LATENTE POESIAS AMARO B. LIMA O ESPELHO Olhei-me outra vez no velho espelho da vida. Rebusquei meus planos esquecidos! Sem querer acordei a velha ferida. Fiz reviver meus sonhos adormecidos! Almejei cada ilusão passageira! Prostrei-me entorpecido a chorar… Lamentei novamente a mesma tristeza, Que sem dó e em toda sua inteireza, Se propõe comigo a caminhar… A caminhar nesse deserto implacável, Que minha mente insana criou! E que agonia lamentável, Em não saber para onde vou! Hoje, revejo o ontem na cruel imagem, Cinzas de minha paixão: Causa da dor e da saudade, Sempre vividas em vão… IRONIA O que é este amor, passado e presente, Que habita em mim e me encanta? O que é este amor tão perto e ausente, Tão ingênuo e cheio de esperança? Será um fogo que queima em minhas veias? Ou um mal terrível a consumir meu ser? Será a dor voraz que na face se espelha? Talvez no peito o ardor de um querer! Este amor talvez seja paixão, Que me devora noite e dia… Um mal secreto no meu coração? Mas quem sabe por uma cruel ironia, Este amor tão contrário a razão, É o que dar força e razão a minha vida? INFINITAMENTE É em vão que busco a tua luz, Quase infinita na imensidão… E tua beleza etérea que a tudo seduz, E tanto faz sofrer meu coração? É fútil querer sentir o teu calor! Se a tua luz é fria e nada aquece. É inútil declarar o meu amor, Se a todo instante tu me esqueces! Quantas vezes implorei-te um sorriso! Qual mãe que afaga uma criança . Quantas vezes busquei ser teu amigo, Mas nem sequer um raio de esperança! É em vão que contemplo este teu brilho, Na busca de um amor sem fim! É em vão que te busco no infinito! Infinitamente longe de mim! TUA VOLTA E de repente chegaste, silenciosa, Como o desabrochar noturno, De uma rara e delicada flor! Então chegaste cruel e poderosa, Ao roubar de meus lábios mudos, Tão doce beijo de amor! Outra vez chegaste, esplendorosa! Diante de mim o pouco e o tudo, Confundem-se com a minha dor! Tua volta… quantas voltas? Até quando? Até quando serão apenas ilusões? Até quando profanarás os meus sonhos, Com quantas inúteis desilusões? VELHO ENCANTO Após o longo tempo de tua ausência, Outra vez, me fascina o teu encanto! Talvez de propósito ou por engano, Fizeste sangrar, sem nenhuma clemência, A ferida antiga que doía tanto! Senti tua falta, que hoje se estampa, Na face pelos anos esculpido! Não pude deixar de senti a velha chama, Que faz arder em mim, paixão insana: Lembranças deste coração partido! Tentei fingir mas nunca pude! O coração de poeta não se ilude, Mesmo diante de tão crua dor! A dor de amar quem não o ama. A loucura de querer quem o profana! – Seu único e tão contrário amor… PERDÃO POR EU TE AMAR O meu olhar te incomoda. É fato! Minha voz não é música ao teu ouvido… Meu ser é desprezível ao teu palato, Sou teu pesadelo e teu martírio! Como eu sou mal e nem sabia! Meu coração é cruel porque te ama? E por qual razão débil e insana, Nem a minha presença suportarias? Obrigado por não me iludir! Tuas palavras frias e duras me consolam… Não, os terrores não me assolam! Só não me permitem fingir… Todo o meu ser te abomina. É fato! Não sei até quando posso suportar! Não sei se sou inocente ou lunático… – Perdão por eu te amar! DÚVIDA Teu sorriso lindo te acusa! Teu beijo na face me provoca. Tua mão no ombro me incomoda. Tua voz de veludo me machuca! Teu andar formoso e delgado, Desvia de todos o olhar! Teu estilo único e refinado, Faz o coração palpitar! Á quem? Somente à quem? ofertarás o teu fulgor? Quem terá o teu amor... Quem será o teu dono? Teu escravo eu já sou! Ó dúvida que me tira o sono! Quem será o teu amor? A ESPERA Ainda que não se veja, sequer ao longe, A mais frágil e diminuta esperança. Mesmo que o mundo inteiro, talvez zombe, Ele, que é cego, espera e não se cansa. Não se cansa de crer e de sonhar! Como se a vida fosse uma quimera… Sei que ele sempre esperará, Mesmo que seja infinita a espera… Pois é por ti que o coração almeja! O que fará nesta imensa agonia? Sei que despreza a própria vida, Se além de ti, nada mais ele deseja? Ó Deus! Não pode ser racional, Um mal que dói tanto e não tem cura! Não sei se é normal ou anormal, Viver no limite entre a razão e a loucura… Não sei! Só sei que eu espero! Quer seja pouco, quer seja muito! Não importa o tempo, sim eu espero, Por esse amor tão imenso e único… VELHAS NOVIDADES Então retornei depois de tanto tempo! Em cada lágrima um sonho que renasce… E no meu choro incontido e intenso, Acaricio teu rosto e beijo a tua face… Tua barba por fazer, branca como a neve! Testemunha uma ausência e tanto… Quanto tempo valioso que se perde, Ao voltar de cada vil desengano? A velha casa, a mobília, o meu retrato! Nada mudou desde a despedida… Tudo faz parte do velho teatro, Onde a arte sempre imita a vida… Onde a vida é coroada de encantos! E os encantos produzem esperança… É o velho palco onde ensaiamos, O amor, a sempre viva chama! Eis que trago velhas novidades! O meu amor nunca envelheceu! Hoje sou pai e também senti saudades, Do aconchego dos braços teus! Perdão, se o mundo nos separou, perdão! A liberdade sempre nos cobra um preço! Mas ele nunca corrompeu meu coração… Obrigado, Pai! Pelo seu exemplo! Não fui ingrato, sequer um momento! Vá com a certeza do dever cumprido! Vá em paz pois tenha certeza que: – Hoje, me tornei teu filho… LATENTE Por que voltar de repente, com todo o encanto, Ó Beleza etérea que a tudo irradia? Por que me incitar ao ciúme e ao engano, Só para lembrar o quanto te amei um dia? Meu coração não sabe te esquecer! Tentei e como tentei! Por que agora? Soube que estás só, por quê? Achas que vivo das tuas sobras? Achas que me servem as tuas migalhas? Um sorriso, um adeus, um beijo na face? Achas que sou teu só quando te basta? Despertas em mim, um mal antigo! Quase extinto e na verdade, eterno… Presente em cada fôlego que respiro… O que estava latente, ressurgiu com pompa! O que estava calado reverberou! Em lugar da glória, a desonra? Em lugar da cicatriz, a dor? O que estava latente, ressurgiu com pompa! O que estava calado reverberou! Em lugar da glória, a desonra? Em lugar da cicatriz, a dor? Não, não despertes em mim este amor, Se não queres fartar-te dele. Não o invoques assim, por favor, Se não exerces fé nele! Poupe-me se for o caso! Mesmo assim, perdão! Não faça de mim um assombro velado! E se não há pretensão de regá-lo, Não desterres esse amor do meu coração… ABANDONO Talvez seja assim, e por que não? Vaguear sem rumo à tua espera! Quem sabe sufocar meu coração, Com fantasias de tamanha ilusão, Que arde como mentira sincera… Que queima como fútil engano! – Ele insiste em acreditar… Tolo que não ver o desengano! Não sabe que está sufocando, Com tanta dor de amar… Tolo, ingênuo, que te ama sem reservas! Poeta das horas e do tempo perdido! Por que esperar por mais um castigo, A afronta de teu olhar fingido, Que se condói de mim e me desprezas… Tão longe e tão perto do meu desejo! Sim! É melhor viver do teu desprezo, Do que não ter o que sonhar! Sim! É melhor guardar esse segredo, E nunca poder te amar… Abandono velado em tua figura… Apenas um olá! Um bom dia! Nenhuma luz e nenhuma magia… Nada mais indócil criatura! Abandono, frieza e estupidez! Tudo isso e ninguém percebe… Calo-me ante a tua altivez! Choro calado em minha prece… DÚVIDA Teu sorriso lindo te acusa! Teu beijo na face me provoca. Tua mão no ombro me incomoda. Tua voz de veludo me machuca! Teu andar formoso e delgado, Desvia de todos o olhar! Teu estilo único e refinado, Faz o coração palpitar! Á quem? Somente à quem? Entregarás o teu amor? Será que posso sonhar? Ou terei de amargar essa dor? Ó dúvida! Por que me consomes? Será que serei tolo em acreditar? Será que serei louco em esperar, Por esse mau tão infame?