O PAPIRO DE ANI: UMA ANÁLISE ICONOGRÁFICA ATRAVÉS DOS RECURSOS DO PROJETO MAAT. Keidy Narelly Costa Matias Departamento de História – UFRN RESUMO Sabemos que os recursos para se trabalhar com História Antiga no Brasil são escassos. Pensando em alargar esse contato com as fontes, mesmo que de maneira virtual, foi criado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o “Núcleo de Estudo de História Antiga – MAAT”. O projeto visa oferecer dados científicos que possibilitem o acesso virtual às fontes materiais presentes em museus dispostos pelo mundo e, ainda, o contato com textos e referências que alarguem a compreensão acerca da Antiguidade. Através do sítio do projeto MAAT na internet, proponho a análise de uma iconografia presente no “Livro dos Mortos”, retirada do papiro de Ani, que se encontra atualmente no Museu Britânico. A cena se refere à pesagem do coração do morto tendo como contrapeso a pluma da deusa Maat. Dessa forma, o que se pretende é exemplificar como o sítio pode ser útil ao trabalho do historiador de Antiga, à medida que contribui para a disseminação de fontes e de recursos para se trabalhá-las. Palavras-chave: Mídia; Digital; Papiro; Iconografia. AS MÍDIAS DIGITAIS COMO FERRAMENTAS DE ESTUDO O trabalho com mídias digitais é uma alternativa nova, sobretudo nos domínios da História. No entanto, deve ser ferozmente estimulado, visto que essa ferramenta pode ser bem utilizada. Nota-se que houve uma ascensão gigantesca do uso da internet, especialmente por causa das redes sociais. Nesse sentido, as mídias nascem e se reinventam constantemente, de modo que em poucos minutos a internet ganha mais e mais informações. Por causa dessa alta velocidade a impressão é, sem dúvida, que o mundo se movimenta mais rápido. A riqueza de conteúdo que possui o ciberespaço não pode ser utilizada apenas para os fins das redes sociais, pode-se utilizar essa ferramenta de maneira a produzir conteúdo acadêmico – que pode ser em forma de jornais online (é o caso do Philía, da UERJ), revistas (Phoînix e Gaîa da UFRJ) e de sites especializados, como o Global Egyptian Museum, que dispõe de inúmeras imagens do acervo do Antigo Egito espalhado pelo mundo. Segundo o site do museu, são mais de dois milhões de peças espalhadas em cerca de oitocentas e cinqüenta coleções, em sessenta e nove países. De forma que é impossível a um pesquisador ter acesso presencial a todo esse material. O site, portanto, é uma ferramenta riquíssima. Estudantes e pesquisadores preferem, é claro, entrar em contato com a peça, o Museu Britânico, na Inglaterra, por exemplo, é visitado por crianças e jovens constantemente, com o fim de apresentar a esse público a rica cultura visual não só das sociedades antigas, mas do máximo de civilizações possíveis. Os acervos virtuais aproximam o público, que pode ser constituído de professores, estudantes e curiosos em geral, do objeto de estudo. Como são ferramentas novas, muitas vezes podem possuir um acervo reduzido, mas é importante perceber que são projetos de longo prazo e que só tendem a aumentar, visto que a internet é uma mídia indispensável aos moldes atuais de nossa civilização. O objetivo desse trabalho é defender a utilização de maneira crítica das imagens nas mídias digitais, sobretudo na internet, utilizando como exemplo uma análise do “Papiro de Ani”. Com isso, em hipótese alguma se pretende tratar o material imagético em detrimento do textual, mas aqui, dar-se-á preferência ao material iconográfico, visto que esse é o objeto de meu trabalho e de minhas leituras recentes. O estudo da Antiguidade no Brasil é centrado nas regiões sul e sudeste, a internet, portanto, é uma forma de desterritorialização do acervo produzido. Esse trabalho não deve ser feito de maneira aleatória e desorientada, assim, evitar-se-á alguns perigos. Comparemos o ciberespaço com uma cidade grande: existem pessoas mal equipadas e mal intencionadas dispostas a nos impor certas armadilhas. Por exemplo, não é difícil encontrar como resultado nas páginas de pesquisa pela internet textos e imagens que distorçam a história do Egito Antigo. Isso dificilmente é feito de maneira intencional, trata-se de mera reprodução de imagens e textos dispostos em outras páginas que são simplesmente copiados e colados disseminando concepções errôneas acerca de questões polêmicas, como “escravidão” e “incesto” naquela civilização. A preocupação com a indicação das fontes é, sobretudo, acadêmica. Não se reivindica aqui que os internautas sem a obrigação de dispor cientificamente o conteúdo se preocupem em, a cada palavra escrita, a cada imagem posta, indicar o local de onde foram retiradas, as dimensões, o número de inventário, etc.. É necessário ter atenção para não cair nessas armadilhas e, ao contrário de usarmos o conhecimento sobre o tratamento das fontes, nos tornarmos veículos de propagação de uma referência apresentada sem discriminação alguma. É preciso estar atento no âmbito da realização desse trabalho desde a coleta de dados à sua apresentação em forma de sítio ou blog na web. Para isso, além de estarmos mecanicamente munidos devemos ter atenção fundamental com os recursos intelectuais. Somente assim, críticas e análises abalizadas poderão ser tecidas, proporcionando ao trabalho uma imersão na cientificidade. Somado a isso, conta a credibilidade que o site recebe à medida que os seus visitantes encontram ali uma fonte segura de informação. Outros aspectos são importantes na construção do espaço para disposição das fontes. Contará a favor de um museu a organização de seu acervo de maneira que o visitante se encontre rapidamente. Esse espaço não pode ser, portanto, um amontoado desconexo de materiais. Não se pretende aqui atribuir a um site as funções de um museu, aliás, dessa concepção discordo de maneira veemente. Mas isso não nos impede de fazer uma associação. Guardadas as proporções, a boa organização do acervo de um museu conta como ponto positivo assim como a boa organização de arquivos conta para um site. Para o museu, um número de inventário mal informado dificulta a tarefa do visitante em encontrar dada peça. Já um link que não funciona, categorias mal delimitadas, uma má escolha das cores do design e um longo tempo de espera para a abertura de páginas, conta negativamente para um site que se pretende acadêmico. Há outro aspecto importante para se levar em consideração, as imagens e os textos disponibilizados na internet se constituem em maneiras economicamente acessíveis. A bibliografia referente à História Antiga está, em sua maioria, em outras línguas, muitos desses livros, além de não terem sido traduzidos, devem ser importados por pesquisadores brasileiros. Essa dificuldade pode ser minimizada através do acesso aos “e-livros”, ou e-books. Muitos livros virtuais são gratuitos, outros acarretam certo custo, mas que, de toda forma, são menores, visto que não há gasto para a produção física daquele material. Há outros exemplos de virtualização dos quais não me deterei aqui, mas que merecem ser citados, como os bancos de dissertações, teses e artigos disponibilizados pelas universidades as quais estão ligados. O NÚCLEO DE ESTUDO DE HISTÓRIA ANTIGA DA UFRN – MAAT Passadas as considerações introdutórias, apresentar-vos-ei o recém criado1 “Núcleo de Estudo de História Antiga – MAAT”, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É baseado nos recursos desse projeto que se dá a tenacidade de meu trabalho. O MAAT engloba projetos de ensino, pesquisa e extensão em História Antiga na UFRN. Para isso foi construído um site (www.cchla.ufrn.br/maat) que reúne informações acerca de todos os projetos, arquivos (artigos, dissertações e teses), vídeos, projeções em três dimensões (3D), referências bibliográficas e de sites da web e, entrevistas com autoridades reconhecidas na área de pesquisa em História Antiga no Brasil. No entanto, há um recurso desse site que pretendo apresentar com mais atenção, visto que é a ferramenta que me põe em contato com o objeto de estudo escolhido, o “Papiro de Ani”. Essa sessão é denominada “Fontes Materiais” e possui um acervo de imagens de diversos museus do mundo escolhidas criticamente e dispostas em ordem cronológica. Para cada imagem existe uma ficha catalográfica com a localização atual da peça, o número de inventário, a proveniência, a datação, as dimensões e a descrição. Em alguns casos, quando disponibilizada pelo museu da qual é retirada, a imagem conta com a tradução das fórmulas em hieróglifo. Inicialmente, pode-se pensar que o trabalho com História Antiga no Nordeste é impossível, de fato não é fácil, mas não é tão extenuante que não possa ser realizado. Talvez por isso o MAAT busque se tornar cada vez mais de uso acadêmico à medida que se coloca criticamente como integrante do ciberespaço. Em seu livro “Cibercultura”, Pierre Lévy define como Ciberespaço O espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos [...] na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas a digitalização (LÉVY, 1999, p. 94-95). Como uma das principais funções do ciberespaço Lévy (1999, p. 95) define o acesso a distância aos diversos recursos de um computador (itálico no original). Tomando essas duas acepções, o MAAT se enquadra no conceito de ciberespaço. À medida que se conecta com o mundo e esse com o site. Com isso, não visamos substituir o contato com o real, tanto com a peça quanto com as pessoas que dialogam acerca do projeto, nossa intenção é facilitar o contato com a fonte material através do virtual. Não se pretende negar que o contato 1 O “Núcleo de Estudo de História Antiga – MAAT” foi criado em 2009 na UFRN, através da Professora Doutora Marcia Severina Vasques. com o real, nesse caso, seria mais estimulante, mas na dificuldade de acontecê-lo o banco de dados do projeto MAAT fornece elementos que, aliados à outros meios, sustentam uma análise iconográfica. Para ilustrar as possibilidades trazidas pelo uso do computador, Lévy argumenta que Considerar o computador apenas como um instrumento a mais para produzir textos, sons ou imagens sobre suporte fixo [...] equivale a negar sua fecundidade propriamente cultural, ou seja, o aparecimento de novos gêneros ligados à interatividade. O computador é, portanto, antes de tudo um operador de potencialização da informação (itálico no original) (LÉVY, 2009, p. 41). Para finalizar essa segunda parte, cabe delimitar o fosso entre o que é virtual e a ausência de realidade. Apropriando-me da ideia de Lévy (2009, p. 19), o virtual, com muita freqüência, “não está presente”. Mas nem por isso deixa de ser uma extensão do real. O virtual pode ser imaginado, mas não é fruto da imaginação. A construção de um espaço virtual passa por etapas geográficas e é moldada, também, pelas concepções adotadas por quem a produz e, com isso, não está menos carregada pelos ensejos gerados pela subjetividade de seu produtor do que uma construção física. O PAPIRO DE ANI O “Papiro de Ani” data do Novo Império do Egito Antigo, que se estende pelas XVIII, XIX e XX dinastias (1550-1070 a.C.2). O papiro se situa, especificamente, na XIX dinastia, que se estende entre 1307 e 1196 a.C., sendo a datação do papiro estipulada por volta de 1275 a.C.. A localização da tumba de Ani e Tutu, sua esposa, provavelmente enterrada no mesmo túmulo, não é indicada com precisão, mas sabe-se que era situada em Tebas Ocidental. O papiro foi adquirido pelo “British Museum” (Museu Britânico), em 1887 através de Sir Ernest A. Wallis Budge, então curador do museu. Ani foi um escriba real, membro da administração associado ao culto de Osíris na região de Ábidos, no Alto Egito. Em seu papiro se destaca a alta qualidade artística dos desenhos e o excelente acabamento. É também, um dos mais longos papiros já encontrados, com 24 metros de comprimento. Através disso, podemos inferir que Ani tinha uma imensa preocupação para com o além. No Novo Império, houve o que podemos chamar de democratização do post-mortem, enquanto que no Antigo Império os “Textos das Pirâmides” eram direcionados somente ao faraó e, no Médio Império os “Textos dos Sarcófagos” eram um privilégio também da elite. Mesmo com essa democratização, os papiros não eram materiais acessíveis a todos, pois tinham alto custo. Na época em que Ani viveu, o Egito era governado por Ramessés II (12981235 a.C.), o país vivia um período de estabilidade política e religiosa, época diferente 2 Ao longo desse trabalho, me guiarei pela cronologia estipulada pelo egiptólogo brasileiro Antonio Brancaglion Junior, presente no “Manual de Arte e Arqueologia Egípcia” (2003) e, no que tange a datação dos governos dos faraós, pela cronologia de Jean Vercoutter (1980). da encontrada na XVIII dinastia, quando o faraó Akhenaton (1372-1354 a.C.) “recorrendo a dispositivo verdadeiramente revolucionário, tenta acabar com a religião do deus Amon, fecha seus templos e dispersa seus sacerdotes. Não satisfeito com essas primeiras medidas, abandona Tebas e instala seu governo em Tell al-Amarna” (VERCOUTTER, 1980, p. 81). Com isso, pode-se dizer que a XIX dinastia é, também, um período de reafirmação das crenças do povo egípcio, já que o culto instituído por Akhenaton não durou mais do que o período de seu governo. Através do papiro, podemos identificar, também, aspectos da arte egípcia, que possuía caráter funcional. Como explica Brancaglion (2003, p. 5) “para os antigos egípcios, dar forma à matéria não era um ato de puro deleite, o que não significa, evidentemente, que eles deixassem de extrair muitas satisfações estéticas disso. Mas os fundamentos do ato artístico encontram-se fora das preocupações estéticas em si mesmas: eles se situam na esfera das crenças relativas aos mortos e aos deuses – portanto, no mundo sobrenatural”. Dessa maneira, notemos que as representações presentes no papiro estão voltadas, primeiramente, para Ani e sua esposa e não necessariamente para o mundo dos vivos. Há também outro caráter da representação egípcia que pode ser inferido, representava-se a figura mais importante sempre com mais destaque, Ani está à frente de sua esposa na representação, isso não significa que eles realmente estivessem em fila, mas que se queria dar destaque a Ani e, ao mesmo tempo, representar o todo. Partindo para a análise do primeiro registro (anexo I) – faixa horizontal que divide a figura – temos (da direita para a esquerda): Mesa de oferendas: tinha o papel de se materializar no outro mundo prevenindo o morto frente às suas necessidades alimentícias. Rê-Horakhty: representado com cabeça de falcão, o que indica a jornada do sol na barca do dia (Mandjet); o disco solar, elemento com função protetora, está sobre a cabeça dessa divindade. Atum: segundo a teologia heliopolitana, esse deus foi autogerado, surgindo do Num (o caos). Porta na cabeça a imagem da coroa dupla (peshent) que representava a união do Baixo com o Alto Egito. Shu: expelido por Atum, esse deus representava o ar. Porta sobre a cabeça uma pluma. Tefnut: representava a umidade. Porta sobre sua cabeça de leoa o disco solar. Geb: representava a terra. Junto com a deusa Nut, esse deus dá origem a Osíris, Ísis, Seth e Néftis. Nut: representava o céu. Estava associada à ressurreição. Acreditava-se que a jornada da barca de Rê durante o dia saía de seu ventre e findava em sua boca. Ísis e Néftis: Ísis, “no ritual funerário exerce o papel de protetora do morto, fazendo par com sua irmã, Néftis. Com o seu grande poder mágico, Ísis era capaz de proteger o morto em sua nova existência” (VASQUES, 2005, p. 64). Porta sobre a cabeça o hieróglifo para o trono. Néftis, porta sobre a cabeça o hieróglifo para o palácio. Ambas se associam a realeza. Hórus: representado com cabeça de falcão. Filho de Ísis e Osíris, lutou contra Seth pelo trono do Egito. Háthor: podia representar diversos aspectos da feminilidade. Também tinha função como deusa funerária. Hu e Sa: representavam a “palavra” e a “mente”. Segundo a cosmogonia menfita, foram criados pelo deus Ptah. No segundo registro (anexo I), temos (da esquerda para a direita): Tutu: esposa de Ani, porta na mão um sistro, esse elemento pode ser relacionado com a deusa Háthor, podia ser utilizado para “chamar a deusa”. Tutu veste um longo vestido de linho branco – a cor branca podia representar pureza –, não sendo possível ver os seus pés, usa uma peruca e está ornamentada com um colar e braceletes. Ani: veste um vestido de linho branco. Tal como sua esposa, usa uma peruca, um colar e braceletes. Meskhenet e Renenutet: eram deusas ligadas ao nascimento e ao renascimento, não estavam presentes em todos os papiros. Pássaro ba: “o ba ou "alma" era um dos elementos constitutivos da personalidade humana, que se separava por ocasião da morte. Era representado como um falcão com cabeça humana e, eventualmente, braços. Na forma do ba, o morto percorria o mundo dos mortos, ia à Sala do Julgamento, aos Campos de Juncos e de Oferendas e viajava na barca solar. À noite, o ba voltava para junto da múmia” (ASSMANN, 2003, p. 149 apud VASQUES, 2005, p. 68). Não temos referência para a figura que está representada sobre uma tumba, à frente do ba. Shai: divindade associada ao destino do morto. É representado com um saiote branco e dourado e com a barba curva, que indica um aspecto associado ao mundo dos mortos. Tem-se a balança portando o coração do morto e, como contrapeso, a pluma da deusa Maat, que “representava o conceito de justiça, por isso uma pluma, símbolo da deusa ou a própria representação desta, era pesada na balança do julgamento contra o coração do morto. Este seria considerado justo se a balança ficasse equilibrada, tendo, então, permissão para entrar no mundo de Osíris” (VASQUES, 2005, p. 67). Na parte superior da balança, tem-se representando um babuíno, podia ser uma representação do deus Thot. Anúbis: deus da mumificação. É representado com um saiote e cabeça de chacal ajustando o prumo da balança. Encontra-se agachado, mas em tamanho superior ao do Shai e das deusas Meskhenet e Renenutet. Procurou-se dar destaque a esse deus. Thot: representado com cabeça de íbis, era deus dos escribas. Porta, na mão direita, um pedaço de junco e, na mão esquerda, um suporte no qual escreve o resultado do julgamento. Am-mit: monstro representado com cabeça de crocodilo, corpo de leão e pernas de hipopótamo. Essa criatura era responsável por devorar o morto caso o mesmo não fosse declarado “justo de voz”, ou seja, se não obtivesse resultado positivo no julgamento. Nos hieróglifos do papiro, Ani pede ao seu coração para que não testemunhe contra ele perante os deuses. Nessa vinheta, Ani é declarado “justo de voz” ou “justificado” e recebe permissão para entrar nos domínios de Osíris. Na segunda imagem (anexo II), Hórus, não mais mumificado como na primeira representação, porta sobre a cabeça a coroa dupla (peshent) e segura Ani justificado pela mão esquerda, levando-o para a presença de Osíris. No segundo registro, tem-se uma mesa de oferendas à frente de Ani, que está em atitude de adoração diante da divindade. Nos hieróglifos, Ani relata que está na presença de Osíris, que não há injustiças em seu corpo e que não mentiu conscientemente. Na vinheta que se segue à atitude de adoração de Ani, Osíris está em seu trono. Porta sobre a cabeça a coroa atef (formada pela coroa branca e por plumas laterais). Segura nas mãos o cajado (heqa), o cetro (sekhem) e o açoite (nekhekh). Tem a sua frente as divindades protetoras dos vasos canopos (da direita para a esquerda): Imsety, Hapy, Duamutef e Qebehsenuef. Por trás de Osíris, dando-lhe suporte, estão Ísis e Néftis, as carpideiras. O papiro de Ani descreve, como poucos, a cena do julgamento. Nele estão contidos detalhes que nos permitem enxergar com mais clareza o comportamento dos egípcios frente à morte, além de evidenciar preocupações inerentes ao seu contexto. Ani não era um homem obcecado pela morte, aliás, essa postura é conscientemente ou inconscientemente passada para os nossos alunos pelos livros didáticos. Os egípcios se preocupavam com o além, mas isso não quer dizer que não quisessem viver. Eles gostavam muito da vida e por isso se preocupavam com a falta da mesma. CONCLUSÃO O banco de dados oferecido pelo projeto MAAT possui fontes iconográficas e materiais não somente tratando do Egito Antigo, mas das sociedades que viviam na região da Mesopotâmia. Além de ligações externas para sites que tratem da cultura clássica. Trata-se de um trabalho em constante desenvolvimento, dada a dinamicidade da internet. Notamos certo preconceito para com o trabalho com internet e educação, acredita-se, muitas vezes, que esse meio digital não nos pode oferecer dados científicos. De fato, há que se tomar cuidado, mas o MAAT é um meio que nos faz perceber o infinito universo de recursos que a internet pode nos oferecer. Em resumo, não seria novo dizer que as imagens, quando analisadas, informam-nos sobre a sociedade na qual foram inseridas e seu modo de vida. Mas é excitante perceber que essa concepção ultimamente está sendo mais bem tratada, devo dizer que está longe do ideal, mas é inegável que progride animadoramente. Nesse sentido, o Núcleo de Estudo de História Antiga – MAAT espera contribuir para a formação não somente de professores, mas de alunos que, ao se interessarem, se coloquem não somente como meros admiradores da cultura egípcia, mas sim, como pesquisadores. Visando suprir não somente as minúcias de suas curiosidades, mas os seus anseios científicos. ANEXOS ANEXO I Fonte: MAAT - NÚCLEO DE ESTUDO DE HISTÓRIA ANTIGA - UFRN. O papiro de Ani. Disponível em: <http://www.cchla.ufrn.br/maat/novoimperiofichas/ima6.htm>. Acesso em: 22 jun. 2011. ANEXO II MAAT - NÚCLEO DE ESTUDO DE HISTÓRIA ANTIGA - UFRN. O papiro de Ani. Disponível em: <http://www.cchla.ufrn.br/maat/novoimperiofichas/ima6.htm>. Acesso em: 22 jun. 2011. REFERÊNCIAS: ASSMANN, J. Mort et au-delà dans l'Égypte Ancienne. Tradução Nathalie Baum. Paris: Éditions du Rocher, 2003. BRANCAGLION Jr., A. Manual de Arte e Arqueologia Egípcia. Rio de Janeiro: Sociedade dos Amigos do Museu Nacional, 2003. (Série Monografias, 5). CD-ROOM. BRITISH MUSEUM (MUSEU BRITÂNICO). Any, an ancient Egyptian. Disponível em: <http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/article_index/a/any,_an_ancient_egy ptian.aspx>. Acesso em: 20 de maio de 2011. BRITISH MUSEUM (MUSEU BRITÂNICO). Papyrus from the Book of the Dead of Ani. 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