UNINGÁ – UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERIODONTIA LUCIANO DE OLIVEIRA CALDAS USO DE ANTIBIÓTICOS SISTÊMICOS NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES PASSO FUNDO 2007 1 LUCIANO DE OLIVEIRA CALDAS USO DE ANTIBIÓTICOS SISTÊMICOS NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES Monografia apresentada à Unidade de Pósgraduação da Faculdade Ingá-UNINGÁ-Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Periodontia. Orientadora: Profª Ms. Paula Branco PASSO FUNDO 2007 2 LUCIANO DE OLIVEIRA CALDAS USO DE ANTIBIÓTICOS SISTÊMICOS NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES Monografia apresentada à comissão julgadora da Unidade de Pós-graduação da Faculdade Ingá-UNINGÁ-Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Periodontia. Aprovada em ____/____/____. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________ Profª. Ms.Paula Branco ________________________________________ Prof: Dr. Carlos Alberto Rech ________________________________________ Profª Ms. Marisa Maria Dal Zot Flores 3 RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar o uso de antibióticos sistêmicos no tratamento das periodontites. Através de uma revisão bibliográfica, os antibióticos sistêmicos foram analisados como forma única de terapia ou como coadjuvante da terapia periodontal consagrada por diversas pesquisas, ou seja, a raspagem e o alisamento radicular. Foram analisadas as características, os aspectos positivos e negativos dos diversos antibióticos conhecidos na prática odontológica, a fim de que o profissional possa optar pelo seu emprego ou restrição baseando-s e e m evidências científicas. Também foram avaliados os aspectos microbiológicos básicos, tanto da etiopatogenia da doença periodontal (baseando-se no estágio atual do conhecimento dos microrganismos relacionados às periodontites) como os mecanismos de ação dos antibióticos conhecidos. Ao término desse estudo foi possível constatar que o uso de antibioticoterapia sistêmica nos casos de periodontite crônica leve ou moderada não está justificado no momento. Recomenda-se nos casos de periodontite crônica grave e/ou refratária, casos de periodontite agressiva localizada e generalizada, sempre c o m o a u x iliar ao debridamento mecânico. Palavras-chaves: Antibióticos Sistêmicos, Periodontites, Terapia periodontal. 4 ABSTRACT The purpose of this study was to evaluate the systemic antibiotics usage on the treatment of periodontitis. The systemic antibiotics was analyzed through a bibliographical review including several researches, as an only way of periodontal therapy or as a periodontal therapy stated supporting, in other words, scaling and root planning. T h e characteristics of several well-known antibiotics in dental profession was analyzed to give to professional the possibility to select or not, in a more scientific way, their usage on the periodontal treatment, taking into consideration the positives and negatives aspects of each one. The basics microbiologic aspects, as etiology and pathogenesis of the periodontal diseases, was also evaluated by analyzing the current level of knowledge on microorganisms related to various types of periodontitis, as well as the mechanisms of action of the well-known antibiotics. In conclusion to this study, we can establish that the use of systemic antibiotics in cases of light or moderate chronic periodontitis is not authorized at this moment; however it is recommended in cases of advanced periodontitis and/or refractory periodontitis, as well as in cases of localized and generalized aggressive periodontitis, always as a support to the mechanic scaling. Key-Words: Systemic Antibiotics, Periodontitis, Periodontal Therapy. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6 2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................ 9 2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS........................................................................ 9 2.2 ANTIBIOTICOTERAPIA SISTÊMICA NO TRATAMENTO DAS PERIDONTITES............................................................................................................. 11 2.3 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS................................................................ 14 2.4 CARACTERÍSTICAS DAS PERIODONTITES............................................... 18 2.5 PRINCIPAIS ANTIBIÓTICOS EMPREGADOS NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES.......................................................................................... 20 2.5.1 Seqüência da terapia antibacteriana 21 2.5.2 Penicilinas.................................................................................................. 22 2.5.2.1 Estudos..................................................................................................... 23 2.5.3 Metronidazol.............................................................................................. 25 2.5.3.1 Estudos..................................................................................................... 26 2.5.4 Macrolídeos................................................................................................ 28 2.5.4.1 Estudos..................................................................................................... 29 2.5.5 Tetraciclinas............................................................................................... 31 2.5.5.1 Estudos..................................................................................................... 32 2.5.6 Lincosamidas............................................................................................. 35 2.5.6.1 Estudos..................................................................................................... 36 2.5.7 Fluorquinolonas........................................................................................ 36 2.5.7.1 Estudos..................................................................................................... 37 2.5.8 Antibioticoterapias com associação de antibióticos............................. 39 2.5.8.1 Estudos..................................................................................................... 39 2.6 ANTIBIOTICOTERAPIAS RECOMENDADAS NOS TRATAMENTOS DAS PERIODONTITES.......................................................................................... 43 3 CONCLUSÕES................................................................................................. 44 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 46 6 1 INTRODUÇÃO O uso de uma terapia química na Periodontia remonta ao século passado. Nesta época não se conhecia o agente etiológico causador das doenças periodontais e o seu tratamento era baseado no empirismo (FERES, et al.,1999). Após não existirem mais dúvidas de que a placa bacteriana era a causadora da gengivite (LÖE, THEILADE, JENSEN, 1965) e da periodontite (LINDHE, HAMP, LÖE, 1973), soluções terapêuticas para o controle da placa bacteriana começaram a ter o seu início. Na década de 60, acreditava-se que os problemas periodontais eram causados pela quantidade de placa bacteriana que ficava acumulada junto à superfície dentária, e que qualquer quantidade de placa contribuía para a destruição dos tecidos de suporte periodontais. Este conceito ficou conhecido como hipótese da placa bacteriana não-específica (FERES, et al., 1999). Seguindo este conceito, o tratamento realizado baseava-se na tentativa de remover toda a placa bacteriana através das medidas de higiene oral executadas tanto pelo paciente quanto pelo profissional (KORNMAN, KARL, 1986). Baseando-se em estudos como os de Listgarten (1976) que mostraram as diferenças entre as microbiotas em indivíduos saudáveis, com gengivite e com periodontite, buscou-se associar microorganismos específicos para a doença periodontal. A hipótese que sustentava esta convicção foi chamada de hipótese da placa específica (LOESCHE, 1976). Seguindo este caminho foram identificados muitos microrganismos patogenicamente suspeitos de estarem associados a determinados tipos de periodontites, sendo que o Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa) foi considerado o principal patógeno da periodontite de estabelecimento precoce (EBERSOLE, et al., 1980; LISTGARTEN, LAI, EVIAN, 1981; EBERSOLE, et al., 1982), hoje chamadas de periodontites agressivas. A periodontite dos adultos seria c a u s a d a p e l a Porphyromonas gingivalis (Pg), Bacteroides forsythus (Bf) e Treponema denticola (Td) (SLOTS, RAMS, 1990; HAFFAJEE, SOCRANSKY, 1994), hoje chamadas de periodontites crônicas. A periodontite refratária seria originada pelo Actinobacillus actinomycetemcomitans, Bacteroides forsythus e Eikenella corrodens (Ec) (SLOTS, RAMS, 1990). 7 Na atualidade sabemos que estes possíveis periodontopatógenos não atuam sozinhos, existindo uma interação entre as espécies (SOCRANSKY, HAFFAJEE, 2002). Esta estreita relação entre os microrganismos nos leva a um novo conceito no qual a placa bacteriana passa a ser vista como um biofilme bacteriano. A microbiota que origina as doenças inflamatórias periodontais sustentam o uso racional da antibioticoterapia no tratamento periodontal. Como as evidências de bactérias específicas nas periodontites têm se acumulado e crescido, dentistas tem aumentado o uso de antibioticoterapia no tratamento. Este conceito é baseado na premissa de que microorganismos específicos causam a doença periodontal destrutiva e que o agente antibiótico in-vivo pode alcançar concentrações necessárias para matar ou inibir as bactérias. Muitos investigadores têm avaliado o uso de antibióticos sistêmicos para interromper a progressão das periodontites. Alguns benefícios têm sido demonstrados quando estas medicações são incorporadas dentro de um tratamento protocolar, que é a raspagem e o alisamento radicular subgengival (RASUB). Atualmente as indicações de antibioticoterapia como coadjuvante na terapia periodontal para redução da necessidade de cirurgias periodontais, parecem ser limitadas e requerem mais estudos para a sua validação. Entretanto, a despeito do potencial efeito destas drogas, incluindo o desenvolvimento de resistência bacteriana e aumento de organismos oportunistas, a incorporação dos antibióticos sistêmicos no tratamento rotineiro da maioria das periodontites crônicas tem sido estudada por muitos autores, em alguns casos como única terapia usada, isto é, sem o uso de raspagem e alisamento radicular. A maioria dos estudos atuais mostram que, para pacientes com doenças periodontais refratárias, pacientes com alto risco de fracasso no tratamento periodontal e nas periodontites agressivas, o uso de antibioticoterapia sistêmica deve ser utilizado em conjunto com uma meticulosa raspagem e alisamento radicular. Os antibióticos devem ser indicados para pacientes periodontais que não respondem à terapia mecânica convencional, para pacientes com uma infecção periodontal grave com manifestações sistêmicas, para profilaxia em pacientes comprometidos e como auxiliar na terapia periodontal cirúrgica e não-cirúrgica (DAJANI et al., 1997). 8 O conceito da antibioticoterapia periodontal deve centrar-se na microbiota patogênica, no paciente e no antibiótico (SLOTS, TING, 2002; LISTGARTEN, LOOMER, 2003). O propósito desta revisão bibliográfica é avaliar, com base na literatura, o uso de antibióticos sistêmicos no tratamento das periodontites, levando em consideração o conceito do biofilme bacteriano. 9 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS As decisões quanto à seleção e administração de agentes antimicrobianos devem seguir alguns critérios para que possamos atingir o melhor resultado com um menor efeito adverso. Inicialmente, deve-se questionar sobre a indicação dos antibióticos, avaliando se os sinais são compatíveis com uma infecção e quais benefícios serão advindos de seu emprego. É importante identificar qual o causador da infecção, já que os antibióticos são agentes específicos. Isto deve ser obtido através de exame microbiológico ou pelo estudo da prevalência de um agente etiológico em uma dada patologia. No primeiro item, o tratamento é específico, no segundo é presuntivo (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). Na doença periodontal a infecção é causada por uma mescla de patógenos, sendo raros os exames microbiológicos feitos em clínicas odontológicas, utilizando-se na maioria dos casos, o tratamento presuntivo (SLOTS, RAMS, 1990). Nas periodontites, embora saibamos que a grande maioria da flora bacteriana patogênica é constituída de anaeróbios Gram positivos e negativos, anaeróbios facultativos Gram negativos e por espiroquetas (HAFFAJEE, SOCRANSKY, 1994), não é rotina a requisição de exame microbiológico e, como já mencionado anteriormente, muitos antibióticos são prescritos de maneira aleatória quanto à dosagem, duração do tratamento, c o m base apenas em parâmetros clínicos (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). Para prescrever um antibiótico deve-se levar em consideração a idade, gravidez, lactação, imunossupressão, hipersensibilidade ao medicamento, uso prévio ou não de outros antibióticos e condição financeira do paciente. Deve-se também, considerar a dose, intervalo e duração do tratamento, obedecendo-se critérios relacionados com a meia-vida, concentração plasmática, e tempo necessário para que se evitem recidivas e aparecimento de resistências. Outro passo no uso de antibióticos é acompanhar o tratamento de cada caso. Cada paciente responde de maneira própria à terapia, sendo que a resposta do paciente é avaliada pelo desaparecimento dos sinais e sintomas e, às vezes, por 10 resultado de novos exames microbiológicos, devendo-se acompanhar os efeitos adversos. Em alguns casos, podemos lançar mão do uso associado de antibióticos, se existem vantagens nesta prescrição. Normalmente, utiliza-se apenas um antibiótico específico para a patologia em questão. Deve-se atentar para o fato de que as associações acarretam maior risco e custo (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). Os agentes antibióticos podem dar origem à reações adversas quando utilizados. Dentre as reações mais comuns está a hipersensibilidade, que pode ser causada pelas penicilinas. Estas, assim como as tetraciclinas, os macrolídeos e o metronidazol, podem causar diarréia, náuseas, vômitos e desconforto gastrintestinais. Em gestantes deve-se evitar o uso de tetraciclinas e metronidazol. Um grave efeito colateral é a colite pseudomembranosa, que pode ocorrer quando do emprego de penicilina e de clindamicina. Um conhecido efeito provocado pelas tetraciclinas é o escurecimento permanente dos dentes, quando é receitada para crianças em fase de formação dentária. Além destes efeitos mais comuns causados por estes antibióticos, também podemos citar as vertigens, lupus eritematoso, hipertensão intracraniana, insônia, irritabilidade entre outros (VAN WINKELHOFF, RAMS, SLOTS, 1996). Provavelmente o pior problema originado pelo uso dos antibióticos sistêmicos seja a resistência bacteriana. Um dos resultados do uso indiscriminado de antibióticos é o surgimento de patógenos resistentes, o que constitui um problema ao sucesso do tratamento das doenças infecciosas (FERES, et al., 1999). As bactérias são capazes de utilizar estratégias que as tornam resistentes a diferentes antibióticos. Elas podem impedir que os antibióticos as atinjam, por exemplo, diminuindo a sua permeabilidade. Podem também inativar o antibiótico através da produção de enzimas como, por exemplo, as beta-lactamases (DAVIES, 1994). Portanto, para evitar a utilização indiscriminada e errônea da antibioticoterapia e minorar os efeitos adversos, faz-se necessário embasar o tratamento em critérios cientificamente estabelecidos (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). 11 2.2 ANTIBIOTICOTERAPIA SISTÊMICA NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES Os antibióticos são definidos como substâncias orgânicas naturais ou sintéticas que em baixas concentrações podem inibir ou destruir microorganismos selecionados (PALLASCH, SLOTS, 1996). Considera-se que os antibióticos sistêmicos penetrem nos tecidos periodontais e na bolsa periodontal pela transudação proveniente da corrente sanguínea. Os antibióticos dentro do tecido conjuntivo periodontal podem penetrar os epitélios do sulco e epitélio juncional, e encontrar uma via para o fluido gengival, que está associado à placa subgengival (ROSE et al., 2007). Existem algumas situações na Periodontia em que o uso de antibióticos é consenso no meio científico, já em outras doenças periodontais o seu emprego não é uma unanimidade. Entre os casos em que a antibioticoterapia é consenso podemos citar as situações agudas como a periodontite ulcerativa necrosante (PUN), a gengivite ulcerativa necrosante (GUN), abscessos periodontais e pericoronarite, todos com comprometimento sistêmico. Os antibióticos também são usados no tratamento de infecções associadas com procedimentos cruentos e como profiláticos de pacientes de risco (imunodeprimidos e transplantados, por exemplo). Outra indicação são as cirurgias periodontais com técnicas regenerativas, nas quais o uso de corpos estranhos (membranas) pode servir como porta de entrada para infecções. Cada uma destas situações pode requerer abordagem antimicrobiana diferente, de acordo com os agentes etiológicos. Cabe ao profissional conhecer os princípios de seleção e indicação dos antibióticos, para que possa usá-los adequadamente, tendo melhor resultado clínico aliado a reações adversas de menor importância (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). Fortalecidos por informações de pesquisas promissoras e retorno comercial, o interesse no campo da antibioticoterapia periodontal foi rapidamente expandido. O controle da microbiota periodontal com antibióticos em conjunto com o debridamento mecânico tem mostrado maior efetividade do que apenas a terapia mecânica, principalmente no tratamento das doenças periodontais agressivas e/ou avançadas. A possibilidade do regime de antibioticoterapia periodontal requer um entendimento da flora bacteriana infecciosa usual, avaliação dos agentes antibióticos e padrão de susceptibilidade patogênica (JORGENSEN, AALAM, SLOTS, 2005). 12 Antibióticos sistêmicos são frequentemente indicados para o tratamento das periodontites agressivas porque eles conseguem erradicar ou acentuar a diminuição dos patógenos periodontais residentes nas estruturas dentais que são difíceis de remover por instrumentação mecânica, como por exemplo, as áreas de lesões de furca, sendo que uma análise microbiológica prévia deveria ser preferencialmente realizada para seleção do antibiótico sistêmico ideal para o tratamento individual de cada paciente (JORGENSEN, AALAM, SLOTS, 2005). As periodontites agressivas generalizadas são as mais severas formas das doenças destrutivas periodontais. Do ponto de vista clínico, consideráveis evidências indicam que pacientes com periodontite agressiva podem ter dificuldades no tratamento a médio e longo prazo, mostrando recorrência da doença e perda do dente (VAN WINKELHOFF, 2005). Nestes pacientes, quando o debridamento mecânico é executado como terapia inicial antes de tratamento cirúrgico ou como tratamento definitivo, resultados clínicos podem ser melhorados com o auxílio da antibioticoterapia (JORGENSEN, AALAM, SLOTS, 2005). O tratamento das periodontites agressivas, como em outras formas de periodontites, depende da redução dos patógenos periodontais por meio mecânicos e cirúrgicos. Na tentativa de fornecer um melhor nível de controle da infecção, dentistas tendem a incluir a antibioticoterapia em sua abordagem e têm sua justificativa baseada na severidade da doença (GUERRERO et al., 2005). As características farmacológicas dos antibióticos são essenciais para o seu emprego, dosagem, via de administração e freqüência de administração. Também são importantes o peso corporal, temperatura e absorção, ritmo de metabolização e duração da efetividade antimicrobiana no local da infecção. Para manter efetivos níveis antimicrobianos após administração oral, penicilinas e clindamicina podem ser administradas de 8 em 8 horas; metronidazol e ciprofloxacin de 8 em 8 ou 12 em 12 horas; já a doxiciclina e a azitromicina, uma vez ao dia. A eficácia da antibioticoterapia periodontal é determinada pelo espectro antibacteriano, características da droga (PALLASCH, 1996) e por fatores ambientais locais (VAN WINKELHOFF, RAMS, SLOTS, 1996) incluindo: 1 - União da droga aos tecidos; 2 - Proteção dos patógenos do biofilme subgengival; 3 - Concentração do antibiótico que atua dentro das bactérias; 4 - Efetividade do sistema de defesa de cada pessoa; 13 5 - Patógenos nos tecidos periodontais, superfície radicular e sítios extradentais que não são afetados pelo tratamento, pois pode ocorrer uma dificuldade terapêutica imposta pelos biofilmes dentais, que é o desenvolvimento bacteriano de um local para outro. A antibioticoterapia sistêmica certamente tem vantagens sobre os agentes antimicrobianos de aplicação tópica. Os antibióticos sistêmicos podem facilmente ser usados, sua administração é fácil e pode localizar-se em múltiplos sítios da doença ativa. Eles podem também eliminar ou reduzir colônias de patógenos na mucosa oral e extra-oral, inclusive língua e amídalas (ASIKAINEN, CHEN, 1999). A possibilidade de diminuir significantemente ou eliminar os periodontopatógenos em toda a boca pode reduzir o risco de uma futura mudança de microorganismos e recolonização de bolsas periodontais reduzindo assim, o risco de progressão da doença recorrente. As desvantagens que a antibioticoterapia apresenta em relação aos agentes de aplicação local incluem a impossibilidade das drogas sistêmicas alcançarem altas concentrações no fluido gengival (GOODSON, 1994), um aumento no risco de reações adversas à droga (WALKER, 2000), aumento na seleção de múltiplas bactérias à resistência antibiótica e complicações inesperadas nos pacientes (LOESCHE et al., 1998). A combinação de drogas no tratamento pode ser de grande utilidade nas periodontites que envolvem uma variedade de periodontopatógenos com diferenças de susceptibilidade antibacteriana ou para as drogas superarem os efeitos protetores do biofilme bacteriano. Também, fracassos terapêuticos com alguns regimes antibióticos são previstos pela presença ou desenvolvimento de resistência, podendo ser um problema que surge no tratamento periodontal (VAN WINWELHOFF et al., 2000). Uma estratégia que objetiva o combate da resistência bacteriana subgengival é o uso de antibioticoterapia que incorpora produtos que se complementam com diferentes mecanismos de ação. Tratamentos com combinações deveriam incluir drogas que exibem sinergia ou efeitos adicionais in-vitro. O Metronidazol + Amoxicilina e o Metronidazol + Ciprofloxacin atuam sinergicamente contra Aa e outros patógenos responsáveis pela periodontites (PAVICIC et al., 1999). Alguns antibióticos, através de antagonismo, podem propiciar uma redução ao invés de um aumento na atividade antibacteriana, como por exemplo, a ocorrência do antagonismo entre a tetraciclina, um bacteriostático, com antibióticos bactericidas beta-lactâmicos (SLOTS, TING, 2002). 14 A possibilidade de pacientes com idades avançadas ou condições físicas adversas são considerações importantes na prescrição de antibióticos. Administração de antibióticos na gravidez deve ser uma preocupação. Reações adversas sérias felizmente são raras. Muitos antibióticos podem interagir com outras drogas e causar efeitos clínicos significantes, como por exemplo, aumentar a toxicidade dos antibióticos, alterarem o efeito de anticoagulantes e causarem arritmia cardíaca. Interações ocorrem quando uma droga altera a farmacocinética de outra com respeito à absorção, distribuição, metabolismo ou excreção. Pacientes que usam medicações á longo prazo para doenças cardiovasculares, asma e diabetes são particularmente de alto risco de sofrer interações com antibióticos. 2.3 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS O uso mais efetivo da antibioticoterapia, para o tratamento das periodontites, pressupõe o conhecimento da microbiota patogênica. Mais de 500 tipos de bactérias foram identificados nas bolsas periodontais (HAFFAJEE, SOCRANSKY, 1994). Entretanto, poucas espécies têm sido claramente relacionadas com a progressão das periodontites, como o Actinobacillus actinomycetemcomitans, Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola, Tannerella forsythensis e Prevotella intermedia. A maioria dos patógenos residentes é nativa da cavidade bucal humana, mas podem causar superinfecções e habitar também bolsas periodontais. As lesões das periodontites usualmente são causadas por uma constelação de patógenos residentes ao invés de uma espécie patogênica única (HAFFAJEE, SOCRANSKY, 1994; SLOTS, CHEN, 1999). A maioria dos patógenos periodontais são anaeróbios Gram-negativos. Entretanto alguns patógenos são Gram-positivos facultativos sendo que cocos anaeróbios e outros são Gram-negativos facultativos. Os patógenos periodontais residentes variam consideravelmente à sensibilidade para os vários antibióticos tornando uma abordagem com antibioticoterapia um problema de difícil solução (WALKER, 1996). Os microorganismos associados às doenças periodontais foram identificados através de estudos transversais e longitudinais nos quais bactérias específicas são identificadas em amostras de placa subgengival coletadas de sítios afetados ou não. 15 A p resença ou ausência de bactérias ou de seus componentes foi determinada usando-se várias metodologias, incluindo cultura, sondas de ácidos nucléicos (DNA, RNA), imunofluorescência, reação em cadeia da polimerase, sendo que esses métodos possuem diferentes limiares em detectar bactérias específicas (ARMITAGE, 1996). Embora se acredite que as mesmas espécies que causam doenças periodontais também sejam encontradas nos sítios saudáveis, é a diferença na quantidade e na proporção de bactérias que frequentemente determina se esse microorganismo é considerado um verdadeiro patógeno. Algumas das características que determinam se as espécies bacterianas são ou não patogênicas, é a presença de sítios doentes, altos níveis nesses sítios e instalação de uma gama de fatores de virulência, como endotoxinas e enzimas proteolíticas (colagenase, gelatinase, hialuronidase, fibrolisina, proteases da imunoglobulina). Esses fatores de virulência têm como mecanismos de ação a ativação da resposta inflamatória, a qual origina uma fragmentação do tecido conjuntivo do hospedeiro e indução da reabsorção óssea. Ainda, tais fatores fornecem à bactéria uma vantagem sobre o hospedeiro, ajudando-a a se aderir aos tecidos periodontais, evitando a ação do sistema imunológico. A estrutura e organização do biofilme da placa, também levam virulência para a comunidade dos organismos patogênicos, permitindo que as bactérias ajam de maneira sinérgica para fornecer nutrientes umas as outras e fornecer barreiras químicas e físicas para evitar as defesas imunológicas do hospedeiro ou dos agentes antimicrobianos (ROSE et al., 2007). Os biofilmes bacterianos são agregados naturais da comunidade de microorganismos que podem se formar em várias superfícies. Os biofilmes subgengivais são do tipo superfície sólido-líquida, possuindo várias características interessantes que servem para proteger e melhorar as oportunidades nutricionais para as bactérias que residem dentro deles. Dentre estas, destacam-se a capacidade de capturar nutrientes, engajar-se na produção primária de seus próprios nutrientes, formarem um sistema digestivo e a função de barreira protetora, através de uma matriz de polissacarídeos e da ação dos antibióticos que não conseguem penetrar facilmente na barreira criada para proteger as bactérias (SOCRANSKY, HAFFAJEE, 2002). Uma característica importante de todas as infecções periodontais é a sua natureza polimicrobiana: elas são infecções mistas. Não existem formas de 16 periodontites induzidas por placa, causadas por um único patógeno. Embora certas combinações microbianas e padrões estejam frequentemente associadas a uma forma específica de periodontite, uma variação considerável na microbiota subgengival pode ser encontrada. Um fator complicador adicional na microbiologia das periodontites é a extensão à diversidade genética e de clones de cada periodontopatógeno (PEARCE, et al., 2000), onde, uma única espécie bacteriana pode mostrar diferentes clones de DNA, o que sugere ser um erro assumir que dois pacientes que possuem um mesmo periodontopatógeno, necessariamente estejam infectados por bactérias idênticas. Outra característica importante da microbiologia das periodontites é que os patógenos putativos raramente são componentes principais do biofilme da placa dentária completa. Geralmente o patógeno em suspeita compõe menos de 5% das amostras recuperadas de toda a biomassa da placa, existindo uma co-agregação das bactérias ou a aderência célula a célula dos microorganismos. Essa característica básica dos biofilmes subgengivais foi, para propósitos acadêmicos, designada por cores, a fim de refletir os estágios do desenvolvimento da formação do biofilme e a associação de certos complexos bacterianos às periodontites (SOCRANSKY, HAFFAJEE, 2002). Assim, os complexos azul, amarelo, verde e púrpura são compostos colonizadores precoces e o complexo vermelho e laranja são os colonizadores tardios dos biofilmes subgengivais. Segundo Zambom e Haraszthy (1995), uma vez que os testes microbiológicos medem bactérias supostamente periodontopatógenas e não doença periodontal, tais métodos não têm indicação para a grande maioria dos pacientes. Assim, os autores propõem o uso dessas medidas em pacientes que, mesmo após terapia periodontal adequada, continuem a demonstrar perda de inserção progressiva, isto é, nas chamadas periodontites refratárias. Devido ao relativo alto custo dos agentes antibióticos em relação aos custos dos tratamentos mecânicos, uma recomendação geral para coadjuvar antibioticoterapia rotineiramente só poderia ser defendida a partir do ponto de vista puramente econômico. Tal recomendação é contrária ao corrente consenso geral de que essas drogas devem ser utilizadas para grupos restritos de pacientes, por exemplo, com bolsas muito profundas, alta atividade da doença ou um perfil microbiológico específico (MOMBELLI, 2005). A partir de uma avaliação de dados microbiológicos concluiu-se que nem todos os pacientes têm microfloras idênticas: 17 os principais patógenos como Aa e Pg, foram encontrados em apenas alguns pacientes com periodontite (VAN WINKELHOFF, 2005). Estudos indicam que certos protocolos antibacterianos, particularmente a combinação de Metronidazol + Amoxicilina, são excepcionalmente eficazes para diminuir microorganismos difíceis de serem removidos apenas pelo debridamento mecânico. Testes microbiológicos têm sido defendidos para identificação de pacientes que guardam estes microorganismos, entretanto, outros estudos mostram consideráveis benefícios adicionais do tratamento mecânico até mesmo na ausência de organismos específicos. De fato, a questão que ninguém mostrou é se o paciente ficaria melhor sem a antibioticoterapia (MOMBELLI, 2005). Baseados em testes de DNA, uma nova classe de ferramentas diagnósticas estão sendo desenvolvidas, abrindo-se novas oportunidades para identificação de indivíduos com uma tendência para efeitos colaterais a certos antibióticos e para identificar a presença de microorganismos com propriedades aumentadas de adquirir resistência a um determinado antibiótico. O Quadro 1 mostra uma associação entre periodontopatógenos e as periodontites. Quadro 1 - Associação entre periodontopatógenos e as periodontites Muito Forte Forte Moderadas Porphyromonas gingivalis Prevotella intermedia Compilobacter rectus Peptostreptococcus Actinobacillus Actinomycetemcomitans Eurobacterium nodatum Fusobacterium nucleatum Eikenella corrodens Treponema denticola Tannerella forsythensis Dialister invisus FONTE: Haffajee, Socransky (1994); Slots, Chen (1999). Streptococcus 18 2.4 CARACTERÍSTICAS DAS PERIODONTITES São de grande relevância para o diagnóstico e consequentemente para o plano de tratamento e prognóstico das periodontites, a extensão e a severidade das mesmas. A extensão da doença periodontal é uma descrição geral de sua localização e distribuição na cavidade bucal. Não existe uma regra fixa em relação à periodontite ser designada localizada ou generalizada. Entretanto, tem sido recomendado que a distribuição da doença seja designada como: localizada, se menos de 30% dos sítios estiverem envolvidos e, generalizadas, se mais de 30% dos sítios estiverem afetados (ARMITAGE, 2002). A severidade da doença periodontal geralmente é caracterizada como leve, inicial ou suave, como moderada e como grave, severa ou avançada. Nas periodontites, a severidade tem sido caracterizada com base na quantidade de perda do nível inserção clínica (NIC) onde temos: leve = 1 a 2 mm de perda de NIC, moderada = 3 a 4 mm de perda de NIC e grave = 5 mm ou mais de perda de NIC. Essa medida é obtida com uma sonda periodontal, sendo à distância da junção cemento-esmalte até a base passível de sondagem do sulco gengival (ROSE et al., 2007). O sistema atual de classificação das periodontites foi desenvolvido de acordo c o m o Workshop Internacional para Classificação das Condições e Doenças Periodontais (International Workshop for Classification of Periodontal Diseases and Conditions) de 1999 (ARMITAGE, 2002). O termo periodontite crônica, que pode ser localizada ou generalizada, é usado para denominar indivíduos com inflamação e perda óssea que tem 35 anos ou mais, sendo a causa principal de perda de elementos dentários em todo mundo. Ainda que a periodontite seja considerada de progressão lenta, existem indivíduos com grandes índices de perda de inserção conjuntiva e/ou óssea. Existe o consenso geral de que a periodontite crônica é iniciada e mantida pelos biofilmes da placa dentária, mas as respostas do hospedeiro frente à placa bacteriana são responsáveis pela maioria da destruição tecidual. A periodontite crônica tem uma flora variada composta por P. gingivalis, T. forsythensis, T. denticola, P. intermedia, A. actinomycetemcomitans, espiroquetas entre outros. A extensão e severidade da doença podem ser aumentadas por vários fatores do hospedeiro, incluindo controle 19 inadequado do diabetes melitus, consumo de cigarros e estresse emocional. A progressão da doença somente pode ser confirmada pelos exames repetidos que mostram perda adicional da inserção conjuntiva e reabsorção do osso alveolar. É aceito que o risco de progressão está aumentado se a doença não for tratada. O tratamento da periodontite crônica está dirigido para o rompimento, remoção e controle dos biofilmes subgengivais. As periodontites agressivas, localizadas ou generalizadas, são doenças que se manifestam clinicamente por uma rápida destruição dos tecidos de suporte, quase sempre não compatível com a quantidade de cálculo e placa presentes. Acometem pessoas com menos de 35 anos, as quais apresentam uma alteração da função sistêmica e local dos neutrófilos. Existe um consenso que ambas as formas de periodontite agressiva compartilham de algumas características comuns, as quais são: perda rápida de inserção e destruição óssea, agregação familiar e, exceto pela presença de periodontite, os pacientes são clinicamente saudáveis. Também comumente são encontradas proporções aumentadas de Actinobacillus actinomycetemcomitans e Porphyromonas gingivalis em algumas populações. Radiograficamente observa-se que a perda óssea aparece, principalmente, nos incisivos e primeiros molares (localizada), podendo envolver outros grupos dentários (generalizada), com perda óssea assimétrica e defeitos angulares. Todas estas características não precisam estar presentes para que se estabeleça um diagnóstico, que é geralmente baseado na informação clínica, radiográfica e da história clínica e familiar. Em muitos casos o tratamento da periodontite agressiva necessita do rompimento mecânico dos biofilmes subgengivais, suplementado com antibióticos sistêmicos (SLOTS, TING, 2002). Existem também periodontites que não respondem aos tratamentos convencionais, sendo mais conhecidas como periodontites refratárias ou recorrentes, onde os pacientes mostram contínua perda de inserção em múltiplos sítios, apesar de uma terapia mecânica bem realizada (VAN WINKELHOFF, de GRAAFF, 1991). Nestas periodontites, os pacientes apresentam patógenos subgengivais resistentes, como A. actinomycetemcomitans, P. gingivalis, B. forsythus, T. denticola, P. intermedia e espiroquetas, coadjuvadas com uma baixa resistência e alta susceptibilidade do paciente (SLOTS, RAMS, 1991). Pacientes com periodontite crônica e doença refratária são candidatos ao teste microbiológico para identificar as bactérias subgengivais, que podem ser 20 responsáveis pela infecção contínua. Em tais casos, uma ou mais pontas de papel são inseridas nas bolsas representativas resistentes ao tratamento por cerca de 20 segundos, retiradas e imediatamente colocadas em fluido de transporte para envio a um laboratório para análise. Os periodontopatógenos cultiváveis são identificados e determinados a sensibilidade a vários antibióticos. Pode-se utilizar o laudo do laboratório como guia para uma possível terapia adjunta com antibióticos no tratamento (ROSE et al., 2007). A análise das culturas e o antibiograma não são feitos na maioria dos casos de periodontite crônica porque a doença geralmente responde ao tratamento mecânico convencional. 2.5 PRINCIPAIS ANTIBIÓTICOS EMPREGADOS NO TRATAMENTO DAS PERIODONTITES · PENICILINAS · METRONIDAZOL · MACROLÍDEOS · TETRACICLINAS · LINCOSAMIDAS · FLUORQUINOLONAS · ANTIBIOTICOTERAPIAS COM ASSOCIAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS Quanto à seleção dos antibióticos, relativamente poucos estudos têm sido conclusivos na afirmação que a antibioticoterapia deveria ser utilizada em pacientes com periodontites, mesmo nos quais a microbiota subgengival foi bem caracterizada através de testes microbiológicos. Também a dose ideal do antibiótico ainda não é clara (PALLASCH, 1996), devido a muitos tratamentos que são desenvolvidos de forma empírica, de maneira muito superior aos tratamentos que são evidenciados por testes microbiológicos (ELLEN, MCCULLOCH, 1996). Infelizmente, a seleção de um antibiótico é difícil e é provavelmente casodependente. Também, as vias de aplicação dos antibióticos específicos ofertadas para o tratamento das periodontites estão mudando, especialmente para o tratamento de doenças localizadas. Há estudos sobre o uso de antibióticos de aplicação local nas bolsas infectadas, podendo ser útil no tratamento de doenças 21 recorrentes ativas ou onde apenas um sítio individual está envolvido (WALKER, KARPINIA, 2002). Os antibióticos podem ser divididos seguindo-se diferentes critérios nos quais existem quase tantas exceções quanto regras (PALLASCH, 1996). Nesta monografia serão citados os mais utilizados e serão feitas algumas considerações sobre propriedades farmacológicas, mecanismos de ação, administração, indicações e contra-indicações. 2.5.1 Seqüência da terapia antibacteriana Protocolo: Os antibióticos devem ser considerados como auxiliares ao debridamento mecânico periodontal. O uso de antibióticos potentes pressupõe um diagnóstico clínico adequado, realização do debridamento mecânico e análise microbiológica quando houver indicação. Após uma revisão sistemática, foi proposto um protocolo para o uso de antibioticoterapia (SLOTS et al., 2004) com os seguintes passos: · Realização de uma terapia periodontal inicial, incluindo raspagem e alisamento radicular, seguido de acesso cirúrgico, se for necessário; · Antibióticos podem ser prescritos baseados em necessidades clínicas, achados de testes microbiológicos e condições médicas do paciente; · A resposta clínica deve ser avaliada a cada um a três meses após o término da terapia mecânica. Se as periodontites tiveram progressão o u a inflamação persistir, um exame microbiológico da microbiota subgengival pode ajudar a determinar a presença e avaliar a quantidade dos periodontopatógenos residentes nas bolsas; · Se o exame clínico realizado confirmar doença ativa, um a três meses após o inicio da antibioticoterapia, outro teste microbiológico pode ser necessário para verificação da eliminação dos periodontopatógenos e investigar uma possível superinfecção bacteriana. Altos níveis subgengivais de Estreptococos viridans, actinomyces e Veilonella são sugestivos de saúde periodontal ou doença minimamente ativa; · Depois de solucionada a infecção periodontal, o paciente deverá ser posto em um programa de manutenção específico para ele. Controle da placa 22 subgengival na fase de terapia periodontal de suporte pode ajudar na prevenção de recolonização pelos periodontopatógenos. Periodontites recorrentes podem levar a repetição de testes microbiológicos e subseqüente antibioticoterapia para atingir os periodontopatógenos detectados. 2.5.2 Penicilinas São antibióticos do grupo beta-lactâmico, assim como as cefalosporinas. Elas agem por inibição da síntese da parede celular bacteriana. Têm como mecanismo de ação a interferência no último passo da síntese da parede celular bacteriana, organela que impede variações osmolares intracelular, através do seu anel beta-lactâmico, que confere afinidade por enzimas envolvidas nessa síntese, em especial a enzima D-alanil-D-alanina transpeptidase. A formação inadequada da parede bacteriana ocasiona a entrada de fluidos em meio de menor osmolaridade, determinando a lise bacteriana – ação bactericida (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). A parede celular bacteriana é de vital importância para a atividade bactericida das penicilinas. Logo, microorganismos sem parede celular, como Rickettsias, Pneumocystis carinii, apresentam uma resistência natural às penicilinas. Bacilos Gram-negativos também têm uma relativa impermeabilidade às penicilinas, devido à complexidade das camadas externas da parede celular. Outro aspecto comum é a resistência adquirida oriunda da produção de beta-lactamases, enzimas capazes de destruir as penicilinas, encontradas principalmente em bactérias Gram-negativas. Para inibir essas enzimas, utilizam-se inibidores de beta-lactamases, como o sulbactam e o ácido clavulânico, em associação com as penicilinas, mas sem possuir atividade antibacteriana (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). As penicilinas podem ser naturais (como a penicilina G e V) ou sintéticas (como a ampicilina, amoxicilina, oxacilina), chamadas penicilinas de amplo espectro. No tratamento das periodontites, utiliza-se a amoxicilina, uma penicilina de amplo espectro, sendo mais favorável ao uso periodontal por via sistêmica por não sofrer interferência de alimentos ou do suco gástrico. Tem absorção digestiva mais rápida e completa (95% de absorção) que outras penicilinas, atingindo altas concentrações no fluido crevicular gengival. Como sua excreção ocorre por via renal, sua prescrição deve ser ajustada em presença de insuficiência renal. 23 A amoxicilina é ativa contra os periodontopatógenos que, em sua maioria, são Gram-positivos anaeróbios, não sendo efetiva contra os Aa, atingindo bactérias Gram-positivas facultativas, além de cocos e bacilos Gram-positivos aeróbios, cocos Gram-negativos aeróbios, cocos e bacilos Gram-positivos anaeróbios, cocos Gramnegativos anaeróbios e espiroquetas. A amoxicilina tem sensibilidade à degradação pelas enzimas beta-lactamases, informação esta de grande significado, visto que 60% das periodontites crônicas abrigam na microbiota subgengival bactérias produtoras destas enzimas (GORDON, WALKER, 1993). Devido a este fato, a amoxicilina não é prescrita de maneira isolada para o tratamento dos diversos tipos de periodontites e sim, em associação com o ácido clavulânico. 2.5.2.1 Estudos Haffajee et al. (1995) avaliaram o efeito de cirurgia periodontal juntamente com raspagem e alisamento radicular subgengival (RASUB), e emprego de 4 agentes sistêmicos: Augumetin (amoxicilina + ácido clavulânico), tetraciclina, ibuprofeno e agente placebo. Participaram do experimento 98 pessoas com periodontite crônica e idades entre 14 e 71 anos. Utilizaram-se os seguintes critérios de inclusão: perda de inserção clínica, pelo menos 20 dentes na boca, presença de quatro bolsas com 4 mm ou mais de profundidade de sondagem e quatro sítios com perda de inserção de mais de 3 mm. Os pacientes foram monitorados a cada dois meses durante seis meses, para avaliação de acúmulo de placa bacteriana, sangramento à sondagem, supuração, profundidade clínica de sondagem e nível de inserção em todos os elementos dentários. Nenhum paciente com periodontite agressiva ou com periodontite refratária foi incluído neste estudo. Dos 98 pacientes, 54 tiveram perda de inserção de 2,5 mm ou mais em um ou mais sítios. Os sítios com profundidade de sondagem maiores que 4 mm foram tratados com cirurgia de retalho modificado de Widman e os demais sítios tratados com RASUB. Após, foram divididos aleatoriamente em quatro grupos. O tratamento foi realizado em 30 dias, período no qual foi administrado o agente. Cada grupo recebeu 250 mg de amoxicilina + ácido clavulânico de 8 em 8 horas, 200 mg de tetraciclina de 8 em 8 horas, 400 mg de ibuprofeno de 8 em 8 horas e agente placebo (250 mg de sacarose) de 8 em 8 horas. Todos fizeram bochechos com clorexedina a 0,12% 24 duas vezes ao dia durante o tratamento. A realização de remoção de placa supragengival foi realizada a cada 3 meses durante um ano, sendo que os pacientes foram reavaliados clinicamente em 6 e 8 semanas, e em 10 meses após a fase inicial de tratamento. Os pacientes que receberam a antibioticoterapia mostraram um ganho maior de inserção (0,57 mm) do que os 2 grupos que não receberam (0,02 mm). Quanto à profundidade clínica de sondagem, os grupos com antibioticoterapia reduziram a mesma em 0,75 mm, comparado com 0,42 mm do grupo que usou ibuprofeno e 0,46 mm do grupo placebo. Como resultado, o estudo mostrou que o emprego de antibioticoterapia sistêmica em pacientes com periodontite crônica aumentou o ganho de inserção em relação ao grupo placebo e grupo que usou antiinflamatório. Entretanto a diferença no ganho de profundidade clínica de sondagem entre os quatro grupos não foi clinicamente significativa. Também foi realizada a coleta de amostras de material das bolsas subgengivais, as quais foram pesquisadas para 14 espécies, usando-se sonda de DNA e método de cultura. A porcentagem de sítios colonizados foi reduzida em dez meses, mas a única redução estatística com significância foi para Pg. Os grupos tratados com antibioticoterapia tiveram espécies bacterianas benéficas encontradas com mais freqüência nos sítios pós-tratamento do que os outros dois grupos. Winkel et al. (1999) realizaram um estudo duplo-cego com grupo placebo, divididos randomicamente, onde foi avaliado o efeito clínico e microbiológico da raspagem e alisamento radicular subgengival (RASUB) coadjuvado com emprego de amoxicilina + ácido clavulânico em pacientes com periodontite crônica. Os critérios de inclusão no estudo foram: mais de um sítio com profundidade clínica de sondagem maior que 5 mm com sangramento e perda óssea radiográfica em adultos maiores de 21 anos. Foram estudados 21 pacientes com medidas clínicas e microbiológicas realizadas no início, e aos 3, 6, 9 e 12 meses. As medidas clínicas foram de profundidade de sondagem, nível de inserção clínica, índice de placa e índice de sangramento gengival à sondagem. Após 6 semanas do início do tratamento inicial com RASUB e instruções de higiene oral, os pacientes foram randomizados para receber 500 mg de amoxicilina + 125 mg de ácido clavulânico ou agente placebo, de 8 em 8 horas, por 10 dias; após este período foi realizada nova instrumentação mecânica (RASUB). Os 21 pacientes foram divididos em dois grupos: grupo placebo com 11 pacientes (39 anos em média) e grupo teste com 10 pacientes (49 anos em média). O índice de placa subgengival inicial foi de 1,1 no 25 grupo placebo e de 0,9 no grupo teste. Após 3 meses, este mesmo índice foi de 0,3 para ambos os grupos de estudo. As mudanças nos índices de sangramento à sondagem foram insignificantes durante todo o estudo. Ocorreram mudanças na profundidade clínica de sondagem que inicialmente era de 3,8 mm (média) no grupo placebo e 3,9 mm (média) no grupo teste: após 3 meses de antibioticoterapia, estes mesmos valores passaram à 0,9 mm no grupo teste e 1,9 mm no grupo placebo. A mudança no nível de inserção clínica após 3 meses foi de 0,5 mm nos dois grupos e assim permaneceu até o final do estudo. Em ambos os grupos, o tratamento resultou em decréscimo de algumas espécies bacterianas. Os Aa inicialmente estavam presentes em um paciente do grupo placebo e em dois pacientes no grupo teste, sendo que após o estudo, só apareceu em um paciente do grupo teste. O Pg inicialmente apareceu em sete pacientes no grupo placebo e teste, sendo reduzido para apenas dois e quatro, respectivamente. Já a Prevotella intermedia e o Fusobacterium sp estavam presentes em todos os pacientes no início do estudo. Após os 12 meses, 9 dos 11 pacientes no grupo placebo e 8 dos 10 pacientes no grupo teste apresentavam Prevotella intermédia; todos apresentaram Fusobacterium sp. Os autores desta pesquisa concluíram que o uso de antibioticoterapia com amoxicilina + ácido clavulânico como coadjuvante de RASUB não demonstrou vantagens adicionais significativas no tratamento da periodontite crônica. Atualmente o emprego de uma antibioticoterapia com amoxicilina + ácido clavulânico de maneira isolada não vem sendo pesquisada. Ao contrário, existe um grande número de pesquisas atuais do emprego da amoxicilina em combinação com o metronidazol, que é efetivo contra as bactérias produtoras de beta-lactamases. 2.5.3 Metronidazol É um composto nitroimidazólico que tem ação bactericida. Ao entrar nas bactérias, é degradado por ação de nitrorredutores, gerando compostos citotóxicos que determinam a perda da estrutura helicoidal do DNA bacteriano causando a morte bacteriana. O metronidazol é ativo quase que exclusivamente para bactérias anaeróbias, especialmente Gram-negativas, como bacteróides e fusobacterium. Não atinge estafilococos, estreptococos e enterobactérias. Tem se mostrado efetivo contra Aa e não efetivo contra a Eikenella corrodens, importantes periodontopatógenos. 26 Uma regra geral para considerar a eficácia do metronidazol é que, quanto mais anaeróbias forem as bactérias, mais efetivo ele será. Na literatura consultada, encontram-se pesquisas indicando a combinação do metronidazol com amoxicilina ou ciprofloxacina. No intuito de aumentar o espectro de ação, essas combinações têm fornecido resultados altamente efetivos no tratamento das periodontites, em especial, as periodontites crônicas. O metronidazol pode retardar a progressão das periodontites em pacientes com Aa e/ou Prevotella intermédia, com pouco ou nenhum potencial sobre os outros periodontopatógenos (LOESCHE et al., 1992). O metronidazol pode facilmente alcançar concentrações antibacterianas efetivas na gengiva e no fluido crevicular gengival (VAN OOSTEN et al., 1996). O uso de metronidazol como auxiliar da raspagem e alisamento radicular tem mostrado significantes melhorias estatísticas no nível de inserção clínica. O metronidazol é claramente metabolizado no fígado, com uma meia-vida entre 6 a 14 horas na maioria dos pacientes. Essa meia-vida não é alterada em pacientes com disfunções renais, mas é prolongada em pacientes com funções hepáticas alteradas. Embora os seus efeitos adversos sejam poucos, existe uma importante interação com a Warfarina, um agente anticoagulante, muito empregado na área médica para o tratamento de alterações vasculares, como a trombose (SLOTS et al., 2004). O metronidazol penetra bem tanto no fluido crevicular gengival quanto na saliva, em concentrações aproximadamente iguais a do plasma, indicando que a farmacocinética do metronidazol pode ajudar no tratamento das doenças periodontais e no plano de tratamento de pacientes com qualquer tipo de periodontite (PÄHKLA et al., 2005). 2.5.3.1 Estudos Noyan et al. (1997) relataram o resultado clínico e microbiológico obtido com o tratamento local e sistêmico com metronidazol de maneira isolada e/ou com RASUB, em pacientes com periodontite crônica. Os parâmetros clínicos avaliados foram: índice de sangramento gengival, índice de placa, profundidade de sondagem e nível de inserção clínica. Foram avaliados 10 pacientes com idade entre 35 e 51 anos, divididos randomicamente em 2 grupos de 5 pessoas. Um grupo recebeu metronidazol local e o outro grupo metronidazol sistêmico, com ou sem 27 debridamento mecânico. Quatro dentes (um por quadrante) com profundidade de sondagem maior que 5 mm, foram tratados com terapias diferentes. Todos os pacientes receberam orientações de higiene oral. Obteve-se seis formações: uma com RASUB, uma com uso de metronidazol local, uma com uso de metronidazol sistêmico, uma com uso de metronidazol local + RASUB, uma com uso de metronidazol sistêmico + RASUB e uma sem tratamento. A dose utilizada foi de 250 mg de 8 em 8 horas, durante 7 dias. Avaliou-se o tratamento por 42 dias e como resultado foi conseguido uma melhora nos parâmetros clínicos em todos os grupos, menos no grupo sem tratamento. Os grupos com tratamento combinado responderam melhor do que os grupos só com debridamento mecânico ou só com metronidazol. No exame microbiológico inicial, os sítios avaliados estavam infectados por Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermedia, sendo que na avaliação final da microflora ocorreu um decréscimo no número de anaeróbios, com exceção do grupo controle. Neste estudo, pode-se observar que os resultados clínicos e microbiológicos foram satisfatórios, mas, a amostra e o tempo da pesquisa foram pequenos. Carvalho et al. (2005) investigaram as mudanças nos níveis e proporções de 39 espécies bacterianas em amostras de placa subgengival, após raspagem e alisamento radicular como único tratamento ou combinado com metronidazol sistêmico e/ou profilaxia em pessoas com periodontite crônica. Avaliou-se 44 pessoas (média de 45 anos) que foram divididas em 4 grupos: grupo controle (10 pessoas) recebeu RASUB + placebo; um segundo grupo (12 pessoas) recebeu RASUB + 400 mg de metronidazol de 8 em 8 horas, por 10 dias; um terceiro grupo (12 pessoas) recebeu semanalmente a remoção da placa supragengival profissional por 3 meses; e um quarto grupo (10 pessoas) recebeu RASUB + metronidazol + profilaxia profissional. Após 90 dias, retirou-se de 7 sítios por pessoa, amostras de placa subgengival, onde analisou-se 39 espécies de bactérias através da técnica de DNA. O estudo concluiu que todos os tratamentos reduziram a contagem e proporção de espécies do complexo vermelho (Tannerella forsythensis, Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola). A combinação das terapias mostrou maior efeito e também atingiu espécies do complexo laranja descrito por Socransky e Haffajee em 1994 (Fusobacterium nucleatum, Prevotella intermedia). Sigusch et al. (2005) descreveram um estudo do metronidazol sistêmico + RASUB em procedimentos de dois tempos em pacientes com periodontite agressiva. 28 Este tipo de tratamento (dois tempos) foi descrito como não-cirúrgico, no qual ocorre distinção entre a primeira RASUB e uma segunda RASUB adicional, e onde os autores avaliaram, também, a freqüência de instrumentação que seria realizada por raiz. Foram avaliados clinicamente e microbiologicamente 37 pacientes divididos aleatoriamente em 3 grupos para receber 1 ou 2 regimes de RASUB: o grupo controle (14 pessoas) recebeu apenas RASUB no início da pesquisa; o grupo 1, 12 pessoas com sítios com profundidade clínica de sondagem menor que 6 mm; o grupo 2, 11 pessoas que apresentavam sítios com profundidade de sondagem maior que 6 mm e onde na segunda etapa de RASUB, instrumentaram-se as raízes do grupo 2 com uma freqüência duas vezes maior que no grupo 1. Os pacientes dos grupos 1 e 2 receberam por via sistêmica metronidazol 500 mg de 12 em 12 horas por 8 dias, logo após completar-se a primeira RASUB. Após 3 semanas os grupos 1 e 2 receberam nova RASUB em toda boca. Os 3 grupos foram reavaliados a cada 6 semanas durante 24 meses. Em todos os grupos houve significativa diferença estatística na profundidade clínica de sondagem e no nível de inserção clínica dos pacientes, após 24 meses de estudo em comparação com os dados iniciais. Comparado ao grupo controle, uma significante redução no nível de profundidade clínica foi observada nos grupos 1 e 2, sendo maior no grupo 2. Além disso, Pg e Aa foram completamente suprimidos no grupo 2 após 24 meses. A pesquisa concluiu que a RASUB tem influência nos resultados do tratamento e que pacientes com periodontite agressiva tratados com maiores repetições de instrumentação por raiz coadjuvada com o uso de metronidazol sistêmico mostraram melhores resultados a longo prazo. 2.5.4 Macrolídeos Até recentemente a eritromicina foi o derivado macrolídeo mais utilizado, principalmente em pacientes alérgicos às penicilinas. Alguns inconvenientes levaram ao declínio de seu uso, como por exemplo, crescente resistência bacteriana, instabilidade em meio ácido, elevada incidência de efeitos adversos gastrintestinais e necessidade de quatro administrações diárias. Essas limitações conduziram à pesquisa de novos compostos na tentativa de melhorar as características do grupo. A azitromicina é um derivado macrolídeo que tem sido empregado no tratamento das periodontites. Apresenta excelente estabilidade em meio ácido, 29 melhor disponibilidade por via oral, maior duração de efeito e melhor atividade sobre bactérias de desenvolvimento intracelular. A azitromicina consegue permanecer em concentrações ótimas nos tecidos por um longo período de tempo, podendo ser administrada em intervalos de 24 horas entre as doses. Agem por inibição da síntese de proteínas, através de uma ligação com a subunidade 50S do ribossomo bacteriano, sendo primariamente bacteriostática, podendo ser bactericida, dependendo da concentração e tipo de bactérias envolvidas. Apresentam um espectro semelhante ao da penicilina, incluindo cocos Gram-positivos, muitas bactérias anaeróbias (particularmente da flora oral), alguns bacilos Gram-positivos e Gram-negativos (WANNMACHER, FERREIRA, 1999). A azitromicina apresenta uma excelente habilidade para penetrar tanto nos tecidos normais como tecidos periodontais doentes, tendo se mostrado altamente eficaz contra muitos periodontopatógenos, embora Enterococos, Estafilococos, Eikenella corrodens, Fusobacterium nucleatum e peptoestreptococos, pareçam mostrar resistência (GOLDSTEIN et al., 2000). 2.5.4.1 Estudos Sefton et al. (1996) investigaram a eficácia da azitromicina no tratamento da periodontite crônica. Foram analisados 44 pacientes com mais de 18 anos divididos em 2 grupos, onde foram tratados em um estudo duplo-cego, com agente placebo. Um grupo teve 23 pacientes que receberam raspagem e alisamento radicular subgengival (RASUB) + 500 mg de azitromicina em dose única por dia, durante 3 dias, por 2 semanas após a primeira consulta. O grupo controle, composto por 21 pacientes, recebeu placebo. No início do estudo, tanto os parâmetros clínicos quanto os microbiológicos eram parecidos nos 2 grupos. As bolsas periodontais com 4 a 5 mm e com mais de 6 mm tiveram redução de profundidade nos 2 grupos, depois de 22 semanas. Contudo, a média de diminuição da profundidade clínica de sondagem nestas bolsas, após o período de 22 semanas, foi bem maior no grupo teste. As bolsas com 3 mm ou menos não tiveram diferenças significantes entre os grupos ao final da pesquisa. Foram realizadas pesquisas microbiológicas de amostras das bolsas maiores de 6 mm de profundidade clínica de sondagem no início do estudo e 30 2, 3, 6, 10 e 22 semanas após. Não houve mudanças significantes entre as amostras dos periodontopatógenos, existindo uma diminuição acentuada de espiroquetas. Mascarenhas et al. (2005) realizaram um estudo onde mostraram que uma antibioticoterapia sistêmica pode ser usada em tratamentos muito específicos semelhantes à doença periodontal refratária. Realizaram um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, desenhado para determinar a eficácia da azitromicina (AZM) quando combinada com RASUB, em pacientes com periodontite crônica moderada e grave. Trinta e um pacientes foram randomizados durante 6 meses em ensaio simples-cego para avaliação clínica, microbiológica e de níveis de colágeno tipo I do fluido crevicular gengival. Foram usados como grupo controle, indivíduos com pelo menos 5 sítios de bolsa periodontal maior que 5 mm de profundidade clínica de sondagem e com sangramento à sondagem. No início e aos três e seis meses realizaram medidas clínicas como profundidade das bolsas, perda clínica e sangramento à sondagem. Os resultados demonstraram que ambos os grupos obtiveram melhora clínica na profundidade da bolsa e na perda de inserção, dados esses que foram mantidos por seis meses. Usaram uma análise de base subjetiva, onde os pacientes tratados com RASUB + 250 mg de azitromicina (de 12 em 12 horas no primeiro dia) e 250 mg em dose única nos próximos 4 dias, (totalizando uma antibioticoterapia de 5 dias), mostraram reduções na profundidade da bolsa e na perda de inserção em sítios de 4 mm e/ou 6 mm de profundidade. Além disso, RASUB + AZM resultaram em grande redução dos níveis microbiológicos, observado através do teste BANA (benzoil-DL-arginina-naftilamina), quando comparado com RASUB isolada, enquanto que uma redução dos níveis de BANA não foi encontrada no grupo controle ao final dos 6 meses. Não houve diferenças estatísticas entre os grupos quanto ao sangramento à sondagem e nos níveis de colágeno tipo I do fluido gengival. Como conclusão, parece que a utilização da AZM em combinação com a RASUB aumentou a eficácia da terapia periodontal na redução da profundidade da bolsa e nos níveis de ligamento periodontal em pacientes com periodontite crônica moderada e grave. 31 2.5.5 Tetraciclinas São agentes antibióticos que agem por inibição da síntese protéica a nível ribossomal, sendo bacteriostáticos de amplo espectro. Têm sido tradicionalmente os antibióticos mais usados no tratamento das periodontites, agindo principalmente contra bactérias Gram-negativas e Gram-positivas anaeróbias estritas. Pesquisas sugerem que as tetraciclinas tenham ação antiinflamatória por inibição da expressão de sintetases de óxido nítrico, induzidas em artrites e outras inflamações. Também inibem proteinases destruidoras de tecidos, como colagenases teciduais e outras metaloproteinases da matriz que aparecem nas periodontites, sendo um efeito estabilizador do colágeno, o que promove cicatrização das lesões das periodontites agressivas e refratárias (CIANCIO, 1997). O hidrocloridrato de tetraciclina, a doxiciclina e a minociclina podem ser indicadas em periodontites com Aa. Entretanto, em uma infecção mista, as tetraciclinas podem não fornecer suficiente diminuição de patógenos subgengivais destruidores do periodonto. Contrariamente aos conceitos antigos, a média de concentrações da tetraciclina no fluido gengival após administração sistêmica, parece ser menor do que a concentração no plasma e amplamente variável entre os pacientes, levando à respostas clínicas diferentes observadas na prática (GOODSON, 2000). A doxiciclina tem a maior capacidade antibacteriana e a maior meia-vida; já a minociclina tem uma melhor absorção e penetração nos tecidos periodontais. Todas as tetraciclinas têm importantes reações adversas com respeito aos dentes e ossos. Porém, elas são contra-indicadas para mulheres grávidas e crianças menores de oito anos de idade. O aparecimento de bactérias resistentes às tetraciclinas constitui o maior problema do seu emprego a longo prazo, sendo que a doxicicllina apresenta menos problemática com respeito à evidência de resistência dentro da microbiota. A doxiciclina tem sido denominada de moduladora da resposta do hospedeiro, uma vez que é uma inibidora de proteases. Esta característica ocorre através da inibição da produção de metaloproteinases da matriz pelos fibroblastos (principalmente a MMP- 8 e 9) que destroem o colágeno, principal componente do ligamento periodontal. Assim, ela vem sendo usada em doses subantimicrobianas de doxiciclina (SDD - dose de 20 mg, 2 vezes ao dia, por 6 a 9 meses), como auxiliar do 32 tratamento de qualquer tipo de periodontite (CATON et al., 2000). Uma característica reconhecida da doxiciclina é a sua capacidade de suprimir a atividade das metaloproteinases da matriz, que são ativas no colapso tecidual durante a periodontite, conferindo benefícios proporcionais aos pacientes periodontais (ROSE et al., 2007). A SDD foi concebida para ser administrada por muitos meses e pode, entretanto, sofrer com os problemas de consentimento, similar ao que ocorre com os medicamentos a longo prazo, usados para tratar as condições sistêmicas crônicas. A utilização da minociclina no tratamento das periodontites tem sido avaliada como adjunta à raspagem e alisamento radicular subgengival ou em aplicação local nos sítios infectados e não existem estudos recentes sobre o seu emprego por via sistêmica. 2.5.5.1 Estudos Caton et al. (2000) avaliaram a eficácia e a segurança do uso de doses subantimicrobianas de doxiciclina (SDD) como auxiliar em um plano de manutenção com raspagem supragengival + profilaxia dental profissional (RAP) em pacientes com periodontite crônica. Realizaram um estudo duplo-cego com grupo controle por placebo. O estudo teve 190 pacientes que receberam RASUB e foram divididos em 2 grupos: o grupo teste (94 pacientes) recebeu 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas por 9 meses sem intervalos; o grupo controle recebeu placebo. Foram analisadas a profundidade clínica de sondagem e a perda da inserção clínica. Como resultados, os autores observaram que em dentes com sítios com doença periodontal moderada à grave, houve melhora significante no nível de inserção clínica e diminuição das profundidades de sondagem. Esta melhora foi bem maior no grupo teste do que no grupo placebo em avaliações aos 3, 6 e 9 meses, mostrando um ganho médio de inserção clínica de 2 mm no grupo teste, após os 9 meses de estudo. Deste modo, a SDD foi bem tolerada com baixas incidências de efeitos adversos nos pacientes. Os autores concluíram que o auxílio do uso da SDD com a RASUB é bem mais eficiente do que a RASUB de maneira isolada, e pode representar uma nova abordagem no gerenciamento a longo prazo da periodontite crônica. Walker et al. (2000) objetivaram, através de um estudo duplo-cego com grupo placebo, determinar se o tratamento com SDD conseguia atingir efeito antibacteriano 33 na microflora associada com a periodontite crônica. Avaliaram 76 pacientes com periodontite crônica divididos randomicamente em 2 grupos, sendo 38 pessoas para cada grupo. Ambos os grupos receberam RASUB em 2 quadrantes da boca, sendo que os outros 2 quadrantes não receberam intervenção mecânica. O grupo teste recebeu 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas por 9 meses e 3 meses sem o uso da SDD. Foram coletados dados clínicos e microbiológicos durante os 9 meses do tratamento com SDD e nos 3 meses seguintes sem o tratamento. Amostras de placa subgengival foram coletadas antes do início do tratamento, 3, 6 e 9 meses após o início e aos 3 meses após o final do tratamento. Foram realizadas avaliações clínicas de profundidade clínica de sondagem em 2 sítios que receberam RASUB e em 2 sítios sem tratamento. Levou-se em consideração as medidas maiores que 5 mm e menores que 8 mm. Ambos os grupos apresentaram um decréscimo no número de espiroquetas e um aumento no número de cocos em relação ao início da pesquisa. Nenhuma diferença significante foi encontrada entre o grupo teste e o grupo placebo, tanto nos dentes que receberam RASUB quanto nos dentes que não receberam tratamento, tanto clínica quanto microbiologicamente. Os autores chegaram à conclusão que as diferenças observadas na microbiota ocorreram devido à atividade anti-colagenase e propriedades antiinflamatórias da doxiciclina e não devido a um efeito antibacteriano. Preshaw et al. (2004) pesquisaram, através de um estudo duplo-cego o uso de SDD, através da diminuição da atividade das metaloproteinases da matriz (MMPs), para melhorar a eficácia da raspagem e alisamento radicular subgengival (RASUB) em pacientes com periodontite crônica moderada à grave. Foram avaliados 210 pacientes com idade entre 30 e 75 anos, com perda de inserção clínica e profundidade clínica de sondagem entre 5 e 9 mm, tendo 2 sítios escolhidos por paciente. Foram divididos igualmente em 2 grupos, ambos receberam RASUB no início do tratamento, sendo que após a RASUB o grupo teste recebeu, por via oral, 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas durante 9 meses; o grupo controle recebeu no mesmo período, o placebo. Os pacientes foram avaliados clinicamente aos 3, 6 e 9 meses. Os autores tiveram como resultado sítios entre 4 a 6 mm e nos maiores que 7 mm, um ganho de inserção clínica e diminuição na profundidade de sondagem significativamente maior no grupo teste que no grupo controle, após os 9 meses do início da antibioticoterapia. Observou-se que no grupo teste houve uma redução média de 42,3% dos sítios, que demonstraram ganho de inserção clínica 34 2 mm, sendo que no grupo placebo foi de 32,0%. Os autores concluíram que a adição de SDD potencializa o efeito da RASUB, já que o tratamento resultou em significante ganho de inserção e redução de profundidade de sondagem em avaliação estatística bem acima das medidas alcançadas pela RASUB + placebo. Lee et al. (2004) realizaram uma pesquisa para avaliar a eficácia e segurança do uso de SDD em conjunto com a RASUB, através de um estudo duplo-cego controlado por grupo placebo durante 9 meses. Foram avaliados 41 pacientes com periodontite crônica moderada, divididos randomicamente em: grupo teste, que recebeu RASUB e 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas por 9 meses; grupo contole, que recebeu RASUB e placebo. Ambos os grupos receberam a medicação 2 semanas após a realização da RASUB. Foram avaliados o nível de inserção clínica, a profundidade clínica de sondagem, o fluido gengival e os níveis das MMPs (em especial a MMP-8), antes e 1, 3, 6 e 9 meses após o início da antibioticoterapia. Os pacientes foram orientados a comunicar qualquer efeito adverso durante o tratamento. Como resultados do estudo, os autores observaram que durante o período de tratamento, os grupos tiveram redução na profundidade clínica de sondagem e um ganho de inserção clínica, sendo significantemente maior no grupo teste. As análises microbiológicas mostraram uma diminuição em praticamente todas as espécies bacterianas para ambos os grupos, sendo que não houve diferenças importantes entre os 2 grupos. Os níveis de MMP-8 foram gradualmente reduzindo com o tempo no grupo teste e, foi significantemente menor após os 9 meses que no grupo placebo. Os efeitos adversos que foram relatados no grupo tratado com SDD, foram similares aos relatados pelo grupo placebo. Os autores sugeriram que o uso de SDD adjunto à RASUB pode ser seguro e efetivo no controle a longo prazo das periodontites crônicas. Preshaw, Hefti e Bradshaw (2005) avaliaram o uso de SDD adjunto a RASUB em pacientes fumantes e não-fumantes com periodontite crônica, através de um estudo duplo-cego, por 9 meses, randomizado e controlado por placebo. Realizaram uma meta-análise em 392 pacientes em várias clínicas americanas, sendo que 36,9% desta amostra eram fumantes. Os pacientes foram avaliados quanto à profundidade clínica de sondagem e nível de inserção clínica e foram divididos em quatro grupos, entre fumantes e não-fumantes e que fariam ou não uso de SDD. Todos os grupos receberam RASUB antes do início da pesquisa e após, o grupo teste recebeu 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas durante 9 meses. Os 35 resultados da pesquisa mostraram claramente uma hierarquização na resposta ao tratamento, onde os não fumantes que receberam SDD tiveram um grande ganho de inserção clínica e redução na profundidade de sondagem. Fumantes que receberam o placebo tiveram uma menor melhora clínica durante os 9 meses. Fumantes que receberam SDD demonstraram uma resposta intermediária que foi, de maneira geral, equivalente a que foi observada nos pacientes não-fumantes que receberam placebo. Os autores concluíram que o emprego de SDD como auxiliar à RASUB melhora os resultados clínicos se comparado com a RASUB de maneira isolada, resultando em benefícios clínicos, tanto em fumantes quanto em não-fumantes com doença periodontal crônica. 2.5.6 Lincosamidas Este grupo possui como representantes, a clindamicina e a lincomicina, sendo que a clindamicina apresenta pesquisas de emprego no tratamento das periodontites. A clindamicina é um anaerobicida, apresenta uma ótima taxa de absorção oral e baixa taxa de resistência bacteriana. Sua farmacocinética é semelhante aos macrolídeos, onde age inibindo a síntese protéica bacteriana atuando no ribossomo 50S. Tem espectro de ação similar ao das penicilinas, tanto em parâmetros clínicos quanto microbiológicos. A clindamicina está indicada em infecções por microorganismos aeróbios, coco s G r a m -positivos e anaeróbios Gram-p o s i t i v o s , c o m o Peptococcus, Peptostreptococcus, Actinomyces e Eubacterium. Também é ativa contra alguns microrganismos Gram-negativos, como Fusobacterium e Bacteróides. No entanto, não age sobre aeróbios Gram-negativos (REESE, BETTS, 1996). Pode ser administrada via oral, sendo altamente absorvida pelo trato gastrintestinal e metabolizada quase que completamente no fígado. Ela deve ser prescrita com cuidado, pois pode causar raramente casos de colite pseudomembranosa, decorrente de uma superinfecção por Clostridium difficile, patologia caracterizada por evacuações freqüentes, com fezes líquidas e presença de muco ou sangue. A clindamicina tem demonstrado eficácia no tratamento das periodontites refratárias e pode ser empregada em infecções por estreptococos beta-hemolíticos e 36 várias espécies anaeróbias orais (WALKER, GORDON, 1998). Salienta-se que o Aa e a Eikenella corrodens são resistentes à clindamicina. 2.5.6.1 Estudos Sigusch et al. (2001) propuseram um tratamento com a realização de procedimentos não-cirúrgicos em dois tempos e antibioticoterapia sistêmica no tratamento das periodontites agressivas. A primeira etapa do tratamento incluiu a raspagem e alisamento radicular subgengival em cada quadrante, realizando-se uma consulta por quadrante com instruções de higiene oral em pacientes com uma média de 16 sítios com perda de inserção clínica 8 mm. A segunda etapa teve início após três semanas, com uma instrumentação mecânica por quadrantes com intervalo de dois dias entre as consultas e início da antibioticoterapia sistêmica após a raspagem do último quadrante. Os pacientes receberam 150 mg de clindamicina de 6 em 6 horas por um período de 8 dias e RASUB a cada 6 semanas. Os pacientes foram analisados em 6 e 24 meses após o final da segunda etapa da terapia e mostraram diminuição na profundidade de sondagem de 1,5 mm em média. Após o término do estudo, os autores concluíram que a clindamicina foi efetiva quando utilizada como auxiliar no tratamento não-cirúrgico em pacientes com periodontites agressivas. 2.5.7 Fluorquinolonas É um grupo de antibióticos derivados do ácido nalidíxico, sendo mais conhecidos o norfloxacino, o ciprofloxacino e o ofloxacino. Têm um espectro de ação específico, boa disponibilidade, penetração tecidual e margem de segurança e longas meias-vidas. Apenas o ciprofloxacino demonstrou ação sobre anaeróbios da cavidade bucal (REESE, BETTS, 1996). O ciprofloxacin tem atividade bacteriana dependente da sua concentração, atuando por inibição do DNA girase, enzima essencial para replicação do DNA bacteriano, inibindo a sua divisão celular. Pode ser administrado por via oral, sendo bem absorvido no trato gastrintestinal, biotransformado e eliminado em nível hepático e renal. O ciprofloxacin tem sido muito estudado nos últimos anos principalmente no tratamento das periodontites, onde as pesquisas têm demonstrado sua função ativa 37 tanto sobre o Aa (principal periodontopatógeno humano), quanto para Eikenella corrodens (resistente aos outros antibióticos). Combinações envolvendo o ciprofloxacin com o objetivo de aumentar a atividade antibacteriana foram avaliadas nas periodontites; têm mostrado grande eficácia quando combinado com o metronidazol contra o Fusobacterium, Peptococcus, Prevotella intermedia, Porphyromonas gingivalis, Aa e bactérias Gram-negativas facultativas (RAMS, FEIK, SLOTS, 1993). Penetra facilmente, nos tecidos periodontais doentes e no fluido gengival, e pode ser encontrado em concentrações tão altas nestes locais quanto no soro (CONWAY, BECK, WALTERS, 2000). Todas as fluorquinolonas podem induzir a doenças nos tendões, devendo-se por isso, orientar os pacientes a não realização de exercícios pesados durante o tratamento. 2.5.7.1 Estudos Os estudos atuais sobre as fluorquinolonas, por serem antibióticos de uso recente no tratamento das periodontites, são quase que exclusivamente sobre o ciprofloxacin e a grande concentração que este antibiótico consegue atingir no fluido gengival. Conway, Beck e Walters (2000) realizaram um estudo para analisar os níveis de ciprofloxacin no fluido gengival em sítios periodontais saudáveis e inflamados de seres humanos. Foram analisados sete pacientes com periodonto saudável e oito pacientes com periodontite crônica. Como os leucócitos polimorfo nucleares (PMNs) conseguem captar e acumular facilmente o ciprofloxacin, isto permite acentuar a colocação do antibiótico no periodonto inflamado através dos PMNs. Pacientes com o periodonto saudável receberam 500 mg de ciprofloxacin de 8 em 8 horas por 1 dia e após 28 horas tiveram retiradas amostras de fluido gengival. Os pacientes com periodontite crônica receberam 500 mg de 8 em 8 horas por 8 dias e, após 28 horas da dose inicial, foram retiradas amostras do fluido gengival de sítios que tinham de 5 a 8 mm de perda de inserção em cada paciente com periodontite. Após, estes sítios foram raspados; também, nos pacientes periodontais foram obtidas amostra do soro sanguíneo. Nova amostragem foi realizada após 196 horas da primeira dose do antibiótico, nos mesmos sítios, para análise do fluido gengival. Concluiu-se que, em sítios periodontais inflamados, os níveis de ciprofloxacin foram significativamente 38 maiores do que os níveis no soro e nos sítios periodontais saudáveis, e que a inflamação pode melhorar a distribuição do ciprofloxacin nos sítios doentes. Porém, isto por si só não determina um maior nível no fluido gengival. Os pacientes com periodontite mostraram uma redução na profundidade clínica de sondagem. Tozüm et al. (2004) analisaram os níveis de concentração do ciprofloxacin no soro e no fluido gengival de pacientes com periodontite crônica. Objetivaram localizar e determinar concentrações de ciprofloxacin de uso sistêmico em pacientes com sítios periodontais infectados, visando reduzir a bacteremia. Utilizaram no estudo 10 pessoas entre 20 e 52 anos com periodontite crônica, que receberam 500 mg de ciprofloxacin de 12 em 12 horas durante 5 dias. Foram coletadas amostras do fluido gengival e de soro imediatamente após a dose inicial e após 1, 2, 4, 5, 7, 24 e 120 horas. Os autores demonstraram que a concentração de ciprofloxacin no fluido gengival foi significativamente maior do que no soro após 2, 4, 7, 24 e 120 horas, mostrando uma concentração máxima após 2 horas da administração inicial. A concentração foi menor após 24 da dose inicial. Concluiu-se que o ciprofloxacin é encontrado no fluido gengival em concentrações significamente maiores do que no soro, e que pode ser útil no tratamento de pacientes com periodontites. Isto se deve ao fato de que esse antibiótico se concentra muito bem tanto no fluido gengival quanto no soro, uma vez que parece apresentar uma grande efetividade sobre o Aa, através da sua captação pelos PMNs. Lavda et al. (2004) realizaram um estudo sobre a distribuição do ciprofloxacin sistêmico no fluido gengival e na gengiva em 17 pacientes com periodontite. Estes pacientes receberam previamente à antibioticoterapia, uma RASUB, depois receberam doses de 500 mg de ciprofloxacin em dose única no primeiro dia e 500 mg de 12 em 12 horas por 3 dias. Após 5, 7 e 28 horas do início da antibioticoterapia, foram coletadas amostras do fluido gengival e do tecido gengival. Os autores puderam concluir que o ciprofloxacin atinge altos níveis tanto no fluido gengival quanto na gengiva. Na gengiva parece que os fibroblastos desempenham um papel importante no aumento dos níveis e distribuição do ciprofloxaxin, proporcionando um equilíbrio entre as concentrações intracelulares e extracelulares do antibiótico, fator este que faz com que o antibiótico atue por mais tempo na gengiva e no fluido gengival conseguindo eficácia contra o Aa. 39 2.5.8 Antibioticoterapias com associações de antibióticos São empregadas com o objetivo de atingir bactérias não cobertas pelo espectro de ação de um antibiótico isolado. A associação de metronidazol + amoxicilina (M + A) fornece uma previsível erradicação do Aa e grande diminuição da Pg nas formas agressivas das periodontites e nas periodontites crônicas refratárias (KORNMAN et al., 1994; PAVICIC et al., 1999). A associação de metronidazol + ciprofloxacin pode substituir a de M + A em indivíduos que são alérgicos à amoxicilina e que tenham no mínimo 18 anos de idade. É também recomendada em periodontites que apresentem bactérias entéricas anaeróbias. 2.5.8.1 Estudos Winkel, Van Winkelhoff e Van der Velden (1998) avaliaram clínica e microbiologicamente, os efeitos da terapia inicial composta por RASUB + instruções de higiene oral e o uso de amoxicilina + metronidazol em 22 pacientes com média de 40 anos. Os pacientes deveriam apresentar pelo menos 4 sítios com profundidade clínica de sondagem maior que 6 mm e pelo menos 3 mm de perda de inserção. Além disso, deveriam apresentar periodontite crônica não tratada e com presença do Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa), Bacteróides forsythus (Bf), Porphyromonas gingivalis (Pg) e Prevotella intermedia (Pi). Nestes quatro sítios foram realizadas medidas clínicas de índice de placa, índice de sangramento, profundidade de sondagem e presença de supuração. Foram também realizadas amostras de placa subgengival para exames microbiológicos antes do início do estudo, 21 semanas após a medicação e 35 semanas após o início do estudo. A instrução de higiene oral + RASUB foi terminada 15 semanas após o início do experimento. A antibioticoterapia consistiu de 250 mg de metronidazol + 375 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas, por 7 dias. A medida da profundidade clínica de sondagem foi reduzida em 1,4 mm após a terapia inicial e em 1,1 mm após a medicação. Após o tratamento inicial, formaram-se os seguintes grupos: grupo A, onde os pacientes não apresentavam Aa, Bf, Pg e tinham Pi < 5%; e grupo B, onde os pacientes ainda mostravam uma das espécies referidas e Pi > 5 %. Após terapia, 40 o grupo B tinha maior índice de placa, sangramento à sondagem, profundidade clínica de sondagem e perda de inserção do que o grupo A. No exame microbiológico, um paciente ficou negativo para o Aa, quatro para Pg e dez para Pi após a RASUB inicial. Após a antibioticoterapia, o Aa, Pg e Pi estavam ausentes em 19, 9 e 11 indivíduos, respectivamente; também observou-se aumento das espécies Streptococcus e Fusobacterium. Os autores concluíram que a combinação de metronidazol + amoxicilina como coadjuvante à RASUB pode ser utilizada com êxito em pacientes com periodontite crônica. Tinoco et al. (1998) objetivaram avaliar clínica e microbiologicamente os efeitos da combinação do metronidazol + amoxicilina juntamente com a RASUB no tratamento de pacientes com periodontite agressiva localizada. Realizaram um estudo duplo-cego randomizado com grupo-controle, em 20 pessoas com idade entre 12 e 19 anos, sendo 10 para cada grupo. Apenas medidas clínicas em sítios com profundidade de sondagem > 5 m m e perda de inserção > 2 m m foram consideradas. Também foram obtidas radiografias antes e um ano após o início do estudo. Os pacientes na fase inicial tiveram instruções de higiene oral + RASUB, sendo que os 10 pacientes do grupo teste receberam 750 mg de metronidazol + 1500 mg de amoxicilina de 12 em 12 horas por 8 dias; o grupo controle recebeu placebo. Após, realizou-se tratamento de manutenção a cada 30 dias nos primeiros 3 meses e após, a cada 3 meses, com reforço das instruções e raspagens supragengivais ou subgengivais, quando necessário. Nos dois grupos houve melhora clínica nos pacientes: o grupo teste teve melhores resultados em relação ao grupo placebo em todas as análises, exceto em relação ao índice de placa. As amostras de placa subgengival foram cultivadas para a detecção do Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa) e em todas as amostras, tanto no início quanto no final do estudo, foram encontradas no grupo placebo. No grupo teste, quatro de oito pacientes que tinham o Aa no início, permaneceram com este microrganismo no final do estudo. O Aa mostrou-se sensível à amoxicilina, mas resistente ao metronidazol. Os autores concluíram que nos pacientes com periodontite agressiva, a RASUB como forma única de tratamento não foi capaz de controlar a contaminação pelo Aa. Guerrero et al. (2005) avaliaram o efeito clínico do auxílio da antibioticoterapia sistêmica com metronidazol + amoxicilina no tratamento não-cirúrgico de pacientes com periodontite agressiva generalizada. Foi utilizado um teste clínico randomizado, com grupo teste e placebo. Foram incluídos 41 indivíduos com periodontite 41 agressiva generalizada, avaliados por 6 meses. Os pacientes receberam RASUB em todos os dentes da boca, em sessão única ou com intervalo de no máximo 24 horas entre as sessões. O grupo teste recebeu 500 mg de metronidazol + 500 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 7 dias. Medidas clínicas foram realizadas antes e aos dois e seis meses após o início do tratamento. Após os dois e seis meses, ambos os grupos apresentaram resultados clínicos melhores que no início do estudo. O grupo teste obteve resultados melhores que o grupo controle após os 6 meses, tanto na diminuição da profundidade clínica de sondagem (em torno de 1,4 mm em média), como no ganho de inserção clínica (em torno de 2 mm em média). Os autores sustentam que uso de metronidazol + amoxicilina nas doses propostas por sete dias melhoraram significativamente, em curto prazo, os parâmetros clínicos de todos os dentes em indivíduos com periodontite agressiva generalizada, quando empregados como auxiliares do debridamento mecânico não-cirúrgico. Ehmke et al. (2005) realizaram um estudo randomizado controlado por grupo placebo. Este estudo avaliou os efeitos da terapia antimicrobiana sistêmica de longa duração como auxiliar no tratamento da progressão de periodontites. Foram avaliados 35 pacientes com mais de 30 anos portadores de periodontite crônica nãotratada, que apresentavam Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa) e / o u Porphyromonas gingivalis (Pg), sendo randomicamente designados para receber RASUB no grupo placebo (17 pessoas). No grupo teste (18 pessoas), foi realizada RASUB + 250 mg de metronidazol + 375 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 8 dias + irrigação supragengival de clorexedina 0,06% uma vez ao dia por 8 dias. Os níveis de inserção foram medidos e amostras de placa supra e subgengival foram avaliadas no início do estudo, 10 dias após o tratamento e 3, 6, 9, 12, 18 e 24 meses seguintes. Durante a terapia de manutenção, os pacientes receberam apenas raspagem supragengival. Nesse caso, os resultados mostraram que após os 24 meses, o grupo teste obteve um ganho de inserção significativo ( 2 mm), em comparação com o grupo controle, em sítios que inicialmente eram 7 mm. Os níveis de Aa e Pg no grupo teste foram bem menores em relação ao grupo placebo após o tratamento. Já a Eikenella corrodens aumentou no grupo teste e controle, 10 dias após o tratamento. Os autores concluíram que um período de 24 meses com administração de antibioticoterapia por 8 dias conduziu a uma redução de 62% no risco relativo de perda de inserção nos sítios profundos. Entretanto, com exceção do 42 Aa, falhou em reduzir as alterações em longo prazo do perfil de colonização bucal prevalente. López et al. (2006) avaliaram os efeitos da combinação do metronidazol (M) + amoxicilina (A) como única terapia para o tratamento de periodontites crônicas nãotratadas. Foram avaliados 42 pacientes com periodontite crônica ativa, randomicamente separados. O grupo teste recebeu, por via sistêmica, 250 mg de metronidazol + 500 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 7 dias a cada 3 meses, sem debridamento mecânico. O grupo placebo foi submetido à RASUB + placebo. Medidas clínicas incluindo sítios com placa, sangramento à sondagem, profundidade clínica de sondagem e nível de inserção clínica foram realizadas em ambos os grupos aos 3, 6, 9 e 12 meses. Amostras da placa subgengival foram coletadas em todos os dentes aos 3, 6, 9 e 12 meses, para contagem de 40 espécies bacterianas subgengivais através da verificação por DNA. O estudo demonstrou uma significante redução da profundidade clínica de sondagem de 2,80 mm para 1,95 mm no grupo teste (M + A) e de 2,39 mm para 1,95 mm o grupo placebo, ambos após 12 meses. Os valores encontrados para o nível de inserção clínica também diminuíram. A quantidade de sítios que mostravam sangramento à sondagem diminuiu de 40,6 para 18,3 e de 38,5 para 19,0 nos grupos teste e placebo, respectivamente, após 12 meses. A maioria das espécies subgengivais mostrou significativa redução nos dois grupos, com nenhuma diferença significante encontrada em qualquer período do estudo. Após 12 meses, muitas das espécies estavam ainda presentes, mas com níveis significativamente mais baixos em comparação com a contagem inicial. Os autores concluíram que as mudanças nos parâmetros clínicos e microbiológicos foram similares após administração sistêmica de metronidazol + amoxicilina como único tratamento ou, após receber RASUB isoladamente, sendo ambas as terapias efetivas para o tratamento da periodontite crônica. 43 2.6 Antibioticoterapias recomendadas nos tratamentos das periodontites A prescrição mais usual e que as pesquisas têm mostrado ser altamente efetiva contra os periodontopatógenos é a associação de Metronidazol + Amoxicilina. Quadro 2 - Antibioticoterapias recomendadas nos tratamentos das periodontites TEMPO DE NOME GENÉRICO DOSE ADULTA USUAL TRATAMENTO Amoxicilina + Ácido Clavulânico 250 ou 500 mg de 8 em 8 horas 10 dias Metronidazol 500 mg de 8 em 8 horas 08 dias Azitromicina 500 mg em dose única Doxiciclina ou Minociclina 100 a 200 mg em dose única 04 a 07 dias 21 dias Clindamicina 300 mg de 8 em 8 horas 08 dias Ciprofloxacin 500 mg de 12 em 12 horas 08 dias Metronidazol 250 mg de Metronidazol de 8 em 8 horas + Amoxicilina Metronidazol + Ciprofloxacin FONTE: Slots et al. (2004). + 250 mg de Amoxicilina de 8 em 8 horas 500 mg de Metronidazol de 12 em 12 horas + 500 mg de Ciprofloxacin de 12 em 12 horas 08 dias 08 dias 44 3 CONCLUSÕES O conceito do uso de antibióticos sistêmicos no tratamento das periodontites deve centrar-se na microbiota patogênica, no paciente e no antibiótico utilizado. Os antibióticos devem ser considerados como auxiliares à raspagem e alisamento radicular subgengival (RASUB). O uso de antibióticos potentes pressupõe um diagnóstico clínico adequado, realização do debridamento mecânico e análise microbiológica quando houver indicação. Alguns fatores limitam o uso de antibióticos sistêmicos para o tratamento das periodontites. Entre eles, o fato de sua etiologia estar relacionada à presença de um biofilme polimicrobiano, onde o acesso do antibiótico é bastante limitado. Também, a rápida recolonização de alguns sítios periodontais pode levar a necessidade de um uso continuado da antibioticoterapia, podendo originar a tão temida resistência bacteriana. A decisão de se utilizar ou não antibióticos sistêmicos no tratamento das periodontites está associada à possibilidade do controle ou não desta doença por meio da terapia mecânica isolada. O ideal é que o Cirurgião-Dentista selecione antibióticos que objetivem complexos específicos de periodontopatógenos existentes nos pacientes com periodontites, como o Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa), Porphyromonas gingivalis (Pg), Prevotella intermedia (Pi), Eikenella corrodens (Ec), e Tannarella forsythensis (Tf). Os estudos têm mostrado evidências científicas da eficácia clínica da adição de antibioticoterapia sistêmica à terapia periodontal mecânica, considerando que esta associação pode ser benéfica. Experimentos têm repetidamente mostrado maior ganho de inserção clínica, maior redução na profundidade clínica de sondagem e redução nos riscos de perda avançada dos tecidos de inserção nos pacientes tratados com meios mecânicos coadjuvados com antibioticoterapia sistêmica. Como os pacientes apresentam diferentes fatores de susceptibilidade, onde alguns têm o mesmo diagnóstico de uma determinada periodontite, mas, com microfloras bacterianas diversas, a padronização de uma antibioticoterapia para um determinado tipo de periodontite não se justifica, sendo que a realização de exames microbiológicos e posterior avaliação de seus dados se faz necessário. Porém, na 45 realidade do tratamento periodontal no Brasil, onde praticamente não existem laboratórios especializados para a realização de testes microbiológicos de determinação de periodontopatógenos, resta aos periodontistas lançar mão de uma antibioticoterapia presuntiva. Em face o exposto nesta revisão de literatura, parece lícito concluir que: 3.1. O uso de antibioticoterapia sistêmica nos casos de periodontite crônica leve ou moderada não está justificado no momento. 3.2. O uso de antibioticoterapia sistêmica nos casos de periodontite crônica grave e/ou refratária está recomendado, sendo que, a associação de 250 mg de metronidazol + 250 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 8 dias, parece ser a mais recomendada, por possuir ação contra as bactérias Aa, Pg e Pi. Uma associação de 500 mg de metronidazol + 500 mg de ciprofloxacin de 12 em 12 horas por 8 dias pode ser recomendada. O uso de doses subantimicrobianas de doxiciclina (SDD) pode ser recomendado com eficácia e segurança como auxiliar à RASUB nos casos de periodontites crônicas, sendo indicado 20 mg de doxiciclina de 12 em 12 horas por 6 a 9 meses. 3.3. Em relação à periodontite agressiva localizada, existe um consenso entre os autores de que é necessário o uso de antibioticoterapia sistêmica como auxiliar ao debridamento mecânico, uma vez que os periodontopatógenos relacionados (o Aa) possuem capacidade de penetrar no tecido conjuntivo gengival, dificultando sua eliminação por meio da instrumentação mecânica. A prescrição de 100 ou 200 mg de doxiciclina a cada 24 horas por 21 dias ou a associação de 250 mg de metronidazol + 250 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 8 dias ou 500 mg de metronidazol + 500 mg de ciprofloxacin de 12 em 12 horas por 8 dias, podem ser prescritas. 3.4. Nos casos de periodontite agressiva generalizada, também é consenso entre os autores a necessidade do uso de medicação antibiótica adjunta, devido à presença de Pg e Aa e outras espécies bacterianas. Está recomendada a associação de 250 mg de metronidazol + 250 mg de amoxicilina de 8 em 8 horas por 8 dias ou a associação de 500 mg de metronidazol + 500 mg de ciprofloxacin de 12 em 12 horas durante 8 dias. 46 REFERÊNCIAS ARMITAGE, G.C. Periodontal diseases: diagnosis. Ann Periodontology, v.1, p. 205215, 1996. ARMITAGE, G.C. Classifying periodontal diseases - A long standing dilemma. Periodontology 2000, v. 30, p. 9-23, 2002. ASIKAINEN, S.; CHEN, C. Oral ecology and person-to-person transmission of Actinobacillus actinomycetencomitans and Porphyromonas gingivalis. Periodontology 2000, v. 20, p. 65-81, 1999. CARVALHO, L.H. et al. Scaling and root planing, systemic metronidazole and professional plaque removal in the treatment of chronic periodontitis in a Brazilian population II - microbiological results. Journal of Clinical Periodontology, v. 32, p. 406-411, 2005. CATON, J.G. et al. 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