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O que a abertura da fatal caixa de Pandora das investigações pode causar ao mundo político
brasileiro ainda é uma incógnita
JUAN ARIAS
24 FEB 2015 - 15:41 BRT
Arquivado em:
Operação Lava Jato
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O Brasil
à espera
para saber os nomes de políticos e
partidos escondidos na caixa de Pandora do Petrolão. Na
mitologia grega, essa caixa, que era na verdade uma ânfora de
barro, guardava “os males que afligem a humanidade”.
Pandora era a mulher que Zeus havia criado “para introduzir os
males na vida dos homens”. Como a antecessora de Eva,
Pandora era a que carregava todos os problemas do mundo.
Hoje a sociedade moderna redimiu a mulher do estigma de ser a
grande sedutora e a origem de todas as desgraças. A política é
um substantivo feminino e sua finalidade é a de criar bem-estar
e felicidade aos cidadãos.
De feminino, no entanto, a política
atual tem apenas o nome, já que
continua sendo profundamente masculina e machista. Talvez por
isso também mais corrupta?
O possível resultado político dos males que a abertura da fatal
caixa de Pandora pode causar ao Brasil ainda é uma incógnita.
Há quem já fale de escorregões no abismo e quem prefira ver
nessa atitude de coragem de juízes, promotores e policiais um
sinal de ressurreição de um novo modelo de política, um modelo
que rompa com os velhos esquemas do passado para dar vida a
um novo rumo histórico.
Neste momento é, no entanto, imprescindível olhar para a Itália
de 1992, onde houve uma abertura da caixa de Pandora mais
parecida com a brasileira. Foi quando, depois de um período de
decadência da política tradicional, o promotor Antonio Di Pietro
lançou a operação Mani Pulite ou Tangentopoli, na qual a nata
dos políticos dos partidos mais importantes acabou na prisão, ao
lado de dezenas de grandes empresários cúmplices por terem
enriquecido ilegalmente, e também seus partidos.
O juiz Sergio Moro, protagonista da Tangentopoli brasileira, a
Lava Jato, já havia lembrado, há dez anos, que o Brasil
caminhava para algo parecido ao vivido na época pela Itália.
E também é possível que aqui, juntos, políticos e empresários
acabem condenados e que os grandes partidos que até agora
governaram o Brasil possam ser duramente punidos nas urnas,
como aconteceu na Itália, onde a Tangentopoli abriu caminho
para novas legendas nascidas do nada.
para novas legendas nascidas do nada.
A pergunta que se torna indispensável neste momento no Brasil
é se, depois daquela justa limpeza da imoralidade política que
envergonhava os italianos, e que levou à fuga do famoso líder
do Partido Socialista, Bettino Craxi (que morreu foragido no
exterior), surgiu uma Itália melhor, mais limpa e mais ética.
Infelizmente, não. Diante do terremoto da crise dos partidos
clássicos, castigados nas urnas até quase desaparecerem, chegou
como redentor da política o empresário do grito, advogado e
magnata dono de três redes de televisão, Silvio Berlusconi,
apoiado pelas forças da máfia siciliana.
Aquele terremoto também levou ao poder o antigo Partido
Comunista Italiano (PCI), de Enrico Berlinguer, o maior então
da Europa. Filho político de Berlinguer, Máximo D’Alema
chegou a formar um Governo. Não adiantou. Também muitos
herdeiros do austero PCI, uma vez no poder, foram tentados pelo
demônio do enriquecimento fácil.
Três anos depois, em 2001, os italianos, mais uma vez
desiludidos com os novos partidos, voltaram a chamar
Berlusconi. E, em 2007, de novo. O famoso milionário e
empresário acabou desfigurando e mortificando a política com
suas condutas, que resultaram em dezenas de processos legais
contra ele. A Itália, desde então, ainda não levantou a cabeça e
hoje está mais pobre e tão ou mais desiludida com os novos
políticos do que antes da Tangentopoli.
O que acontecerá com o Brasil depois que a caixa de Pandora
for aberta? O que pode acontecer nas urnas e na ruas? Difícil
fazer uma previsão. Dizem que a história não se repete, mas não
seria ruim se os brasileiros estudassem o que ocorreu na Itália.
O Brasil ainda tem tempo, depois da crise que inevitavelmente
castigará todos os partidos do Governo e da oposição, de evitar
que o desencanto da Itália se repita.
Para isso existe apenas um caminho: fazer já uma reforma
política, sem nem sequer esperar que os políticos acusados
sejam presos. Melhor ainda, uma reforma do Estado, real, que
não seja camuflada ou com base em interesses partidários, capaz
de frear essa velha política que atingiu os limites da moralidade
e da credibilidade.
Uma reforma, caso seja necessária, da carta constitucional,
realizada com honradez pelos que ainda se sentem responsáveis
por uma política com maiúscula, evitando que essa purificação
da atual política — conduzida com admirável coragem e
independência por juízes, promotores e pela polícia — não
acabe em algo pior do qual o Brasil precise se arrepender
amanhã.
Até fora do Brasil há quem faça prognósticos de que o país se
aproxima do caos e, as pessoas, como no filme de Almodóvar,
estejam “à beira de um ataque de nervos” .
Poderiam estar enganados. O Brasil poderia desmentir a
História, e conseguir, com esta limpeza, que atingiu toda a
classe política, o contrário do que ocorreu na Itália,
ressuscitando com um novo modelo de política, a arte feminina.
Que o Brasil seja capaz de esvaziar a velha caixa de Pandora da
mitologia grega para enchê-la de novas esperanças. Que nela
possam entrar, depois da tragédia do Petrolão , novas forças,
políticos mais conectados com a voz das ruas, menos
preocupados em enriquecer, e que ressuscitem esse país da crise
à qual foram arrastados pela mitológica e trágica grega Pandora
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