UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA Grupo de Pesquisa EDSM-rifte do Departamento de Geociências da UFRuralRJ Petrologia dos charnockitos da região de Cucamonga, San Gabriel Mountains, Califórnia, EUA Mariana Dias Quariguasy Duarte Orientador Sérgio de Castro Valente (DeGeo/IA/UFRuralRJ) Co-orientador Dr. Joshua J. Schwartz (Department of Geological Sciences /California State University Northridge, USA) Julho/2014 1. Quariguasy, M. Petrologia dos charnockitos da região de Cucamonga, San Gabriel Mountains, Califórnia, EUA. Curso de Geologia / Departamento de Geociências Instituto de Agronomia / Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro [Seropédica] Ano 2014 Trabalho de Graduação Área de concentração: Petrografia e Geoquímica. Sumário Agradecimentos Resumo Abstract Índice de figuras Índice de tabelas 1. CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1 1.1. Apresentação 1 1.2. Objetivos 1 1.3. Justificativa 1 1.4. Métodos 1 1.5. Localização da área de estudo e vias de acesso 5 2. CAPÍTULO 2 - REVISÃO TEMÁTICA 6 2.1. Geologia da região de Cucamonga, San Gabriel Mountains 6 2.2. Revisão sumária sobre a petrogênese dos charnockitos 10 3. CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS 16 3.1. Campo 16 3.2. Petrografia 25 3.3. Litogeoquímica 36 4. CAPÍTULO 4 – RESULTADOS 44 4.1. Evolução geológica 44 4.2. Petrogênese dos charnockitos da área de estudo 45 5. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 50 5.1. Discussões 50 5.2. Conclusões 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53 ANEXO I: Dados litogeoquímicos e norma CIPW das amostras estudadas. 56 Philippians 4:12-13 12 I know what it is to be in need, and I know what it is to have plenty. I have learned the secret of being content in any and every situation, whether well fed or hungry, whether living in plenty or in want. 13 I can do everything through him who gives me strength. Agradecimentos Agradeço, primeiramente, a Deus por ter me dado sabedoria e força para completar mais um ciclo importante na minha vida. Aos meus pais e avó, que sempre me apoiaram e não mediram esforços para fazerem as minhas vontades. Nada seria possível sem eles. A eles todo o meu amor e respeito. Ao meu irmão João Pedro, que me fez rir nas horas que eu mais precisava e por ser esse amigo que sempre tem uma palavra animadora para me dar. Em especial, ao meu orientador, professor e amigo Sérgio Valente, que fez toda a diferença na minha passagem pela Rural. Muito do que eu conquistei, devo a ele. Obrigada pelo tempo gasto comigo e por todos os conselhos. Aos meus queridos professores Artur Corval, Alan Miranda e Josh Schwartz por terem me ensinado geologia com tanta dedicação. Obrigada pela paciência e pelo carinho que sempre tiverem comigo. Aos professores do Departamento de Geociências por terem me ajudado a chegar até aqui. Aos novos amigos brasileiros e estrangeiros, que ganhei durante o meu intercâmbio na Califórnia. As minhas amigas Paula e Evelin, que me aguentam desde o jardim de infância. Elas me entendem apenas com o olhar e me fazem rir como ninguém. Muito obrigada por todo o companheirismo durante esses 20 anos de amizade. A Gabi, Livia, Thamila e Isabela por terem sido amigas tão maravilhosas e presentes durante todos esses anos de Rural e por terem me mostrado que investir na amizade é uma das coisas que mais vale a pena nessa vida. Vocês são muito especiais! A galera da Pocket, que me apoiou em oração e que sempre me mostrou o quanto vale a pena obedecer a Deus. Ao meu namorado Josh, que mesmo com milhas de distância esteve sempre do meu lado me incentivando e me dando forças para continuar. Certamente, a pessoa que tira os sorrisos mais sinceros de mim. Love you more than anything. A todos os amigos da Geologia Rural 2009, que fizeram parte desses 5 anos de uma maneira ímpar e que deixaram todos os campos, congressos e aulas muitos mais divertidas e engraçadas. Vocês farão muita falta! A California State University Northridge por ter me proporcionado momentos de enorme felicidade e satisfação e por ter me ajudado, através da sua infraestrutura, a tornar esse trabalho realidade. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro por ser simplesmente a MELHOR universidade da face da Terra. Resumo San Gabriel Mountains faz parte de um arco Cretáceo no sul da Califórnia, EUA. Essa área é composta por rochas do Proterozoico e Mesozoico e por quatro terrenos denominados de Cucamonga, Baldy, San Antonio e San Gabriel. No Cretáceo Superior, os terrenos de Cucamonga, San Antonio e San Gabriel foram justapostos ao longo de zonas de cisalhamento dúcteis, representadas por cinturões miloníticos, e simultaneamente intrudidos por plútons graníticos. Os principais objetivos dessa monografia foram a discussão da petrogênese dos charnockitos do terreno Cucamonga e a proposição de um modelo de evolução geológica para a área de estudo (Smith Ridge), com base em dados de campo, petrográficos e geoquímicos. Foram descritos quinze pontos, coletadas catorze amostras no campo, treze lâminas petrográficas foram descritas e dez análises químicas feitas (seis charnockitos, dois dioritos e dois granodioritos miloníticos). Os resultados da análise dos charnockitos em estudo mostraram que o conteúdo de SiO2 varia de 52,54 a 57,92%peso, TiO2 varia de 1,38 a 1,76%peso, MgO de 1,95 a 2,96%peso e a razão Na2O/K2O de 6,65 a 17,93. A litogeoquímica mostrou que esses constituem uma série subalcalina de tendência calcialcalina e metaluminosa. A fonte geradora mais provável destas rochas deve estar localizada nos terrenos Pré-Cambrianos, constituídos por granada quartzo-feldspato gnaisses, anfibolitos e mármores metamorfisados na fácies anfibolito superior e granulito inferior. A evolução geológica da região de Smith Ridge envolveu diferentes terrenos acrescionados durante a subducção da Placa do Pacífico na costa oeste dos EUA. A análise petrogenética permitiu constatar que os charnockitos são de origem magmática e foram formados a partir da fusão parcial de porções da crosta superior anomalamente aquecidas. Essa fusão parcial ocorreu após a justaposição de terrenos Pré-Cambrianos a terrenos Mesozoicos. A percolação de fluidos ao longo das zonas miloníticas que delimitam os terrenos justapostos resultou no retrometamorfismo dos gnaisses e rochas metamórficas associadas aos terrenos Pré-Cambrianos, bem como no metamorfismo (basicamente volatização) da assembleia mineral originalmente anídrica dos charnockitos. Palavras-chave: petrogênese, retrometamorfismo, charnockitos, subducção, Cucamonga. Abstract San Gabriel Mountains is part of a Cretaceous Arc located in southern California, USA. This area is composed by Proterozoic and Mesozoic rocks and by four terranes named Baldy, Cucamonga, San Antonio and San Gabriel. These three arc terranes were juxtaposed in Late Cretaceous time along ductile shear zones, represented by mylonitic belts, and intruded by granitic plutons simultaneously. The main objectives of this thesis were the discussion of the petrogenesis of the Cucamonga charnockites and to propose a model for the geological evolution of the study area (Smith Ridge), based on field data, petrography and geochemistry. Fifteen points were described, fourteen samples collected in the field, thirteen thin sections and ten chemical analysis were made (six charnockites, two diorites and two mylonitic granodiorite).The results of the charnockites analysis showed the SiO2 content ranges from 52.54 to 57.92 wt%, TiO2 from 1.38 to 1.76 wt%, MgO from 1.95 to 2.96 wt% and Na2O/K2O ratio from 6.65 to 17.93. The lithogeochemistry showed these rocks are part of a subalkaline, calc-alkaline metaluminous series. The most likely source of these rocks may be located in the Precambrian terrane which consists of garnet-quartz-feldspar gneisses, amphibolites and metamorphosed marbles in the upper amphibolite and granulite lower facies. The geological evolution of Smith Ridge area involved different accreted terranes during the Pacific Plate subduction on the west coast of USA. The petrogenetic analysis allowed to establish that the origin of charnockites is magmatic and they were formed by partial melting of portions of an anomalously hot upper crust. This partial melting occurred after the juxtaposition of Precambrian and Mesozoic terranes. The percolation of fluids along the mylonitic zones that bound the juxtaposed terranes resulted in the retrograde metamorphism of gneisses and metamorphic rocks associated with Precambrian terrane, as well as metamorphism (basically volatilization) of the originally anhydrous mineral assembly of the charnockites. Key words: petrogenesis, retrograde metamorphism, charnockites, subduction, Cucamonga. ÍNDICE DE FIGURAS PÁG. Figura 1.1: Seleção de amostras para confecção de lâminas petrográficas. A figura mostra a parte escolhida para a laminação. 2 Figura 1.2: Cadinhos de grafite utilizados no processo de fusão das amostras. 3 Figura 1.3: Discos de vidro obtidos a partir da fusão da mistura de tetraborato de lítio e do pó das amostras. 4 Figura 1.4: Suportes de discos de vidro do espectrômetro de fluorescência de raios X utilizados na análise geoquímica das amostras deste trabalho. 4 Figura 1.5: Mapa de acesso à área de Etiwanda a partir do campus da California State University Northridge, EUA. Fonte: Google Maps. 5 Figura 2.1: Distribuição dos granulitos em terrenos localizados na parte central e sul do estado da Califórnia (Barth & May, 1992). 6 Figura 2.2: Mapa da região sudeste do complexo de San Gabriel Mountains mostrando falhas de idade Cenozoica e seus quatro terrenos metamórficos: Cucamonga (CU), San Gabriel (SG), San Antonio (SA) e Baldy (BA). MFC é Middle Fork Complex. (May & Walker, 1989). 7 Figura 2.3: Mapa geológico do sudeste de San Gabriel Mountains. A parte azul inserida no quadrado representa a área estudada (Smith Ridge) no terreno Cucamonga. Fonte: USGS website. 8 Figura 2.4: Perfil A-A’ (S-N) do mapa geológico de parte da região de San Gabriel Mountains. A área de estudo Smith Ridge, do terreno Cucamonga, está em destaque. Fonte: USGS website. Legendas como na Figura 2.3. 10 Figura 2.5: Diagrama QAP mostrando os nomes das rochas ígneas dentro da série charnockítica, com base na tabela 2.10 e figura 2.5 de LeMaitre (2002). 11 Figura 3.1: Localização dos principais pontos visitados durante o trabalho de campo na área de Cucamonga, San Gabriel Mountains, Califórnia, EUA. Os pontos não locados na imagem estão próximos demais uns dos outros para serem representados. Fonte: Google Earth. 16 Figura 3.2: Visão geral da área de estudo. Ao fundo, o relevo de Smith Ridge. 17 Figura 3.3: Bloco de granada diorito encontrado no ponto 13SGM32. 18 Figura 3.4: Amostra de granodiorito milonítico encontrada no ponto 13SGM33. 18 Figura 3.5: Possível relação de intrusão entre o diorito fino e o charnockito denotada pela assimilação incipiente deste último (seta). Notar a lineação de estiramento de ortopiroxênios no charnockito. 19 Figura 3.6: Detalhe dos porfiroblastos centimétricos do granada granulito. 20 Figura 3.7: Granada granulito com bandas félsicas em bloco no ponto 13SGM34. 20 Figura 3.8: Bloco de diorito encontrado no ponto 13SGM35. 21 Figura 3.9: Charnockitos do ponto 13SGM36A (esquerda) e 13SGM36B (direita). 21 Figura 3.10: Possível contato intrusivo de diorito (escuro) no charnockito (claro) em bloco encontrado no ponto 13SGM37. 22 Figura 3.11: Blocos de charnockito encontrados no ponto 13SGM38. 22 Figura 3.12: Amostra de biotita charnockito coletada no ponto 13SGM39. 23 Figura 3.13: Amostra de mão de charnockito do ponto 13SGM40. 23 Figura 3.14: Amostra de bloco de gnaisse máfico, com granadas decimétricas, coletada no ponto 13SGM41. Outros blocos desta rocha foram mapeados no ponto 13SGM42. Notar o aspecto brechado da rocha. 24 Figura 3.15: Amostra de granodiorito milonítico coletada no ponto 13SGM43. 24 Figura 3.16: Fotomicrografia da textura milonítica com porfiroclastos de plagioclásio. Amostra 13SGM33. Nicóis cruzados. 26 Figura 3.17: Fotomicrografia da foliação, dada pela biotita, contornando porfiroclasto de plagioclásio. Amostra 13SGM43. Nicóis paralelos. 27 Figura 3.18: Fotomicrografia das lamelas dobradas do plagioclásio. Amostra 13SGM35. Nicóis cruzados. 28 Figura 3.19: Fotomicrografia de inclusões de apatita em plagioclásio. Amostra 13SGM35. Nicóis paralelos. 28 Figura 3.20: Fotomicrografia das apatitas inclusas no plagioclásio. Amostra 13SGM36A. Nicóis paralelos. 29 Figura 3.21: Fotomicrografia do plagioclásio não geminado saussuritizado. Amostra 13SGM36A. Nicóis cruzados. 30 Figura 3.22: Fotomicrografia do alcalifeldspato com tartan mal formada. Amostra 13SGM36A. Nicóis cruzados. 30 Figura 3.23: Fotomicrografia do hiperstênio com actinolita em sua borda. Amostra 13SGM36A. Nicóis paralelos. 31 Figura 3.24: Fotomicrografia da lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio. Amostra 13SGM36B. Nicóis paralelos. 31 Figura 3.25: Fotomicrografia dos novos grãos nos contatos dos plagioclásios. Amostra 13SGM36B. Nicóis cruzados. 32 Figura 3.26: Fotomicrografia das lamelas de geminação dobradas no plagioclásio. Amostra 13SGM36B. Nicóis cruzados. 32 Figura 3.27: Fotomicrografia da passagem do hiperstênio para hornblenda. Amostra 13SGM37. Nicóis paralelos. 33 Figura 3.28: Fotomicrografia das lamelas de geminação mal formadas dos plagioclásios e das junções tríplices no quartzo. Amostra 13SGM37. Nicóis cruzados. 33 Figura 3.29: Fotomicrografia da lineação de estiramento dada pela orientação preferencial dos grãos de ortopiroxênio. Amostra 13SGM37. Nicóis cruzados. 34 Figura 3.30: Fotomicrografia da lineação de estiramento dos grãos de feldspato com extinção ondulante (setas). Amostra 13SGM38. Nicóis cruzados. 34 Figura 3.31: Fotomicrografia da passagem de ortopiroxênio (opx) para hornblenda e biotita (setas). Amostra 13SGM38. Nicóis paralelos. 35 Figura 3.32: Fotomicrografia da textura poiquilítica do ortopiroxênio. Amostra 13SGM39. Nicóis paralelos. 35 Figura 3.33: Fotomicrografia de hornblenda formada a partir de ortopiroxênio. Amostra 13SGM40. Nicóis paralelos. 36 Figura 3.34 – Diagrama de classificação de rochas (LeMaitre, 1989). Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 39 Figura 3.35 – Diagrama de classificação de rochas (Zr/TiO2 versus SiO2) para as amostras estudadas (Winchester & Floyd, 1977). Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 40 Figura 3.36 – Diagrama TAS de discriminação de séries (Irvine & Baragar, 1971) para as amostras estudadas. Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): -Granodiorito milonítico; - Charnockito; Diorito. 41 Figura 3.37 – Diagrama AFM de discriminação de séries toleítica e calcioalcalina (Irvine & Baragar, 1971) para as amostras estudadas. A = Na2O + K2O; F = Fe2O3t; M = MgO (em %peso). Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 41 Figura 3.38: Diagrama Al/Ca+Na+K versus Al/Na+K (valores em proporções moleculares) de discriminação de séries com base na saturação em alumina. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 42 Figura 3.39: Diagrama de Pearce et al., 1984. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 43 Figura 4.1: Diagrama de Harker para TiO2 com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. 46 Figura 4.2: Diagrama de Harker para Zr com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. 47 Figura 4.3: Diagrama de Harker para Ba com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. 47 Figura 4.4: Diagrama multielementar normalizado ao condrito (Thompson, 1982) da amostra (13SGM36A) representativa do magma parental da série calcialcalina metaluminosa dos charnockitos estudados. 48 Figura 5.1: Diagramas de relações de fases para magmas granodioríticos sob baixa pressão (c) e alta pressão (d). B = biotita, H = hornblenda, K = alcalifeldspato, L = líquido, O = ortopiroxênio, P = plagioclásio, Q = quartzo, V = vapor. O campo de estabilidade do ortopiroxênio é mostrado nas áreas cinza dos diagramas. A seta indica o deslocamento da relação de fases em função da diminuição da atividade de água devido ao valor elevado de PCO2. Ver texto para detalhes. 50 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 2.1: Nomenclatura dos charnockitos (LeMaitre, 2002). PÁG. 12 Tabela 2.2: Variação das idades de diferentes ocorrências de charnockitos no mundo (Frost &Frost, 2007). 14 Tabela 3.1: Litotipos encontrados no trabalho de campo. As amostras de aspecto brechado encontradas nos pontos 13SGM41 e 42 não foram listadas. Os litotipos não selecionados para estudos litogeoquímicos aparecem em itálico. 25 Tabela 3.2 – Valores máximos, mínimos, médias, desvios padrão e coeficientes de variação de óxidos e elementos das amostras do terreno Cucamonga, San Gabriel Mountains, EUA (Fe2O3t é ferro total sob a forma de ferro férrico; PF é a perda ao fogo). 38 Tabela 4.1: Variações de elementos traços do primeiro estágio de diferenciação magmática dos charnockitos da área de estudo. 48 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação O presente trabalho é requisito para a obtenção do grau de bacharel em Geologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e está relacionado com a disciplina Trabalho de Graduação, oferecida no décimo período do curso de graduação. Os dados desta monografia foram obtidos durante a participação da autora num projeto de pesquisa realizado na California State University Northridge, no primeiro semestre de 2013, sob a orientação do professor Dr. Joshua J. Schwartz, como parte de suas atividades de bolsista do programa Ciências Sem Fronteiras, da CAPES. O projeto teve como objetivo principal a caracterização litogeoquímica dos charnockitos da região de Cucamonga, em San Gabriel Mountains, na Califórnia. A autora desta monografia participou da grande maioria das etapas de pesquisa, como por exemplo, de um trabalho de campo, com coleta de amostras, e da petrografia. Além disso, a autora também participou diretamente das etapas de preparação das amostras, nos próprios laboratórios da California State University Northridge, para análises geoquímicas realizadas posteriormente. 1.2 Objetivos Os principais objetivos desse trabalho são a discussão da petrogênese dos charnockitos do terreno Cucamonga e a proposição de um modelo de evolução geológica para a área de estudo (Smith Ridge), na porção sudeste de San Gabriel Mountains, Califórnia, com base em dados de campo, petrográficos e geoquímicos. 1.3 Justificativa A Geologia da região de San Gabriel Mountains já foi muito estudada por pesquisadores americanos (May & Walker, 1989; Romero, 2012) devido à sua proximidade da falha de San Andreas. Entretanto, é muito difícil encontrar na literatura trabalhos que mostrem dados relacionados aos charnockitos encontrados nessa área. Por isso, os pesquisadores da California State University Northridge iniciaram um projeto em San Gabriel com uma abordagem petrológica, sendo esta monografia um dos primeiros trabalhos que apresenta e discute modelos petrogenéticos dos charnockitos do terreno Cucamonga. 1.4 Métodos Os métodos usados neste trabalho de graduação são listados a seguir: 1. Trabalho de campo: Quinze pontos foram descritos durante o trabalho de campo. A coleta de amostras foi baseada, principalmente, nas relações de campo e no grau de 1 alteração das rochas. Sendo assim, foram coletadas catorze amostras. Além disso, foram efetuadas medidas de foliações e lineações e o registro fotográfico dos afloramentos. 2. Preparação de lâminas para a análise petrográfica: treze lâminas foram confeccionadas no total. As amostras coletadas foram divididas em três partes iguais com a finalidade de se ter uma para amostra de mão, outra para a preparação de lâminas e uma terceira para a geoquímica. As partes menos alteradas foram destinadas a preparação de lâminas (Figura 1.1) e geoquímica. Figura 1.1: Seleção de amostras para confecção de lâminas petrográficas. A figura mostra a parte escolhida para a laminação. 3. Petrografia: Foram descritas treze lâminas com ênfase na identificação dos minerais, suas texturas e estruturas, bem como a porcentagem de volume (ou moda) de cada um deles. Além disso, foi feito um trabalho específico de contagem do mineral zircão para futuros trabalhos de geocronologia. A classificação petrográfica foi feita de acordo com as normas do International Union of Geological Sciences (LeMaitre, 2002). De acordo com este esquema de classificação, rochas ígneas podem ter cristalizado de magmas ou podem ter se formado por processos de acumulação de minerais, deutéricos, metassomáticos ou metamórficos. Neste contexto, discussões envolvendo a origem magmática ou metamórfica de charnockitos e granulitos tornam-se irrelevantes para fins de classificação petrográfica. Ainda de acordo com o esquema de classificação do IUGS, o prefixo meta deve ser usado 2 para indicar que uma rocha magmática foi metamorfisada, desde que as texturas do protólito estejam preservadas. 4. Preparação das amostras coletadas para geoquímica: esse processo teve início em um equipamento de alumínio cerâmico chamado shatterbox que triturou as amostras até que elas virassem pó. Em seguida, esse pó foi pesado e, depois, misturado com tetraborato de lítio em uma razão de 1:2. A mistura foi colocada em cadinhos de grafita (Figura 1.2) e fundida a 1000˚C para a formação de discos de vidro (Figura 1.3). Esse processo foi repetido com a finalidade de garantir uma fusão completa dos minerais mais resistentes e homogeneizar ainda mais a amostra. Os discos de vidro foram polidos e, finalmente, levados para o Pomona College, Califórnia, EUA, para a análise de elementos por fluorescência de raios X (Figura 1.4). Figura 1.2: Cadinhos de grafite utilizados no processo de fusão das amostras. 3 Figura 1.3: Discos de vidro obtidos a partir da fusão da mistura de tetraborato de lítio e do pó das amostras. Figura 1.4: Suportes de discos de vidro do espectrômetro de fluorescência de raios X utilizados na análise geoquímica das amostras deste trabalho. 4 5. Trabalhos de gabinete: os dados de campo, petrográficos e geoquímicos foram integrados para análise. A análise dos dados geoquímicos foi feita utilizando-se os softwares IgPet e Excel, gerando uma variedade de diagramas usada para as discussões e conclusões da pesquisa. Finalmente, todos os dados, resultados e conclusões foram reunidos na presente monografia. 1.5 Localização da área de estudo e vias de acesso A área de estudo, Cucamonga, está localizada no Sudeste de San Gabriel Mountains, que, por sua vez, está na parte Sul da Califórnia e é composta por rochas de idades Mesozoica e Proterozoica e por quatro terrenos metamórficos: Cucamonga, San Antonio, Baldy e San Gabriel (Ehlig 1981; Dibblee 1982; May, 1986, 1989). O trajeto mais rápido até a área de estudo é feito pela rodovia I-210E que liga Northridge a North Etiwanda Preserve, onde existe uma grande área plana para estacionamento de carros. Esse trajeto leva, aproximadamente, 1 hora e 20 minutos (rota 1 na Figura 1.5), perfazendo um total de 111 km. Outras duas possibilidades de vias de acesso são a rodovia I-5S, (1 hora e 30 minutos; rota 2 na Figura 1.5) ou a rodovia US101S (1 hora e 40 minutos; rota 3 na Figura 1.5) até a região de Etiwanda. O trajeto até o local do trabalho de campo só pode ser feito a pé e demora cerca de 30 minutos. Figura 1.5: Mapa de acesso à área de Etiwanda a partir do campus da California State University Northridge, EUA. Fonte: Google Maps. 5 CAPÍTULO 2 – REVISÃO TEMÁTICA 2.1. Geologia da região de Cucamonga, San Gabriel Mountains A evolução das Montanhas Rochosas, no oeste dos Estados Unidos, envolveu um crescimento substancial da crosta, no Mesozoico, por magmatismo de arco durante um processo de subducção para leste, sob a margem anteriormente passiva, do cráton norte americano (Barth & May, 1992). Essa história evolutiva também resultou na acresção de uma assembleia de embasamentos e terrenos sedimentares cujas relações geológicas ainda estão sendo investigadas (May & Walker, 1989). O magmatismo criado por este tipo de cenário está relacionado à fusão parcial da crosta oceânica basáltica subductada, do peridotito da cunha do manto acima da placa sob subducção e da crosta continental (Wyllie, 1981). Granulitos de alta pressão, de idade Cretácea, relacionados a este magmatismo de arco, foram reconhecidos em três áreas da Califórnia: Santa Lucia Granulites, Sierran Granulites e Cucamonga Granulites (Figura 2.1). Figura 2.1: Distribuição dos granulitos em terrenos localizados na parte central e sul do estado da Califórnia (Barth & May, 1992). 6 O Complexo San Gabriel Mountains é tectonicamente delimitado a norte, nordeste e noroeste pelas falhas de San Andreas e San Francisquito; no sul e sudoeste pela zona de falha de San Gabriel (Crowell, 1962). Esse complexo é composto por quatro terrenos metamórficos: Cucamonga, San Gabriel, San Antonio, e Baldy (Figura 2.2). Figura 2.2: Mapa da região sudeste do complexo de San Gabriel Mountains mostrando falhas de idade Cenozoica e seus quatro terrenos metamórficos: Cucamonga (CU), San Gabriel (SG), San Antonio (SA) e Baldy (BA). MFC é Middle Fork Complex. (May & Walker, 1989). No Cretáceo Superior, os terrenos Cucamonga, San Antonio e San Gabriel foram justapostos ao longo de zonas de cisalhamento dúcteis, representadas por cinturões miloníticos, e simultaneamente intrudidos por plútons graníticos. Posteriormente, as rochas desses terrenos foram superpostas ao xisto Pelona do terreno Baldy (Ehlig, 1981). O terreno Cucamonga, na região sudeste de San Gabriel Mountains, é formado por rochas granulíticas e tem vinte quilômetros de comprimento e cerca de dois quilômetros de largura (Barth & May, 1992). Amostras de diques de pegmatito metamorfisado e de intrusivas máficas de granulito foram datadas entre 108 Ma e 88 Ma (U-Pb), respectivamente, indicando que o metamorfismo persistiu do meio para o início do Cretáceo Superior (May & Walker, 1989). Os granulitos foram localmente milonitizados e retrogradados durante a justaposição com o terreno San Antonio. O metamorfismo regional resultou em assembleias minerais indicativas da subfácies hornblenda granulito em granulitos máficos e félsicos, e assembleias com sillimanita inseridas em gnaisses aluminosos. Estudos termobarométricos indicaram que o pico do metamorfismo ocorreu em condições mínimas de cerca de 750°C e 8 kbar (Barth & May 1987). 7 As principais estruturas do sudeste de San Gabriel Mountains são falhas de empurrão (E-W), a sul, e zonas de cisalhamento miloníticas (NE-SW), a norte. Há um predomínio de rochas gnáissicas, a sul, quartzo dioritos na parte central e granodioritos associados a intrusões graníticas e a rochas metassedimentares, a norte (Figura 2.3). Figura 2.3: Mapa geológico do sudeste de San Gabriel Mountains. A parte azul inserida no quadrado representa a área estudada (Smith Ridge) no terreno Cucamonga. Fonte: USGS website. As rochas gnáissicas são Pré-Cambrianas ou mais jovens e são representadas por milonito (my), charnockito (gnch), hornblenda gnaisse (gnh), gnaisse cataclástico (cgn) e mármores (ml). As rochas gnáissicas miloníticas (my) variam de cinza escuro a cinza amarronzado com grãos brancos de feldspato. Os charnockitos (gnch) são ortognaisses cinzas de granulometria média. São compostos, essencialmente, por hiperstênio, biotita, plagioclásio, quartzo e granada, com idade de 88 ± 1 Ma (Walker & May, 1986; Morton & Matti, 1987). 8 O hornblenda gnaisse (gnh) é cinza, contém, localmente, sillimanita, granada e diopsídio e é cataclástico. Possui finas camadas mais escuras com hornblenda e lâminas ricas em biotita alternadas com lâminas ricas de quartzo e feldspato variando de branco a cinza claro (Morton & Matti, 1987). O gnaisse cataclástico (cgn) é cinza, com lâminas ricas em quartzo e feldspato, variando de branco a cinza claro, alternadas com lâminas escuras de biotita, muitas com grãos de feldspato na matriz milonítica. Por fim, o mármore (ml) é representado por lentes brancas em hornblenda gnaisse. As rochas metassedimentares, de idade Paleozoica, são representadas por mármore, calcítico ou dolomítico (ml), quartzito (mq) e mica xisto ou gnaisse (msg). O mármore (ml) é cinza azulado, bandado, com granulometria variando de fina a média. O quartzito (mq), por sua vez, é cinza claro a escuro, com granulometria fina, muito fraturado, quebradiço e localmente arcoseano com grãos de feldspato. O mica xisto ou gnaisse (msg) é cinza escuro, com granulometria fina e foliado. É composto por biotita, quartzo e feldspato e inclui camadas com silimanita, granada e diopsídio (Morton & Matti, 1987). A unidade quartzo diorito, de idade Cretácea, é subdividida em diorito porfirítico (dp), quartzo diorito porfirítico e cataclástico (qdc) e quartzo diorito ou tonalito (qd). O diorito porfirítico (dp) é composto por plagioclásio sódico branco e possui pequenos fenocristais pretos de hornblenda orientados paralelamente à estrutura bandada da rocha. O quartzo diorito porfirítico e cataclástico (qdc) é similar ao diorito porfirítico (dp). É milonítico com porfiroblastos disseminados de hornblenda e plagioclásio. Localmente, possui finas camadas de gnaisse milonítico (my). O quartzo diorito ou tonalito (qd) é composto por plagioclásio sódico, biotita/hornblenda, k-feldspato e quartzo, em ordem decrescente em volume. As rochas graníticas ou granitoides (gr), também de idade Cretácea, têm composição variando de quartzo monzonito a granodiorito (Morton, 1975; Morton & Matti, 1987, 2001). Elas são brancas a cinzas claras e têm granulometria de fina a média. São compostas por plagioclásio sódico, k-feldspato, quartzo e menores quantidades de biotita. Aparecem como intrusões no quartzo diorito e nas rochas metassedimentares. 9 O granodiorito (gdi) (Morton, 1975, Morton & Matti, 1987) é cinza claro, tem granulometria média e é composto por plagioclásio sódico, k-feldspato, quartzo e biotita. Esse tipo de rocha é exposto somente na parte noroeste do mapa geológico. Sua idade varia entre 14 Ma a 19 Ma (Morton & Matti, 2001). O perfil A-A’ (Figura 2.4) S-N, indicado no mapa da Figura 2.3, mostra que todas as camadas têm mergulho alto para nordeste. Além disso, é observada uma alternância entre rochas metassedimentares e quartzo diorito, na parte norte do perfil. A área de estudo (Smith Ridge), por sua vez, é caracterizada pela intercalação de quartzo diorito, do Cretáceo, e rochas gnáissicas do Pré-Cambriano. Figura 2.4: Perfil A-A’ (S-N) do mapa geológico de parte da região de San Gabriel Mountains. A área de estudo Smith Ridge, do terreno Cucamonga, está em destaque. Fonte: USGS website. Legendas como na Figura 2.3. 2.2 Revisão sumária da petrogênese dos charnockitos O registro mais antigo relacionado ao charnockito é de um comunicado, feito em 1892 por Thomas Oldham do Serviço Geológico da Índia, da ocorrência de granito com hiperstênio localizado em Madras, sul da Índia. Em 1893, o Dr. T. H. Holland, o então Chefe do Serviço Geológico da Índia, informou que os granitos encontrados em Madras (Chennai) estavam associados a grandes massas de norito. Também foi observado que o mesmo tipo de rocha, tirado do bairro de St Thomas Monte, foi usado para a lápide de Job Charnock. Logo após essa descoberta, em 1893, Holand começou a ler um artigo na Asiatic Society of Bengal, chamado "A petrologia da rocha da tumba de Job Charnock" e sugeriu que essa rocha fosse nomeada “charnockito” em homenagem ao falecido, 200 anos após a morte dele. Charnockito é um termo geral que pode ser utilizado para descrever rochas ígneas ou ortognaisses graníticos com ortopiroxênio (Frost & Frost, 2008). É aplicado a rochas ígneas compostas principalmente por quartzo, ortoclásio, plagioclásio, pertita ou antipertita, 10 ortopiroxênio (geralmente hiperstênio), clinopiroxênio, biotita, olivina, granada, anfibólio e minerais opacos. Geralmente, charnockitos estão associados aos noritos e anortositos e estão, intimamente, ligados a terrenos Pré-Cambrianos. Embora muitos charnockitos apresentem evidências de metamorfismo, deformação e recristalização, o termo é utilizado na classificação de rochas ígneas (LeMaitre, 2002). Os charnockitos incluem rochas ígneas de muitos tipos diferentes, sendo algumas félsicas e ricas em quartzo e microclina, outras máficas e com muito piroxênio e olivina, enquanto há outras intermediárias, correspondendo aos noritos, quartzonoritos e dioritos. Uma característica especial, recorrente em muitos membros do grupo, é a presença de um forte pleocroísmo avermelhado ou verde do hiperstênio. A classificação dos charnockitos é baseada no diagrama QAP (Figura 2.5). Figura 2.5: Diagrama QAP mostrando os nomes das rochas ígneas dentro da série charnockítica, com base na tabela 2.10 e figura 2.5 de LeMaitre (2002). Os charnockitos podem ser nomeados de duas formas, como mostra a Tabela 2.1. A primeira, e mais usada atualmente, é feita adicionando a palavra ortopiroxênio ou hiperstênio à nomenclatura ígnea normal, como, por exemplo, ortopiroxênio-granito. O 11 segundo modo de classificação está relacionado a nomes específicos, como norito, mangerito, enderbito, jotunito, farsundito, opdalito e charnockito, que são os equivalentes de gabro, monzonito, tonalito, monzodiorito, monzogranito, granodiorito e granito, respectivamente. Tabela 2.1: Nomenclatura dos charnockitos (LeMaitre, 2002). Os charnockitos, em geral, se apresentam, no campo, com texturas porfiríticas com fenocristais de biotita ou de outro mineral máfico comum. A estrutura mais comum é a foliação. Possuem granulometria média e a cor varia, sendo as capas de alteração normalmente brancas, avermelhadas ou alaranjadas. A geoquímica dos charnockitos é semelhante a dos granitoides (Frost et al., 2001). Ela está ligada a três parâmetros. O primeiro está relacionado com os teores de FeO ou FeOt (isto é, ferro total sob a forma de ferro ferroso; em %peso) e se refere à diferenciação do magma granítico. O segundo parâmetro refere-se ao modified alkali-lime index (MALI; em proporção molecular) e está relacionado com as fontes do magma. O último parâmetro é o índice de saturação em alumínio (ASI; em proporção molecular), que diz respeito às condições de fusão e às fontes do magma (Shand, 1943). O primeiro parâmetro é determinado pela relação FeO/(FeO + MgO) da rocha ou t FeO /(FeOt + MgO), quando não se distingue ferro ferroso de ferro férrico. Essas relações são a base para a definição das séries toleítica e calcialcalina (Nockolds & Allen, 1956) ou ferrosa e magnesiana. O MALI é representado pela expressão Na2O + K2O - CaO (Peacock,1931). MALI aumenta com o aumento de SiO2 e define quatro séries: MALI > 61 (cálcica); MALI entre 5661 (calcialcalina); MALI entre 51-56 (alcalicálcica) e MALI < 51 (alcalina). 12 O ASI controla a abundância de alguns minerais, tais como micas e minerais acessórios nas amostras de rocha. Ele é definido pela razão molecular de Al/(Ca – 1,67P + Na + K). De acordo com esta razão, têm-se duas classificações diferentes: se ASI for menor que 1,0 e Na + K inferior a Al, a rocha será metaluminosa e irá incluir fases cálcicas, como hornblenda, por exemplo; se ASI for menor que 1,0 e Na + K maior que Al, a rocha será peralcalina. Rochas peralcalinas contêm anfibólio e piroxênios sódicos. Embora haja uma ampla distribuição de charnockitos no hemisfério sul eles ocorrem também na Noruega, França, Suécia, Alemanha, Escócia e América do Norte. Nesses países, os charnockitos foram principalmente descritos como piroxênio granulitos, piroxênio gnaisses e anortositos. Eles são geralmente de idade Proterozoica (final do Pré-Cambriano). Na Índia, eles formam o Nilgiri Hills, o Shevaroys, o Biligirirangan Hills e parte do Ghats Ocidental, estendendo-se em direção ao sul, até ao Cabo Comorim, e reaparecendo no Ceilão. As idades de vinte plútons de charnockitos de diferentes lugares ao redor do mundo variam do Arqueano ao Cretáceo (Frost & Frost, 2008). Algumas dessas ocorrências são mostradas na Tabela 2.2. A origem dos charnockitos é uma questão muito polêmica que vem sendo discutida, mais sistematicamente, nos últimos trinta anos. Basicamente, há duas origens possíveis: ígnea e metamórfica. A origem ígnea implica que magmas charnockíticos podem ser formados a partir da crosta ou do manto (Newton, 1992) e sua cristalização ocorre sob pressão de água muito baixa, à semelhança do metamorfismo na fácies granulito. A crosta é mais provável, como fonte, do que o manto, porque o manto não tem composição adequada para produzir líquidos félsicos. Em geral, o material fundido originado da crosta tem composição félsica, que é aquela mais comumente encontrada nos charnockitos. A origem metamórfica, por sua vez, está relacionada aos charnockitos que têm texturas metamórficas (Cooray, 1969; de Waard, 1969). As condições de metamorfismo, nesses casos, estão em torno de 700-950°C e 5-11 kbar (Bohlen, 1991), com PH2O ~ 0, isto é, típicas de fácies granulito. Por isso, alguns autores afirmam que quando o charnockito é metamórfico, ele deve ser chamado de granulito. Um granulito, na verdade, é uma rocha metamórfica que precisa, necessariamente, ter hiperstênio, o que evidencia o metamorfismo sob pressões secas. A confusão com charnockitos está no fato do hiperstênio também ser um mineral essencial neles e, muitas vezes, as características metamórficas não estão presentes. Logo, somente a presença de hiperstênio não é suficiente para distinguir um granulito de um charnockito. A interpretação textural é essencial. Se a rocha com hiperstênio tiver texturas metamórficas (cristaloblástica), com evidências de reações envolvendo hiperstênio (formação deste a partir da devolatização de micas e anfibólios, por exemplo), trata-se de um granulito. Caso contrário, tem-se um charnockito. 13 Tabela 2.2: Variação das idades de diferentes ocorrências de charnockitos no mundo (Frost &Frost, 2008). Ocorrência Localização Idade (Ma) Fiordland Ilha Sul, Nova Zelândia Cretáceo Inferior Ironside Klamath Mountains, Califórnia, EUA 170 Ballachuljsh Oeste das Highlands escocesas 412 Thor Range Terra da Rainha Maud, Antártica 500 Província Mantiqueira Sudeste do Brasil 625 Bunger Hills Leste da Antártica Proterozoico Marwson Marwson Coast, Antártica Meso-Neo Proterozoico Bjerkreim Sul da Noruega 930 Hidderskog Sudoeste da Noruega 1160 Varberg Suécia 1400 Laramie Laramic Range, Wyoming, EUA 1435 Sherman Laramic Range, Wyoming, EUA 1435 Lofoten Ilhas Lofoten, Norte da Noruega 1950 Kabbaldurga Mysore, Sul da Índia Final do Arqueano Madras Área de Madras, Sul da Índia 2500 Louis Lake Wind River Range, Wyoming, EUA 2630 Desliens Quebec do Norte, Canadá 2723 Utsalik Quebec do Norte, Canadá 2725 Minto Quebec do Norte, Canadá 2725, 2688 As composições de voláteis, mineral e a geotermobarometria são usadas para restringir as condições de gênese do charnockito. O ortopiroxênio é um mineral importante na assembleia do charnockito sendo, assim, usado para descobrir as condições de formação da rocha. Se o material fundido tem uma baixa abundância de água, a cristalização do ortopiroxênio será favorecida; mas se o material fundido tem uma elevada quantidade de água, a cristalização de biotita ou anfibólio será favorecida. Portanto, charnockitos devem ser produtos de processos magmáticos relativamente secos. Essa 14 afirmação é apoiada pelas assembleias minerais nessas rochas, caracteristicamente destituídas de fases hidratadas. Em outras palavras, a baixa quantidade de fases hidratadas está relacionada com uma baixa quantidade de água tanto nos processos de fusão parcial quanto nos processos de evolução magmática dos charnockitos. Alguns pesquisadores resumiram os ambientes de formação dos charnockitos, reconhecendo aqueles relacionados com riftes (magmatismo ferroso) e com cordilheiras, bem como ao magmatismo Caledoniano e de fusão crustal profunda. Cada ambiente constitui plútons charnockíticos com características específicas. Os plútons charnockíticos do primeiro ambiente são ferrosos, metaluminosos e variam de alcalicálcicos a alcalinos. O segundo está relacionado ao magmatismo de cordilheira e suas características são magnesiana, cálcica a calcioalcalina e metaluminosa. O terceiro ambiente corresponde ao magmatismo Caledoniano e os plútons são magnesianos e variam de alcalicálcicos a alcalinos. Por último, o ambiente relacionado à fusão crustal profunda tem como características valores intermediários de FeO/(FeO + MgO), variando de fracamente a moderadamente peraluminoso (Frost & Frost, 2008). 15 CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS 3.1 Campo O trabalho de campo foi realizado na região de Cucamonga, San Gabriel Mountains, Califórnia, EUA, sob a orientação do professor Dr. Joshua J. Schwartz. A área de estudo é marcada pela presença, principalmente, de charnockitos e gnaisses (Figura 2.3). O trabalho de campo envolveu a realização de um perfil SE-NW que teve início a poucos metros acima do chamado Day Canyon, a SE, e rumou para Smith Ridge, a NW (Figura 3.1). Figura 3.1: Localização dos principais pontos visitados durante o trabalho de campo na área de Cucamonga, San Gabriel Mountains, Califórnia, EUA. Os pontos não locados na imagem estão próximos demais uns dos outros para serem representados. Fonte: Google Earth. Foram descritos quinze pontos codificados segundo os seguintes critérios: 13 (referente ao ano de 2013 quando o campo foi realizado), SGM (San Gabriel Mountains) e por último o número do afloramento começando pelo número 31. Uma visão geral da região onde o trabalho de campo foi realizado é mostrada na Figura 3.2. 16 Figura 3.2: Visão geral da área de estudo. Ao fundo, o relevo de Smith Ridge. Nos pontos 13SGM31A e 13SGM31B foram observados blocos rolados de granada piroxenitos. Esse ponto está associado a uma unidade litoestratigráfica bastante heterogênea, ocorrendo, também, quartzo feldspato gnaisses. Além disso, foram observados blocos de cumulados de plagioclásio e piroxênio. O ponto 13SGM31A é composto por rocha alterada de cor amarronzada. A rocha inalterada, por sua vez, é preta azulada. A granulometria da rocha é média, com plagioclásio e granada, principalmente, inseridos numa matriz fina com cristais maiores de clinopiroxênio. Bandas félsicas centimétricas paralelas à foliação estão presentes nos blocos. O ponto 13SGM31B é muito parecido com o anterior. A rocha tem granulometria fina, sendo constituída de granada, plagioclásio e clinopiroxênio. Entretanto, não foram observadas bandas félsicas. O ponto 13SGM32 é composto por blocos rolados de rochas de granulometria média com granada, plagioclásio, biotita e quartzo, essencialmente. Foi possível observar uma foliação bem fraca e a rocha foi classificada como granada diorito (Figura 3.3). 17 Figura 3.3: Bloco de granada diorito encontrado no ponto 13SGM32. O ponto 13SGM33 é composto por granodiorito milonítico de granulometria média (Figura 3.4). Figura 3.4: Amostra de granodiorito milonítico encontrada no ponto 13SGM33. 18 A rocha tem foliação (S80ºE/60ºSW) e lineação mineral (S60ºW/25º). Ela é branca alaranjada devido à alteração. É composta por plagioclásio e quartzo, principalmente. Porfiroclastos de plagioclásio de tamanho centimétrico são vistos envolvidos por uma matriz mais fina. Alguns quilômetros a NW, partir do terceiro ponto, foram encontrados os primeiros blocos de charnockito. Eles aparecem associados a um diorito fino com contatos que indicam a assimilação do charnockito, o que poderia caracterizar a natureza intrusiva do diorito (Figuras 3.5). Os minerais principais que constituem os charnockitos são quartzo, plagioclásio e ortopiroxênio. Além disso, apresentam foliação e lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio. O diorito, por sua vez, é constituído, principalmente, por clinopiroxênio e plagioclásio, com foliação incipiente. Figura 3.5: Possível relação de intrusão entre o diorito fino e o charnockito denotada pela assimilação incipiente deste último (seta). Notar a lineação de estiramento de ortopiroxênios no charnockito. O ponto 13SGM34 é caracterizado por blocos de granada granulito (Figura 3.6). Vale notar a presença de granadas variando de 1 a 2 centímetros, bem como bandas félsicas centimétricas (Figura 3.7). 19 Figura 3.6: Detalhe dos porfiroblastos centimétricos do granada granulito. Figura 3.7: Granada granulito com bandas félsicas em bloco no ponto 13SGM34. 20 O ponto 13SGM35 é constituído por diorito. A rocha é preta e tem granulometria fina, sendo constituída de piroxênio e plagioclásio, principalmente (Figura 3.8). Figura 3.8: Bloco de diorito encontrado no ponto 13SGM35. O ponto 13SGM36 foi dividido em A e B. O 13SGM36A é caracterizado por um charnockito mais escuro e com menos quartzo, enquanto que no 13SGM36B esta rocha tem granulometria mais fina e mais quartzo. Nos dois pontos, as rochas estão bastante alteradas (Figura 3.9). Figura 3.9: Charnockitos do ponto 13SGM36A (esquerda) e 13SGM36B (direita). 21 Charnockito também é a rocha que ocorre no ponto 13SGM37. Sua granulometria varia de média a grossa e é formado por plagioclásio, quartzo, ortopiroxênio e clinopiroxênio, principalmente. A rocha tem uma lineação medida (N88ºW/04º). Além disso, uma possível relação de contato intrusivo foi observada entre o charnockito e diorito (Figura 3.10). Figura 3.10: Possível contato intrusivo de diorito (escuro) no charnockito (claro) em bloco encontrado no ponto 13SGM37. Charnockitos alterados de cor cinza amarelada, com lineação, são observados no ponto 13SGM38 (Figura 3.11). Sua granulometria varia de média a grossa, sendo compostos por plagioclásio, quartzo e ortopiroxênio. Figura 3.11: Blocos de charnockito encontrados no ponto 13SGM38. 22 Um biotita charnockito ocorre no ponto 13SGM39. A rocha está alterada, tem granulometria variando de fina a média e cor cinza alaranjada (Figura 3.12). Figura 3.12: Amostra de biotita charnockito coletada no ponto 13SGM39. Rocha semelhante é encontrada no ponto 13SGM40, muito embora com menor (ou nenhum) volume de biotita, mas constituída por piroxênio, plagioclásio e quartzo, basicamente (Figura 3.13). Figura 3.13: Amostra de mão de charnockito do ponto 13SGM40. 23 Vale ressaltar a ocorrência, na área de estudo, de granadas decimétricas envolvidas por matriz máfica de rocha bandada (granada gnaisse), de aspecto brechado, como observado nos pontos 13SGM41 e 13SGM42 (Figura 3.14). Figura 3.14: Amostra de bloco de gnaisse máfico, com granadas decimétricas, coletada no ponto 13SGM41. Outros blocos desta rocha foram mapeados no ponto 13SGM42. Notar o aspecto brechado da rocha. Rocha muito semelhante ao granodiorito milonítico, encontrado no ponto 13SGM33, aparece no 13SGM43. Sua cor é branca alaranjada, a granulometria varia de fina a média e a composição mineral essencial é plagioclásio e quartzo (Figura 3.15). É possível que os pontos 13SGM33 e 13SGM43 estejam localizados sobre as zonas miloníticas regionais NESW características da área de estudo (Capítulo 2). Figura 3.15: Amostra de granodiorito milonítico coletada no ponto 13SGM43. 24 A Tabela 3.1 lista os litotipos encontrados no trabalho de campo. Tabela 3.1: Litotipos encontrados no trabalho de campo. As amostras de aspecto brechado encontradas nos pontos 13SGM41 e 42 não foram listadas. Os litotipos não selecionados para estudos litogeoquímicos aparecem em itálico. Litotipos Granada piroxenitos (bandados ou não) finos a médios e quartzo feldspato gnaisses Granada diorito médio pouco foliado Granodiorito milonítico Charnockito médio a grosso Diorito fino pouco foliado Granada granulito porfiroblástico pouco bandado 3.2 Pontos (13SGM) 31A, 31B 32 33, 43 NW de 33, 36A, 36B, 37, 38, 39, 40 NW de 33, 35 34 Petrografia Treze amostras foram selecionadas para a laminação com base nos litotipos classificados no campo, correspondendo às amostras cujos pontos estão mostrados na Tabela 3.1. As lâminas 13SGM31A e 31B correspondem ao litotipo classificado no campo como granada piroxenito. Estas amostras não foram selecionadas para as análises litogeoquímicas. A composição mineral essencial da rocha da lâmina 13SGM31A é (em ordem decrescente de percentagem de volume) granada, hornblenda, actinolita, augita, hiperstênio, quartzo e feldspato. A textura da rocha é poiquiloblástica com inclusões de piroxênio em granada, com matriz granonematoblástica constituída, predominantemente, por hornblenda e plagioclásio, estes últimos mostrando junções tríplices típicas da recristalização. A rocha apresenta um bandamento (Sn) centimétrico formado por camadas com plagioclásio > granada > hornblenda, de granulometria média, em alternância com camadas de granada > piroxênio > hornblenda, de granulometria fina. A rocha tem uma lineação de estiramento (Ln), contida no bandamento (Sn), denotada por grãos alongados de hornblenda e plagioclásio. A paragênese metamórfica predominante é hornblenda e plagioclásio, o que caracteriza a fácies anfibolito. A presença de granada indica condições intermediárias de pressão. Há evidências de retrometamorfismo para fácies xisto verde, com transformação de hornblenda em actinolita, bem como de granada para clorita. A rocha foi classificada como granada-hornblenda-plagioclásio gnaisse. A composição mineral essencial da rocha da lâmina 13SGM31B é semelhante àquela da rocha da lâmina 13SGM31A, bem como a textura. A estrutura daquela difere da última, no entanto, pela ausência de bandamento. Os grãos de piroxênio são reliquiares e quase 25 totalmente restritos às inclusões nos poiquiloblastos de granada. A paragênese hornblenda e plagioclásio e os poiquiloblastos de granada caracterizam a fácies anfibolito de pressão média, muito embora também haja evidências para processos retrometamórficos, como formação de clorita a partir de granada, por exemplo. A rocha foi classificada como granada anfibolito. O granada diorito médio pouco foliado do ponto 13SGM32 tem composição mineral essencial (em ordem decrescente de percentagem de volume) representada por plagioclásio, quartzo, biotita e piroxênio. A textura da rocha é poiquiloblástica com inclusões de plagioclásio, minerais opacos, piroxênio e, mais raramente, biotita, em granada, com matriz granoblástica constituída, predominantemente, por quartzo e plagioclásio, estes últimos mostrando junções tríplices típicas da recristalização. A rocha é destituída de anfibólio. Não há foliação ou lineação na rocha, muito embora os grãos tenham muita extinção ondulante e as lamelas de geminação de plagioclásio estejam deformadas ou mal formadas. Evidências de retrometamorfismo ocorrem muito localmente, com formação de clorita a partir da granada. A rocha foi classificada como granada metadiorito. O granodiorito milonítico, dos pontos 13SGM33 e 43, é constituído, essencialmente, por quartzo, feldspatos e biotita. A textura mostra grande cominuição dos grãos e porfiroclastos de plagioclásio, típica de milonitos (lato sensu) (Figura 3.16). A biotita se orienta em camadas finas, conferindo à rocha uma foliação incipiente. Esta foliação contorna alguns porfiroclastos de plagioclásio (Figura 3.17). A rocha pode ser classificada como milonito quartzo-feldspático, tendo, muito possivelmente, granodioritos como protólitos. 0,5 mm Figura 3.16: Fotomicrografia da textura milonítica com porfiroclastos de plagioclásio. Amostra 13SGM33. Nicóis cruzados. 26 0,25 mm Figura 3.17: Fotomicrografia da foliação, dada pela biotita, contornando porfiroclasto de plagioclásio. Amostra 13SGM43. Nicóis paralelos. O granada granulito porfiroblástico pouco bandado, do ponto 13SGM34, tem composição mineral essencial representada por plagioclásio, quartzo, granada, hornblenda e piroxênio. A textura da rocha é poiquiloblástica com inclusões anédricas de clinopiroxênio em granada centimétrica (1 a 2 cm). Os porfiroclastos são de piroxênio e plagioclásio, sendo que os últimos mostram recristalização avançada (textura poligonizada). A rocha é destituída de foliação e lineação. A paragênese predominante é hornblenda e plagioclásio, caracterizando a fácies anfibolito. A presença de granada indica condições intermediárias de pressão. Foi observada a transformação de granada em actinolita, o que evidencia ocorrência de um processo de retrometamorfismo passando da fácies granulito para xisto verde. A rocha foi classificada como granada anfibolito. O diorito fino pouco foliado do ponto 13SGM35 é constituído, principalmente, por plagioclásio, quartzo e hornblenda. A textura da rocha é equigranular fina (0,3 mm) e não há recristalização, foliação ou lineação na rocha. Os grãos de plagioclásio têm lamelas de geminação deformadas (Figura 3.18) e inclusões de apatita (Figura 3.19) A rocha foi classificada como metadiorito. 27 0,3 mm Figura 3.18: Fotomicrografia das lamelas dobradas do plagioclásio. Amostra 13SGM35. Nicóis cruzados. 0,3 mm Figura 3.19: Fotomicrografia de inclusões de apatita em plagioclásio. Amostra 13SGM35. Nicóis paralelos. As lâminas 13SGM36A, 36B, 37, 38, 39 e 40 correspondem ao litotipo classificado no campo como charnockito médio a grosso. A composição mineral essencial dessas lâminas é plagioclásio, quartzo, hornblenda e piroxênio, sendo algumas também constituídas por biotita. Todas as rochas foram classificadas como metacharnockitos. 28 A textura da rocha da lâmina 13SGM36A é poiquiloblástica com inclusões de apatita em plagioclásio (Figura 3.20). Não há foliação ou lineação na rocha. Entretanto, os grãos têm forte extinção ondulante e as lamelas de geminação de plagioclásio estão mal formadas. Além disso, há plagioclásio não geminado saussuritizado (Figura 3.21) e alcalifeldspato com geminação tartan mal formada (Figura 3.22). As bordas dos grãos de hiperstênio apresentam actinolita (Figura 3.23), podendo ser observada, também, a formação de hornblenda e actinolita a partir de ortopiroxênio, caracterizando um processo que envolve percolação de fluidos e, talvez, relacionada ao retrometamorfismo dos gnaisses e anfibolitos descritos anteriormente. 0,2 mm Figura 3.20: Fotomicrografia das apatitas inclusas no plagioclásio. Amostra 13SGM36A. Nicóis paralelos. 29 1,0 mm Figura 3.21: Fotomicrografia do plagioclásio não geminado saussuritizado. Amostra 13SGM36A. Nicóis cruzados. 1,0 mm Figura 3.22: Fotomicrografia do alcalifeldspato com tartan mal formada. Amostra 13SGM36A. Nicóis cruzados. 30 0,4 mm Figura 3.23: Fotomicrografia do hiperstênio com actinolita em sua borda. Amostra 13SGM36A. Nicóis paralelos. A lâmina 13SGM36B é muito semelhante a anterior, mas foi observada lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio (Figura 3.24), estando os minerais félsicos também mais deformados. Essa deformação é vista a partir do crescimento de novos grãos nos contatos dos plagioclásios (Figura 3.25) e das lamelas de geminação deformadas (Figura 3.26). 0,25 mm Figura 3.24: Fotomicrografia da lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio. Amostra 13SGM36B. Nicóis paralelos. 31 0,2 mm Figura 3.25: Fotomicrografia dos novos grãos nos contatos dos plagioclásios. Amostra 13SGM36B. Nicóis cruzados. 0,2 mm Figura 3.26: Fotomicrografia das lamelas de geminação dobradas no plagioclásio. Amostra 13SGM36B. Nicóis cruzados. A lâmina 13SGM37 também tem aspecto muito parecido com as duas anteriores. A diferença é que aqui foi vista a passagem de hiperstênio para hornblenda (Figura 3.27) sem a presença de actinolita. Além disso, há uma maior recristalização dos minerais félsicos nessa rocha e ela está mais deformada. Essa deformação está relacionada às junções 32 tríplices observadas no quartzo e pelas lamelas de geminação mal formadas dos plagioclásios (Figura 3.28). Também há lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio (Figura 3.29), como na lâmina 36B. 0,75mm mm Figura 3.27: Fotomicrografia da passagem do hiperstênio para hornblenda. Amostra 13SGM37. Nicóis paralelos. 0,5 mm mm Figura 3.28: Fotomicrografia das lamelas de geminação mal formadas dos plagioclásios e das junções tríplices no quartzo. Amostra 13SGM37. Nicóis cruzados. 33 0,3mm mm Figura 3.29: Fotomicrografia da lineação de estiramento dada pela orientação preferencial dos grãos de ortopiroxênio. Amostra 13SGM37. Nicóis cruzados. A lâmina 13SGM38 continua seguindo as mesmas características das lâminas anteriores. Foi observada lineação de estiramento dada pelo ortopiroxênio e feldspato (Figura 3.30). Além disso, a passagem de ortopiroxênio para hornblenda e biotita (Figura 3.31) também foram vistas aqui, evidenciando retrometamorfismo. 0,5 mm mm Figura 3.30: Fotomicrografia da lineação de estiramento dos grãos de feldspato com extinção ondulante (setas). Amostra 13SGM38. Nicóis cruzados. 34 opx 0,15 mm mm Figura 3.31: Fotomicrografia da passagem de ortopiroxênio (opx) para hornblenda e biotita (setas). Amostra 13SGM38. Nicóis paralelos. A lâmina 13SGM39 tem hiperstênio poiquilítico com inclusões de apatita e minerais opacos (Figura 3.32). Basicamente, essa é a única diferença em relação às outras lâminas de charnockito. 0,5 mm mm Figura 3.32: Fotomicrografia da textura poiquilítica do ortopiroxênio. Amostra 13SGM39. Nicóis paralelos. 35 Por fim, as características petrográficas da lâmina 13SGM40 são semelhantes às descritas anteriormente para os outros metacharnockitos, incluindo a transformação de ortopiroxênio para hornblenda (Figura 3.33). 0,18 mm Figura 3.33: Fotomicrografia de hornblenda formada a partir de ortopiroxênio. Amostra 13SGM40. Nicóis paralelos. 3.3 Litogeoquímica Dez amostras foram selecionadas para análises litogeoquímicas (óxidos e elementos- traços, incluindo elementos terras raras), a partir dos trabalhos de campo e petrográficos realizados para esta monografia. Deste total, duas são dioritos (com granada; ponto13SGM32 e sem granada; ponto 13SGM35), seis são charnockitos (pontos 13SGM36A, 36B, 37, 38, 39 e 40) e duas são granodioritos miloníticos (13SGM33 e 43). Os dados geoquímicos produzidos incluem: 1) elementos maiores (SiO2,TiO2, Al2O3, Fe2O3t, MnO, MgO, CaO, Na2O, K2O, P2O5 e a PF (perda ao fogo)), 2) elementos traços móveis (Ba, Rb e Sr), imóveis (Zr, Y, Nb e V), elementos terras raras (La, Ce, Pr, Nd, Sm) e também Ni, Cr, Sc, Co, Hf, U, Ga, Cu, Mo e Cs. Nesta monografia, os elementos maiores foram expressos em percentagem de peso (%peso), enquanto que os elementos traços foram expressos em partes por milhão (ppm). A interpretação geoquímica foi baseada, fundamentalmente, na utilização de softwares adequados à discriminação de séries, classificação de rochas, cálculo da norma CIPW e interpretação petrogenética. 36 O ferro de todas as amostras estudadas foi analisado como ferro total expresso sob a forma de ferro férrico (Fe2O3t). Os valores de perda ao fogo (PF) das amostras do terreno Cucamonga, selecionadas para este estudo, estão abaixo de 7%peso (média 2,75±1,89%peso) (Tabela 3.2). Como uma aproximação, o valor de perda ao fogo (PF) das rochas pode ser uma indicação do grau de alteração. Rochas com valores elevados de PF são, geralmente, mais alteradas do que aquelas com valores mais baixos (Valente et al., 2002). Entretanto, deve ser ressaltado que as determinações de PF são susceptíveis a erros significativos de medidas, em consequência, por exemplo, do ganho do peso devido à oxidação do ferro ferroso (Lechler & Desilets, 1987). Mesmo assim, os valores de PF podem ser usados como critério de seleção de amostras alteradas, com alguma confiança, no caso das rochas que contêm volumes relativamente pequenos de fases hidratadas, como granulitos e charnockitos. No caso das amostras analisadas, os valores de PF são relativamente elevados, indicando que as rochas devem estar alteradas, o que é ratificado pela petrografia, onde foram observados produtos de alteração (principalmente saussurita) sobre minerais primários (Capítulo 3.2). De qualquer modo, a utilização dos dados geoquímicos não é inviabilizada, devendo-se, no entanto, elaborar hipóteses petrogenéticas com base, principalmente, nos elementos imóveis (Ti, Y, Zr, Nb e V). 37 Tabela 3.2 – Valores máximos, mínimos, médias, desvios padrão e coeficientes de variação de óxidos e elementos das amostras do terreno Cucamonga, San Gabriel Mountains, EUA (Fe2O3t é ferro total sob a forma de ferro férrico; PF é a perda ao fogo). Óxidos/Elementos SiO2 TiO2 Al2O3 Fe2O3t MgO MnO CaO K2O Na2O P2O5 PF Total Zr Y Nb V Rb Ba Sr Ni Cr Sc Co Hf U La Ce Sm Nd Pr Ga Cu Mo Cs Média Desvio padrão Coeficiente de variação Mínimo Máximo 56,14 9,19 0,16 43,63 71,00 1,52 0,95 0,63 0,14 3,19 17,55 2,44 0,14 13,44 20,16 7,29 3,80 0,52 2,52 15,85 2,44 1,40 0,57 0,28 4,80 0,09 0,06 0,69 0,03 0,25 6,78 3,08 0,45 1,64 10,94 1,14 1,63 1,42 0,26 4,27 3,74 0,66 0,18 2,69 4,84 0,41 0,24 0,59 0,08 0,82 2,75 1,89 0,69 0,58 6,70 99,84 0,08 0,00 99,78 99,94 220 97,33 0,44 54 370 18 15,20 0,83 10 61 14 1,97 0,14 11 19 83 59,86 0,72 12 227 28 49,27 1,74 3 126 529 378,94 0,72 144 1218 776 271,74 0,35 347 1074 8 1,74 0,23 5 10 123 20,41 0,17 99 165 16 7,40 0,47 4 27 19 11,17 0,58 4 42 5 1,67 0,35 1 8 1 1,38 1,04 0 4 17,3 8,47 0,49 8,3 34,3 39,8 15,55 0,39 18,5 68,4 4,4 0,73 0,17 3,3 5,3 23,4 9,89 0,42 15,9 47,7 4,7 2,38 0,50 1,0 7,3 20 4,14 0,21 16 24 88 121,03 1,38 12 380 4 1,82 0,45 3 9 2 1,14 0,69 0 4 A soma total dos óxidos (99,84±0,08%peso) de todas as dez amostras está dentro do intervalo (entre 99 e 101%peso) geralmente considerado satisfatório para análises geoquímicas de rocha total. Uma estimativa da qualidade das análises utilizadas foi feita pelo cálculo de coeficientes de variação (coeficiente de variação = desvio padrão/média) (Tabela 3.2). 38 A maioria das amostras apresenta, em geral, elevados coeficientes de variação (Tabela 3.2). Valores elevados desse coeficiente são indicativos de: 1) Erro analítico (isso pode ser testado com dados de precisão e acurácia); 2) Alteração (isso pode ser testado pela checagem dos valores de PF e pelas variações dos elementos traços imóveis; p. ex. Y, Zr e Nb); 3) Amostragem heterogênea, isto é, amostras relacionadas a diferentes processos petrológicos. Erros analíticos são monitorados rotineiramente pelo laboratório onde foram realizadas as análises, não tendo sido reportados problemas com base nos dados de precisão e acurácia. Muito embora as amostras estejam um pouco alteradas, como relatado anteriormente, este efeito isoladamente não pode explicar os valores elevados de coeficientes de variação para os elementos imóveis. Logo, os dados da Tabela 3.2 indicam que a amostragem reúne litotipos associados, muito possivelmente, a processos petrológicos distintos. As amostras têm teores de SiO2 que caracterizam rochas desde ultrabásicas a ácidas (Tabela 3.2), e plotam nos campos dos basaltos, andesito-basaltos, andesitos e riolitos, no diagrama TAS (Total de Álcalis versus Sílica), cujos correspondentes plutônicos seriam gabros, diorito gabroicos, dioritos e granitos (Figura 3.34). Figura 3.34 – Diagrama de classificação de rochas (LeMaitre, 1989). Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 39 Vale notar, porém, que os álcalis são elementos relativamente móveis durante a atuação dos processos secundários (ação intempérica e/ou hidrotermais). Assim sendo, as amostras também foram plotadas em um diagrama de classificação (Figura 3.5) que se baseia em elementos imóveis, tais como o Zr, Nb, Y e TiO2 (Winchester & Floyd, 1977). Neste diagrama de classificação mostra que as amostras plotam nos campos dos basaltos, andesitos e riodacitos/dacitos, cujos correspondentes plutônicos seriam gabros, dioritos e granodioritos. Assim, as rochas estudadas foram classificadas semelhantemente nos dois diagramas utilizados para este fim (Figuras 3.34 e 3.35). Figura 3.35 – Diagrama de classificação de rochas (Zr/TiO2 versus SiO2) para as amostras estudadas (Winchester & Floyd, 1977). Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. O diagrama de discriminação de séries utilizado nesta monografia foi o TAS, com a curva proposta por Irvine & Baragar (1971) (Figura 3.36). Oito das amostras estudadas caracterizam uma série subalcalina, enquanto duas plotam próximo à curva que delimita os campos das séries alcalina e subalcalina, indicando uma tendência transicional (Figura 3.37). A maioria das amostras, classificadas como dioritos e granitos (Figura 3.35), constitui uma série calcialcalina (Figura 3.37) no diagrama AFM (Irvine & Baragar, 1971). Há uma amostra, classificada como gabro, entretanto, que plota no campo da série toleítica enquanto outra amostra também de gabro plota sobre a linha divisória entre os campos das séries toleítica e calcialcalina. 40 Figura 3.36 – Diagrama TAS de discriminação de séries (Irvine & Baragar, 1971) para as amostras estudadas. Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): -Granodiorito milonítico; - Charnockito; Diorito. Figura 3.37 – Diagrama AFM de discriminação de séries toleítica e calcioalcalina (Irvine & Baragar, 1971) para as amostras estudadas. A = Na2O + K2O; F = Fe2O3t; M = MgO (em %peso). Dados recalculados para 100% em base anídrica. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 41 A afinidade toleítica das amostras classificadas no campo dos gabros (ou basaltos; 13SGM32 e 13SGM35) é corroborada pela presença de hiperstênio (e ausência de nefelina) na norma CIPW (Anexo I). A diferença é que uma delas (13SGM35) contém olivina e hiperstênio normativos, sendo classificada como um olivina toleíto, enquanto a outra (13SGM32) tem quartzo e hiperstênio, sendo classificada como quartzo toleíto. Os dados litogeoquímicos permitem, portanto, reconhecer duas séries de rochas distintas na área de estudo, quais sejam: calcialcalina, envolvendo as amostras intermediárias a ácidas (dioritos e granitos), e toleítica, envolvendo as amostras classificadas como gabros. Isso ratifica a existência de rochas associadas a diferentes processos petrológicos na área de estudo, conforme proposto anteriormente com base nos valores de coeficientes de variação (Tabela 3.2). As rochas da série calcialcalina são metaluminosas e peraluminosas (Figura 3.38). O caráter peraluminoso das rochas ácidas é expresso pela presença de coríndon normativo, enquanto que o caráter metaluminoso das rochas intermediárias e básicas (após recálculo para 100% em base anídrica) é expresso pela presença de diopsídio normativo (Anexo I). Figura 3.38: Diagrama Al/Ca+Na+K versus Al/Na+K (valores em proporções moleculares) de discriminação de séries com base na saturação em alumina. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 42 As rochas da área de estudo se inserem no campo dos granitoides de arco vulcânico, o que é coerente com o fato do terreno Cucamonga ser parte das Montanhas Rochosas, no oeste dos Estados Unidos, ou seja, um orógeno acrescionário (Figura 3.39). Figura 3.39: Diagrama de Pearce et al., 1984. Legenda (de acordo com a classificação utilizada no campo): - Granodiorito milonítico; - Charnockito; - Diorito. 43 CAPÍTULO 4 – RESULTADOS 4.1 Evolução geológica Os dados de campo, petrográficos e litogeoquímicos apresentados nesta monografia permitem propor uma evolução geológica para a área de estudo. A ausência de afloramentos impediu um estudo de campo que detalhasse as relações entre os diferentes litotipos encontrados. Mesmo assim, foi possível deduzir que as rochas da área de estudo foram submetidas a distintos processos metamórficos e de deformação. Gnaisses, anfibolitos e metadioritos, além de milonitos, formam um grupo de rochas mais metamorfisado e deformado do que os metacharnockitos. Os gnaisses têm foliação (bandamento) e lineação de estiramento, além de relações texturais envolvendo granada e piroxênio que impedem um reconhecimento claro dos protólitos. De modo semelhante, a estrutura dos milonitos modificou por completo as características texturais dos seus protólitos. Os anfibolitos, embora menos deformados, mostram típica paragênese da fácies metamórfica homônima, com hornblenda associada a plagioclásio. A textura granoblástica, com formação de junções tríplices, também é uma característica comum aos gnaisses, anfibolitos e metadioritos. Além disso, todas essas rochas mostram evidência de retrometamorfismo, desde fácies granulito até anfibolito e xisto verde, com formação de hornblenda e actinolita a partir de ortopiroxênio. Em oposição, a deformação e metamorfismo dos metacharnockitos foram bem menos acentuados, preservando algumas características dos protólitos, tanto mineralógicas (hiperstênio com inclusões, por exemplo) quanto texturais (contatos intergranulares não poligonizados entre minerais félsicos e intercrescimentos pertíticos e antipertíticos). As características metamórficas dos metacharnockitos se restringem a processos de volatização de ortopiroxênios, com geração de hornblenda (ou actinolita) e, menos frequentemente, biotita. A existência, em Smith Ridge, de rochas associadas a diferentes processos geológicos é apoiada pelos dados litogeoquímicos, que mostraram a ocorrência de duas séries, sendo uma toleítica e outra calcialcalina, envolvendo, respectivamente, os gnaisses e metadioritos, e os metacharnockitos e milonitos. Isto pode indicar que os protólitos dos milonitos tenham sido rochas geradas por eventos geológicos relacionados aos charnockitos posteriormente metamorfisados. Os resultados apresentados acima permitem, preliminarmente, propor que os gnaisses, anfibolitos e metadioritos estão associados aos litotipos de idade Proterozoica 44 mapeados em escala regional. Do mesmo modo, metacharnockitos devem representar os charnockitos de idade Mesozoica que ocorrem no terreno Cucamonga (Capítulo 2). Com base no exposto, a evolução geológica da área de Smith Ridge parece ser representada pela seguinte sucessão de processos ao longo do tempo: 1- Formação dos terrenos granulíticos Pré-Cambrianos; 2- Magmatismo calcialcalino e formação dos charnockitos Mesozoicos e, talvez, outras associações de rochas; 3- Justaposição, por transcorrência, dos terrenos Proterozoicos e Mesozoicos durante o Cretáceo Superior; 4- Formação de faixas miloníticas, ao longo das transcorrências, que serviram como vias de circulação de fluidos; 5- Milonitização de rochas formadas pelo magmatismo calcialcalino, originando, assim, os milonitos quartzo feldspáticos, classificados, em base química, como granitos; 6- Retrometamorfismo dos granulitos e metamorfismo dos charnockitos, a partir da entrada de fluidos no ambiente através das faixas miloníticas. Vale ressaltar que é difícil estabelecer uma sucessão temporal clara entre os processos listados acima. Isto dependeria de trabalhos de campo, petrográficos e litogeoquímicos mais detalhados e este objetivo está além do escopo desta monografia. Mesmo assim, uma discussão acerca do timing entre o magmatismo charnockítico e a justaposição dos terrenos Proterozoicos será apresentada a seguir. 4.2 Petrogênese dos metacharnockitos Os metacharnockitos estudados foram envolvidos no processo que retrometamorfisou os gnaisses, anfibolitos e metadioritos. No entanto, boa parte das características mineralógicas e texturais originais daquelas rochas foi mantida. Charnockitos são rochas caracterizadas pela presença de ortopiroxênio (ou faialita mais quartzo), muitas vezes combinado com pertita, mesopertita ou antipertita, sendo comumente encontradas em terrenos Pré-Cambrianos (Streckeisen, 1974; 1976). A presença de minerais volatizados nos metacharnockitos de Smith Ridge (Capítulo 3.2), bem como seus valores relativamente elevados de perda ao fogo (Capítulo 3.3), indicam que o metamorfismo dessas rochas não deve ter sido inteiramente isoquímico. Mesmo assim, a ausência de grande dispersão nos diagramas geoquímicos e a coerência nas classificações decorrentes deles indicam que as composições químicas dos protólitos (charnockitos) não 45 devem ter sido muito modificadas pelo metamorfismo. Assim, os dados litogeoquímicos dos metacharnockitos podem ser utilizados na investigação petrológica de seus protólitos. Os metacharnockitos têm quantidades semelhantes de plagioclásio e alcalifeldspato, com pequena percentagem de volume em quartzo (Capítulo 3.2), incluindo, portanto, majoritariamente jotunitos, de acordo com a classificação do IUGS (LeMaitre, 2002). Estas rochas (a partir de agora chamados simplesmente charnockitos, neste texto) constituem uma série subalcalina de tendência calcialcalina e metaluminosa. (Capítulo 3.3). Elas plotam nos campos dos andesitos basálticos e andesitos, no diagrama de classificação química (TAS; LeMaitre, 1989), indicando protólitos de composição predominantemente gabroica a diorítica (52,54<SiO2<57,92%peso). Os teores de SiO2 e MgO variam de modo semelhante dentro da série, de modo que sílica foi escolhida como índice de diferenciação para a elaboração de diagramas de Harker com o objetivo de acessar possíveis processos evolutivos relacionados aos charnockitos. Para uma população de seis amostras, níveis de significância maiores que 95% estão relacionados a valores de coeficientes de correlação de Pearson R maiores que 0,8 (ou R2>0,64). As melhores correlações obtidas para os charnockitos estudados são polinomiais, não havendo hiato composicional nos diagramas de Harker. Essas características indicam diferenciação magmática por cristalização fracionada, com ou sem assimilação concomitante, com mudança de assembleia fracionante (dois estágios de fracionamento; 52<SiO2<55%peso e 56<SiO2<58%peso). O primeiro estágio de diferenciação caracterizase pelo consumo de TiO2 (Figura 4.1), Al2O3, CaO, P2O5, Sr, Ni e Cr, o que indica o possível fracionamento de olivina, piroxênio, plagioclásio, apatita e óxidos de Fe-Ti. Essa assembleia fracionante é típica de magmas básicos calcialcalinos. Figura 4.1: Diagrama de Harker para TiO2 com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. 46 O segundo estágio caracteriza-se pelo consumo de Zr (Figura 4.2), Y e Ba (Figura 4.3), combinado com consumo de K2O, muito embora o valor de R2 para este óxido seja ligeiramente inferior a 0,64. Essas variações composicionais devem ter sido controladas pelo fracionamento de alcalifeldspato com inclusões de zircão, o que é típico de magmas intermediários. Variações de razões de elementos traços cujos valores de R2 estão próximos de 0,9 (Zr, Y, Ba e Hf) são muito pequenas (Tabela 4.1), o que caracteriza um processo de cristalização fracionada não concomitante à assimilação crustal. Figura 4.2: Diagrama de Harker para Zr com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. Figura 4.3: Diagrama de Harker para Ba com as amostras de charnockitos da área de estudo. A curva de tendência, equação e respectivo valor do quadrado do coeficiente de Pearson (R2) estão indicados. 47 Tabela 4.1: Variações de elementos traços do primeiro estágio de diferenciação magmática dos charnockitos da área de estudo. Zr/Y Ba/Zr Ba/Hf 17 1,5 72 19 1,3 75 21 1,5 72 Em conclusão, a análise dos diagramas de Harker e as variações de razões de elementos traços indicam que o processo evolutivo mais provável para a série calcialcalina metaluminosa dos charnockitos da área de estudo foi cristalização fracionada, sem assimilação concomitante. A diferenciação envolveu uma mudança de assembleia fracionante. O processo teve início com a cristalização de uma assembleia tipicamente basáltica (com minerais máficos, plagioclásio, possivelmente com inclusões de apatita, e óxidos de Fe-Ti), seguido pelo fracionamento de uma assembleia tipicamente andesítica (com alcalifeldspato e zircão). Os processos de fusão parcial relacionados aos charnockitos podem ser acessados, inicialmente, investigando-se os teores de elementos traços da amostra representativa do magma parental (13SGM36A; Anexo I) utilizando-se um diagrama multielementar normalizado ao condrito (Figura 4.4). Figura 4.4: Diagrama multielementar normalizado ao condrito (Thompson, 1982) da amostra (13SGM36A) representativa do magma parental da série calcialcalina metaluminosa dos charnockitos estudados. 48 O padrão do diagrama é bastante irregular e mostra anomalias negativas em Rb, Ce, Nd, Sm e Y. Essas anomalias devem estar associadas à retenção destes elementos pelas fases constituintes da fonte residual resultante do processo de fusão parcial para a geração do magma parental charnockítico. Valores de coeficientes de partição cristal-líquido (Kd) podem ser utilizados para inferir quais teriam sido as fases retentoras e, portanto, o tipo de fonte residual envolvida no processo de fusão. É importante que os valores selecionados sejam coerentes com a geração de magma basáltico-andesítico, que caracteriza os charnockitos estudados, uma vez que a composição do magma é o principal fator controlador dos valores de Kd para as diferentes fases fracionantes ou retentoras. O Rb é um elemento químico com forte afinidade geoquímica com K, o que indica retenção por uma fase rica neste elemento, como, por exemplo, flogopita (no caso de uma fonte mantélica; Kd = 3,06; Arth, 1976) ou biotita e alcalifeldspato (no caso de uma fonte crustal). A anomalia de Ce tem que ser considerada com cuidado, uma vez que este elemento é muito susceptível à mobilização por ação de fluidos aquosos (Rollinson, 1993). A ausência de uma anomalia equivalente em La reforça a hipótese de que o Ce tenha sido mobilizado, possivelmente durante o processo metamórfico ao qual os charnockitos foram submetidos. As anomalias em elementos terras raras médios, como o Nd (Kd = 1,3395) e Sm (Kd = 1,8035), podem ser explicadas pela retenção por hornblenda na fonte residual (Fujimaki et al., 1984). De modo semelhante, a anomalia de Y (Kd = 9,00; Arth, 1976) pode ser explicada pela presença de granada residual. Nenhuma das anomalias negativas, mostradas no diagrama multielementar (Figura 4.4), pode ser explicada pela presença de piroxênio na fonte residual. Do mesmo modo, a geração das anomalias dos elementos terras raras médios não pode ser atribuída à biotita, remetendo, necessariamente, a um controle por hornblenda residual. Pelo exposto, os dados de elementos traços apresentados permitem concluir que a fonte residual resultante do processo de fusão parcial para a geração do magma parental charnockítico da série calcialcalina metaluminosa da área de estudo era constituída de alcalifeldspato, biotita, hornblenda e granada. Combinada com quartzo, essa moda é característica da crosta continental superior. Ou seja, a geração dos charnockitos deve ter envolvido a fusão parcial de uma fonte crustal continental, em oposição a uma fonte mantélica durante a subducção Mesozoica desta parte das Montanhas Rochosas na costa oeste dos Estados Unidos. 49 CAPÍTULO 5 – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 5.1 Discussões Dados experimentais mostram que fusões granodioríticas podem estabilizar ortopiroxênio sob baixa pressão (<2 Kbar) e alta temperatura (>800ºC) em magmas ricos em ferro (Nany, 1983). O elevado teor em ferro é importante porque, caso contrário, biotita se torna estável ao invés de ortopiroxênio. O campo de estabilidade dos ortopiroxênios diminui com o aumento da pressão, implicando, também em aumento da temperatura de cristalização (Figura 5.1). Outro fator importante a se considerar é a atividade de água, que deve ser baixa o suficiente para permitir a cristalização de ortopiroxênio no lugar de biotita ou hornblenda. Figura 5.1: Diagramas de relações de fases para magmas granodioríticos sob baixa pressão (c) e alta pressão (d). B = biotita, H = hornblenda, K = alcalifeldspato, L = líquido, O = ortopiroxênio, P = plagioclásio, Q = quartzo, V = vapor. O campo de estabilidade do ortopiroxênio é mostrado nas áreas cinza dos diagramas. A seta indica o deslocamento da relação de fases em função da diminuição da atividade de água devido ao valor elevado de PCO2. Ver texto para detalhes. Os resultados apresentados no Capítulo 4 indicam uma fonte crustal superior (portanto, de baixa pressão) para a formação dos magmas parentais dos charnockitos estudados. No entanto, a fusão de uma fonte deste tipo tenderia a gerar magmas hidratados do tipo granítico e granodiorítico. Esses magmas, ao cristalizarem, formam biotita e 50 hornblenda, ao contrário dos magmas charnockíticos, que cristalizam ortopiroxênio e, assim, deveriam estar relacionados à fusão de fontes devolatizadas. A fonte geradora mais provável dos charnockitos deve estar localizada nos terrenos Pré-Cambrianos, constituídos por granada quartzo-feldspato gnaisses, anfibolitos e mármores metamorfisados na fácies anfibolito superior e granulito inferior, que foram justapostos aos terrenos Mesozoicos gerados pela subducção (Capítulo 2). As rochas metamórficas de idade Paleozoica que afloram ao norte do terreno Cucamonga são constituídas majoritariamente por biotita, não tendo hornblenda como mineral característico. A necessidade de hornblenda como fase residual descarta a possibilidade do envolvimento das rochas dos terrenos Paleozoicos como fonte geradora para os charnockitos. Muito possivelmente, a formação dos magmas charnockíticos a partir de fontes volatizadas decorreu da associação de um ambiente de baixa pressão (crosta continental superior), alta temperatura (elevado gradiente geotérmico relacionado à localização da crosta acima da cunha astenosférica anomalamente quente) e supressão da atividade de água. Esta supressão deve ter resultado da percolação de fluidos ricos em CO 2 a partir dos mármores intercalados aos gnaisses nos terrenos Pré-Cambrianos. A água tem elevado calor específico e, por isso, retém mais calor. A circulação de fluidos com maior PCO2 diminui a capacidade de retenção de calor da fase vapor (V; Figura 5.1) permitindo maior condução térmica e elevação da temperatura das fases residuais sólidas coexistentes. Como consequência, poderia haver um deslocamento do equilíbrio de fases para a região de estabilidade do ortopiroxênio (seta na Figura 5.1). Isto poderia explicar a cristalização desta fase anídrica (ortopiroxênio) a partir de magmas formados pela fusão parcial de fontes volatizadas. 5.2 Conclusões O estudo desenvolvido para esta monografia permite concluir que a evolução geológica da região de Smith Ridge envolveu diferentes terrenos acrescionados durante a subducção da Placa do Pacífico na costa oeste dos Estados Unidos. A análise petrogenética dos charnockitos permitiu constatar que essas rochas são de origem magmática e foram formadas a partir da fusão parcial de porções da crosta superior anomalamente aquecidas. A fusão parcial ocorreu após a justaposição de terrenos Pré-Cambrianos a terrenos Mesozoicos por transcorrência ao longo de zonas de cisalhamento dúcteis. O calor da fusão parcial envolveu, também, os mármores intercalados às fontes anfibolíticas, incrementando a PCO2 e, consequentemente, diminuindo a atividade de vapor d´água e aumentando os processos de condução de calor dentro do sistema sob fusão. O resultado foi o 51 deslocamento do equilíbrio de fases para a região de estabilidade do ortopiroxênio, tornando possível a formação dos charnockitos. A percolação de fluidos ao longo das zonas miloníticas que delimitam os terrenos justapostos resultou no retrometamorfismo dos gnaisses e rochas metamórficas associadas dos terrenos Pré-Cambrianos, bem como no metamorfismo (basicamente volatização) da assembleia mineral originalmente anídrica dos charnockitos. Isto indica que a justaposição dos terrenos Pré-Cambrianos deve ter tido início antes de 108 Ma, precedendo os processos magmáticos e metamórficos. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUE, J.J. e BRIMHALL, G.H. (1988) - Magmatic arc asymmetry and distribution of anomalous plutonic belts in the batholiths of California: effects of assimilation, crustal thickness, and depth of crystallization. Geological Society of America Bulletin, 100, 912-927. ARTH, J.G. 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(1981) - Magma Sources in Cordilleran Settings: Arizona Geological Society Digest, v. 14, p. 39-48. 55 ANEXO I: Dados litogeoquímicos e norma CIPW das amostras estudadas. 56 57 Amostra Classificação de campo Classificação TAS (modificada) 13SGM35 Diorito Gabro (olivina toleíto) 13SGM32 Granada diorito Gabro (quartzo toleíto) 13SGM36A Charnockito Diorito 13SGM39 Charnockito Diorito 13SGM40 Charnockito Diorito 13SGM38 Charnockito Diorito 13SGM37 Charnockito Diorito 13SGM36B Charnockito Diorito 13SGM33 Granodiorito milonítico Granito 13SGM43 Granodiorito milonítico Granito Média Desvio padrão Coeficiente de variação Mínimo Máximo Amostra 13SGM35 13SGM32 13SGM36A 13SGM39 13SGM40 13SGM38 13SGM37 13SGM36B 13SGM33 13SGM43 Média Desvio padrão Coeficiente de variação Mínimo Máximo Zr 54 370 179 259 269 294 278 257 125 119 220 97 0,44 54 370 Y 17 61 10 13 13 17 15 15 10 13 18 15 0,83 10 61 Nb 15 19 13 14 13 15 15 15 11 15 14 2 0,14 11 19 V 227 106 90 88 63 81 81 76 12 9 83 60 0,72 12 227 Rb 9 4 3 3 8 5 3 6 118 126 28 49 1,74 3 126 Série Toleítica Toleítica Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Calcialcalina Ba 144 277 273 332 409 537 459 431 1216 1218 529 379 0,72 144 1218 Sr 993 541 1074 987 885 837 860 914 347 325 776 272 0,35 347 1074 SiO2 43,63 44,21 52,54 52,83 54,34 56,81 57,57 57,92 70,57 71,00 56,14 9,19 0,16 43,63 71,00 Ni 8 10 8 8 5 8 8 10 7 5 8 2 0,23 5 10 Cr 99 131 117 133 100 114 130 165 139 106 123 20 0,17 99 165 TiO2 3,19 2,70 1,76 1,58 1,38 1,45 1,44 1,39 0,14 0,13 1,52 0,95 0,63 0,14 3,19 Sc 24 27 16 19 14 14 16 18 4 5 16 7 0,47 4 27 Al2O3 Fe2O3t 19,41 9,59 18,68 15,85 20,16 7,45 19,43 7,63 17,82 6,11 17,74 7,27 17,60 7,77 18,20 6,49 13,44 2,52 12,98 2,17 17,55 7,29 2,44 3,80 0,14 0,52 13,44 2,52 20,16 15,85 MgO 4,80 3,67 2,96 2,93 2,12 2,59 2,84 1,95 0,28 0,24 2,44 1,40 0,57 0,28 4,80 MnO 0,09 0,25 0,09 0,09 0,07 0,08 0,09 0,07 0,03 0,03 0,09 0,06 0,69 0,03 0,25 Co Hf U La Ce 29 1 4 9,3 35,4 42 8 15,5 39,6 20 4 0 11,3 18,5 21 4 1 8,3 32,8 15 6 1 10,5 31,7 20 6 1 18,5 37,3 21 6 0 21,8 39,2 17 5 0 15,6 29,9 4 5 2 27,4 65,6 3 4 3 34,3 68,4 19 5 1 17,3 39,8 11 2 1 8,5 15,5 0,58 0,35 1,04 0,49 0,39 4 1 0 8,3 18,5 42 8 4 34,3 68,4 CaO 10,94 9,29 8,74 8,11 6,58 7,02 7,08 7,05 1,64 1,35 6,78 3,08 0,45 1,64 10,94 Sm 4,1 5,3 3,3 3,5 4,0 4,9 4,5 3,8 5,3 5,0 4,4 0,7 0,17 3,3 5,3 K2O 0,38 0,48 0,27 0,32 0,31 0,57 0,39 0,26 4,17 4,27 1,14 1,63 1,42 0,26 4,27 Nd 20,5 47,7 20,1 15,9 20,0 31,7 26,5 17,2 19,0 15,2 23,4 9,9 0,42 15,9 47,7 Na2O 2,92 2,69 4,84 4,05 4,03 3,79 3,83 4,42 3,47 3,32 3,74 0,66 0,18 2,69 4,84 Pr 4,0 3,6 2,1 6,4 6,6 1,0 7,3 6,8 4,7 2,4 0,50 1,0 7,3 P2O5 0,75 0,82 0,50 0,44 0,36 0,37 0,38 0,37 0,08 0,05 0,41 0,24 0,59 0,08 0,82 Ga 17 20 24 23 20 23 23 22 16 11 20 4 0,21 16 24 PF 4,24 1,27 0,58 2,48 6,70 2,13 0,86 1,71 3,44 4,13 2,75 1,89 0,69 0,58 6,70 Total 99,94 99,91 99,89 99,89 99,82 99,82 99,85 99,83 99,78 99,67 99,84 0,08 0,00 99,78 99,94 Cu Mo Cs 228 4 0 32 9 2 47 4 3 40 4 2 80 4 1 17 3 2 19 3 2 23 4 1 12 3 4 380 2 1 88 4 2 121 2 1 1,38 0,45 0,69 12 3 0 380 9 4 1 Amostra Hiperstênio Quartzo Olivina Nefelina Anortita Albita Ortoclásio Leucita Diopsídio Acmita Magnetita Hematita Ilmenita Apatita Coríndon Wollastonita Total 13SGM35 4,70 0,00 2,20 0,00 43,60 29,29 2,74 0,00 7,97 0,00 0,57 3,26 3,97 1,70 0,00 0,00 100,00 13SGM32 7,66 5,10 0,00 0,00 41,83 26,72 3,42 0,00 2,38 0,00 5,58 2,17 3,32 1,84 0,00 0,00 100,00 13SGM36A 4,15 3,55 0,00 0,00 33,91 45,09 1,78 0,00 5,32 0,00 1,61 1,53 2,03 1,03 0,00 0,00 100,00 13SGM39 5,53 9,18 0,00 0,00 36,04 38,41 2,17 0,00 2,49 0,00 2,04 1,35 1,86 0,93 0,00 0,00 100,00 13SGM40 4,75 15,56 0,00 0,00 32,47 39,40 2,14 0,00 0,47 0,00 1,48 1,25 1,67 0,79 0,00 0,00 100,00 13SGM38 4,97 16,77 0,00 0,00 31,27 35,57 3,86 0,00 1,88 0,00 2,00 1,22 1,69 0,78 0,00 0,00 100,00 13SGM37 5,38 17,47 0,00 0,00 30,94 35,60 2,62 0,00 2,08 0,00 2,30 1,16 1,66 0,78 0,00 0,00 100,00 13SGM36B 3,20 16,23 0,00 0,00 30,18 41,03 1,75 0,00 2,45 0,00 1,61 1,18 1,60 0,77 0,00 0,00 100,00 13SGM33 0,60 32,12 0,00 0,00 7,65 31,11 26,67 0,00 0,00 0,00 1,22 0,02 0,16 0,15 0,29 0,00 100,00 13SGM43 0,52 33,93 0,00 0,00 6,43 29,93 27,48 0,00 0,00 0,00 1,05 0,03 0,15 0,10 0,40 0,00 100,00 2