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CONCEPÇÕES DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM
QUÍMICA DA UFRPE SOBRE OS PRINCÍPIOS DA QUÍMICA VERDE
Natália Miranda Bezerra(IC)1,2 e Natércia Maria Miranda Bezerra(PG)2
1.
Universidade Federal Rural de Pernambuco; 2. Universidade Federal de Pernambuco
A química verde surgiu a mais de 10 anos como resposta à preocupação da
Agência de Proteção Ambiental dos EUA com o acelerado crescimento de novas
tecnologias que cada vez mais geravam resíduos poluidores sem que fossem pensadas
formas de minimizar a produção destes. Isso fez com que a atividade química fosse
freqüentemente relacionada aos desastres ambientais, embora outras atividades humanas
também exerçam papel importante na degradação e poluição ambientais.1
Uma das principais ações no sentido de minimizar o impacto ambiental causado
por atividades industriais que geram algum tipo de resíduo é o tratamento adequado do
mesmo, pois a remediação, embora apresente baixa vantagem ambiental relativa, se
comparada com técnicas de redução na fonte, tem colaborado bastante para diminuir a
velocidade de contaminação do ambiente por muitas atividades industriais. Pois como
sabemos, Pesquisas neste ramo vêm sendo desenvolvidas, pois o controle na emissão de
poluentes tem se tornado cada vez mais rigorosa.
A química verde pode ser definida como a utilização de técnicas químicas e
metodologias que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes ou geração de
produtos e subprodutos tóxicos, que são nocivos à saúde humana e/ou ao ambiente.2-6
Esta idéia, ética e politicamente poderosa, representa a suposição de que
processos químicos que geram problemas ambientais possam ser substituídos por
alternativas menos poluentes ou não poluentes. Tecnologia limpa, prevenção primária,
redução na fonte, química ambientalmente benigna, ou ainda “Green Chemistry”, são
termos que surgiram para definir esta importante idéia. “Green Chemistry”, o termo
mais utilizado atualmente, foi adotado pela IUPAC, talvez por ser o mais forte entre os
demais, pois associa o desenvolvimento na química com o objetivo cada vez mais
buscado pelo homem moderno: o desenvolvimento auto-sustentável.7
Os produtos ou processos da química verde podem ser divididos em três grandes
categorias:
i) o uso de fontes renováveis ou recicladas de matéria-prima;
ii) aumento da eficiência de energia, ou a utilização de menos energia para produzir a
mesma ou maior quantidade de produto;
iii) evitar o uso de substâncias persistentes, bioacumulativas e tóxicas.7
Durante o Desenvolvimento dos pilares da Green Chemistry, várias linhas de
pesquisa baseadas nas três categorias norteadoras dos Princípios da Química Verde
surgiram, de onde então foram elaborados 12 Princípios básicos para implantação da
química verde em uma indústria ou instituição de ensino e/ou pesquisa na área de
química são os seguintes 8:
1. Prevenção. Evitar a produção do resíduo é melhor do que tratá-lo ou “limpá-lo” após
sua geração.
2. Economia de Átomos. Deve-se procurar desenhar metodologias sintéticas que
possam maximizar a incorporação de todos os materiais de partida no produto final.
9,10,11
3. Síntese de Produtos Menos Perigosos. Sempre que praticável, a síntese de um
produto químico deve utilizar e gerar substâncias que possuam pouca ou nenhuma
toxicidade à saúde humana e ao ambiente.
4. Desenho de Produtos Seguros. Os produtos químicos devem ser desenhados de tal
modo que realizem a função desejada e ao mesmo tempo não sejam tóxicos.
5. Solventes e Auxiliares mais Seguros. O uso de substâncias auxiliares (solventes,
agentes de separação, secantes, etc.) precisa, sempre que possível, tornar-se
desnecessário e, quando utilizadas, estas substâncias devem ser inócuas.
6. Busca pela Eficiência de Energia. A utilização de energia pelos processos químicos
precisa ser reconhecida pelos seus impactos ambientais e econômicos e deve ser
minimizada. Se possível, os processos químicos devem ser conduzidos à temperatura e
pressão ambientes.
7. Uso de Fontes Renováveis de Matéria-Prima. Sempre técnica- economicamente
viável, a utilização de matérias-primas renováveis deve ser escolhida em detrimento de
fontes não renováveis.
8. Evitar a Formação de Derivados. A derivatização desnecessária (uso de grupos
bloqueadores, proteção/desproteção, modificação temporária por processos físicos e
químicos) deve ser minimizada ou, se possível, evitada, porque estas etapas requerem
reagentes adicionais e podem gerar resíduos.
9. Catálise. Reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são melhores que
reagentes estequiométricos. 9,10,11
10. Desenho para a Degradação. Os produtos químicos precisam ser desenhados de tal
modo que, ao final de sua função, se fragmentem em produtos de degradação inócuos e
não persistam no ambiente.
11. Análise em Tempo Real para a Prevenção da Poluição. Será necessário o
desenvolvimento futuro de metodologias analíticas que viabilizem um monitoramento e
controle dentro do processo, em tempo real, antes da formação de substâncias nocivas.
12. Química Intrinsecamente Segura para a Prevenção de Acidentes.
As substâncias, bem como a maneira pela qual uma substância é utilizada em um
processo químico, devem ser escolhidas a fim de minimizar o potencial para acidentes
químicos, incluindo vazamentos, explosões e incêndios.12
Dos princípios adotados, a maioria é aplicado à indústrias, mas sabemos que um
aluno de química treinado e formado conhecendo e sendo treinado a trabalhar e pensar
química “verdemente” falando terá consciência do seu papel ambiental e isso é de
primordial importância na solução de problemas relacionados ao ambiente
É importante avaliarmos como está o conhecimento dos alunos sobre tais
conceitos e como vem acontecendo a inserção desses conceitos e práticas da Química
Verde nas atividades acadêmicas, para tal foram realizados questionários avaliativos na
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Neste trabalho, foram entrevistados 60 alunos dos quatro últimos períodos da
graduação em Licenciatura em Química da UFRPE, ou seja, 6º, 7º, 8º e 9º períodos.
O questionário foi elaborado enfocando principalmente aspectos relacionados ao
grau de conhecimento que os alunos têm sobre o que é Química Verde; se conseguiram
verificar a aplicação dos doze princípios da Química Verde na graduação, em aulas
práticas, teóricas, laboratórios de pesquisa da UFRPE ou em palestras/seminários e o
mais importante, se acreditam que a universidade vêm investindo na divulgação da
química verde e lançamos um questionamento sobre a importância da comunidade
acadêmica avaliar a implantação de uma disciplina no currículo que trate
exclusivamente de um assunto tão importante na atualidade, que é a Química Verde.
Verificamos que apenas 50% dos alunos pesquisados declararam saber e
explicar o que é Química Verde, 75% do geral de alunos disseram achar importante a
aplicação dos princípios da Química Verde ainda na graduação, apenas 25% deles
descreveram algumas atividades desenvolvidas nos laboratórios da graduação que
seguissem pelo menos algum dos doze princípios, mais de 80% dos entrevistados
acreditam na importância da divulgação da Química Verde, porém esses mesmos alunos
acreditam que a Universidade não vem mostrando interesse nessa divulgação. E o mais
importante, foi constatado que 100% dos alunos entrevistados acreditam na importância
da implantação de uma disciplina que aborde os princípios da Química Verde.
Constatamos que alguns dos professores que estão se formando, estão saindo da
Universidade sem conhecer e/ou saber da importância da Química Verde. Por isso, é
importante termos professores conscientes do seu papel ambiental, pois assim saberão
usar as aulas de laboratório e teóricas para desenvolver nos alunos atitudes
ambientalmente favoráveis.
Para isso, uma das práticas recomendadas seria a correta adoção de
equipamentos em micro escala e desenvolvimento de experimentos simples que não
gerem resíduos tóxicos. Pois, como educadores ou futuros educadores de química temos
o desafio de trabalhar pela continuidade do desenvolvimento da pesquisa em Química e
pela melhoria do ensino sem, entretanto, comprometer o meio ambiente e a saúde
humana.13
Agradecimentos:
UFRPE e UFPE.
Referências Bibliográficas:
1.
2.
3.
4.
5.
http://www.epa.gov/epahome/topics.html em 01 de março de 2008.
http://www.cetesb.sp.gov.br em 01 de março de 2008.
Collins, T. Science 2001, 291, 48.
Collins, T.J. J. Chem. Educ.1995, 72, 965
Cann, M.C.; Connelly, M.E. Real World Cases in Green Chemistry, American
Chemical Society: Washington, DC, 2000.
6. a) Singh, M.M.; Szafran, Z.; Pike, R.M. J. Chem. Educ. 1999, 76, 1684; b) Cann,
M.C. J. Chem. Educ. 1999, 76, 1639.
7. Lenardão, E. J., Freitag, R. A., Dabdoub, M. J., Batista, A. C. F., Silveira, C.
C."Green Chemistry" - Os 12 princípios da Química Verde e sua Inserção nas
Atividades de Ensino e Pesquisa. Química Nova. Brasil: v.26, p.123 - 129, 2003.
8. Anastas, P.T.; Warner, J. Green Chemistry: Theory and Practice; Oxford University
Press: Oxford, 1998.
9. Dupont, J.; Quim. Nova 2000, 23, 825 e referências citadas.
10. Trost, B. M.; Angew. Chem., Int. Ed.; 1995, 34, 259.
11. Trost, B. M.; Science 1991, 254, 1471.
12. McCreedy, T.; Chem. Ind. 1999, 588.
13. Santos, W.L.P. e colaboradores; Química e Sociedade (Manual do Professor); 2006;
Editora Nova Geração.
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