, auxiliando o professor Cascaes.
Era exatamente o que eu buscava. Tentar
aprender e entender a minha própria herança
cultural. O Museu é repleto de possibilidades,
e estou imensamente agradecido ao professor
Alroino Baltazar Eble, in memoriam.
Urna Pacoval. Ilha de Marajó. Coleção Tom Wild
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
19
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Alr
oino Baltazar Eb
le - In memoriam
Alroino
Eble
(dir
etor no período de 1975 a 1976)
(diretor
Por Maria J
osé R
eis
José
Reis
Em 21 de junho de 1990,
parentes e amigos, nos despedimos do Eble (assim eu o chamava), na "sua" Blumenau, de que
se fizera filho a partir dos 11 anos
de idade.
Embora tivéssemos ambos
nascido em Rio do Sul (SC), só
vim a conhecê-lo pessoalmente
em meados da década de sessenta, já na UFSC. Antes dele, chegaram até mim os "diz-que-diz",
próprios de uma pequena universidade, que contava, à época,
com apenas quinhentos alunos.
Comentava-se que ingressara em
nosso curso de História um "rapaz de Blumenau" que fazia furor entre os colegas, provocando, também, inquietação e até irritação em alguns
professores, satisfação em outros, pelo seu indiscutível preparo intelectual, pela ousadia e
irreverência com que expunha suas idéias. Era bem
informado em várias áreas de conhecimento, além
da História; um pouco ao estilo dos "naturalistas" do século XIX. Aventurava-se, ainda, na literatura, tendo publicado uma coletânea de poesias que escrevera aos dezenove anos de idade.
Sua grande paixão, no entanto, já era a Arqueologia.
Mal terminara a graduação na UFSC (1969),
iniciava um Curso de Pós-graduação em Antropologia na Pennsylvania State University, onde
permaneceu por um ano.
Ingressamos ambos na UFSC, em março de
1971, como professores. Daí para frente, como
eu também optara por fazer carreira na Arqueologia, desenvolvemos juntos várias atividades acadêmicas. Em 1972, visitamos os Museus Antropológicos do Rio Grande do Sul e, no mesmo
ano, realizamos levantamentos de sítios arqueológicos no Alto Vale do Itajaí (SC). Em 1973 iniciamos o Mestrado na USP. Em 1976, realizamos pesquisa em sítios da região da Serra do Tabuleiro (SC). Em tudo que compartilhamos, foi
20
Visita guiada
um bom companheiro.
Eble elegeu, todavia, como sua área preferencial de pesquisa, o Vale do Itajaí, tendo publicado, principalmente nos Anais do Museu de
Antropologia da UFSC, vários artigos sobre a
Arqueologia da região. Sua trajetória acadêmica incluiu uma curta viagem de estudos a Paris,
além de ter dirigido, por um ano, nosso Museu
de Antropologia. A par destas atividades, lecionou disciplinas de Antropologia para diferentes
cursos. Sua imagem como professor foi sempre
contraditória, acredito que pelo caráter polêmi-
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Anamaria Bec
k
Beck
O Museu na verdade iniciou como Instituto de Antropologia
e foi uma idéia que começou a ser construída
no início da década de
1960, quando o Dr.
Cabral, o professor
Walter
Fernando
Piazza e o professor
Sílvio Coelho dos Santos (na época assistente do Dr. Cabral) resolveram reunir um grupo não apenas de professores mas também
de pesquisadores; um
grupo de antropólogos. Foi uma idéia
muito interessante
porque o processo de
construção desse grupo, a idéia de termos um Instituto de Antropologia, foi se consolidando. Inicialmente no sentido de formar pessoas, e vários alunos nesse
processo foram escolhidos dentro das disciplinas de Antropologia dos cursos de História e
Geografia. E nesse sentido, por exemplo, começamos a ter bolsas de estudos das instituições
nacionais para fazermos nossa formação fora de
Santa Catarina, como foi o caso inicial do professor Sílvio Coelho dos Santos, do Marcílio
Dias dos Santos, eu mesma, do professor Luís
Carlos Halfpap, do Alroino Baltazar Eble, já falecido, que foi também diretor do Museu, das
professoras Maria José Reis, Neusa Maria Sens
Bloemer, da Sônia Ferrari e Giralda Seiferth. A
Sônia Ferrari hoje está na USP e a Giralda
Seiferth está no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Esse conjunto de professores (inicialmente éramos alunos) estava querendo uma pós-graduação para dinamizar esse grupo de estudos de
Antropologia, que foi constituindo-se no Instituto de Antropologia. À medida que começávamos a voltar da nossa pós-graduação, conso-
(dir
etor
a no período de 1977 a 1982)
(diretor
etora
Higienização do Acervo de Franklin Cascaes
lidou-se a idéia de termos um espaço físico mais
amplo do que tínhamos na faculdade de Filosofia, da antiga faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras e se optou então por uma área no campus
universitário que estava abandonada, e que era
um estábulo. O laboratório, por exemplo, era o
curral onde as vacas eram ordenhadas, e se transformou inicialmente no laboratório de Arqueologia e Antropologia Física, e atualmente só o
laboratório de Arqueologia.
Lamentavelmente, com a Reforma Universitária, que foi dura na sua implantação, a idéia
de Instituto foi banida, e a única saída regimental, estatutária e burocrática que encontramos
para manter o Instituto de Antropologia foi
transformá-lo em um Museu. É a partir desse
momento então passamos a dar ênfase à parte
de exposições. Até então, nos dedicávamos mais
às pesquisas e ministrávamos aulas. Todos nós
cursávamos alguma disciplina dentro do programa em que atuávamos de acordo com a nossa
especialização, nas várias disciplinas da Antropologia mas, a partir da Reforma Universitária,
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21
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
ocorreu um fenômeno muito interessante, pois
se ampliou o grupo de Antropologia porque como
disciplina passou a ser ministrada para vários cursos. Então tínhamos que atender a essa demanda
e ampliar a área de exposições. Também a partir
da Reforma Universitária é que há uma grande
ênfase na necessidade de formalizar a pós-graduação. Os cursos de doutorado são concluídos,
o grupo vai tornando-se muito mais qualificado.
É muito interessante porque é um dos poucos
grupos no início de criação da UFSC que teve
uma qualificação mais ou menos homogênea; à
medida que os novos alunos entravam, já iam
para o mestrado ou para o doutorado, tínhamos
então um encaminhamento nessa direção. Com a
Reforma Universitária, criamos e começamos o
trabalho de regulamentação do estágio, recebemos alunos de praticamente todo o Brasil, como
estagiários. Não existia ainda a pós-graduação em
Antropologia e todo este processo acontecia
dentro do Museu, entendia-se que ele funcionava
como um órgão suplementar da universidade, assim como a Biblioteca Central, Imprensa Universitária, Restaurante Universitário e outros. O Museu era um órgão suplementar diretamente subordinado ao gabinete do reitor, conseqüentemente
não era um órgão didático, não era um departamento de ensino; os professores que ali atuavam
ficavam lotados no Departamento de Ciências Sociais e atendiam a toda a parte didática das disciplinas de Antropologia. Houve um momento em
que tivemos uma sobrecarga muito grande, o pessoal do Museu fazia tudo, nós tínhamos aula da
graduação, o estágio no Museu, atendíamos até
doze turmas de estagiários por ano, de acordo
com a especialidade. Havia seminários comuns e
específicos, dependendo da área da especialização e também atendíamos a nossa pesquisa e a
nossa própria pós-graduação, os que já eram professores e já estavam incluídos na carreira. Mudou muito com a Reforma Universitária. Todos
nós tínhamos a nossa pós-graduação, mestrado
ou doutorado, e não tínhamos uma licença para
fazer isso, particularmente o professor Sílvio e
eu tivemos esse problema. Nós não fomos dispensados da aula para fazer o doutorado, isso
aconteceu com outros professores, só que eles
tiveram alguns períodos para que isso pudesse ser
feito. Já outros professores fizeram a sua pós22
graduação antes de ingressar na carreira, foi um
momento bastante penoso da perspectiva na
quantidade de trabalho, mas também foi um
momento muito rico na história do Museu, pois
tínhamos um intercâmbio muito grande com várias universidades, não só do Brasil, mas com
universidades da área do Prata. Chamamos área
do Prata por causa da sua área arqueológica que
corresponde à Argentina, Uruguai e Paraguai,
não só da perspectiva da Arqueologia, mas também da Etnologia indígena. Com a implantação
da Reforma Universitária, em 1970, foi muito
difícil e assim continuando durante toda essa década. Já há uma regulamentação melhor na questão da pós-graduação; as pessoas já podem sair
com bolsas, há substituição de professores que
saem para pós-graduação. Criamos um Mestrado
de Antropologia Social; conseqüentemente conseguimos trazer também professores doutores
Elementos de pescaria
para a UFSC. Assim então foi dando um espaço
para respirar, mas a década de 1970 foi bastante pesada na perspectiva de trabalho, mas foi também uma década muito rica em termos de experiências que aqui se desenvolveram. A experiência mais rica foi a de trabalhar a questão de
ensino e pesquisa de forma articulada, que a mim
tocou bastante. Conseguiu-se que todo este
grupo pudesse ter efetivamente um momento de
encontro, que era exatamente a área didática,
porque se não cada grupo ficava no seu setor
trabalhando até de uma forma aprofundada, mas
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DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
um tanto isolada. Foi nesse período também que
fizemos uma experiência que infelizmente não
continuou. Foram as primeiras reuniões de professores de Antropologia do sul do Brasil, reunindo professores dessa região para trocar experiências, organizar os mestrados que foram
criados e as pesquisas. Também passamos a participar de uma Mostra Nacional de Museus.
Trouxemos para a universidade, para o hall da
reitoria, uma mostra de museus que foi muito
interessante, como por exemplo, pequenos museus do interior do estado de Santa Catarina,
pequenos museus históricos, etnológicos, de Arqueologia, que estavam na nossa área direta de
interesse, trazendo-nos grandes informações do
que acontecia em termos de museus e de
Museologia no interior do estado. Entendíamos
que o papel do Museu era ter uma liderança efetiva nessa área em Santa Catarina, considerando
a importância dos museus. Então esse foi mais
um setor que tivemos que desenvolver, pois ainda
não existia no Museu um setor de Museologia
propriamente dito. Toda a nossa atividade a partir da reforma e da transformação do Instituto
em Museu foi uma atividade também marcada
por esse interesse museológico. Não éramos apenas um museu que mostrava o andar das nossas
pesquisas, mas era um museu que tinha preocupação como elemento de informação, comunicação e formação da comunidade catarinense.
Também nessa década, foi firmado importante
convênio que nos permitiu trazer para o Museu
o professor Franklin Joaquim Cascaes - 19791980, período em que eu já era diretora -, dando-nos imensa contribuição, sobre a cultura popular do litoral catarinense. Alguns anos antes
do seu falecimento, foi firmado um convênio, no
qual deixou toda a sua coleção para a UFSC, o
que permitiu a sua permanência em Santa
Catarina e também a sua conservação aqui no
Museu. Em função disso, algumas pessoas foram mandadas para fazer cursos de conservação
em cerâmica e papel, que era fundamental, principalmente no que se refere à coleção Cascaes.
Acho que essa perspectiva colocava o Museu
como um referencial da cultura e sociedade
catarinenses, começando pela Arqueologia de
oito mil anos atrás e chegando aos grupos atuais de colonizadores. Na verdade foi uma pers-
pectiva que, em termos globais, talvez não tenha
se realizado, mas deu, sem dúvida, uma grande
contribuição ao aprofundamento e entendimento
de algumas questões dessa cultura. Talvez não
nos tenhamos aprofundado muito na questão da
imigração européia; mas na cultura popular do
litoral, na Arqueologia e na questão indígena, o
Museu deu e está dando até hoje uma contribuição muito importante para o seu aprofundamento.
Um dos seus setores que foi bastante dinamizado é o Setor de Arqueologia (pré-colonial e histórica), até porque Santa Catarina é um estado
muito rico na perspectiva arqueológica. Então a
Arqueologia brasileira sempre foi extremamente
dinamizada, e alguns desses trabalhos importantes na Arqueologia brasileira foram feitos aqui,
particularmente os trabalhos com sambaquis. A
Arqueologia se constituiu num setor bastante dinâmico do Museu, não só em termos de pesquisa, mas também em exposições. Eu fui diretora
no período de dezembro de 1977 a maio de 1982
e, nesse período, dinamizamos as exposições,
inaugurando duas salas novas, uma de Geologia
e outra com o material do Cascaes. Havia também uma sala de exposições do Setor de
Etnologia Indígena e um Setor de exposições de
Arqueologia, nos quais expúnhamos o acervo da
nossa pesquisa e da nossa produção, no caso do
Cascaes, a produção de uma vida, que era uma
coisa muito bonita e continua sendo até hoje um
dos aspectos muito significativo do Museu. Algumas das coisas boas que fizemos nesse período, além da incorporação do Cascaes, da
dinamização da parte didático-pedagógica e didática da Antropologia, foi também essa
dinamização no setor de exposições, e poder
mostrar em congressos, além de escrever a respeito, os resultados das nossas pesquisas, como
também por meio de exposições no Museu. Uma
outra coisa de que eu me lembro, são os Anais
do Museu de Antropologia, que estamos tentando agora dinamizar. O Museu publicou, e esperamos que continue publicando, uma revista anual
inicialmente com a produção do seu pessoal, os
pesquisadores, e depois fomos incorporando contribuições de outras áreas da universidade, principalmente de ciências humanas e também de
antropólogos de outras universidades.
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
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DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Neusa Maria Sens Bloemer
Eu estive na direção do Museu de Antropologia, como era chamado na época, no período
de 1982 a 1986.
Quando fui convidada para assumir a direção do Museu vi-me diante de um desafio, primeiro porque nunca havia administrado um órgão público e segundo porque não se tratava de
qualquer órgão público, mas de um Instituto de
Pesquisa. O que veio a se constituir o atual Museu Universitário nasceu de um órgão de pesquisa na Universidade Federal de Santa Catarina,
criado pelo Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral.
Zoólito. Coletado na Ponta do Leal - SC.
A primeira iniciativa que tomei no primeiro
ano de minha administração foi dar visibilidade
ao Museu, usando como recurso a atração de um
maior número de visitantes. Aliás, esta era uma
antiga idéia do professor David Ferreira Lima porque, na sua concepção, o Museu de Antropologia deveria ser o "cartão postal" da Universidade
Federal de Santa Catarina. Afinal, tratava-se, no
seu entender, de um local em que se desenvolviam pesquisas, e o material coletado, por exemplo, material arqueológico, deveria ser apresentado ao público com análises e interpretações re24
(dir
etor no período de 1982 a 1986)
(diretor
sultantes destes estudos. Portanto, administrar
um órgão com este caráter exigia não só responsabilidade, mas também, muita disposição
para a ação, o que encarei como um desafio.
Assim, minha gestão foi, em parte, inspirada nessa perspectiva do professor David Ferreira
Lima, como também do professor Ernani Bayer,
que era o reitor quando assumi a administração
do Museu, e que também trazia pessoalmente
visitantes para conhecê-lo. Vale ressaltar, no entanto, que nessa época, afinal já estávamos em
1982, o Museu já não tinha mais o mesmo apoio
financeiro no âmbito
federal, uma vez que
as verbas destinadas
às pesquisas eram
muito disputadas e havia um grande número de pesquisadores
concorrendo para obtenção de tais verbas,
a maioria delas provenientes de projetos
apresentados
ao
CNPq, Fundação
Ford, etc.
Pensando, portanto, em divulgar e
dar visibilidade ao
Museu de Antropologia, foi que passamos
a incentivar os diretores de escolas básicas
e secundárias da Grande Florianópolis, para que
mandassem seus alunos em visita oficial ao Museu da UFSC. Nessa proposta, recomendávamos que marcassem a visita antecipadamente, a
fim de que pudéssemos dispor de pessoal para
atendimento a estes visitantes especiais, porque
se a estes tratava de crianças em formação, que
precisavam aprender sobre a importância de um
museu, sobre a preservação do patrimônio cultural e, inclusive, sobre como se comportar em
um museu. A maioria das crianças nunca tinham
visto uma instituição desse tipo e se encanta-
Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
vam. Em pouco tempo, a demanda foi aumentando e tivemos
necessidade de contar com a atuação
dos estudantes que
estagiavam no Museu de Antropologia,
provenientes dos
cursos de História,
Arqueologia e Ciências Sociais. Estes
estagiários eram preparados para acompanhar as visitas, informando e explicando sobre o material
que se encontrava
exposto em cada
uma das salas. Desta forma, os alunos das escolas tinham, além do contato visual com o material, informações sobre sua procedência, forma de
coleta, tipo de pesquisa realizada, quem o havia
pesquisado, etc. Obtinham, assim, conhecimentos sobre os grupos indígenas de Santa Catarina
e alguns outros do Brasil, sobre os sítios arqueológicos e, ainda, sobre alguns costumes dos
açorianos que ocuparam o litoral de Santa
Catarina. Este trabalho educativo deu visibilidade ao Museu. Foi muito importante porque além
de se tornar conhecido por estudantes de diferentes localidades, também adquiriu visibilidade,
inclusive, junto à administração da Universidade. Você sabe, quem não é visto não é lembrado
e, conseqüentemente passa a ser esquecido. Tratava-se de uma estratégia administrativa. Conseguimos no período de dois anos dobrar o número de visitantes provenientes das escolas. Se
no início tínhamos visitas de novecentas crianças por ano, passamos a ter dois mil e quinhentos até quatro mil crianças no decorrer de um
ano. Isso foi devidamente registrado nos livros
de visitas e nas agendas de visitação. O movimento era tão intenso que, inclusive, alguns colegas da Universidade perguntavam o que estava acontecendo no Museu, com movimento de
tantos ônibus estacionados em suas imediações.
Tratava-se, apenas, de um serviço que a Universidade por meio do Museu de Antropologia pres-
O Cacumbi. Coleção Escultórica. Autoria: Franklin Cascaes
tava à comunidade, um verdadeiro trabalho de
extensão universitária.
Em decorrência desse trabalho, passamos a
ser solicitados a proferir palestras em diferentes
escolas, para falar sobre os grupos indígenas de
Santa Catarina, sobre preconceito, etc; neste trabalho, envolvemos alguns pesquisadores e estagiários do Museu.
A aproximação com a comunidade demandou um outro trabalho. Realizamos um projeto
de atendimento a pessoas que queriam aprender
a fazer alguns trabalhos artísticos. E, com a colaboração de artistas populares, realizamos oficinas nas quais se ensinava a fazer máscaras com
papel machet, trabalho com barro, confecção de
brinquedos tais como pandorga, etc. Essa demanda exigia a colaboração de pessoas que se
prontificavam, como voluntários, a ensinar. Eram
os verdadeiros "amigos do Museu".
Por outro lado, Florianópolis começara a ser
descoberta por gaúchos e paulistas, exigindo que
participássemos desse processo, e começamos
então a abrir o Museu aos sábados à tarde. Esta
era uma ação complicada. Não tínhamos recursos para pagar horas extras aos funcionários e
por isso acordamos com eles que teriam um dia
de folga durante a semana. Por esta nova proposta, passamos a ser indicados nos folders elaborados pela Secretaria de Turismo do município como um ponto turístico a ser visitado. No
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DIRETORES
verão, as visitas eram poucas porque as praias da
Ilha são muito atraentes, mas no inverno, ao que
tudo indicava, visitar o Museu era considerado
uma boa opção.
Outro desafio a ser vencido foi a retomada
da publicação da Revista de Antropologia, cuja
publicação, por falta de recursos financeiros, havia sido interrompida, assim como conseguiu recursos para a realização de pesquisas. Graças à
visibilidade que o Museu adquirira e a sensibilidade e identificação do professor Sílvio Coelho
dos Santos, então pró-reitor de pesquisa, para com
as propostas do Museu, obtivemos apoio financeiro para editar a revista, respeitando a sua periodicidade anual. Ela havia deixado de ser
publicada por uns cinco anos. A revista ampliou
o espaço de divulgação da produção acadêmica,
não só para os pesquisadores do Museu de Antropologia, mas abriu também espaço para o Centro de Ciências Humanas. Eu ainda era professora do Departamento de Ciências Sociais, área de
Antropologia, e coloquei o espaço da revista à
disposição dos colegas pesquisadores. Não tivemos dificuldades em compor os números porque
o Centro ainda não tinha uma revista e já contávamos com muitos pesquisadores nos diversos
departamentos, produzindo artigos. É interessante
ressaltar que a Revista de Antropologia do Museu circulava em âmbito nacional e internacional,
e eu tenho certeza absoluta de que, até hoje, a
administração recebe correspondência dos E.U.A,
solicitando os exemplares da Revista do Museu
de Antropologia. A prática da permuta era usual.
Nós remetíamos a nossa publicação e em troca
recebíamos publicações de diversos institutos de
pesquisa não só do Brasil como de institutos internacionais. Assim, a nossa produção era amplamente divulgada e, por outro lado, podíamos
conhecer o que estavam pesquisando em outros
locais.
Os trabalhos de pesquisa relacionados à Arqueologia também foram priorizados com a vinda da arqueóloga Teresa Domitila Fossari para o
Museu. Esta profissional teve como desafio identificar e catalogar um imenso material de Arqueologia que se encontrava apenas depositado no
Museu, mas ainda pouco trabalhado. Em função
dessa sua experiência, posteriormente, o Museu
foi chamado a fazer levantamentos arqueológi26
cos em sítios da
Ilha de Santa
Catarina, com o
objetivo de realizar
o salvamento desse material, que
deveria ser devidamente registrado
antes que ali se implantasse
um
loteamento, como
foi o caso de Jurerê
Internacional.
Além de pesquisas, do atendimento ao público e
da publicação dos
Anais, no decorrer
de 1985, o Museu Máscara Tikuna - Amazonas
de Antropologia,
por meio de sua
direção, envolveu-se politicamente com a demarcação das Terras Indígenas do Toldo
Chimbangue. Eu havia sido solicitada, juntamente com a professora Aneliese Nacke para que,
como antropólogas, elaborássemos o laudo antropológico que subsidiaria a demarcação daquelas terras indígenas. Devo salientar que a
identificação dos funcionários do Museu com a
causa indígena foi fundamental para esta luta.
Contamos com o apoio de seu corpo administrativo e de seus pesquisadores, de modo especial da Maria Dorothea Post Darella, recémtransferida para o Museu, e da Teresa Fossari
que sempre estiveram prontas a colaborar. O
Museu transformou-se no local de apoio para
os Kaingang do Toldo Chimbangue, em
Florianópolis, pois tanto divulgava e informava
à imprensa local e nacional sobre sua luta quanto encabeçava listas de abaixo-assinados, encaminhando correspondências para ministros, deputados e senadores para que se comprometessem e se empenhassem na solução do problema
e ainda estimulava manifestações públicas. Promovemos um ato público na Assembléia
Legislativa, lotando aquele espaço, tanto com
indígenas Kaingang que vieram dar o seu depoimento quanto com manifestantes e simpatizantes da causa indígena, mas sem acusar ou pena-
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lizar os colonos que ocupavam as terras porque
entendíamos que eles também eram vítimas do
processo. Há belas fotos desse ato público. Ocupamos espaço na imprensa local e nacional naquela ocasião.
À medida que fomos expandindo as atividades do Museu, tivemos necessidade de aprimorar e aperfeiçoar a nossa mão-de-obra. Uma
iniciativa nessa direção foi encaminhar uma estudante para estagiar junto ao Museu Paulista
da Universidade de São Paulo, localizado no
bairro do Ipiranga/SP, e por isso conhecido também como Museu do Ipiranga. Todos sabíamos
da riqueza desse Museu em termos de coleções
etnológicas, arqueológicas, históricas e da competência dos profissionais que lá se encontravam,
entre os quais destaco a Dra. Thekla Hartmann e
Sonia T. Ferraro Dorta, que deram total apoio à
nossa proposta. Estagiar no Museu Paulista era
um sonho para muita gente, mas foi realidade
para a Cristina Castellano. Quando eu saí do
Museu, esta estagiária ainda não havia retornado,
mas por certo veio com uma bela bagagem.
Ainda em relação à preocupação com o preparo da mão-de-obra que atuava no Museu, ten-
tamos envolver seus próprios funcionários nos
projetos. Um destes projetos foi a realização de
uma festa junina em frente ao Museu de Antropologia, em que se priorizava apresentar somente o que fosse da "tradição junina". Uma espécie
de saudosismo tomou conta de todos nós. Os
funcionários lembravam de suas festas de infância nos bairros periféricos à Universidade, e cada
um dava a sua contribuição em termos de idéias.
Neste evento tivemos o total apoio da professora Zuleika Mussi Lenzi, que era diretora do Departamento de Cultura da Universidade. Numa
parceria, realizamos a festa, que foi aplaudida
pelos funcionários da Universidade e pela comunidade que residia em torno da Universidade; foi
um sucesso. Foi uma coisa meio afoita da nossa
parte, na medida em que as festas juninas eram
realizadas pelas escolas e não pela Universidade.
Conseguimos a contribuição do comércio local
que fez doação de guloseimas tais como,
paçoquinha, pipoca, amendoim, mas sem a proposta de ganhos financeiros porque o objetivo
central era apenas retomar uma festa junina como
uma "tradição cultural". Foi muito interessante
porque nós fizemos em um ano e no seguinte
Detalhe da Procissão do Senhor Morto. Coleção Escultórica de autoria de Franklin Cascaes
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houve cobrança da comunidade universitária para
que se fizesse outra festa. Não me lembro exatamente porque deixamos de promover este evento.
Em termos administrativos, vale destacar que
a direção do Museu tinha como uma de suas práticas a realização de reuniões quinzenais com todos os funcionários, independente da função que
exercessem: serventes, pesquisadores,
museólogo, vigilantes, todos deveriam estar comprometidos com os projetos do Museu, desde a
idéia original até sua execução. Nestas reuniões
os funcionários tinham total liberdade para exporem suas pretensões, o que gostavam e o que não
gostavam, as dificuldades que tinham em lidar com
o acervo, com os visitantes, enfim, como deveríamos administrar a casa, de forma que todos, ou
pelo menos a maioria, estivessem satisfeitos e
compreendessem cada trabalho que era executado. Aliás, um dos aspectos ressaltados nestas reuniões era justamente a importância do trabalho
de cada um para que o Museu pudesse ser querido e amado pelo público que o visitava. Neste
sentido, era necessário, também, envolver o funcionário com o acervo que ele lidava todos os
dias. Em decorrência dessa festa junina surgiu uma
programação que teve um fim educativo, com
ótimos resultados. Surgiu a idéia de abrir um es-
Zoólito. Sambaqui do Perrixil. Laguna - SC
28
paço para que os funcionários do Museu criassem alguma coisa relativa à cultura popular da
Ilha. Inicialmente, ficaram muito inibidos, até que
Gelci José Coelho (Peninha), que havia feito especialização em Museologia, na USP, teve a idéia
de representar uma festa junina. Esta festa, criada pelos funcionários do Museu, foi toda representada em bonequinhos de barro, muito pequenos, com uns 8cm de altura, que eles coloriram,
apresentando-se como verdadeiros artistas populares. Foi uma coisa magnífica, belíssima. Inclusive, alguns canais da televisão local divulgaram este trabalho para o público. Foi montado
um grande estrado no qual se apresentou uma
comunidade em miniatura, com representações
que iam desde o estábulo, a casa, a igreja local,
as barraquinhas de biscoito, barraquinhas de cocada, enfim, tudo que compõe uma pequena comunidade comemorando uma festa junina. É interessante registrar que eles próprios se surpreenderam com a sua capacidade criativa, vibraram com o trabalho que fizeram e se identificaram como artistas. A produção desse trabalho,
além de melhorar a auto-imagem dos funcionários, aproximou-os porque, apesar de exercerem funções diferentes, perceberam que se tornaram iguais por meio da criatividade. Aliás,
durante a execução do trabalho um auxiliava o
outro, trazendo
material de casa.
Tivemos momentos de grande
sintonia. Foi absolutamente feliz a
idéia, educativa,
tal como desejávamos, porque o
acervo do Museu
também passou a
ser visto com outros olhos. Afinal,
puderam compreender o que significa criar e poder
apresentar a produção ao público.
Como estava
dizendo, o resultado deste traba-
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lho foi fantástico porque os próprios funcionários se surpreenderam com a sua
criatividade e eles
mesmos ficaram empolgados com o seu
trabalho. A partir disso, passamos a
incentivá-los no sentido de desenvolverem
outros trabalhos artísticos. Eu fiquei sabendo, posteriormente,
que houve funcionário que começou a
pintar. Mas o resultado, a meu ver, mais
importante para o
Museu foi a compreensão sobre o que seja
um trabalho de arte,
por meio da própria
prática, demonstrando zelo por sua produção e muito orgulho dela. Se, por ventura, alguma criança,
ao visitar a exposição,
tentasse pôr a mão e
pegar
um
bonequinho, eles se
aproximavam e orientavam para ter cuidado e não mexer, apenas olhar. Então foi um aprendizado no sentido de cuidar do Museu, de respeitar e compreender o seu acervo.
Isso foi muito positivo, especialmente porque tínhamos a obra de Franklim Cascaes que se
encontrava exposta, e é muito frágil, uma vez que
também é composta por bonecos de barro e de
gesso e exigem um cuidado muito especial ao se
tirar o pó, remover de um local para outro, e com
isso eles passaram a ter muito mais cuidado com
o acervo no sentido de perceber, inclusive, que
aquele trabalho já não podia mais ser reposto
porque o seu criador não se encontrava mais
conosco. Esse trabalho e seu significado para os
funcionários foi extremamente positivo e produ-
O Vampiro. Nanquim sobre papel
Autoria de Franklin Cascaes
ziu outros frutos, permitindo que, juntamente
com a professora Zuleika Lenzi, fosse possível
incentivar os funcionários da Universidade a realizarem exposições das suas obras, dos seus trabalhos. Tínhamos na Universidade pintores, escultores, por vezes desconhecidos pela própria
comunidade universitária. Eu penso que isto é
positivo na medida em que se estimula e ensina
a valorizar o trabalho artístico e cultural e, ao
mesmo tempo, faz o funcionário se ver valorizado, com auto-estima positiva. Esta foi, portanto, uma pequena ação que teve resultados extremamente positivos em vários sentidos.
Depois que me afastei da direção do Museu de Antropologia, passei a atuar somente no
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DIRETORES
Departamento de Ciências Sociais e o meu contato com o Museu tornou-se esporádico, mas
sempre de muita afetividade. Foi motivo de muito orgulho para mim dirigir o Museu de Antropologia, mas foi um desafio pela imagem que eu
possuía dele e pela forma como entrei em contato com ele. Entre as razões, lembro-me primeiramente de que aqui neste prédio eu tive o
meu primeiro contato com a Antropologia, no
então Instituto, por meio das aulas do professor
Oswaldo Rodrigues Cabral, na década de 1960,
que, além de professor, era pesquisador e diretor desse Instituto. E, em segundo lugar, porque
foi neste Instituto que soube o que era ser pesquisador, durante o período em que fui estagiária do Instituto de Antropologia, realizando uma
especialização, antes de partir para o Mestrado
na Universidade de São Paulo. O Museu de Antropologia, que nasceu como um dos primeiros
Institutos de Pesquisa da UFSC, tinha, na década de 1960, um corpo de pesquisadores comprometidos, ética e socialmente. Nossas aulas
eram nesta sala do andar superior e, quando entrávamos no Instituto, o funcionário Hélio
Manoel Alves cobrava nosso comprovante de freqüência na entrada do prédio. Entregávamos a
ele um bilhetinho, como se fosse um passe de
ônibus, que trazia um carimbo com a data da aula.
O professor Cabral era extremamente organiza-
do e não perdia tempo fazendo chamada em sala
de aula. Você entregava e subia para a aula. A
sala era fechada e lá ocorria a aula cinqüenta minutos cravados, sem perder antes, nem depois;
ninguém entrava e ninguém saía para não perturbar a concentração. A exigência, o rigor, a sistematização eram ressaltados como absolutamente necessários para se fazer pesquisa, para se fazer ciência. Apesar da rigidez, todos os alunos
adoravam as aulas e nós não faltávamos. Assim,
fui despertada para a Antropologia, neste espaço, que hoje é o Museu Universitário. Posteriormente, tivemos aulas com o professor Sílvio Coelho dos Santos, que, por ter sido aluno do professor Cabral, não perdia em nada para o velho
mestre em termos de exigência. Aliás, foi exatamente o professor Sílvio que acabou substituindo o professor Cabral, quando este se afastou da
direção do Instituto de Antropologia em protesto à Reforma Universitária que se implantara em
1970.
Portanto, por todas estas razões, o Museu
Universitário continua sendo para mim um espaço que deve manter acesa a chama da pesquisa e
do trabalho de extensão universitária, como um
local de pesquisa, fazendo ciência e servindo à
comunidade ao divulgar os resultados dos seus
Higienização e acondicionamento do acervo arqueológico
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DIRETORES
Luis Car
los Halfpa
p
Carlos
Halfpap
Para mim, é uma satisfação estar
aqui na Universidade apresentando um
depoimento sobre a minha atividade no
Museu de Antropologia. Considero sempre importante a memória histórica, ela
deve ser cultivada porque é por meio dela
que se pode passar exemplos a gerações
futuras, sendo boas ou más memórias,
não importa.
Fui diretor nesse Museu de Antropologia no período de 1986 a 1992, portanto fiquei na direção dessa casa quase
seis anos; um bom tempo. Tenho a impressão de que fui um dos diretores que
permaneceu mais tempo nesse cargo. É
evidente que alguma coisa de positivo
nesse período se fez. Devo, no momento apropriado, apontar algumas coisas. Queria,
antes de mais nada, fazer uma pequena consideração, até porque, creio que no futuro não muito distante, alguém poderá fazer uma história
deste Museu e, ao fazê-la, esta pessoa, de uma
forma ou de outra, este estudioso, também estará fazendo uma história da Universidade Federal
de Santa Catarina.
O Museu foi criado pelo professor Oswaldo
Rodrigues Cabral, grande historiador, e, como
Instituto de Antropologia, foi inaugurado em
1968.
Inicialmente o Instituto de Antropologia
deveria trabalhar com a pesquisa científica nas
áreas da Antropologia e Arqueologia principalmente. No caso da Antropologia era subdividida
entre Física e Cultural.
O professor Cabral dava muita importância
à Antropologia Física e ministrava aulas a respeito desse assunto no Curso de História ou onde
essa disciplina era apresentada, e, com o tempo,
o Instituto de Antropologia foi crescendo.
Em 1970, quando vim trabalhar nesta Universidade, a partir de julho, aconteceu a chamada Reforma Universitária. Ela mudou completamente os cursos, tornando-os semestrais, criando novos setores, enfim, foi um início muito
tumultuado e no bojo desta reforma o antigo Ins-
(dir
etor no período de 1986a 1992)
(diretor
Auditório do Museu Universitário
Prof. Halfpap em primeiro plano
tituto de Antropologia passou a ser denominado Museu. Lembro-me, em conversas informais
com o professor Cabral, de que ele ficou insatisfeito com isso, tão insatisfeito com os rumos que
a Universidade tomou que pediu a sua aposentadoria, deixando-a mais ou menos nesse período. Ele considerava, e disse para mim, que o
termo instituto, para ele, era mais adequado. Na
época eu não pensei muito no assunto. Então o
antigo Instituto passou a ser Museu de Antropologia, mas com um detalhe interessante: naquele período também foi criado o Curso de
Ciências Sociais, e, com a Reforma Universitária a disciplina Antropologia era ministrada para
vários cursos, os chamados cursos básicos. O
número de professores então cresceu no Departamento de Ciências Sociais que, se não me engano, numa época fora chamado de Departamento de Sociologia, mas o campo de trabalho
dos professores de Antropologia da época era o
Museu. Nós trabalhávamos aqui, e o diretor
então era o professor Sílvio Coelho dos Santos.
O Museu na década de 1970 era pequeno, e as
exposições existentes se reduziam ao pequeno
setor de Arqueologia ou ao pequeno setor de
Etnologia indígena, ou seja, o setor de Arqueologia em função das pesquisas patrocinadas pelo
professor Cabral e o setor de Etnografia indíge-
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DIRETORES
na em função das pesquisas feitas pelo professor
Sílvio, que inclusive escreveu uma tese sobre os
índios de Ibirama. Mas é preciso dizer que nós,
os professores que trabalhavam aqui, não tínhamos muita consciência sobre a Museologia. A
nossa atenção maior era voltada para o ensino e a
pesquisa. O número de visitantes no Museu não
era muito grande e, quando apareciam alguns visitantes, nós é que acompanhávamos essas atividades. Enfim, a atividade museológica, nesse
período enquanto éramos professores aqui, era,
por assim dizer, uma atividade subsidiária, em que
se discutia pouca coisa a respeito de Museu. O
que discutíamos eram as aulas, pesquisas eventuais que pudessem ser feitas, era mais ou menos
assim. O Museu, portanto, tinha uma formação
acanhada. Isso se modifica um pouco quando o
Detalhe do maquinário de Engenho de Farinha
32
professor Sílvio, ainda diretor, conseguiu trazer o acervo do professor Franklin Joaquim
Cascaes, que começou a ser transferido a partir
de 1972 e mais tarde o próprio professor
Cascaes, fruto desse convênio, vem trabalhar no
Museu. Isso implica, na época, a atividade
museológica. Na esteira desse acontecimento
que eu considero importante, o "Peninha", como
museólogo, também vem trabalhar aqui para
acompanhar principalmente a obra do professor
Cascaes. Então o Museu na verdade passou a
ter três setores: o de Arqueologia, criado basicamente pelo professor Cabral, o de Etnologia
indígena, criado pelo professor Sílvio Coelho
dos Santos, e o de Cultura popular, criado graças à vinda do acervo do professor Cascaes e do
próprio artista, pois aqui trabalhou por um bom
período de tempo. Ampliou-se
então, consideravelmente, digamos assim,
o espaço
museológico. Mas nós, professores da Universidade, continuamos muito mais ligados à atividade didática e de pesquisa do
que à atividade museológica. Na
época,
com exceção do
"Peninha", não havia funcionários como agora, que se dedicavam aos vários setores. O
"Peninha", os funcionários de
apoio e os professores que se
preocupavam, fundamentalmente, como já disse, com as atividades didáticas. A partir de um
certo momento as coisas começaram a mudar, quando, através
de pressões do próprio Departamento, nós éramos insistentemente convidados para sair do
Museu e trabalhar naquele setor.
Partia-se do princípio de que era
preciso reunir os professores.
De certa maneira, nós aqui no
Museu, na época, gozávamos de
uma certa autonomia, mas esta
relativa autonomia não era bem
vista, até porque a própria Reforma Universitária e seus estatutos e normas retirava a possi-
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ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
bilidade de professores continuarem a exercer
sua atividade aqui
no Museu. Era
um período ditatorial; nós vivíamos naquela época sobre a vigência do Ato
Institucional número 5, havia
pouca liberdade
de expressão. Eu
Bonecas Karajá - Pará
me
lembro,
como professor
da época, de que tínhamos que apresentar a bibliografia que era usada em sala de aula,
apresentá-la a pessoas competentes para ver o que
estávamos ministrando nas aulas, que autores nós
estávamos trabalhando, era um período muito difícil. Nesta época muitos professores saíram do
Museu para se instalarem no departamento de Ciências Sociais, ficando apenas o diretor. Foi
quando, assumiu a professora Anamaria Beck,
dezembro de 1978. Nesse período foi criado o
curso de pós-graduação, em nível de aperfeiçoamento ou de mestrado. Era uma idéia bem corrente na época; as pesquisas que os professores
realizavam deveriam ser feitas especialmente neste
curso, de pós graduação. Ao Museu caberia cuidar das suas exposições, lidar com suas atividades museológicas. Num pequeno parêntese, eu
nunca concordei com isso. É claro que hoje existe doutoramento; os cursos de pós-graduação se
difundiram muito, inclusive na nossa Universidade; é claro que eles fazem pesquisas, até para
que os alunos possam obter seus graus de
doutoramento; isso só pode ser feito por meio
de uma pesquisa minuciosa. Mas a Universidade
é um lugar de estudo, é um dos poucos espaços
em que se pode debater qualquer assunto de base
científica. Ora, então qualquer setor da Universidade, na minha opinião, pode trabalhar com
pesquisa, independente de curso de graduação
ou pós-graduação. Eu não vejo, honestamente,
nenhuma incompatibilidade, mas na época isso se
apresentava, e nós saímos por esta circunstância,
na verdade, lembrando um pouco da época; isso
foi meio doloroso porque contávamos aqui com
um espaço de trabalho, repito, tínhamos uma
certa independência intelectual, em uma época
que isso era muito difícil de ser mantida. A
partir daí então, no meu caso específico a gente
se afasta um pouco do Museu, mas no período
da professora Anamaria, com todos os entraves de ordem cultural e política, porque a sociedade brasileira começou a se liberalizar a partir
de 1984, independente disso a impressão que eu
tenho é de que o Museu cresceu, em termos de
atividades museológicas. Nesse período, novos funcionários foram contratados, funcionários com determinado nível, que ajudaram a manter essa atividade. Eu voltei ao Museu em 1986
para ser o diretor. Na época o reitor era o professor Rodolfo Joaquim Pinto da Luz e o próreitor de Pesquisa e Extensão, ao qual estava
subordinado o Museu, era o professor Antônio
Diomário de Queiroz, que mais tarde veio a ser
reitor desta Universidade. Ele me convidou para
dirigir o Museu quando a professora Anamaria
deixou a sua direção. Quando comecei a trabalhar com o Museu, devo confessar honestamente, eu tinha uma visão muito curta da atividade
museológica. Eu reconhecia a importância da
instituição, sabia do seu acervo aqui existente, é
claro, tinha interesse junto com o pessoal de fazer uma boa administração, independente das limitações impostas à Universidade; limitações
estas de base orçamentária. Então comecei a trabalhar no Museu, o que me permitiu ter uma
visão muito boa da atividade museológica, ao
ter participado entre 16 e 18 de fevereiro de
1987, do primeiro Encontro do Sistema de Museu do Estado de São Paulo, e realizado as Oficinas Culturais Três Rios. Foi um dos grandes
congressos que eu participei, e lá tive oportunidade de conversar com diretores de museus,
assistir a palestras, debates, participar de mesas-redondas, e adquiri uma formação
museológica, uma visão da instituição em si, que
foi muito útil. Quando voltei dessa reunião tinha uma visão mais aprofundada. Em cima desta visão, começamos a trabalhar com uma relativa força, mas evidentemente em condições sempre limitadas. Lembro-me de que um dos grandes acontecimentos que nós realizamos no Museu, ainda no início da minha gestão, foi o Semi-
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DIRETORES
nário Calha Norte, provavelmente a melhor reunião de estudo que fizemos aqui nesta Universidade. Convidamos especialistas de todo o país
para discutir a realidade da Amazônia, todos os
problemas da Amazônia, o desflorestamento, a
ocupação militar, tema, na época de 1988, muito em voga. Realizamos aqui e durou três ou quatro dias; um seminário que alcançou grande repercussão. Dei-me conta, então, de que não estávamos em um museu qualquer, estávamos na
verdade em um Museu Universitário. Ora, um
Museu Universitário trabalha com a atividade
museológica em si, nós cuidamos disso, mas também de outras atividades. Na época da reunião
de São Paulo, por exemplo, um tema que aparecia muito nas mesas-redondas era a iniciação do
museu na comunidade, até que ponto o museu
preenchia a finalidade a que estava direcionada,
tinha condições de atingir a comunidade, tinha
visitação ou não tinha, numa Mesa-Redonda dos
Museus Universitários, por exemplo, em que o
pessoal da USP se queixava de ter os seus museus, o da Pré-história, de não ter visitação. Eu
me dei conta na época de que nós aqui não tínhamos esse problema, ou pelo menos não tínhamos
como o pessoal da USP. Resolvemos por um lado
incrementar essa inserção na comunidade porque
isso é uma atividade importante e, no contexto
dessa atividade, fizemos inúmeras exposições.
Não me lembro de todas, e naturalmente essas
exposições devem estar nos relatórios aqui da
casa, então basta consultá-los, mas foi o Seminário Calha Norte, que aconteceu aqui nesta Universidade em 1988, só por exemplo, a exposição
Universo Açoriano no Museu de Arte de Santa
Catarina, com as obras de Cascaes, que obteve
grande repercussão na época. Fizemos em 1987,
se eu não me engano, a exposição com as peças
de Cascaes na casa da ex-alfândega, apresentando as coleções "Procissões da Mudança", "Nosso Senhor dos Passos", "Nosso Senhor Morto",
além de aspectos sobre "A Vida de Joana Gomes
de Gusmão". Inclusive tenho um filme feito nessa época a respeito do assunto. Além disso, entre tantas outras atividades culturais, ainda gostaria de citar a exposição da "Cultura Açoriana",
no hall da reitoria, em 1989; e a "Noite do folclore ilhéu" - que na época (1990) chamou muito
a atenção -, que foi realizada em frente ao Mu34
seu, quando mais de mil pessoas compareceram
a fim de assistir às brincadeiras de boi-de-mamão, catimbó, a dança dos vinte e cinco bichos
do jogo, o cacumbi, enfim uma série de manifestações folclóricas da Ilha de Santa Catarina.
Sobre as exposições da "Cultura Açoriana" e da
"Noite do folclore ilhéu", nós temos filmes, e os
estou passando para o Museu a fim de que permaneçam na posteridade. Além dessas atividades todas, nós fizemos um único experimento
que foi o "1º Seminário Franklin Cascaes", em
1990. Foram dois dias de mesas-redondas com
temas relacionados à cidade de Florianópolis,
com uma boa participação de alunos e de público para assistir às várias mesas-redondas. Nós
discutíamos o impacto do turismo, a importância da obra de Cascaes, quando ele compareceu para dar uma palestra. A professora Adalice
Maria de Araújo escreveu uma tese de doutorado em cima de obras de alguns artistas de
Florianópolis, entre eles Cascaes. Queríamos
repetir esse seminário, respeito à cidade de
Florianópolis. Na época, como hoje, o turismo
é um assunto em voga; era necessário discutir
os aspectos positivos e negativos dessa atividade econômica. Fizemos apenas um, e um segundo não conseguimos realizar até por falta de
recurso. É preciso dizer que essas atividades
davam muito trabalho, e o Museu não tinha,
como até hoje não tem, um corpo de funcionários muito grande para dar conta de tanta atividade. Eu gostaria de citar também a realização de
duas coisas que eu considero importantes: uma
delas foi as comemorações dos 500 Anos do
Descobrimento da América e a outra foi a realização de uma atividade aqui entre 1991 e 1992,
acho que nunca um evento deu tanto trabalho.
Em primeiro lugar, projetamos aqui no auditório do Museu uma série de filmes, principalmente
sobre a situação indígena da América Latina.
As escolas da comunidade e alunos da Universidade foram todos convidados para assistirem a
essas projeções. Isso ocorreu durante todo o
ano, além de realizarmos nesse período uma
série de mesas-redondas colocando os vários
temas que dizem respeito à América Latina. Em
1992, chegamos a fazer no centro da cidade de
Florianópolis, em frente à Catedral Metropolitana, uma grandiosa exposição tipo " Museu na
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Higienização do Acervo Arqueológico
rua" , situando alguns temas sobre a América
Latina, particularmente à respeito da realidade
indígena latino-americana, e também brasileira.
Foi uma atividade muito grande, fez muito sucesso, trabalhamos muito, mas o Museu se sentiu muito gratificado com toda essa atividade.
No final da minha gestão fui designado pelo
reitor para dirigir a "IV Semana de Estudos Açorianos" e montamos nossa equipe de trabalho
aqui neste Museu, que se realizou em abril de
1992. Foi um trabalho muito interessante, pois
vieram professores do Arquipélago dos Açores
e discutiu-se sobre a obra do Professor Cascaes.
Lembro-me de que priorizamos, pela primeira
vez, um assunto que até então era tabu nesse
tipo de encontro, que foi a "farra do boi". Conseguimos, com algum trabalho, situar na "IV
Semana de Estudos Açorianos" uma mesa-redonda sobre a "farra do boi", com presença maciça de pessoas da época. Esta questão era dis-
cutida largamente na imprensa nacional, alguns
a favor , outros contra. Realizamos uma mesaredonda com esta temática; enfim, tenho a impressão de que em tempos de realizações culturais, avançamos muito, era uma época em que
os funcionários do Museu eram entrevistados;
o Museu aparecia muito nos jornais e havia sempre notícias a serem apresentadas. De outro lado,
creio também que outro aspecto importante da
atividade museológica foi a presença da comunidade aqui. Também se realizou, na semana
do índio, projeções cinematográficas com a presença de inúmeras escolas no Museu. Realizamos vários seminários, sobre o Dia da Cultura.
Fazíamos mesas-redondas e apresentávamos filmes, atraindo sempre um grande público. Neste aspecto, eu posso dizer com segurança que
nos sentimos realizados. Também neste período
publicamos dois números da revista Anais do
Museu de Antropologia. Quando o professor
Cabral criou esta revista, ela devia apenas ser
preenchida com artigos dos funcionários ou dos
professores aqui existentes e foi publicada também na época do professor Silvio Coelho dos
Santos, da professora Anamaria Beck e também
da professora Neusa Maria Sens Bloemer. Na
minha gestão conseguimos publicar apenas dois
números, até por limitações orçamentárias da
própria Universidade; não é muito fácil fazer uma
revista. Eu achava que qualquer contribuição não
apenas do pessoal do Museu era importante,
pois, se algum professor tinha algum artigo importante relacionado com a Antropologia, por
que não publicar? Espero que no futuro o Museu possa voltar a publicar esta revista, que tem
um significado internacional, porque recebíamos correspondência de universidades estrangeiras solicitando seus números, como, por
exemplo, da Europa e dos Estados Unidos, tal
foi a importância que ela adquiriu em um determinado momento. Creio que esta é uma herança positiva que a publicação dos Anais, de repente, pode ser recuperada, não só com publicações de trabalhos de funcionários do Museu,
mas também de professores desta Universidade, desde que eles tenham algum ponto de contato com as Ciências Antropológicas, que é o
conteúdo de exposição deste Museu. Também,
neste período, talvez até mais do que em ou-
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35
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Trabalho feminino. Coleção Escultórica
Autoria: Franklin Cascaes
tros, procuramos divulgar a obra do professor
Cascaes realizando várias exposições já citadas
aqui. Montamos algumas vezes, principalmente
em frente ao Museu, o presépio de natal feito de
piteira e barba de velho, em quatro anos consecutivos. Lembro-me muito bem de que o professor Cascaes montava esses presépios com grande repercussão debaixo da figueira na praça central de Florianópolis e, como era muito difícil fazer essa montagem, então passamos a montá-lo
aqui durante quatro anos. Enfim, procuramos,
na medida do possível, divulgar a obra do
Cascaes. Uma administração nunca se completa,
realiza muitas coisas boas, mas também deixa
de fazer outras. Sempre tivemos problemas com
o prédio do Museu, com o resguardo do acervo.
Sentimos que a abra do Cascaes se deteriorava;
não tínhamos local para a reserva técnica, para
resguardar todo esse significativo acervo. Muitas coisas nos preocupavam, e, em função disto,
formamos uma comissão de professores e funcionários para avaliação do espaço técnico-administrativo do Museu. Esse relatório ficou pronto
em 1991 e foram colocadas as questões não só
do pessoal, mas do espaço físico do prédio, com
graves problemas; também o resguardo do acervo que, para garantir a conservação, necessita de
um espaço para a instalação de uma reserva técnica, por exemplo. Eu sei agora, com satisfação,
que esta reserva foi implantada. Na nossa época
isso não foi possível, então muita coisa deixou de
ser feita, mas claro que uma administração não
pode esgotar todos os assuntos, isto é impossível; é a continuação de uma gestão que vai determinar o que foi feito de melhor ou de pior; neste
36
caso, pode ser o governo ou o Museu.
Então uma série de coisas não pode ser
concluída, como, por exemplo, o resguardo da coleção do professor Cascaes.
Embora nos interessamos também pelo
setor de Etnologia indígena e pelo setor
de Arqueologia; na verdade, eu queria,
quase que concluindo essa explanação,
dizer que o Museu tem três setores e na
nossa administração tentamos trabalhar
com os três, não protegendo um em detrimento do outro, na medida do possível se deu força para as três atividades:
Arqueologia, Etnologia indígena e Cultura popular. Não se pode esquecer que o Museu de Antropologia é um órgão isolado, ele
pertence à Universidaade Federal de Santa
Catarina; o seu destino de uma forma ou de
outra está ligado ao da Universidade.
Temo muito pelo fim da Universidade pública. No fundo, eu sempre a defendi pública e
gratuita, pois as universidades públicas e gratuitas são as melhores do país e é lamentável que
um dia essa Universidade possa vir a desaparecer, até por política de governos equivocados,
pois o Museu, eu repito, está ligado ao destino
da Universidade e eu espero que esse destino
seja melhor no futuro.
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DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Ter
esa F
ossari
eresa
Fossari
Zoólito. Antropomorfo. Sambaqui de Mina Velha. Garuva /SC
Antes da criação do Instituto de Antropologia, na década de 1960, na época em que era
Departamento do Curso de História, já se praticava pesquisa de Arqueologia. Foi o professor
Walter Feranando Piazza que começou e depois
outros assumiram tais pesquisas como Anamaria
Beck, Maria José Reis e Alroino Baltazar Eble.
Na década de 1980 não havia nenhum trabalho
de Arqueologia no Museu.
Quando comecei a trabalhar no Museu, em
1982, as atividades relacionadas à Arqueologia
estavam paradas. Comecei tudo de novo, foi "pedra sobre pedra". Em 1987 consegui financiamento da FINEP para desenvolver um levantamento
arqueológico na Ilha, criei oportunidade de estágios remunerados para alunos da Universidade,
orientei alunos e desenvolvi pesquisas, enfim
(re)instalei o Setor de Arqueologia.
A partir daí até 1992 era o único setor do
Museu que mantinha pesquisa. Em 1992, quando o reitor me convidou para ser diretora do
Museu, disse que só aceitaria se fosse para transformar esta Instituição em um verdadeiro museu,
(dir
etor
a no período de 1992 a 1996)
(diretor
etora
com uma concepção de museu e não de espaço
de guarda e preservação de acervo. Eu havia
estagiado em museus de São Paulo, tinha um
referencial. Com toda a equipe do Museu, conseguimos fazer um balanço de como estávamos, o que tínhamos e, assim, esboçamos um
projeto apontando para onde queríamos chegar
e do que precisávamos para concretizar nosso
sonho.
No projeto elaborado pela equipe do Museu Universitário constava a história do Museu
(desde a sua criação até as transformações pelas
quais passou). Os resultados de nossas reflexões sobre o trabalho que vinha sendo feito no
Museu apontou para uma prática museológica.
Foi com esta vontade de mudar que assumi a
sua direção, nossas cabeças ferviam, queríamos mudar, era a oportunidade de sentarmos
para uma autocrítica, para enxergarmos o que
éramos, e o que queríamos ser.
Colocamos tudo no papel, apontamos diretrizes e concluímos que a nossa maior deficiência eram as instalação físicas e a carência de
especialistas no quadro de funcionários. Hoje,
podemos dizer que nosso esforço está valendo
a pena. Aí estão a reserva técnica recémconstruída e o prédio do Museu todo reformado; sem contar que o corpo técnico-científico,
apesar de numericamente reduzido, está em
busca de seu aperfeiçoamento por meio de cursos de pós-graduação em nível de mestrado e
doutorado.
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37
DEPOIMENT
OS DE DIRET
ORES
DEPOIMENTOS
DIRETORES
Gelci J
osé Coelho "P
eninha"
José
"Peninha"
(dir
etor desde 1996)
(diretor
Por ele mesmo
Iniciei minhas atividades na Universidade
Federal de Santa Catarina no ano de 1970 como
secretário do Departamento de História e estudante do Curso de História. Interessado em História da Arte, tive oportunidade de conhecer o
artista e professor Franklin Joaquim Cascaes, que
utilizava seu talento artístico para documentar
as tradições culturais dos descendentes dos antigos colonizadores procedentes do Arquipélago
dos Açores.
Por meio de convênio com a Prefeitura Municipal de Florianópolis e o Museu Universitário, o artista passou a realizar exposições no Setor de Cultura popular. Desde 1973 passei a conviver intensamente com o professor e artista,
objetivando aprender mais sobre o folclore da
Ilha de Santa Catarina.
Acompanhando pesquisas e revisões dos
diversos temas abordados por Franklin Cascaes,
acabei sendo transferido para o Museu, que passei a integrar o Setor de Cultura Popular, com
especial atendimento ao professor Cascaes,
aprendendo a realizar as montagens das maquetes
para a exposição dos conjuntos escultóricos, que
representam várias das tradições culturais de origem luso-açoriana. O acervo composto de manuscritos, desenhos, esculturas em argila crua e
gesso calcinado, acessórios em madeira, tecido,
tintas, papel, metais e fibras vegetais implica
uma conservação difícil e muito delicada, exigindo amplo conhecimento para garantir a integridade da significativa obra do mestre Cascaes,
que, em essência, revela a alma da gente da Ilha
de Santa Catarina.
Com a doação de todo o acervo do artista
ao Museu, a imensa responsabilidade que nos
recaiu reforçou cada vez mais a necessidade de
buscar conhecimento; então a Universidade proporcionou a minha participação no Curso de
Especialização em Museologia que estava sendo oferecido, pela primeira vez, no Brasil, junto à Escola de Sociologia e Política da USP e o
Museu de Arte São Paulo, iniciativa da professora doutora Valdisa Russio Camargo Guarniere
e Pietro Maria Bardi. Assim, uma nova
38
Banco Kayapó. Xingu
museologia foi introduzida na Universidade, buscando dinamizar a atividade museológica, inclusive em todo o estado de Santa Catarina, orientado para a realização de pesquisas e a documentação de acervos, visando à segurança, à conservação e à apresentação como apoio à educação fundamental e ao lazer cultural.
Desde 1996 a direção do Museu Universitário "Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral" está sob
a minha responsabilidade, cujo objetivo é intensificar a dinâmica de utilização do Museu como
aparelho educativo, espaço de apresentação de
resultados das pesquisas científicas nas áreas de
Arqueologia, Etnologia indígena e Cultura popular por meio de exposições museográficas. Para
alcançar o objetivo proposto, além de desenvolver trabalhos na área de ensino, pesquisa, extensão, conservação e documentação, estamos buscando viabilizar a construção do Pavilhão de
Exposições, que se encontra em fase de captação de recursos, por meio da Lei de Incentivo à
Cultura.
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
DIRET
ORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO
DIRETORES
A se guir, depoimentos de
funcionários do Museu Universitário
“Oswaldo Rodrigues Cabral”.
Funcionários que dedicaram
suas vidas ao bom funcionamento
do departamento.
Acondicionamento
dos desenhos de
Franklin Cascaes
Atividade paralela as exposições do Setor de Cultura Popular
Oficina: Olaria: cerâmica de torno com o apoio da artesã Tânia Inácio Fernandes
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39
DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Hélio Manoel Alv
es
Alves
Tanga - Waiwái - Amazônia
O mês da inauguração foi em maio de1968,
quando o doutor Cabral convidou o reitor e o
Ivo Silveira, que era o governador do estado de
Santa Catarina. Ele veio para inaugurar e, na véspera do dia da inauguração, estava acontecendo
uma manifestação de estudantes contra o reitor.
Eles fizeram uma passeata em frente ao Instituto, mas o reitor não deu importância. Os estudantes passaram e não fizeram nada que perturbasse a inauguração do Instituto de Antropologia.
Para mim, passados trinta anos desde o
Instituto de Antropologia e agora Museu Universitário, é a mesma coisa como se fosse hoje.
Claro que é diferente, naquela época não havia a
Universidade toda formada, só o Instituto, a
Botânica, a Filosofia, e a Engenharia. A reitoria
estava sendo construída. Enquanto isso a administração da Universidade era no centro, na Rua
Bocaiúva. Era lá onde o exército está agora. Nós
trabalhávamos aqui e recebíamos o salário lá.
Aqui havia essas casas, a estrada era de chão, os
carros circulavam na Trindade. Muita gente vinha a pé, outros de carro; eu vinha de bicicleta.
Depois que asfaltaram, melhorou muito. Lá, em
40
(funcionário mais antigo)
1967-1968, quando
nós chegamos aqui,
havia muitas tropas
de boi, que pertenciam ao senhor
Pedro Vidal.
O Instituto tinha bastante material e aumentava sempre a ponto de o espaço físico se tornar
pequeno. Desde então, o Instituto passa a ser um Museu
e, unindo esforços,
temos tentado melhorar os espaços
para a apresentação
das exposições.
Tudo sempre foi
muito trabalhoso, mas o pior é sempre a falta de
verbas. Pensávamos em montar alguma exposição e éramos impedido pela falta de recursos, mas
mesmo assim se dava um jeito e sempre apresentávamos os acervos. O "Peninha" sempre fez tudo
o que pode para que as exposições estivessem
sempre em ordem. As exposições mais interessantes, para mim, eram aquelas montadas com o
acervo do professor Cascaes. Foi sempre uma felicidade trabalhar no Museu. Aprende-se muito
sobre a história; sempre gostei muito de trabalhar aqui. Desde o exigente Dr. Cabral até a animação maior, com as montagens dos grandes presépios criados por Franklin Cascaes, sempre tínhamos novidades. O Museu é um lugar que apresenta coisas do passado, mas é assim, tudo parece sempre novidade.
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Pedr
o Ger
aldo Ba
tista
edro
Geraldo
Batista
A pedido, fui
lotado no Museu de
Antropologia em 27
de julho de 1971, cuja
direção estava a cargo do professor Sílvio
Coelho dos Santos e o
secretário era José
Antônio da Costa.
Como técnico
administrativo atuei
até 1975 e assumi a
função de secretário
até 1982. Durante este
período, passaram
pela direção do Museu os professores
Alroino Baltazar Eble
e Anamaria Beck. No
quadro de pessoal de
apoio contávamos
com os servidores
Valdomiro Gonçalves, Djalma Elias Correa (in
memoriam), Osmar Conceição, Hélio Manoel
Alves, Cecília Rau (biblioteca) e Dilma Maria
Menezes Conceição.
Um dos grandes acontecimentos neste período foi a incorporação da coleção Profa. Elizabeth
Pavan Cascaes ao acervo do Museu, realizando
o desejo do fantástico professor Franklin Joaquim
Cascaes.
Vista parcial das salas de exposição do Museu Universitário
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Her
mes J
osé Gr
aipel Júnior
Hermes
José
Graipel
Cheguei ao Museu Universitário em abril
de 1989 para desenvolver atividades como secretário na gestão do professor Luiz Carlos
Halfpap.
Nessa função, organizando e sistematizando toda a parte administrativa, contei com a colaboração de colegas, como Sônia Maria
Kempner (Assistente em Administração), Dilma
Maria Menezes Conceição (recepcionista), Hélio Manoel Alves (operador de máquinas copiadoras), Euclides Vargas (técnico em restauração),
Maria Conceição das Chagas (Costureira),
Elizabeth Pereira Russi Alexandre (professora de
1º e 2º graus). Atuava também no recém-criado
corpo técnico-científico do Museu, que reunia
pesquisadores visando traçar as diretrizes gerais
deste órgão suplementar.
Com a mudança da direção, ao assumir o
cargo a arqueóloga Teresa Domitila Fossari, continuei como secretário e também atuava no corpo técnico-científico. Nesse momento, já delineava-se meu futuro na Divisão de Museologia,
uma vez que, sistematicamente, passei a desenvolver algumas atividades nessa área, preparando-me para assumir funções correlatas. Assim,
recebi incentivo para participar de vários eventos, como seminários, congressos, palestras e
estágios em outras instituições congêneres.
Passo a passo, fui encaminhando minha atuação na área administrativa para a área fim do
Museu: o público e o acervo; interação essa que
forma o processo educacional.
Em 1996, assumiu a direção do Museu o
Museólogo Gelci José Coelho, liberando-me das
funções administrativas para que, definitivamente
eu pudesse dedicar-me às atividades de pesquisa
dentro do campo museal.
Hoje, na Divisão de Museologia, desenvolvo projetos e oriento pesquisas que visam a conservação e guarda do acervo, além de colaborar
na montagem de exposições, quando solicitado
por outras instituições.
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A Bruxa Grande. Nanquim sobre papel
Autoria de Franklin Cascaes
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Maria Dor
othea P
ost Dar
ella
Dorothea
Post
Darella
Quando se pensa em universidade, ainda se
percorre as concepções de ensino, pesquisa e extensão, ou estaria tal reflexão ultrapassada? Seria
a única? Sinceramente não sei. Gostaria de ponderar, entretanto, quanto à singularidade do Museu Universitário da Universidade Federal Santa
Catarina, no qual se realiza mais do que instigante
trabalho reunindo ensino, pesquisa e extensão:
compõe-se a permanente possibilidade de projeto de vida. Refiro-me especificamente às Ciências Sociais, à Antropologia, às populações indígenas, ainda que tenha clareza da abrangência do
desafio que o caminho interdisciplinar enseja. Sim,
porque constantemente há envolvimentos com a
Arqueologia, a Biologia, a Agronomia, a Pedagogia, a História, a Geografia, a Lingüística, o
Direito, para citar algumas disciplinas conexas ao
meu trabalho.
A partir do Museu, pude elaborar e me envolver com projetos distintos, relacionados à educação, agricultura, direitos fundiários; tive oportunidade de tecer estudos de impacto
socioambiental, relatórios de identificação de ter-
ras indígenas, laudos antropológicos, trabalhos,
textos; elaborei exposições fotográficas; organizei seminários, fóruns, mesas-temáticas, encontros; co-orientei monografias; participei de eventos relacionados à temática indígena. Esse movimento, entretanto, não é solitário e sim solidário: só se faz possível em conjunto com colegas pesquisadores e com profissionais comprometidos e envolvidos com a população indígena. Ele substancializa-se e atualiza-se nas permanentes interlocuções com as comunidades indígenas, com as constantes comunicações numa
rede de estudo, atuação e sociabilidade referente aos índios Guarani. É trabalho embebido em
reciprocidade.
Neste momento formulo meu texto de qualificação do doutorado que denominei "ore
roipota yvy porã (nós queremos terras boas)".
O movimento do passado ao futuro:
territorialidade e temporalidade no presente das
aldeias Guarani no litoral de Santa Catarina, desejando que seja um exercício para continuidade das ponderações e efetivações com os índios
Guarani. E continuo acreditando que este
amálgama é razão de ser das instituições de ensino federais.
Cunjunto escultórico. Mito do Dilúvio Guarani/SP
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Deise Luc
y Oli
veir
a Montar
do
Lucy
Oliv
eira
Montardo
Após terminar minha graduação em Ciências Sociais, em 1989, comecei a trabalhar no
Museu, no qual conclui minha especialização por
meio do trabalho com os colegas ou com seu
apoio, nas ocasiões em que me afastei para aperfeiçoamento. Durante sete anos participei de várias pesquisas no setor de Arqueologia, nos campos da Arqueologia pré-colonial e histórica, tendo neste período desenvolvido minha dissertação de mestrado "Práticas funerárias das populações pré-coloniais e suas evidências arqueológicas (Reflexões iniciais)" na PUC/RS, Porto
Alegre/RS, defendida em 1995.
Neste mesmo ano iniciei uma pesquisa sobre a música dos índios, sobre a qual desenvolvi
a tese de doutorado "Através do mbaraka: música e xamanismo guarani", defendida em 2002,
no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, USP/SP.
O Museu Universitário é um espaço que
permite a ampliação dos horizontes do conhecimento, possibilitada por meio da troca constante entre os três setores que comporta, com outros Departamentos da Universidade, bem como
com a comunidade em geral.
Colar Kamayurá - Xingu
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Cristina Castellano
Minha experiência no Museu remonta aos
anos 80, quando me tornei funcionária desta
Universidade e aluna do Curso de Ciências Sociais. O interesse pela instituição ocorreu por meio
da interface entre minha formação acadêmica e a
área de atuação deste Museu, com possibilidades de qualificar-me profissionalmente. Então,
apresentei-me à professora Neusa Bloemer, diretora do Museu na época. Foi um momento importante, de aproximação com a Arqueologia,
pelas mãos carinhosas de Teresa Fossari. Também na ocasião, conheci a obra de Franklin
Cascaes, a qual ainda hoje me surpreende pela
diversidade de técnicas empregadas e temáticas
abordadas. De lá para cá muitas portas abriramse em minha vida profissional e venho me aperfeiçoando no fértil campo da Museologia. Hoje,
não me restam dúvidas de que o potencial de uma
instituição museística como o Museu Universitário é enorme, tanto para se trabalhar a extroversão
museológica, como as atividades de educação e
pesquisa.
Boneca Karajá. Pará
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Aldo Litaif
Litaifff
A característica do
Museu, como centro de extensão, possibilitou-me um
contato maior com minha
formação acadêmica teórica
e prática. Isto acontece,
principalmente, pelo perfil
de suas atividades as quais
relacionam produção acadêmica com a realidade da sociedade envolvente, como é
o caso do Setor de Etnologia
indígena, com os povos indígenas do estado de Santa
Catarina. Tudo isso me possibilitou uma rica experiência, em termos de conhecimento, que somente uma
instituição como o Museu
pode oferecer.
Mbaraka mirim. Guarani. SC
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Francisco do Vale P
er
eir
a
Per
ereir
eira
O Museu Universitário da
Universidade Federal de Santa
Catarina é uma escola por si só.
É um centro de referência na área
de Antropologia - a ocupação
humana em Santa Catarina.
A oportunidade de estar envolvido com os trabalhos de pesquisa, de divulgação, de exposição do acervo do Museu Universitário é ímpar, enriquecedora e
instrutiva.
Nos anos de 1984 a 1986
trabalhei no Museu Universitário,
Setor de Cultura Popular, quando estive em contato direto com
os escritos do Professor Franklin
Cascaes. Foi um mergulho num
mar de informações e conhecimentos da cultura da Ilha de Santa Catarina. Foi a motivação mais
forte para seguir meus estudos, já
que havia me formado recentemente em História.
Um convite, em 1992, para formar um grupo de reorganização do Núcleo de Estudos Açorianos, foi um passo importante para reaproximarme com a cultura popular. Afinal, eu já estava
envolvido com os vários encontros de estudos
açorianos que já se realizavam na UFSC; também porque aquele primeiro período trabalhando
no Museu Universitário foi decisivo para definir
as linhas de estudos e gosto pela questão cultural.
Boi-de-mamão. São José/SC
Depois de assumir outras funções administrativas na administração central da UFSC, regressei ao Museu Universitário em 1999, e desde aquele ano, realizo-me com as questões da
Cultura Popular, mais especificamente, da base
cultural açoriana. Têm sido anos de muito trabalho, desenvolvendo projetos de revitalização
de aspectos da nossa herança cultural.
Estar no Museu Universitário é apaixonante
e completa todo aquele que busca conhecimento, pois aqui temos um universo cultural significativo e abrangente.
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DEPOIMENT
OS DE FUNCIONÁRIOS
DEPOIMENTOS
Wanda Ritta
A Benzedeira. Coleção Escultórica de autoria
de Franklin Cascaes
Em julho de 1999, assumi neste Museu a
função de arquivista, efetivada pelo Ministério
da Educação - DEMEC/SC, função esta que veio
ao encontro dos objetivos deste Museu: centralizar, organizar e criar um Centro de Documentação.
Ao tomar conhecimento de que boa parte
do acervo da biblioteca encontrava-se em esta-
48
do de deterioração, em conseqüência de uma
enchente, o Diretor me perguntou se eu tinha
coragem para recuperá-lo. A partir daí, com sua
anuência e como gosto de desafios, iniciei os trabalhos (limpar, restaurar, arquivar, alimentar livros, os que estavam desvanecendo resultante da
umidade e do mofo. Foi prazeroso ver o resultado deste trabalho e, principalmente, ver que o
tesouro que ali se encontrava, no que se refere à
fontes primárias, datavam de 1831 em diante, incluindo o acervo da literatura "Negra" particularmente. Depois de tantas mudanças de sala à
procura de espaços mais favoráveis para sua acomodação, o Centro começa a se expandir com
novas aquisições. Atualmente, estamos instalados no 1º piso do novo prédio da Museologia,
sala ampla e com condições climáticas para que
nosso acervo frutifique e breve possa fazer conexão com a Biblioteca Central, oportunizando
acesso a todos os usuários desta Universidade.
Nosso acervo está constituído dos seguintes títulos: Antropologia, Etnologia,
Paleontologia, Sociologia, Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Folclore e Cultura, Artesanato (olaria, rendas), História de Santa
Catarina, História, etc., incluindo acervo fotográfico em fase de organização preliminar.
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