MENSAGENS DE SIDA ORQUÍDEA MARIA CERQUEIRA LOPES Resumo: Planificar uma campanha de prevenção de SIDA é um processo complexo. Há imensos obstáculos e impedimentos no “desenho” das mensagens. Desde a pré concepção até à realização, há inúmeros factores a considerar. É um processo que exige atenção redobrada devido, não só, ao facto de ser uma doença polémica e problemática, mas também, devido à sensibilidade dos conteúdos e das mensagens, as quais são reguladas pelos valores culturais, sociais, ideológicos e políticos. As mensagens devem respeitar os diversos públicos liberais - conservadores, infectados e não infectados, homossexuais heterossexuais; pobres - ricos; homem -mulher; fiel-infiel. O objectivo do artigo é fazer uma reflexão sobre mensagens de SIDA. PALAVRAS CHAVE: MENSAGENS, SAÚDE PÚBLICA; PUBLICIDADE, MEDIA, SPOT, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS; RACISMO; RETRATO DA SIDA ________________________________________________ ideia e a sua concepção há um conjunto de factores, de pessoas, de perspectivas e de técnicas a considerar. As perspectivas e os It is difficult to generalize about the pontos de vista são tantos e tão campaign because it went through many diversos que a tornam complexa. stages and involved many actors A perspectiva oficial. A génese e including government departments, a produção da informação são ministers and non governmental da responsabilidade de um organizations (Williams, 1998) organismo governamental e Idealizar uma campanha de burocrático. prevenção de VIH/SIDA não é nada A perspectiva das agências fácil. Mas pior do que idealizá-la é publicitárias concentrando a concretizá-la e difundi-la. Entre a atenção na estrutura da MENSAGENS DE SIDA Página 192de 22 comunicação e na aplicação de conceitos inovadores do marketing. A perspectiva dos críticos para quem uma campanha deve promover valores morais (Rhodes and Shaughnessy, 1990). A perspectiva dos moralistas para quem a publicidade a estas temáticas é imoral; e ainda o ponto de vista dos liberais, as campanhas visam combinar a moral com o politicamente correcto. Cada profissional, envolvido na campanha, contribui com a sua perspectiva pessoal e técnica, o que altera substancialmente a forma, o conteúdo e os objectivos iniciais. Na perspectiva dos educadores as campanhas devem educar a audiência, incidindo em mensagens informativas para incrementar os conhecimentos que devem conduzir à mudança de comportamentos. Estas devem ser desenhadas de forma a não “provocarem as sensibilidades políticas e ideológicas”. A sociedade civil não aceita pacificamente mensagens que afectem a sua sensibilidade e valores culturais, como por exemplo mensagens dirigidas a homossexuais, transexuais, ou que refiram conceitos tais como: sexo oral ou anal. E há ainda a perspectiva dos cientistas, dos publicitários, dos investigadores de mercado, dos directores de meios de comunicação, dos técnicos de comunicação. Tais pressões levam a que muitas campanhas sejam esvaziadas de conteúdo, ou nem sequer sejam emitidas ou divulgadas (McKie, 1986). A estes factores acrescente-se o momento (proximidade de eleições) e a competição política (oposição, ministérios, ministros), que mais contribuem para a difusão de informações contraditórias, confusas e incompreensíveis. As informações incluídas nas mensagens de SIDA geram muita contestação ideológica de matiz social, política, cultural, religiosa e psicológica. Tantas são as dúvidas. Pergunta-se: a quem dirigir a campanha, à população em geral, ou a grupos com comportamentos específicos? Adolescente, profissionais do sexo, toxicodependentes, condutores de transportes de longo curso, prisioneiros, emigrantes, imigrantes, ao público em geral, ao indivíduo concreto, aos que ainda não contraíram o VIH, ou aos já infectados com o vírus? Às pessoas com SIDA ou infectadas com VIH Página 193de 22 (sintomáticas assintomáticas?). ou É uma verdade que a população com VIH é mais numerosa do que com SIDA. Como informar que a pessoa infectada não se conhece pelo aspecto? A mudança de atitudes deve dirigir-se às pessoas com VIH, ou às que têm comportamentos de risco em contrair o VIH? Como construir mensagens que não estigmatizem os homossexuais e os bissexuais? Pode haver tantas respostas mas todas elas produzem contestação. Em 1986, foi difundida uma campanha dirigida à população homossexual, que incidia basicamente na decadência física por efeito do SIDA, de um símbolo do cinema, Rock Hudson, antes e depois de ter contraído a doença. Esta produziu grande efeito, mas também reacções dos grupos gay, por contribuir para o medo e o estigma dos homossexuais (Miller y Williams, 1998, p.16). Na Austrália, os primeiros casos de SIDA ocorreram em 1983, anos após a doença ter sido notícia nos Estados Unidos. O Governo Australiano reagiu e considerou esta doença um problema de saúde, mais do que um problema moral ou sexual. As reacções aos conteúdos das campanhas foram diversas: a voz do comunicador era imperceptível e inaudível, bem como o conteúdo da mensagem; a música de fundo tinha que diminuir os decibéis; as personagens não atraíam a identificação dos jovens. Os profissionais de comunicação sugeriam mensagens de efeito, tais como : save your life ou make safe Sex trendy. Para os criativos, as mensagens deveriam ser simples e impactantes; que evidenciassem o horror da doença; que fizessem acreditar que o VIH/SIDA é uma doença séria e por isso deveria ser provocado o medo (símbolos da morte - um cemitério cheio de cruzes ou uma morgue). There is now a danger that has become a threat to us all. It is a deadly disease and there is no known cure. The virus can be passed during sexual intercourse with an infected person. Anyone can get it, man or woman. So far it has been confined to small groups, but it is spreading. So protect yourself and read this leaflet when it arrives. If you ignore AIDS it could be the death Página 194de 22 of you. So don't die of ignorance (First British Government television advert on AIDS, 1986). Esta foi a primeira mensagem emitida em Dezembro de 1986, na televisão Britânica e da responsabilidade governamental. No entanto provocou reacções de diversos sectores sociais, considerando que os meios de comunicação contribuíam para a construção de efeitos ideológicos - a legitimização da homofobia, a promoção da permissividade e da pornografia (Kitzinger y Miller, 1998, p. 1). Era dificil para os directores das cadeias de televisão aceitar mensagens que usassem palavras como "preservativo", ou a exemplificação da utilização correcta do preservativo, mesmo servindo-se de uma banana ou de um vibrador. A SIDA rompia e abalava preconceitos. Um pouco de história. Para os moralistas e conservadores, a SIDA era um castigo Divino contra a permissividade. As mensagens deveriam apelar a relações sexuais hetero, à monogamia e à castidade, como forma de evitar a doença. As críticas provinham de diversos segmentos da sociedade, quer políticos, quer religiosos, passando ainda pela sociedade civil. Do Ministério da Educação, um político condenava os homossexuais, por serem uma ameaça e contrariarem as leis de Deus. Sugeriam uma medida - a forma de combater a doença é aniquilar as práticas homossexuais (if we could wipe out the homosexual practices Daily Telegraph, 2 May, 1988). Os conservadores responsabilizaram a cobertura dos média e os materiais de educação divulgados, como uma parte do problema. Afirmavam que o material de informação era péssimo e com uma linguagem que suprimia a monogamia e a abstinência (Harris, 1994). A Igreja reagiu contra os meios de comunicação, por entenderem que promoviam a sexualidade (sleep around) e condenavam a linguagem das mensagens (play safe), a aceitação do preservativo e o sexo como um jogo (Sex is not about playing) e isto porque entendiam que a castidade "era a única forma de evitar a SIDA" (chastity is the only safe answer to AIDSDaily Mail, 12 December, 1986). A obra de Fumento (1991), com o título: The myth of heterosexual AIDS" Página 195de 22 argumenta que é impossível a transmissão do HIV através das relações heterossexuais. A afirmação de que HIV era uma ameaça para a população em geral era um exagero dos conservadores e dos cientistas ortodoxos. As relações heterossexuais eram inteiramente seguras (pp. 1516). The myth of heterosexual AIDS consists of a series of myths, one of which is not that heterosexuals get AIDS. The certainly do get it, from shared needless, from transfusions, from clothing factor at or before birth and sometimes through sexual intercourse with persons in these categories and with bisexuals. The primary myth, however, was that the disease was no longer anchored to these risk groups but was, in fact, going from heterosexual to heterosexual to heterosexual through intercourse, that it was epidemic among non drug abusing heterosexuals. Na óptica de outros (liberal/ medical orthodoxy), o HIV é a única causa da SIDA e qualquer pessoa está em risco (gay or straight, male or female, anyone can get AIDS from sexual intercourse Health Education Authority, citado em kitzinger y Miller, 1998, p.5). Na ausência de uma vacina, as melhores estratégias: a educação pública, o uso do preservativo ou, a não penetração sexual, são consideradas as melhores medidas de prevenção, para uma auto ou hetero protecção. As primeiras mensagens suscitaram polémicas. As campanhas foram desenhadas com mensagens que responsabilizavam o indivíduo pela sua própria saúde e doença. Margaret Thatcher declarou: que os governos não podem evitar que as pessoas possam vir a adquirir a SIDA. Devem fornecer a informação necessária que os ajude a evitála (Gardian, 13 December, 1986, citado em Greenaway et al., 1992, p. 81). A tonalidade das campanhas acentuava a responsabilidade da pessoa " Don't die of ignorance" e complementada com outras mensagens semelhantes: “You know the risks, the choice is yours". Fazem parte do grupo dos críticos todos os opositores aos conservadores e os Página 196de 22 partidários do livre arbítriogrupos de homossexuais, feministas, anti racistas etc. Para este grupo de críticos, a SIDA foi ignorada até ao momento em que os heterossexuais também passaram a constituir um grupo de risco. Afirmam que as reacções ao problema da SIDA provocaram um pânico moral, reforçaram estigmas, (associando -a com prostituição, toxicodependência, promiscuidade, homossexualidade), legitimando o racismo e a (re) patologização da identidade da homossexualidade e prática sexual (ver Alexander, 1988; King, 1990; Treichler, 1987; Watney, 1987b; Weeks, 1993). Acusam as políticas governamentais que, em nome de uma moral conservadora, ocultaram informação clara acerca das formas de transmissão. Acusam também os meios de comunicação, que emitiram imagens e opiniões negativas como grupos de risco e dando a imagem das pessoas infectadas como seres patéticos, passivos, irresponsáveis. E sempre que os média abordavam o tema da origem da infecção, aplicavam conceitos como: "vítimas culpadas" e "vítimas inocentes", para distinguir os grupos de risco dos hemofílicos. Os utilizadores de drogas e homossexuais como os "outros " (other), fora da categoria de everyone, ou de origem estrangeira (principalmente dos países africanos), ou mesmo dos Africanos ou pessoas de cor. As feministas, por outro lado, argumentam que as representações dos média e as mensagens muitas vezes reforçam as ideias tradicionais de homossexualidade e SIDA. E perguntavam se é hoje uma doença de qualquer um, porque não há mensagens que associem e relacionem o VIH/SIDA como uma epidemia heterossexual? Os meios de comunicação preocuparam-se em dar voz à perspectiva científica, a qual tinha mais interesse em conhecer a origem da doença, do que a preocupação sociológica. Sempre que um médico era chamado a dar o seu testemunho nos meios de comunicação, (tanto mais que havia poucas certezas quanto à epidemia da SIDA), usava uma linguagem Página 197de 22 técnica e científica, incompreensível para o público. E as investigações científicas, eram, em parte, orientadas e dirigidas por prioridades sócio-políticas; falavam mais numa vacina, do que na cura, na associação do vírus, mais do que nas desvantagens sociais relacionadas com a SIDA. Depois, o triunfo de uma teoria sobre a outra, era mais para evidenciar o poder político e financeiro. Nas inúmeras reuniões que decorreram em Inglaterra, para estudar a melhor forma de apelar para o problema da SIDA, nos meios de comunicação, as opiniões divergiam, eram contraditórias ou obrigaram mesmo a rever quase na totalidade o material informativo. Muito material informativo foi retirado à última hora. Em 1986, o governo não tinha experiência sobre como informar sobre sexo explícito. E a informação foi um problema. Deve dizer-se preservativo, camisinha ou a borrachinha? Será que as pessoas entendem? Deve usar-se linguagem explícita sexo oral, sexo anal, cuniculus, pénis, vagina? As reacções contribuíam para que os conteúdos das mensagens fossem cada vez mais abstractos, ambíguos e sem pragmatismo. Em nossa opinião, as campanhas difundidas nos meios de comunicação desmistificaram alguns tabus sexuais, de entre eles o uso do preservativo, (que para além de ser um contraceptivo poderia também ajudar a prevenir doenças sexualmente transmissíveis, como o SIDA) e mobilizaram directamente a respostas da audiência (Lopes, O. 2004) AS MENSAGENS, MÉDIA E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS OS AS Uma mensagem mal elaborada poderá dar origem a falsas crenças (Lopes,2002,2003) Muitos jovens conhecem as formas de transmissão do vírus, através das relações sexuais desprotegidas e a partilha de seringas; mas muitos desconhecem se o vírus, existente na saliva, pode ou não ser causa de infecção. E uma das causas desta confusão, tem origem na construção de mensagens com uma terminologia vaga e confusa. Para evitar a utilização de conceitos, tais Página 198de 22 como sémen ou secreções vaginais, os jornalistas substituíam - nos por eufemismos como: fluidos do corpo. Isto provocou juízos e inferências erradas (cfr. Diamond and Bellitto, 1986; Edgar et al., 1989) de que a saliva, as lágrimas, o suor eram fontes de transmissão do VIH. E quando questionados porquê a saliva, justificavam que a saliva é uma fonte de poluição e está implicada na transmissão de outras doenças. poderia dar origem à doença. Os media foram directos às fontes desta informação: You'd have to drink saliva by the gallon to run any significant risk of acquiring the HIV virus (Scotsman, 29 December, 1989). É importante recordar que, embora a SIDA fosse uma epidemia rara e recente, as palavras, as imagens, os factos e as figuras à volta dela, não emergiram do nada. As mensagens tinham alguma ressonância na audiência. A ORIGEM DO VÍRUS E O RACISMO Para anular esta confusão, a televisão Inglesa passou imagens da Lady Diane beijando pessoas com SIDA, na visita a um centro de infectados com o vírus. Esta imagem, pela polémica que causou, foi difundida para todo o mundo, mas foi insuficiente para acreditar que beber pelo mesmo copo, ou um simples contacto não O poder dos média é de tal ordem, que ajudou ainda a construir a mensagem da SIDA como tendo origem em África. Durante a década de 80, início de 90, a imprensa escrita e a televisão falavam da SIDA como uma ameaça africana. Diziam que o vírus tinha origem africana e que era um continente devastado pela doença. Ainda hoje, são as imagens que os média usam para ilustrar os perigos e as consequências da doença, tanto no campo sanitário, como no campo Página 199de 22 económico, social, cultural e político. O cenário apocalíptico do continente africano é ilustrado com imagens e palavras que revelam zonas do continente africano completamente devastadas. Toda a imprensa reproduz imagens, figuras, dados estatísticos acerca da extensão da epidemia. Estas imagens contribuíram para a associação da doença com os países africanos e, por conseguinte, para a ideia de que para se proteger da doença não se devem envolver com a raça negra. Estes têm valores e uma cultura própria ( a cultura africana) que leva a acreditar que há um maior primitivismo, promiscuidade sexual e recusam o uso do preservativo. Os meios de comunicação tiveram imensa responsabilidade na construção da imagem da SIDA associada a países africanos. Não é necessário ligar o racismo ou antiracismo, fazendo acreditar que África é ou não afectada pela SIDA. A cobertura dos média acerca da SIDA em África influenciou claramente as representações sociais. A RELAÇÃO VIH E SIDA. O RETRATO DA SIDA Em meadas de 1980, os cientistas concluiram que o VIH era a causa da doença a que apelidaram de SIDA. Esta informação deu origem à criação de mensagens informativas tais como o vírus da SIDA e a SIDA como sinónimo de VIH, criando confusão nas pessoas acerca do tempo, entre ficar infectado e estar doente com SIDA. Mas, como saber quem tem VIH? Conhecemse pelo aspecto? Têm sinais exteriores? Se há uma diferença entre VIH e SIDA, como identificar as pessoas portadoras das não portadoras? Acreditam que ser portador é o mesmo que Página 200de 22 ter sintomas de SIDA. Há ainda quem pense que o VIH é a mesma coisa que a SIDA, que VIH é apenas um termo científico e técnico. Também aqui responsabilizamos os meios de comunicação pela forma como utilizam as imagens. Sabemos do poder visual das imagens e a imprensa criou imagens da SIDA, ao divulgar jovens com o corpo dilacerado de feridas, olhar distante e perdido, um corpo esquelético, expressões de desespero e a morte como um final. Na campanha Primavera/ Verão de 1992, a Benetton lançou uma campanha de SIDA, intitulada la Pietá, numa alusão á obra de Miguel Angelo. Tratava-se de uma imagem real, publicada em Novembro na revista Life, e que representava a imagem de um homem moribundo, muito magro, faces encovadas, deitado no leito, ladeado por um homem mais velho (pai) que chorava consternado, enquanto com a sua mão direita afaga a cara agonizante. Ao lado, duas mulheres que abraçadas choram. O homem estava contaminado com o vírus da SIDA e faleceu minutos após ter sido fotografado. Esta campanha foi amplamente divulgada e gerou em todo o mundo forte contestação acusando a Benetton de se aproveitar da doença e da morte para exploração publicitária. Esta imagem do moribundo de SIDA é a que ainda hoje está representada na memória de muitas pessoas. The photo of AIDS activist David Kirby was taken in his room in the Ohio State University Hospital in May 1990, with his father, sister and niece at his bedside. The photo was taken by Therese Frare. Frare included the black and Página 201de 22 white photograph in a photographic documentary on the lives of clients and caregivers in a hospice for people with AIDS. The photograph was included in LIFE magazine in November 1990, and went on to win the 1991 World Press Photo Award. The ‘Pieta’ ad certainly had an effect. On one hand the advertisement won the European Art Director Club award for the best 1991 campaign and the Houston International Center of Photography’s Infinity Award. The print was exhibited in American, French, Italian, Swiss and German museums. In 2003 the photo was included in the Life magazine collection ‘100 Photos that changed the world’. There were many negative reactions however. A number of AIDS activists believed that the photograph and its use in advertising actually painted AIDS victims in a negative light, spreading fear rather than acceptance. Others perceived the campaign as a vindication of homosexuality. For some there was sensitivity about the implied connection between the deaths of David Kirby and Jesus. David’s parents, Bill and Kay, took part in the press conference called by Benetton in the New York Public Library and while the world’s opinion of this image remained split between accusations of cynicism and approval, and many magazines had already refused to print it, David’s mother said: “We don’t feel we’ve been used by Benetton, but rather the reverse: David is speaking much louder now that he’s dead, than he did when he was alive.” According to Benetton, “In some countries such as Paraguay this was the very first campaign to talk about AIDS, and in many countries it was the first campaign to go beyond purely preventative measures and touch upon subjects such as solidarity with AIDS patients.” Toscani said, “I called the picture of David Kirby and his family “La Pieta” because it is a Pieta which is real. The Michelangelo’s Pieta during the Renaissance might be fake, Jesus Christ may never have existed. But we know this death happened. This is the real thing.” Tibor Kalman, working with Oliviero Toscani, was preparing a consciousnessraising campaign associated with Benetton products and culture. He saw the Frare photograph in Life Magazine Página 202de 22 and suggested that Benetton include it in their advertising campaign. Benetton approached the photographer and Kirby Such pictures are deeply shocking. They family, gaining consent for the use of the also tap into publics fascination with photograph and contributing to an AIDS horror movie images; and some foundation. When considering whether representations to of the degeneration body stay with black and white or go with color of the gay man or junkie served to the creative team decided that it needed illustrate to the ultimate wages of skin look like an advertisement, raising the (Kitzinger, 1995, p.180). shock value. http://theinspirationroom.com/daily/2007/ benetton-pieta-in-aids-campaign/ 11de Estas imagens provocaram a março2010 especulação acerca das pessoas com quem se A face da SIDA foi ainda tema dos cruzavam na rua, com um órgãos de comunicação que rosto amarelecido e enfatizavam a degradação do corpo que acusavam antes e depois de ter a doença, comodesfiguradas, o de ter SIDA. Em 1988 - 89, o exemplo a que já se fez referência de governo Britânico divulgou Rock Hudson. Sempre que era uma campanha que se conhecida a morte por SIDA de uma destinava a informar e estrela de cinema, mostravam uma alertar o público de que as imagem glamorosa em contraste com pessoas com VIH podiam uma pessoa transfigurada (Wellings, e sentirem-se 1988; Daily Express, 25 July 1985). parecer perfeitamente bem (Kitzinger, 1995). Um poster apresentava a imagem do estereótipo de uma mulher atraente com o seguinte slogan: If this woman had the virus which leads to AIDS, in a few years she could look like the person over the page. E a página seguinte reproduzia a mesma imagem mas com a seguinte afirmação: Página 203de 22 Worrying isn't it? Uma segunda campanha apresentava num fundo negro as seguintes palavras: two eyes, nose, mouth e com a seguinte frase: How recognise someone with HIV? Fica claro que falar acerca do vírus da SIDA, mais do que do VIH, tem contribuido para criar obstáculos á compreensão do público, das diferenças entre ter o vírus e ter os sintomas. E o perigo está em quem tem o vírus (muitas vezes sem saber), já que pode inconscientemente propagar a doença. Importantes ainda são as imagens que os meios de comunicação têm divulgado das pessoas com SIDA, enfatizando a degradação física, dificultando a aceitação de que os que são portadores do vírus parecem perfeitamente saudáveis. HISTÓRIAS VINGANÇA DE Mas as pessoas não são só influenciadas pelas palavras, estruturas narrativas e imagens, mas também pelas histórias vividas. Os meios de comunicação sabem que a desgraça, o horror, a morte, vendem. Então divulgam histórias de vingança de muitos portadores do vírus. As histórias de revolta e de vingança proliferam pelos meios de comunicação que em rede passam a informação de uns países para os outros, segundo eles para informar sobre os perigos desta doença. Em Birmingham, um hemofílico contaminado com o vírus foi acusado de ter sexo desprotegido com uma série de mulheres. O jornal mostra a fotografia com um aspecto saudável e convencionalmente atraente. As manchetes são apelativas - AIDS vengeance girl ou Angel of death (Express, 14 September, 1995; Gardian, 14 September, 1995) e contam a história de uma rapariga que deliberadamente foi infectada por um portador do vírus. O jornal Gardian (17 April, 1997) relata uma história passada na Finlândia de um homem que contaminou deliberadamente outras pessoas. A manchete destacou: Steve Thomas is HIV positive. He has had unprotected Sex with more than 100 women. Página 204de 22 O jornal Observer (1 de October, 1998) faz eco de um homem da União Soviética que foi abandonado pela mulher por ter SIDA. Como previa ter apenas quatro ou cinco anos de vida, decidiu que faria sexo com todas as mulheres que ele pudesse. Ou a história de uma rapariga de Belgrado que afirmava já ter dormido com 15 dos seus colegas e que ocultara a sua doença para que eles também ficassem infectados (Sun, 9 March, 1989). Em Itálica, os jornais fizeram também eco de um homem muito charmoso que tinha tido relações sexuais com cerca de 50 senhoras da alta sociedade. Esta história provocou um escândalo tal, que foi divulgado por imensas cadeias de televisão. Estas histórias envolvem e implicam o público que conta de amigo a amigo e são garantia de verdade. As histórias são inúmeras e são mais potentes, quando são combinadas com a crença de que os marginais são irresponsáveis e anti sociais. SEXO SEGURO AMEAÇA HETEROSSEXUAL E A Nos finais de 80 início de 90, os média começaram a associar a SIDA não só os grupos de risco , mas também ao público em geral. A trajectória da história da SIDA mudara o rumo ao ter -se conhecimento de que era uma doença pandémica, deixando de ser um problema só de alguns, dos marginalizados da sociedade, para passar a ser um problema de qualquer um, sem discriminar sexo, idade, raça ou país. Esta ideia de substituir a ameaça homossexual por uma ameaça também heterossexual não foi muito bem aceite socialmente. Neste contexto, nasce a ideia de sexo seguro, que se traduziu no uso do preservativo, na monogamia, na diminuição do número de parceiros sexuais, sexo sem penetração (ver Johnson et al., 1994; Macyntyre and West, 1993). O uso do preservativo era problemático. O uso do preservativo vai ao desencontro da construção da sexualidade nos média, entre o apelo sexual nos comerciais e o romantismo, espontaneidade e sexo sem controlo nos filmes (Lees, Página 205de 22 1986). Há contradições entre as campanhas. Umas dizem: Tu não podes conhecer quem está infectado só pelo aspecto e outras afirmam: O VIH é mais comum entre certos grupos de risco. Então muitos decidem não usar preservativo, pois não têm relações sexuais com ninguém que se identifique com os tais grupos de risco ou com pessoas que tenham aspecto de drogados ou mau aspecto em geral. Outra mensagem contraditória: Se não tens 100% de segurança e certeza do teu parceiro, então usa preservativo. Para quem tem relações sexuais de penetração com alguém, deve questionar-se antes, se tem a certeza que o seu (sua) companheiro (a) não teve, ou teve, relações com outra pessoa e confiar que se teve, usou o preservativo, ou então ele(a) pode ter tido relações sexuais com alguém e ocultou-o ao parceiro. O preservativo é utilizado em relações esporádicas, mas evitam-no quando a relação passa a ser estável, pensando que confiam no outro(a) e não estão em perigo. Uma das situações curiosas é o efeito das campanhas do uso do preservativo para evitar o vírus. A maior parte sabe que é um dos métodos mais indicados, mas têm um comportamento contraditório, não o usando. E a razão explicada é que confiam no parceiro sexual, que têm medo que seja motivo de desconfiança ou de falta de verdade na relação entre ambos, que a sugestão do usar preservativo, pode levar a crer ao outro(a) de que está infectado. As mensagens levam a inferir que se decidires por comportamentos de risco ou se suspeitares do parceiro(a) de estar infectado pelo vírus VIH, então protege-te. Para algumas pessoas é difícil iniciar ou manter o uso do preservativo porque associam a estigma. Em conclusão, o fracasso das campanhas não pode ser imputado como um problema só à audiência. Muitas campanhas geram confusão entre o conteúdo das mensagens e os conflitos entre ambas, a produção das Página 206de 22 mensagens de educação para a saúde e os meios de comunicação. As mensagens nos meios de comunicação interceptam com os julgamentos morais e o ambiente cultural, competem com mensagens de outros média ou outras fontes não mediatizadas, tais como atitudes, opiniões, comportamentos de amigos, e as suas vivências diárias. Cada mensagem, na verdade, interactua com as experiências pessoais e situações estruturais em que a pessoa está inserida. RESISTIR ÀS MENSAGENS Quais os factores que fazem com que as pessoas resistam à influência dos média? Quando e porquê algumas pessoas desacreditam os média, os governantes e os cientistas? Porque resistem às mensagens claras emitidas nos média? Quais as diferentes perspectivas do SIDA em função da idade, género, classe social, sexo? As respostas a estas questões ajudarão a desenvolver estratégias de prevenção e a melhorar as investigações. As audiências estão expostas a uma diversidade de mensagens provenientes dos diversos meios de comunicação. Embora sejam difundidas mensagens iguais, o seu significado diverge, dependendo dos conhecimentos que cada um possui, do contexto em que recebe a informação, do grau de motivação e das suas experiências de vida. Para quem conheça pessoas que, ou estão infectadas ou morreram de SIDA, possuem por certo outros conhecimentos do que aqueles para quem a SIDA é um problema só dos outros. Há quem pense que a SIDA é irrelevante para si, pois tem uma vida normal e por isso não é um problema que a/o preocupe. As investigações confirmaram que as pessoas que têm uma visão negativa dos homossexuais, prestam menos atenção às notícias e informações sobre a SIDA (Kennamer and Honnold, 1995). O aceso, a identidade e a experiência influenciam as pessoas no que vêem, ouvem ou lêem. Se lêem o mesmo jornal ou vêem o mesmo filme, elas interpretam e retêm as mensagens de forma diversa. Esta é a perspectiva da teoria dos efeitos que assume que a audiência é activa e não passiva. A Página 207de 22 diversidade de respostas ao mesmo programa, jornal, ou filme demonstra que as pessoas não são puramente determinadas pelas palavras, imagens ou estrutura narrativa de um texto. Contudo, é importante distinguir entre a interpretação e as reacções das pessoas. Podem considerar que um programa foi óptimo, mas reagem de modo diferente ao seu conteúdo ou à forma como foi conduzido. Um programa que vise relacionar SIDA e heterossexualidade, provocará reacções diversas entre homossexuais, heterossexuais, bissexuais, críticos, liberais, cientistas etc. Em suma, a audiência tende a rejeitar algumas mensagens. E esta rejeição depende ainda da fonte da informação. AS FONTES INFORMAÇÃO E CEPTICISMO AUDIÊNCIA DE O DA As pessoas tendem a ser cépticos em relação às mensagens, dependendo das fontes. Suspeitam e desconfiam dos média, pois estes desejam vender imagens e escândalos, para além de serem controlados pelos governantes. Por outro lado, os governantes tendem a ocultar a verdade dos factos. Os cientistas porque divulgaram informações contraditórias, acerca da transmissão do vírus VIH e muitos procuravam diante das câmaras de televisão, negar os argumentos de outros seus colegas, o que contraria a visão que tem o público de que a ciência é certeza, firmeza, segurança. O que faz com que as pessoas temam um contacto casual - dar as mãos, beijar, abraçar, partilhar o mesmo copo, ou outros com uma pessoa infectada? Nos hospitais, os infectadas com o vírus têm quartos especiais, o pessoal médico e de enfermagem com demasiados cuidados; usam máscaras, luvas, utilizam material descartável para evitar o contacto, etc. Para quem está informado compreenderá estes cuidados, ou seja, o doente não tem defesas e qualquer vírus ou bactéria pode infectá-lo. Mas, na percepção das pessoas, todos os cuidados são poucos. Recordam informação de que a SIDA é uma ameaça, Página 208de 22 uma doença que causa a morte e o sofrimento, para a qual ainda os cientistas não encontraram vacina que o vírus é imprevisível e mutável e que a vacina é algo improvável nos próximos anos; é compreensível que receiem ser infectados. Depois, há a informação que a SIDA começa com sintomas parecidos a uma gripe, ou uma tuberculose (que se apanham por via aérea). A ignorância e o desconhecimento são algumas das causas da resistência de famílias em aceitar que os seus filhos frequentem as mesmas escolas e partilhem lugares públicos com crianças infectadas. Muitas pessoas aceitam a veracidade da informação acerca do que é estar em risco e o que é estar seguro. As pessoas têm a noção de comportamentos de risco não baseados na compreensão dos factos. Depende da sua percepção moral e social e do seu poder em efectuar mudanças (sugeridas pelas campanhas) adoptando práticas seguras. AS MENSAGENS E O CONTEXTO CULTURAL. Na opinião de alguns homens, as mulheres tinham a responsabilidade da contracepção, principalmente para proteger-se de uma gravidez não desejada. Os homens nunca imaginaram ter também esse papel. Nos dias de hoje, ser portador ou não de um preservativo, pode ser mal interpretado pelo parceiro(a). Se um rapaz vai à discoteca, bebe uns copos, se se envolve com uma rapariga e termina no seu quarto, duas coisas podem acontecer: ela (ele) só faz sexo com preservativo (e ele não o possui) e a noite romântica termina ali. Ou então, ele afirma trazer preservativos sempre consigo. Para a rapariga, o facto de ele trazer já o preservativo pode ser sinal de que é um don Juan e que se deita com várias, que tinha preparado tudo para aquele encontro. Se não o possui e se a rapariga confessa que, apesar de estar a tomar a pílula, não aceita uma relação desprotegida com o medo do VIH/SIDA, há discussão - Desconfias de mim, mas quem pensas tu que eu sou? Página 209de 22 As campanhas não ensinam a dialogar sobre o uso do preservativo. O uso do preservativo destrói o romantismo e a ambiguidade do encontro sexual, com um desejo de penetração sexual. A recusa de uma relação sem preservativo não é bem aceite pelos rapazes, que vêem no preservativo um inimigo do prazer, da espontaneidade, do romantismo, do sexo ao natural, da sensibilidade. Por isso, muitas vezes não os compram para não criar a situação de ter que os usar obrigatóriamente. Se as raparigas decidem proteger-se, a história é mais complicada. Porque trazes tu preservativos? Os preservativos são para os homens. Mesmo que a rapariga diga que tem direito a protegerse, o rapaz não aceitará muito bem essa justificação e lá no fundo pensará: deve andar com vários, ou é uma doidivanas. Para uma rapariga, andar com preservativo pode ser motivo de estigma. Ora, sexo seguro não é simplesmente imagem ou discursos que não têm a ver com a realidade. O que se conclui que sexo seguro é um risco. À mensagem You’re as safe as you want to be e à responsabilização individual, urge questionar "e as mulheres que se prostituem para subsistir? E as pessoas que são obrigadas a fazer sexo para comprar droga? E as mulheres que são obrigadas a ter relações com o seu marido infiel? O poder dos média não é absoluto (Kitzinger, 1995, p. 193 - 211), não imprime mensagens no vazio e a recepção da audiência não é um encontro isolado entre o indivíduo e a mensagem. Contudo, podem ter uma poderosa interacção entre as mensagens dos média e o contexto cultural, permitindo gerar pensamentos. Página 210de 22 BIBLIOGRAFIA ALEXANDER, P. ( 1988)Prostitutes are being scapegoated for heterosexual AIDS’in Delacoste, Frederique and Alexander, Priscila (eds) Sex Works. London: Virago, pp.248-263. FUMENTO, M. (1991) The Myth of Heterosexual AIDS. New York:Basic Books. HARRIS, M. (1994). Why this sikly, useless quango desereves to die, Daily Mail, 4 July. 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