10 30| OUTUBRO |09 Dar mundo ao coração Sob a coordenação de Carlos Mendes de Sousa, a editora Texto lançou esta semana o livro “Dar mundo ao coração. Estudos sobre Miguel Torga”, uma obra que abre “novas perspetivas sobre o autor além do lugar comum de escritor telúrico” e que é uma revisitação da vida e obra do escritor, ao reunir as intervenções do colóquio organizado há dois anos pelo Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, por ocasião do centenário do nascimento de Miguel Torga. O título da obra foi retirado de uma ode de Torga, escritor sobre o qual “se repetem os lugares-comuns, nomeadamente ser um escritor telúrico, ligado à terra, que funcionam muito bem na divulgação da sua obra”. No entanto, neste livro abrem-se novas perspetivas. Depois da publicação em francês nas Editions la Différence, com o título “Miguel Torga, Écrivan Universal”, este volume, que é agora dado a conhecer aos leitores portugueses, apresenta materiais inéditos do escritor nunca antes publicados (fotografias e documentos pessoais, manuscritos de poemas, prefácios e contos, capas dos primeiros números das revistas codirigidas pelo escritor, entre outros). A cronologia da vida e obra de Miguel Torga, ensaios sobre o romance, a arte do conto, o teatro, o testemunho e a autobiografia no escritor, textos que apresentam Miguel Torga visto por três poetas portugueses — Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e Manuel Alegre, assim como algumas curiosidades como a publicação de um autorretrato do escritor, rascunhos de cartas pessoais e páginas de livros seus anotadas com emendas, integram os conteúdos desta obra que ajuda a compreender muitas outras faces de um escritor que vivia em permanente interrogação. Eduardo Lourenço, Marcello Mathias, Maria Alzira Seixo, Cathérine Dumas, Vincenzo Arcillo, Cristina Robalo Cordeiro, Luís Mourão e Clara Rocha são alguns dos autores das comunicações compiladas no volume. Ajustamento materno e paterno: experiências vivenciadas pelos pais no pós-parto O livro “Ajustamento materno e paterno: experiências vivenciadas pelos pais no pós-parto”, de Isabel Margarida Mendes, foi lançado, na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, onde a autora é docente. As dificuldades por que passam os pais pela primeira vez, durante o primeiro mês de vida do bebé, foram objeto de estudo pela professora da ESEnfC, no âmbito da sua tese de doutoramento. Nessa investigação, muitos casais entrevistados revelaram que não tiveram outra alternativa senão irem ao hospital pediátrico com um bebé de dias, por situações que poderiam ser resolvidas, ou através de uma linha telefónica de apoio, ou por uma visita domiciliária, na medida em que tinham a ver com a insegurança e com a inexperiência no cuidar do bebé. É por isso que, entre outras medidas, Isabel Margarida Mendes gostaria de ver instituída a visita domiciliária, algo que “já está legislado”, observa, e que pode ser feito entre a primeira e a segunda semana de vida do bebé, independentemente das idas dos pais com a criança ao centro de saúde. A obra “Ajustamento materno e paterno: experiências vivenciadas pelos pais no pós-parto” é editada pela Mar da Palavra. O livro foi lançado no decorrer do “I Congresso Internacional de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia: Parto e Parentalidade – Desafios e Respostas”, tendo sido apresentado pela presidente da ESEnfC, Maria da Conceição Bento. Cuidar e cuidado. Foi com estas duas palavras que a presidente da ESEnfC caracterizou a obra” da professora Isabel Margarida Mendes. Cuidar, por- que a investigação realizada, vertida neste livro, dá um contributo inestimável para a melhoria dos cuidados de saúde materna. Cuidado, pelo rigor científico, pela honestidade e pela humildade intelectual com que foi conduzida a investigação, que aborda os receios e necessidades dos pais no processo de adaptação parental, a família alargada, os amigos e a relação conjugal. A este propósito, verifica-se uma aproximação entre pai e mãe (motivada pelo nascimento do bebé), mas um distanciamento no que diz respeito às relações sexuais. Uma matéria onde os profissionais de saúde ainda têm imenso trabalho a desenvolver, observou Maria da Conceição Bento. MAGAZINE Uma intuição por Portugal Foi esta semana apresentado o livro “Uma intuição por Portugal”, da autoria de Sebastião Formosinho, diretor do Departamento de Química da Universidade de Coimbra, para quem Portugal está “preocupantemente” afastado da modernidade europeia. No livro, Sebastião Formosinho explora as “fraquezas” da ciência portuguesa, numa edição da Artez. “A partir de um estudo do conhecimento tácito – o conhecimento que adquirimos por aprendizagem com os mestres vivos ou já falecidos – a obra debruça-se sobre a coesão do nosso país, sobre as dificuldades que temos de enfrentar para que possamos atingir a modernidade europeia”, avança o autor. Em “Uma Intuição por Portugal”, o cientista analisa as semelhanças e as diferenças entre países em diversos domínios, como o da ciência ou o da educação. E é dos agrupamentos que forma a partir daí que surgem as suas conclusões relativamente a Portugal, e nomeadamente à ciência portuguesa. “Da teoria do conhecimento tácito decorre (e a obra confirma-o recorrendo à estatística) que o conhecimento científico há de apresentar marcas culturais, dado que é realizado com uma base fiduciária da língua, das tradições, das culturas, refletidas na geografia dos povos europeus. Estas marcas culturais estão patentes nas semelhanças ou diferenças entre países, para as configurações das diferentes áreas científicas”, explica o cientista. Nesse aspeto, sublinha, Portugal está mais próximo da República Checa e da Hungria do que dos seus vizinhos geográficos, enquanto que, por exemplo, a Espanha, que tem uma raiz cultural “bastante comum” com o nosso país, “já evoluiu”, encontrando-se no grupo da França, da Suíça e da Alemanha. Para Sebastião Formosinho, há em Portugal questões culturais que estão a “determinar” o nosso modo de vida e a “distanciar-nos” da geografia a que pertencemos. “Pedindo emprestadas palavras do filósofo José Gil, é o ‘medo de existir’ que atormenta de há muito Portugal. Um medo que arrasta consigo a inveja, a fuga ao risco, a não-inscrição, a instabilidade de estratégias políticas, institucionais, administrativas e outras constituindo já, infelizmente, uma marca cultural”, explica. “Dada a importância da ciência nos países desenvolvidos, o facto de Portugal se ver distanciado da Espanha e ficar numa geografia que não é a mais natural, enfraquece-nos e é motivo de preocupação futura”, adverte Sebastião Formosinho. Daí que o cientista tenha decidido chamar à sua obra “Uma intuição por Portugal”, porque nela apresenta sugestões, alguma das quais “intuídas” do estudo realizado, com o objetivo de “reaportuguesar Portugal, tornando-o Europeu”, isto é, de aproximar o nosso país da sua geografia natural.