A escrita da CLINICA PSICANALÍTICA Luciana Fim Wickert Trabalho apresentado na Jornada Acadêmica da Faculdade de Psicologia da PUCRS. Encontro realizado nos dias 22 a 26 de agosto de 2006. A Psicanálise tem, desde o seu início, a marca da escrita clínica. Para além de comunicar suas elaborações teóricas e de submetê-las à comunidade científica, Freud utilizou-se da escrita de casos clínicos ou de fatos clínicos para constituir um espaço de pensamento analítico. Tal afirmação encontra respaldo na história da psicanálise e na própria constituição deste campo de saber. Se pegarmos o conceito de inconsciente, por exemplo, temos uma construção conceitual que se dá pela via da escrita. Poderia-se perguntar: O inconsciente se efetivou pela escrita? E teríamos como resposta que o conceito de inconsciente – algo do entendimento teórico que pode ser compartilhado com uma comunidade científica – só se efetivou com as publicações freudianas. Afirmação esta que não causa grande desconforto às teorias epistemológicas. Mas o ponto que destacamos refere-se a compreensão do papel efetivo da escrita na constituição da psicanálise. Afirmamos que foi a escrita dos casos clínicos que constituiu e deu consistência a experiência que Freud vivia. A partir deste entendimento poderíamos afirmar que o inconsciente só existe porque está escrito. O que significa isto? O inconsciente existe porque está no registro da linguagem. O conceito de inconsciente é uma trama discursiva e conceitual – no registro epistemológico - que tenta dar conta de alguns dos processos vividos por Freud na relação analítica. Já se falava em processos inconscientes, mas não na perspectiva freudiana que descentra o homem de seu saber absoluto sobre si. Como aponta Lacan, no seminário Os quatro conceitos fundamentais ([1964] 1985) o inconsciente já agia antes de Freud, recebendo inclusive outros entendimentos teóricos, mas a acepção dada anteriormente não tinha absolutamente nada a ver com o inconsciente freudiano. O inconsciente psicanalítico é uma construção ficcional. É importante não tomar o termo ficcional como ausência de verdade e sim como construção de verdades. Neste ponto, um fragmento de um texto nietzschiano se mostra fecundo: “O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismo, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gasta e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram como metal, não mais como moedas”. (Nietzsche, [1873] 1999, p.57) Essa noção nietzschiana rompe com a noção de verdade absoluta. Deste modo, compreendemos que verdades são tentativas singulares e sociais de dar conta da experiência da existência. Fica como questão de que verdade ou verdades estamos nos referindo na psicanálise? Para nós, os psicanalistas, importa a verdade do sujeito. Essa noção de verdade do sujeito só nos é possível hoje pela ousadia freudiana de dar valor de verdade a fala de suas histéricas. No processo de dar valor de verdade à fala de suas pacientes, Freud escreve suas novas experiências, para que um outro também legitime essa verdade. Há várias triangulações transferenciais em questão, mas aqui destacamos: paciente, Freud e o outro que lê (este ocupando o lugar de outro imediato e Outro). A partir do momento que Freud passa a registrar sua experiência de escuta analítica abre-se a possibilidade que ele ocupe a posição de sujeito autor e constitua toda uma rede de saberes que dá arcabouço teórico à psicanálise. Serão por diferentes meios escritos que Freud constituirá os alicerces da Psicanálise. Nesta trajetória, as cartas desempenharam papel fundamental. Freud quando escrevia a Fliess, um de seus primeiros interlocutores, buscava espaço para compartilhar e poder assim legitimar a experiência. Como destaca Erik Porge (1998), até 1900, Fliess é o interlocutor que recebe e acolhe o processo de efervescência criadora de Freud, com suas dúvidas, incertezas e projetos, estimulandoo a superar os obstáculos que se apresentavam. Este aporte do outro auxiliou que Freud assumisse a posição de sujeito autor. Quando utilizamos a expressão sujeito autor, estamos usando como recurso teórico as contribuições de Foucault, quando este problematiza a noção de autoria. Para Foucault, o sujeito autor está sempre imerso em campo de possibilidade histórico. Sendo sua função caracterizar a existência, a circulação e a operatidade de certos discursos numa dada sociedade. Para citá-lo: “Na escrita, não se trata da manifestação ou da exaltação do gesto de escrever, nem da fixação de um sujeito numa linguagem; é uma questão de abertura de um espaço onde o sujeito da escrita está sempre a desaparecer” (1992, p.35) Há um descentramento da noção de sujeito autor autônomo. Nesta perspectiva, o sujeito só é autor no ato da escrita. Podemos dizer que trata-se de uma posição discursiva, que modifica a própria experiência de quem assume a posição. Sabe-se que a escrita ao longo da história tem se efetivado como um suporte necessário à transmissão da experiência. Para que uma experiência seja transmitida é preciso a existência de um outro que a acolha e escute. A escrita é uma tentativa de endereçamento da experiência, o que, por sua vez, modifica a própria experiência, dando-lhe novos significados. O autor escreve para que o outro compartilhe e legitime a experiência vivida. Podemos afirmar então que o sujeito autor está no espaço entre o si e o outro, neste intervalo/movimento como escreve Souza (2001). Neste ponto, um poema de Mário de Sá Carneiro (1914), poeta português contemporâneo de Fernando Pessoa que foi musicado pela Adriana Calcanhoto, exprime com maestria o conceito de sujeito. Chama-se O Outro: “Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o outro”. O sujeito autor está neste intermédio. Enfatizamos que não há escrita no nada. A escrita é decorrente de um caldeirão lingüístico que extrapola àquele que escreve. Isto nos leva com tranqüilidade a afirmar que a escrita analítica também extrapola o analista autor. Nesta perspectiva, não há a soberania do autor. Se algo é soberano é exatamente aquilo que lhe escapa. E ao questionarmos esta autonomia necessariamente estaremos questionando a pretensa autonomia daquele que escreve sobre o que está escrevendo e aqui quero já pontuar a pretensa autonomia/isenção do autor de um estudo de caso. Colocado, em algumas instituições de formação e acadêmicas, como um texto que expressa isentamente, de maneira neutra, o quadro clínico do paciente. Concordamos com Rickes (2003, p. 125) quando esta afirma que: “Não existe estudo de caso, mas escrita, construção do caso, e nesta construção, produção de um lugar psíquico que objetiva ser capaz de sustentar a transferência.” Cabe aqui ressaltar o entrelace clínica e escrita. O analista escreve da sua clínica para criar espaço de pensamento. E o que nos põe a pensar? O que impele um sujeito à escrita? Como coloca Rickes, citando uma expressão de Souza: “É porque algo da fala do analisante resiste a ser incorporado pela história ficcional do analista que ele se embrenha na direção de construir o caso, na tentativa de harmonizar-se com o que lhe resiste” (2003, p.125) Não foi isso que fez Freud ao longo de seu trabalho? Transformou dúvidas em produção, impactou-se com a fala de seus analisandos e necessitou escrever/endereçar ao outro sua produção para dar consistência ao que estava produzindo? Quando escrevo consistência refiro-me a dar corpo teórico à psicanálise, a margear as bordas do desconhecimento. Freud tinha essa coragem de aceitar não passivamente o que não se sabe, de se colocar na posição de construir, repartindo seu des-conhecimento. Este horizonte textual nos remete aos entrelaces clínica, escrita e pesquisa analítica. Freud teve presente em seu trabalho o caráter investigativo da psicanálise. De um certo modo, podemos dizer que o tripé prática supervisionada, análise pessoal e estudos teóricos, na formação de Freud se deu no entrelace clínica, pesquisa e escrita. Não se tratava de uma escrita teórica sem endereço. Buscava nas cartas a seus colaboradores e na publicação de seus livros um espaço de interlocução que desse consistência – olhar sobre sua obra. Sempre se escreve para alguém. “O escrever é tentar colocar as nossas pequenas experiências, que são numa certa medida incomunicáveis, em uma linguagem de troca com os nossos pares. Mas isso que é incomunicável vai estar, inevitavelmente, sempre presente como fundo de silêncio do que nós estamos dizendo”. (Birman, 1994, p.25) A escrita exigirá do escritor o encontro com o inenarrável, com aquilo que escapa ao saber, defrontando aquele que escreve com a castração, com o limite imposto pela linguagem e pelo outro. Para Tfouni “a autoria de um texto se instala quando o sujeito do discurso ocupa uma posição que lhe permite lidar com a dispersão e aceitar a deriva que sempre se instala” (Tfouni, 2004, p.53) Mas o que caracteriza um texto como um texto psicanalítico? Em primeiro plano, o campo psicanalítico está ancorado na experiência da transferência, sendo que entendemos que a transferência calca-se em dois pólos fundamentais: um pólo que é o da pulsão – que exige e força ao trabalho psíquico e o outro pólo que é o da linguagem, responsável pela simbolização e circulação no campo da cultura. Se estamos diante de um texto psicanalítico certamente teremos que nos inquietar, questionar sobre a transferência. Como escreve Birman, “O escrito analítico é um escrito que tem que dar conta do que foi a transferência. (...) tem que passar para quem o lê, o que foi aquela experiência analítica e, se possível, provocar um efeito de intérprete em quem o lê...” (1994, p.26) Agrada-nos o entendimento de Joel Birman, quando este refere a potencialidade da produção de indizível do texto analítico. Um texto analítico é um texto que nos coloca a pensar, que nos exige trabalho psíquico. Um texto psicanalítico talvez esteja mais remetido a uma estilística psicanalítica. Deste modo, trata-se de um texto que cria no leitor as nuances do indizível da transferência. (1994, p. 27) Num outro trabalho (2001), este mesmo autor destaca que a retórica psicanalítica se caracteriza pela singularidade de seus enunciados, singularidade esta marcada pelo inconsciente do autor. Assim, a impessoalidade ou a neutralidade em psicanálise seria um contra-senso, porque retira o sujeito analista do jogo transferencial e do jogo da escritura. Do lançar-se ao outro. Birman ao discutir a temática da escrita psicanalítica marca novamente que “a psicanálise é uma experiência de ordem ética e estética, exatamente porque deve produzir um estilo singular.” (Birman, 1994, p.27) Entretanto, a própria concepção de estilo singular não está imerso no nada. Está nas raias dos campos transferenciais e das experiências vividas. Há vários laços transferenciais na escrita de um texto analítico. Abordaremos dois aspectos. Num primeiro plano poderíamos tomar como o sujeito analisando colocase na cena transferencial e o trabalho analítico que ali se desenvolve. Num outro plano é como o analista se coloca na cena de seus pares, ou seja, na comunidade psicanalítica. O que busca com esta escrita? Estas são pontos de discussão importantes para quem escreve e lê. Renato Mezan destaca que a análise e a história de trabalho analítico é sempre singular. Entretanto, “o objeto do escrito analítico não é a pessoa singular, nem o trabalho único e específico realizado com ela, embora tanto uma como a outra sejam condições necessárias para que aquele objeto possa se constituir.” (2000, p.7) Existe uma transposição do fenômeno da clínica para o objeto de um escrito analítico (Mezan, 2000). Quando escrevemos sobre um fato clínico - e aqui chamo a atenção que não estou utilizando a expressão estudo de caso, porque entendo que esta expressão relaciona-se a uma noção psiquiátrica sintomatológica e não a um trabalho analítico que versa sob as condições da transferência - estamos construindo sobre uma história. Como retoma Rickes a partir do texto freudiano “ a escrita da clínica está longe de ser um relato minucioso de cada passo dado durante o transcurso de uma sessão”. (2003, p.123) Aquilo que se escreve não é uma reconstituição da história do paciente e sim uma versão do que teria sido esta história do tratamento, o que carrega em seu cerne a reflexão sobre a transferência e sobre os seus impasses. No contar uma história transferencial o sujeito se conta, num tensionamento de inclusão e exclusão. Porque como escreve Lacan: “A transferência é um fenômeno em que estão incluídos, juntos, o sujeito e o psicanalista. Dividi-la nos termos de transferência e contratransferência, qualquer que seja a sagacidade, a desenvoltura das proposições que a gente se permita sobre este tema, nunca é mais que um modo de eludir o de que se trata.” ([1964]1985, p.219) Há diferenças entre o dito e o escutado. Entre os conteúdos manifestos e latentes. E quem escuta está implicado no processo. Como escreve Catherine Cyssau (1999) na escuta de uma sessão, o analista se coloca a produzir uma atividade associativa mnésica, alucinatória, sensorial e isto tem como função um outro ponto de vista, uma outra percepção do discurso ou da história do paciente, o que coincide com a construção do caso. Entretanto, nem todo trabalho analítico constituirá material para um escrito analítico com pretensões científicas e teóricas. Qual o texto analítico que nos interessa? Aquele que faz avançar os conhecimentos no campo da psicanálise. E quais são os fatos que fazem a teorização analítica avançar? São exatamente aqueles que resistem à teorização. Aqueles que colocam em dúvida a hegemonização teórica. A exceção constitui o fato potencializador ao pensamento analítico. E aqui podemos traçar um paralelo importante com o ato falho, o chiste, com aquilo que irrompe à consciência e desarranja a própria noção ficcional do sujeito sobre si mesmo. A exceção, o fortuito do caso clínico, como chama Cyssau (1999), nas sua especificidade constitui o saber analítico. Vemos na história da psicanálise que os conceitos vão sendo construídos, cunhados, por causa do pacientes. E isso é importante, os fatos clínicos precedem as hipóteses. Há toda uma gama discursiva, teórica, na psicanálise que nos auxilia e muito. Mas a regra fundamental baseia-se na associação livre e na escuta flutuante. Temos como função ética termos a escuta livre para o inusitado e para aquilo que coloca em xeque os nossos saberes. Como discute Luciano Elia, no texto Psicanálise: clínica e pesquisa, “... a clínica não é lugar de aplicação de saber mas de produção, o que significa que, havendo produção de saber, há necessariamente condições para a prática clínica, uma vez que o saber produzido, não tendo caráter especulativo, foi gerado a partir de uma experiência em que o sujeito está necessariamente implicado” (2000, p.32) Sujeito analista, sujeito analisando. Para ilustrar a questão da transformação conceitual ou do avanço teórico, podemos tomar o exemplo do Homem dos Ratos. A questão do ódio na neurose não aparecia na construção teórica freudiana até então. Foi todo o ataque do homem dos ratos que obrigou a Freud pensar sobre a função do ódio na neurose obsessiva. (Mezan, 1998) E aqui pegamos um ponto importante que é a possibilidade de nós analistas aprendermos com os casos clínicos. O que efetivamente ocorreu na análise do homem dos ratos não temos como saber. Mas a construção deste caso nos possibilita pensarmos sobre a neurose obsessiva, afim de instrumentalizar o nosso trabalho, o nosso pensamento, o meio de intervir. Aliás, em inúmeros textos, o Freud destaca a importância de continuarmos com o caráter investigativo, com a produção conceitual. Durante a obra freudiana, há a presença de uma premissa técnica importante: a escuta analítica não tem um a priori. É preciso escutar nossos pacientes como se fosse a primeira vez, para que exista espaço para o inusitado. A escuta acionará o pensamento e a teorização e não o contrário. Nesse sentido, a teoria é uma caixa de ferramentas conceituais, que será utilizada conforme cada situação. E não nos surpreendamos se outras ferramentas conceituais precisarem ser desenvolvidas no campo analítico, afinal Freud já alertava que o trabalho de construção da Psicanálise ainda estava muito por vir. Por estes motivos, é preciso termos presente a necessidade de conservar o espírito científico da psicanálise cotidianamente. E por espírito científico, refirimo-nos a uma postura eminentemente analítica. Uma postura de trabalho que permita inclusive outros sentidos na e para a psicanálise, visto que o principal legado freudiano é a postura frente ao que não está dito, não está teorizado e que precisa de espaço para existir. Neste ponto há um entrelace que não podemos deixar de pontuar que é o da clínica, da pesquisa e da escrita analítica. Por vezes, por noções epistemológicas e por certos ranços acadêmicos e das instituições de formação em psicanálise, a pesquisa parece distante do fazer analítico. O que de fato mostra-se como grande engano. Afinal a pesquisa em psicanálise não é um plus do fazer do analista. Como Freud afirmava, já em 1913, no texto Consejos al médico em el tratamiento psicanalítico ([1913] 1981), em psicanálise tratamento e investigação coincidem. Como é possível observar pela discussão que até aqui estamos fazendo o trabalho analítico exige do analista uma vivência intensa que precisa ser transformada em experiência e a escrita acaba sendo um dos espaços de narrativa de vivência que constitui a própria experiência analítica. Afinal como enfatiza Lacan ([1964]1985), há uma insuficiência de critérios para se formalizar o que é um analista, não há nenhum além substancial ao qual o analista possa se reportar para exercer sua função. Não há um a priori que garanta ao analista o exercício de seu fazer. Tem-se uma rede de prerrogativas: análise pessoal, supervisão e estudos teóricos. Mas estas em si não são garantia da assunção à posição de analista. Há um exercício de passagem e de endereçamento na produção de um texto psicanalítico. Destacamos que a escrita da clínica também tem como função a legitimação de uma experiência, enquanto testemunho, e a criação da própria experiência analítica. Neste sentido, o analista para se constituir, ou reconstruir ou ainda sustentar sua posição frente ao processo da transferência e de seus impasses. Deste modo, o que está em jogo na produção de um texto analítico é a vivência da transferência transformada em produção social, a construção de um saber decorrente de uma ou várias análises e de seus impasses. Assim, a escrita para o analista pode constituir um espaço de construção frente a desconstrução de seu saber vivenciada na experiência da escuta, pois esta remete o analista ao que não se sabe, ao que está escondido, esquecido, ou seja, ao inesperado. Referências bibliográficas DELORENZO, Rubia Maria Tavares; MEZAN , Renato; CESAROTTO, Oscar. Narrar a clínica. Revista Percurso. 2º semestre de 2000. Disponível em http://www2. uol.com.br/percurso/main/pcs25/debate25.htm. Acesso em 15.ago.2005 BIRMAN, Joel. A clínica na pesquisa psicanalítica. Atas do 2° Encontro de Pesquisa Acadêmica em Psicanálise. Psicanálise e Universidade. N° 2, março de 1994. BIRMAN, Joel. A escrita em psicanálise. Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação. Rio de Janeiro : Imago, 2001. 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