FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Programa Especial de Extensão - PROEX (1) Introdução. A FADIRE é uma Instituição de Ensino Superior comprometida com três questões da mais elevada prioridade nacional: desenvolvimento regional, inclusão profissional e redução das desigualdades sociais; o próprio nome que ostenta identifica este ideário superior: Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional. De que Região estamos falando? Inicialmente a que fica nas cercanias de Santa Cruz do Capibaribe (Pernambuco), onde sua Sede está excepcionalmente estabelecida, porém, no PROEX que aqui iremos enunciar ficará claro que sua administração pensa em todas as regiões onde seus Cursos de Extensão possam levar qualidade de vida e ativar suas três prioridades operacionais no mister de Instituição de Ensino Superior. (2) O Que é o PROEX/FADIRE? O PROEX/FADIRE – Programa de Extensão da Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional – é um Sistema de Desenvolvimento de Cursos de Extensão de Nível Superior aberto à Comunidade em Geral, que visa interligar não só a prática acadêmica junto à população, mas possibilitar o atendimento das múltiplas necessidades da população possibilitando a formação do profissional-cidadão. A consolidação da prática da Extensão permite a constante busca do equilíbrio entre as demandas socialmente exigidas e as inovações que surgem do trabalho acadêmico. Os Cursos de Extensão são “portais” para a identificação e desenvolvimento de opções de inserção da sociedade brasileira no Ensino Superior e, efetivamente, o desenvolvimento da visão crítica e produtiva decorrente deste nível de formação. (3) Quem Pode Participar do PROEX/FADIRE? Qualquer pessoa pode participar do PROEX/FADIRE, desde que seja aprovado em um Exame Seletivo promovido pela FADIRE com esta finalidade. Uma vez aprovado, o Estudante deverá celebrar o contrato “individualizado”, sob a mediação da representação autorizada pela FADIRE e todo processo de gestão operacional é contemplado pela FADIRE conforme especificações contratuais. (4) Minuta do PROEX. O PROEX surgiu devido às demandas existentes na cidade de Santa Cruz do Capibaribe – PE e em regiões vizinhas. Considerando que a FADIRE tem sede localizada em um dos maiores polos de confecção de Pernambuco, é importante ressaltar também a crescente necessidade de sua população em qualificação profissional, ou seja, pela busca dos indivíduos pelo conhecimento de nível superior, aperfeiçoandose nas mais diversas áreas. Os Cursos de Extensão que são ofertados pela FADIRE, oriundos do PROEX, tem o caráter de aproveitamento – de acordo com a legislação vigente e a regulação interna da Instituição – possibilitando aos Estudantes, dentro de certas regras, o acesso em uma Faculdade credenciada pelo MEC no regime de aproveitamento de disciplinas/módulos. Assim, ao cumprir as exigências legais, o Estudante aprovado poderá realizar aproveitamento de disciplinas em Cursos de Graduação conforme os critérios de relação do Curso de Extensão feito e a Graduação pretendida pelo Estudante – no caso da FADIRE: Ciências Contábeis, Administração, Design de Moda, Pedagogia. Os Cursos de Extensão são definidos por módulos independentes e com término específico, garantindo que o aluno aproveite com eficácia todo o PROEX. Os Cursos são oferecidos semestralmente, contemplando conteúdos teóricos e práticos, voltados para cada área específica, possuindo uma carga horária mínima a ser cumprida. Os Cursos estão formatados no modo semipresencial, utilizando material apostilado para suporte das aulas. O conhecimento prático e os estágios serão realizados de acordo com a natureza dos Cursos a partir de convênios celebrados com a FADIRE, na forma da legislação vigente para cada área de conhecimento. Sendo os Cursos direcionados aos portadores de ensino médio e a graduados. Cada Curso possui duração de 300 a 400 horas semestral, correspondendo a disciplinas e atividades complementares. As aulas serão em regime semipresencial, com encontros quinzenais, de acordo com o calendário acadêmico. O processo avaliativo é de responsabilidade de cada professor e detém autonomia para fazê-lo, de acordo com as normas pré-estabelecidas pelo PROEX. (5) Bases Legais. O PROEX/FADIRE está fundamentado nas seguintes bases legais: 1- A FADIRE é uma Instituição de Ensino Superior autorizada a operar no Brasil em conformidade com a Portaria 3806/04 (17/11/2004) a. O Curso de Bacharelado em Administração está autorizado pela Portaria MEC 114/06 de 12/01/2006 publicada no D.O.U. em 13/01/2006. 2- Edital do PROEX a. O PROEX é regido pela Resolução FADIRE/PROEX 2/2011, 10 de Maio de 2011, que está em harmonia com o Decreto 5773, Artigo 12º, Inciso “I”1 onde a FADIRE, na qualidade de Instituição de Ensino Superior, exerce os atos inerentes à sua condição administrativa e operacional. b. O PROEX se fundamenta na Lei 9394/96, Artigo 44º, Inciso “IV”2 que afirma que o Curso de Extensão é de nível superior; i. Após a leitura deste Edital o Estudante deve aceitar a celebração do contrato de desenvolvimento do PROEX, nos termos das normas de boa-fé elencadas em Contrato Social Privado, conforme determina o Código Civil Brasileiro3 nos Artigos 421 e 422 (Lei 10406 de 10/02/2002); ii. A primeira questão a ser aceita pelo Interessado é que há Exame Seletivo e, somente depois de satisfazê-lo, poderá haver a inscrição. O ensino médio será obrigatório. c. As Regras Gerais determinam: i. O Calendário das aulas; ii. Durante 6 meses o conteúdo que é denominado Módulo possui 6 Disciplinas; iii. Conforme o semestre/módulo é encerrado, o Estudante aprovado recebe o Certificado de Conclusão do referido módulo – (Certificado PROEX/Fadire); 1 Art. 12º, Inciso “I”: “As instituições de educação superior, de acordo com sua organização e respectivas prerrogativas acadêmicas, serão credenciadas como: I – faculdades;” 2 A Lei 9394/96, Artigo 44º Inciso “IV” – “A Educação Superior abrangerá os seguintes Cursos e Programas: (...) IV- de Extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino.”. 3 Lei 10406/02, Art. 421 e 422 - “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé.”. iv. Quando o Estudante alcançar 7 semestres ou 7 módulos, terá realizado 42 disciplinas. d. Após esta fase o Estudante fará um “Exame Vestibular” para Bacharelado em Administração que lhe permitirá acessar esta Graduação, mas tem que ser aprovado neste vestibular; i. Em seguida, todas as 42 disciplinas são aproveitadas conforme acordado em Contrato, com um documento onde o Estudante requererá na forma do Artigo 47, parágrafo 2º da Lei 9394/964, o aproveitamento de conhecimentos anteriores; 1. Este aproveitamento dos módulos/disciplinas está amparado na Resolução CFE 05/79, alterada pela Resolução CFE 01/94 e Parecer CES/CNE 247/99 – que garante a legitimidade dos direitos dos Estudantes quanto ao seu capital acadêmico para fins de aproveitamento posterior. ii. Falta ao Estudante, para “fechar” a sua formação, o 8º Semestre, onde as tarefas são TCC e Estágio que poderão ser feitos em sua própria Cidade. e. Concluído satisfatoriamente o 8º Semestre o Estudante poderá obter a Diplomação no Bacharelado em Administração. 4 Lei 9394/96, Artigo 47º, § 2º – Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. (6) Oportunidade Inédita! O PROEX/FADIRE possibilita àqueles que se inscrevem nele 7 Semestres de Certificados de nível superior que agregam valor instrumental à sua vida profissional e no 8º Semestre, dentro das regras estabelecidas contratualmente, permite o acesso do Estudante na Graduação correspondente ao Curso que estiver pleiteando dentro das opções oferecidas. O nosso Estudante estuda enquanto trabalha e se diploma com o maior perfil de estágio possível no ensino superior. __________________________________ Lei 9394/96, Artigo 47º, § 2º – Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO EMENTA: Apresentam o panorama histórico da filosofia e suas relações com as teorias educacionais. COMPETÊNCIA: Analisar a situação educacional relacionando-a ao pensamento filosófico construído ao longo da história da humanidade. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: CHAUÍ, Marilena e outros – Primeira Filosofia, São Paulo, Martins Fontes, 1988 MARX, Karl – Miséria da Filosofia, Porto, Publ. Escorpião MONDIN, B. – Introdução à Filosofia, São Paulo, Paulinas, 1981 MORENTE,M. G. – Fundamentos de Filosofia, São Paulo, E. Mestre Jou, 1970 NOGARE, P. de Dalle – Humanismos e Anti-Humanismos em Conflitos, Petrópolis, Vozes, 1985 REALE, M. – Introdução à Filosofia, vols. I, II e III, São Paulo, Saraiva, 1989 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: MORIN, E. – O Enigma do Homem, Rio de Janeiro, Zahar, 1979 MENDONÇA, Eduardo Prado de – O Mundo de Filosofia, Rio de Janeiro, Agir, 1979 PRADO, C. Jr. – O que é Filosofia, São Paulo, Brasiliense, 1982 RUSSELL, Bertrand – Introdução à Filosofia Matemática, Rio de Janeiro, Zahar, 1981 SEVERINO, Antônio Joaquim – Filosofia, São Paulo, Cortez (Coleção Magistério 2ª Série Formação Geral) APRESENTAÇÃO A presente apostila tem como objetivo levar ao aluno (a) do Programa Especial de Extensão um conjunto de anotações acompanhamento das para aulas de um melhor Filosofia da Educação. O Programa Especial de Extensão espera que seus alunos busquem por caminhos renovadores para o processo educacional. Espera-se assim mais alunos juntos no esforço para fazer educação, cada vezes menos educação tradicional, e cada transformadora, vezes mais proporcionando uma a humanização e desenvolvimento do potencial de cada ser humano. PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO O papel da educação é possibilitar ao ser humano olhar para o mundo ao seu redor para poder dar-lhe um sentido. Por isso existe uma relação de reciprocidade entre filosofia e educação. É partir da visão de mundo que o ser humano já possui, que ele inicia o seu procedimento educacional, que por sua vez, vai possibilitarlhe nova leitura de mundo. Desse modo, elencaremos as visões de mundo e/ou interpretações de mundo: - Idealismo: A realidade é essencialmente espiritual. O mundo físico é colocado em segundo plano. O ser humano é antes uma idéia abstrata, um ser espiritual, um ser provisório e passageiro. - Realismo: O mundo material é tão real quanto o mundo espiritual e existe independente deste. O ser humano é um composto de uma parte espiritual e outra material. A parte espiritual é superior seja porque foi criada diretamente por Deus, seja porque foi criada por Deus através da força que ele colocou na natureza, seja porque representa um desenvolvimento espontâneo desta última. - Existencialismo: É a interpretação da realidade cuja preocupação fundamental é a pessoa existencial. Concentra-se nas coisas que estão aí, realçando o papel do ser humano na sua situação do momento. 1. CONCEPÇÕES ANALÍTICAS: São aquelas concepções da realidade que de modo insistente se interessam pela verificação e classificação da linguagem. 2. CONCEPÇÕES DIALÉTICAS: São aquelas concepções que consideram o ser humano como parte de uma realidade total que é essencialmente mutável, sendo, por isso, também ele essencialmente mutável. Incluem-se nelas: Pragmatismo: É a visão de mundo que afirma ser a realidade aquilo que nossos sentidos experimentam. O ser humano é um indivíduo autônomo que pode e deve traçar o seu destino. Dialética: É a leitura que vê a realidade como sendo essencialmente dinâmica e em contínua transformação. O ser humano vive com essa realidade mutável, aceita-a, pois sabe o porquê da mudança e tem consciência de poder influir nela. É pela filosofia que podemos indagar sobre a intenção de transformar o modo como observamos e pensamos, agimos e interagimos; os filósofos sempre se consideraram a si mesmos como os educadores definitivos da humanidade. Mesmo quando pensavam que a filosofia deixa tudo como está, pensavam que interpretar o mundo corretamente — compreendê-lo e compreender a nossa posição nele — nos libertaria da ilusão, conduzindo-nos a contemplação da ordem divina, progresso científico ou criatividade artística que nos são mais apropriadas. Mesmo a filosofia "pura" — metafísica e lógica — é implicitamente pedagógica. Tem a intenção de corrigir a miopia do passado e do instante. A reflexão filosófica acerca da educação, de Platão a Dewey, tem sido assim naturalmente dirigida para a educação dos governantes, daqueles que se presume preservarem e transmitirem a cultura da sociedade, o seu conhecimento e os seus valores. Todas as épocas históricas são marcadas por uma disputa pelo poder, como o poder da autoridade da tradição ou do poder manifesto, como o poder do conhecimento filosófico, espiritual ou científico, como o poder da criatividade artística, da produtividade mercantil ou tecnológica. Só muito recentemente na história das democracias liberais é que a política educativa foi formulada e direcionada para indivíduos presumivelmente autônomos, que determinam os seus próprios objetivos e que estruturam as suas próprias vidas. Em lado algum é a filosofia da educação mais importante, em lado algum é a própria educação mais crucial — e em lado algum é mais esquecida — do que numa democracia participativa liberal, cujos compromissos igualitários transformam cada indivíduo simultaneamente em legislador e em súbdito. As disputas no centro da discussão contemporânea da política educativa (Quais são as orientações e os limites da educação pública numa sociedade pluralista e liberal? Como podemos garantir da melhor maneira uma distribuição equitativa das oportunidades educativas? Deverá a qualidade da educação ser supervisionada por padrões nacionais e exames? Deverá as escolas públicas levar a cabo a educação moral e religiosa?) restabelecem as controvérsias que marcam a história da filosofia, de Platão à epistemologia social. Partindo de discussões fecundas e responsáveis da política educativa remetem inevitavelmente para questões filosóficas, que as sugerem e enquadram: essas questões são articuladas e examinadas de maneira mais precisa na teoria moral e política, na epistemologia e na filosofia da mente. Quais são as finalidades próprias da educação? (Preservar a harmonia da vida cívica? Salvação individual? Criatividade artística? Progresso científico? Capacitar indivíduos para que façam escolhas sábias? Preparar cidadãos para entrar numa força de trabalho produtiva?). Quem deve deter a responsabilidade primordial de formular a política educativa? (Filósofos, autoridades religiosas, governantes, uma elite científica, psicólogos, pais ou autarquias locais?). Quem deve ser educado? (Todos por igual? Cada um segundo o seu potencial? Cada um segundo as suas necessidades?). Como é que a estrutura do conhecimento afeta a estruturação e a sucessão das aprendizagens? (Será que é a experiência prática, ou a matemática, ou a história, que deve fornecer o modelo de aprendizagem?). Que interesses devem guiar a escolha de um currículo? Como devem as dimensões intelectual, espiritual, cívica, moral, artística, psicológica e técnica da educação estarem relacionadas entre si? Dado as concepções das finalidades e orientações da educação, que permanece ativamente inserida e expressa nas nossas crenças e nas nossas práticas. Fornece-nos a compreensão mais nítida das questões que nos preocupam e nos dividem. A maior parte das teorias do conhecimento — seguramente as de Descartes e de Locke — tinham, entre outras coisas, a intenção de reformar as práticas pedagógicas. A maior parte das teorias éticas — certamente as de Hume, Rousseau e Kant — tinham a intenção de reorientar a educação moral. O alcance prático das teorias políticas — as de Hobbes, Mill e Marx — não se limita apenas à estrutura das instituições, também chega à educação dos cidadãos. Sistemas metafísicos gerais — os de Leibniz, Espinosa e Hegel — fornecem modelos de investigação e, como consequência, estabelecem orientações e padrões para a educação de espíritos esclarecidos. Alguns filósofos — Locke, Rousseau, Bentham e Mill, por exemplo — fizeram dos seus programas educativos uma característica nuclear dos seus sistemas filosóficos. Outros — Descartes, Espinosa e Hume — tinham boas razões para não tornarem explícito o significado educativo dos seus sistemas. Se a política educativa é cega sem a orientação da filosofia, a filosofia é vazia se desprovida de uma atenção crítica ao seu significado educativo. Uma filosofia da educação robusta e vital incorpora inevitavelmente o todo da filosofia; e o estudo da história da filosofia obriga à reflexão sobre as suas implicações para a educação. Quem não ouviu pelo menos uma vez falar em Filosofia? Na história do pensamento, que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, muitos foram os pensadores que deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase incompreensíveis. Diante deles muitas pessoas se sentem entediadas e, em vez de enfrentar o problema, preferem descartá-lo, dizendo que a Filosofia é um “jogo inútil e estéril de palavras”, ou que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Esse descrédito pode ser resumido numa frase, mais ou menos popular, que diz: “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Ou seja, podemos passar muito bem com ou sem a filosofia. Na história do pensamento, é que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, os pensadores que deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples. Diante deles muitas pessoas se sentem entediadas e, em vez de enfrentar o problema, preferem descartá-lo, dizendo que a Filosofia que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Esse descrédito pode ser resumido numa frase, mais ou menos popular, que diz: “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Ou seja, podemos passar muito bem com ou sem a filosofia. A Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Quando lemos um texto de filosofia, nos apropriamos do entendimento que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se possível. O filósofo sistematiza as aspirações dos seres humanos que dão sentido ao dia-a-dia, à luta, ao trabalho, à ação. Ninguém vive o dia-a-dia sem um sentido: para o seu trabalho, para a sua relação com as pessoas, para o amor, para a amizade, para a ciência, para a educação, para a política etc. A filosofia é esse campo de entendimento que nos faz refletir sobre a cotidianidade dos seres humanos, desde os simples encontros com as pessoas, até a complexa reflexão sobre o sentido e o destino da humanidade. Nesse sentido, Georges Politzer definiu a filosofia “como uma concepção geral do mundo da qual decorre uma forma de agir”. No caso, a Filosofia é a expressão de uma forma coerente de interpretar o mundo que possibilita um modo de agir também coerente, conseqüente, efetivo. Da mesma forma, para Leôncio Basbaum, “a filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ela é, ao contrário, a própria manifestação da vida humana e a sua mais alta expressão. Por vezes, através de uma simples atividade prática, outras vezes no fundo de uma metafísica profunda e existencial, mas sempre dentro da atividade humana, física ou espiritual, há filosofia (...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, ele não se alimenta da filosofia, mas, sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia”. Todos têm uma forma de compreender o mundo, especialistas e não-especialistas, escolarizados e não-escolarizados, analfabetos e alfabetizados. Esta é uma necessidade “natural”, do ser humano, pois que ninguém pode agir no “escuro”, sem saber para onde vai e por que vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e da realidade. Esse fato é tão verdadeiro que encontramos modos de compreensão da realidade tanto no profissional de filosofia (o filósofo), quanto em qualquer pessoa que viva e reflita sobre ela, seu sentido, significado, valores etc... A prova disso está aí: de um lado, pelos sistemas filosóficos que encontramos na história do pensamento filosófico escrito da humanidade e, de outro lado, pela forma popular de compreender a vida que, normalmente, não tem registro escrito, a não ser nos poetas populares, nos trovadores etc. Certamente que a orientação valorativa (axiológica) da existência nem sempre pode significar filosofia. Quando se diz que todos têm uma “filosofia de vida”, quer dizer que nos orientamos por valores, embora nem sempre esses valores estão conscientes, explícitos. Esse direcionamento diário inconsciente pode decorrer de massificação, do senso comum, que adquirimos e acumulamos espontaneamente, sem uma reflexão crítica sobre o sentido e o significado das coisas, das ações e portanto não é filosofia. Certamente que outras pessoas, as gerações, formaram esse “senso” com o qual cumprimos o dia-a-dia, sem muitas vezes nos perguntarmos se ele é válido ou não, se o aceitamos efetivamente ou não, por isso o filosofar deve desenvolver-se sobre ele. O que importa ter claro, é o fato de que a filosofia nos envolve, não temos como fugir dela, pois como o ar que respiramos, está permanentemente presente. Se nós não escolhemos qual é a nossa filosofia, qual é o sentido que vamos dar à nossa existência, a sociedade na qual vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia. E como se diz que o pensamento do setor dominante da sociedade tende a ser o pensamento dominante da própria sociedade, provavelmente aqueles que não buscam criticamente o sentido para a sua existência assumirão esse pensamento dominante como o seu próprio pensamento, a sua própria filosofia. Quem não pensa é pensado por outros! Deste modo, a filosofia se manifesta como o corpo de entendimento que cria o ideário que norteia a vida humana em todos os sues momentos e em todos os seus processos. Esse corpo de entendimento é a compreensão da existência. A Filosofia, em síntese, não é tão-somente uma interpretação do já vivido, daquilo que está objetivando, mas também a interpretação de aspirações e desejos do que está por vir, do que está para chegar. Os filósofos captam e dão sentido à realidade que está por vir e a expressam como um conjunto de idéias e valores que devem ser vividos, difundidos, buscados. Eles têm uma “sensibilidade”, um “faro” mais atento para perceber o que já está se manifestando na realidade, ainda que de uma maneira tênue. O filósofo não é um profeta, mas pode ser capaz de ler nos acontecimentos do presente o significado do que está por vir, o que está a se desenvolver. O seu pensamento torna-se, assim, expressão da história que está acontecendo e enquanto está acontecendo, e compreensão do que vai acontecer. Deste modo, o pensamento filosófico manifesta-se tanto como condicionado pelo momento histórico quanto como condicionante do momento histórico subseqüente, como impulsionador da ação, visando a concretização de determinadas aspirações dos homens, de um povo, de um grupo ou de uma classe. Neste sentido, a filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana. A filosofia, não é só um instrumento para a compreensão do mundo e interpretação dos seus fenômenos. É também um instrumento de ação e arma política. Esse fato é tão verdadeiro que a filosofia tem gerado, ao longo da história humana, atitudes contraditórias e paradoxais. Governos que, de um lado, alijam a filosofia como subvertedora da ordem, de outro, contratam especialistas para criarem um pensamento, uma forma de conceber o mundo que garanta a sua forma de administrar politicamente o povo e a nação. Não há como negar a filosofia sem fazer filosofia, porque para se negar o valor da filosofia dentro do mundo é preciso ter uma concepção do mundo que sustente esta negação. Os maus políticos, efetivamente, agem assim. Preferem a massificação do povo, por isso impedem o desenvolvimento do pensamento filosófico. Mas “filosofam” para sustentar sua ação deletéria contra a Filosofia. Vale lembrar os esforços dos governos totalitários na perspectiva de criar “uma filosofia capaz de justificar o sentido de sua política e propagá-la como filosofia total do universo” (Leôncio Basbaum). Em síntese, a filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Essa forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como também é seu condicionante. Ao mesmo tempo, é uma interpretação do mundo e é uma força de ação. Lembramos aqui a força do pensamento dos socialistas utópicos, como Robert Owen, Saint-Simon; dos socialistas científicos, como Marx e Engels; dos revolucionários, como Lênin, Mao Tse Tung, Amílcar Cabral etc. O pensamento filosófico constituído não é “limpo”, neutro, mas sim embebido de história e de seus problemas, de seus interesses e aspirações. O “filosofar” Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e hegemônico na sociedade; assumimos o “senso comum”, que é o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na vivência cotidiana. Mas, como é que se constitui a filosofia, como se constrói esse corpo de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como aquele que queremos para o direcionamento de nossas experiências. Em primeiro lugar, temos que superar os preconceitos sobre a dificuldade e a especialidade da filosofia, pois ela não é inútil e nem tão difícil. Logo, contrariando muitos governantes e políticos, podemos e devemos nos dedicar ao filosofar. Filosofar é simples, porém não é algo mecânico, pois na mesma medida em que estamos inventariando os valores vigentes, estamos criticando-os e reconstruindo-os. Esses momentos não são separados, pois um nasce de dentro do outro. Estudando as correntes teóricas e históricas da filosofia veem que certos entendimentos da modernidade têm vínculos com a Idade Média, e certos valores, que vivemos hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna. Da mesma forma, quando iniciamos um processo de crítica dos valores enquanto estão vigentes, mas também enquanto entre eles iniciam-se os prenúncios de certas aspirações e anseios dos seres humanos. Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e propôs os valores de uma nova sociedade preocupada com uma vida menos unidirecionada para a produtividade econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos, emoções, amor, vida etc. Como e por que Marcuse conseguiu se posicionar dessa forma? Porque nasceu e viveu após a Revolução Industrial, podendo inventariar e criticar os seus valores. E também por ter vivido num momento histórico em que os seres humanos estão exaustos desses valores e aspirando por outros que lhes garantam mais vida. Marcuse entrou na corrente do contexto em que viveu, mas isso não quer dizer que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim que ele captou o “espírito” dessa época. Para filosofar é preciso não só olhar o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os outros filósofos, que poderão nos auxiliar, tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias de compreensão. O nosso exercício do filosofar será um esforço de inventário, crítica e reconstrução de conceitos, auxiliados pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso trabalho de construir nosso entendimento filosófico do mundo e da ação. PARA APROFUNDAMENTO LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. FILME A guerra do fogo; 1981, França/Canadá Hoje, geralmente se define a Filosofia em oposição ao conceito de ciência, entendido como pesquisa empírica da realidade. Houve tempos em que a filosofia foi definida em oposição à teologia, como na Idade Média; e em outras épocas a filosofia se opunha ao conceito de mito, como entre os gregos do século V a. C. Etimologicamente, a palavra “filosofia” formou-se pela junção de Filos-filia” que significa “amigo” e “Sophia” que é “sabedoria, saber”, e surge na Grécia do século VI a. C., nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como “sábio”, prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - ou seja “amigo do saber”, aquele que busca a sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele uma denominação mais fiel à sua postura de tentar compreender a realidade de seu tempo. A filosofia consiste, então, em um conhecimento sistematizado sobre o mundo da natureza, sobre a condição humana pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a cultura. Alcançado de maneira sistemática e disciplinada, indo além do saber comum, desconexo, fragmentado, o nível do senso comum, geralmente preconceituoso e limitado, sobre a realidade pessoal, social e da natureza. No entanto a filosofia tem incomodado a muitos. A história registra muitas tentativas e empreitadas em destruí-la, desqualificála, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominantes e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem um consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo. A proposta original da Filosofia é estabelecer uma crítica a uma determinada concepção de mundo, alinhavar alguma significação para a existência humana, pessoal e social e se tornar uma teoria de alcance eficaz no permanente processo de mudança e construção social da realidade. Não existe pensamento filosófico uniforme. Existem diversas tendências, métodos, escolas e tradições diferentes. Determinada tendência filosófica perdura enquanto existirem as condições históricas que lhe deram origem. Cabe a cada homem exercitar o seu “ser filósofo”, pôr-se em busca de uma apreensão significativa da cultura, de uma crítica leitura da realidade e de uma ação engajada no mundo. A reflexão filosófica GIRA em torno de três grandes perguntas ou questões: Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? LEIA MAIS... NUNES, César Aparecido. Aprendendo Filosofia. Campinas: Papirus, 1993. Com efeito, o aprofundamento na compreensão dos fenômenos se liga a uma concepção geral da realidade, exigindo uma reinterpretação global do modo de pensar essa realidade. Então, a lógica formal, em que os termos contraditórios mutuamente se excluem, inevitavelmente entra em crise, postulando a sua substituição pela lógica dialética, em que os termos contraditórios mutuamente se incluem (princípio de contradição, ou lei da unidade dos contrários). Por isso, a lógica formal acaba por enredar a atitude filosófica numa gama de contradições freqüentemente dissimuladas através de uma postura idealista, seja ela crítica (que se reconhece como tal) ou ingênua (que se autodenomina realista). A visão dialética, ao contrário, nos arma de um instrumento, ou seja, de um método rigoroso (crítico) capaz de nos propiciar a compreensão adequada da realidade e da globalidade na unidade da reflexão filosófica. A importância da filosofia Vivemos em um mundo pragmático, isto é, voltado para as coisas práticas da vida, interessado na aplicação imediata dos conhecimentos. Nesse sentido a filosofia não encontra muitos adeptos e, ao contrário, é freqüentemente repudiada como sendo uma teoria inútil e, conseqüentemente, perda de tempo. Entretanto, a filosofia é necessária. Por meio da reflexão é possível que se tenha mais de uma dimensão, ou seja, aquela que é dada pelo agir imediato no qual o homem prático se encontra mergulhado. É a filosofia que permite o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam, levantando, conseqüentemente, o problema dos valores. É a filosofia que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. A filosofia impede a estagnação e sempre se confronta com o poder, não devendo sua investigação estar alheia à ética e à política. Nesse sentido tem a função de desvelar a ideologia, ou seja, as formas pelas quais é mantida a dominação. Aliás, atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente à verdade (a-létheia, a-letheúein, “desnudar”), vemos que na verdade põe a nu aquilo que estava escondido; aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: CONCEITOS E ARTICULAÇÕES A educação é um típico “que fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade. As relações entre Educação e filosofia parecem ser quase “naturais”. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. Percorrendo a História da Filosofia e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais. Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o será sob a forma do “senso comum”, assimilada ao longo da convivência dentro do grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural. Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de interpretação do mundo. É propriamente a reprodução dos meios de produção. Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ele permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, a questioná-la, a buscarlhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há como fugir a essa “fatalidade” da nossa existência. Assim sendo, parece-nos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. É a liberdade no seio da necessidade. A Pedagogia inclui mais elementos que os puros pressupostos filosóficos da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional etc.; porém, esses elementos compõem uma Pedagogia à medida que estão aglutinados e articulados a partir de um pressuposto, de um direcionamento filosófico. A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá- la para o futuro. Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse direcionamento. Para lembrar exemplos corriqueiros, a “Pedagogia Montessori”, a “Pedagogia Piagetiana”, a “Pedagogia da Libertação” do professor Paulo Freire, e todas as outras sustentam-se em um pensamento filosófico sobre a educação. Se nem sempre esses pressupostos estão tão explícitos, é preciso explicitá-los, desde que eles sempre existem. Por vezes, eles estão subjacentes, mas nem por isso inexistentes. O estudo e a reflexão deverão “obrigá-los” a aparecer, desde que só a partir da tomada de consciência desses pressupostos é que se pode optar por escolher uma ou outra pedagogia para nortear nossa prática educacional. PARA APROFUNDAMENTO LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994, p.30-33. ARANHA, Maria Lúcia de A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989, p.43. FILMES Sociedade dos Poetas mortos; 1989 O destino. 1997 – Egito/França Tempos modernos; 1936 – EUA Texto para reflexão A MENINA QUE LÊ Certamente a menina lê. A corda frouxa entre a mão direita e o pescoço do boi - ou será um búfalo? sugere que não há esforço e, menos ainda, perigo, embora o animal seja imenso e ela pequena. A quietude do olhar do bicho não deixa dúvidas: apesar do longo chifre, ele é manso e, mais do que apenas domesticado, é doméstico. Não fosse assim, quem o entregaria aos cuidados de uma menina pequena e descalça, que lê enquanto trabalha e caminha? Pois, pelo menos enquanto atravessam a trilha ao longo do canal, parece nem ser necessário prestar atenção ao caminho e ao trabalho e, por isso, é possível ler. O olhar dela é atento e como conhece de cor o caminho e a mansidão do bicho, pode concentrar a atenção em ler e, assim, aprender o que não sabe. Criança e camponesa possivelmente pobre, estaria a menina apenas vendo as figuras de uma revista em quadrinhos que também lá no Vietnã, em 1977, fazia as delícias das crianças de um país devastado por guerras de libertação? Parece que não. O verso quase branco das folhas sugere um caderno ou, quem sabe? Uma cartilha. A menina lê. Diversa dos dois outros meninos, que montados num segundo boi apenas viajam e fazem do trabalho o prazer do passeio, a menina parece, atenta, estudar e faz do trabalho o intervalo do ensino. A tarde é calma, a guerra, parece, acabou. E crianças e bois podem conviver em paz. Puxando por uma corda um boi, ser da natureza, mas bicho manso e cativo, logo a meio caminho entre ela e o mundo humano da cultura, a menina lê. Mergulha a atenção em um universo misteriosamente humano que, ininteligível a qualquer outro ser da natureza, transforma sinais em símbolos; sinais, como o berro que um boi dá a outro, ou como a água do canal que reflete as árvores e indica que é dia e há luz. Transforma sinais em símbolos, que é o que se lê; símbolos que permitem aos homens trocarem entre si mensagens, falar de idéias e discutir valores tornam, ao mesmo tempo, a sua vida que social e humana. Atenta aos estudos mais do que ao trabalho, a menina mergulha, talvez sem saber, no universo do significado. Aos poucos se apossa do instrumento do simbolismo que lhe permite viver em um contexto superior ao dos outros seres, realizado pelo trabalho humano e tornado significativo pelo saber. (Texto de Carlos Rodrigues Brandão adaptado por Franklin M. Viilela) A filosofia da educação Todos os povos têm uma educação, pela qual transmitem a cultura, seja de maneira informal ou por meio de instituições. De qualquer forma, não é sempre que o homem reflete especificamente sobre o ato de educar. Muitas vezes a educação é dada de maneira espontânea, a partir do senso comum, repetindo costumes que são transmitidos de geração em geração. Ora, se a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto, que se faz a partir dos problemas propostos pelo nosso existir, é inevitável que entre esses problemas estejam os referentes à educação. Portanto caberá ao filósofo acompanhar reflexiva e criticamente a ação pedagógica, de modo a promover a passagem de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma educação sistematizada (alçada ao nível da consciência filosófica). A fundamentação teórica é necessária para que seja superado o espontaneísmo, permitindo que a ação seja mais coerente e eficaz. Aliás, é bom lembrar que o conceito de teoria não se separa do conceito de prática, que é o seu fundamento. Isto significa que a teoria não deve estar desligada da realidade, mas deve partir do contexto social, econômico e político de onde vai atuar. Só assim é possível definir os valores e os objetivos que orientam a ação, pois não se pode teorizar sobre a educação em si, o homem em si, o valor em si. A partir da análise do contexto vivido, o filósofo irá indagar a respeito de que homem se quer formar, e quais são os valores emergentes que se contrapõem a outros valores já decadentes. Por isso o filósofo também avalia os currículos, as técnicas e os métodos a fim de julgar se são adequados ou não aos fins propostos. Por outro lado, esse acompanhamento reflexivo impede que se caia no tecnicismo, um risco que existe sempre que os meios são supervalorizados. Ao ter sempre presente o questionamento do que seja educação, a filosofia não permite que a pedagogia se torne dogmática, nem que a educação se transforme em adestramento ou qualquer outro tipo de pseudo-educação. Por isso a filosofia da educação é importante para denunciar as formas ideológicas que utilizam a educação como instrumento de dominação. A Filosofia da Educação não terá como função fixar “a priori” princípios e objetivos para a educação; também não se reduzirá a uma teoria da educação enquanto sistematização dos seus resultados. Sua função será acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de modo a explicitar os seus fundamentos, esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o significado das soluções escolhidas. Com isso, a ação pedagógica resultará mais coerente, mais lúcida, mais justa; mais humana, enfim. Este estudo busca as raízes históricas da Filosofia da Educação no Brasil a partir do início do século XX. Neste período se delineiam, no discurso dos educadores, as primeiras preocupações com a Filosofia da Educação e se completa com a inserção desta disciplina nos cursos de formação de professores. O período em que se delineiam as primeiras preocupações com a Filosofia da Educação data do final do século XIX e início do século XX. Compõe-se de discussões e de um repensar sobre uma filosofia direcionada para a educação concretizando-se na inserção da disciplina Filosofia da Educação nos cursos de formação de professores. Os textos produzidos neste período divulgam a temática e deixam entrever um rico material de sentido filosófico seja nas obras de literatura, de poética, de direito, de religião, ou mesmo, nos assuntos políticos. Ainda considerando este período destacam-se as preocupações econômicas e a sua vinculação com os rumos que o país deve tomar diante das transformações internacionais, principalmente, as da Europa, o que ocasiona na arena nacional uma efervescência de ideias que ora confluem para pontos que se assemelham, ora para pontos totalmente discordantes sobre o desenvolvimento nacional. A educação, na trajetória dos acontecimentos, se pronuncia na voz dos educadores que procuram, também, uma forma de transformação que possa acompanhar os novos tempos. Nesta perspectiva, o estilo do filosofar brasileiro no âmbito educacional se caracteriza e se constitui sob a ótica de dois segmentos: o tradicional que incorpora um modelo filosófico influenciado pelo pensamento de determinados autores de modelos clássicos da filosofia ocidental e o progressista que reconhece as condições históricas que estão se apresentando e que requer uma educação inovadora. Este contexto, assim apresentado, em que a filosofia vai se pronunciando como reflexão crítica sobre a vida dos cidadãos da Polis é registrado por Aristófanes em sua sátira As Vespas. Esta peça teatral era apresentada ao público e fazia menção aos processos que se interpunham de cidadão para cidadão. As defesas ou acusações pronunciadas e julgadas publicamente tinham na argumentação e na contra argumentação as ferramentas necessárias aos cidadãos para “vencer” o processo. Neste sentido, naquele momento, era nas discussões, no seu desenvolvimento argumentativo e na contra argumentação, que se encontrava o interesse e a motivação para a reflexão filosófica. O contexto vivido por Platão permitiu-lhe definir, por meio destas argumentações reflexivas, a essência da filosofia como a que poderia auxiliar o homem na sua formação. Portanto, desde a antiguidade, com os primeiros filósofos gregos, a filosofia apresentou-se como elemento reflexivo, crítico e argumentativo que, teoricamente e ao mesmo tempo praticamente, permitia o encaminhamento de uma pedagogia para o viver. E, neste mesmo século, é que a pedagogia vai adquirindo consistência e é assumida como uma disciplina com status de ciência. Nesta passagem, em que o status científico da pedagogia é reconhecido, definindo o seu significado e a sua função, emergem questões pertinentes à relação existente entre a Pedagogia, a Filosofia e a Educação. Esta mesma discussão fazia parte do cenário europeu desde o início do século XVIII e se fortaleceu no século XIX, quando os trabalhos de Rousseau, de Kant, de Hegel, de William James e mais tarde de Dewey, entre outros, foram elaborados no confronto dos pressupostos teóricos do racionalismo científico e da metafísica. No surgimento de novas propostas de análise, de crítica e de reflexão filosófica, Kant (1724-1804) tendo em vista o idealismo alemão formula sua concepção colocando na base dos seus pressupostos teóricos a constituição do homem pela educação na sua razão prática. O conhecimento acerca do agir e do fazer humano em relação aos seus semelhantes, era fundamental na sua obra filosófica sobre o problema do conhecimento empírico (a posteriori) e do conhecimento puro (a priori) em “A crítica da razão pura” (1781) e sobre o problema da moral em “A crítica da razão prática” (1788). As idéias de Kant, de Hegel e do evolucionismo deslumbravam os educadores, principalmente os de formação filosófica de inclinação católica. Outros pensadores manifestaram suas concepções no mesmo século, XVIII –XIX, que repercutiram sobremaneira no século seguinte. Fichet, por sua vez, expôs a sua tese correlacionando a educação e a política na formação do homem e destacou o apoio que a educação deveria necessariamente buscar na filosofia, quando nos seus pressupostos reforçava a ideia de que um sistema filosófico contém em si uma teoria educacional. A Filosofia e a História da Educação, no Brasil, nas décadas de 20 e de 30, ao afirmarem-se nos currículos das instituições de formação docente, assumiram dupla função: quando preservavam os fundamentos morais, apoiados nos princípios da metafísica, da teologia cristã e quando seus conteúdos eram remodelados pelas novas tendências, apoiados nos princípios e preceitos científicos veiculados pela escola nova. Sedimenta-se tendo os pressupostos filosóficos dos pensadores antes citados, Kant, Rousseau, William James e Dewey e, ainda, pela filosofia Tomista. Kant, influenciado por Rousseau e por Hume, tinha seus fundamentos apoiados na conduta do homem no seu agir e fazer como denunciantes dos problemas morais, e anunciava a autonomia e a liberdade do homem ao alcançar o “esclarecimento”, momento em que deixava a sua ignorância e desvencilhava-se da necessidade da direção de outro homem e ficava livre do seu aprisionamento à “menoridade”. Rousseau, por sua vez, revelava na sua obra Emílio ou Da Educação. A filosofia tradicional, que procura conservar os preceitos da religião cristã, e a filosofia progressista ou liberal, que procura desenvolver a formação para um homem moderno, de princípios democráticos, de responsabilidade sobre as suas ações, encontram-se explícitas nos discursos sob os pontos de vista de concepções contraditórias. Considerando a Filosofia da Educação brasileira nas suas raízes pode-se afirmar que ela se apresenta sob os aspectos de interferência internacional, quando os autores clássicos (de tradição teológica ou defensores dos aspectos tradicionais) e os autores contemporâneos contrapõem as suas concepções; e, por outro lado, quando se apresenta sob os aspectos coordenados pelo cenário nacional, ao manifestar as contraposições e as aproximações entre concepções tradicionais e progressistas, em momentos diferentes. Texto para reflexão EDUCAÇÃO: MAIS DOUTRINAÇÃO DO QUE ENSINO, NADA DE O ser humano desejoso de cada vez humanizar mais um mundo que se apresenta como grosseiro, bruto, violento, entrega-se, muitas vezes apressadamente, ao trabalho, sem aproveitar o recurso de uma reflexão adequada. Acaba, por isso, assumindo posturas inadequadas e sua ação fica a desejar. Isso acontece freqüentemente no trabalho educacional, onde a confusão entre educação, ensino e doutrinação pode acabar em desperdício de energia, prejudicando uma mais eficaz ação pedagógica. O texto a seguir, de Maria Lúcia Arruda Aranha, mostra que a ação de educar tem uma abrangência maior que a de ensinar e que a doutrinação é uma camuflagem que impede a verdadeira educação. O homem faz cultura por meio do seu trabalho, com o qual transforma a natureza e a si mesmo. O aperfeiçoamento dessas atividades só é possível mediante a educação, fator fundamental e essencial para a humanização do homem. Nas sociedades primitivas a educação se acha difusa, integrada no próprio funcionamento da sociedade como tal. Conforme os agrupamentos humanos se tornam mais complexos, surgem organizações encarregadas da transmissão da herança cultural, como a escola. No entanto, a educação mais formalizada não substitui totalmente a educação informal que permeia o tempo todo as relações entre os homens. É preciso, porém, não entender a educação como simples transmissão da herança cultural dos antepassados, mas como processo pelo qual também se torna possível a gestação do novo e a ruptura com o velho. É evidente que isto ocorre de maneira variável, conforme sejam as sociedades estáveis ou dinâmicas. Assim, as comunidades primitivas resistem à mudança, devido ao caráter mágico e religioso de suas convicções. O mesmo ocorre nas antigas civilizações do Egito, China, Índia, que eram tradicionalistas. O mesmo acontece, ainda hoje, em países como o Afeganistão. Além disso, é preciso estabelecer algumas nuanças. Por exemplo, há diferenças entre educação, ensino e doutrinação. Educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do ser humano, ou seja, da sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do seu caráter e da sua personalidade social. Já o ensino se refere à transmissão de conhecimentos e que são indispensáveis à educação. A doutrinação, por sua vez é uma pseudo-educação que não respeita a liberdade do educando, impondo-lhe conhecimento e valores. É o processo usado pelos governos totalitários que querem submeter todos a uma só maneira de pensar e agir, destruindo o pensamento divergente. Quanto à educação e ensino, é preciso fazer um reparo: são dois polos do processo de humanização que se completam. Não é possível separá-los tão nitidamente. A formação integral do ser humano (educação) não pode acontecer sem que esse homem seja informado (ensino) sobre o mundo em que vive. È a partir da consciência da sua própria experiência e da experiência da humanidade que o homem tem condições de se tornar um ser moral e político. De outro lado, toda informação (ensino), mesmo fornecida formação, ao sem ser a aparente assimilada intenção pelo de educando, interfere na sua concepção de mundo (educação). E com freqüência uma informação, pretensamente neutra, mascara um conteúdo ideológico. (ver Mª Lúcia Arruda Aranha – Filosofia da Educação) TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS O caminho mais adequado para o entendimento de um termo é buscar a sua origem e a sua formação. Para uma compreensão maior e mais clara das palavras tendência e pedagógica, é preciso buscar o seu significado original. TENDÊNCIA: Tem sua origem no latim, exatamente no plural de tendens, isto é, em tendentia, que literalmente significa aquilo que deve tender para, aquelas coisas que devem se inclinar para. Quer dizer: tendentia são aquelas coisas que possuem uma força interna que as inclina, que as direciona para um determinado caminho. Deste significado etimológico surgiram os diversos significados que se encontram nos dicionários: inclinação, propensão; vocação, pendor; força que determina o movimento de um corpo (na física); intenção, disposição. PEDAGÓGICO: É uma palavra derivada de pedagogo, por sua vez formada por dois termos gregos: paidion (= criança) e agogós (= escravo) e significava o escravo que acompanha a criança, que em última análise era o responsável pela educação da criança. Conseqüentemente, pedagógico passou a significar aquilo que é relativo à educação. TENDÊNCIA PEDAGÓGICA: Tendo em vista os significados isolados dos dois termos, pode-se dizer que Tendência Pedagógica é a inclinação que direciona o processo educacional; ou a força determinadora do caminhar do processo educacional; ou ainda, de modo mais concretamente expressivo, aquilo que determina a escolha das técnicas e do conteúdo do trabalho educacional . Segundo Libâneo, este apresenta as diversas tendências pedagógicas divididas em dois grandes grupos, as pedagogias liberais e as pedagogias progressistas, que, podem ser assim apresentadas: PEDAGOGIAS LIBERAIS PEDAGOGIAS PROGRESSISTAS Pedagogia Conservadora ou Tradicional Pedagogia Renovada Progressivista Pedagogia Libertadora Pedagogia Libertária Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos Pedagogia Renovada Não-Diretiva Pedagogia Tecnicista As Pedagogias Liberais se preocupam mais diretamente com o indivíduo, enquanto as Pedagogias Progressistas se interessam antes de mais nada pelo ambiente social em que vive o educando, como se pode perceber pelo que segue. 1. Quanto às Pedagogias Liberais, é preciso atentar para o seguinte: O termo liberal não tem o sentido de avançado, ou democrático, pois a pedagogia é uma manifestação própria da sociedade capitalista. A pedagogia liberal sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças individuais, embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades. A pedagogia liberal iniciou-se na forma conservadora (tradicional) e evoluiu para as formas renovadas e tecnicista. A versão conservadora se caracterizou por: acentuar o ensino humanístico de cultura geral; por apresentar os conteúdos, a relação professor x aluno e os procedimentos didáticos sem nenhuma referência ao cotidiano do educando; por dar importância decisiva à palavra do professor, aos regulamentos e ao cultivo exclusivamente intelectual. As versões renovadas se caracterizam por: partir da afirmação de que a cultura é o desenvolvimento das aptidões individuais; defender que o capacidades individuais, ensino deve desenvolver as embora para a vida em sociedade; propor a auto-educação, o que significa: que o aluno é o sujeito do conhecimento; importante a aquisição 1) aceitar 2) reconhecer que é mais de processos de aprendizagem do que a aquisição de conteúdos; e 3) valorizar mais interferência do adulto a iniciativa do aluno que a e, conseqüentemente, do professor. A versão tecnicista se caracteriza por: visar exclusivamente um saber-fazer técnico-científico; dar mais importância ao setor de planejamento do que ao professor; buscar antes preparar mão-de-obra para o mercado (empresas) do que formar cidadãos. 2. Quanto às Pedagogias Progressistas, cumpre atentar para o que segue: O termo progressista é usado aqui para designar as tendências que, partindo da análise crítica das realidades sociais, sustentam as finalidades políticas da educação. Visto que não podem institucionalizar-se em uma sociedade capitalista, as pedagogias progressistas, premidas pela necessidade de transformação da sociedade, acabam fazendo da educação um instrumento de luta política dos professores. As pedagogias progressistas têm como principais expressões as versões denominadas libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. As versões libertadora e libertária se caracterizam por: defender posturas pedagógicas anti-autoritárias; valorizar a experiência vivida como base da relação educativa; dar mais valor ao processo de aprendizagem grupal do que aos conteúdos de ensino; enfatizar a junto ao povo e, prática educativa como prática social por isso, valorizar muito as modalidades de educação popular não formal. A versão progressista crítico-social dos conteúdos se caracteriza por: buscar ser uma síntese do tradicional, do renovado e do progressista; por atribuir conteúdos do que maior importância à transmissão dos as versões libertadora e libertária; buscar não omitir participação do aluno no nem impedir a atividade processo pedagógico. PEDAGOGIA LIBERAL E PEDAGOGIA PROGRESSISTA e a Enquanto a Pedagogia Liberal se preocupa fundamental e essencialmente com o indivíduo e seu desenvolvimento individual, a Pedagogia Progressista coloca como fundamento necessário e essencial para um verdadeiro e eficaz trabalho educacional a preocupação com os elementos sociais que envolvem a vida do educando. QUADRO DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PEDAGOGIAS LIBERAIS - QUADRO 1 TRADICIONAL PAPEL ESCOLA Adaptação. Preparar, moral e intelectualmente, os alunos para assumirem sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura. Os DA problemas sociais pertencem à sociedade. TECNICISTA Modelar o comportamento humano. Integrar os alunos ao sistema social global. Produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho. Conhecimentos e valores Informações, princípios científicos, leis etc. tradicionais acumulados pelas estabelecidos e ordenados em seqüência CONTEÚDO DE gerações adultas. lógica e psicológica por especialistas. Visa ENSINO um saber-fazer-técnico-científico. MÉTODO Expositivo - 5 passos formais de Método científico (Spencer). Metodologia Herbert: tecnicista e abordagem sistêmica abrangente. Tecnologia educacional: a) preparação; instrução programada, planejamento, b) apresentação; audiovisuais, programação de livros c) associação; didáticos, avaliação científica etc. d) generalização; e) RELAÇÃO aplicação. Autoritária: o professor transmite Técnica-diretiva, com relações estruturadas e o aluno ouve passivamente. e objetivas e com papéis definidos. O (Educação centrada no professor: professor, gerente, administrador, é um elo PROFESSOR Magister dixit.) de ligação entre a verdade científica e o aluno, ser responsivo. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. (Ensino centrado no controle das condições que cercam o aprendiz, nas análises das condições de vida). A capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto (menos desenvolvida). Ensinar é repassar conhecimentos. A aprendizagem é receptiva e mecânica. A retenção da matéria se dá pela repetição. Avaliação oral e escrita (provas, exames...). Reforço mais negativo que positivo, punição. Aprender é modificar o desempenho face a objetivos preestabelecidos. O ensino é um processo de condicionamento através do reforço das respostas desejáveis. Aumentar o controle das variáveis que afetam o aprendiz. Motivação: externa, estímulos, reforço. (Embasamento teórico: Skinner, Gagné, Bloom, Mager.) Viva e atuante em nossas escolas tradicionais, religiosas ou leigas que adotam orientação clássicohumanista ou humano científica (esta, mais predominante em nossa história educacional). Os marcos da implantação e o modelo tecnicista são: a Lei 5.692/68, que reorganiza o ensino superior, e a Lei 5.692/71, que fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º Graus, embora sua influência remonte ao Programa Brasileiro Americano de Auxílio ao Ensino Elementar PABAEE (meados de 1950). Os professores da escola pública, apesar da legislação, não assimilaram a pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de ideário, ainda que tenham aplicado a sua metodologia. O exercício profissional continua mais para uma postura eclética baseada nas pedagogias tradicional e renovada. X ALUNO PRESSUPOST OS DE APRENDIZAGE M MANIFESTAÇÃ O NA PRÁTICA ESCOLAR PEDAGOGIAS LIBERAIS - QUADRO 2 RENOVADA PROGRESSIVISTA PAPEL RENOVADA NÃO-DIRETIVA Adequar as necessidades Formar atitudes. Criar um clima favorável ao individuais ao meio social. autodesenvolvimento e realização pessoal. DA Retratar, o quanto possível, a vida. (Preocupação maior com problemas ESCOLA Promover experiência. integração por psicológicos que com pedagógicos ou sociais.) problemas Experiências vivenciadas, desafios cognitivos e situações CONTEÚDO DE problemáticas. "Aprender a ENSINO aprender". O processo de aquisição do saber é mais importante que o próprio saber. Processos de desenvolvimento das relações e das comunicações. Facilitação de meios para que os alunos busquem, por si mesmos, os conhecimentos. Incentivo à pesquisa baseada nos interesses. Ativo - "Aprender fazendo"; experimental; de solução de problemas; de projetos; centro de interesse; trabalho em grupo; pesquisa; estudos dos meios natural e social. Terapêutico - Os métodos pedagógicos são dispensados, prevalecendo o esforço do professor para facilitar a aprendizagem dos alunos. Técnicas de sensibilização. Processos para melhorar o relacionamento interpessoal. Democrática: o professor, facilitador, deve auxiliar o desenvolvimento do aluno que, por sua vez, participa e respeita as regras do grupo. (Educação centrada na vivência) Relações Humanas: o professor é um "facilitador" que deve "ausentar-se" em respeito ao aluno (Educação centrada no aluno) MÉTODO RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO Aprender é uma atividade de Aprender é modificar suas próprias descoberta. Respeito às percepções. Valorização do "eu" e da autodisposições internas e aos realização. Motivação interna. Auto-avaliação. interesses dos alunos. O ambiente PRESSUPOSTO deve ser um meio estimulador, S propiciando a auto-aprendizagem. Motivação: interna e externa. DE APRENDIZAGE Avaliação: fluida, expressa pelo reconhecimento do professor dos M esforços e êxitos dos alunos. Aplicação reduzida, por ser nossa prática pedagógica basicamente tradicional. Algumas escolas adotam os métodos de Montessori, Decroly, Dewey ou o MANIFESTAÇÃ ensino baseado na psicologia O NA PRÁTICA genética de Piaget (educação préescolar). Também as escolas ESCOLAR "experimentais", "escolas comunitárias", e a "escola secundária moderna", na versão de Lauro de Oliveira Lima. As idéias de Carl Rogers influenciaram muitos educadores, principalmente orientadores educacionais e psicólogos escolares que se dedicam ao aconselhamento. A escola de Summerhill, do educador inglês A . Neill, também teve alguma influência entre nós. PEDAGOGIAS PROGRESSISTAS - QUADRO 1 PAPEL DA ESCOLA CONTEÚDO DE ENSINO MÉTODO RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO LIBERTADORA LIBERTÁRIA Através de situação "não formal", professores e alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de consciência crítica a fim de buscarem uma transformação social. Rejeição da educação "bancária" (tradicional) e da educação renovada (libertação psicológica), ambas domesticadoras. Transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. Criar mecanismos institucionais de mudanças que preparem os alunos para atuarem em instituições "externas". Resistir à burocracia que retira a autonomia da escola. "Temas geradores", extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. (Educação com caráter político.) Não há conteúdo propriamente dito predeterminado, mas do interesse do aluno, conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo (mecanismos de participação crítica), levando à descoberta de respostas às necessidades e às exigências da vida social. Diálogo. Autogestão (vivência grupal). Discussão em grupo ("grupo de Experiências vividas. discussão") Contatos: discussões, assembléias, cooperativas e outras formas de participação e expressão pela palavra; organização e execução do trabalho. Não diretividade. Não diretiva. Educador e educando como sujeitos do ato de conhecimento. O professor é um animador que caminha "junto" num trabalho de "aproximação de consciência". O professor é um orientador, um conselheiro e um catalizador que se mistura ao grupo para uma reflexão em comum. Aprender: ato da realidade concreta. Uso prático do saber. Passos da aprendizagem: codificação-decodificação, e Aprendizagem informal, via grupo. problematização da situação. Motivação: interesse em crescer dentro da Aproximação crítica da realidade do vivência grupal. PRESSUPOSTO educando. Chegar ao conhecimento Não há avaliação. S pelo processo de compreensão, reflexão e crítica. Auto-avaliação. DE APRENDIZAGE M MANIFESTAÇÃ O NA PRÁTICA ESCOLAR As idéias de Paulo Freire têm influenciado sindicatos e movimentos populares. Alguns grupos atuam não apenas no nível da prática popular, como também por meio de publicações, independentes das idéias originais da pedagogia libertadora. Apesar de ter sido formulada, teoricamente, para a educação de adulto ou para a educação popular, em geral, muitos professores vêm tentando colocar em prática a pedagogia libertadora em todos os graus de ensino formal. Abrange quase todas as tendências antiautoritárias em educação: a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos e a dos professores progressistas. Entre outros, podemos citar os seguintes autores libertários: Lobrot, C. Freinet, Vasques, Oury, Miguel Gonzales Arroyo e Ferrer y Guardia. Maurício Tragtenberg, apesar de um enfoque menos pedagógico e mais crítico das instituições, em favor de um projeto autogestionário, destaca-se como estudioso e divulgador da tendência libertária. PEDAGOGIAS PROGRESSISTAS - QUADRO 2 CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS Transmissão de conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais. Instrumento de apropriação do saber, a serviço dos interesses populares. A educação é "uma atividade mediadora no seio da prática social global". PAPEL DA ESCOLA (D. Saviani). Preparar o aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendolhe um instrumental (conteúdos e socialização) para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Conjunto de conhecimentos prontos, selecionados entre os bens culturais da humanidade (saber universal autônomo) reavaliados face às realidades sociais, com funções formativas e instrumentais. CONTEÚDO DE Postura da pedagogia "dos conteúdos" - obter o acesso do aluno aos ENSINO conteúdos , ligando-os à experiência concreta deles - é a continuidade; ao mesmo tempo, proporcionar elementos de análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar a experiência, os estereótipos, as pressões difusas da ideologia dominante - é a ruptura. MÉTODO Métodos participativos baseados em uma relação direta da experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora (subordinação ao conteúdo). Vai-se de uma ação à compreensão e desta à ação, até a síntese, unindo a teoria à prática. Relação de interação diretiva (provimento de condições ideais de trocas). RELAÇÃO PROFESSOR X O professor é um mediador, intervencionista. O aluno participa do processo confrontando sua experiência com os conteúdos expressos pelo professor. ALUNO Prontidão. Todo conhecimento novo deve apoiar-se numa estrutura cognitiva já existente (aprendizagem significativa). Capacidade para processar informações. Avaliação: comprovação do progresso do aluno em direção a noções PRESSUPOSTO mais sistematizadas. S DE APRENDIZAGE M MANIFESTAÇÃ O NA PRÁTICA ESCOLAR Inúmeros professores da rede escolar pública que se ocupam de uma pedagogia de conteúdos articulada com a adoção de métodos que favoreçam a participação dos alunos, muitas vezes, sem saber, avançam na democratização efetiva do ensino para as camadas populares. No Brasil, destaca-se Saviani que vem desenvolvendo investigações relevantes, no sentido de colocar a educação "a serviço da transformação das relações de produção", "da democratização da sociedade brasileira, atendendo aos interesses das camadas populares". Podemos citar a experiência pioneira do educador russo Makarenko. Entre os autores atuais, estão: B. Charlot, Suchodolski, Manacorda e, especialmente, G. Snyders. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO SÉCULO 20 A educação tem se tornado, cada vez mais, uma preocupação dos grupos dirigentes de todos os povos. Isto aparece claramente no século 20. Os administradores públicos e privados e os estudiosos dos mais diversos ramos têm escrito expressando idéias as mais diversas e, às vezes, contraditórias sobre esta atividade tão importante para os caminhos da sociedade. Entre os educadores as principais reflexões sobre a educação se encontram em teorias como Escola Nova, Tecnicismo, Desescolarização da Sociedade, Crítico-Reprodutivismo e Progressismo, estudadas a seguir. A ESCOLA NOVA 1. INTRODUÇÃO: No final do século 19 e começo do século 20, com o desenvolvimento de novas ciências (biologia, sociologia, psicologia) surge a necessidade de adequar a educação a um mundo em transformação. Aparece, então a Escola Nova, que se apresenta como um esforço para superar a pedagogia da essência pela pedagogia da existência, se constituindo, assim, em uma pedagogia de caráter predominantemente psicológico. Quer dizer: o educando é antes sujeito que objeto da educação. 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS: A Escola Nova representou uma verdadeira inovação no campo da educação. Suas propostas atingem os vários itens que constituem a prática educativa. Assim: Na relação professor-aluno: é alunocêntrica (o aluno é ativo e o elemento mais importante do processo), enquanto o professor é um facilitador que deve despertar o interesse do aluno e provocar a sua curiosidade. Quanto ao conteúdo: é mais importante o modo de aprender do que o próprio aprender; é mais válido aprender a aprender do que aprender! Quanto à metodologia: de modo geral, propõe que as atividades sejam centradas no aluno, valorizando a sua espontaneidade e as suas iniciativas; se preocupa com a individualização das atividades e introduz alguma socialização ao promover os trabalhos em grupo, muito embora sempre em função do desenvolvimento individual; em algumas escolas específicas, que privilegiam a pedagogia da ação, são criados setores pedagógicos típicos, como horta, laboratório, oficina, imprensa; os jogos são vistos não como opostos ao trabalho, mas como facilitadores da aprendizagem. Quanto à avaliação: insiste em que esta é um processo válido para o aluno e se constitui em uma das etapas da aprendizagem; não deve contemplar apenas o intelectual, mas também a aquisição de habilidades e a formação de atitudes; a competição tende a ser substituída pela cooperação. Quanto à disciplina: tem o seu valor relativizado na medida que a escola prepara para a autonomia; por isso, há um afrouxamento quanto à importância das normas e uma abertura no sentido de estimular a responsabilidade e a capacidade de crítica; busca uma disciplina que seja antes uma aceitação (vontade) que uma pura submissão a ordens impostas. 3. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS: A Escola Nova expressão típica da sociedade liberal é uma que aparentemente dá chances iguais a todos de acordo com suas possibilidades intelectuais, mas que na realidade reproduz o sistema, privilegiando a elite. A ênfase na qualidade e em processos dispendiosos torna a escola cada vez mais elitista. A crítica inadequada ao autoritarismo da Escola Tradicional resultou na ausência de disciplina. Uma das suas piores conseqüências foi o puerilismo, supervalorização da criança (aluno) e minimização do papel do professor. Além disso, a proposta escolanovista propiciou a confusão entre ensino, pesquisa e aprendizagem. 4. PRINCIPAIS EDUCADORES: A Escola Nova foi criada por DEWEY (1859-1952), educador norte-americano. No mundo são escolanovistas Kilpatrick, Claparède, Decroly, Montessori, Lubienska. No Brasil, Fernando de Azevedo, (1894-1974) Anísio Teixeira (1900-1971) e Lourenço Filho (1897-1970). ESCOLA TECNICISTA 1. INTRODUÇÃO: A crítica da escola tradicional, aliada à não aceitação das propostas escolanovistas, fez surgir a idéia de que a escola, para se tornar eficaz, deveria assumir o modelo empresarial, isto é, deveria seguir o modelo de racionalização e produção da empresa capitalista. É a tendência tecnicista que, iniciada nos Estados Unidos, é introduzida no Brasil através de diversos acordos bilaterais, inicialmente sigilosos. Sua implementação foi buscada com maior insistência a partir de 1964 e aparece com maior evidência nas leis 5540/68 e 5692/71. 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS: O tecnicismo se mostra através das seguintes notas: O objetivo da escola é preparar mão-de-obra qualificada para a indústria. O conteúdo das diversas disciplinas deve ser o conjunto de informações e conhecimentos "científicos" (de preferência das "ciências exatas") a serem transmitidos aos alunos. O método é o taylorista, que supõe uma divisão rígida das tarefas, uma ênfase no planejamento racional com estabelecimento de objetivos institucionais muito claros e insubstituíveis e com valorização exagerada dos meios técnicos (audiovisuais). A avaliação visa exclusivamente verificar se os objetivos propostos estão sendo atingidos. A relação professor-aluno é fria, dispensando-se as discussões e os debates; o professor é um técnico que transmite informação técnica objetiva. 3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: A tendência tecnicista tem seus fundamentos teóricos sobretudo no positivismo e no "behaviorismo". 4. CRÍTICAS: O tecnicismo foi e continua sendo de difícil implantação pois os professores ou foram (e muitos ainda são) de formação tradicional ou já estão imbuídos de pensamento escolanovista ou mesmo progressista. Além disso, o tecnicismo: Burocratiza o ensino, insistindo em objetivos detalhados para cada passo do programa. O professor se torna um mero executor de textos vindos do setor do planejamento. Camufla e fortalece estruturas de poder com sua pretensa despolitização (neutralidade técnica), pois substitui a participação democrática pela decisão de poucos (os técnicos do setor de planejamento). DESESCOLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE 1. INTRODUÇÃO: A desescolarização da sociedade é uma proposta de Ivan Illich (1926) que, fazendo coro com as críticas à escola tradicional e à escola nova, propõe a eliminação da escola. 2. CRÍTICAS À ESCOLA: Illich faz as seguintes considerações: A escola está em crise e a solução dos seus problemas não está na promoção de reformas dos métodos e currículos, nem na crítica ao seu elitismo; a solução está na destruição da escola. A escola é uma das instituições criadas para proteger e dirigir as ações humanas e que, por isso, infantiliza o ser humano que especialistas. se torna sempre mais dependente de A escola escraviza mais do que a família, pois se apoia em uma estrutura organizada, fortemente hierarquizada, em rituais de provas e exames e no mito do diploma. A existência da instituição escolar se baseia na premissa falsa de que a criança só aprende (pra valer) na escola. A escola é uma promessa que não se cumpre: vive o paradoxo de que querer preparar para o mundo, ao mesmo tempo que corta os contatos da criança com ele. A escola só fornece a aprendizagem da hierarquia (dos que estão acima). A escola é cúmplice do mito do progresso, da competência, do consumo, perpetuando as desigualdades sociais. 3. A PROPOSTA - SOCIEDADE SEM ESCOLAS: Illich propõe, para desescolarizar a sociedade, o que segue: destruir o culto à máquina; substituir o sistema escolar pelo sistema de convivialidade: redes de comunicações culturais que facilitem o encontro de pessoas interessadas no mesmo assunto; abolir o poder de uma pessoa proibir outra de participar de qualquer tipo de reunião; afirmar o direito de qualquer pessoa promover qualquer tipo de reunião. 4. CRÍTICAS À PROPOSTA DE DESESCOLARIZAÇÃO: O grande mérito de Illich está em levantar a questão da validade da escola. Há, porém, alguns reparos: A sua crítica se refere, sem dúvida, a uma escola de característica tradicional. As instituições não são necessariamente um mal para a sociedade. O mito da competência e a especialização, quando não redundam em forma de poder e de manipulação, podem ajudar o ser humano a sair da privação e da penúria. O projeto de Illich possui uma dimensão individualista. O ideal de convivialidade repousa na convicção ingênua de supor que o sistema de redes escapa às pressões e às contradições de interesses estabelecidos. TEORIAS CRÍTICO - REPRODUTIVISTAS 1. CONCEITUAÇÕES: 1.1. REPRODUTIVISMO: O conceito reprodutivismo surgiu, no âmbito educacional, em função da contradição entre a postura ingênua que afirmava ser a educação um instrumento de equalização dos membros de uma comunidade e o verdadeiro papel exercido por ela dentro da sociedade. No primeiro caso, a escola seria um fator de democratização e universalização do saber, contribuindo para desfazer injustiças sociais e tornando iguais as chances de desenvolvimento de indivíduos de classes diferentes. Na realidade, a escola tem exercido um papel de mera reprodutora. É reprodutivista, pois, ao invés de democratizar, reproduz as diferenças sociais perpetuando o status quo e, portanto, é uma instituição altamente discriminadora e repressiva (Aranha, 128). Assim, entende-se como reprodutivismo a caracterização da escola que a considera reprodutora das diferenças sociais e perpetuadora das injustiças sociais. 1.2. CRÍTICO-REPRODUTIVISMO: É aquele grupo de tendências pedagógicas que analisam o trabalho da escola e concluem que a mesma exerce uma função reprodutora da sociedade, com suas injustiças. Fazem-lhe, pois, uma crítica severa e enfocam as várias modalidades de sua instrumentalização, que podem ser concentradas em três linhas de instrumentalização. Escola instrumento de violência simbólica. Escola aparelho ideológico de estado (AIE). Escola instrumento da divisão dualista da sociedade (Escola Dualista) 2. ESCOLA ENQUANTO INSTRUMENTO DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA: Para entender a posição dos autores que consideram a escola um instrumento de violência, é preciso, antes, atentar para o significado de violência. 2.1. NOÇÃO DE VIOLÊNCIA: Violência segundo os dicionário é o ato de violentar. Violentar, por sua vez, é forçar, coagir, constranger. A partir dessa noção descobriu-se que existem várias formas de violência, que podem ser reduzidas a duas: Violência material: é a violência física, praticada com meios materiais, através da coerção, com ameaça de castigo, ou através da imposição da força física. A violência material é sempre explícita! Violência simbólica: é a violência que se exerce mediante o uso de forças simbólicas, isto é, mediante aquelas forças que levam as pessoas a pensarem e a agirem sem se darem conta de que estão sendo conduzidas. As forças simbólicas agem sobretudo através das idéias transmitidas pela comunicação cultural (teatro, televisão, cinema, jornais, revistas etc.), pela doutrinação política e religiosa, pelas práticas esportivas e pela educação escolar. A violência simbólica é sempre implícita! 2.2. A VIOLÊNCIA DA ESCOLA: educadores Bourdieu e Passeron, franceses da atualidade, analisaram o papel da escola e chegaram à conclusão de que a escola é, de fato, uma reprodutora de um determinado tipo de sociedade, usando para isso da violência simbólica. Seus estudos levaram às seguintes conclusões: A escola é um reflexo da sociedade, pois não é uma ilha separada do seu contexto social, que marca os indivíduos de maneira inevitável e quase irreversível. A escola reproduz os privilégios já existentes na sociedade, favorecendo os já socialmente favorecidos. A escola não democratiza; reafirma os privilégios; isto aparece claramente quando se vê que freqüentam o universo escolar dois tipos de pessoas (crianças sobretudo): crianças vindas das classes privilegiadas: por receberem uma educação familiar (informal) muito próxima daquela que receberão na escola, estão prontas para tirar proveito da escola, estão prontas para o sucesso. Crianças vindas das classes desfavorecidas: sua educação familiar (informal) está muito longe daquela que tentarão passar-lhes na escola e, assim, estão destinadas ao não aproveitamento, estão preparadas para o insucesso. O insucesso escolar é geralmente mascarado e mistificado, recorrendo-se ao conceito de desigualdades naturais. A ideologia dos dotes dissimula a imposição da cultura da classe dominante sobre a cultura da classe dominada. 3. ESCOLA ENQUANTO APARELHO IDEOLÓGICO DE ESTADO: Esta visão da escola tem como principal pensador Louis Althusser. Para ele, na sociedade capitalista, a escola, ao mesmo tempo que ensina um saber prático que proporciona a qualificação da força de trabalho, reproduz a ideologia da classe dominante, pois só assim será feita reprodução qualificada da força de trabalho adequada ao sistema capitalista. A escola torna-se instrumento de dominação ideológica e por isso é um dos elementos do aparelho ideológico de estado (AIE). Isso se torna mais claro com o entendimento da função da ideologia na vida social. 3.1. FUNÇÃO DA IDEOLOGIA: A sociedade capitalista é constituída por duas classes sociais antagônicas: a dominante, detentora dos meios de produção, e a dominada, a força de trabalho. Aquela domina esta através da ideologia, que mascara a exploração e transforma os valores da classe dominante em valores universais, dificultando o desenvolvimento do pensar próprio da classe dominada. A classe dominante usa instrumentos de dominação para conservar os seus privilégios. 3.2. INSTRUMENTOS DE DOMINAÇÃO: O Estado , na sociedade capitalista, tem a função de resguardar os interesses da classe dominante e reprimir os anseios da classe dominada. Para o exercício dessa função possui dois tipos de aparelhos: repressivos uns, ideológicos outros. Aparelhos Repressivos de Estado (ARE): são aqueles aparelhos que funcionam por meio de algum tipo de violência. Inclui a administração pública, a polícia, os tribunais, as prisões. Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE): são aqueles que utilizam da ideologia para defender e preservar os objetivos da classe dominante. Distribuem-se por diversos setores das atividades humanas: AIER, AIEE, AIEF, AIEJ, AIEP, AIES, AIEI, AIEC. Aparelho Ideológico de Estado da Escola (AIEE): entre os AIEs. O AIEE tem um papel preponderante, pois a escola não possibilita chances iguais a todos. Ao contrário, determina de antemão a reprodução das classes sociais, pois, de um lado, inculca a idéia de que uns são destinados a dominar; de outro, reprime as aspirações de ascensão daqueles que foram sempre dominados. 4. A TEORIA DA ESCOLA DUALISTA: É um modo específico de ver o trabalho escolar muito próximo da teoria da escola enquanto AIE. Baudelot e Establet, os dois educadores franceses que estabeleceram as bases da Teoria Dualista, fazem as seguintes considerações: Não existe uma escola única, isto é, uma escola que vise trabalhar os educandos para que todos possam atingir um mesmo nível educacional. Existem duas escolas que se diferenciam quanto ao número de anos de estudos, quanto aos itinerários e aos fins do processo educacional. Estas duas escolas são heterogêneas e antagônicas. As duas escolas aparecem mais claramente como duas grandes redes de escolaridade: Rede SS (secundária superior): visa levar os aluno à universidade. Rede PP (primária profissionalizante): acaba no primeiro grau e visa levar o aluno imediatamente ao trabalho (manual). A divisão da escola em duas redes reafirma a divisão entre trabalho intelectual (rede ss) e trabalho manual (rede pp), porque nessa dicotomia repousa a possibilidade material da manutenção da estrutura social capitalista. A escola tem duas funções: Determinar a orientação dos alunos para uma ou outra rede. Inculcar a ideologia burguesa para conter e dominar os anseios de uma nova ideologia fundada nos anseios dos proletários. 5. CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS BRASILEIROS: Alguns pensadores brasileiros fizeram uma crítica do nosso processo educacional que os aproxima dos crítico-reprodutivistas citados. São eles: Bárbara Freitag, Maria de Lourdes Deiró Nosella e Luis Antônio Cunha. 6. CRÍTICA ÀS TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS: Os autores crítico-reprodutivistas fazem uma análise válida quando levantam a problemática da função da escola em uma sociedade dividida em classes. Sua crítica, porém, pode conduzir a um pessimismo imobilista, pois esquecem que as contradições precisam ser percebidas para possibilitar o surgimento de novas propostas, o que acontece com as cha madas tendências progressistas. Esquecem também os crítico-reprodutivistas que o saber, por pequeno que seja é sempre sementeira. Vale dizer: a escola também pode ser um campo de luta e de rompimento, de onde podem surgir novas propostas para a vida social. AS TEORIAS PROGRESSISTAS 1. INTRODUÇÃO - As Teorias Progressistas surgiram como reação e superação do Crítico-reprodutivismo. Este fez uma crítica severa da Escola Tradicional e da Escola Nova e descobriu o caráter ideológico da educação. Mas, fez também surgir uma sensação de impotência, pois ateve-se a uma postura negativista. As Teorias Progressistas surgem, por conseguinte, como a busca de novos caminhos. É um movimento muito recente e não é fácil determinar as suas linhas fundamentais, pois a própria denominação progressismo, criada por Georges Snyders, não é aceita por todos que nela poderiam ser inseridos. 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS - Apesar das diversidades presentes nas propostas dos seus educadores, o Progressismo apresenta muitos pontos comuns a todas elas: 2.1. Busca superar as Teorias Crítico-reprodutivista propondo a construção de uma pedagogia social crítica. 2.2. Afirma a necessidade de uma consciência da existência de relações sociais de opressão, para a busca de uma nova ação pedagógica. 2.3. Propõe uma crítica constante de alguns elementos do processo educacional, visando uma função mais adequada para os mesmos: Escola: seu verdadeiro significado está em ser um local de socialização do saber; é um elemento de continuidade, mas também de ruptura; tem um papel transformador quando enfatiza como um dos meios para uma vida social melhor organizada a alfabetização. Saber: não deve ser abstrato, e sim integrado à prática social global; deve possibilitar a superação da dicotomia teoria x prática. Trabalho: deve ser parte integrante do processo educacional, pois homem se forma pelo trabalho e deve ser formado para o trabalho; a educação precisa levar, também através de atividades práticas (oficinas), a compreender o fazer, o que fará surgir a consciência crítica do mundo físico e social; a educação para o trabalho tem também o objetivo de possibilitar a superação da dicotomia cultura erudita x cultura popular. Professor: é um elemento chave no processo educacional; sua formação tem importância especial e precisa despertar a prática consciência social transformadora; da educação como sua ação deve estender-se para além da sala de aula, afirmando a validade da ação política em favor da escola pública. 3. RISCOS DAS PROPOSTAS PROGRESSISTAS - Conquanto sedutoras, as propostas pedagógicas progressistas incluem alguns perigos: Politicismo Pedagógico: O Progressismo parte do princípio de que não existe educação apolítica. política Os polos educação e são complementares e indissociáveis, o que é inegável. No entanto, a ênfase dada à necessidade da ação política pode levar ao descuido do trabalho prioritária, e propriamente pedagógico, tornando mesmo exclusiva, a ação político-partidária do professor. Assistencialismo: Por causa das muitas e variadas carências das camadas populares é grande a tentação de se recorrer à chamada educação compensatória, que desvia a ação da escola para atividades que são próprias de outros órgãos do Estado, como é o caso, por exemplo, da merenda escolar. Falsa democracia na sala de aula: Ao acentuar posturas que são anti-autoritárias, ao estimular a superação do individualismo a partir do diálogo (trabalhos em grupo) e ao incentivar a prática constante da corresponsabilidade, o Progressismo pode levar à exclusão do papel de líder organizador, que deveria caracterizar o Professor. 4. PRINCIPAIS pensadores testifica EDUCADORES progressistas PROGRESSISTAS são - Os muito numerosos, o que busca contínua do aperfeiçoamento do trabalho educacional. Aqui vamos apresentá-los divididos da seguinte maneira: Pioneiros e estrangeiros em geral: MAKARENKO (1888 - 1939): Educador russo (soviético) fundador de uma colônia para recuperação de menores infratores; autor da obra Poema Pedagógico, defende a importância do coletivo no trabalho pedagógico. PISTRAK: estabelecer Educador russo-soviético, buscou os fundamentos da escola do trabalho. Antônio GRAMSCI: Intelectual italiano, discutiu a questão das relações entre os trabalhadores intelectuais e os trabalhadores manuais. SUCHODOLSKI: Estudou a diferença entre as pedagogias essencialista e existencialista. CHARLOT: Estudou a questão dos processos idelógicos da educação. Outros: CELESTIN, FREINET, SNYDERS, GIROUX, MANACORDA, LOBROT. Brasileiros: se apresentam em diversas subtendências: PEDAGOGIA educação para a LIBERTADORA: Defende uma conscientização da necessidade de libertar-se de uma situação de vida opressora. PAULO FREIRE é seu principal pensador. PEDAGOGIA LIBERTÁRIA: Propõe uma escola que se caracterize pela autogestão não-diretiva, para formar grupos de influência política que construam uma sociedade mais igualitária. TRAGTENBERG e M. G. ARROYO. PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS: Vê a escola como o local de aquisição dos conteúdos acumulados, que devem ser apropriados de forma crítica e também socializados a fim de servirem aos interesses de toda a população, sem privilégios, visando a democratização da sociedade. SAVIANI, LIBÂNEO e C. R. CURY. PEDAGOGIA DO CONFLITO: A educação é um processo dialético. GADOTTI. Bibliografia ARANHA, Mª Lúcia Arruda - Filosofia da Educação, 2ª ed., S. Paulo, Moderna, 1997 CHAUI, Marilena - Convite à Filosofia, S. Paulo, Á tica, BRANDÃO, Carlos Rodrigues - A Educação como Cultura, S. Paulo, Brasiliense, 1985 ELIADE, Mircea – Mito e Realidade, São Paulo, Editora Perspectiva, 1972 FREIRE, Paulo – Pedagogia da Autonomia, São Paulo, Paz e Terra, 1997 -------------------- -- Educação Como Prática da Liberdade, 17ª Ed., São Paulo, Paz e Terra, 1986 HUISMAN, D. e VERGEZ, André – Curso Moderno de Filosofia, 4ª Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1972. LANGER, Susanne K. – Filosofia em nova chave, São Paulo, Perspectiva, 1971 LUCKESI, Carlos C. - Filosofia da Educação, S. Paulo, Cortez, 1990. MARITAIN,Jacques - Rumos da Educação, Rio de Janeiro, Agir, 1959. MARTINS, José Salgado - Preparação à Filosofia, Porto Alegre, Globo, 1973. MORIN, Edgar – Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro, 2ª edição, São Paulo, Cortez Editora, 1999. --------------------- - A Cabeça Bem-Feita, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000. PINTO, Álvaro Vieira – Sete Lições Sobre Educação de Adultos, 9ª Ed., São Paulo, Cortez, 1994. SAINT-EXUPERY, Antoine de – Terra dos Homens, 16ª Ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1972. SANTO, Ruy C. do Espírito – O Renascimento do Sagrado na Educação, Campinas, Papirus, 1998 SAVIANI, Dermeval - Educação: do senso comum à consciência filosófica, S. Paulo, Cortez, 1985