Julia Sohnchen - PUC-Rio

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Departamento de Economia
UMA ANÁLISE SOBRE A UTILIDADE DE UMA MEDIDA DE PIB
EXPURGANDO A AGRICULTURA
Aluno: Julia Sohnchen Victor Rodrigues
Orientador: Eduardo Zilberman
Introdução
O produto interno bruto da economia, mais conhecido como PIB, contabiliza o total da renda
e o total dos gastos no âmbito dessa economia. Uma vez que o PIB constitui o aferidor mais
abrangente para as condições gerais da economia, é o ponto natural para que se comece a
análise do ciclo econômico. A medida pode ser subdividida em diferentes categorias, de
acordo com o setor correspondente da economia responsável pela geração da riqueza. E assim
temos o PIB Agrícola, o PIB Industrial e o PIB setorial, por exemplo. O PIB Agrícola
corresponde às atividades de extrativismo vegetal e pesca, que atingem somente em torno de
7% da riqueza mundial, devido a seu baixo valor agregado. Esse componente da medida do
PIB pode ser compreendido como a contribuição da agricultura no crescimento econômico em
um determinado país. Ele corresponde ao nível de crescimento econômico gerado pela
agricultura. Nos dias atuais, trata-se com freqüência de um conceito de agronegócio, referente
ao setor agropecuário, que engloba um conjunto de atividades que fazem uso da terra tanto
para a criação de animais como para o cultivo de plantas. O Brasil é uma das maiores
potências mundiais do agronegócio, com índices de desenvolvimento agrícola acima da média
global, segundo dados publicados pela OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) em 2011. Nesse ano, o Brasil também registrou liderança no
quesito de produtividade agrícola na América Latina e Caribe, com 3,6% ao ano de
crescimento. No Brasil, o agronegócio é referente a mais de 20% do PIB (Produto Interno
Bruto) do país. O país também é um dos maiores exportadores do mundo, sendo o principal
parceiro comercial da China nesse setor; depois dos chineses, os EUA são os principais
compradores e investidores do agronegócio brasileiro. O Brasil exporta para a China e para os
EUA, principalmente, artigos como carnes, produtos florestais, soja, café, açúcar e álcool,
além de laranja, feijão e mandioca. Muitos economistas assumem a tarefa de prognosticar
oscilações de curto prazo da economia. Os economistas envolvidos com o setor privado o
fazem com o fim de ajudar suas empresas em um melhor planejamento quanto a mudanças
futuras no cenário econômico, enquanto que os envolvidos na esfera governamental o fazem
pois o cenário econômico afeta o governo, visto que afeta o estado em que se encontra a
economia e pois o governo pode reagir estimulando a economia através de políticas
monetárias e fiscais. Todavia, a forma pela qual esses economistas atingem esses prognósticos
se dá através da análise dos principais indicadores da economia, que nada mais são do que
variáveis que tendem a oscilar antes da economia como um todo, permitindo, portanto, um
prognóstico. Contudo, chegamos a conclusão de que a análise da variável do PIB e sua
composição são de extrema importância para o funcionamento da economia. Uma análise
minuciosa dessa variável, dada uma atenção especial ao seu componente relacionado a
agricultura será apresentada neste presente trabalho.
A agricultura e sua composição no PIB
A agricultura pode ser considerada um divisor de águas na história da humanidade. A
revolução neolítica, termo denominado pelo historiador australiano Gordon Childe, designa o
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movimento da Pré-História que foi marcado pelo fim dos povos nômades. Através da
descoberta da prática da agricultura, as sociedades humanas puderam tornar-se sedentárias,
isto é, puderam estabelecer-se em um local fixo, dando origem a vilas e, mais tarde, cidades.
Seguindo o curso da história, a agricultura sempre representou uma atividade importante para
as sociedades; primeiro como subsistência e posteriormente, com o desenvolvimento do
comércio, como objeto de troca. Com o desenvolver das sociedades e o surgimento de novas
tecnologias, o cultivo agrícola foi também se desenvolvendo e sofisticando dentro das
economias. A agricultura transformou-se, dando origem ao agronegócio, que engloba toda a
cadeia produtiva agrícola ou pecuária do ponto de vista econômico. Essa nova realidade da
agricultura como elemento estratégico de um grande ramo de negócio na economia moderna
apresenta um segmento forte, altamente dinâmico, conectado com toda a economia e com
desempenho relevante no processo de desenvolvimento econômico. A “nova economia”
agrícola – o agronegócio – exige o rompimento com preceitos clássicos das análises da
agricultura, sendo fundamental ressaltar o desenvolvimento do agronegócio, caminho mais
eficiente do país para adicionar valor sobre o produto agrícola produzido, propiciando novos
mercados que possibilitam ampliação das exportações, geração de rendas e impostos para o
país, como observado por Lauschner, 1993; Santana, 1994. Vejamos uma evidência deste
comportamento na economia brasileira. Dados empíricos apresentados por Furtoso e
Guilhoto 1, reforçam a ideia de que o segmento do agronegócio é fundamental na economia
brasileira. Em 2000, o agronegócio foi responsável por aproximadamente 27% do PIB em
2000. Valendo-se de uma análise mais precisa, verifica-se que o PIB do agronegócio da
agricultura representa, aproximadamente, 20% do PIB brasileiro, enquanto o complexo do
agronegócio referente a pecuária representa o restante aproximado em 8% do PIB brasileiro.
A alta contribuição da agricultura é, em parte, explicada pela diversidade do setor agrícola
brasileiro, que inclui um maior número de indústrias processadoras quando comparado ao
setor pecuário. Através desses resultados, torna-se evidente a importância e a dependência dos
outros setores da economia em relação a agricultura. Em 2000, a participação da agricultura
no PIB brasileiro foi de 7,6%. A interdependência da atividade com outros setores da
economia, no entanto, multiplica a participação da agricultura no PIB nacional em torno de
3,6 vezes quando se trata do conceito de agronegócio. A Austrália é outro exemplo
interessante quando se trata da importância do setor agrícola para a economia. No país, a
agricultura vem perdendo importância relativa. No entanto, sua contribuição para a economia
permanece substancial. Em 2003-4, o setor contribuiu em 4%, ou, em cifras, com 25 bilhões
de dólares para o total da produção do país. Empregou no mesmo período cerca de 375.000
indivíduos, o que corresponde a cerca de 4% do total da força de trabalho australiana. A
agricultura corresponde a um papel muito maior nas exportações australianas do que se
espera, dada a porcentagem de sua participação no produto total. No mesmo período, as
exportações agrícolas contabilizaram cerca de 22% de toda a exportação de bens e serviços.
Figura 1: Contribuição da agricultura para a atividade econômica da Austrália; 2003 -2004 - Porcentagem
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Fonte: Australian Government - Productivity Commission Research Paper: Trends in Australian Agriculture.
O setor agrícola vem sofrendo mudanças consideráveis ao longo das últimas décadas. Na
Austrália, por exemplo, apesar de continuar crescendo em termos absolutos, o setor perde
importância quando comparado ao restante da economia. Houve mudanças dentre a
quantidade e tamanho das propriedades agrícolas, na produção e nas estratégias empregadas
pelos produtores. Algumas das causas por trás dessas mudanças respondem por novas
demandas de consumo políticas governamentais, avanços tecnológicos e inovações quanto a
questão ambiental. Além disso, o setor também teve de enfrentar o desafio contínuo de
variações naturais, como as climáticas. Em 2002, Da-Rocha e Restuccia, dois acadêmicos das
universidades Carlos III em Madrid e Toronto, respectivamente, escreveram sobre o papel da
agricultura nas flutuações do ciclo econômico agregado dos países. De acordo com os autores,
existem diferenças substanciais nos ciclos econômicos dos diferentes países que poderiam ser
explicadas pelos c
que possuem uma alta participaç
na economia experimentam maior variaç
2
correlaç
. Em seu artigo, os autores argumentam que a agricultura
expressa relaç
veis que a influenciam em relaç
economia.
Figura 2: Dados conjunturais por indústria dos EUA 1987-2000
2
em The role of agriculture in aggregate business cycles. (Ver referências bibliográficas).
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* As duas primeiras colunas mostram a participação do produto e do emprego de cada setor da economia. As outras quatro
colunas apresentam o desvio padrão do logaritmo e das variáveis filtradas e as estatísticas de correlação entre produto do setor e
emprego.
Fonte: DA ROCHA e RESTUCCIA; The Role of Agriculture in Aggregate Business Cycle
Fluctuations.
m papel fundamental na
diferença entre os ciclos econômicos a
. Os autores calibraram
um modelo de dois setores de natureza RBC (ciclos reais de negócios) e encontraram um
resultado que aponta que um aumento de 2% para 30% na participaç
ultura no PIB
aumenta a flutuaç
oduto da economia em quase 40%. Para a amostra de países da
OCDE analisada por eles, o resultado encontrado foi que o produto agrícola flutuou duas
vezes mais que o produto não agrícola. Os autores concluíram também que a agricultura não é
positivamente correlacionada com o resto da economia. Para a mesma amostra de países, a
correlação do PIB agrícola e não agrícola foi de -0,03. Bragagnolo e Barros observaram
resultados similares aos encontrados por Da-Rocha e Restuccia para alguns períodos da
economia brasileira. No Brasil, ocorre uma correlação positiva, porém de baixa intensidade
entre o PIB agrícola e o não agrícola. A tabela abaixo, apresentada por Bragagnolo e Barros,
exibe as volatilidade do produto agropecuário brasileiro e do produto não-agropecuário, assim
como a correlação entre as duas medidas.
Figura 3: Desvio padrão dos ciclos do PIB real agropecuário e não agropecuário e correlação entre os ciclos do
PIB real agropecuário e não agropecuário*
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e estatística – IBGE e dados da pesquisa.
*os resultados apresentados referem-se a dados filtrados pelo filtro HP com parâmetro de suavização da série utilizado (λ) de
100.
100%
sugerido pelos autores. Na análise do caso brasileiro, observa-se que a correlação entre as
duas séries variou significativamente durante o período analisado, ao contrário do que
afirmam Da-Rocha e Restuccia sobre a inexistência de uma correlação positiva entre a
agricultura e o restante da economia. Nos períodos de 1971-1980 e 2001-2009 a correlação
mostrou-se, no entanto, negativa. Contudo, observando o período como um todo, a correlação
entre o setor agrícola e o resto da economia foi, em geral, baixa (0,191).
Motivação
Em uma análise mais acurada do setor agrícola, percebe-se a freqüência de notícias
relacionadas ao setor referentes à quebras de safra devido a grandes chuvas, períodos de
secas, pragas e uma diversidade de outros fatores. Observamos, no entanto, que existe uma
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certa volatilidade no setor agrícola, que pode ocorrer devido a variações climáticas e
conjunturais, entre outras, mas também devido a choques de produtividade, advindos de
avanços tecnológicos. Estudo realizado em uma amostra de países da OCDE mostra que o
produto agrícola flutuou duas vezes mais que o produto não agrícola, Da-Rocha e Restuccia
(2006). O setor agrícola, todavia, tem uma contribuição significante para o produto de
diversos países, chegando a representar grandes porcentagens do produto das economias,
como são os casos da Nigéria ( 30%) e o Vietnã (20%), segundo dados do Banco Mundial
referentes ao ano de 2012. O PIB, contudo, é também um importante indicador para diversas
relações estabelecidas na macroeconomia. As mais conhecidas, Curva de Phillips e Lei de
Okun, explicitam, respectivamente, as relações entre inflação e desemprego e desemprego e
hiato do produto. A exposição da medida do produto interno bruto à volatilidade apresentada
pelo setor agrícola, no entanto, implicaria em reflexos nessas relações macroeconômicas.
Motivada por essas questões, surge a ideia de expurgar o efeito da volatilidade, excluindo a
agricultura da medida do PIB, propondo-me a verificar se esta nova medida é mais
informativa para a economia. O presente trabalho se propõe a estudar a importância que recai
sobre a agricultura na composição do PIB, podendo assim, através de uma medida de PIB que
expurgue a agricultura, buscar uma comparação entre as correlações entre inflação,
desemprego e crescimento do produto, que tomem o PIB original como base, e aquelas que
tomem o PIB expurgado da agricultura como base. Por fim, este trabalho visa demonstrar uma
conclusão sobre a utilidade de se medir o PIB expurgando a agricultura.
A exposição do setor agrícola a externalidades
A atividade agrícola, devido a um maior componente ambiental, difere da produção em
qualquer outro setor da economia. Flutuações anuais da produção agrícola decorrem do
–
- pragas e doenças. Outros
fatores também contribuem para essas flutuações, como a ação individual de
mercado, a decisão de aumentar a produção, tomada por um pequeno produtor em
concorrência perfeita, não afeta o mercado. Entretanto, se muitos ou todos os produto
, ocasionando baixa nos preços, quando da comercialização do
produto. O gráfico abaixo mostra a produção anual de trigo nos Estados Unidos nos períodos
entre 1980 e 2010 e evidenciam um comportamento volátil.
Figura 4: Produção anual de trigo nos EUA, 1980-2010
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Fonte: SUMNER, Daniel. Economics of Volatility in Agricultural Markets; Agricultural Issues Center, University of
California.
Vejamos alguns exemplos da volatilidade do setor aplicados a economia australiana. O setor
agrícola na Austrália cresceu consideravelmente nas últimas décadas, expandindo-se 2,4
vezes em termos reais, de cerca de 10 bilhões de dólares em 1963-64 para 27 bilhões de
dólares em 2003-04 (a preços constantes de 2002-03). Secas no início dos anos 80 e meados
dos anos 90 implicaram em uma retração de cerca de um quinto do produto. A seca mais
recente foi a mais dura já registrada e implicou em uma retração de quase um quarto do PIB
em 2002-03. O produto, no entanto, recuperou-se fortemente em 2003-04.
Figura 6: Crescimento do produto agrícola*, 1963-64 a 2003-04
valor adicionado (bilhões de dólares, preços constantes de 2002)
*as tendências das taxas de crescimento foram calculadas através da regressão do logaritmo das variáveis relevantes, nesse
caso, o valor adicionado.
Fonte: Australian Government - Productivity Commission Research Paper: Trends in Australian Agriculture.
No período concentrado entre 1974 e 2004, a atividade agrícola registrou a maior volatilidade
no crescimento ano a ano da produção dentre todos os setores da economia, registrando um
índice de volatilidade mais de 2,5 vezes maior que a média registrada para todas as indústrias.
A volatilidade da produção agrícola também foi substancialmente maior que os outros dois
setores que a seguiram registrando as maiores volatilidades: construção, finanças, seguro e
mineração.
Figura 7: Volatilidade do setora e crescimento do PIB, 1974-05 a 2003-04
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a
A volatilidade do setor foi calculada a partir do desvio padrão da diferença percentual entre o produto e a sua tendência anual para todos os
anos do período.
Fonte: Australian Government - Productivity Commission Research Paper: Trends in Australian Agriculture.
A volatilidade na produção agrícola pode ter impacto significativo nas taxas de crescimento
registradas para a economia como um todo, principalmente durante os ciclos secarecuperação. Uma comparação entre as taxas de crescimento do PIB e do PIB não-agrícola
mostra que a agricultura “sugou” cerca de um ponto percentual do crescimento do PIB
australiano durante as últimas três grandes secas registradas. O crescimento do PIB em 200203 foi de 3%, por exemplo, enquanto o crescimento do PIB não-agrícola para o mesmo
período foi de cerca de 4,2%. Contudo, similarmente, em 2003-04, a recuperação da produção
agrícola levou o produto a uma taxa de crescimento de 4,2%, 0.8 pontos percentuais superior
que o crescimento do produto não-agrícola. As secas levaram a uma queda de 6,7% do
produto agrícola nos três primeiros trimestres de 2004-05 quando comparados com o período
correspondente em 2003-04 (séries sazonalmente ajustadas, preços constantes de 2002-03).
Ainda que menor do que a retração do PIB em 2002-03, a queda indica um impacto negativo
da agricultura no crescimento do PIB para esse período. Sumner, professor do centro de
questões agrícolas da universidade da Califórnia, lembra-nos que a volatilidade é uma questão
natural da agricultura. E, portanto, é esperada por todos no setor. As flutuações na agricultura
vem ocorrendo há décadas e não há nada que se possa fazer, além de tomar o conhecimento
de que tal volatilidade exista.
Metodologia
O próximo passo para a análise da nova medida de PIB consiste em expurgar a sua
composição agrícola. A intuição por trás disso baseia-se na ideia de que, retirando o valor
adicionado pela agricultura no PIB, ou seja, a parte mais volátil da composição do produto,
retiramos, contanto, parte da volatilidade deste. Essa nova medida nos será útil na análise das
correlações entre desemprego, inflação e crescimento da economia a partir de um produto
expurgado.
A base de dados
Os dados relevantes para monografia foram extraídos em sua maioria da base de dados do
Banco Mundial (World Bank open Data) e também da base de dados da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ambos abertos para o público em seus
respectivos portais na internet. Dados sobre inflação e desemprego foram, por vezes,
importados da base de dados do Bloomberg. Os indicadores utilizados consistem nas taxas de
inflação, Consumer Price Índex (CPI) e Core (non-food, non-energy), taxa de desemprego,
Gross Domestic Product (GDP), a soma bruta do valor adicionado de todos os produtores da
economia e valor adicionado da agricultura, sendo os dois últimos medidos em constant Local
Currency Unit (LCU), ou seja, moeda a preços constantes dos respectivos países aos quais
pertencem. De forma a obter uma série razoável para a análise das correlações entre os
indicadores, foram selecionados dados em um período de cerca de 40 anos, de 1970 a 2012.
A seleção dos países analisados
A escolha dos países a serem analisados deu-se basicamente através da sua classificação em
três diferentes categorias: países com baixa participação da agricultura no PIB(até 5%), países
com média participação da agricultura no PIB (cerca de 10 a 15%) e países com alta
participação da agricultura no PIB (acima de 20%). A seleção deu-se principalmente dentre os
países membros da OCDE, devido a uma maior facilidade na obtenção de séries históricas de
dados para estes países. Além disso, a amostra deveria conter no mínimo cerca de 10 países,
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para que uma análise consistente fosse realizada. Foram selecionados os países listados
abaixo.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Alemanha
Austrália
China
Colômbia
Equador
Estados Unidos
França
Portugal
Turquia
Expurgando a agricultura da medida do PIB
O método utilizado para expurgar a agricultura da medida do PIB é bastante simples.
Seleciona-se o GDP e o valor adicionado da agricultura de um respectivo país e é efetuada
apenas a subtração do valor adicionado pela agricultura do GDP.
Veja o exemplo abaixo:
ALEMANHA
GDP (Constant LCU)
1970
1.064.334 x 106
12.451 x 106
Agriculture, value added (Constant LCU)
PIB expurgado = GDP
(Constant LCU)
– Agriculture
(Constant LCU)
= 1.064.334 x 106 - 12.451 x 106
E teríamos, portanto:
ALEMANHA
GDP (Constant LCU)
Agriculture, value added (Constant LCU)
PIB expurgado
1970
1.064.334 x 106
12.451 x 106
1.051.883 x 106
As novas relações entre desemprego, inflação e crescimento da economia
Antes de medirmos as relações que se dão entre crescimento do produto, agora expurgado,
desemprego e inflação, falemos sobre essas relações e sua intuição em geral.
A Curva de Phillips
Em 1958, o economista neozelandês A.W. Phillips observou uma relação negativa entre a
taxa de desemprego e a taxa de inflação salarial no período entre 1861-1957 para dados do
Reino Unido. Phillips observou que havia uma relação estável de trade-off entre inflação e
desemprego. Analisando o modelo de oferta e demanda agregada de curto prazo, constatou
que uma expansão da demanda agregada, por exemplo, movimentaria a economia ao longo da
curva de oferta agregada de curto prazo até um ponto onde o nível do produto fosse mais
elevado. Um nível mais alto de produção significa um menor índice de desemprego, uma vez
que as empresas contratam maior quantidade de trabalhadores quando produzem mais. Por
sua vez, um nível mais alto de preços implica em uma maior taxa de inflação. Portanto, aí fica
exposta a relação de trade-off entre inflação e desemprego: Quando formuladores da política
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econômica movimentam a economia para cima ao longo da curva de oferta agregada de curto
prazo, eles provocam uma queda na taxa de desemprego e um aumento na taxa de inflação. O
oposto ocorre para uma retração da demanda agregada. A curva de Phillips é um método útil
de se expressar a oferta a agregada, visto que inflação e desemprego são indicadores muito
importantes para o desempenho econômico. Com o passar do tempo, após algumas alterações,
surgiu a curva de Phillips moderna. A inflação salarial foi substituída pela inflação de preços,
apesar de ambas serem estreitamente relacionadas: quando os salários estão aumentando, os
preços também aumentam. A curva de Phillips moderna, no entanto, inclui também as
chamadas expectativas de inflação, decorrente da contribuição do trabalho de Friedman sobre
o modelo de informação imperfeita. Além disso, devido aos choques de oferta causados pela
OPEP (Organização dos países exportadores de Petróleo), passou-se a dar mais atenção à
importância dos choques na oferta agregada, que foram incluídos no modelo da Curva de
Phillips.
π = Eπ - β ( u – un ) + ν
Inflação = Inflação Esperada - β * ( Desemprego Cíclico ) + Choque de Oferta
Figura 8: Evidência empírica por trás do trade-off entre inflação e desemprego
*O traço vermelho indica a trajetória do da taxa de desemprego e o traço azul a trajetória da taxa de inflação(CPI). O eixo
vertical determinas as taxas em porcentagem, enquanto o horizontal indica o tempo decorrente em anos.
Fonte: Dados apresentados pelo St Louis FED
Em sua forma moderna, a Curva de Phillips enuncia que a taxa de inflação depende da
inflação esperada, do desvio do desemprego em relação ao nível natural, chamado de
desemprego cíclico e dos choques de oferta, como estão expressas na equação acima, onde β
expressa o parâmetro que mede a sensibilidade da inflação ao desemprego cíclico.
A lei de Okun
Os ciclos econômicos tornam-se evidentes não somente nos dados extraídos das contas
nacionais, mas também nos dados que descrevem as condições do mercado de trabalho. Uma
vez que trabalhadores empregados ajudam na produção de bens e serviços, enquanto
trabalhadores desempregados não contribuem para essa produção, crescimentos na taxa de
desemprego deveriam necessariamente estar associados a quedas no PIB real. Foi essa relação
negativa entre desemprego e PIB que o economista Arthur Okun observou pela primeira vez
em 1962. A lei de Okun anuncia, mais precisamente, que variações de ano para ano na taxa de
desemprego estão estreitamente relacionadas a variações de ano para ano no PIB real.
Veja o exemplo abaixo da Lei de Okun para os EUA:
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u t – u t-1 = - β (g yt – g y )
ou
∆u = - β (g yt – g y )
onde u t e u t-1 representam, respectivamente, o nível de desemprego no período corrente e no
anterior, g yt e g y representam, respectivamente, as taxas de crescimento do PIB no período
corrente e a taxa de crescimento normal do produto, que é aquela que mantém o desemprego
constante. E β representa um parâmetro que mede a sensibilidade do desemprego aos desvios
do produto.
Figura 9: Evidência empírica da relação estabelecida na Lei de Okun para o Reino Unido, 1947-2002
*Gráfico de dados trimestrais Americanos de 1947 a 2002.
A mensuração das novas relações
A proposta do presente trabalho consiste em analisar as relações explicitadas acima nas lei de
Okun e curva de Phillips. Para isso, no entanto, usaremos apenas das intuições derivadas
dessas relações, como a correlação básica entre os indicadores desemprego, inflação e
crescimento do produto, dois a dois.
Os Indicadores
Com o objetivo de estabelecer uma comparação entre as relações inflação-desemprego e
desemprego-produto para uma medida de PIB original e uma expurgada, ou seja, aquela
apresentada anteriormente (ver seção 5.3) que expurga o valor adicionado da agricultura do
componente do PIB, é necessário expurgar o efeito da agricultura também de outros
indicadores, como a inflação. Para isso, selecionamos a medida de inflação conhecida como
Core. Essa medida de inflação representa a tendência de longo prazo do nível de preços. Para
atingir essa medida, mudanças de preços transitórias devem ser excluídas. Uma das formas
mais comuns de executar este objetivo é excluindo itens mais suscetíveis à volatilidade de
preços da mensuração. A exclusão dos preços de energia e alimentos é uma das formas mais
recorrentes estabelecidas e será utilizada aqui como uma aproximação para a medida de
inflação que expurgue os efeitos da volatilidade da agricultura. Além disso, calculamos o
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crescimento do produto ano a ano a partir dos dados selecionados, tanto para a medida do
PIB, quanto para a medida calculada do PIB expurgado.
Os métodos estatísticos utilizados
Para estudar a relação entre os indicadores, foi escolhido um método estatístico bastante
simples. Através da correlação calculada a partir da série de dados coletados, obtivemos um
coeficiente de correlação entre as duas variáveis. A correlação entre as variáveis verifica a
existência de algum tipo de relacionamento entre elas, e, pela regressão linear simples,
determina-se um modelo linear para descrever o tipo de relação presente entre essas variáveis.
O coeficiente de correlação varia entre -1 e 1. Valores próximos de 1 ou -1 indicam forte
correlação positiva ou negativa. Já valores próximos de 0 indicam uma falta de correlação
entre as variáveis.
O cálculo da correlação segue a seguinte Formula:
A comparação entre as relações medidas a partir do PIB comum e o expurgado
A análise da volatilidade
De início, verificamos a hipótese de uma maior volatilidade do produto agrícola. Os gráficos
abaixo mostram o exemplo de alguns dos países selecionados e o comportamento do
crescimento de seus respectivos produtos ao longo do tempo. Em uma primeira instância,
verificamos que o crescimento do PIB agrícola possui uma dispersão maior do que o
crescimento do PIB em geral, o que indica a maior volatilidade do setor.
Figura 10: Taxas de crescimento das medidas de PIB e seu componente agrícola para os Estados Unidos, 1971-2009
Figura 11:Taxas de crescimento das medidas de PIB para a Fraça, 1971-2011
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Ainda assim, com o intuito de mensurar a grandeza desta volatilidade, calculamos o
coeficiente de variação do crescimento dos produtos, PIB original e PIB agrícola. O
coeficiente de variação é uma medida de dispersão estatística que indica o tamanho real da
dispersão dos dados, uma vez que seu coeficiente indica qual porcentagem o desvio padrão
representa em relação à média.
Verificamos os seguintes valores:
Tabela 1: Coeficientes de Variação
País
Crescimento do PIB
Coeficientes de Variação
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Austrália
0,4749
0,4777
3,9662
Alemanha
0,9790
0,9978
7,1210
Colômbia
0,5668
0,5983
2,4372
0,82
0,8839
1,7112
França
0,8136
0,8105
4,1207
China
0,3721
0,4233
0,7339
Estados Unidos
0,7341
0,7341
3,4871
Portugal
1,1831
1,0951
9,9769
Turquia
0,9714
0,9535
2,7789
Equador
Aqui, nos deparamos com um comportamento intrigante. O coeficiente de variação referente
ao crescimento do PIB agrícola é de fato mais representativo do que o coeficiente relacionado
ao crescimento do PIB original. Ou seja, há uma dispersão significantemente maior do
crescimento do produto agrícola, como visualizamos anteriormente através dos gráficos. No
entanto, diferentemente do que indicava a intuição, o coeficiente de variação referente ao PIB
expurgado não apresenta uma proporção significantemente diferente do coeficiente referente
ao PIB original. Isso também pode ser verificado se analisarmos a trajetória do crescimento
das duas medidas. Enquanto o crescimento do PIB agrícola mostra um comportamento que
destoa visivelmente das outras duas medidas, o PIB expurgado e o PIB original tem uma
trajetória bastante similar, com o PIB expurgado, na maioria dos casos, apresentando uma
dispersão sutilmente menor.
Figura 12: Taxas de crescimento das medidas de PIB para os Estados Unidos, 1971-2011
Figura 13: Taxas de crescimento das medidas de PIB para a França, 1971-2011
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Análise de acordo com a participação da agricultura na economia
A participação da agricultura na economia, ou seja, a porcentagem do valor adicionado ao
produto relativo ao setor agrícola em relação ao total do produto, varia bastante dentre os
países. Essas diferenças ocorrem devido a especificidades dentre as economias, como
disponibilidade de terras cultiváveis, clima favorável ao cultivo e até mesmo questões
históricas da formação dos países, como no caso de países colonizados durante o Antigo
Regime, que tiveram suas economias, mesmo após a independência, ainda altamente
relacionadas a produção agrícola. Na análise do comportamento do PIB expurgado, a taxa de
participação da agricultura é bastante relevante para a compreensão dos resultados, uma vez
que economias com uma maior participação da agricultura em seu PIB, teriam, em tese,
produtos mais sujeitos a variações nesse setor. Com o objetivo de perceber o impacto dessa
questão na análise da variável, estudamos o comportamento dos produtos de um mesmo país
em diferentes períodos da série, segundo a grandeza da participação da agricultura no produto
nos diferentes períodos.
Tabela 2: Coeficientes de Variação de acordo com participação da agricultura no PIB (%).
Coeficientes de Variação
Equador 1972 - 2000
0,9793
1,0597
1,9697
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Equador 1978 - 1988
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Coeficientes de Variação
Colômbia 1970 - 1990
0,7227
0,7489
3,2126
0,4393
0,4494
0,6516
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Colômbia 1994 - 2012
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
0,7220
0,7633
2,6658
Departamento de Economia
Coeficientes de Variação
Turquia 1970 - 1982
0,8585
0,8624
2,6952
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Turquia 1993 - 2012
1,2390
1,2342
2,7995
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
Coeficientes de Variação
China 1970 - 1986
0,5284
0,5773
1,1480
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
China 1999 - 2012
Crescimento do PIB
Crescimento do PIB expurgado
Crescimento do PIB agrícola
0,1880
0,1864
0,3018
Analisando a volatilidade, aqui observada como a dispersão em relação a média através do
coeficiente de variação, dentre diferentes períodos em um mesmo país, chegamos aos
resultados acima. O Equador teve entre 1978 e 1988 uma participação da agricultura de cerca
de 6% do produto e entre 1970 e 2000 a agricultura correspondeu a cerca de 9% do PIB. No
período com menor participação da agricultura no produto, observamos uma dispersão geral
menor do crescimento do produto em relação a sua média. Dos coeficientes de variação 0,82
(PIB) e 0,88 (PIB expurgado) obtidos para o total do período (ver tabela 1), verifica-se uma
queda da dispersão para os coeficientes 0,72 (PIB) e 0,74 (PIB expurgado) durante o período
de 1978 a 1988. O mesmo padrão de comportamento é observado no caso da China. Entre
1970 e 1986, quando a participação da agricultura no PIB superava os 30%, os coeficientes
observados foram mais altos. O coeficiente de variação do PIB foi de 0,52 para o período,
enquanto o coeficiente referente ao crescimento do produto expurgado marcou 0,57. Ambos
verificando uma maior volatilidade do que a observada em todo o período (ver tabela 1) e
também do que a observada no período de 1999 a 2012, quando a participação da agricultura
no produto variou de 15 a 6%, obtendo os coeficientes 0,186 (PIB) e 0,188 (PIB expurgado).
De uma forma geral, os coeficientes indicam, nesses dois casos, que a dispersão do PIB é
maior quando a agricultura é responsável por uma parcela maior do produto. No entanto, a
dispersão do PIB expurgado continua sendo ligeiramente maior que a do PIB original.
Todavia, outros dois casos mostram um comportamento completamente distinto quanto ao
impacto da parcela de participação da agricultura no produto. A Turquia, durante o período de
1970 a 1982, em que a agricultura representava mais de 20% do produto, apresentou
coeficientes de variação menores do que durante o período decorrido entre 1993 e 2012, em
que a parcela da agricultura no PIB decaiu de 13% a 9%. Sendo os coeficientes 0,85 (PIB) e
0,86 (PIB expurgado) contra 1,230 (PIB) e 1,234 (PIB expurgado), respectivamente. A
Colômbia mostra o mesmo comportamento, apresentando para o período entre 1970 e 1990,
quando a agricultura representava cerca de 15 a 13% do produto, dispersões menores do
crescimento do produto quanto a sua média do que no período entre 1994 e 2012, em que essa
parcela decaiu de 9% a 6%. Nesses dois últimos casos, encontramos indícios de que a
agricultura acrescentaria algum tipo de estabilidade para a economia.
Departamento de Economia
As correlações entre as variáveis
Vamos agora finalmente analisar as relações estabelecidas entre as variáveis
macroeconômicas referentes ao desemprego, inflação e produtos original e o expurgado.
Primeiramente estabelecemos as correlações entre os dados referentes à taxa de
inflação e
taxa de desemprego, cuja intuição extraímos da teoria da curva de Phillips.
Tabela 3: Coeficientes de correlação entre taxas de inflação e desemprego
Correlações Inflação - Desemprego
País
Coeficiente de correlação
Austrália
-0,2676
Alemanha
Colômbia
-0,6782
-0,8414
Equador
0,3313
França
-0,2968
China
-0,5164
Estados Unidos
Portugal
0,08010
-0,2228
Turquia
0,6713
* coeficientes medidos a partir do somatório das taxas de desemprego e taxas de inflação (CPI) extraídos da base de dados do
Banco Mundial. Dados em geral para 1970 a 2012, mas com eventuais diferenças devido a disponibilidade dos indicadores.
A segunda relação estabelecida remete a intuição adquirida da lei de Okun (ver seção 6.2) e
relaciona as variáveis referentes à taxa de desemprego e crescimento do produto.
Tabela 4: Coeficientes de correlação entre taxas de crescimento do produto e desemprego
País
Correlações Crescimento do PIB - Desemprego
Coeficiente de correlação
Austrália
Alemanha
Colômbia
Equador
França
China
Estados Unidos
Portugal
Turquia
-0,1517
-0,3864
-0,1439
-0,1648
0,2484
-0,1854
-0,4387
-0,1894
-0,0780
* coeficientes medidos a partir do somatório das taxas de desemprego e taxas de inflação (CPI) extraídos da base de dados do
Banco Mundial. Dados em geral para 1970 a 2012, mas com eventuais diferenças devido a disponibilidade dos indicadores.
As correlações entre as variáveis seguem, em geral, as intuições apresentadas pelas curva de
Phillips e lei de Okun. Os coeficientes encontrados são, de uma forma geral, negativos ou,
quando positivos, apresentam valores muito baixos próximos de zero, o que reflete o trade –
off apresentado em ambas as teorias.
As figuras abaixo mostram dois exemplos das relações acima:
Figura 14: Inflação e Desemprego na Alemanha 1970-2011
Departamento de Economia
Fonte: Dados obtidos do Banco Mundial.
Figura 15: Crescimento do Produto (PIB) e Desemprego na Alemanha 1971-2011
Fonte: Dados obtidos do Banco Mundial.
Agora, contudo, faremos uma análise do comportamento dessas correlações, quando expostos
as medidas de crescimento de produto expurgado e de inflação core.
Obtivemos os seguintes dados:
Tabela 5: Coeficientes de correlação entre taxas de inflação core e desemprego
País
Austrália
Alemanha
Colômbia (2000-2013)
Equador
França
China
Estados Unidos
Portugal
Turquia (2004-2012)
Correlações Inflação core - Desemprego
Coeficiente de correlação
-0,0212
-0,6715
0,7135
-0,1908
0,2116
-0,5375
-0,2429
*devido a disponibilidade de dados, países como Colômbia e Turquia tiveram as correlações medidas no período entre parênteses indicado.
Para China e Equador não foram encontrados dados significativos para mensurar a correlação.
Tabela 6: Coeficientes de correlação entre taxas de crescimento do produto expurgando agricultura e
desemprego
Departamento de Economia
Correlações Crescimento PIB expurgado - Desemprego
País
Coeficiente de correlação
Austrália
Alemanha
-0,1762
Colômbia
Equador
França
China
Estados Unidos
Portugal
Turquia
-0,1938
-0,1547
0,2237
-0,3004
-0,4206
-0,2053
-0,1048
-0,3818
Com o intuito de verificar a utilidade da medida de PIB expurgando a agricultura, analisamos
os resultados obtidos nas correlações entre crescimento do PIB expurgado e desemprego e
inflação core e desemprego. Investigando os resultados obtidos, verificamos alguns fatos
interessantes. A Turquia, por exemplo, apresenta para o período entre 1970 - 1980, quando a
agricultura representa entre 28% e 20% do seu produto, coeficientes de correlação negativos
bastante fortes entre as variáveis, tanto para a relação entre crescimento do PIB e desemprego
(-0,5048), como para o crescimento do PIB expurgado e desemprego (-0,5803). No entanto,
quando observamos o período contido entre 1981 e 2000, quando a agricultura representava
uma parcela menor do PIB (cerca de 20 a 10%), os coeficientes de correlação observados
entre as variáveis foram positivos, apesar de fracos; 0,1125 para a relação entre crescimento
do produto e desemprego e 0,1062 para a relação entre crescimento do produto expurgado e
desemprego. Contudo, quando a participação da agricultura no produto cai para cerca de 10%
(2001 - 2012), as correlações apresentadas voltam a ser negativas e apresentam valores
bastante similares àqueles do primeiro período observado (1970 – 1980).
No caso da Colômbia, entre o período de 1980 – 1999, quando a agricultura representava
cerca de 16% do produto, os coeficientes de correlação entre crescimento do produto e
desemprego (-0,7324), crescimento do produto expurgado e desemprego (-0,7300) e inflação
e desemprego (-0,7276) apresentam valores maiores do que durante o período de 2000 –
2012, quando a agricultura representava uma parcela menor do produto, de cerca de 6%.
Nesse último, os valores obtidos para os coeficientes de correlação foram de -0,5012 para a
relação entre crescimento do produto e desemprego, -0,5127 para a relação entre crescimento
do produto expurgado e desemprego e 0,6323 para a relação entre inflação e desemprego.
Afim de comparar as correlações entre desemprego e inflação core, analisamos o período
entre 2000 e 2013, devido a uma indisponibilidade de dados para as taxas de inflação core
para outros períodos no país. O coeficiente de correlação entre inflação e desemprego obtido
entre 2000 e 2013 foi de 0,6866, enquanto o coeficiente obtido para a relação entre inflação
core e desemprego foi de 0,7135.
Quando analisamos um país que sofre poucas alterações na participação da agricultura em
seu produto, como é o caso da Alemanha, por exemplo, observamos que não há grandes
diferenças nas relações entre as variáveis originais e as expurgadas. Assim como não há
diferenças significativas quando observamos períodos em que a agricultura apresenta uma
participação ligeiramente maior ou menor no produto do país. Contudo, quando analisamos
as correlações calculadas a partir de todo o período observado (1970 a 2012), os dados
sugerem um comportamento interessante quanto a participação da agricultura no produto do
país e a comparação entre as correlações entre as variáveis originais e as expurgadas.
Os dados obtidos sugerem que, em economias onde a agricultura representa uma parcela
significativa do produto, as correlações entre as variáveis expurgadas, ou seja, inflação core e
Departamento de Economia
desemprego e crescimento do produto expurgado e desemprego são mais fortes, ou seja,
apresentam valores maiores, independentemente se positivos ou negativos, do que aqueles
obtidos através da correlação entre as variáveis originais. Essas observações se aplicam, em
nossa amostra de países, a Portugal, Colômbia e Turquia.
Por outro lado, em economias onde a agricultura representa uma parcela pequena do produto,
como Austrália, França, Alemanha e Estados Unidos, os coeficientes de correlação obtidos
durante o período como um todo para as variáveis expurgadas são mais fracos do que aqueles
obtidos para a relação entre as variáveis originais.
Conclusões
A questão a se responder é: A nova medida de PIB que expurga a agricultura é, de fato, útil?
As observações feitas neste trabalham mostram que a hipótese inicial sobre a volatilidade da
agricultura se afirma através de uma análise do comportamento do componente agrícola do
PIB. No entanto, a medida de PIB expurgado apresentou uma dispersão maior do que a do
PIB original, contrariando a intuição de que uma medida de PIB que expurgasse a agricultura
apresentaria uma volatilidade menor do que a medida padrão. Contudo, os resultados obtidos
neste trabalho foram obtidos através de uma análise de uma amostra pequena de países, o que
permite que uma ampliação da pesquisa permita resultados mais consistentes.
Todavia, nos deparamos com um fato interessante na análise entre as correlações
estabelecidas entre as variáveis macroeconômicas referentes ao desemprego, inflação e
crescimento do produto.
A comparação entre os coeficientes de correlação para as relações da curva de Phillips e lei de
Okun nos mostraram que, em economias onde a agricultura representa uma porcentagem
maior do produto, quando usamos a medida de PIB expurgado, assim como a medida de
inflação core, obtemos relações mais coerentes com as relações de trade-off expostas na lei de
Okun e curva de Phillips, isto é, as correlações entre crescimento do produto expurgado e
desemprego e taxa de inflação core e desemprego apresentam coeficientes mais negativos. Da
mesma forma, em economias onde a agricultura representa uma baixa porcentagem do
produto, as correlações medidas a partir das variáveis-padrão, ou seja, crescimento do PIB,
desemprego e inflação, são as que apresentam correlações que melhor explicitam as relações
de trade-off expostas.
Portanto, podemos concluir que há sim alguma utilidade escondida nesta nova forma de se
mensurar o produto interno bruto de uma economia.
Referências
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, 1994 a 2000. Revista de Economia e
Sociologia Rural, n.4, v.41, pp. 803-828, nov.-dez. de 2003.
DA-ROCHA, J. M. & RESTUCIA, D. (2006). The role of agriculture in aggregate
business cycles. Review of Economic Dynamic, 9:455-482.
BRAGAGNOLO, Cassiano & BARROS, Geraldo Sant'Ana de Camargo. Ciclos econômicos
na agricultura Brasileira. Rev. Bras. Econ. 2013, vol.67, n.2, pp. 151-175.Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71402013000200001.
Departamento de Economia
SANTANA, A. C. de. A Dinâmica do complexo agroindustrial e o crescimento econômico
no Brasil. Viçosa, 1994.
LAUSCHNER, R. Agribusiness, cooperativa e produtor rural, Editora da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 1993.
AUSTRALIAN GOVERNMENT PRODUCTIVITY. Trends in Australian Agriculture.
Research Paper; Canberra, 2005.
A. SUMNER, Daniel. Webinar on : Economics of Volatility in Agricultural Markets.
University of Califórnia; Agricultural Issues Center, December 2010
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