CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PÂMELA MORAES BRASILEIRO CORREIA O Serviço Social no NASF: uma análise do processo de trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante/Ceará FORTALEZA 2014 PÂMELA MORAES BRASILEIRO CORREIA O Serviço Social no NASF: uma análise do processo de trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante/Ceará Monografia submetida à aprovação do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, sob orientação da profª esp. Aniely Silva Brilhante, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. FORTALEZA 2014 PÂMELA MORAES BRASILEIRO CORREIA O Serviço Social no NASF: uma análise do processo de trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante/Ceará Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: ____/ ____/____ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________ Esp. Aniely Silva Brilhante _______________________________________________________________ Esp. Ana Paula Silveira de Morais Vasconcelos _______________________________________________________________ MS. Virzângela Paula Sandy Mendes Dedico este trabalho a todos que contribuíram para o meu processo de aprendizagem, em especial aos meus pais, base da minha vida. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela vida, por ter sempre me guiado a seguir o melhor caminho e me dar forças em todos os momentos. Aos meus amados pais, Marcos e Lucinda, que sempre estiveram ao meu lado incentivando a lutar pelos meus sonhos e construir um futuro melhor. Obrigada pelo amor e confiança, vocês são meu exemplo de vida. À minha irmã Nathália e ao meu cunhado Éderson, por me acolherem todos esses anos com paciência e carinho. Sem esse apoio não teria conseguido conquistar a vitória. Vocês são especiais em minha vida. À minha avó Izabel e a tia Lúcia, pessoas maravilhosas que acreditaram em mim e me ajudaram a crescer. Ao meu namorado Marcus, pelos conselhos, apoio e compreensão nessa longa trajetória. À minha admirável orientadora Aniely Brilhante, pelos ensinamentos, paciência, dedicação e compreensão, apontando o melhor caminho para a concretização deste sonho. Às minhas amigas Jordeane e Patrícia, que desde a infância estiveram ao meu lado nos momentos tristes e felizes. Às minhas técnicas Marília e Ana Carolina, pelo compartilhamento de saberes que foram essenciais para a minha formação profissional. Aos mestres com carinho pelos ensinamentos que acompanharam toda a minha vida profissional. Aos membros da banca examinadora por aceitarem o convite e contribuírem com suas considerações neste momento importante. RESUMO O presente estudo realiza uma análise sobre o processo de trabalho do serviço social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do município de São Gonçalo do Amarante/Ceará. Teve como objetivos específicos a compreensão acerca da trajetória do serviço social na política de saúde, e sua interlocução com a reforma sanitária, o Sistema Único de Saúde, a estratégia saúde da família e o NASF; debater acerca da intervenção do serviço social na estratégia saúde da família junto às demandas do território de abrangência do NASF de São Gonçalo do Amarante; sistematizar o perfil socioeconômico das assistentes sociais entrevistadas e compreender as possibilidades e desafios inerentes à atuação profissional no NASF do município. Sob essa perspectiva, destacam-se as transformações das políticas públicas sob a influência do capitalismo monopolista, da seguridade social brasileira, a política de saúde, o papel do serviço social no SUS, na ESF e no NASF. Para tal desafio, a pretensa pesquisa é de natureza qualitativa. A coleta de dados ocorreu através de pesquisa bibliográfica e de campo, com entrevistas semiestruturadas e observação direta do exercício profissional de três assistentes sociais que atuam no módulo NASF I de São Gonçalo do Amarante. A partir do material empírico investigado, o referido estudo observou que a gestão e organização da política de saúde é falha e prejudica a atuação dos profissionais. Tal reflexão apontou como contribuições do serviço social a educação em saúde, as metodologias criativas e interativas, a ênfase nas visitas domiciliares e projetos sociais. Os desafios analisados foram o trabalho intersetorial, mobilização social e participação democrática, integralidade nas respostas profissionais, flexibilização das relações de trabalho, desconhecimento sobre o NASF pela população e incompreensão sobre o serviço social. Por fim, concluiu-se que o serviço social possui papel fundamental dentro do NASF, pois detém o compromisso de efetivar o projeto ético político e garantir o direito dos usuários com promoção de autonomia e cidadania. Palavras-chave: serviço social; saúde da família; saúde pública; trabalho em saúde. ABSTRACT This study conducts an analysis of the working process of Social Work in the Support Center for Family Health (NASF) of the municipality of São Gonçalo do Amarante / Ceará. Its specific objectives to understanding the trajectory of Social Work in Health policy, and its dialogue with the Health Reform, the National Health System, the Family Health Strategy and NASF; Debate about the intervention of Social Work in Health Strategy family with the demands of the territory covered by the NASF of São Gonçalo do Amarante; systematize the socioeconomic profile of the interviewed social workers and understand the possibilities and challenges of professional practice in the municipality NASF. From this perspective, highlights the transformation of public policy under the influence of Monopoly Capitalism, Brazilian Social Security, health policy, the role of Social Work in SUS, the ESF and the NASF. For this challenge, the alleged research is qualitative in nature. Data collection occurred through a literature review and field research with semi-structured direct observation of professional practice three social workers who work in NASF I module São Gonçalo do Amarante and interviews. From the empirical material investigated, said study noted that the management and organization of health policy is flawed and undermines the work of professionals. This reflection made as contributions of Social Work, health education, creative and interactive methodologies, emphasis on home visits and social projects. The challenges were analyzed intersectoral work, social mobilization and democratic participation in professional responses completeness, flexibility of labor relations, ignorance about the NASF by population and misunderstanding about Social Service. Finally, it was concluded that social work has a primary role within the NASF, as has the commitment to carry the Political Ethics Project and ensure the right of users to promote autonomy and citizenship. Keywords: social service; family health; public health; work in health. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACS – Agente Comunitário de Saúde APS – Atenção Primária à Saúde ESF – Estratégia de Saúde da Família EqSF – Equipes de Saúde da Família LOS – Lei Orgânica da Saúde NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família OMS – Organização Mundial da Saúde PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde PNAB – Política Nacional de Atenção Básica PSF – Programa Saúde da Família SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UBS – Unidade Básica de Saúde LISTA DE GRÁFICO 1 Quantitativo do serviço social no NASF .................................................................42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 2 PERCURSOS METODOLÓGICOS .......................................................................14 3 O CAPITALISMO MONOPOLISTA NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS...........................................................................................................17 3.1 Capitalismo monopolista .....................................................................................17 3.1.1 Análise contemporânea das políticas sociais....................................................19 3.2 Seguridade social ................................................................................................23 3.3 A política de saúde e suas determinações sócio-históricas ................................27 3.4 Saúde da família ..................................................................................................34 3.5 NASF ...................................................................................................................37 3.6 NASF São Gonçalo do Amarante............ ............................................................40 4 SERVIÇO SOCIAL E EXERCÍCIO PROFISSIONAL .............................................43 4.1 Serviço social e respostas profissionais ..............................................................43 4.2 Serviço social na saúde .......................................................................................47 4.3 Serviço social na estratégia saúde da família .....................................................51 4.4 Serviço Social no NASF ......................................................................................55 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................58 5.1 Perfil dos sujeitos da pesquisa ............................................................................58 5.2 Gestão e organização da política de saúde ........................................................58 5.3 Contribuições do serviço social ...........................................................................63 5.4 Desafios postos ao serviço social .......................................................................65 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................75 REFERÊNCIAS..........................................................................................................77 APÊNDICES ..............................................................................................................82 11 1 INTRODUÇÃO Questões relacionadas à política de saúde me despertam bastante interesse, principalmente no que se refere à atuação do assistente social nas instituições dessa área. Essa curiosidade se intensificou após cursar a disciplina de Serviço Social e Saúde do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense. Assim, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) foi identificado como campo de pesquisa, pelo fato de ser uma ação governamental recente, cuja proposta é melhorar a qualidade da atenção básica em saúde. Através da pesquisa bibliográfica foi constatada a necessidade de crescimento dos estudos sobre o serviço social neste campo específico, daí a importância de se produzir uma investigação científica como forma de contribuir para a categoria profissional e para a população, que poderá ter acesso aos resultados obtidos com a presente pesquisa. Tendo em vista o aprimoramento de conhecimentos sobre o NASF, em especial sobre o processo de trabalho do serviço social, realizei estágio não curricular no referido NASF no período de julho a setembro de 2013. É importante salientar que, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), a crescente implantação dos NASF no Brasil é uma proposta que está em expansão, cujo objetivo é prestar apoio às Equipes de Saúde da Família (EqSF), a fim de melhorar a organização dos serviços de atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Após muitas discussões e pressão popular, o SUS foi aprovado na Constituição Brasileira e implementado em 1990, a partir da regulamentação da Lei Orgânica da Saúde (LOS), nº 8.080/90. É considerada uma das mais importantes conquistas para os cidadãos brasileiros. Sua principal proposta é a defesa da universalização do acesso à saúde, considerado como direito de todo cidadão e dever do Estado. (BRASIL, 1990). Os princípios do SUS são: universalidade, equidade, integralidade, resolutividade, descentralização, democratização e organização. Considerando o princípio da descentralização, as responsabilidades foram distribuídas para cada esfera do governo, ficando os municípios responsáveis pelas ações da atenção básica (BRASIL, 1990). 12 Segundo a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), (BRASIL, 2006) a atenção básica é composta por um conjunto de ações de caráter individual e coletivo que visam a promoção e a prevenção da saúde dos sujeitos, assim como tratamento de doenças e a redução de danos. Trata-se da porta de entrada do SUS, visto que promove o primeiro contato dos sujeitos com os serviços de saúde, sendo responsável pela resolução dos problemas considerados de baixa complexidade. Segundo o artigo 4º da Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080/90, o SUS é o conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público. Sua efetivação é resultado de uma série de lutas e manifestações do movimento de reforma sanitária composto por profissionais da saúde, segmentos populares, estudantes e pesquisadores, que ocorreu no período de 1976 até 1988 (PAIM, 2009). Sendo o eixo estruturante da atenção básica, a estratégia de saúde da família foi implantada em 1994, objetivando a promoção da saúde através do trabalho de equipes multiprofissionais com as famílias, procurando garantir a universalização do atendimento na atenção básica e melhorar a qualidade de vida da população (BRASIL, 2006). Visando reforçar o acesso da população aos serviços de saúde, o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008, como forma de expandir as ações da atenção básica e apoiar as equipes de saúde da família de sua respectiva região. Este é constituído por uma equipe multiprofissional que trabalha em conjunto com a equipe de saúde da família. Entre os profissionais que compõem a equipe multiprofissional do NASF está o assistente social. Este atua sobre as expressões da questão social, que de acordo com Iamamoto (2012) formam o conjunto das desigualdades econômicas, políticas e culturais decorrentes da sociedade capitalista e que impactam diretamente sobre as classes sociais. Nessa perspectiva, baseando-se nos parâmetros para atuação de assistentes sociais na saúde (CFESS, 2009), a proposta para a atuação do profissional nessa área deve estar pautada no enfrentamento das expressões da questão social que repercutem em todos os níveis de complexidade da saúde. O assistente social é imprescindível nas instituições de saúde, visto que possui a capacidade técnica de ver a realidade e buscar a essência dela, não se 13 limitando ao que a aparência lhe traz. Possui também a capacidade de compreender todos os aspectos sociais, econômicos e culturais que estão para além do problema clínico do usuário, buscando estratégias para o enfrentamento de tais questões. Visa a efetivação dos direitos do usuário, não apenas o direito à saúde, mas todos aqueles que lhes foram negados. Nessa perspectiva, esse estudo foi dividido em três capítulos. O primeiro trata da trajetória das políticas públicas no Brasil, resgatando a implantação do neoliberalismo e a reestruturação do Estado, que inaugurou um arranjo contraditório nas políticas públicas no país, dentre as quais a saúde. Em seguida, faz uma abordagem sobre a política de saúde, destacando a trajetória de criação do SUS, a política de atenção primária, a implantação do NASF no Brasil e no município de São Gonçalo do Amarante. O segundo aborda a inserção do assistente social na área da saúde, na estratégia saúde da família e no NASF, enfatizando seu papel profissional, competências e desafios que encontra para a materialização de seu trabalho. O terceiro apresenta a análise dos dados coletados e os resultados da pesquisa. 14 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa foi realizada a partir de uma abordagem qualitativa com o objetivo de analisar o processo de trabalho do serviço social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante, com fundamentação no método dialético proposto por Marx, pois favorece uma aproximação com a dinamicidade e o movimento do real, permitindo uma reflexão em que os diversos elementos dialogam entre si, numa perspectiva de totalidade. Considerou-se a abordagem qualitativa mais adequada, pois se compreende que através dela é possível captar as emoções, as atitudes, as crenças, os valores e vivências do sujeito. Como diz Minayo (2002, p. 21), “A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências, com um nível de realidade que não pode ser quantificado.” Em relação ao tipo, a pesquisa foi de essência explicativa. Esta, de acordo com Gil (2002, p. 42), “é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas”. A referida pesquisa respeita os princípios da ética em pesquisa com seres humanos, em seus critérios de autonomia, beneficência, não maleficência, justiça, privacidade e confidencialidade, como preconiza a Resolução CNS 466/2012. A concordância em participar da pesquisa foi afirmada através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (tcle) e o termo pós-informado. Os informantes tiveram suas identidades mantidas em sigilo e a preservação do anonimato ocorreu por meio da utilização de codinomes. Contudo, foram enfatizados neste termo os desconfortos ou risco de identificação, haja vista o reduzido número de entrevistados. Assim, o projeto desta pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética no dia 3 de setembro de 2013 e aprovado no dia 8 de outubro de 2013, pelo comitê de ética da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SES), tendo como número do parecer 420.642. A pesquisa de campo só teve início mediante aprovação do projeto pelo comitê de ética. Os sujeitos da pesquisa foram as três assistentes sociais que atuam no módulo NASF I do município. A mobilização destes sujeitos ocorreu por meio de contato telefônico e assinatura do TCLE. Para alcançar os objetivos da pesquisa, utilizaram-se dois procedimentos técnicos, que foram: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. A pesquisa 15 bibliográfica permitiu um levantamento de informações a respeito do objeto pesquisado, a partir da análise de produções de outros autores. A pesquisa foi respaldada nos princípios e diretrizes da reforma sanitária, do SUS, e da Estratégia Saúde da Família. Destacam-se como marcos legais a Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Saúde (LOS) 8.080/90, o Código de Ética Profissional (1993), a Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662/93, a Política Nacional de Atenção Básica (2006), Portaria de criação do NASF nº 154/08, o caderno de diretrizes do NASF, assim como obras de autores da saúde e do serviço social, como Ana Maria Vasconcelos, Elaine Bering, Inês Bravo, Ivanetti Boschetti, Jairnilson Silva Paim, José Paulo Netto, Lúcia Conde, Marilda Iamamoto e Yolanda Guerra. Na pesquisa de campo, foram coletados os dados através da utilização das técnicas de observação direta e entrevistas semiestruturadas com as três assistentes sociais do NASF sujeitos da pesquisa. A observação direta das ações cotidianas das assistentes sociais do NASF ocorreu em um período de 12 horas com cada assistente social, em um total de 36 horas. Essa observação foi essencial para a análise, visto que possibilitou a aproximação com o cotidiano profissional dos sujeitos de estudo. A experiência foi sistematizada em diários de campo, nos quais foram descritas as intervenções profissionais, bem como as minhas impressões e inquietações acerca das condições institucionais, a relação com os usuários da política e as relações interprofissionais. A entrevista semiestruturada foi direcionada por um roteiro de perguntas abertas e fechadas, previamente elaboradas, aplicada junto às três assistentes sociais do NASF, mediante prévio convite individual e oficialização por meio do TCLE. O objetivo foi coletar informações referentes ao cotidiano profissional do assistente social, contemplando as possibilidades e desafios postos à sua atuação, assim como traçar o perfil socioeconômico desses sujeitos. As entrevistadas responderem às perguntas e expuseram sua opinião em um diálogo aberto. No ato das entrevistas, após sua autorização, foi utilizado um gravador de voz, visto que possibilita o registro das falas, preservando informações imprescindíveis para a análise dos dados. Todas as entrevistas foram transcritas na íntegra. Além das falas, foram analisados também os aspectos subjetivos, tais como o silêncio e as expressões corporais. 16 A última etapa foi a análise dos dados coletados. Visando a apreensão crítica dos sujeitos do estudo, foram analisados os diários de campo e as entrevistas, refletidos à luz da teoria crítica. Após a finalização da pesquisa pela exposição à banca examinadora, a produção será socializada para os sujeitos da pesquisa em uma reunião com o serviço social do NASF. Tal ação reflete uma postura ética respaldada pelo Código de Ética Profissional do Assistente Social (1993) e representa também uma busca pela função social da pesquisa e da produção do conhecimento para uma sociedade mais justa. 17 3 O CAPITALISMO MONOPOLISTA NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS 3.1 Capitalismo monopolista O capitalismo no decorrer da história passou por transformações na sua conformação, em aspectos econômicos, sociais e políticos, podendo ser dividido em três fases distintas, a partir das considerações de Netto (2011). A primeira fase do capitalismo, denominada de capitalismo comercial, compreende o período do século XVI ao XVIII, fase de ascensão da burguesia. A acumulação de capitais era proveniente da atividade comercial e exploração de matérias-primas de países nãocentrais. A segunda fase, denominada de capitalismo concorrencial, se consolidou após a 2ª revolução industrial ocorrida na Europa no final do século XVIII e expandiu-se gradativamente para os demais países. A economia que anteriormente era baseada na atividade comercial passou para o setor da produção. A terceira fase, a qual este estudo se deteve, é denominada de capitalismo monopolista ou imperialismo, que sucede o capitalismo concorrencial. Este é caracterizado pela reestruturação produtiva, financeirização do capital, concentração e centralização de capital, fusão de grandes empresas que formam monopólios com poder de influenciar e dominar o mercado (NETTO, 2011). No sistema capitalista, a produção e a distribuição das riquezas são regidas pela lógica do mercado, sendo os preços determinados pelo jogo da oferta e da procura. Na busca frenética pelo acúmulo de capitais, o capitalismo não vê limites políticos ou morais para a sua expansão. Martinelli (1997, p. 29), a partir dos estudos de Marx, enfatiza que: [...] compreender o capitalismo como categoria histórica implica viabilizá-lo não apenas como um período histórico ou uma ordem econômica distinta. É preciso considerá-lo em sua condição de categoria histórica, social e econômica, como um modo de produção associado a um sistema de idéias e a uma fase histórica. A reestruturação produtiva e a financeirização do capital resultam em um empreendimento monopolista para expandir as bases de hegemonia no mercado, pois há uma grande centralização e concentração de capital, o que a favorece no momento da concorrência com empresas de pequeno e médio porte. Na concepção 18 de Netto (2011, p. 20, grifos do autor) “a constituição da organização monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados”. A intensificação do processo de expansão imperialista possui intrínseca relação com o desenvolvimento da industrialização nos países. No Brasil, o processo de industrialização se iniciou tardiamente, cerca de dois séculos após a revolução industrial, já no período do capitalismo monopolista. A economia no Brasil desde sua colonização era de base agrário-exportadora, especialmente a comercialização do café, a partir das primeiras décadas do século XIX, enquanto principal atividade econômica do país. Era grande a dependência com o mercado internacional, assim, com a crise de 1929, países como os Estados Unidos pararam de importar produtos brasileiros, levando o Brasil a uma decadência econômica (IAMAMOTO & CARVALHO, 2009). O marco da industrialização brasileira ocorreu no período da década de 1930 a 1940, no governo de Getúlio Vargas, que permaneceu no poder por 15 anos, ficando este período conhecido como a Era Vargas. O governo Vargas representou a busca pela modernização do país através do desenvolvimento industrial. Nesse período, ocorreram diversas modificações no país, tanto políticas quanto econômicas e sociais, bem como a emergência do movimento operário. Além do Estado voltar-se para o crescimento econômico do país, foi nesse período que começou a se responsabilizar pela questão social para “harmonia social” e disciplinamento, que até então era tratada como um caso de polícia (BEHRING; BOSCHETTI, 2009). O marco que afirmou a necessidade de regulação estatal para Mota (2011) foi a crise do capital decorrente da quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929, atrelada aos efeitos da Segunda Guerra Mundial. Após 1930, “O capital reconhece a impossibilidade de autorregulação mercantil das crises, dando lugar às propostas keynesianas, que passam a funcionar como um contraponto à ideologia do laissezfaire” (MOTA, 2011, p. 127), o que impulsionou o surgimento de políticas sociais de cunho universal em alguns países europeus. Conjuntura esta distinta do que estava sendo pautado como política social no Brasil, que ainda possuía forte caráter excludente. No Brasil, Vargas temia a ascensão e o acirramento dos movimentos autônomos, a exemplo do que acontecia com os movimentos operários europeus. 19 Assim, para conseguir a adesão e o consenso dos trabalhadores, ele estabeleceu uma série de medidas de política social de caráter preventivo, integradas no conceito de progresso social e institucional (IAMAMOTO & CARVALHO, 2009). Impulsionou, nesse intuito, a construção do sistema de proteção social no país, baseado no seguro, porém, este tinha suas limitações, visto que somente as categorias reconhecidas pelo Ministério do Trabalho poderiam ter acesso a este sistema (OLIVEIRA, 2003). Pode-se dizer que a Era Vargas foi marcada por contradições, pois Vargas mantinha posturas antagônicas, ao mesmo tempo foi moderno e conservador, autoritário e populista, elitista e paternalista. A partir da década de 1950, o crescimento industrial ganhou maiores proporções no governo de Juscelino Kubistchek devido aos incentivos para as empresas internacionais se instalarem no país. Os setores ligados ao capitalismo industrial passaram a ter poder nas decisões econômicas e políticas brasileiras. 3.1.1 Análise contemporânea das políticas sociais Em 1995 inicia-se o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, que teve como principais ações a estabilização monetária, através do Plano Real, as reformas constitucionais e a privatização de empresas estatais. O Plano Real promoveu a estabilização monetária, tendo o objetivo de combater a inflação. O sucesso dessa política favoreceu o populismo de Fernando Henrique Cardoso, sendo uma importante ferramenta para mantê-lo no poder (COUTO & ABRUCIO, 2003). Vale acrescentar que, apesar do Plano Real ter sido bem sucedido, o país passou por um processo de tensão devido ao aumento da dívida do país, o que desencadeou um descrédito do governo FHC. No entanto, na disputa da presidência entre Fernando Henrique e Lula, Fernando Henrique foi reeleito sob o argumento de que, apesar dos problemas, era melhor escolher ele do que um desconhecido, além disso, ele poderia estar mais capacitado para lidar com a crise (COUTO & ABRUCIO, 2003). De acordo com Couto e Abrucio (2003), no segundo mandato (1998-2001), FHC procurou implementar uma agenda que não se restringisse apenas à política anti-inflacionária e das privatizações, mas procurasse retomar o desenvolvimento. Então, surgiu o projeto de criação do Ministério da Produção, que teria o papel de 20 coordenar as políticas que estavam desagregadas por diversas pastas. No entanto, esse projeto não se concretizou devido ao escândalo das “fitas do BNDES”. Pode-se dizer que o governo de Fernando Henrique Cardoso teve como base os ideários neoliberais, tendo como primazia a política econômica em detrimento das políticas sociais. As políticas sociais tornavam-se focalizadas, fazendo com que os direitos sociais fossem garantidos muitas vezes pelo mercado. Em 2002 iniciou-se o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro representante da classe operária eleito presidente do Brasil, gerando expectativas de mudanças na condução da sociedade. No entanto, este governo continuou adotando medidas neoliberais, havendo continuidade da política de ajuste macroeconômica e permanecendo a limitação dos investimentos nas políticas sociais, que continuaram focalistas (SANTOS, 2012). De acordo com Santos (2012), as ações realizadas pelo governo Lula, como as políticas de transferência de renda (como o Programa Bolsa Família), que se expandiram por todo o país e o incentivo ao consumo, através da redução do IPI, possibilitaram o populismo de Lula. Porém, ao mesmo tempo, o governo atendia aos interesses da classe dominante, pois tais medidas favoreciam o aumento da produção e da economia. No campo da saúde, foram criadas propostas inovadoras, como por exemplo: a Política de Saúde Bucal, através do Programa Brasil Sorridente; Criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU); o Programa Farmácia Popular; ampliação da atenção básica através do PSF; expansão dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas, ações voltadas para a saúde do trabalhador, da população negra e do idoso. Percebe-se que, apesar de importantes, essas ações são focalizadas em grupos específicos para solucionar determinados problemas. Pode-se destacar como uma ação de grande relevância o pacto pela saúde, que traz mudanças qualitativas na saúde (MENICUCCI, 2011). No segundo mandato, houve ousadia na proposta. Enfatizaram-se, além da política de saúde, os determinantes sociais da saúde. “A perspectiva de melhoria das condições e qualidade de vida não se limita à construção do SUS, mas ao aumento da capacidade para interferir na determinação social da doença.” (MENICUCCI, 2011, p. 526). 21 Durante o governo de Lula foram criadas ações que pudessem agir sobre os demais problemas sociais, que também interferem na saúde. Pode-se destacar o Programa Fome Zero, Programa Bolsa-Família, a Política Nacional de Habitação e Saneamento, o Programa Saúde na Escola e a criação dos núcleos de apoio à saúde da família (MENICUCCI, 2011). Contudo, apesar de poucas mudanças no âmbito das políticas, as mudanças na saúde e em seus determinantes foram significativas. No que se refere às políticas de transferência de renda, pode-se compreender que estas ações são paliativas, compensatórias, pois não objetivavam combater as desigualdades sociais de modo geral, apenas amenizar os problemas, diminuir o confronto entre as classes sociais, já que o capitalismo monopolista continua sendo preservado. É importante assinalar que a consolidação de monopólios internacionais no país é resultado do forte investimento do Estado na economia, atrelado a investimentos de capital internacional. Na percepção de Netto (2011, p. 25, grifos do autor), no capitalismo monopolista [...] a intervenção estatal incide na organização e na dinâmica econômicas desde dentro, e de forma contínua e sistemática. Mais exatamente, no capitalismo monopolista, as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com as suas funções econômicas. O Estado, guiado pela lógica do sistema monopolista, passa a ter uma direção tendencionista em favor deste. Assim, utiliza vários artifícios para garantir todas as condições necessárias para a afirmação e valorização das empresas monopolistas no país. Netto (2011) afirma que a intervenção do Estado, como instância detentora de poder político e econômico, tem o objetivo de garantir os superlucros dos monopólios e, para que isso se efetive, é necessário realizar uma série de funções. Entre as principais funções destacam-se: a oferta de subsídios, o fornecimento de matérias-primas a baixo custo, energia, auxílio às empresas que se encontram em dificuldade, investimento com o dinheiro público em transporte e infraestrutura e qualificação da força de trabalho direcionada de acordo com a demanda dos monopólios. É possível compreender claramente que o objetivo maior desse sistema é maximizar os lucros através da dominação do mercado e para que isso se efetive é preciso ter, além dos recursos econômicos, um mecanismo capaz de subsidiar as 22 condições indispensáveis para tal hegemonia e legitimação política. Esse mecanismo é o Estado. Neste sentido, faz-se necessário compreender que o capitalismo monopolista é um sistema caracterizado pela exploração do trabalho, concentração de riqueza pela burguesia e pauperismo da classe trabalhadora, alienação, aumento do exército industrial de reserva e outra série de desigualdades que geram contradições e tensões entre a classe burguesa e a classe trabalhadora, sendo o Estado requisitado a mediar esses conflitos. Essas contradições geram o que José Paulo Netto (2011) denomina de sequelas da questão social. O Estado passa a intervir nas expressões da questão social através das políticas sociais como forma de administrar esse conflito. Contudo, Netto (2011) chama a atenção para o fato de que essa operacionalização das políticas sociais ocorre de forma fragmentada e individualizada. Tal política atribui ao indivíduo a responsabilidade dos problemas sociais e passa a disseminar a ideia de que os problemas estruturais são na verdade de ordem natural, descartando a culpa do sistema em produzir tais problemáticas. Iamamoto (2012, p. 173, grifos do autor) complementa tal visão e afirma que Presenciamos hoje no mundo contemporâneo uma transformação significativa dos padrões de produção e acumulação capitalista, com profundas alterações na dinâmica internacional do capital e da concorrência intercapitalista, implicando numa reestruturação dos Estados nacionais em suas relações com as classes sociais. Transformações aquelas que vêm acompanhadas de uma clara reorientação do fundo público a favor dos grandes oligopólios em detrimento da reprodução da força de trabalho, pela retração dos investimentos estatais nas áreas de seguridade social, da política salarial e do emprego. A transferência de culpa do sistema para o indivíduo é uma forma de o capitalismo garantir sua legitimação. Observa-se que, apesar do interesse econômico do Estado em se sobressair aos interesses sociais, ele precisa administrar os conflitos, como forma de evitar contestações da ordem social estabelecida pela classe trabalhadora. Esse posicionamento do Estado repercute nas políticas sociais de forma negativa, visto que estas são políticas, tornando-se cada vez mais minimalistas e focalizadas, viabilizadas não com o propósito de promover melhorias para a população, mas como meio paliativo de minimizar problemas sociais. 23 3.2 Seguridade social A seguridade social composta pelo tripé assistência social, saúde e previdência social foi legalizada na Constituição de 1988, após uma série de reivindicações da classe trabalhadora em busca da garantia de direitos sociais. Embora o capitalismo não tenha sido estruturalmente alterado, as políticas de seguridade Social representam grande avanço no que diz respeito à proteção social. No que diz respeito às políticas de proteção social, o primeiro modelo de benefício previdenciário surgiu no final do século XIX, conhecido como modelo bismarckiano. Este era caracterizado como um sistema de seguro social, identificando-se com os seguros privados, em que era preciso contribuir para ter acesso aos benefícios (BEHRING & BOSCHETTI, 2009). Com o advento da Segunda Guerra Mundial, foi criado o plano Beveridge, com fortes críticas aos preceitos do modelo bismarckiano ao defender os direitos como universais, em que o Estado garantiria mínimos sociais para aqueles que necessitassem, sem ser necessária a contribuição (BEHRING & BOSCHETTI, 2009). As políticas sociais surgiram de forma diferenciada em cada país, sendo que os modelos de seguridade social em diversos países assumiram características tanto do modelo beveridge como do bismarckiano, por isso Boschetti (2009) afirma que é difícil falar que há um “modelo puro”. As políticas sociais no Brasil começaram a ser introduzidas entre os anos de 1930 e 1943, desenvolveram-se de forma lenta e seletiva. Os impactos da crise de 1929 atingiram o Brasil, deixando a economia vulnerável. Além disso, nesse período iniciava-se o desenvolvimento industrial no país, que gerou diversos problemas sociais, acarretando também a mobilização da classe trabalhadora contra o sistema. Pode-se dizer que a seguridade social brasileira é híbrida, orientada pela combinação dos modelos bismarckiano e beveridgiano. A previdência social baseiase nos princípios do modelo bismarckiano, sob a lógica do seguro social, enquanto a saúde e a assistência social sustentam-se nos pilares do modelo beveridgiano (BOSCHETTI, 2009). Os primeiros benefícios previdenciários foram instituídos no Brasil em 1923, com a Lei Elóy Chaves e a instituição dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que garantiam acesso às políticas de previdência e de saúde somente para 24 quem contribuía, majoritariamente grupos de trabalhadores formais. Já a assistência social passou por um longo período sem reconhecimento legal, sendo associada à filantropia. Esse sistema de proteção social, por ter critérios de acesso como a contribuição para a previdência e saúde e a comprovação da pobreza para a assistência, pode ser caracterizado como desigual e excludente, pois a sua cobertura não era estendida para todos. No período do regime militar instaurado após o golpe de 1964, consolidou-se um governo autoritário e repressor, que buscava desenvolver o país economicamente, disseminando a ideia de que o desenvolvimento social estaria atrelado ao crescimento econômico. Porém, isso de fato não aconteceu, pois apesar de ter ocorrido um elevado crescimento econômico, as riquezas provenientes dele concentraram-se nas mãos de pequena parcela da sociedade. Enquanto isso, “o Estado militar-tecnocrático promove algumas mudanças no âmbito das políticas sociais, procurando funcionalizar essas demandas de acordo com o seu projeto político, por meio da expansão seletiva de alguns serviços sociais.” (MOTA, 2011, p. 137, grifos do autor). Behring e Boschetti (2011, p. 137) consideram que no mesmo passo em que se impulsionavam políticas públicas, mesmo que restritas quanto ao acesso, como estratégicas de busca de legitimidade, a ditadura militar abria espaços para a saúde, a previdência e a educação privadas, configurando um sistema dual de acesso às políticas sociais: para quem pode e para quem não pode pagar. Essa era uma estratégia para conter as massas e possíveis contestações do sistema. Entretanto, as políticas sociais tinham caráter assistencialista e focalista, além disso, a previdência e a saúde foram ampliadas para o setor de serviços, ou seja, foram privatizadas, não trazendo benefícios para a população de forma geral. Nesse contexto, na década de 1970, diante das disparidades econômicas, sociais e políticas, a população passou a se mobilizar em busca de extinguir esse regime ditatorial. Assim, Mota (2011) assinala que na década de 1980, com a pressão popular em busca da redemocratização do país, novas mudanças aconteceram com a elaboração da Constituição Federal de 1988, inclusive no âmbito das políticas de proteção social. A partir da promulgação da Constituição de 1988, a seguridade social como política pública de proteção social passou a englobar as políticas de saúde, 25 assistência social e previdência de forma reorganizada, sob novos princípios e diretrizes. Foram instituídas novas fontes de financiamento, universalização dos serviços e maior participação dos indivíduos na gestão (MOTA, 2011). Mota (2011, p. 143) enfatiza que, “apesar de reconhecermos que os direitos sociais equalizam o direito de acesso, entendemos que o seu exercício é sempre condicionado por processos sociais reais e que não estão subordinados aos estatutos legais, mas às relações de força entre classes.” Pode-se compreender que a efetivação de uma política não vai acontecer apenas porque ela foi legitimada em uma lei. Para que aconteça a sua efetivação real é necessário haver uma conjuntura política, econômica e social favorável. Vale destacar que a política de seguridade social, apesar de ter sido conquistada legalmente, não surge em um contexto social favorável para sua implementação, tal como estava estabelecida na constituição. A reforma do Estado brasileiro, a partir de 1990, ocorreu num contexto de crise do capital e do regime ditatorial atrelada à ascensão do neoliberalismo, que desencadeou mudanças nas políticas sociais. O país estava econômica e politicamente fragilizado devido à crise econômica de 1980, gerada por dívidas internas e externas. Assim, quando a ideologia neoliberal se implanta no país a partir da década de 1990, ocorre um verdadeiro retrocesso no campo da proteção social (MOTA, 2011). As medidas neoliberais adotadas pelo Brasil apontavam a superação da crise através da reestruturação do papel do Estado via medidas de ajuste fiscal, estabilização monetária, liberdade do mercado e a diminuição da proteção social do Estado, conhecidas como contrarreforma. A contrarreforma do Estado tinha como objetivo a condução a um Estado fortalecido, como finanças recuperadas e uma administração gerencial e eficiente, com vistas a superar a chamada administração pública burocrática, tendo como componentes básicos: a delimitação das funções do Estado, a redução do grau de interferência do Estado, o aumento da governança e da governabilidade (BRAVO; MATOS, 2002, p. 206). A grande ofensiva neoliberal diz respeito à garantia da proteção social, pois, nesta visão, o investimento nas políticas sociais é um gasto desnecessário, visto que não traz retorno em termos econômicos. Dessa forma, para garantir a estabilização econômica fazia-se necessário ter o mercado como regulador tanto das relações econômicas quanto das sociais. 26 Tendo como primazia a política econômica em detrimento da política social, o Estado reduz investimentos na área social e se configura como Estado mínimo, ou seja, garante apenas mínimos sociais, transferindo a responsabilidade para o mercado e para a sociedade civil. Sendo o mercado o meio de garantir a expansão do capital, nesse contexto é ideologizado como mais eficiente em detrimento ao público, havendo assim uma santificação do privado e satanização do público (BEHRING, 2009). Já a sociedade civil é constantemente convocada pelo Estado para assumir as responsabilidades sociais sob o discurso de que através da solidariedade e da ajuda mútua a sociedade conseguiria se manter harmônica e resolver os problemas. Os impactos dessa reestruturação do Estado na seguridade social significou um retrocesso na garantia dos direitos historicamente conquistados. Os princípios de universalidade, equidade e integralidade que deveriam orientar as políticas de saúde, assistência social e previdência cedem lugar à precarização, privatização e focalização. Conforme Behring e Boschetti (2011, p. 161) “os direitos mantidos pela seguridade social se orientam, sobretudo, pela seletividade e privatização, em detrimento da universalidade e estatização”. A política de saúde, que teve como maior conquista o Sistema Único de Saúde (SUS) fundamentado no direito da cidadania, está caracterizada por serviços de baixa qualidade. A saúde pública está passando por um processo de privatização dos serviços devido às influências neoliberais (BEHRING & BOSCHETTI, 2011). A assistência social, que deveria ser destinada a quem dela necessitar, está se materializando sob critérios rigorosos de seletividade. Para ter acesso aos serviços assistenciais é necessário cumprir diversas condicionalidades, como, por exemplo, estar inserido em determinados grupos (idosos, pessoas com deficiência etc.) e/ou em situação de extrema vulnerabilidade social. Suas ações caracterizamse pela ênfase em programas de transferência de renda de caráter meramente compensatório (BOSCHETTI, 2009). A previdência social continua baseada na lógica do seguro social destinando seus benefícios apenas para parcela da população (trabalhadores) que contribuíram previamente (BEHRING & BOSCHETTI, 2011). Segundo ainda estes autores, essa tendência de desmonte da seguridade social também tem como fator determinante a condição do orçamento público destinado às políticas sociais, que é submetido à política econômica. 27 Segundo o artigo 195 da Constituição Federal de 1988, a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e de contribuições sociais. No entanto, Boschetti (2009, p. 15) analisa que O repasse de receitas do Tesouro Nacional (orçamento fiscal) para a seguridade social vem sendo reduzido progressivamente, ou seja, o recurso do orçamento fiscal, que deveria ir para a seguridade social, conforme determinação constitucional, está sendo utilizado para outras destinações. Em conformidade com a análise de Boschetti (2009), Salvador (2010, p. 626) considera que o orçamento da seguridade social continua perdendo recursos de suas fontes tributárias “exclusivas” devido à transferência de recursos para o orçamento fiscal por meio da Desvinculação das Receitas da União (DRU). A DRU transforma os recursos destinados ao financiamento da seguridade social em recursos fiscais para a composição do superávit primário e, por consequência, a sua utilização em pagamento de juros da dívida. Além da desestruturação ocasionada pelos ideais neoliberais, os recursos da seguridade social que poderiam ampliar seus serviços acabam sendo utilizados pelo governo para a amortização da dívida externa do país. Salvador (2010, p. 628) aponta que “é necessário restabelecer, imediatamente, as bases de financiamento dos direitos sociais assegurados pela Constituição.” Em suma, apesar das políticas de saúde, assistência social e previdência estarem legitimadas na Constituição de 1988, são encontrados limites na sociedade capitalista para sua verdadeira efetivação. Os serviços que deveriam ser públicos e universais são acessados a partir de duas vias: pelo setor privado, para aqueles que podem pagar pelos serviços e pelo setor público, para os que comprovem extrema pobreza. 3.3 A política de saúde e suas determinações sócio-históricas O Sistema Único de Saúde (SUS), integrante da política de seguridade social, reconhece a saúde como direito social, podendo ser considerada como uma das mais significativas conquistas da sociedade brasileira. A implantação do SUS no Brasil é resultado de uma série de lutas que culminou no reconhecimento da saúde como um direito de todos e dever do Estado, que presta assistência integral e 28 gratuita. Pautado na concepção de seguridade social, o SUS supõe uma sociedade democrática, regida por valores de igualdade, cidadania e livre de discriminações. A saúde antes da construção do SUS era entendida como o estado de ausência da doença. Era levado em consideração apenas o aspecto físico e biológico do sujeito para saber se estava com saúde ou doente. Nesse período, a política de saúde era dividida em dois subsetores: a saúde pública, que tinha como foco os serviços de combate às endemias e as campanhas sanitárias de caráter impositivo e autoritário prevaleceu até meados da década de 1960 e a medicina previdenciária a partir de 1966, que se pautava em ações individuais de caráter curativo (BRAVO, 2009). A medicina previdenciária teve início a partir de 1930, com a criação das caixas de aposentadoria e pensões (CAPs), organizadas no interior das empresas para os trabalhadores. Posteriormente, transformaram-se nos institutos de aposentadorias e pensões (IAPs), organizados em nível nacional, representando certas categorias de trabalhadores. Já em 1966, esses IAPs foram unificados e transformaram-se no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A lógica desse sistema previdenciário era prestar assistência médica apenas para aqueles que trabalhavam de carteira assinada e contribuíam previamente (PAIM, 2009). Bravo (2009, pp. 92-93) esclarece que “a assistência médica previdenciária, até 1964, era fornecida basicamente pelos serviços próprios dos Institutos”. A forma como a assistência à saúde estava organizada era precária, pois não atendia às necessidades da população de um modo geral. O setor público apresentava-se defasado, faltavam investimentos econômicos destinados à saúde pública. Pode-se perceber que a saúde não era vista como prioridade. No período de ditadura militar, caracterizado pelo autoritarismo, repressão aos movimentos populares, censura e utilização de métodos violentos contra os opositores ao regime, o Estado intervinha através do binômio repressãoassistência, ampliando e burocratizando a política assistencial como forma de aumentar o poder sobre a sociedade e amenizar as tensões sociais (BRAVO, 2009). Uma das ações interventivas do Estado foi a unificação em 1966, dos IAPs no INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), desmobilizando politicamente os trabalhadores da gestão da previdência, ficando-lhes apenas o papel de 29 financiadores. O objetivo era legitimar o controle social e regulatório estatal (BRAVO, 2009). No processo de abertura política por meio de eleições, em meados da década de 1970, foi possível a reorganização de movimentos sociais, destacandose o movimento de reforma sanitária na luta pelo direito à saúde. Este era composto por profissionais da saúde, segmentos populares, estudantes e pesquisadores (PAIM, 2009). Quando a ditadura militar havia sido superada, já na década de 1980, a sociedade brasileira passava por intenso processo em busca da democratização política e, ao mesmo tempo, vivenciava uma profunda crise econômica que se evidenciou na ditadura militar. Dessa vez, era proposta a universalização do acesso à saúde, transformando-se em um direito social e dever do Estado, além de ser necessário haver a democratização do poder e reordenamento do setor (BRAVO, 2009). O movimento de reforma sanitária no Brasil não aconteceu de forma isolada. A discussão sobre a saúde pública acontecia em âmbito internacional, podendo destacar nesse processo a realização de duas grandes conferências internacionais que tiveram como produto das discussões dois importantes documentos: a Declaração de Alma-Ata (1978) e a Carta de Ottawa (1986). A Declaração de Alma-Ata foi resultado da primeira conferência internacional sobre cuidados primários de saúde, realizada em Alma-Ata (antiga URSS) no ano de 1978. Sua intenção era estabelecer a saúde como direito fundamental de todo o ser humano, assim como a promoção de políticas de saúde através da ênfase nos cuidados primários. Além disso, assinalava ser necessário que todos os governos cooperem, num espírito de comunidade e serviço, para assegurar os cuidados primários de saúde a todos os povos, uma vez que a consecução da saúde do povo de qualquer país interessa e beneficia diretamente todos os outros países (BRASIL, 2001, p. 33). Tinha como lema “Saúde para todos até o ano 2000” (BRASIL, 2001). A partir dessa declaração, a atenção primária foi consagrada como estratégia para melhorar a saúde. Já a Carta de Ottawa resultou da primeira conferência internacional sobre a promoção de saúde, que aconteceu no Canadá no ano de 1986. Essa carta de intenções foi o marco das discussões sobre promoção da saúde, que passou a ser definida como 30 processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente (BRASIL, 2001, p. 19). Essa discussão internacional refletiu no movimento de reforma sanitária brasileiro, que tinha o objetivo de criar um sistema que considerasse a saúde como um direito, sem ser necessário contribuir diretamente ou provar condição de pobreza. Lutava-se contra o autoritarismo e em busca da ampliação dos direitos sociais. A população estava mobilizada em busca da garantia de seus direitos e melhoraria na qualidade de vida, visto que vivia em situações precárias. O marco para essas discussões foi a VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986, em que foi discutida a proposta do novo modelo de organização da saúde. Participaram segmentos da sociedade civil, profissionais da saúde, sindicatos e partidos políticos, totalizando cerca de 4.500 pessoas, dentre elas mil delegados (BRAVO, 2009). Segundo Bravo (2009, p. 96) As principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram a universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema Unificado de Saúde, visando um profundo reordenamento setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder local através dos novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde. Paim (2009) ressalta que ocorreu uma resistência por parte de alguns grupos sociais ligados ao modelo médico privatista. Estes temiam que a implantação desse sistema de saúde universal atrapalhasse seus negócios e, assim, buscaram garantir legislações que também os favorecessem. Após muitas discussões e pressão popular, em 1988 o SUS foi aprovado na Constituição Brasileira e implementado em 1990 a partir da aprovação da Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei nº 8.080/90. A participação do setor privado no sistema de saúde foi denominada de sistema de saúde complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo proibida a destinação de recursos às instituições que possuíam fins lucrativos. Com a aprovação da Constituição Federal de 1988, a política de saúde avançou. A saúde passou a ser um direito de todo cidadão e um dever do Estado, sendo o seu acesso universal e gratuito. No entanto, coexistiu com políticas de 31 repressão e retrocesso. Prova disso foi a Lei nº 8.142/90, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS, garantindo o controle social através dos conselhos de saúde e das conferências de saúde, bem como o seu financiamento. Tal lei foi criada em resposta ao boicote dos eixos financiamento e participação social, que deveriam estar na lei 8.080/90, mas embargadas pelo presidente Collor. Foram criadas também as normas operacionais básicas (NOB) “que é um instrumento jurídico-institucional editado periodicamente pelo Ministério da Saúde para aprofundar e reorientar a implementação do SUS” (ROSA & LABATE, 2005, p. 4). O SUS se legitima, portanto, como “Um sistema organizado em rede regionalizada e hierarquizada, de gestão compartilhada, cujas ações e serviços são negociados em instâncias de pactuação, envolvendo as três esferas do governo” (ANDRADE; BARRETO; PAULA, 2011, p. 37). Fundamenta-se pelos princípios doutrinários: universalidade, que garante a saúde como um direito fundamental de todos os brasileiros sem ser necessário pagar para ter acesso aos serviços e dever do Estado; integralidade significa prestar assistência a todas as necessidades das pessoas com a finalidade da promoção da saúde, prevenção e cura da doença; equidade, que significa prestar atendimento sem desigualdades, preconceitos ou privilégios. Os demais princípios denominados organizativos são: regionalização e hierarquização, descentralização e comando único e participação popular. A saúde passou a ser compreendida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, mas como um direito humano. A saúde tem como determinantes: o ambiente, a alimentação, a moradia, renda, prática de esporte etc. Todos esses fatores influenciam a boa qualidade de vida. Segundo o parágrafo 1, do artigo 2º, da Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080/90, O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. 32 De acordo com a LOS, a atenção integral à saúde deverá ocorrer através de três vias: ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde. A promoção da saúde é uma estratégia para buscar a melhoria da qualidade de vida da população. Paim (2009) considera que, para promover a qualidade de vida é necessário garantir o acesso à educação, lazer, ambiente saudável, cultura, paz etc. visto que estes fatores interferem diretamente na saúde do indivíduo. Czeresnia (1999, p. 47) afirma que “A idéia de promoção da saúde envolve a de fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos condicionantes da saúde”. No que se refere à proteção, esta está intrinsecamente relacionada às ações específicas de redução e/ou eliminação dos riscos à saúde. Tem como objetivo o controle da propagação de doenças. Já no que diz respeito à recuperação, Paim (2009) afirma que é necessário ter um diagnóstico precoce como forma de evitar o agravo da doença. As medidas mais adotadas para a recuperação da saúde são a atenção à saúde na comunidade e a assistência médica ambulatorial, hospitalar e domiciliar. Visando a resolutividade no atendimento das demandas de acordo com o nível de complexidade, o SUS foi dividido em três níveis: atenção primária, atenção secundária e atenção terciária. A atenção primária é considerada a porta de entrada do SUS, visto que compreende os serviços de maior frequência e menor densidade, tendo como foco as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. Os serviços são prestados em unidades básicas de saúde ou postos de saúde, sendo a saúde da família sua principal estratégia. Esse nível de atenção deve estar presente em todos os municípios. Na atenção secundária, os serviços são de média complexidade e os atendimentos são realizados em ambulatórios e hospitais. Já a atenção terciária integra serviços de alta complexidade prestados em hospitais de grande porte que dispõem de um conjunto de recursos tecnológicos de alto custo. Logo após o reconhecimento da saúde na constituição como um direito de todos e dever do Estado, a crise econômica vivenciada pelo país no final da década de 1980 e início de 1990 criou um ambiente adverso para a implementação do SUS tal como está estabelecido na lei. Conforme Bravo (2009, p. 99) No final da década de 1980, já havia algumas dúvidas e incertezas com relação à implementação do Projeto de Reforma Sanitária cabendo destacar: a fragilidade das medidas reformadoras em curso, a ineficácia 33 do setor público, as tensões com os profissionais de saúde, a redução do apoio popular face a ausência de resultados concretos na melhoria da atenção à saúde da população brasileira. Verifica-se que a reestruturação do papel do Estado e a ascensão do neoliberalismo redimensionaram a política de saúde, tendo em vista a mercantilização da saúde e o assistencialismo. O projeto saúde articulado ao mercado ou de reatualização do modelo médico assistencial privatista, pautado na Política de Ajuste, tem como principais tendências a contenção dos gastos com racionalização da oferta e a descentralização com isenção de responsabilidade do poder central e focalização (BRAVO, 2010, p. 12). Consta na LOS que a saúde deve ser financiada mediante recursos provenientes do orçamento da seguridade Social, da União, dos Estados, e municípios e do Distrito Federal. Porém, com a reestruturação do papel do Estado há uma redução do financiamento público para esta política e crescimento da saúde suplementar (serviços privados de saúde). A redução do financiamento gera uma precariedade dos serviços oferecidos pelo SUS e, consequentemente, causa insatisfação na população e reforça a privatização dos serviços, sob a lógica da acumulação capitalista. Como observa Bravo e Matos (2002, pp. 211-212) “as proposições da contrarreforma na saúde pretendem que os trabalhadores sejam os novos financiadores do capital através dos planos de saúde privados, com a despolitização da esfera pública e a defesa da solidariedade interclasses”. A política de saúde apresenta-se cada vez mais defasada e uma crescente parcela da população tem aderido a planos de saúde privados ou atendimentos particulares como forma de evitar as dificuldades de atendimento e transtornos encontrados no sistema público de saúde. Porém, este tipo de medida é apenas paliativo, não resolve o problema em sua totalidade. É inegável que houve avanços na política de saúde, entretanto, a atual configuração do SUS transfigura para a sociedade a imagem de um sistema ineficiente, falho e burocrático. Assim, o SUS acaba sendo designado como plano de saúde para os pobres. Nas palavras de Paim (2009, p. 73, grifos do autor) “O SUS para pobres reflete uma ideia de que a saúde pública é coisa para pobre. [...] 34 Assim, prevalece a concepção de um sistema de proteção social residual, baseado na assistência dos que não podem resolver seus problemas no mercado”. Nesse contexto, a participação da sociedade civil nas políticas públicas pode ser considerada como importante mecanismo para reverter esse processo de sucateamento do SUS. Como bem enfatiza Bravo e Matos (2002, p. 212, grifos do autor). “Para viabilizar a democratização na saúde, na direção das conquistas sociais necessárias, sugere-se o aprofundamento do controle social, visando à construção de uma esfera pública de saúde”. Considera-se, assim, que devido a atual conjuntura social baseada na política de ajuste neoliberal, em que o Estado posiciona-se minimamente em favor das políticas sociais públicas, a política de saúde ainda não foi plenamente legitimada de acordo com o que está estabelecido constitucionalmente gerando uma contradição entre o real e o constitucional. Entretanto, é necessário reconhecer que o SUS foi uma importante conquista, sendo crucial haver empenho para sua efetivação enquanto direito baseado na democracia. 3.4 Estratégia saúde da família A estratégia saúde da família (ESF) é uma estratégia de atenção integral à saúde e de reorientação do antigo modelo de assistência médica tecnicista e hospitalocêntrico. Pautada na vertente da atenção primária e nos princípios do SUS, busca reduzir os riscos à saúde e promover a qualidade de vida. Conforme foi assinalado anteriormente, antes da criação do SUS, houve debates em âmbito internacional acerca da ideia de cuidados primários da saúde e da criação de sistemas de saúde com caráter universal. A Declaração de Alma-Ata, documento resultante da I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, 1978, foi o “Marco da discussão da atenção primária no mundo que passou a reorientar os serviços de saúde, estimulando estratégias de promoção da saúde no âmbito local e reconhecendo os limites de um modelo eminentemente biomédico” (ANDRADE, BARRETO & PAULA, 2011, p. 26). A partir da Declaração de Alma-Ata a Atenção Primária à Saúde (APS) foi identificada como o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde (BRASIL, 2002). Atualmente, a principal estratégia do APS no Brasil é a ESF. 35 O enfoque na saúde da família teve início em 1986 através do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) que se iniciou no estado do Ceará, cuja proposta era expandir os serviços de saúde para as áreas consideradas mais pobres, tendo como principal objetivo diminuir a mortalidade infantil e materna. A partir da experiência do PACS no Ceará, o Ministério da Saúde reconheceu a importância das ações do Programa, e em 1991 o PACS expandiu-se para outros Estados. A família e não mais somente o individuo passou a ser objeto estratégico de ações dos serviços de saúde. Em 1993, através do Ministério da Saúde, surge o Programa Saúde da Família (PSF), demonstrando a importância agregada à família no campo das políticas sociais (ROSA & LABATE, 2005). Nesse intuito, as normas e diretrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do Programa Saúde da Família foram aprovadas pela Portaria GM/MS Nº 1.886, de 18 de dezembro de 1997. Pautado na vertente da atenção primária, o Programa Saúde da Família deixou de ser considerado um programa e transformou-se em estratégia em 1994, passando a ser chamado de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Segundo a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a atenção primária é composta por um conjunto de ações de caráter individual e coletivo que visam a promoção e a prevenção da saúde dos sujeitos, assim como tratamento de doenças e a redução de danos. Trata-se da porta de entrada do SUS, visto que promove o primeiro contato dos sujeitos com os serviços de saúde, sendo responsável pela resolução dos problemas considerados de menor complexidade (BRASIL, 2006). Através do trabalho de equipes multiprofissionais com as famílias, procura-se garantir a universalização do atendimento na atenção básica e melhorar a qualidade de vida da população (BRASIL, 2006). Conforme esclarece Andrade, Barreto e Paula (2011, p. 38) A ESF veio essencialmente como uma oportunidade de expansão do acesso à atenção primária para a população brasileira, de consolidar o processo de municipalização da organização da atenção à saúde, e de facilitar o processo de regionalização pactuada entre municípios para garantir a integralidade de assistência à saúde a partir da atenção primária, que deveria atuar como ordenadora do SUS. A criação da ESF pode ser considerada uma forma de materializar os princípios do SUS, levando os serviços de saúde para mais perto das famílias com o intuito não apenas de curar doenças, mas de promover a saúde. 36 As equipes de saúde que atuam na estratégia saúde da família devem ser formadas por uma equipe multiprofissional, que precisa se aproximar da família no ambiente em que vive para compreender a realidade desses sujeitos e assim realizar intervenção a fim de promover a saúde. Cada equipe de saúde da família deve ser composta por, no mínimo, um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde, que ficam responsáveis pela cobertura de no máximo 4.000 pessoas de seu território de abrangência (BRASIL, 2010). Contudo, apesar da ESF ser um importante componente estruturante do SUS, é marcada por certas contradições e desafios que são postos para a sua materialização. Em pesquisa realizada por Serapioni e Silva em 2006 em 10 municípios do estado do Ceará, constatou-se que há a necessidade de melhorar a estrutura física e o ambiente de trabalho das equipes dos PSF. Outra dificuldade diz respeito ao processo de trabalho, pois devido à grande demanda de assistência ambulatorial, os profissionais ficam impossibilitados de realizar visitas domiciliares e atividades de promoção da saúde, consideradas de extrema importância. Em relação aos usuários, Serapioni e Silva (2006) constataram que há um elevado grau de satisfação com a qualidade dos serviços. No entanto, os pesquisadores ressaltam que é importante levar em consideração o contexto socioeconômico dessas pessoas, pois para quem mora no interior onde o acesso a serviços de saúde sempre foi difícil, o simples fato de ser atendido por um médico já pode gerar satisfação. Uma contradição apontada por Teixeira (2002) consiste no fato de que esse tipo de política acaba servindo a uma necessidade compensatória e de baixo custo, funcionando como controle social do Estado, de forma a atenuar conflitos. Muitas vezes essa política é vista como exclusiva para a parcela pobre da sociedade. Teixeira (2002, p. 242) afirma que um grande desafio é prestar a atenção integral à saúde, para que “o PSF seja visto como estratégia de ação e não mais um programa verticalizado/centralizado”. Atrelado a esse desafio, a supracitada autora considera que esse modelo de assistência “tende a reproduzir a prática médica que trata de patologias e não de cidadãos.” (TEIXEIRA, 2002, p. 238). Isso ocorre porque os profissionais continuam tendo a visão de que o mais importante é tratar a doença, não conseguindo enxergar os usuários em sua totalidade, como sujeitos sociais. 37 A necessidade de capacitação dos profissionais também foi verificada por Rosa e Labate (2005), pois estes tendem a atuar centralmente na produção do cuidado e da cura, deixando em segundo plano as demais atribuições da estratégia. Esse posicionamento é reflexo tanto da formação acadêmica quanto social, sendo importante as universidades e o Ministério da Saúde discutirem e reformularem a grade curricular da graduação dos profissionais da saúde (TEIXEIRA, 2002). Para haver mudança na condução dos serviços é preciso primeiro capacitar os profissionais. No contexto contemporâneo, a reestruturação do papel do Estado que atinge as políticas públicas tornando-as minimalistas, impactou também a condução do PSF. Assim, o PSF pode significar uma faca de dois gumes: ou permanece focalista, como uma política compensatória e de controle social, restringindo-as à seletividade e ‘cestas básicas’, sem reconhecer os direitos sociais; ou consegue tomar outra direção, mais justa e realmente estratégica para a reorganização do sistema de saúde e pela necessidade de implantar um novo modelo assistencial de atenção integral, consolidando o SUS, através da participação popular, pois assim contribui também para mudanças básicas na sociedade, como um projeto democrático que se impõe. (TEIXEIRA, 2002, p. 253). Portanto, a proposta da ESF promoveu avanços significativos no modelo de assistência à saúde. Entretanto, fazem-se necessários mais investimentos, tanto no financiamento quanto na capacitação dos profissionais, para que se possa manter uma relação mais próxima com as famílias, com a comunidade e firmar o compromisso de prestar assistência integral aos usuários. 3.5 NASF Visando expandir as ações da atenção primária, apoiar as equipes de saúde da família de sua respectiva região e reforçar o acesso da população aos serviços de saúde, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008 (BRASIL, 2010). A supracitada portaria tem como pressupostos várias políticas nacionais como: a política de atenção básica; de promoção da saúde; de integração da pessoa com deficiência; de alimentação e nutrição; de saúde da criança e do adolescente; de atenção integral à saúde da mulher; de práticas integrativas e complementares; 38 de serviço social; de assistência farmacêutica; da pessoa idosa; de saúde mental; de humanização em saúde, além da política nacional de assistência social (BRASIL, 2010). O NASF orienta-se em um modelo de apoio matricial que é formado por um conjunto de profissionais que não precisam ter, necessariamente, relação direta com o usuário, nem se constituem como porta de entrada das demandas. As atribuições destes serão de prestar assessoria às equipes de saúde da família com conhecimentos especializados, através de suporte assistencial e técnico- pedagógico. Tendo como dimensões o suporte assistencial e técnico-pedagógico, o objetivo do apoio matricial é reorganizar a relação entre as equipes de referência para que possam trabalhar as dificuldades e problemas mais comuns no processo de trabalho, estimulando o trabalho interdisciplinar (BRASIL, 2010). Na concepção de Silva (2012, pp. 30-31), O NASF não se constitui como porta de entrada do sistema para os usuários, mas sim como apoio às equipes de saúde da família, pois é entendido como uma potente estratégia para ampliar a abrangência e a diversidade das ações das Equipes Saúde da Família, bem como a resolubilidade, uma vez que promove a criação de espaços para produção de novos saberes e ampliação da clínica. Atua em parceria com os profissionais das ESF, compartilhando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das mesmas. O NASF orienta-se pelos seguintes princípios e diretrizes: integralidade, ação interdisciplinar e intersetorialidade; educação permanente em saúde dos profissionais e população; desenvolvimento da noção de território; humanização da saúde; participação social, educação popular e promoção da saúde (BRASIL, 2010). É composto de nove áreas estratégicas, que são: saúde da criança/do adolescente e do jovem; saúde mental; reabilitação/saúde integral da pessoa idosa; alimentação e nutrição; serviço social; saúde da mulher; assistência farmacêutica; atividades físicas/práticas corporais; práticas integrativas e complementares. (BRASIL, 2010). Segundo o Ministério da Saúde (2010), o NASF deve ser constituído por uma equipe interdisciplinar, composta por profissionais de áreas de conhecimento distintas: assistente social; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; educador físico; nutricionista; terapeuta ocupacional; médico ginecologista; médico homeopata; médico acupunturista; pediatra e psiquiatra. Estes irão atuar em conjunto com os profissionais das ESF. A composição dos profissionais será 39 definida pelos gestores a partir da identificação e análise das necessidades do território. (BRASIL, 2010). O acesso ao atendimento dos profissionais do NASF se dá por meio de encaminhamento feito por um médico, dentista ou enfermeira de uma equipe de saúde da família. O NASF pode atuar fazendo atendimentos coletivos e em parceria com outras secretarias, tais como: educação, esporte, turismo, ação social, prójovem, entre outras. De acordo com a portaria Nº 256, de 11 de março de 2013, existem três modalidades de NASF: o NASF 1, devendo estar vinculado a no mínimo cinco e no máximo nove EqSF; o NASF 2, que deverá se vincular a no mínimo três e no máximo quatro EqSF e o NASF 3, que deverá se vincular a no mínimo uma e no máximo duas EqSF. Fica sob a responsabilidade do gestor a definição dos profissionais de cada tipo de NASF, levando-se em consideração as necessidades prioritárias do local. A implantação do NASF está acontecendo em vários municípios do Brasil. Segundo dados da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (2012), no período de janeiro de 2008 a outubro de 2012, já foram criados 1.512 NASF 1 e 345 NASF 2, num total de 1.857. Essa mesma pesquisa aponta que no Ceará, até 2012, foram implantados 147 NASF 1 e 17 NASF 2. Almeida (2009) acredita que o NASF poderá contribuir para a melhor compreensão do conceito de saúde dentro das equipes de saúde da família, assim como melhorar a qualidade dos serviços prestados para os usuários, contribuindo para uma mudança cultural da população a respeito dos componentes do SUS e dos processos de saúde-doença. Assim, o NASF constitui uma rede de cuidados através da relação articulada com as equipes de saúde da família, com a pretensão de dar um suporte para que os serviços de saúde sejam ofertados de forma integral e ampla. Entretanto, o NASF tem desafios a serem enfrentados. O Ministério da Saúde (2010) aponta como desafios: o desenvolvimento do processo de trabalho dentro da lógica do apoio matricial (NASF e ESF); a participação do NASF na rotina já estruturada das equipes; a construção do cuidado à saúde a partir de diversos saberes; aumentar a resolutividade da APS e sua atuação levando em consideração a diversidade, as potencialidades e as fragilidades do território de sua abrangência. 40 Lima (2013) também elenca uma série de desafios. O primeiro é a falta de conhecimento da população sobre o que é o NASF, sendo necessário haver divulgação sobre qual é seu papel. Há também pouca comunicação nas reuniões entre os profissionais, o que precisa ser mudado, visto que o diálogo é essencial em uma equipe interdisciplinar. No que se refere ao processo de trabalho, um dos desafios consiste na formação dos profissionais, que ainda não atendem às necessidades do NASF e da atenção primária. A autora afirma que “A formação dos profissionais da saúde ainda está pautada no modelo biomédico, fragmentado e especializado, o que dificulta a compreensão dos determinantes do processo saúde-doença e também a intervenção sobre seus condicionantes” (LIMA, 2013, p.127). É necessário capacitar esses profissionais para que possam desenvolver melhor suas ações. Diante disso, já está havendo um esforço do Ministério da Saúde em reordenar a formação na graduação, através do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet-Saúde). Outro desafio é trabalhar e desenvolver todas as nove áreas estratégicas propostas nas diretrizes do NASF. Além disso, devido à grande demanda e/ou falta de profissionais, existem municípios que deslocam a equipe do NASF de suas funções, fazendo com que realizem atendimentos ambulatoriais. Por isso, um grande desafio seria mudar a cultura organizacional do SUS, que prioriza a quantidade de atendimento em detrimento da qualidade dos serviços e das ações de promoção da saúde. Portanto, além de conhecer os pilares estruturantes do NASF é necessário também reconhecer que há desafios e que estes precisam ser superados para que haja uma real mudança na APS e no SUS. 3.6 NASF São Gonçalo do Amarante O NASF no município de São Gonçalo do Amarante teve suas atividades iniciadas em 1° de setembro de 2008, através de credenciamento junto ao governo federal. Em 16 de agosto de 2009 foi inaugurado o prédio do NASF. O NASF modalidade I do município de São Gonçalo do Amarante está localizado na sede do 41 município, região metropolitana de Fortaleza, encontrando-se a 59 km da capital cearense1. O município integra a microrregião do Baixo Curu e possui 7 distritos, que são: Cágado, Croatá, Pecém, Serrote, Siupé, Taíba e Umarituba 2. Segundo o censo do IBGE de 2010, a população está estimada em 43.890 habitantes3. A região integra também o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) 4, juntamente com Caucaia e representa área estratégica de desenvolvimento da economia cearense. A equipe profissional do NASF é formada por dois psicólogos, dois educadores físicos, duas nutricionistas, um fonoaudiólogo, três assistentes sociais, três terapeutas ocupacionais e duas fisioterapeutas, num total de 15 profissionais. A equipe do NASF trabalha articulada às Unidades Básicas de Saúde (UBS), que são divididas de forma que cada profissional fique responsável por um número equivalente de UBS. Atualmente, o supracitado NASF atende à demanda de 16 UBS. Mensalmente é feito por cada profissional um cronograma de atividades. Geralmente, os profissionais vão a cada UBS duas vezes por mês, em que realizam atendimentos de forma descentralizada, individual e/ou coletiva, em grupos nas unidades de saúde, creches e escolas de cada localidade, visando à abrangência do atendimento em todo o território municipal. Os atendimentos e as atividades em grupos são realizados tanto pelo profissional individualmente, quanto por dois ou mais profissionais. O gráfico a seguir mostra especificamente o quantitativo dos atendimentos individuais, visitas domiciliares e atividades em grupo do serviço social no NASF, do período de fevereiro a novembro de 2013. 1 Disponível em: <http://www.portaltaiba.com.br/dados_gerais_sao_goncalo_do_amarante.html> Acesso em: 14/08/13. 2 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=231240> Acesso em: 14/08/13. 3 Disponível em: <http://www.portaltaiba.com.br/dados_gerais_sao_goncalo_do_amarante.html> Acesso em: 14/08/13. 4 O Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) está situado entre os municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia. Iniciou suas atividades em 2001 e tem o objetivo de viabilizar a operação de atividades portuárias e industriais integradas. O CIPP opera movimentando matériasprimas siderúrgicas, produtos siderúrgicos acabados, fertilizantes e cereais em granel, contêineres e granéis líquidos e gasosos, entre outros. Representa importante fonte para a economia dos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, assim como para o estado do Ceará. 42 GRÁFICO 15 Quantitativo do Serviço Social no NASF referente ao período de Fevereiro à Novembro de 2013 9% 31% Atendimento individual Visitas domiciliares Atividades em Grupo 60% Fonte: controle mensal de atividades da atenção básica do SIAB. No prédio do NASF também funcionam outros serviços, como a dispensação de medicamentos, a ouvidoria municipal, o CadSUS, o Programa Telesaúde e o Centro de Atendimento de Especialidades Médicas, em que são realizados atendimentos com os seguintes profissionais: nutricionista, cardiologista, pediatra, otorrinaringologista, psiquiatra, ginecologista-obstetra, oftalmologista e urologista. É importante salientar que esses serviços não fazem parte das ações do NASF, apenas compartilham a mesma estrutura física. 5 As informações do mês de maio não foram incluídas, pois a tabela estava com erro de cálculo. 43 4 SERVIÇO SOCIAL E EXERCÍCIO PROFISSIONAL 4.1 Serviço social e respostas profissionais O serviço social insere-se na área da saúde acompanhando historicamente suas modificações até estas serem constituída como uma política social. De acordo com Iamamoto (2012), o serviço social é uma especialização do trabalho coletivo inserida na divisão social e técnica do trabalho, que tem a questão social como objeto de atuação. O assistente social faz uma leitura aprofundada das situações que lhe são postas e trabalha com políticas sociais públicas e privadas a fim de dar respostas às expressões da questão social. Diante dos desafios em efetivar suas atribuições e competências, o serviço social realiza periodicamente reflexões sobre sua instrumentalidade. Apesar do que muito se costuma pensar, não é o conjunto de instrumentos utilizados pelo assistente social em seu fazer profissional. Guerra (2000, p. 53) considera que a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não ao conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico [...] É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. Isso significa que, quando o assistente social modifica o meio para atingir determinado objetivo, suas ações passam a ser permeadas de instrumentalidade. Assim, “a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho” (GUERRA, 2000, p. 53). A autora ressalta que em todo trabalho social há instrumentalidade e que esta não é imutável, ela se reconstrói à medida que a profissão se modifica. Para uma profissão ser legitimada é preciso que ela tenha uma utilidade social, ou seja, “A utilidade social da profissão está em responder às necessidades das classes sociais, que se transformam, por meio de muitas mediações, em demandas para a profissão” (GUERRA, 2000, p. 56). Nessa perspectiva, o serviço social como profissão surge a partir do momento em que o Estado passa a interferir nas expressões da questão social como forma de exercer controle sobre a população para garantir o desenvolvimento capitalista. Como aponta Netto (2001, p. 69), “é somente na intercorrência do 44 conjunto de processos econômicos, sócio-político e teórico-culturais que [...] se instaura o espaço histórico-social que possibilita a emergência do Serviço Social como profissão”. O serviço social não surgiu demandado pela classe trabalhadora, mas pela burguesia e pelo Estado, como forma de exercer um controle social, de atenuar os conflitos, modificar o comportamento da classe trabalhadora, de modo que não se rebelasse contra a ordem societária vigente. Por isso, Guerra (2000, p. 56, grifos do autor) salienta que “a profissão tem nos interesses da burguesia uma de suas bases de legitimidade”. Através da política social, o Estado burguês passa a intervir nas expressões da questão social, objetivando a preservação e o controle da força de trabalho, para assim assegurar o desenvolvimento do capitalismo monopolista. O assistente social atuava como um executor dessas políticas. De acordo com Guerra (2010, p. 134), “as chamadas ‘políticas sociais’ constituem-se da síntese de elementos contraditórios que envolvem interesses antagônicos mediados pelo Estado”. Ainda segundo Guerra (2000, p. 57), “as políticas sociais contribuem para a produção e reprodução material e ideológica (melhor dizendo, da subjetividade do trabalhador como força de trabalho) e para a reprodução ampliada do capital”. Nessa análise, Guerra (2000) aponta que os vínculos entre as políticas sociais e o serviço social perpassa uma condição sócio-histórica da categoria, ou seja, uma marca na história da profissão que pode se manifestar em seu cotidiano a partir de três níveis. O primeiro diz respeito à instrumentalidade da profissão atrelada ao projeto burguês, em que o Estado, visando manter um controle social, requisita o assistente social para atuar na operacionalização das políticas sociais. Dessa forma, o assistente social passa a ser um instrumento que reproduz as relações capitalistas de produção. O segundo se refere à instrumentalidade das respostas profissionais em seu aspecto instrumental-operativo. É através das respostas que o serviço social dá as necessidades sociais que são impostas no seu cotidiano profissional, que a profissão passa a ser reconhecida socialmente. É no cotidiano que a instrumentalidade do serviço social é exercida. Nessa dimensão, o assistente social depara-se com o cenário de ações fragmentadas, imediata, isolada, individual, em que o fato, o problema é tratado a partir apenas de sua aparência, ou seja, há 45 alterações apenas na superficialidade. No entanto, Guerra afirma que o profissional precisa ir além dessa dimensão. Assim, o terceiro nível da instrumentalidade é de esta ser uma mediação. É fato que a instrumentalidade está inserida no cotidiano, no nível do imediato, sendo este o espaço para a realização de suas ações. Entretanto, as respostas profissionais não podem ser reduzidas apenas à dimensão instrumental, pois as demandas são complexas e por isso é necessário que o profissional a compreenda de forma mais profunda. A instrumentalidade não é apenas a dimensão constituinte e constitutiva da profissão, mas é referenciada pela prática histórica e social daqueles que a realizam (GUERRA, 2000). Como mediação, “permite a passagem das ações meramente instrumentais para o exercício profissional crítico e competente” (GUERRA, 2000, p. 60). O reconhecimento da instrumentalidade enquanto mediação no exercício profissional significa que o assistente social tem a possibilidade de ultrapassar as ações meramente técnicas, instrumental e imediata, podendo ampliar sua visão, sua criticidade, a fim de dar respostas mais qualificadas. Reconhecer a instrumentalidade como mediação significa tomar o serviço social como totalidade constituída pelos níveis ético-político, técnico-operativo, teórico-metodológico e investigativo. Conforme o pensamento de Guerra (2000), compreender a instrumentalidade como uma propriedade sócio-histórica da profissão faz-se necessário, visto que esta é uma condição concreta para o reconhecimento social da profissão. Complementando essa reflexão, Iamamoto (2012) assinala que o assistente social lida com as múltiplas expressões da questão social, que se modifica e exige novos posicionamentos do profissional. Assim, há a necessidade de o assistente social ficar atento e acompanhar essas modificações para conhecer a realidade social, além de investir na sua qualificação. Segundo a autora, ao assistente social é requisitado que tenha uma competência crítica capaz de decifrar a gênese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de ação para enfrentá-las. Supõe competência teórica, e fidelidade ao movimento da realidade; competência teórica e ético-política que subordine o ‘como fazer’ ao ‘o que fazer’ e, este, ao ‘dever ser’, sem perder de vista seu enraizamento no processo social (IAMAMOTO, 2012, p. 80, grifos do autor). 46 O assistente social atua em um campo tenso e desafiante, pois ao passo que a sociedade brasileira vivencia inúmeras desigualdades e uma ampliada pauperização, o Estado retrai sua responsabilidade com o campo social. Ao Estado é reservada a responsabilidade pelo atendimento dos setores mais pauperizados e excluídos. O primado é a subordinação do atendimento das necessidades à lógica do mercado, atribuindo a esta função de regulação da vida social, o que é o mesmo que contestar a democracia (IAMAMOTO, 2012, pp. 4445). Nesse debate, Iamamoto (2012) afirma que a questão social está sendo enfrentada cada vez mais na ótica da privatização do que na universalização dos direitos conquistados e legitimados. A dinâmica do Estado neoliberal acarreta inúmeras desigualdades e retração dos direitos sociais, que se transformam em demandas para o serviço social. Porém, mudanças também ocorrem no mercado de trabalho do assistente social, que vivencia a precarização do trabalho, a subcontratação, terceirização, queda nos salários, polivalência e desemprego. Para competir no mercado de trabalho, o profissional precisa ter além de suas competências, conhecimento de outras técnicas, como computação e domínio de outros idiomas (IAMAMOTO, 2012). Quando inserido no mercado de trabalho, o assistente social deve ter como primazia a garantia dos direitos dos usuários. No entanto, com a minimização das políticas sociais, os direitos sociais universais estão se tornando focalizados, ampliando-se cada vez mais a seletividade dos atendimentos do assistente social. Conforme Iamamoto (2012, p. 161, grifos do autor) Diante dessa crescente restrição da capacidade de atendimento, o assistente social, por estar inserido na ponta final da prestação dos serviços, vê-se, institucionalmente, cada vez mais compelido a exercer a função de um juiz rigoroso da pobreza, técnica e burocraticamente conduzida, como uma aparente alternativa à cultura do arbítrio e do favor. Mesmo diante dessas adversidades que permeiam o cotidiano profissional, que é reflexo de uma conjuntura historicamente construída, o assistente social precisa ser um profissional propositivo, ter compromisso com seus princípios éticopolíticos e abster-se de uma visão fatalista ou messiânica da realidade. Dessa forma, Iamamoto (2012, p. 144, grifos do autor) enfatiza a importância do assistente social ser 47 Um profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. Mas também um profissional versado no instrumental técnico-operativo, capaz de realizar as ações profissionais, aos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladoras da participação dos usuários na formulação, gestão e avaliação de programas e serviços sociais de qualidade. O assistente social necessita estar sempre aprimorando seus conhecimentos em suas diversas áreas de atuação, para que suas respostas às demandas sejam qualificadas e tenham resultados eficazes. A saúde é uma das crescentes áreas de atuação do assistente social, por isso, é importante que os profissionais aprimore conhecimentos nessa área. 4.2 Serviço social na saúde O serviço social se expandiu no Brasil a partir de 1945, devido ao aprofundamento do capitalismo e às mudanças ocorridas após a Segunda Guerra Mundial. No que se refere à área da saúde, Lessa (2011) afirma que o assistente social emergiu como um auxiliar do médico, sem atribuições definidas, sendo suas ações voltadas para o apoio e consolo às pessoas doentes. Os primeiros campos de atuação dos assistentes sociais no Brasil, conforme foi apontado por Iamamoto e Carvalho (2011), foram os seguintes: em 1932: centros operários e círculos de formação para moças, fundado pelo Centro de Estudos e Ação Social (CEAS); 1940: Centros Familiares (CEAS – Departamento de Serviço Social), instituto de pensões e aposentadoria dos industriários e obras particulares; 1942: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dentre outros. Na saúde, o serviço social se desenvolvia lentamente, estando mais interligado à puericultura e à profilaxia de doenças. Suas funções eram resumidas basicamente em auxiliar o médico, fazer triagem para saber o que o cliente podia pagar, distribuir auxílio que ajudasse na locomoção do cliente à instituição médica e conquistar a confiança do cliente para que ele se adaptasse à instituição (IAMAMOTO & CARVALHO, 2011). A atuação dos primeiros assistentes sociais era desenvolvida a partir de bases doutrinária e assistencial, “voltada essencialmente para a organização da 48 assistência, para a educação popular, e para a pesquisa social” (IAMAMOTO & CARVALHO, 2011, p. 208). Suas ações eram direcionadas quase exclusivamente para as famílias operárias, principalmente mulheres e crianças, e suas atividades consistiam em distribuir auxílios materiais e fazer cursos de formação moral e doméstica. A categoria ampliou o espaço na área da saúde a partir de 1948, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) elabora um novo conceito de saúde, enfatizando os aspectos biopsicossociais como condicionantes da saúde, necessitando, assim, de outros profissionais para atuar no setor, entre eles o assistente social (BRAVO & MATOS, 2009). No entanto, as ações do assistente social ainda eram permeadas pelo conservadorismo herdado desde a gênese da profissão. Bravo e Matos (2009, p. 199) afirmam que “O assistente social consolidou uma tarefa educativa com intervenção normativa no modo de vida da ‘clientela’, com relação aos hábitos de higiene e saúde, e atuou nos programas prioritários estabelecidos pelas normatizações da política de saúde”. De acordo com Lessa (2011), foi somente a partir da década de 1960, com a unificação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) e com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que aumentaram os campos de trabalho do assistente social, porém, estavam inseridos no modelo médico hospitalocêntrico privatista, sendo “executores terminais” de programas e projetos. Bravo (2010) considera que, a partir de 1964, com o processo de modernização conservadora, as áreas de atuação dos assistentes sociais foram ampliadas, devido ao surgimento do complexo previdenciário de assistência médica. O Serviço Social na saúde, recebendo as influências da modernização que se operou no âmbito das políticas sociais, vai sedimentar sua ação na prática curativa, primordialmente na assistência médica previdenciária, transformada no maior empregador de profissionais. A ação na saúde pública não foi enfatizada (BRAVO, 2010, pp. 104-105, grifos do autor). A modernização conservadora “redefiniu a base de legitimidade profissional a partir das novas exigências do mercado de trabalho e do quadro de formação para ele” (BRAVO, 2010, p. 98). Desde o início da profissão até os anos 1960, não aconteceram polêmicas que ameaçassem o conservadorismo instaurado na categoria. A partir da década de 49 1960, começou a surgir um questionamento acerca do conservadorismo da profissão. A categoria passou a questionar sua base tradicional, nos níveis teórico, metodológico, político e operativo. Este momento ficou conhecido como movimento de reconceituação. É nesse momento que o serviço social latino-americano passa a ter contato com a teoria social de Marx, que inicialmente ocorreu de forma enviesada, havendo uma simplificação de suas teorias, pois não se recorreu às obras e teorias do próprio Marx e sim aos intérpretes e estudiosos dele (NETTO, 2006). Na década de 1980, a sociedade brasileira passava por uma grande crise econômica, vivenciava uma efervescência política na luta contra a ditadura militar, instaurada desde 1964, buscando a redemocratização do país e lutava em prol do reconhecimento da saúde como um direito de todos e dever do Estado, através do movimento de reforma sanitária iniciado na década de 1970. Nesse período, o serviço social passava por uma autorrevisão, buscava romper com o serviço social tradicional de bases conservadoras. Buscou uma nova fundamentação teórica, identificando-se com a teoria social de Marx, que passou a ser incorporada como matriz teórico-metodológica hegemônica para a profissão. Esta influenciou o estabelecimento de um posicionamento crítico acerca da realidade, das relações sociais estabelecidas, enfim, da conjuntura social na qual está inserida. Foi um momento de maturação para a profissão (NETTO, 2006). Nesse momento, destaca-se a luta do movimento de reforma sanitária em busca da concretização da saúde como um direito e de autorrevisão da categoria do serviço social. Bravo (2010) relata que o serviço social pouco se articulou com o movimento de reforma sanitária em âmbito nacional. Isso pode estar relacionado ao fato de que esses profissionais na área da saúde se posicionavam como meros executores dos programas e projetos, não refletiam de forma critica sobre suas práticas. Porém, isso pode ser relativo, visto que em alguns estados, como no Ceará, muitos assistentes sociais estavam engajados e participaram ativamente da construção do SUS. Foi a partir da constituição do SUS que houve uma intensificação nos campos de trabalho do assistente social, como forma de administrar as tensões recorrentes no sistema público de saúde. Com base nas Resoluções do Conselho Nacional de Saúde nº 218, de 6 de março de 1997 e nº 287 de 8 de outubro de 1998 e o Conselho Federal de Serviço Social na sua Resolução nº 383/1999, caracterizam o/a 50 assistente social como profissional de saúde que “contribui para o atendimento das demandas imediatas da população, além de facilitar o seu acesso às informações e ações educativas.” Incide sobre os determinantes sociais que influenciam na qualidade de vida e saúde da população. Devido à grande inserção do assistente social na saúde, foi criado em 2009 os parâmetros para a atuação do assistente social na saúde pelo CFESS como forma de direcionar as ações desse profissional. Segundo o CFESS (2010), a proposta para a atuação do profissional nessa área deve estar pautada no enfrentamento das expressões da questão social que repercutem em todos os níveis de complexidade da saúde. Nesse documento foram elencadas as competências e atribuições do assistente social na saúde, tendo como base o Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão. Nele também está expresso que “Os assistentes sociais na saúde atuam em quatro grandes eixos: atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social; investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e formação profissional” (CFESS, 2010, p. 41). O assistente social atua sobre as expressões da questão social, que de acordo com Iamamoto (2012) é o conjunto das desigualdades econômicas, políticas e culturais decorrentes da sociedade capitalista, que impactam diretamente sobre as classes sociais. Dessa forma, o assistente que trabalha na área da saúde deve, em seu fazer profissional, compreender sua demanda levando em consideração os aspectos econômicos, sociais e culturais que interferem no processo saúde/ doença, e procurar mecanismos para enfrentar tal questão (BRAVO & MATOS, 2009). Conforme ressalta Nogueira e Mioto (2009, p. 229), “não é possível compreender ou definir as necessidades de saúde sem levar em conta que elas são produtos das relações sociais e destas com o meio físico, social e cultural”. Segundo Lessa (2011, p. 88), “a matéria-prima sobre a qual incide o trabalho do assistente social no SUS têm sido, prioritariamente, as contradições, dificuldades de funcionamento e falta de resolutividade do sistema de saúde”. Os atuais desafios postos para os assistentes sociais na saúde tiveram como um dos fatores determinantes a contrarreforma do Estado e a ascensão do neoliberalismo iniciados na década de 1990, que redimensionaram as políticas sociais, entre elas a de saúde. Houve uma diminuição de investimentos para a saúde pública, acarretando a queda de qualidade dos serviços e aumentando a 51 dificuldade de acesso da população aos serviços, o que significa que está havendo um retrocesso do SUS no que diz respeito aos seus princípios, como o de universalidade e equidade. Atualmente, a profissão é permeada de dilemas e desafios visto que há um paradoxo entre os compromissos expressos no projeto ético-político da categoria e as exigências que são colocadas para o profissional enquanto trabalhador. Conforme ressalta Iamamoto (2012), a profissão é permeada por relações de poder, tem o caráter político, o que não deriva exclusivamente das intenções pessoais do assistente social, mas de todos os condicionantes histórico-sociais dos contextos em que se insere e atua. O assistente social tem o compromisso de garantir a efetivação dos direitos dos usuários, no entanto, as políticas estão cada vez mais focalizadas e voltadas para o mercado, exigindo que o assistente social faça uma espécie de triagem de suas demandas. O profissional tensionado atua entre o que a instituição empregadora impõe para ele fazer e o seu compromisso em garantir os direitos do usuário e prestar serviços de qualidade. Assim, “o grande desafio consiste em buscar identificar e responder as demandas que estão sendo postas ou pressupostas, tendo a preocupação de estabelecer o nexo com as ‘necessidades sociais’ que estão subjacentes a elas, buscando o seu verdadeiro sentido” (LESSA, 2011, p. 88). Portanto, o trabalho do assistente social nas instituições de saúde é imprescindível, visto que este tem uma visão peculiar sobre a realidade, tendo a capacidade de compreender todos os aspectos sociais, econômicos e culturais que estão para além do problema clínico do usuário, buscando estratégias para o enfrentamento de tais questões. Visam a efetivação dos direitos do usuário, não apenas o direito à saúde, mas a todos aqueles que lhes foram negados. 4.3 Serviço social na estratégia saúde da família O serviço social, além de estar inserido no âmbito da atenção secundária e terciária, na última década vem ganhando espaço na atenção primária à saúde, uma realidade diferente que demanda saberes e ações específicas, mas sempre tendo em vista a importância da articulação com os demais níveis de atenção, pois estes se complementam (CANUTO, 2011). 52 A intervenção do serviço social no âmbito da APS tem se ampliado e se consolidado diante da concepção de que o processo de construção da saúde é determinado socialmente. É dentro da relação de dever/direito à saúde que o trabalho dos assistentes sociais vem se desenvolvendo e tem se tornado uma “prática” necessária para a promoção e atenção à saúde. Canuto (2011) afirma que havia uma grande dificuldade em organizar as EqSF no que diz respeito ao perfil profissional, pois a formação dos profissionais não respondia satisfatoriamente às particularidades da atenção primária, ou seja, desejava-se profissionais com determinado perfil, mas a realidade impunha outro. O novo perfil profissional na ESF exige a modificação da gestão dos serviços para um modelo democrático fundamentado na corresponsabilização do processo saúde-doença, com participação comunitária. O usuário, nesta perspectiva, deixa de ser paciente e passa a ocupar o espaço institucional para intervir nos processos de trabalho. O intuito é superar o paradigma do conhecimento em saúde concentrado apenas nas mãos dos profissionais, sendo estes “únicos detentores da verdade”. Assim, os profissionais deverão trabalhar com a produção coletiva do Plano de Saúde do território, educação popular como dispositivo de educação em saúde, com compartilhamento dos saberes por meio de ações individuais, familiares e coletivas. Entende-se que apenas o saber científico por si só é insuficiente diante das necessidades de mudança (TEIXEIRA, 2002). Demanda-se uma saúde com ênfase nos determinantes sociais da saúde (união comunitária, hábitos e práticas culturais, infraestrutura urbana, convivência familiar etc.). E para responder a estas diretrizes, o perfil de profissional da ESF necessita de uma visão de totalidade e com vínculo comunitário. Para tanto, utiliza a atuação interdisciplinar e integral que incorpore as dimensões coletivas dos problemas de saúde no cotidiano (TEIXEIRA, 2002). As demandas vão desafiar as competências técnicas, políticas, sociais e humanas dos profissionais de saúde, nem sempre estimuladas na formação profissional. O profissional não está mais “protegido” pelas paredes institucionais. Com processo inverso, ele entra no domicílio que é do outro, o que necessita de abordagens diferenciadas (TEIXEIRA, 2002). A formação profissional de cunho positivista/mercadológico e fragmentado permeia os cursos em saúde, que não preparam para uma prática mais socializada, 53 com ótica integral, da interdisciplinaridade, para criação de vínculo com o conjunto indivíduo/família/comunidade. Grande parte dos profissionais é de classe social diferente da população atendida e tendem a falar em termos técnicos, bem como subestimar a capacidade de compreensão popular (infantilização). A prática na saúde da família exercita o amadurecimento profissional e de cidadania (TEIXEIRA, 2002). A necessidade de ter profissionais capacitados para atuar na estratégia saúde da família possibilitou a criação das residências multiprofissionais em saúde da família voltada para médicos e outros profissionais da saúde. Dessa forma, “o município de Sobral protagoniza em 1998 a primeira residência multiprofissional em saúde da família do Brasil, em larga escala, através da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia” (CANUTO, 2011, p. 101). A residência multiprofissional possibilitou que em 2001, no Ceará, o serviço social fosse inserido na ESF, visto que foi debatida a atuação desse profissional tanto na assistência social quanto na saúde (CANUTO, 2011). No que diz respeito à atuação do assistente social na atenção primária, Cavalcante e Albuquerque (2002, apud CANUTO, 2011, p. 101) argumenta que O Serviço Social é uma das áreas profissionais que mais se identificam com os desafios colocados pelo processo de construção do novo modelo de atenção, pois se antecedeu a este na busca do enfoque familiar na sua intervenção, para contrapor-se à fragmentação da questão social. O assistente social é um dos profissionais que na sua formação tem acesso aos instrumentais teórico-metodológicos para atuação junto à família, o grupo e à comunidade. Isso significa que o serviço social é uma profissão cujas práticas, saberes e técnicas estão se aperfeiçoando, sendo o assistente social dotado de competências e atribuições. Assim, quando inserido na esfera da saúde, muito pode contribuir para a materialização dos princípios da atenção primária e do SUS. Este profissional pode ser considerado um elo mediador entre a população e os serviços de saúde, na perspectiva de garantia dos direitos dos usuários. Canuto (2011) persiste em afirmar que a saúde da família, por se constituir como a porta de entrada do sistema de saúde, em que os sujeitos realizam o primeiro contato com os serviços, necessita absorver novas categorias profissionais, como o Serviço Social, pois é preciso agir sobre os diversos determinantes da saúde 54 para que esta possa ser promovida. Assim, a atuação desse profissional em uma equipe multiprofissional permite Potencializar sua interação com as comunidades e com o conjunto das políticas públicas municipais, na perspectiva de atuação intersetorial e nas redes sociais dos territórios, contribuindo para a ampliação do olhar sobre o processo saúde/ doença (FORTALEZA, 2006, apud COSTA; OLIVEIRA, 2011, p. 107). A luta em busca da inserção tanto do assistente social como de outros profissionais que não estejam ligados somente ao processo de cura da doença, tem como premissa o novo conceito de saúde, de que saúde não é apenas ausência de doenças e que esta é determinada por diversos fatores, como alimentação, moradia, trabalho e lazer. Assim, faz-se necessário que outros profissionais integrem as EqSF, para que possam compreender por outros ângulos o processo de saúde/ doença (COSTA; OLIVEIRA, 2011). Costa e Oliveira (2011, p. 115) afirma que “A ESF para o SUS se constitui como um processo de construção de uma nova cultura de atenção à saúde, de reversão do modelo hegemônico centrado na doença para uma perspectiva de cuidado por meio de práticas sanitárias de caráter participativo e democrático”. Assim, as ações do assistente social seriam voltadas para promover a saúde, utilizando a educação em saúde como uma de suas estratégias e incentivando a participação e o controle social da população. O projeto ético-político da categoria é convergente com o projeto da reforma sanitária, uma vez que ambos são pautados na democratização do acesso, na universalidade das ações, na descentralização com controle social, na equidade e qualidade dos serviços (BRAVO; MATOS, 2006). Costa e Oliveira (2011) apontam que a ESF está sendo um importante espaço de atuação para o Serviço Social, assim como o NASF, que desde 2008 vem absorvendo assistentes sociais para compor sua equipe técnica para trabalhar junto às equipes de saúde. No entanto, como em todo espaço sócio-ocupacional, dificuldades e desafios fazem-se presentes. Canuto (2011, p. 105) destaca alguns dos desafios mais recorrentes, como: “o financiamento público insuficiente para a saúde; a necessária ampliação de profissionais na rede de saúde e a formação permanente do conjunto dos trabalhadores do SUS”. 55 Outro desafio apresentado por Costa e Oliveira (2011) diz respeito a estrutura do local de trabalho, que muitas vezes não tem local adequado para o atendimento do Serviço Social, nem para guardar documentos técnicos sigilosos. O assistente social deve garantir além da qualidade do atendimento, a privacidade dos usuários, tanto no momento do atendimento quanto nas informações que transcreve para documentos. Porém, tendo em vista a deficiência da estrutura é necessário criar estratégias. Diante disso, Canuto (2011) enfatiza a necessidade de fortalecer a categoria para que lute em prol da melhoria do SUS, da efetivação enquanto política universal, em detrimento das desigualdades e tensões existentes atualmente. Costa e Oliveira (2011) também considera de grande importância o reconhecimento dos usuários como sujeitos dotados de direitos e o estímulo à participação da população em lutas para que possam exercer o direito de cidadania e consequentemente materializar os princípios do SUS. 4. 4 Serviço Social no NASF Conforme abordado anteriormente, entre os profissionais que compõem a equipe multiprofissional do NASF está o assistente social. De acordo com o caderno de diretrizes do NASF (2010), os princípios éticos e políticos do serviço social estão em conformidade com o projeto de reforma sanitária. A introdução do serviço social no NASF ocorreu em um contexto de desigualdades sociais e desinformação sobre os direitos. Dessa forma, o caderno de diretrizes do NASF (2010) prevê que As ações de serviço social deverão se situar como espaço de promoção da cidadania e de produção de estratégias que fomentem e fortaleçam redes de suporte social, propiciando maior integração entre serviços sociais e outros equipamentos públicos e os serviços de saúde nos territórios adscritos, contribuindo para o desenvolvimento de ações intersetoriais que visem ao fortalecimento da cidadania (BRASIL, 2010, p. 88). O serviço social no NASF atua sobre as múltiplas expressões da questão social que se manifestam cotidianamente, sendo essencial que esse trabalho seja desenvolvido de forma interdisciplinar e integrado com os profissionais da equipe (BRASIL, 2010). Isso significa que “o assistente social, em conjunto com as demais categorias profissionais, procura conduzir-se no sentido de compreender, intervir, 56 antecipar e planejar projetos sociais e terapêuticos que vão para além da dimensão biomédica” (BRASIL, 2010, p. 89). O território de atuação do assistente social é um espaço dinâmico, constituído pela comunidade, família e indivíduos, além dos equipamentos sociais e das representações do poder local. O estabelecimento do contato, da interação com esse território irá possibilitar que o profissional compreenda os determinantes do processo saúde/ doença, pois terá um contato mais próximo com os sujeitos e com a dinâmica de sua realidade cotidiana. Diante disso, faz-se necessário não apenas do assistente social, mas de todos os profissionais da saúde, que possuam um conjunto de competências técnicas, humanas, políticas e sociais (BRASIL, 2010). No processo de trabalho no NASF, o assistente social tem vários objetivos, como, por exemplo: desenvolver ações que possibilitem garantir a escuta e acolhida do usuário de forma qualificada; incentivar a autonomia do usuário; incentivar a participação social dos usuários; fazer pesquisas sobre a população de sua área de atuação (BRASIL, 2010). No que diz respeito às ações do assistente social, podemos considerar as seguintes: coordenar, estimular e/ou acompanhar trabalhos de caráter social e comunitário em parceria com as equipes de saúde da família; identificar, junto com as equipes de saúde da família, os valores e normas culturais das famílias e da comunidade que possam exercer influência no processo de adoecimento; realizar visitas domiciliares com as equipes de saúde da família e desenvolver técnicas para qualificar permanentemente essa ação; apoiar e desenvolver técnicas de educação e mobilização em saúde; estimular e acompanhar as ações de controle social em conjunto com as equipes de SF; capacitar, orientar organizar, junto com as equipes de SF, o acompanhamento das famílias do programa bolsa-família e outros programas federais e estaduais de distribuição de renda (BRASIL, 2010). Em conformidade com o que foi exposto, na organização do seu processo de trabalho, o assistente social segue algumas estratégias metodológicas que vão ser utilizadas de acordo com cada demanda. São estas: abordagem grupal, familiar, individual e de rede social; visita domiciliar; grupos educativos e/ou de convivência; visitas institucionais; estudo social; aperfeiçoamento, formação e produção de conhecimentos; intervenção coletiva e planejamento e gestão (BRASIL, 2010). Portanto, pode-se compreender que atuação do assistente social no NASF é primordial, visto que esse profissional tem a capacidade de compreender o sujeito 57 em sua totalidade, não enxergando somente os aspectos clínicos. Dessa forma, irá procurar mecanismos capazes de garantir o direito à saúde e promover a cidadania do sujeito. 58 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Perfil dos sujeitos da pesquisa Para resguardar a identidade dos sujeitos dessa pesquisa, foram utilizados os codinomes Mar, Terra e Sol, pensados a partir da realidade de São Gonçalo do Amarante, que é um município litorâneo. As informações não foram associadas diretamente aos codinomes como forma de evitar a identificação dos sujeitos. Duas assistentes sociais são graduadas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a outra é graduada pela Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS), ensino a distância. As especializações são diversificadas: uma possui pósgraduação em segurança pública, outra possui especialização em saúde mental e em gestão de recursos humanos e a última está concluindo a especialização em saúde da família. Duas destas já trabalharam em outros locais, como no Iprede, nas Promotorias de Família, no Fórum Clóvis Bevilácqua, na Secretaria de Justiça e Cidadania e na ONG ARCA (Associação Recreativa e Esportiva para Crianças e Adolescentes), enquanto uma tem no NASF sua primeira experiência profissional. Duas assistentes sociais residem na cidade de Fortaleza e a outra na cidade de São Gonçalo do Amarante. Enquanto uma das profissionais atua no NASF de São Gonçalo do Amarante há cinco anos, as outras duas iniciaram suas atividades no referido NASF há 10 meses. O vínculo empregatício de todas foi estabelecido através de contrato. 5.2 Gestão e organização da política de saúde Desde a criação do SUS a saúde avançou significativamente, porém, com a reestruturação do Estado houve uma retração do financiamento das políticas, inclusive da saúde. A atual configuração da sociedade brasileira, sob a égide neoliberal que valoriza o privado em detrimento ao público, ocasiona um verdadeiro desmonte do SUS. O financiamento insuficiente gera uma má qualidade dos serviços, levando a população a recorrer cada vez mais aos planos privados de 59 saúde em busca de uma melhor qualidade de serviços, enquanto a saúde pública passa a ser considerada para pobres (PAIM, 2009). Na pesquisa, as assistentes sociais ressaltaram a importância do SUS, mas também enfatizaram a necessidade de melhorias, como se pode observar na fala a seguir: Eu analiso de forma positiva inicialmente, pela possibilidade de acesso que é ofertada às pessoas. Todas as pessoas tem acesso porque o sistema, como a própria nomenclatura diz, é universal, mas por ter uma abrangência muito grande também, vem as falhas [...] Ainda tem muita coisa pra se fazer, muitos ajustes, e a gente ta sempre naquela expectativa, naquela esperança de melhorias (Sol). A questão do sucateamento do SUS não é algo localizado, mas atinge a política de forma geral. Foi constatado que as unidades básicas de saúde do município de São Gonçalo ainda não possuem estrutura adequada para absorver os profissionais do NASF, apenas a equipe mínima da estratégia saúde da família e isso se verifica nos seguintes depoimentos: muitas vezes não tem uma sala específica para o profissional do NASF para que quando ele venha naquele dia ele tenha aquele local para que ele possa resguardar o sigilo ético, tudo que a gente sabe que é necessário para um atendimento. E ai eu tenho que me submeter, ou eu tenho que esperar o médico sair ou esperar a enfermeira sair, ou eu tenho que vim no dia que esses profissionais vão fazer uma outra atividade (Mar). Eu estou conversando agora com você na sala da enfermeira, se ela estivesse aqui talvez a gente tivesse que atender no corredor, então é outro desafio a gente ta sempre buscando espaço, até físico (Sol). Para garantir a qualidade dos serviços é necessário haver além da qualificação e do compromisso profissional uma estrutura física adequada para a realização dos atendimentos de forma segura e ética. O código de ética profissional do assistente social dispõe no artigo 7 que o assistente social tem o direito de ter condições de trabalho condignas, como forma de garantir a qualidade do exercício profissional. Já o artigo 15 traz como direito do assistente social manter o sigilo profissional, bem como o usuário tem o direito de ter suas informações resguardadas. Quando trabalha em uma equipe multidisciplinar, são reveladas para outros profissionais apenas as informações necessárias. Para resguardar esse sigilo é necessário realizar o atendimento em local adequado, que deixe o usuário seguro para falar. 60 Grande parte das unidades básicas de saúde de São Gonçalo do Amarante funciona em casas alugadas, ou seja, algumas possuem uma boa estrutura e outras não. No entanto, está havendo uma reforma, novas unidades estão sendo construídas de forma padronizada. Tendo em vista que a estrutura física muito influencia na qualidade dos atendimentos e que a equipe do NASF já atua junto às unidades há cinco anos, espera-se que estas novas unidades já estejam adequadas para receber os profissionais do NASF. Em relação à acessibilidade aos equipamentos, percebeu-se que a população não tem grandes dificuldades para acessá-los. As unidades básicas de saúde são localizadas de modo que não haja dificuldade da população se encaminhar até elas. Em casos específicos, como de pessoas que moram muito longe ou que têm dificuldade para se locomover, como idosos e gestantes, o carro da unidade pode ser solicitado para levá-los à unidade, ou o profissional pode ir até sua residência. Outra questão que merece ênfase diz respeito à metodologia ainda falha de funcionamento do SUS, que atinge todos os níveis de saúde. No município de São Gonçalo do Amarante podem-se destacar dois fatores que dificultam o acesso dos sujeitos aos serviços de saúde de forma integral. O primeiro fator diz respeito ao nível de atenção à saúde do município, que apesar de ter um porte populacional grande, receber grande fluxo de pessoas do complexo industrial do Pecém, ainda não dá suporte aos casos que necessitam de um atendimento mais especializado, pois o hospital não tem equipamentos especializados nem realiza exames complexos de atenção secundária. A solução encontrada é encaminhar os pacientes para hospitais de cidades próximas, como relata Mar: “a questão de São Gonçalo ainda ser uma rede secundária, muita coisa precisa ser recorrido a Caucaia ou a Fortaleza.” O segundo fator é a questão dos convênios que a prefeitura ainda não renovou com as clínicas particulares para realizarem exames especializados que a rede pública de saúde do município não dispõe. Segundo a fala de Terra: “existe exames, pacientes que precisam fazer exames, que o sistema não paga, o que que acontece, você fica para ver os convênios que existem e que não foram feitos ainda.” Isso gera uma série de problemas, pois o exame muitas vezes é essencial para fazer o diagnóstico do usuário e quando não há como fazê-lo, pois em geral são de alto custo, a saúde fica em risco. E essa situação muitas vezes favorece que 61 o profissional recorra a outros meios, para dar respostas aos usuários, principalmente quando se trata de exames de alto custo e de urgência, conforme explica uma das assistentes sociais do NASF. Então aquela pergunta, você não tem outro mecanismo para conseguir esse exame a não ser se você tiver amigos né, que queiram fazer uma caridade, ainda é o modo caridade que existe, para fazer esse exame, um exame específico que a pessoa precisa de um diagnóstico clínico que vai para um neurologista e precisa de um exame tal, então o SUS tem, mas a fila de espera é muito grande. (...) Ai fica você articulando com algum hospital, entra em contato com o Serviço Social de outro hospital, mas fica mais a questão assistencialista, de amizade (Terra). a gente ainda trabalha muito dando aquele jeitinho, procurando até fora do município mesmo uma solução (Sol). Dessa forma, é necessário trabalhar na superação dessas questões, para que os serviços de saúde não sejam efetivados apenas pontualmente, através de ações assistencialistas, mas possam ser ofertados com qualidade e de forma integral, garantindo o direito à saúde para a população de São Gonçalo. Diante disso, a sociedade civil tem um importante papel para reverter esse processo de sucateamento da SUS e democratizar o direito à saúde, através do controle social. Segundo Correia (2012, pp. 293-294), “a participação social nas políticas sociais foi concebida na perspectiva do controle social no sentido de os setores organizados na sociedade civil participarem desde as suas formulações, acompanhamento de suas execuções, até a definição da alocação de recursos”. A pesquisa constatou também que existem espaços de qualificação profissional. São realizadas com frequência capacitações ofertadas pela Secretaria de Saúde do Estado e do município, pelo NASF, assim como o próprio profissional pode ter a iniciativa de encaminhar uma proposta para participar de algum curso do seu interesse, que geralmente é aprovada. Segundo a entrevistada, “o Governo do Estado, o Governo Federal oferta para o município, ai a Secretaria de Saúde vê o que tem o nosso perfil e passa pro NASF, e é o nosso coordenador que elege quem vai participar. Geralmente ele tentar beneficiar todos.” (Mar). Quando não há possibilidade de todos os profissionais do NASF participarem de uma mesma capacitação, eles repassam o conteúdo para os demais nas reuniões do NASF que acontecem mensalmente. “As outras capacitações são nas reuniões que os colegas quando vão participar de algum curso eles repassam pra gente (Terra).” 62 Verificou-se que, em relação à qualificação, os profissionais do NASF de São Gonçalo do Amarante estão tendo um bom amparo, o que é primordial para aperfeiçoar cada vez mais seu fazer profissional. Uma questão que vale ser ressaltada é a relação com o público que mais acessa os serviços nessas unidades, formado majoritariamente por mulheres, crianças e idosos, os homens pouco buscam os serviços de saúde. Essa questão é enfatizada por Terra: a Estratégia Saúde da Família é onde se encontra a família né, só que é errônea, porque o homem ainda não entrou no posto de saúde. Existiu agora o Outubro Rosa e ai veio existir agora o Novembro Azul. Onde estão os homens né. Eles não participam tão ativamente do programa. Essa situação também pode ser verificada nas atividades socioeducativas realizadas nas unidades, que são voltadas principalmente para a mulher. De acordo com a observação em campo, quando as temáticas não são direcionadas especificamente para as mulheres, o público que continua prevalecendo é o feminino. Nas atividades socioeducativas realizadas nas escolas há um equilíbrio entre homens e mulheres, que são adolescentes ou crianças. A presença do homem adulto nas unidades e nas atividades ainda é de fato, incipiente. Diante disso, sabendo que essa é uma questão histórica, é importante desenvolver estratégias que possam envolver o homem nessas ações, tanto no atendimento médico quanto nas atividades, para que sua saúde possa ser promovida. Outro fator que merece ser destacado é o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que no momento que percebem a necessidade de atendimento do usuário por um determinado profissional, direciona-o à comparecer à unidade, e faz todo o acompanhamento. Quando o atendimento é com um profissional do NASF, o paciente, um familiar ou o ACS verifica no cronograma o dia em que haverá atendimento e agenda a pessoa. Os profissionais do NASF também podem fazer encaminhamentos diretos entre si, conforme se observa nas falas a seguir: a gente faz o nosso cronograma mensal e é mandado para as unidades, então lá eles organizam. Eu pelo menos não estabeleço um limite (Terra). Como a gente tem um cronograma de atendimento, eles tem como saber com antecedência qual vai ser o dia em que o assistente social vai estar em qual unidade. Então quando a gente chega, atende. (...) o NASF não é 63 porta de entrada, é apoio, mas acontece também uma demanda espontânea e a gente acolhe, não vai esbarrar em uma burocracia (Sol). Isso mostra a importância do trabalho de cada profissional e da comunicação entre eles para que os usuários possam receber atendimento adequado, sem impedimento de burocracias ou até mesmo devido à falta de articulação entre os profissionais. 5.3 Contribuições do serviço social O assistente social no NASF é um profissional capacitado, que atua sobre as expressões da questão social, buscando garantir o acesso à saúde de forma integral. Em seu cotidiano profissional, realiza atendimentos individuais, visitas domiciliares e atividades socioeducativas. No que diz respeito às atribuições voltadas para a educação em saúde, as assistentes sociais do NASF realizam rotineiramente atividades socioeducativas nas escolas, creches e na própria unidade de saúde, através de palestras, rodas de conversas e grupos. De acordo com os parâmetros para atuação de assistentes sociais na saúde (2010, p. 55), as ações socioeducativas e/ou educação em saúde “Devem ter como intencionalidade a dimensão da libertação na construção de uma nova cultura e enfatizar a participação dos usuários no conhecimento crítico da sua realidade e potencializar os sujeitos para a construção de estratégias coletivas”. Essas atividades visam a socialização de informações, a prevenção e o estímulo a visão críticas dos sujeitos (CFESS, 2010). As temáticas abordadas pelas profissionais do NASF são variadas, como: gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, álcool e drogas, violência sexual, bulliyng, direitos sociais, direitos da criança e do adolescente, direitos da gestante, cultura de paz e direitos humanos, entre outras. Existe uma parceria entre o NASF e as escolas do município que desenvolvem atividades do PSE. O Ministério da Saúde e o Ministério da Educação propõem as temáticas do PSE e os profissionais trabalham de acordo com as demandas das escolas. A gente tem uma parceria muito boa com a Secretaria de Educação, trabalhando o PSE, que é o Programa Saúde dentro da Escola. (...) nas palestras a gente procura levar sempre temas mais relacionados com a 64 saúde, mas esse ano de 2013 eu já falei nas escolas sobre bulliyng, sobre cultura de paz, sobre gravidez na adolescência, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Então assim, é uma possibilidade enorme que a gente tem de trabalhar de fazer prevenção e educação, trabalhando em parceria com as escolas (Sol). Vale ressaltar que essas atividades não são desenvolvidas apenas através do PSE. As assistentes sociais, assim como outros profissionais do NASF, formam grupos nas unidades de saúde e também nas escolas a partir de necessidades que eles identificam em cada local. A própria comunidade ou a escola também podem propor temáticas a serem desenvolvidas. Eu escolho pela demanda (...) As temáticas ficam muito a critério da unidade, pela necessidade maior (...) Em educação e saúde a gente trabalhou no PSE, quando eu digo a gente é porque todos os profissionais do NASF tiveram que participar, dar seu apoio. (...) Agora, pelo menos eu, estou trabalhando mais nas escolas, porque as vezes na unidade não tem espaço (Terra). São atividades que a gente desenvolve com os grupos no próprio posto, e as atividades que a gente iniciou por causa do PSE, que foi cultura de paz e direitos humanos, mas que a gente vai continuar (...) Se eu vou duas vezes ao posto, eu tento uma fazer visita e se tiver algum atendimento, e outra eu tento fazer um grupo. (...) Então eu acho assim, de grande relevância esses grupos, e pretendo, de acordo com as demandas, que foram apresentadas ir montando novos, mas geralmente eu só passo para outras quando eu já tenho concluído todo o ciclo em todas as localidades aquele grupo, pra que não fique nenhum sem ser atendido (Mar). Vale enfatizar que essas atividades possuem metodologias criativas e interativas que prendem a atenção e instigam a participação dos sujeitos, como a utilização de vídeos explicativos e didáticos, folders, dinâmicas e fanzine. Esse trabalho socioeducativo tem relevância significativa para os sujeitos, por isso deve continuar sendo realizado. A importância dessas atividades pode ser constatada na seguinte fala: é esse trabalho preventivo e educativo, que é a grande atribuição do NASF, é trabalhar na prevenção para que aquele usuário não chegue lá no posto de saúde com algo que poderia ter sido evitado (...) a gente ta cada vez mais com essa compreensão de que cada dia mais a gente tem que trabalhar a prevenção (Mar). Outra competência do assistente social do NASF é a realização de visitas domiciliares, visto que “favorece uma melhor compreensão acerca das condições de vida dos usuários, que envolvem a situação de moradia (residência e bairro) e as relações familiares e comunitárias” (CFESS, 2010, p. 44). É preciso ter clareza que as visitas domiciliares não podem ser utilizadas como meio de fiscalizar a vida do sujeito, mas deve 65 procurar apreender o seu modo de vida, expresso no cotidiano de sua vida familiar, comunitária, no seu trabalho, nas relações que estabelece, no significado que atribui a essas relações, na sua linguagem, representações, com vistas sempre à construção de novas sínteses (BRASIL, 2010, p. 93). A visita domiciliar se expressa no cotidiano das assistentes sociais do NASF e são consideradas muito importantes, como se observa nas falas a seguir: O assistente social do NASF ele tem como prioridade a questão da visita domiciliar né, e ai eu vou enfatizar que eu acho muito importante porque assim, eu entendo que é o assistente social do NASF, da saúde que vai ter esse contato mais direto com a população. (...) muitas vezes, nós do NASF a gente tem essa possibilidade de ta acompanhando essas famílias, porque como a gente já tem dentro da nossa estratégia o carro, embora a gente tenha essas dificuldades mas na maioria das vezes nós não temos, a gente tem oportunidade de ta indo na casa daquela família e quando a gente vai na casa daquela família, a gente faz um olhar integral, que é outro princípio do SUS. O profissional da saúde, do NASF tem que ter esse olhar atento, esse olhar integral, não é porque eu sou profissional do NASF que eu não vou olhar se aquela família tem o perfil de um programa assistencial, de um Bolsa Família, de um Brasil Carinhoso, ou que aquela família ta sem documentação, ou que aquela família tem o perfil de ser encaminhado para algum projeto da habitação. Então eu acho muito importante nosso papel, porque a gente acaba desenvolvendo esse atendimento integral à família, porque a visita domiciliar é a nossa principal atribuição dentro do NASF (Mar). é incrível porque você pode até marcar o atendimento, mas vai ter algo no caso que você precisa saber, então você faz a visita (Terra). As assistentes sociais do NASF valorizam bastante as visitas domiciliares, pois consideram que apenas o atendimento individual na unidade de saúde não é o suficiente para se apreender a realidade do sujeito. Outro eixo no qual as assistentes sociais trabalham está relacionado aos projetos sociais, que são direcionados para os sujeitos dos territórios em que atuam e são elaborados de acordo com a necessidade de cada local. Projetos a gente tem sim, de trabalhar a autonomia, de trabalhar com a valorização do pré-natal, com a questão dos exames laboratoriais, parcerias com outras instituições. Mas os dois projetos que eu especificamente mais trabalho, são os de acolhimento ao portador de saúde mental e o grupo de gestantes (Sol). Além desses, outros dois projetos estão previstos para serem implementados no próximo ano, um é sobre alcoolismo e o outro é sobre drogas. 5.4 Desafios postos ao serviço social O serviço social no NASF do município de São Gonçalo do Amarante se depara cotidianamente com desafios que são postos para a materialização de seu 66 trabalho. A partir das entrevistas realizadas com todas as assistentes sociais e da observação de seu cotidiano profissional, foram identificados seis desafios que devem ser enfrentados. O primeiro desafio identificado refere-se ao trabalho intersetorial. Segundo os Parâmetros para atuação de assistentes sociais na saúde (2010), para desenvolver uma atuação competente o assistente social precisa estimular a intersetorialidade através da realização de ações que busquem fortalecer a articulação entre as políticas de seguridade social, para que seja superada a fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais. Assim, levando-se também em consideração o conceito ampliado de saúde, que é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, tendo diversos determinantes, como o ambiente, a alimentação, a moradia, a educação e a renda, faz-se necessária a articulação dos serviços de saúde com as demais políticas, como de assistência, educação e habitação, assim como os equipamentos de proteção social de um modo geral. Verificou-se que em São Gonçalo do Amarante a intersetorialidade é uma questão que ainda necessita ser trabalhada, pois apesar de haver comunicação entre as assistentes sociais do NASF com os equipamentos de proteção social, a resolutividade de suas ações ainda é deficiente. Essa situação se evidencia nos depoimentos a seguir: A da saúde, depois dessa experiência que eu tive na saúde, ela até ainda funciona com suas limitações, mas uma grande dificuldade é a rede socioassistencial, principalmente no município de São Gonçalo do Amarante. O Conselho Tutelar que a gente encaminha, que embora seja empenhado, sempre esteja ali disponível para atender a um chamado nosso, mas é um carro que não tem, é um local que, é uma comunidade abrigo que não tem pra onde colocar aquela criança que foi vítima de violência, que não tem mais condições de ta inserida no seio familiar, né. Do mesmo jeito ta a situação do CRAS e do CREAS, né, que as vezes a gente encaminha, não tem sequer o carro para fazer uma visita né, e nem os demais atributos que são necessários. Então essa questão da rede, da gente tá com um problema na mão tá com uma demanda na mão e muitas vezes ter que recorrer à Caucaia e à Fortaleza e a gente sabe que muitos desses nossos usuários estão em situação de vulnerabilidade social, então complica um pouco esses encaminhamentos que a gente precisa fazer. É uma coisa que acho que angustia e frustra qualquer profissional, porque a gente vê o problema sem ter como né, embora a gente tente fazer o máximo, mas as vezes eles esbarram com esses impedimentos (Mar). acaba que você tem que trabalhar essa rede, você mesmo tem que fazer o papel dos equipamentos (...) E quando nem a gente consegue e nem a rede consegue, o usuário fica sem ser atendido (Mar). 67 O serviço social no NASF tem como foco os problemas que interferem no processo saúde/doença, no entanto, quando o profissional identifica que outros problemas permeiam a vida do usuário, ele não os ignora, mas faz os devidos encaminhamentos para que os equipamentos competentes possam resolver. Algumas respostas são mais rápidas, outras com um prazo mais longo, mas depende muito também do que a própria gestão municipal propicia de possibilidades para esses equipamentos atenderem. As vezes falta um transporte para fazer uma visita, que seria de competência do CREAS ou do CRAS, mas eu não fico sem resposta dos encaminhamentos que eu faço (Sol). há aquela desculpa, ah a gente também não tem carro pra fazer uma visita e nessa resposta você vê passar dois, três meses, ou as vezes mais, sem nenhuma resposta, sem resolutividade sobre aquele problema, e como você ta mais presente na área, e ai tu vê aquele problema gritante, você já passou para o órgão competente e o órgão não conseguiu dar nenhuma resposta. E isso se torna pra mim muito angustiante, eu me sinto impotente (Terra). você simplesmente vê o problema, tu sabe os mecanismos que supostamente eram para existir e atuar na realização desse problema, e não tem. (...) Então acho que meu maior desafio é procurar encontrar alguma solução pra nunca deixar a pessoa sem uma resposta (Terra). Essa questão da dificuldade de articulação em rede é reflexo do contexto social, político e cultural no qual estamos inseridos, em que o Estado exume suas responsabilidades e investimentos com as políticas sociais, ficando estas cada vez mais focalizadas, se contrapondo a sua dimensão universal de acesso. Nessa perspectiva, observa-se a necessidade de investimentos para que os equipamentos sociais tenham condições de realizar suas ações, pois parte-se do pressuposto que um trabalho intersetorial só é possível quando cada equipamento social faz sua parte adequadamente, resultando na resolutividade. A postura do assistente social deve pautar-se no compromisso de buscar a garantia do acesso dos usuários aos serviços. O segundo desafio é a questão da mobilização social e participação democrática, que ainda não são ações muito presentes no cotidiano profissional do assistente social, conforme expressa Mar: “Essa questão de mobilização e participação democrática a gente fortalecer um pouco mais. (...) é uma ação eficiente, mas acredito que a gente pode fazer mais.” 68 As assistentes sociais relataram que participam das mobilizações de campanhas, que acontecem em datas comemorativas, como o dia da luta antimanicomial, outubro rosa e novembro azul. O serviço social participa mobilizando as pessoas nas ruas e locais públicos, no entanto, a proposta da mobilização, da campanha, não foi uma iniciativa dos profissionais. Quando indagadas sobre as estratégias de mobilização social e participação democrática nas ações do NASF, as respostas foram as seguintes: Poucas. Muito poucas ainda pelo tempo que a gente ta aqui no município, cinco anos. Mas tem procurado assim, pelo menos em datas comemorativas. Houve agora o Outubro Rosa, o Novembro Azul, isso é mobilização social, é democratização do processo saúde, é informação, é esclarecimento. Sobre a participação democrática nas ações do NASF, aqui em São Gonçalo nós não temos muitas associações. (...) Tem algumas instituições que são não-governamentais, por exemplo a AUFAM, a gente procura também fazer essa ligação. Mas ainda não tem muita coisa nesse sentido, mas a gente já fez trabalho com o SESC, nessas parcerias, procurando essas mobilizações com os Alcoólicos Anônimos. E a gente procura democratizar na medida que a gente diz para as pessoas o que é o NASF e que chama as pessoas a participarem desse projeto junto com a gente e que reavalia esses projetos, então isso proporciona uma democratização (Sol). A gente já fez muito quando tem as campanhas. Teve sobre a luta antimanicomial, a gente fez panfletagem na feira, a gente falava sobre a importância e tal. Teve o outubro rosa, nas visitas a gente falava sobre a importância dos exames, do auto exame, da prevenção da mulher. E assim, existe muito da gente participar quando tem as campanhas (Terra). Está sinalizado nas diretrizes do NASF (2010, p. 96) que o serviço social no NASF “apresenta importante contribuição na articulação e formulação de estratégias que busquem reforçar e criar experiências nos serviços de saúde, que efetivem o direito à saúde e a consolidação da cidadania”. Nessas diretrizes também está previsto que uma das ações do assistente social no NASF é apoiar e desenvolver técnicas de educação e mobilização em saúde. “As atividades realizadas têm por objetivo contribuir na organização da população e dos usuários enquanto sujeitos políticos, que possam inscrever suas reivindicações na agenda pública da saúde” (CFESS, 2010, p. 57). O assistente social tem o papel de estimular os usuários para participarem dos espaços de controle social e democrático, como os conselhos, conferências e fóruns, para que lutem em prol da efetivação do direito à saúde e assim exerçam seu papel enquanto cidadãos. Além disso, nesse processo também é importante a articulação com os movimentos sociais (CFESS, 2010). 69 A assistente social Terra enfatizou a importância da continuidade da ação, visto ser necessário ir além dos resultados imediatos. “Então é importante, existe uns fatores bem produtivos e outros assim, bem desgastantes porque tu não vê o resultado, uma continuidade daquele momento (Terra).” Além dessas mobilizações Mar expôs uma experiência pontual que teve em uma associação comunitária. foi uma atividade localizada, mas que eu tentei abranger tudo, a possibilidade que eu tive de me reunir com a comunidade, com a associação, explicar o que é cada equipamento social, explicar o que a assistente social do NASF faz, dizer pra eles que eles tem profissional dentro do município, na localidade, o que eles precisarem a gente tá ali para atender, pra tentar encaminhar. Mas principalmente foi focalizado nessa questão de dizer o que é cada equipamento. E esse encontro tinha como objetivo que eles fizessem propostas de como deveria ser melhorada essa questão da rede sócio-assistencial na localidade deles. E ai a gente discutiu a questão de que a associação pode ta se mobilizando, como é que ela pode ta interagindo com essa rede, que existe essa participação social e o enfoque maior foi do controle social, porque nossa população, nossos usuário, eles geralmente reclamam de mais, mas só reclamam e nada fazem. Segundo o CEBES, existe uma intrínseca relação entre saúde, sociedade, economia, democracia e políticas públicas, sendo a sociedade um grande determinante da saúde. A saúde está socialmente determinada por aquilo que a sociedade já faz por sua própria saúde, independentemente de haver uma maior ou menor participação do estado. Uma sociedade solidária é mais saudável do que uma marcada pelo conflito interno e anomia, porque a solidariedade é, em si, o mais importante determinante social da saúde (CEBES). Isso revela que, quanto mais organizada e informada for a sociedade, mais ela vai ter o poder de garantir seus direitos. Por isso, considera-se que a população necessita ter conhecimento de seus direitos e do poder que tem para reivindicá-los para agir em defesa de serviços de qualidade. Dessa forma, é importante incentivar a organização social e fortalecer os mecanismos de participação e controle social, pois esta é uma das formas de se obter mudanças. O terceiro desafio consiste na dificuldade dos profissionais atenderem todas as demandas de forma integral. Na equipe profissional do NASF atuam apenas três assistentes sociais, sendo que o município tem 16 unidades básicas de saúde e uma população estimada em 43.890 habitantes6. As unidades básicas de saúde são divididas de forma equivalente, de modo que cada profissional fica responsável por 6 Disponível em: <http://www.portaltaiba.com.br/dados_gerais_sao_goncalo_do_amarante.html> Acesso em: 14/08/13. 70 cinco e/ou seis unidades básicas de saúde e atendem a uma quantidade aproximada de usuários. Levando em consideração que o contrato das assistentes sociais no NASF é de 20 horas semanais, os profissionais vão a cada unidade básica de saúde apenas duas vezes ao mês. Isso foi considerado pelas profissionais como um ponto negativo no seu fazer profissional, visto que, apesar da divisão das unidades básicas de saúde ser equivalente, o número de pessoas que fica sob a responsabilidade de cada assistente social é grande. É notório que as assistentes sociais têm compromisso em prestar um atendimento de qualidade aos usuários, no entanto, esse pouco contato mensal dificulta o atendimento de forma integral, como se observa nos relatos a seguir: como nós temos um complexo de 16 postos, a maioria dos profissionais vai no máximo duas vezes a cada posto. Para algumas áreas isso é suficiente, mas para a maioria não, e a comunidade, a população carece de que esse profissional esteja mais presente do que é (Mar). nesses cinco postos eu tenho que me dividir porque eu trabalho 20 horas. (...) tem um posto em cada mês que eu posso fazer três visitas no mês. Ai faço um sorteio. Num mês eu faço em um, depois em outro, sempre variando pra ter uma vez por mês pra fazer três visitas na unidade (Terra). Seria interessante se tivesse mais que duas vezes no mês. Tem canto que o profissional só tem condições de ir uma vez, que a demanda é muito grande, que ele tem não só um posto, tem cinco postos, tem profissional que tem oito postos para atender (Terra). Após revelarem essa dificuldade, as próprias assistentes sociais colocaram como possíveis soluções para essa situação a contratação de mais profissionais ou o aumento da jornada de trabalho. acredito que as 30 horas do assistente social não é o suficiente pra um assistente social do NASF, um assistente social do hospital, porque eu mesma saio de São Gonçalo, estou no meu outro trabalho e recebo ligações de São Gonçalo, recebo problemas de São Gonçalo para resolver. Então você tem aquela noção de que você precisa ta integral naquele local. Então acabo tendo essa avaliação de que 30 horas não é suficiente pra ter uma atenção integral mesmo à saúde ou até um próprio CREAS que você muitas vezes sai no seu horário de trabalho e ainda não tem resolvido aquela demanda (Mar). Em cada unidade básica de saúde o assistente social realiza tanto as visitas domiciliares, o atendimento individual e as atividades socioeducativas, como está preconizado nas diretrizes do NASF, o contato com as unidades e a população precisa aumentar. Diante disso, há a necessidade das colocações das profissionais serem avaliadas pelos gestores para que se procurem soluções para melhorar essa 71 situação e, consequentemente, imprimam ainda mais qualidade nas ações do serviço social no NASF. O quarto desafio a se considerar é a flexibilização das relações de trabalho, resultante da reestruturação do Estado e do neoliberalismo, que alteraram as relações de trabalho. Ao passo que o Estado retrai suas responsabilidades sociais, transferindo-as para o setor privado e para a sociedade civil, diminuem também os postos de trabalho do serviço social, pois “é exatamente a esfera pública que está sendo destruída, afetando diretamente as condições de trabalho do Serviço Social, que tem no Estado o seu maior empregador” (IAMAMOTO, 2012, p. 45). No cenário contemporâneo, o mercado de trabalho é marcado pela desregulamentação de direitos, pela flexibilização e precarização do trabalho, desemprego, subcontratação e polivalência (IAMAMOTO, 2012). O assistente social, por ser um trabalhador liberal que necessita estar inserido em uma instituição para poder ter ferramentas e exercer seu trabalho e como os demais trabalhadores precisa vender sua força de trabalho em troca de um salário, também está sujeito a essa atual configuração de precarização no mercado de trabalho. O assistente social se insere nas instituições cada vez mais pela via dos contratos temporários, em detrimento dos concursos públicos, gerando uma instabilidade no trabalho. Atrelado a isso está a Lei nº 12.317/2010 que instituiu o trabalho de 30 horas semanais para o assistente social, sem redução salarial. O que era pra ser uma conquista da categoria está se transformando em um novo desafio, pois apesar de ser uma lei, os empregadores nem sempre a cumprem corretamente (DELGADO, 2013). Ao invés de contratar um assistente social para trabalhar 30 horas semanais, as instituições estão utilizando a estratégia de contratá-los para trabalharem apenas 20 horas semanais, com redução no salário. Isso implica a subordinação desses profissionais a empregos com baixos salários, tendo muitas vezes que recorrer a um segundo emprego, o que também é complicado devido à grande concorrência de mercado. As assistentes sociais que atuam no NASF de São Gonçalo do Amarante mantêm vínculo empregatício através de contratos temporários, trabalham 20 horas semanais e duas trabalham em outras instituições. Essa situação tem como consequências o desgaste físico e mental do profissional, que precisa trabalhar em mais de uma instituição; a instabilidade no trabalho, que pode restringir o profissional 72 a realizar atividades rotineiras; a impossibilidade de dar atenção integral aos usuários, devido às poucas horas de trabalho semanal e grande demanda, como já foi exposto e, nesse caso específico, pode acarretar o desconhecimento da população sobre o NASF e o serviço social no NASF. Esse foi o quarto desafio identificado. O reflexo desta precarização foi observado no quinto desafio. Nas entrevistas, revelou-se que apesar do NASF estar inserido no município há cinco anos, grande parte da população desconhece o que realmente é o NASF, quais suas ações e profissionais, como relata uma das assistentes sociais: embora a gente tenha feito um trabalho muito preventivo de ir nas escolas, de ir nas creches, de ir nos conselhos de comunidade divulgando o que é o NASF. Embora eu mesma tenha tido a experiência de durante o PSE fazer uma palestra e eu sempre começo: quem aqui conhece o NASF, quem aqui sabe quais são os profissionais? E a gente vê que muitas pessoas, principalmente adolescentes, crianças e adolescentes, que ainda não sabem, mas a gente ta fazendo esse trabalho incansável de ta divulgando: você tem um psicólogo, você tem uma assistente social, você tem um fono, você tem um T.O, dentro do seu município, que você pode ter o atendimento gratuito e muito fácil, só se dirigir ao posto, pedir para marcar na agenda de cada profissional aquele atendimento e aquele atendimento vai ser realizado no posto de saúde (Mar). o que eu vejo assim do NASF, essa questão do conhecimento sobre os profissionais que existem, porque ainda existem comunidades que não conhecem que existe um psicólogo, que existe assistente social no posto, que ele ta lá presente (Terra). Nos atendimentos e nas atividades socioeducativas, as profissionais buscam informar aos usuários sobre o trabalho do NASF, pois muitas vezes o usuário necessita de um atendimento e não sabe que no município há profissionais que podem atendê-lo. Cabe aqui uma reflexão acerca dos motivos desse desconhecimento da população sobre o NASF. Apesar de os profissionais informarem aos usuários sobre o trabalho do NASF, ainda é necessário haver divulgações mais amplas, que consigam atingir a população de modo geral. Outro fator que pode ser destacado é a pouca presença dos profissionais do NASF nas unidades básicas de saúde, em média duas vezes por mês, o que não favorece o conhecimento pleno da população sobre os serviços do NASF. Muitas vezes, os profissionais do NASF acabam sendo confundidos como sendo profissionais da unidade. Tendo em vista que as ações do NASF são essenciais para a integralidade do cuidado e para a promoção da saúde, há a necessidade de sua divulgação ampla para a população. 73 O sexto desafio que se coloca no cotidiano do assistente social diz respeito à compreensão equivocada que alguns profissionais da saúde têm sobre o serviço social, que ao não conhecerem o papel do profissional, tendem a direcionar demandas que não são de sua competência, como se observa nos seguintes relatos: Eu já recebi demandas de um determinado profissional da saúde que estava em unidade básica, queria que eu fosse fazer uma visita domiciliar porque estava havendo briga de vizinhos, uma richa entre dois vizinhos porque um estava queimando o lixo no seu quintal e a fumaça estava invadindo a casa do outro (Sol). Existe essa confusão muitas vezes por parte dos agentes de saúde, de outros profissionais além da população (Mar). Sabe-se que a gênese do serviço social brasileiro estava interligada à doutrina social da Igreja Católica, em que a profissão era vista como apostolado e a questão social era tratada como um problema moral e religioso, sendo as ações dos assistentes sociais voltadas ao assistencialismo e à caridade aos pobres. Entretanto, o serviço social passou por intensos processos de renovação e maturação, não se configurando mais como assistencialismo (NETTO, 2006). O serviço social é uma especialização do trabalho que tem como objeto de atuação as múltiplas expressões da questão social. O assistente social trabalha com políticas sociais e tem como primazia a garantia dos direitos sociais (IAMAMOTO, 2012). Conforme Iamamoto (2012, p. 67), “o Serviço Social é socialmente necessário porque ele atua sobre questões que dizem respeito à sobrevivência social e material dos setores majoritários da população trabalhadora”. O serviço social tem como pilares normativos a Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662/1993, que estabelece as condicionalidades para exercer a profissão, elege as competências e atribuições privativas do assistente social, entre outras disposições. E o código de ética profissional instituído pela Resolução CFESS n. 273/1993, que elenca os princípios da profissão, assim como os direitos e deveres do assistente social (DELGADO, 2013). Os assistentes sociais inseridos na área da saúde também possuem os parâmetros para a atuação de assistentes sociais na saúde, criados pelo CFESS 2008, que direciona suas ações profissionais. Apesar de todas as mudanças na profissão, ainda é recorrente a compreensão equivocada tanto da população quanto de profissionais de outras 74 áreas sobre o que é o serviço social. Estes se referem à profissão como sendo de cunho assistencialista, que ajuda os pobres e resolve os problemas da sociedade. Verificou-se que no cotidiano profissional do assistente social do NASF alguns profissionais, principalmente da saúde, ainda não têm clareza sobre o que faz um assistente social, quais suas competências e atribuições. No entanto, as assistentes sociais do NASF têm clareza sobre seu papel e mantêm uma postura ética com os usuários e com os profissionais e quando se deparam com essas situações tentam explicar seu trabalho, sua função social, como é relatado no depoimento a seguir a gente tem esse desafio sempre, de dizer que o Serviço Social está dentro de um processo, está dentro de um contexto, está dentro de uma territorialização, que não é uma coisa assim de qualquer jeito e a qualquer momento. Tem uma metodologia, tem um embasamento teórico, tem um planejamento, como em todas as outras profissões. Então as vezes tem até profissionais da saúde que acham que o assistente social é como um trabalho de um bombeiro, que a qualquer dia a qualquer hora é apagando incêndio, é fazendo intervenções assim de qualquer maneira. Mas eu me posiciono muito firmemente, olho bem para a pessoa que ta me fazendo a proposta, digo o que é o Serviço Social, digo que a gente responde a um conselho de classe que é o CRESS, digo que a gente tem um Código de Ética Profissional que tem mais de 20 anos a ser seguido. E da minha observação, da forma como eu trabalho, eu acredito que consigo fazer isso, fazer o Serviço Social ser respeitado e ser compreendido (Sol). Acho que o maior desafio para o Serviço Social seria desmistificar mais esse lado caritativo (Terra). Diante de tais dificuldades, é importante que sejam realizadas reuniões e debates entre os profissionais para que sejam esclarecidas as ações e competências do assistente social, assim como estabelecer rotinas e planos de trabalho (CFESS, 2010). Além disso, para a profissão ser compreendida corretamente, é essencial, primeiro, que o assistente social tenha um embasamento teórico e ético, conheça bem seu papel, suas atribuições, direitos, deveres e mantenha uma postura adequada à sua profissão cotidianamente. A postura do profissional reflete em toda a categoria, por isso, para evitar equivoco dos demais profissionais, é preciso que os próprios assistentes sociais tenham clareza de seu papel e transmitam isso em suas ações. 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS O NASF de São Gonçalo do Amarante está implantado no município há cinco anos e nesse período vem prestando importante apoio às UBS, realizando ações que contribuam para a promoção e prevenção da saúde da população. O serviço social no NASF atua enfrentando as expressões da questão social que se manifestam na vida dos usuários e que repercutem na sua saúde. Sua visão profunda e crítica possibilita compreender a realidade na qual o sujeito está inserido, o que é fundamental para que possa intervir de forma eficaz. Tendo em vista a relevância do serviço social no NASF, é essencial que o profissional evite o pragmatismo, seja propositivo e capaz de formular estratégias para enfrentar os problemas sociais que repercutem na vida dos usuários. Suas ações devem ter fundamentações teóricas e legais. As assistentes sociais do NASF de São Gonçalo do Amarante são profissionais comprometidas com os princípios, normas e valores norteadores da profissão contidos no código de ética profissional. Atuam visando a resolutividade de suas demandas, mas esse processo muitas vezes é dificultado devido a fatores externos, oriundos do próprio sistema neoliberal, como a estrutura física das UBS e a fragilidade da rede de proteção social. Além de fatores externos, reconhece-se a necessidade de o serviço social realizar ajustes no seu processo de trabalho para que possa potencializar suas ações e beneficiar os usuários. O serviço social do NASF precisa se engajar mais com a comunidade fora das unidades básicas de saúde, provendo atividades educativas voltadas para a questão dos direitos sociais, que estimulem a reflexão e incentivem a participação social. A população necessita conhecer seus direitos e saber que possuem o poder de lutar em prol da efetivação destes. Este é um importante papel do serviço social, pois é através do conhecimento que a população pode se organizar e promover mudanças. Observou-se também que o serviço social no NASF por vezes é compreendido de forma enviesada por outros profissionais, o que pode ser reflexo de uma carência de processo educativo sobre a categoria, pois sua imagem social é construída nas relações cotidianas. O trabalho no NASF deve ser realizado de forma interdisciplinar, por isso, é essencial que cada profissional compreenda as 76 atribuições dos demais para que possa trabalhar em conjunto, respeitando os limites do outro e compartilhando reflexões para encontrar respostas para as demandas. Uma questão que é muito trabalhada pelo NASF é a prevenção. As assistentes sociais desenvolvem atividades socioeducativas que são realizadas nas UBS, escolas e creches de todo o município, que visam à prevenção de doenças, o conhecimento dos direitos sociais e a promoção da cidadania. Portanto, considerase que o serviço social tem papel fundamental dentro do NASF, pois tem o compromisso de garantir o direito dos usuários de acessar os serviços de saúde, assim como promover sua autonomia e cidadania. 77 REFERÊNCIAS ALMEIDA, P. Núcleo de Apoio às Equipes de Saúde da Família (NASF): uma breve reflexão. 2009. 53 folhas. Trabalho de Conclusão do Curso – Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. 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Disponível em <http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/1147/MONO GRAFIA.pdf?sequence=1> Acesso em: 19/03/2013. 82 APÊNDICE 83 APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE Prezado (a) Senhor (a), Vimos, por meio deste, convidá-lo (a) para participar da pesquisa “O Serviço Social no NASF: Uma análise do processo de trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família no município de São Gonçalo do Amarante/ Ceará”, sob execução das pesquisadoras Aniely Silva Brilhante (responsável) e Pâmela Moraes Brasileiro Correia (assistente), a qual pretendemos compreender quais as possibilidades de atuação do assistente social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante. Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista semi-estruturada, que consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Sr(a). pela pesquisadora. A entrevista será realizada no NASF do município de São Gonçalo do Amarante, com duração aproximada de uma hora, no dia previamente agendado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista serão gravados com seu consentimento. A metodologia se iniciará a partir da data de autorização pelo Comitê de Ética da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará- SES, localizado na Av. Almirante Barroso, Praia de Iracema, Fortaleza, para a execução da pesquisa. É importante destacar que sua colaboração será muito importante para a realização deste estudo e que não lhe trará malefício. Sua identidade será mantida em sigilo, e a preservação do anonimato ocorrerá por meio da utilização de codinomes. Contudo, informamos a existência de desconfortos ou risco de identificação devido a pouca quantidade de sujeitos entrevistados. Informo ainda, que: mesmo tendo aceito participar, o Sr (a). possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo ao seu trabalho na Instituição. Se o Sr (a). aceitar participar, estará contribuindo para o aprofundamento de estudos relacionados ao trabalho do assistente social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Ressaltamos que possui o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, você será comunicado dos resultados finais. Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa. As pesquisadoras assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar as pesquisadoras para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados coletados com a entrevista: Aniely Silva Brilhante, contato (85) 32962462, Rua Amarília Dutra, 80 bairro Maraponga, Fortaleza/Ce e Pâmela Moraes Brasileiro Correia, contato: (85) 91083416, Rua 15 de Novembro, 279, bairro Itambé, Caucaia/Ce. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também pode entrar em contato com a Faculdade Cearense, contato: (85) 32017000, localizado na Av. João Pessoa, 3884 bairro Damas, Fortaleza/CE. 84 Termo de Consentimento Pós–Informação Eu,_________________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. São Gonçalo do Amarante, ____ de ________________de 2013 _____________________________________ Assinatura do Participante _____________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável 85 APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE Prezado (a) Senhor (a), Vimos, por meio deste, convidá-lo (a) para participar da pesquisa “O Serviço Social no NASF: Uma análise do processo de trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família no município de São Gonçalo do Amarante/ Ceará”, sob execução das pesquisadoras Aniely Silva Brilhante (responsável) e Pâmela Moraes Brasileiro Correia (assistente), a qual pretendemos compreender quais as possibilidades de atuação do assistente social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante. Sua participação é voluntária e se dará por meio da cooperação com a observação do seu cotidiano profissional pelas pesquisadoras, as quais pretenderão identificar a forma como o assistente social procede suas ações na referida estratégia. A finalidade dessa coleta de dados é compreender as possibilidades e desafios inerentes à atuação da categoria no NASF do município. Realizaremos a observação das ações do NASF do municio de São Gonçalo do Amarante, no período total de 12 horas distribuídas por um mês, previamente agendadas, de acordo com a sua disponibilidade. A metodologia de observação se iniciará a partir da data de autorização pelo Comitê de Ética da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará- SES, localizado na Av. Almirante Barroso, Praia de Iracema, Fortaleza, para a execução da pesquisa. É importante destacar que sua colaboração será muito importante para a realização deste estudo e que não lhe trará malefício. Informo ainda, que: mesmo tendo aceito participar, o Sr (a). possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo ao seu trabalho na Instituição. É válido esclarecer que será resguardo o sigilo quanto aos participantes observados. Se o Sr (a). aceitar participar, estará contribuindo para o aprofundamento de estudos relacionados ao trabalho do assistente social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Ressaltamos que possui o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, você será comunicado dos resultados finais. Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa. As pesquisadoras assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar as pesquisadoras para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados coletados com a entrevista: Aniely Silva Brilhante, contato (85) 32962462, Rua Amarília Dutra, 80 bairro Maraponga Fortaleza/Ce e Pâmela Moraes Brasileiro Correia, contato: (85) 91083416, Rua 15 de Novembro, 279, bairro Itambé, Caucaia/Ce. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também pode entrar em contato com a Faculdade Cearense, contato (85) 32017000, localizado na Av. João Pessoa, 3884 bairro Damas, Fortaleza/Ce. 86 Termo de Consentimento Pós–Informação Eu,_____________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. São Gonçalo do Amarante, ____ de ________________de 2013 ________________________________________ Assinatura do Participante _______________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável 87 APÊNDICE C Pesquisa de TCC: Análise do trabalho do Serviço Social no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de São Gonçalo do Amarante/ Ceará. Pesquisadores: Pâmela Moraes Brasileiro Correia; Aniely Silva Brilhante (Orientadora). ROTEIRO DE ENTREVISTA Entrevista nº: ____ Data: ___/___/___ Duração:______ Gravação: ______ 1. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS 1) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Idade: ______ 3) Etnia: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarela 4) Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado 5) Naturalidade: _____________________ 6) Reside em: ( ) São Gonçalo do Amarante ( ) Outro Município-Ce ( ) Outro Estado - Especifique: ______________ 7) Qual a renda mensal de sua família hoje? ____________ 8) Qual a sua religião? ( ) Evangélica ( ) Católica ( ) Espírita ( ) não possui Outra: ______________ 9) Qual o ano de sua graduação? _________ 10) Qual instituição de ensino que se graduou? __________________________ 11) Possui outra graduação acadêmica? ( ) Sim ( ) Não Especifique: ____________________________ 12) Possui pós-graduação acadêmica? ( ) Sim ( ) Não Especifique: ____________________________ 13) De que forma estabeleceu vínculo empregatício com o NASF? Concurso ( ) Contrato ( ) outros ( ) _____________________________ 2. ATUAÇÃO PROFISSIONAL 1) Qual sua análise sobre o SUS? 2) Quais as características da Estratégia Saúde da Família no município? 3) Qual sua análise sobre o NASF no município? 4) Como você observa o posicionamento do Serviço Social frente aos grandes desafios impostos na defesa da saúde enquanto direito social e dever do Estado? 5) Quais são as competências do assistente social na instituição? 6) Quais são as atividades e projetos desenvolvidos pelo Serviço Social no NASF? 7) Como se estabelece a relação entre assistente social e os demais profissionais? 8) Quais as principais demandas dos usuários postas ao Serviço Social? 9) Como se estabelece a relação entre assistente social e usuário? 10) Como é feito o fluxograma de atendimento aos usuário? 11) Quais os principais parceiros da rede de proteção social? 12) Quais as experiências de Prevenção e educação em Saúde? 13) Quais as estratégias de mobilização social e participação democrática nas ações do NASF? 14) Quais os espaços de qualificação profissional? 15) Quais os principais desafios postos ao Serviço Social?