Resumo - Unemat

Propaganda
ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA FLORA
PTERIDOFÍTICA EM DOIS CÓRREGOS DA BACIA DO RIO
PINDAÍBA, MT
Kreutz, C.¹; Athayde Filho, F.P.²; Fernandes, L.R.¹; Forsthofer, M.¹
1
Graduando
em
Ciências
Biológicas ,
Campus
Universitário
de
Nova
Xavantina .
2
[email protected] . Professor do Departamento de Ciências Biológicas, Campus
Universitário de Nova Xavantina. [email protected].
Resumo: O Cerrado é abrigo de uma enorme biodiversidade, incluindo as
pteridofitas. Este grupo vegetal está distribuído no ambiente de acordo com vár ios
fatores edáficos e ambientais . Foi feito um levantamento da pteridoflora em dois
ambientes de duas microbacias do rio Pindaíba. Das espécies analisadas, todas
apresentaram valores para o Ia indicando agregação, com exceção de Anemia
phyllitidis e Nephrolepis biserrata que apresentaram padrões de distribuição
regulares. Entretanto, para as populações de Anemia, Lygodium e Nephrolepis a
probabilidade para estes valores, encontrada na análise estatística, não se mostrou
significativa. Em ambos os córregos, a distribuição espacial da pteridoflora sofre
influencia, provavelmente, da umidade do solo e incidência luminosa, e acima de
tudo, do nível de degradação das matas de galeria.
Introdução: Os ramos tortos e a baixa altura das árvores do Cerrado colocaram
este Bioma durante muito tempo como baixa prioridade para conservação. Nos anos
80, iniciou-se um esforço de pesquisa que mostrou que o Cerrado é abrigo de
grande biodiversidade, incluindo vários endemismos (Primack & Rodrigues, 2001).
Ribeiro & Walter (2008), discutem que neste bioma estão presentes várias
fisionomias vegetais distintas, englobando formações florestais, savânicas e
campestres (Ratter et al., 2003). Nos substratos inferiores das matas de galeria e
ciliar é encontrada uma vasta gama de espécies vegetais (Windisch, 1996).
Tais plantas constituem um grupo vegetal bem diversificado e distribuído
geograficamente, englobando uma riqueza de aproximadamente 10.000 espécies.
Deste total, cerca de um terço ocorre nas Américas. A flora brasileira contempla
cerca de 1.000 espécies, ou 10% da flora mundial deste grupo (Windisch , 1992).
Até recentemente a maioria dos trabalhos com pteridófitas eram
exclusivamente florístico-taxonômicos. Mas com a necessidade de ampliar o
entendimento sobre a pteridoflora brasileira, outras linhas de pesquisa vêm se
desenvolvendo, como a ecologia, e dentro dela, a distribuição espacial.
Os estudos sobre distribuição espacial de espécies foram iniciad os na
primeira metade do século XX, no entanto, somente com o refinamento das técnicas
e o surgimento dos computadores portáteis foi possível tornar as avaliações mais
precisas e de fácil aplicação (Dale et al., 2002).
No presente trabalho pretende u-se analisar a distribuição espacial da
pteridoflora em duas ordens de dois córregos da Bacia do rio Pindaíba, no município
de Barra do Garças, Estado de Mato Grosso.
Material e Métodos: O ambiente analisado no córrego Caveira encontra -se em
avançado processo de degradação provocado pela atividade agropecuária ocorrente
em seu entorno. Ao contrário, o ambiente analisado no córrego da Mata encontra -se
com sua mata de galeria bem preservada.
O material pteridofítico foi coletado e analisado seguindo metodologia d e
campo proposta por Windisch (1992), e com a construção de 50 parcelas de 10x10m
(0,5 ha de área amostrada) em cada uma das duas ordens analisadas. O sistema de
classificação adotado para as pteridófitas foi o proposto por Tryon & Tryon (1982).
As pteridófitas foram identificadas no Herbário NX, da UNEMAT, Campus
Universitário de Nova Xavantina, com o auxílio de bibliografia especializada, bem
como através de consulta à coleção de referência do herbário.
Para a realização dos cálculos referentes à distrib uição espacial das espécies
encontradas nas parcelas foram utilizadas as informações de suas abundâncias
totais, obtidas através da contagem de todos os indivíduos encontrados, das
espécies registradas nas áreas analisadas. Para evitar resultados incoerent es, foram
desconsideradas as espécies que apresentaram abundância inferior a cinco
indivíduos em cada ordem.
Para a determinação do padrão de distribuição espacial das espécies
registradas, em cada uma das ordens estudadas foi utilizado o Índice de Agregaç ão
(Ia), proposto por Perry et al. (1998). Segundo o Índice de Agregação, valores acima
de “1” indicam distribuição agregada, menores que “1” distribuição homogênea (ou
regular) e igual a “1” distribuição aleatória. Ainda segundo Perry et al. (1999),
parcelas vazias, onde não há representação de espécies, o Índice apresentará
valores negativos, complementando a análise.
Desta forma, a distribuição espacial foi calculada no programa estatístico
SADIEShell 1.2 (Perry et al., 1998). Os mapas de distribuição f oram produzidos
através da técnica kriging (Rechemmacher et al., 2007), por meio do programa
Surfer 8, permitindo uma visualização das áreas com concentração ou a ausência de
indivíduos de uma determinada espécie.
Resultados e Discussão : No levantamento pteridofítico realizado nos dois
ambientes foram registradas nove espécies de pteridófitas, distribuídas em seis
gêneros e cinco famílias. No ambiente analisado no córrego Caveira foram
registradas quatro espécies (44,4% do total) e no ambiente analisado no córrego da
Mata foram registradas cinco espécies (55,6%).
No ambiente analisado no córrego Caveira, para Lycopodiella camporum, as
densidades máxima e média foram, respectivamente, 45 e 1 1,3 ± 10,62 ind.100m -2.
O Índice de Agregação (Ia) foi de 1,5 ( P = 0,03). Para Pityrogramma calomelanos , as
densidades máxima e média foram, respectivamente, 30 e 3,68 ± 6,92 ind.100m -2. O
Índice de Agregação (Ia) foi de 1,24 ( P = 0,13). Já para Thelypteris interrupta, as
densidades máxima e média foram, respectivamente, 39 e 2,02 ± 6,66 ind.100m -2,
com um Índice de Agregação (Ia) menor, de 1,18 ( P = 0,18).
Para T. serrata, a densidade máxima e média foi menor que das outras
espécies amostradas nesta ordem, sendo respectivamente, 6 e 0,22 ± 0,93
ind.100m -2. O Índice de Agregação (Ia) foi de 1,31 ( P = 0,11). E para o total de
indivíduos amostrados, a s densidades máxima e média foram, respectivamente, 45
e 17,22 ± 11,64 ind.100m -2. O Índice de Agregação (Ia) foi de 1,44 ( P = 0,05).
De acordo com o Ia todas as populações e a comunidade apresentam valores
que indicam distribuição agregada. Contudo, na análise estatística, Pityrogramma
calomelanos, Thelypteris interrupta e T. serrata apresentaram probabilidades que
indicam que estas espécies não possuem um padrão significativame nte agregado.
No ambiente analisado no córrego da Mata, para Adiantum deflectens, as
densidades máxima e média foram, respectivamente, 3 e 0,08 ± 0,44 ind.100m -2. O
Índice de Agregação (Ia) foi de 1,38 ( P = 0,03). Para Adiantum sp.1, as densidades
máxima e média foram, respectivamente, 44 e 9,18 ± 9,71 ind.100m -2, resultando em
um Ia = 1,68 (P = 0,005). Já para Lygodium venustum, as densidades máxima e
média foram, respectivamente, 15 e 1,92 ± 2,75 ind.100m -2, com isso o Índice de
Agregação foi 1,24 (P = 0,1).
Contudo, Anemia phyllitidis e Nephrolepis biserrata apresentaram valores
para o Índice de Agregação inferiores à 1, respectivamente, (Ia = 0,81; P = 0,86) e
(Ia = 0,82; P = 0,83), resultado das respectivas densidades máximas e médias (10 e
0,2 ± 1,41 ind.100m -2) e (5 e 0,2 ± 0,86 ind.100m -2). Já para o total de indivíduos da
comunidade, as densidades máxima e média foram, respectivamente, 45 e 11,58 ±
10,31 ind.100m -2, resultando em um Ia = 1,77 ( P = 0,002).
Dentre as espécies analisadas no córrego da Mata, as populações dos
gêneros Adiantum e Lygodium, e o total da comunidade apresentaram valores de Ia
indicando um padrão de distribuição agregada, ao contrário das populações de
Anemia e Nephrolepis, que apresentaram valores de Ia indicando um padrão nã o
agregado. Contudo, na análise estatística, as populações de Lygodium, Anemia e
Nephrolepis apresentaram probabilidades não significativas para os respectivos
padrões de distribuição encontrados.
Nascimento et al. (2002), destacaram que o padrão agregado ocorre,
naturalmente, quando o número de indivíduos varia fortemente em parcelas
semelhantes. Contudo, ao se comparar a distribuição espacial de indivíduos nos
córregos Caveira e da Mata, constatou -se que no segundo córrego os indivíduos
estão mais agrupados no ambiente, provavelmente em decorrência de sítios
espaçados dentro da área estudada, com condições mais adequadas para a
germinação de esporos.
De acordo com Hubbel (1980), a distribuição espacial de uma população pode
ser afetada por fatores biótico s ou abióticos que constituem o mosaico de condições
ambientais existentes na área. Na área de estudo do córrego Caveira as populações
de pteridófitas, bem como a comunidade, provavelmente são afetadas fortemente
pela umidade do solo, devido ao encharcamen to do mesmo. Já no ambiente
analisado no córrego da M ata a distribuição da pteridoflora sofre influência,
possivelmente, da luminosidade e da umidade, tendo em vista que a mata de galeria
encontra-se bem preservada.
Mallmann et al. (2008), ao estudarem a d istribuição espacial da pteridoflora
em fragmentos de mata ciliar no Rio Grande do Sul, observaram que as variáveis
topográficas se correlacionaram com o Ia de todas as espécies, embora isso não
tenha sido observado em todos os fragmentos, sugerindo que ou tros aspectos
físicos do ambiente, associados à heterogeneidade da mata ciliar influenciam o
padrão de distribuição das espécies.
Conclusão: A maior riqueza encontrada no ambiente analisado no córrego da Mata
pode estar relacionada com o fato de sua mata de galeria estar bem preservada, ao
contrário do córrego Caveira, que possui trechos de suas matas de galeria e ciliar
em avançado processo de degradação.
Quanto às análises de distribuição espacial realizadas, o presente estudo foi
muito importante para o meio científico, uma vez que não foram realizados estudo
com este enfoque no Cerrado. Pôde-se observar que a maior parte das populações
apresentou um padrão de distribuição agregado. E não houve variação nos padrões
de distribuição entre os córregos.
Assim, fica demonstrada a necessidade de estudos mais específicos para
saber sobre quais os fatores que estão influenciando a distribuição espacial da
pteridoflora nos córregos Caveira e da Mata , uma vez que agora se conhece como
tais espécies estão distribuí das.
Referências Bibliográficas
DALE, M.R.T.; DIXON, P.; FORTIN, M.J.; LEGENDRE, P.; MYERS, D.E. &
ROSEMBERG, M.S. Conceptual and mathematical relationships among methods for
spatial analysis. Ecography. v.25, p.558-577, 2002.
HUBBEL, S.P. Seed predatio n and coexistence of tree species in tropical forests.
Oikos. v.35, p.214-229, 1980.
MALLMANN, I.T.; RECHENMACHER, C.; FLECK, R. & SCHMITT, J.L. Padrão de
distribuição especial de quatro espécies de pteridófitas ocorrentes em fragmentos de
mata ciliar do rio Cadeia, no Estado do Rio Grande do Sul. In: Anais do 59°
Congresso Nacional de Botânica . Natal. Imagem Gráfica, 2008.
NASCIMENTO, N.A.; CARVALHO, J.O.P. & LEÃO, N.V.M. Distribuição espacial de
espécies arbóreas relacionada ao manejo de Florestas Naturai s. Revista Ciência
Agrária. v.37, p.175-194, 2002.
PERRY, J.N.; BELL, E.D.; SMITH, R.H. & WOIWOD, I.P. SADIE: software to
measure and model spatial pattern. Aspects of Applied Biology . v.46, p.95-102,
1998.
PERRY, J.N.; WILDER. L.; HOLLAND, J.M. & ALSTON, R.D. Red-blue plots for
detecting clusters in count data. Ecology Letters. v.2, p.106-113, 1999.
PRIMACK, R.B. & RODRIGUES, E. Biologia da conservação . Londrina: Editora
Rodrigues, 2001.
RATTER, J.A., BRIDGEWATER, S., RIBEIRO, J.F. Analysis of the floris tic
composition of the Brazilian Cerrado vegetation. III. Comparison of the woody
vegetation of 376 areas. Edinburgh J. Bot. v.60, p.57-109, 2003.
RECHENMACHER, C.; SCHMITT, J.L. & B UDKE, J.C. Estrutura e distribuição
espacial de uma população de Blechnum tabulare (Thunb.) Kuhn (Pteridophyta,
Blechnaceae) em um mosaico Floresta -campo no sul do Brasil. Pesquisas,
Botânica. v.58, p.177-186, 2007.
RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. As principais fitofisionomias do Bioma Cerrado.
In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. & RIB EIRO, J.F. (eds). Cerrado: ecologia e flora .
Brasília: Embrapa Cerrados, 2008. p.151-212.
TRYON, R.M. & TRYON, A.F. Ferns and Allies plants with Special References to
Tropical America. New York: Springer-Verlag, 1982.
WINDISCH, P.G. Pteridófitas da região Norte-ocidental do Estado de São Paulo
(Guia para estudo e excursões) . 2.ed. UNESP: São José do Rio Preto , 1992.
WINDISCH, P.G. Pteridófitas do Estado de Mato Grosso – Hymenophyllaceae.
Bradea. v.47, n.7, p.400-423, 1996.
Download