EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL VERBUM DOMINI DO SANTO PADRE BENTO XVI AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA 87. Nos documentos que prepararam e acompanharam o Sínodo, falou-se dos vários métodos para se abeirar, com fruto e na fé, das Sagradas Escrituras. Todavia prestou-se maior atenção à lectio divina, que «é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva».[296] Quero aqui lembrar, brevemente, os seus passos fundamentais: começa com a leitura (lectio) do texto, que suscita a interrogação sobre um autêntico conhecimento do seu conteúdo: o que diz o texto bíblico em si? Sem este momento, corre-se o risco que o texto se torne somente um pretexto para nunca ultrapassar os nossos pensamentos. Segue-se depois a meditação (meditatio), durante a qual nos perguntamos: que nos diz o texto bíblico? Aqui cada um, pessoalmente mas também como realidade comunitária, deve deixar-se sensibilizar e pôr em questão, porque não se trata de considerar palavras pronunciadas no passado, mas no presente. Sucessivamente chega-se ao momento da oração (oratio), que supõe a pergunta: que dizemos ao Senhor, em resposta à sua Palavra? A oração enquanto pedido, intercessão, ação de graças e louvor é o primeiro modo como a Palavra nos transforma. Finalmente, a lectio divina conclui-se com a contemplação (contemplatio), durante a qual assumimos como dom de Deus o seu próprio olhar, ao julgar a realidade, e interrogamonos: qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede? São Paulo, na Carta aos Romanos, afirma: «Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito» (12, 2). De fato, a contemplação tende a criar em nós uma visão sapiencial da realidade segundo Deus e a formar em nós «o pensamento de Cristo» (1 Cor 2, 16). Aqui a Palavra de Deus aparece como critério de discernimento: ela é «viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; penetra até dividir a alma e o corpo, as junturas e as medulas e discerne os pensamentos e intenções do coração» (Hb 4, 12). Há que recordar ainda que a lectio divina não está concluída, na sua dinâmica, enquanto não chegar à ação (actio), que impele a existência do fiel a doar-se aos outros na caridade. Diretório Nacional de Catequese, Documento 84 CNBB, 111 Uma das formas mais valiosas de trato com a Bíblia é a Lectio Divina, que entre nós é conhecida como Leitura Orante, individual ou comunitária. Consiste na leitura de um trecho bíblico, repetida uma ou mais vezes, acompanhada de silêncios interiores, meditação, oração, contemplação. É a prática do “Fala Senhor, que teu servo escuta” (ISamuel 3,9). A leitura orante da Bíblia alimenta nas pessoas a escuta atenta à Palavra e o diálogo filial com o Pai (Isaias 50,4-5). As pessoas encontram orientação para a vida, serenidade e força para dizerem sim ao chamado de Deus, impulso para se dedicarem à causa de Jesus Cristo, com o seu Espírito; discernem melhor o sentido de sua vida. No encontro com Deus encontram-se também a si mesmas: crescem em coragem, serenidade, sabedoria que vem da fé. Essa leitura pode ajudar a prevenir e corrigir objetivos e procedimentos distorcidos, como zelo agressivo, medo de Deus, legalismo, vedetismo bíblico. A PALAVRA DE DEUS – Catecismo da Igreja Católica - CIC 2653. A Igreja «exorta com ardor e insistência todos os fiéis [...] a que aprendam "a sublime ciência de Jesus Cristo" (Fl 3, 8) pela leitura frequente das divinas Escrituras [...]. Lembremse, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração, para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem, porque "a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos"» (4). 2654. Os Padres espirituais, parafraseando Mt 7, 7, resumem assim as disposições do coração, alimentado pela Palavra de Deus na oração: «Procurai na leitura e achareis na meditação; batei à porta na oração e ela abrir-se-vos-á na contemplação» (5). DOCUMENTO DE APARECIDA 247... Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo. “... é condição indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus, por isto, é necessário educar o povo na leitura e na meditação da palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf. Jo 6,63). Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem profundamente? É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda nossa vida na rocha da Palavra de Deus”Bento XVI 249. Entre as muitas formas de se aproximar da Sagrada Escritura existe uma privilegiada à qual todos estamos convidados: a Lectio divina ou exercício de leitura orante da Sagrada Escritura. Esta leitura orante, bem praticada, conduz ao encontro com Jesus Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus Senhor do universo. Com seus quatro momentos (leitura, meditação, oração, contemplação), a leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo semelhante ao modo de tantos personagens do evangelho: Nicodemos e sua ânsia de vida eterna (cf. Jo 3,1-21), a Samaritana e seu desejo de culto verdadeiro (cf. Jo 4,1-12), o cego de nascimento e seu desejo de luz interior (cf. Jo 9), Zaqueu e sua vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)... Todos eles, graças a este encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e vida. Não abriram seu coração para algo do Messias, mas ao próprio Messias, caminho de crescimento na “maturidade conforme a sua plenitude” (Ef 4,13), processo de discipulado, de comunhão com os irmãos e de compromisso com a sociedade. LECTIO DIVINA ou LEITURA ORANTE A nós, a paz de Deus, nosso Pai, a graça e a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo, no amor e na comunhão do Espírito Santo! Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo! Divino Espírito Santo, Deus de amor, concede-me o dom da Ciência para que eu possa saber interpretar a Vossa Palavra, descobrindo o que o Senhor me fala e colocando em prática através do meu viver. Amém! Nicodemos e sua ânsia de vida eterna 1. Leitura João 3,1-21 (Verdade) O que diz o texto do dia? ESCUTAR Nicodemos, era um líder religioso do povo judeu. Embora fosse religioso, experimentava uma sensação de vazio e de incerteza em seu coração. Certo dia, durante a noite, ele se encontrou com Jesus. Ele tinha uma pergunta e Jesus a resposta. João nos diz que Nicodemos vai até Jesus de noite, para João a noite é o símbolo das trevas da ausência da luz, o que é mau acontece nas trevas, símbolo da ignorância. A fé de Nicodemos ainda era débil, ele tinha muitas dúvidas, afinal era da seita dos fariseus, professava um judaísmo rígido, e mais ainda era um dos chefes, príncipe de Israel e membro do grupo do Sinédrio. O novo nascimento é uma transformação profunda na vida de uma pessoa. Não sabemos como acontece, mas sabemos que é feito pelo Espírito Santo de Deus (v.5). Quando cremos em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, temos certeza que ocorreu pelos resultados de mudança em nossa vida fazendo uma nova pessoa. (v. 8), da mesma maneira como não vemos o vento, mas vemos os seus efeitos. 2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim, hoje? M E D I T A R Hoje, também temos muitas perguntas, mas Jesus tem todas as respostas de que precisamos. Há muita gente que quer procurar Jesus mas tem medo. Não quer comprometer-se publicamente. Você teria coragem de manifestar publicamente seu desejo de encontrar-se com Jesus e conhecê-lo? O QUE LEVARIA UMA PESSOA A TER VERGONHA DE JESUS? 3.Oração (Vida)O que o texto me leva a dizer a Deus? R E Z A R 4.Contemplação (Vida e Missão) C O N T E M P L A R Zaqueu e sua vontade de ser diferente 1. Leitura Lucas 19,1-10 (Verdade) O que diz o texto do dia? ESCUTAR Zaqueu era chefe dos publicanos, o que indica que fazia um trabalho de supervisão da coleta dos impostos que eles efetuavam. Esse seu trabalho causava uma impopularidade e até indignação da parte dos judeus, uma vez que os cobradores de impostos retinham uma parte da arrecadação para si e repassavam ao governo romano apenas a parte estipulada no contrato e muitas vezes, por isso, a cobrança de impostos era abusiva, também para garantir o que deveria ser repassado. A parte a ser paga era estipulada pelo governo, com base em uma estimativa das rendas e era inferior ao que era arrecadado e por isso eles enriqueciam. A respeito de Zaqueu é importante destacar que da sua vontade de ver Jesus quando ele passava por Jericó, e do momento em que o recebeu em sua casa, percebeu que sua riqueza foi construída a partir dos recursos dos pequeninos tirados dos impostos que ele arrecadava. Compreendeu que seu patrimônio era tão grande e que isso agredia e destoava da pobreza das pessoas à sua volta. Esta é uma atitude de quem faz um verdadeiro encontro com Jesus, o Justo, que o leva a perceber a realidade injusta à sua volta e a tomar atitudes para procurar mudá-la, principalmente a partir de si mesmo, uma vez que reconhece que ele é o causador dessa situação injusta. Descrito como um homem de baixa estatura, Zaqueu então subiu numa figueira para que pudesse ver Jesus. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para os ramos e chamou Zaqueu pelo nome, pedindo-lhe que descesse, pois pretendia visitar a sua casa. A multidão ficou chocada, pois Jesus, um judeu, estava disposto a ser o hóspede de um publicano. Comovido pela audácia do amor desmerecido e aceitação de Jesus, Zaqueu publicamente se arrependeu de seus atos corruptos e jurou restituí-los realizando uma festa em sua casa. 2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim, hoje? M E D I T A R Com quem nos identificamos? Com Zaqueu ou com os demais judeus? Aceito que Jesus venha me visitar? 3.Oração (Vida)O que o texto me leva a dizer a Deus? R E Z A R 4.Contemplação (Vida e Missão) C O N T E M P L A R Meu olhar é iluminado pela presença de Jesus Cristo, acolhido na minha casa, no meu trabalho, nos meus relacionamentos. A Samaritana e seu desejo de culto verdadeiro 1. Leitura João 4,1-12 (Verdade) O que diz o texto do dia? ESCUTAR Samaria e Israel pertenciam há um mesmo reino nos tempos de Davi e Salomão. Esse reino era composto pelas doze tribos de Israel. No século XI a.C. o reino foi dividido em dois: ao sul ficou o reino de Judá, com sua capital em Jerusalém, e ao norte o reino de Israel, com sua capital em Samaria. Os habitantes do reino do sul eram os judeus e os do reino do norte os samaritanos. Em 722 a.C. o rei Salmaneser da Assíria conquistou o reino de Israel. Com o objetivo de destruir os sentimentos nacionais dos povos conquistados, ele levou muitos dos samaritanos para outras terras de seu domínio e trouxe estrangeiros de outras terras para Samaria. Os samaritanos casaram-se com os estrangeiros e por causa dessa mistura, os judeus não reconheciam os samaritanos como “puros”, e os tratavam com desprezo. Por essa razão a mulher estranhou o fato de Jesus conversar com ela e lhe pedir água, pois os judeus sequer falavam com os samaritanos. O texto fala dos cinco maridos da mulher samaritana que representam os cinco povos estrangeiros vieram habitar Samaria: “O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate e de Sefarvaim e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos de Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades” II Reis 17,24. Esses povos trouxeram consigo seus costumes, religião e deuses. O sexto marido era a situação atual em que se encontrava a Samaria. Não tinha uma aliança com Deus. Jesus agora era o marido e oferecia a mulher uma aliança eterna. Jesus não escolheu o poço de Jacó para ter essa conversa com Samaria por acaso. Por causa de toda essa mistura religiosa que a Samaria havia passado, eles eram rejeitados pelos judeus. Jesus então diz para Samaria que Ele agora é o “dono do poço”. E é Ele quem agora chama Samaria de volta, e mais, diz para que todos os povos que ali habitavam, que cultuavam outros deuses, que eles também poderiam vir. A água que Ele estava oferecendo não tinha mais distinção de judeu, samaritano ou gentio. A água era para todos. 2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim, hoje? M E D I T A R Temos nossas necessidades, nossas buscas, nossas sedes...e é Jesus que pede água. O que significa isso? Como Ele me pede de beber? De que água eu estou bebendo para alimentar minha missão de catequista? 3.Oração (Vida)O que o texto me leva a dizer a Deus? R E Z A R 4.Contemplação (Vida e Missão) C O N T E M P L A R PLANO GERAL DE LEITURA BÍBLICA - NOVO TESTAMENTO A Bíblia não é um livro, mas uma biblioteca. Você não chega numa biblioteca e começa a ler um livro após o outro na ordem da estante. Da mesma forma você não pode começar a ler em Gênesis e ir lendo até o Apocalipse. Como acontece com muitos, você irá complicar-se todo e certamente parar no terceiro ou quarto livro. Pior ainda, vai dizer que é impossível compreender a Bíblia. É necessário, então, um plano de leitura. Vejamos uma proposta, onde você começa pelo Novo Testamento: 1ªCarta de São João Carta curta, que nos mostra o amor de Deus e a certeza de nossa salvação. Leia inteira, durante 7 dias. Evangelho de São João Crer em Jesus Cristo, Filho de Deus. Leia 2 vezes. Evangelho de Marcos Evangelho curto que apresenta em 16 capítulos toda a vida pública de Jesus. Leia 2 vezes. Pequenas Cartas de São Paulo Retratam a nossa situação como igreja. Ler nesta ordem: Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1º e 2ºTimóteo, Tito, Filemon (em todas as cartas ler primeiro a introdução). Evangelho de Lucas Narração mais longa e detalhada. Ler 3 capítulos por dia . Atos dos Apóstolos É a continuação do evangelho de Lucas. Ele mesmo narra a vibrante ação do Espírito Santo, após a Ascensão de Jesus. Carta de São Paulo aos Romanos É a carta mais rica em ensinamentos doutrinários. Principalmente, o vibrante ensinamento sobre a salvação gratuita que nos é dada mediante a fé. Novo Testamento Até aqui os livros básicos do Novo Testamento foram lidos em dois meses. Já é um bom fundamento. É aconselhável agora ler o Novo Testamento todo 2 vezes, mesmo os livros que já foram lidos. Se até aqui não foi captado tudo, agora com uma visão melhor, será mais fácil. Antigo Testamento Comece por: Sabedoria, Eclesiástico, Provérbios e Salmos São livros muitos próximos ao Novo Testamento, fonte de ricos ensinamentos. Fonte: ECOTECAL - Escola Comarcal de Teologia Católica para Leigo – Volume I Diocese de Joinville – Coordenador Pe. Nivaldo Oliveira Souza Fonte viva da catequese: A Palavra de Deus Leitura da Sagrada Escritura “ É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legitimamente ao ministério da palavra, mantenham um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo paciente, a fim de que nenhum deles se torne «pregador vão e superficial da palavra de Deus por não a ouvir de dentro», tendo, como têm, a obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina, sobretudo na sagrada Liturgia. Do mesmo modo, o sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis..., a que aprendam «a sublime ciência de Jesus Cristo» (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo» . Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem; porque «a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos». Dei Verbum, 25