MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BONITO, GOVERNADOR LINDENBERG-ES Alexandre Barcellos de Oliveira1 Brunela Romanha de Araujo1 Caroline Bandeira Henrique1 Marcelo Ribeiro da Silva Filho1 Remerson Lucas Andrade1 Thiago Augusto de Sousa Castro2 1 2 Alunos do curso de Geografia da faculdade Castelo Branco, Colatina-ES. E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected] / [email protected] / [email protected], M.Sc. Meio Ambiente e Sustentabilidade, Geógrafo, professor da Faculdade Castelo Branco, Colatina-ES. E-mail: [email protected] RESUMO: Os estudos geomorfológicos são de fundamental importância para o entendimento dos ambientes naturais. Os mapas geomorfológicos, ao contrário dos demais mapas temáticos, apresentam um grau de complexidade maior. O presente trabalho foi desenvolvido na bacia hidrográfica do córrego Rio Bonito localizado no município de Governador Lindenberg- ES e utilizou como principais procedimentos metodológicos, metodologia descrita por ROSS (2005) e produtos de sensoriamento remoto. A bacia caracteriza-se por apresentar um relevo colinoso, com predomínio de uma rede de drenagem de padrão dendrítico. Quanto às formas de relevo encontradas na bacia, verifica-se a predominância de vertentes convexas e vertentes côncavas, sendo a primeira em maior expressão. PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento Geomorfológico. Erosão. Unidades do Relevo. INTRODUÇÃO: O estudo do ambiente natural de uma região é um fator essencial para propiciar ao seu território um desenvolvimento que seja sustentável, visto que a análise e caracterização dos componentes ambientais sobre os quais são exercidas ações antrópicas, produzem resultados fundamentais para a gestão territorial de um País, Estado ou Município (BEDNARZ, 2005). Os estudos geomorfológicos são de fundamental importância para o entendimento dos ambientes naturais e das alterações desencadeadas pela ocupação humana, que possibilitaram ao longo do tempo a geração de desequilíbrios com um aumento na fragilidade dos ecossistemas. Segundo Burgos (2009), o mapeamento geomorfológico constitui a base da pesquisa e não a concretização gráfica de pesquisa já feita. Os geomorfólogos possuem ideia consensual sobre o conteúdo geral dos mapas. No geral, todos os mapas devem conter informações sobre os tipos de formas de relevo, gênese e idade. De acordo com Oliveira (2010), Ross apresenta proposta metodológica para mapeamento geomorfológico voltado ao planejamento ambiental. Sua metodologia baseia-se nas concepções de Walter Penck sobre as forças geradoras dos relevos e modelados: os processos endógenos e exógenos, e nos conceitos de morfoestrutura e morfoescultura. Os mapas geomorfológicos, ao contrário dos demais mapas temáticos, apresentam um grau de complexidade maior. Essa complexidade decorre da dificuldade de se apreender e representar uma realidade relativamente abstrata – as formas de relevo –, sua dinâmica e gênese (ROSS, 2005). Segundo Ross (2005), a cartografação geomorfológica deve mapear concretamente o que se vê e não o que se deduz da análise geomorfológica. Em primeiro plano deve-se preocupar com a representação da morfometria e em planos secundários, informações morfográficas, morfogenéticas e morfocronologicas, que têm vínculo direto com a tipologia das formas”. Assim, utilizando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, que permite a integração das feições e formas de relevo, o presente trabalho tem como objetivo realizar o mapeamento geomorfológico da bacia hidrográfica do córrego Rio Bonito em Governador Lindenberg - ES, a fim de verificar as geoformas predominantes e sua relação com os processos erosivos. MATERIAL E MÉTODOS: O córrego Rio Bonito está localizado no município de Governador Lindenberg - ES entre as latitudes 19° 19’ 54” e 19° 04’ 49” sul, e longitudes 40° 21’ 54” e 40° 37’ 11” oeste de Greenwich. O córrego Rio Bonito é um afluente do córrego Novo Brasil, ambos pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Doce. Localizada na porção Noroeste do estado do Espírito Santo, a bacia do córrego Rio Bonito está localizada a 10 km do núcleo urbano da cidade de Governador Lindenberg, e compreende uma área de 3.076 ha. Neste trabalho foram utilizados os procedimentos técnicos para geração das cartas geomorfológicas estabelecidos por ROSS (2005). Para a confecção do mapa foram utilizadas fotografias aéreas na escala de 1:25.000 e a base cartográfica da Bacia contendo a rede de drenagem e as curvas de nível. A interpretação geomorfológica adotou a delimitação de padrões semelhantes de formas, separados por rupturas de declive ou com transição gradual. As formas de acumulação como as planícies fluviais foram identificadas através da morfologia plana e por características hidrodinâmicas, como a presença de áreas alagadas. Os topos receberam tratamento diferenciado em função de seu perfil geométrico, sendo que foram denominados de topos planos quando localizados em interflúvios associados a superfícies preservadas, enquanto que os topos já isolados pelo processo de dissecação pluviofluvial foram nomeados com o padrão convexo. A compartimentação e a separação dos segmentos de vertentes foi elaborada em função da morfologia do relevo. Inicialmente para a identificação das formas utilizou-se um Modelo Digital de Elevação (MDE), produzido a partir da utilização de dados SRTM em formato matricial numérico, disponibilizados por Miranda (2005), no site da EMBRAPA, estes dados foram reprojetados para o datum SAD69, uma vez que o datum original dos dados SRTM obtidos é o WGS84. Como os dados SRTM possuem resolução espacial de 90 metros, estes foram interpolados com a utilização do software ArcGis 9.3 a partir da extenção Spatial Analyst para uma resolução de 10 metros, com a finalidade de suavização da representação do terreno. Os mapas necessários para a realização do presente estudo foram confeccionados por meio do software ArcGis 9.3. A cronologia das formas na bacia foi verificada com o auxílio do mapa geológico do Espírito Santo, produzido a partir de dados disponibilizados pelo Serviço Geológico Brasileiro e IBGE. RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com estudos feitos por CPRM (2010), a bacia hidrográfica do córrego Rio Bonito possui sua porção norte inserida na área de domínio de ocorrência dos granitóides da Suíte Ataléia (e parcialmente dos gnaisses do Complexo Nova Venécia) e se caracteriza por um relevo colinoso, com predomínio de uma rede de drenagem de padrão dendrítico, parcialmente controlada pelos lineamentos estruturais e sistema de fraturas NNW na sua porção sul - sudoeste. As elevações da porção centro-sul da bacia são sustentadas por núcleos migmatíticos mais homogêneos dos gnaisses regionais do Complexo Nova Venécia, sendo fortemente controlado por zonas de transposição de alto ângulo que reorientam as estruturas bandadas preexistentes para a direção próxima a norte-sul. De acordo com os dados obtidos a partir do MDE, a bacia apresenta cotas altimétricas que variam de 100m na sua porção mais baixa, próxima à foz do córrego Rio Bonito a 365 m, no topo do morro de maior altitude, localizado na porção centro-leste da bacia. Predominam vertentes curtas e médias, refletindo a esculturação do relevo associado a vales encaixados. A associação da análise morfológica com as formas apresentadas pelo MDE possibilitou a identificação de unidades do relevo distribuídas em diferentes categorias conforme indica a tabela 1, que relaciona a área ocupada pelas unidades do relevo mapeadas na Bacia do Rio Bonito. Tabela 1 - Área ocupada pelas categorias de unidades do relevo na bacia do córrego Rio Bonito. ÁREA OCUPADA UNIDADES DO RELEVO (ha) (%) Fundo de vale aberto 111,0 3,6 Fundo de vale fechado 100,4 3,3 Planície fluvial 129,0 4,2 Topo Convexo 477,8 15,5 Topo plano 78,3 2,5 Vertente convexa 1235,4 40,2 Vertente Linear 206,8 6,7 Vertente Côncava 737,3 24,0 TOTAL 3076 100 As vertentes convexas são as formações mais comuns encontradas na região, com uma área equivalente a 1.235,4 ha, perfazendo 40,2 % do total da bacia. As vertentes côncavas e os topos convexos constituem-se como segunda e terceira unidades de maior expressão na bacia, possuindo respectivamente 737,3 ha (24% do total) e 477,8 ha (15,5% do total). Em menor proporção, a bacia apresenta ainda as unidades de vertente linear, planície fluvial, fundo de vale aberto, fundo de vale fechado e topo plano (Figura 1). Figura 1. Mapa geomorfológico da bacia do Rio Bonito A forma da vertente é um condicionamento importante na instalação de processos erosivos e vertentes côncavas em planta são mais suscetíveis ao desenvolvimento de ravinas e voçorocas, pois concentram o fluxo do escoamento superficial. Vertentes de forma convexa em planta provocam divergência do escoamento e são menos suscetíveis à erosão acelerada em ravinas e voçorocas (SILVA et al. 2003). Na área de estudo verifica-se que a predominância das unidades de vertentes convexas limitam a suscetibilidade à erosão nesta área de ocorrência, no entanto, em uma área de 24% da bacia, onde ocorrem as unidades de vertentes côncavas, a propensão à erosão é acelerada, podendo ocasionar a perda de solo e o assoreamento dos cursos d’água. Quanto à cronologia da área de estudo, a análise do mapa geológico do Espírito Santo permitiu verificar que as formas encontradas nesta bacia são formas antigas, que datam da Era Paleoproterozóica, onde as formas arredondadas são comuns em função do intemperismo proporcionado pelo tempo decorrido. CONCLUSÃO: As feições mapeadas permitem caracterizar a bacia hidrográfica do córrego Rio Bonito com uma forma alongada no sentido N - S. A hidrografia segue um padrão de dissecação do relevo por apresentar cursos d’água curtos em uma área caracterizada pela presença de morros. A bacia hidrográfica do córrego Rio Bonito apresenta oito unidades de relevo distribuindo-se em fundo de vale aberto, fundo de vale fechado, planície fluvial, topo convexo, topo plano, vertente convexa, vertente linear e vertente côncava. Quanto aos processos erosivos na bacia, o mapeamento permitiu identificar um conjunto de formas que podem acelerar o surgimento de ravinas e voçorocas caso a superfície não seja manejada adequadamente. O Mapeamento Geomorfológico busca oferecer informações que auxiliem as interpretações e análises sobre a evolução da paisagem na região servindo de base para o planejamento do uso das terras nessas áreas. BIBLIOGRAFIA BEDNARZ, M. Geomorphological Conditionings of the Economic Development of the Nowy Zmigród Gmina. Instytut Geograffi i Gospodarki Przerstrzennej. Kraków, 2005. Disponível em: <http://www.pg.geo.uj.edu.pl/documents/3189230/4676036/2005_115_7787.pdf> Acesso em: 02 de outubro de 2013. BURGOS, D.C Mapeamento geomorfológico aplicado a análise ambiental: estudo de caso serra da jaqueçaba e seu entorno (espírito santo - brasil) VITÓRIA 2009 MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Projeto São Gabriel da Palha – Linhares / Estados do Espírito Santo e Minas Gerais. CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Belo Horizonte, 2010. MIRANDA, E.E. de (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Disponível em: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 01 de outubro de 2013. OLIVEIRA, A.I.L. et, al. INTEGRAÇÃO DE DADOS GEOPROCESSADOS PARA MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA FOLHA MUCUGÊ –BA. VI Seminário Latino Americano de Geografia Física, II Seminário Ibero Americano de Geografia Física. Universidade de Coimbra. Coimbra, 2010. ROSS, J. L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2005. SILVA, A. M. da; SHULZ, H. E.; CAMARGO, P. B.Erosão e hidrossedimentologia em bacias hidrográficas. São Carlos: RiMa, 2003.