(formato pdf) da Edição nº 4358 de 17.11.2016

Propaganda
17 de Novembro de 2016
17
Novembro
2016
SEMANÁRIO REGIONALISTA DE INSPIRAÇÃO CRISTÃ
Ano LXXXVIII – N.º 4358
Diretor: ALBERTO GERALDES BATISTA
Autorizado pelos C.T.T.
a circular em invólucro
de plástico fechado.
Autorização
N.º D.E.
DE00192009SNC/GSCCS
PUBLICAÇÕES
PERIÓDICAS
BRAGA
TAXA PAGA
Preço 0,50 € c/ IVA
Diocese de Beja presta sentida homenagem
de gratidão a D. António Vitalino, Bispo emérito
Gratidão, saudade, emoção, incentivo a fazer frutificar a semente do
Evangelho, lançada à terra em 17 anos de episcopado, na Diocese de
Beja, foram sentimentos que vivenciámos todos os que, no dia 13 de
Novembro, nos reunimos no auditório do Seminário e, de seguida, na
igreja catedral pacense para nos despedirmos de D. António Vitalino
que, desde o dia 3, passou o testemunho a D. João Marcos, tornandose, por imperativo das normas canónicas, Bispo emérito.
Éramos, naquela tarde radiosa de Novembro, uma grande multidão,
sentimo-nos “pedras vivas do Templo do Senhor, Igreja Santa de
Deus” a testemunhar louvor e acção de graças a Cristo, Bom Pastor,
que apascentou este rebanho na Planície Heróica, durante estes anos,
através do Bispo bom, dedicado, zeloso, santo e sábio, que nos foi
dado em 25 de Janeiro de 1999 e que regressa agora à sua Ordem do
Carmo, em Fátima, depois de exercer, entre nós incansável trabalho
missionário e anunciar com a sua vida exemplar o Evangelho da Alegria.
Do programa desta festa de homenagem de gratidão constaram, no
salão de festas do Seminário, testemunhos de padres e leigos,
momentos musicais do Coro de Câmara de Beja e do Coro do Carmo
de Beja e, no final, a palavra quente e esclarecedora de D. António,
que fez uma breve síntese da sua caminhada na Alemanha, como
estudante, em santo António dos Cavaleiros, como pároco, no
Patriarcado de Lisboa e em Beja, como Bispo, sublinhando que, em
todas estas etapas da vida, teve somente a preocupação de anunciar
Jesus Cristo e estabelecer laços de comunhão fraterna nas
comunidades humana e eclesial onde Deus o colocou.
Perante aquela multidão, congregada à sua volta, para lhe dizer um
sentido muito obrigado, D. António afirmou, visivelmente
emocionado, que lhe apetecia cantar: “Beja tem mais encanto, na
hora da despedida”.
Nas breves palavras que lhe dirigiu, também o Presidente da Câmara
de Beja, Engenheiro João Rocha, realçou que lhe fora muito grato,
colaborar com D. António em projetos comuns de promoção social e
cultural do povo alentejano, nestes anos em que esteve à frente das
Câmaras de Serpa e Beja. E, para que D. António nunca se esquecesse
do Alentejo, fez-lhe oferta de um conjunto de 12 figuras, de cantores
alentejanos, de porcelana, em miniatura.
A segunda parte do programa festivo desenrolou-se na Sé, onde
chegámos, às 17 horas, em cortejo litúrgico, a partir da igreja de Santa
Maria, com a presença da quase totalidade do clero da Diocese e alguns
sacerdotes do patriarcado de Lisboa e da Arquidiocese de Évora.
Nas páginas do nosso “Notícias de Beja” registamos, hoje, para
memória futura, os testemunhos proferidos, no Seminário, a notável
homilia de D. João Marcos, na Sé, e as palavras finais de gratidão de
D. António Vitalino, a todos os diocesanos, pela prestimosa
colaboração que lhe deram como Bispo de Beja, dizendo que leva a
todos no coração e pedindo que rezem por ele e vivam com alegria a
dignidade de filhos de Deus.
O Vigário Geral, Cónego António Domingos, fez, no final da Missa,
entrega ao Senhor D. António de algumas prendas: um computador,
um relógio e um cheque com dinheiro que o Bispo emérito quis
expressamente que fosse dado à Sé, para compra de mobiliário, e à
Cáritas para ser distribuído pelos pobres.
Uma calorosa e prolongada salva de palmas ecoou pelas naves da
Catedral, no termo das palavras de D. António Vitalino, expressão
eloquente do carinho e reconhecimento da Diocese pelo bom e efetivo
serviço prestado a todo o povo alentejano e à comunidade cristã, em
especial, daquele que foi nosso Bispo durante 17 anos e de que
saudosamente agora nos despedíamos.
Alberto Batista
Embora fosse minha intenção
despedir-me à francesa, ou seja,
quando chegasse a hora de ter os
pertences, roupas e livros, mais ou
menos arrumados e os relatórios
redigidos, recolher a uma comunidade carmelita, de onde há 20
anos saí para exercer o ministério
episcopal, primeiro em Lisboa,
como bispo auxiliar e desde 11 de
abril de 1999 como bispo de Beja,
D. João Marcos e vocês não
permitiram saída tão tranquila e
silenciosa como era meu desejo.
Desde 2013 que vinha preparando
este acontecimento, primeiro
pedindo ao Papa um Bispo Coadjutor e desde o Natal de 2015 deixando de tomar posições públicas,
sobretudo nos meios de comunicação social.
Por isso aproveito este momento
para convosco agradecer a Deus
e à Igreja o ministério episcopal
para que me escolheu, agradecer
a D. Manuel Falcão que até 22 de
fevereiro de 2012 me acompanhou
de perto, agradecer a D. João
Marcos que me ajudou nos últimos
anos, tornando o meu ministério
mais leve, agradecer às cooperadoras
da família na casa episcopal que me
ajudaram a viver e a engordar,
agradecer ao clero, consagrados e
consagradas e aos fiéis leigos que
colaboraram na missão eclesial e
contribuiram para que nem eu nem a
diocese adormecessemos.
Agradeço também aos párocos e
paróquias o contributo para a
prenda que quiseram dar-me,
embora eu de nada precisasse,
pois a melhor prenda são as
pessoas, que se mantêm fiéis à
Igreja. Segundo consta, sobrou
muito dinheiro, pois todos foram
generosos e todos quiseram contribuir. Como tinha dito, o que
sobra será para os móveis da
catedral e, como ainda sobra, o
resto será para os pobres através
da Caritas diocesana.
Neste dia em que encerramos a
semana de oração pelos seminários, quero agradecer de modo
especial a todos os que trabalharam pelo discernimento vocacional, reitores, professores, clero
e leigos, pois sem clero o bispo
não consegue exercer a sua missão. Das 20 ordenações de presbíteros e de 6 diáconos permanentes em 17 anos, nenhum se
perdeu. O mesmo agradecimento
aos que já cá estavam. São 30, para
além dos 4 presbíteros incardinados no clero da diocese e dos 4
diáconos permanentes. Encomendo hoje à misericórdia de Deus
os 18 presbíteros falecidos desde
11 de abril de 1999, alguns deles a
residir fora da diocese, data em que
a diocese contava com 71 membros
do clero, sendo 67 presbíteros e 4
diáconos permanentes e hoje tem
77, portanto, mais 6 membros do
clero que em 1999.
Ao mesmo tempo aproveito para
pedir perdão e desculpa por todas
as vezes que feri alguém, até pela
minha maneira de ser um pouco
brincalhona ou por não ter compreendido, sobretudo não tendo
em atenção as reais dificuldades e
maneira de ser de cada um, muito
diferentes das minhas.
Mas tudo isto faz parte da vida de
um frade que na sua adolescência
quis ser missionário e como jovem
frade pediu para continuar os
estudos onde tivesse que ser
humilde, por não falar a língua nem
conhecer a cultura, a Alemanha,
para onde fui em 1966 e onde
aprendi muito, sobretudo nas
universidades e com os emigrantes, a quem me dediquei com
prejuizo do estudo. Com a graça
de Deus e a ajuda de muitos
mestres depressa me senti bem
nesse meio e não teria regressado
a Portugal, se os meus superiores
não o tivessem ordenado. Em 1967,
quando fui ordenado diácono na
catedral de Mogúncia, escolhi
como lema do meu ministério a
frase evangélica que eu menos
compreendia e vivia: somos servos
inúteis, só fizemos o que devíamos
(Lc 17, 10). É assim que concebo
o ministério na vida da Igreja.
Fomos chamados pela graça e dom
de Deus e recebemos de Deus as
capacidades para o exercício do
ministério. Por isso temos sempre
de agradecer e nunca devemos
ficar à espera de palmas ou elogios.
No meu noviciado li uma frase
dum mestre espiritual dos primeiros séculos que dizia: um
elogio é um tiro do demónio.Por
isso tenham pena de mim e evitem
elogios.
Obrigado a todos por me ajudarem
a cumprir a minha missão episcopal, rezem por mim, para que me
mantenha fiel até à hora da morte e
colaborem com D. João Marcos, o
novo bispo de Beja. Importa que
ele cresça e eu desapareça. Fátima,
na comunidade carmelita da Casa
S. Nuno, por trás da Basílica de
Nossa Senhora do Rosário, será a
minha próxima morada. Quando
por lá passardes, se eu não andar
por aí ou por outros lados, perguntai por mim, pois vos acolherei
com alegria.
Obrigado e vivam com alegria a
vossa dignidade de filhos de Deus
e irmãos uns dos outros. Que Deus
abençoe a todos.
Sé de Beja, 13 de Novembro 2016
António Vitalino, Bispo emérito de Beja
Download