Medicina Ubíqua - Servidor UBIQ - Universidade Federal de Pelotas

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Capítulo
1
Medicina Ubíqua
Alexandre Renato Rodrigues de Souza
Resumo
A computação ubíqua tem como objetivo incorporar os dispositivos computacionais no
cotidiano das pessoas, de tal forma que a interação entre os mesmos seja feita de maneira natural e imperceptível. Para isto estes dispositivos precisam interpretar as formas
naturais de comunicação dos humanos e fazer a captura do contexto. Alguns dos grandes
benefícios possibilitados pela computação ubíqua para os profissionais de saúde são a
redução da carga cognitiva e a menor carga de tarefas, trazendo maior satisfação pelo
trabalho e melhor qualidade de vida. Os pacientes ganham com a redução dos erros
médicos, melhores resultados no tratamento da saúde e consequentemente a redução do
tempo de internação. Este texto irá fazer uma breve introdução à computação ubíqua e
medicina ubíqua. Também serão apresentadas algumas das diversas pesquisas que têm
sido feitas com o objetivo de desenvolver arquiteturas de software para otimizar a rotina
dos profissionais de saúde utilizando os conceitos da computação ubíqua.
1.1. Introdução à Computação Ubíqua
O termo Computação Ubíqua foi usado pela primeira vez em 1988 por Mark Weiser
(1952-1999), quando o mesmo era o diretor de tecnologia do Centro de Pesquisa da Xerox
em Palo Alto (PARC). Mark descreveu a computação ubíqua como sendo uma tecnologia
que seria desenvolvida no futuro, onde computadores estariam incorporados no cotidiano
das pessoas, de tal forma que a interação entre os mesmos seria feita de maneira natural e
imperceptível [Weiser 1991].
A Computação Ubíqua também é chamada de Tecnologia Tranquila (Calm Tecnhology), Inteligência Ambiente (Inteligence Ambient), Computação Pró-ativa (Proactive
Computing), Internet das Coisas (Internet of Things) e Computação Invisível (Invisible
Computing) entre outras denominações. No entanto, os termos Computação Pervasiva e
Computação Ubíqua são os mais utilizados [Yamin et al. 2008].
Para se conseguir que a interação entre os computadores e os humanos se torne invisível, é necessário que este dispositivos interpretem as formas naturais de comunicação
dos humanos e façam a captura do contexto. Para isto os computadores deverão interpretar a fala, movimentos corporais (dedos, cabeça, braços, entre outros), gestos, olhar e
expressões faciais. A captura do contexto se refere a possibilidade dos computadores terem seu comportamento adaptado de acordo com o ambiente, tendo portanto consciência
da localização e situação a que estiverem inseridos [Yamin et al. 2008].
Os termos computação móvel, computação pervasiva e computação ubíqua possuem conceitos diferentes, embora sejam muitas vezes usados como sinônimos [Araujo
2003].
A computação móvel se refere a capacidade de acesso aos serviços computacionais de qualquer lugar através da disponibilidade permanente de rede sem fio, aumentando
a mobilidade das pessoas. Nesta definição existe a necessidade de que os usuários configurem manualmente a aplicação, adaptando a mesma a medida que se movem para se
ajustar a mudança de ambiente.
O termo computação pervasiva se refere ao fato de que inúmeros serviços computacionais estão inseridos no ambiente de forma invisível aos usuários. Neste conceito
os computadores se adaptam dinamicamente ao ambiente (adaptação consciente do contexto) para melhor atender às necessidades do usuário. Deste modo é necessário que os
computadores detectem os outros dispositivos e serviços computacionais que também estiverem presentes no ambiente em que estão inseridos. O termo ‘pervasivo’ não existe
ainda na Língua Portuguesa, mas pode ser interpretado como espalhado, integrado, universal [Yamin et al. 2008].
A computação ubíqua é a integração entre os dois conceitos anteriores, aliando
os inúmeros dispositivos computacionais inseridos no ambiente da computação pervasiva
com o alto grau de mobilidade da computação móvel. As aplicações se ajustam ao ambiente a medida que os usuários se movem, adaptando seus serviços de forma inteligente
conforme a necessidade. No ambiente estão inseridos de forma invisível ao usuário inúmeros dispositivos computacionais móveis e fixos, conectados entre si. O termo ‘ubíquo’
existe na Língua Portuguesa e significa onipresente [Yamin et al. 2008].
A diferenciação entre os termos computação pervasiva e ubíqua é fundamentada
no fato de que um dispositivo que está inserido em um ambiente não possui obrigatóriamente mobilidade, conforme mostra a Figura 1.1 [Araujo 2003].
Figura 1.1. Relação entre Computação Ubíqua, Pervasiva e Móvel
A seguir serão definidos alguns dos termos utilizados na computação ubíqua, tais
como sensibilidade ao contexto, semântica siga-me e framework. Também serão apresentadas as principais tecnologias para conectividade em ambientes ubíquos.
1.1.1. Sensibilidade ao Contexto
Segundo Anind K. Dey [Dey 2000], “Contexto é qualquer informação que pode ser usada
para caracterizar uma situação de uma entidade. Uma entidade é uma pessoa, um lugar, ou
um objeto que é considerado relevante para a interação entre um usuário e uma aplicação,
incluindo o próprio usuário e a própria aplicação”.
A Sensibilidade ao Contexto ou Ciência de Contexto (context-aware) é uma tecnologia baseada em informações contextuais com o objetivo de apresentar dados relevantes
aos usuários de sistemas computacionais. Alguns exemplos de informações contextuais são: localização e identificação do usuário, tipo de dispositivo computacional que está
sendo usado, pessoas próximas, horário, entre outros. A sensibilidade ao contexto permite
que as aplicações se adaptem conforme a situação que está inserida, personalizando-se automaticamente para obter o melhor resultado possível. Este recurso reduz a sobrecarga de
informações, mostrando ao usuário somente o que é relevante [Moraes et al. 2009].
Através da sensibilidade ao contexto a aplicação fornece informações relevantes
a cada situação ou atividade a qual o usuário se encontra, reduzindo sua carga cognitiva
pela redução da necessidade constante de atenção e intervenções.
Alguns dos desafios para desenvolvimento de uma aplicação com suporte à sensibilidade ao contexto são [Venecian 2010]:
• caracterização dos elementos de contexto para uso na aplicação;
• aquisição do contexto a partir de fontes heterogêneas, tais como sensores físicos,
base de dados, agentes e aplicações;
• representação de um modelo semântico formal de contexto;
• processamento e interpretação das informações de contexto adquiridas;
• disseminação do contexto a entidades interessadas de forma distribuída e no momento oportuno;
• tratamento da qualidade da informação contextual.
1.1.2. Semântica siga-me
As aplicações pervasivas consideram a mobilidade física (dispositivos e usuários) e lógica
(componentes da aplicação e serviços). Devido a estas características, as aplicações deverão possuir suporte a conexões de rede que podem ocorrer de qualquer posição geográfica
(usuários nômades). Deve-se também levar em consideração que estas conexões possuem
comunicação intermitente, já que, devido as condições operacionais do ambiente móvel,
é comum que ocorram desconexões frequentes [Yamin 2004].
A semântica siga-me (follow me applications) permite que o usuário acesse seu
ambiente computacional de qualquer localização, momento ou meio de acesso, de forma
transparente [Augustin and Yamin 2005]. Portanto, independente onde o usuário estiver e
mesmo em movimento, poderá executar suas aplicações através de um ambiente virtual.
O código destas aplicações são enviados sob demanda e acessados independentemente do
dispositivo computacional que o usuário estiver usando [Yamin 2004].
1.1.3. Framework
Existem diversos projetos de frameworks para aplicações em computação ubíqua. Neste
seção será definido o conceito de framework, suas características, benefícios e principais
desafios de desenvolvimento.
Frameworks são códigos reutilizáveis de uma parte ou de todo um sistema de software. Estes códigos são descritos por um conjunto de classes abstratas. O projeto de software é normalmente composto de componentes e conexões para que as instâncias destas
classes colaborem entre si [Johnson and Foote 1988]. O framework é portanto uma aplicação praticamente completa, onde o programador irá desenvolver os códigos específicos
para a sua aplicação. As classes são abstratas porque não possuem implementação, pois
serão completadas para cada aplicação específica que será desenvolvida [Erich Gamma
2003].
O uso de frameworks pode reduzir significativamente o custo de desenvolvimento
de um software, já que grande parte do código já foi desenvolvido e será reutilizado para
o desenvolvimento da nova aplicação. O esforço para o desenvolvimento de novas aplicações é reduzido, já que somente serão criados códigos para atender as particularidades
destes novos softwares.
Os frameworks usam programação orientada a objetos e reunem códigos e bibliotecas de diversas linguagens em um ambiente único. Isto torna possível o uso da
linguagem de programação mais adequada para a funcionalidade desejada. A arquitetura
criada é flexível e expansível, com o objetivo de criar soluções para problemas comuns.
Os frameworks trazem diversas vantagens no processo de desenvolvimento de códigos de software, tais como maior produtividade, padronização, redução no custo de
desenvolvimento de novas aplicações, redução do tempo para lançamento de novas aplicações (time-to-market), menos erros de software devido ao uso em várias aplicações (os
bugs foram descobertos e corrigidos anteriormente), maior compatibilidade e consistência
entre aplicações, entre outros.
Entre os grandes desafios do desenvolvimento de frameworks está a maior complexidade em seu projeto e codificação, a reusabilidade do código deve ser muito bem
planejada e os benefícios de sua criação vem a longo prazo. Para o seu desenvolvimento
é necessário vasta experiência no uso de boas práticas de codificação e documentação de
software, sendo requisito básico uma equipe altamente qualificada.
Devido ao contínuo desenvolvimento de dispositivos móveis, atualmente podemos
encontrar uma grande variedade de modelos deste tipo de equipamentos. Como a maior
parte dos recursos disponíveis nestes dispositivos são semelhantes, a maior parte dos códigos criados para um modelo pode ser usado em diversos outros. O uso de frameworks
no desenvolvimento das aplicações reduz significativamente o trabalho necessário para
a criação destes softwares, pois grande parte dos códigos podem ser reaproveitados de
outros projetos.
1.1.4. Tecnologias para conectividade
Como visto anteriormente, a computação ubíqua exige a comunicação o tempo todo e
em qualquer lugar, tornando a conectividade um aspecto chave deste conceito. O rápido
avanço nas tecnologias de comunicação sem fio, também conhecidas pelo anglicismo
wireless, tem trazido diversas oportunidades para ampliar a conectividade e colocar a
ubiquidade em prática.
Pode-se classificar as tecnologias de rede sem fios em três grandes classes: curta,
média e longa distância. Os sistemas de computação ubíqua são estruturados através
destas classes de rede, possibilitando assim a conectividade a qualquer distância [Araujo
2003].
As redes de longa distância são utilizadas pelos serviços de comunicação pessoal.
As redes dos sistemas celulares que operam em bandas de alta frequência fazem parte
desta classe.
As redes de curta e média distância (tais como o Bluetooth, ZigBee e Wi-Fi) foram desenvolvidas para permitir a conectividade entre dispositivos de forma invisível ao
usuário. Este tipo de classe é usado por exemplo para a comunicação sem fio entre um
computador e seus periféricos (impressora, mouse, teclado, entre outros), reduzindo assim
o grande número de cabos.
A seguir estão descritas algumas das principais tecnologias de redes usadas atualmente que suportam a conectividade entre dispositivos:
• Wi-Fi (802.11) - A tecnologia Wi-Fi (Wireless Fidelity), desenvolvida pela IEEE
(Institute of Electrical and Electronics Engineers), foi rapidamente aceita como
solução para redes corporativas sem fio. A Wi-Fi utiliza a faixa de frequência ISM
de 2,45GHz, possui alcance de até 300 metros (pode ser maior em áreas abertas) e
possui taxas de transmissão de dados superiores a 11 Mbps.
• Bluetooth - A tecnologia Bluetooth foi desenvolvida a partir do ano de 1998 através da parceria entre a Ericsson, Intel, Toshiba, Nokia e IBM com o objetivo de
especificar um padrão mundial aberto para a conexão sem fio entre dispositivos de
telecomunicações e de computação. A comunicação pode ser feita com dois ou
mais dispositivos através da faixa de frequência ISM 1 . A comunicação é onidirecional, suporta transmissões síncronas e assíncronas, aceita taxas de transferência de
dados de até 1 Mbps e possui um alcance de 10 m [Araujo 2003].
• IrDA (Infravermelho) - A tecnologia IrDA (Infrared Data Association) suporta
apenas conexões ponto-a-ponto a distâncias menores que 1 m, com velocidades de
até 16 Mbps. O ângulo de visão entre o transmissor e o receptor é de 30 graus). A
comunicação deve ser feita através de uma linha direta de visão, sem obstáculos,
1 ISM (Industrial, Scientific and Medical) é a banda de radiofrequência situada na faixa entre 2,4000 GHz
a 2,4835 GHz). Os equipamentos que funcionam na banda ISM não dependem de licenças para operação,
mas compartilham seu uso com outros dispositivos de comunicação não compatíveis com a tecnologia
Bluetooth, tais como portões automáticos, babás eletrônicas, telefones sem fio.
pois os raios infravermelhos não atravessam objetos [Araujo 2003]. Foram desenvolvidos vários tipos de IrDA, tais como: SIR (Serial Infrared): padrão original,
velocidade de 115 Kbps; MIR (Medium Infrared): velocidade de 1.152 Mbps, não
foi implementado amplamente; FIR (Fast Infrared): velocidades de até 4 Mbps, utilizado na maioria dos novos computadores; VFIR (Very Fast Infrared): velocidades
de até 16 Mbps, ainda não implementado amplamente.
1.2. Medicina Ubíqua
A qualidade dos serviços prestados na área da saúde no Brasil, principalmente em instituições públicas, é precária. As instituições de saúde no país têm dificuldade de comportar
a crescente demanda por este tipo de serviço. Os resultados são hospitais lotados, profissionais sobrecarregados e frequentes erros médicos. Estima-se que no país cerca de 5%
da população seja vítima de erros médicos, gerando gastos na ordem de US$ 500 milhões
para a Previdência Social [Macri et al. 2004].
O uso adequado das novas tecnologias de computação e eletrônica poderão trazer mais eficiência ao uso dos equipamentos eletromédicos. Esta eficiência resulta em
mais segurança ao paciente e torna a rotina dos profissionais de saúde mais dinâmica e
otimizada. Como benefícios diretos, teremos maior qualidade nos serviços prestados ao
paciente, reduzindo o tempo de internação e tornando os médicos e enfermeiros mais
satisfeitos [Cassiani et al. 2009].
Estamos em uma época de rápido avanço tecnológico da comunicação móvel, da
computação embarcada e miniaturização dos dispositivos e sensores eletrônicos. A aplicação destas tecnologias na área médica poderá trazer diversos benefícios aos pacientes
e otimizar a prestação de serviços dos profissionais da saúde. Ao mesmo tempo, os requisitos para atendimento às normas de certificação para comercialização de produtos
eletrônicos na área médica estão cada vez mais rigorosos.
Um grande desafio dos desenvolvedores de firmware 2 é criar softwares que atendam a um grau de segurança que não coloque os pacientes em risco. Apesar dos riscos
de falhas serem inerentes a qualquer equipamento que utilize hardware e software, a mitigação dos mesmos deve fazer parte de todo o plano de projeto. O atendimento aos
requisitos destas normas objetivam tornar os riscos resultantes aceitáveis no uso normal
e nos erros de uso de eletromédicos. Portanto, é essencial que os projetistas invistam em
um bom design de interface com o usuário, tornando-a o mais intuitiva possível e reduzindo ao máximo problemas de interpretação que podem ocasionar erros de operação dos
equipamentos.
O uso adequado dos avanços tecnológicos nos cuidados ao paciente é fundamental para a mitigação de erros médicos, trazendo mais segurança e qualidade aos serviços
prestados aos pacientes [Cassiani et al. 2009]. A análise de custo-benefício para implantação destas tecnologias deve também levar em consideração os ganhos com a redução
dos erros médicos. Segundo o Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências
dos Estados Unidos, o custo financeiro anual oriundo dos erros médicos neste país fica em
2 Firmware
é o conjunto de instruções operacionais programadas diretamente no hardware de um equipamento eletrônico.
torno de US$ 17 a 29 bilhões [Corrigan et al. 2009]. Não há pesquisas específicas sobre o
assunto no Brasil, mas alguns estudos apontam que as denúncias de erros médicos estão
crescendo nos últimos anos [Bitencourt et al. 2007].
O uso seguro e adequado de equipamentos médicos pode ser dramaticamente melhorado quando se leva em consideração desde o início do projeto os conceitos de fatores
humanos. Os custos incrementais para fazer isso são muitas vezes insignificantes, mas o
retorno pode ser enorme. Desta forma se obtém resultados como a melhoria da satisfação
do usuário, redução dos erros de operação e a mitigação de efeitos adversos ao paciente.
O desenvolvimento contínuo de novas e poderosas tecnologias em soluções de software
e hardware podem ajudar a tornar o ambiente hospitalar mais seguro, inteligente e otimizado. O uso de tecnologia com uma abordagem dos fatores humanos no desenvolvimento
de produtos médicos resulta em equipamentos mais confiáveis e intuitivos [Fennigkoh
and Haro 2009].
Os equipamentos médico-hospitalares devem ser seguros em relação a choques
elétricos, imunidade a descargas eletrostáticas, aquecimento excessivo que podem causar
queimaduras nos pacientes ou operadores, erros de operação causados por interferências elétricas oriundas de meios conduzidos ou radiados, erros de interpretação devido
a interfaces complicadas ou confusas, dentre outros diversos problemas. Para comercializar equipamentos eletromédicos no Brasil é obrigatório obter um registro na ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para isto, a ANVISA exige que o fabricante
do produto obtenha um certificado de conformidade técnica emitido por um organismo
acreditado pelo INMETRO (OCP – Organismo de Certificação de Produtos). A certificação irá comprovar, através de diversos tipos de ensaios em laboratórios credenciados,
que o equipamento eletromédico atende a requisitos técnicos normativos de segurança
elétrica, operação, documentação, produção e funcionalidade. É importante que, tanto
os fabricantes quanto os profissionais da saúde, compreendam que o compromisso com a
qualidade técnica dos equipamentos utilizados no cuidado com vidas humanas também é
uma forma de promover a saúde. Além de realizar um planejamento importante para os
investimentos em tecnologias, todo profissional médico precisa ter em mente que exigir a
qualidade técnica certificada dos produtos adquiridos é assegurar a qualidade do próprio
trabalho.
O aprimoramento da comunicação sem fio (wireless) expandiu as possibilidades
de monitoramento e controle remotos dos dispositivos eletromédicos. O uso desta tecnologia cria oportunidades de desenvolvimento de novas soluções para ampliar a mobilidade
dos profissionais de saúde, permitindo que os mesmos se mantenham informados sobre
o status dos equipamentos eletromédicos que estão sob sua responsabilidade. A comunicação sem fio tem trazido diversas melhorias nos equipamentos eletromédicos. Através
dela estes dispositivos podem se comunicar com outros equipamentos médicos, computadores, centrais de monitoramento ou diretamente com os profissionais de saúde através de
dispositivos móveis (celulares, PDAs - Personal Digital Assistant, tablets, entre outros).
Paralelamente a isto, a miniaturização de dispositivos eletrônicos móveis, a maior eficiência de baterias e a redução de consumo de energia dos semicondutores potencializaram
o desenvolvimento de inúmeras soluções inovadoras através da computação ubíqua.
Os profissionais de saúde que trabalham no ambiente hospitalar possuem uma
rotina onde é essencial a mobilidade. Um dos grandes desafios na melhoria dos serviços
prestados neste ambiente está em disponibilizar as informações geradas pelos equipamentos médicos sem prejudicar esta mobilidade, permitindo também seu controle à distância.
O uso da computação ubíqua no ambiente hospitalar pode tornar a interação entre os profissionais de saúde e os equipamentos médicos mais dinâmica e eficiente. Este
avanço é possível através da interpretação pelos sistemas eletromédicos das formas naturais de comunicação dos humanos: fala, movimentos de membros do corpo humano,
gestos e contexto. Quanto mais natural for a interface entre a máquina e o homem, mais
otimizados se tornarão os serviços prestados pelos estabelecimentos de saúde, trazendo
diversos benefícios para os profissionais e para os pacientes.
Alguns dos grandes benefícios possibilitados pela computação ubíqua para estes
profissionais são a redução da carga cognitiva e a menor carga de tarefas, trazendo maior
satisfação pelo trabalho e melhor qualidade de vida. Os pacientes ganham com a redução
dos erros médicos, melhores resultados no tratamento da saúde e consequentemente a
redução do tempo de internação.
Para preservar a mobilidade dos profissionais de saúde estão sendo desenvolvidas aplicações utilizando a abordagem siga-me (follow me), onde as informações geradas
pelos equipamentos médicos seguem os operadores, acompanhando o seu deslocamento
através de dispositivos móveis. Conforme a localização destes dispositivos se altera, é
necessária a adaptação automática de suas configurações de acordo com as alterações da
rede de acesso às informações. Estas aplicações também consideraram os perfis, preferências e as alterações de contexto oriundas do deslocamento dos profissionais de saúde.
1.2.1. Erros médicos
Os hospitais têm se tornado ambientes cada vez mais complexos, onde é uma rotina diária
o uso de equipamentos e procedimentos de alto risco à vida dos pacientes. Devido as estas
características são comuns os efeitos adversos ao paciente causados por erros médicos.
O erro médico pode ser definido como a falha ao não concluir como previsto uma
ação planejada ou o uso de um plano errado para atingir um determinado objetivo. Os
erros mais comuns são falhas nos sistemas, processos e condições que permitem que as
pessoas errem ou falhem em não prevení-los [Corrigan et al. 2009].
Dois grandes estudos que analisaram as instituições de saúde dos Estados Unidos
identificaram que ao menos 44 mil pessoas morrem nos hospitais a cada ano devido a
erros médicos que poderiam ser evitados. Este número ultrapassa as mortes atribuídas
a AIDS, câncer de mama e acidentes de trânsito. Além das vidas perdidas, estes erros
representam um custo neste país entre 17 e 29 bilhões de dólares, incluindo os gastos em
cuidados adicionais devido aos erros e produtividade familiar [Corrigan et al. 2009].
O processo de terapia medicamentosa no ambiente hospitalar é altamente complexo e muito vulnerável a falhas que podem ocorrer em alguma de suas várias etapas:
prescrição, transcrição, dispensação, distribuição, preparo, administração e monitorização. O uso da tecnologia pode trazer mais segurança através da simplificação e padronização deste processo, evitando assim muito dos erros médicos que podem ocorrer durante
todo o ciclo do tratamento medicamentoso. Deve-se introduzir verificações em diversas
fases do processo com o objetivo de identificar falhas antes que elas cheguem ao paciente [Cassiani et al. 2009].
Estas verificações podem ser feitas para garantir os chamados Seven Rights da
terapia medicamentosa:
• droga correta: garantir que o medicamento a ser administrado está correto;
• paciente correto: garantir que o medicamento será administrado ao paciente correto;
• dose correta: garantir que a quantidade de medicamento está correta;
• tempo correto: garantir que o momento de administrar o medicamento está correto;
• via correta: garantir que o medicamento será aplicado no acesso correto correto
(intravenoso, subcutâneo, interósseo/medula óssea, inalação, enteral, transdérmico,
intramuscular);
• motivo correto: garantir que o medicamento será administrado pelo motivo correto;
• documento correto: garantir que a prescrição está correta;
Dentre as diversas possibilidades de tecnologias que podem ser aplicadas a este
processo, podemos citar a prescrição médica eletrônica, código de barras, etiquetas RFID
e bombas de infusão inteligentes.
A prescrição eletrônica é um sistema computadorizado usado pelo médico para
receitar medicamentos aos pacientes. O uso deste recurso evita problemas de interpretação devido a rasuras ou caligrafia ilegível, incompatibilidade entre medicamentos e pode
informar quanto às alergias do paciente a uma determinada droga. O uso de códigos de
barras e etiquetas RFID podem ser usados para identificar operadores dos eletromédicos, pacientes, medicamentos e prescrições. As bombas de infusão inteligentes (Smart
Pumps) são equipamentos eletromédicos usados para administração de medicamentos, as
quais possuem alertas que informam quando a programação incorreta de doses de medicamentos [Cassiani et al. 2009].
Com o uso dos princípios de fatores humanos no projeto de equipamentos médicos é possível reduzir ou até mesmo eliminar a maioria dos erros médicos relacionados
a operação deste tipo de dispositivos. Esta área científica é altamente interdisciplinar e
tem como objetivo identificar e resolver as deficiência no uso de dispositivos, levando
em consideração os aspectos humanos e as características inerentes ao ambiente hospitalar. Os estudos estão fortemente baseados nos princípios oriundos de pesquisas sobre a
psicologia cognitiva, os quais tentam entender os processos mentais relacionados com o
comportamento dos seres humanos [Fennigkoh and Haro 2009]. A cognição é a forma de
como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre todas as informações captadas
através dos sentidos humanos (tato, olfato, audição, paladar e visão).
Alguns dos processos estudados pela psicologia cognitiva são:
• como as pessoas se comunicam;
• como é feita a percepção e processamento de informações;
• como comentem erros;
• como interagem com equipamentos e suas interfaces;
• como resolvem problemas;
• como interagem com o ambiente;
• como julgam e tomam decisões;
• como formam conceitos.
O correto entendimento e aplicação dos conceitos da psicologia cognitiva podem
criar grandes oportunidades no desenvolvimento de equipamentos médicos mais seguros,
intuitivos e eficientes. Como resultado é possível reduzir significativamente os erros médicos oriundos de operação inadequada de dispositivos médicos, aumentando a satisfação
dos profissionais de saúde e a eficácia no tratamento da saúde do paciente.
Os erros médicos podem ser prevenidos através do projeto do sistema de saúde em
todos os níveis, objetivando torná-lo mais seguro ao dificultar que as pessoas façam algo
errado, possibilitando ser mais fácil fazer da maneira correta [Corrigan et al. 2009]. Através do desenvolvimento de equipamentos médicos usando este ponto de vista é possível
trazer mais segurança ao ambiente hospitalar e melhorias nas terapias de saúde.
1.3. Projetos em Medicina Ubíqua
Diversas pesquisas têm sido feitas com o objetivo de desenvolver arquiteturas de software
para otimizar a rotina dos profissionais de saúde utilizando os conceitos de computação
pervasiva. A seguir estão apresentados alguns dos projetos relacionados com o tema.
1.3.1. ABC (Activity-Based Computing): support for mobility and collaboration in ubiquitous computing
O ABC (Activity-Based Computing) [Bardram 2005, Bardram et al. 2002, Bardram and
Christensen 2007, Bardram 2009] é um projeto de computação ubíqua para apoio à mobilidade e colaboração nas atividades de trabalho humano através do desenvolvimento de
um framework. O projeto foi iniciado em 2001 pela Universidade de Aarhus em parceria com Universidade de TI de Copenhague, contando também com o apoio do Hospital
Regional de Horsens.
Os principais objetivos do projeto ABC são:
• dar suporte às atividades humanas através do gerenciamento de tarefas com o auxílio da computação;
• dar suporte à mobilidade através da distribuição de atividades em ambientes de
computação heterogêneos (desktop PC, tablet, notebook, PDA, tela ou projeção na
parede de uma sala de cirurgia);
• permitir a colaboração assíncrona possibilitando que várias pessoas participem de
uma mesma atividade;
• dar suporte a atividades síncronas para colaboração em tempo real através de compartilhamento por diversos clientes.
Através do framework desenvolvido é possível que as atividades sejam interrompidas e retomadas posteriormente com seu estado anterior totalmente recuperado, mesmo
que o local seja diferente ou o dispositivo de computação usado seja outro. O sistema
permite que todas as aplicações e recursos associados com as atividades sejam restaurados automaticamente quando uma atividade é retomada, otimizando consideravelmente a
rotina clínica. Este suporte à persistência atende à necessidade de mobilidade, que é um
dos principais requisitos das rotinas clínicas em hospitais.
A idéia central deste projeto é o desenvolvimento de aplicações para otimizar a
rotina dos profissionais de saúde, considerando os aspectos inerentes à profissão. Para
isto foram construídos vários cenários do ambiente hospitalar, baseados nas rotinas dos
médicos e enfermeiros. Esta trabalho foi realizado para identificar modelos de atividades,
permitindo assim desenvolver uma aplicação para reconhecimento de contexto.
As principais atividades identificadas se referem aos seguintes cenários:
• busca de medicamentos na farmácia do hospital, administração e controle de medicamentos (realizadas por enfermeiros);
• prescrições de medicamentos (realizadas por médicos), baseadas em resultados de
exames e discussão com outros profissionais de saúde sobre dosagens e tipos de
drogas;
• colaboração;
• videonferências para consultas e diagnósticos;
• conversas com os paciente para explicar diagnósticos e tratamentos;
• cirurgias.
A arquitetura desenvolvida utiliza o conceito de infra-estrutura de computação
guiada por atividades (ADCI - Activity-Driven Computing Infrastructure). O monitoramento das atividades de rotina do ambiente hospitalar e do contexto do usuário permitem
a descoberta das atividades executadas pelo clínico, o que possibilita que o sistema atue
de forma pró-ativa. Isto permite que sejam executadas de forma automática aplicações
baseadas na atividade e contexto do usuário, reduzindo desta forma o tempo gasto caso
fosse necessário navegar em uma interface (menu) com diversas opções.
Os usuários e recursos são identificados e localizados através de dispositivos de
radio-frequência disponíveis no ambiente hospitalar.
O sistema desenvolvido permite que todos os recursos digitais (resultados de exames laboratoriais, imagens para diagnósticos, registros médicos) necessários para a realização de uma atividade relacionada com um determinado paciente sejam organizados e
agrupados logicamente.
A Figura 1.2 apresenta a arquitetura do projeto ABC, o qual foi estruturado nas
seguintes camadas:
• Infraestrutura: realiza o gerenciamento das atividades colaborativas e distribuídas
através da adaptação dos recursos ou serviços disponíveis em um determinado ambiente computacional;
• Cliente: gerencia a atividade em um dispositivo específico;
• Aplicação: possui rotinas e padrões para a utilização dos serviços disponíveis na
arquitetura do cliente.
Figura 1.2. Arquitetura do Projeto Activity-based Computing [Bardram 2009,
Kroth and Augustin 2010]
1.3.2. ClinicSpace: modelagem de uma ferramenta piloto para definição de tarefas
clínicas em um ambiente de computação
O projeto ClinicSpace [Silva 2009, Ferreira et al. 2009] tem como objetivo adaptar um
middleware para gerenciamento de atividades clínicas através da computação pervasiva.
Está sendo desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria pelo Grupo de Sistemas
de Computação Móvel (GMob). O ClinicSpace é um Sistema Eletrônico de Saúde (EHS Electronic Health System) cuja arquitetura foi desenvolvida com o objetivo de atender aos
requisitos dos médicos, diminuindo assim a frequente rejeição na implantação deste tipo
de sistema no ambiente hospitalar. O sistema disponibiliza um assistente para ajudar os
profissionais de saúde a executar suas atividades, usando para isto a computação orientada
a atividades.
O projeto usa a captura de contexto para reduzir a complexidade do sistema para
os profissionais de saúde. Os elementos de contexto processados são tempo, recursos,
perfil, paciente, localização dispositivos e sensores. As informações do ambiente clínico
são capturadas e integradas automaticamente às aplicações do sistema computacional,
tornando os serviços prestados aos pacientes mais otimizados e com melhor qualidade
[Ferreira et al. 2009].
A arquitetura também permite a personalização no modo como cada usuário executa as atividades, aumentando assim a aderência do sistema automatizado no ambiente
hospitalar com o objetivo de aumentar a sua aceitação.
A Figura 1.3 apresenta a arquitetura do projeto ClinicSpace, o qual foi estruturado
nos seguintes níveis:
• Nível superior: operador do sistema (profissional de saúde) que gerência suas tarefas a serem executadas no ambiente pervasivo;
• Nível intermediário: responsável pelo mapeamento e gerenciamento das tarefas
definidas pelo operador e subtarefas (aplicações pervasivas);
• Nível inferior: responsável pela execução das aplicações e gerenciamento do ambiente pervasivo através do middleware EXEHDA [Yamin 2004].
Figura 1.3. Arquitetura do Projeto ClinicSpace [Machado and Augustin 2011]
A seguir estão descritas o significado das abreviações usadas para identificar os
componentes da arquitetura:
• IETC: Interface de Edição de Tarefas e Contexto
• SGDT: Subsistema de Gerenciamento Distribuído de Tarefas;
• SGT: Serviço de Gerenciamento de Tarefas;
• SAT: Serviço de Acesso a Tarefas;
• SCT: Serviço de Contexto de Tarefas
• pEHS: pervasive Electronic Health System.
Como diferencial em relação a outros projetos semelhantes, o ClinicSpace é arquitetado com foco nos profissionais de saúde que serão os usuários do sistema, permitindo
que os mesmos personalizem as suas tarefas. O sistema desenvolvido permite que os
usuários façam um balanceamento entre automatizar e controlar a execução das tarefas,
disponibilizando recursos como agendamento, execução, interrupção, continuação e cancelamento de atividades. O projeto também implementa a semântica siga-me, permitindo
que as tarefas acompanhem o usuário mesmo que ele troque de dispositivo computacional.
1.3.3. Pertmed: Sistema de Telemedicina Móvel (disponibilizando a informação onde
ela é necessária)
O projeto Pertmed [Rodrigues 2011] tem como objetivo científico avaliar o uso na área de
saúde de algumas das tecnologias desenvolvidas pelas pesquisas em computação ubíqua,
atendendo dessa forma à necessidade de mobilidade dos profissionais que atuam no ambiente hospitalar. O sistema a ser desenvolvido fará a conexão entre dispositivos móveis
e o sistema informatizado de acesso às informações clínicas do hospital, possibilitando
assim que os profissionais de saúde tenham acesso às mesmas de forma pervasiva.
O Pertmed está sendo desenvolvido através da parceria entre grupos de pesquisa
da Universidade Federal de Santa Maria (Grupo de Sistemas de Computação Móvel GMob), Universidade Católica de Pelotas e Universidade Federal de Pelotas (Grupo de
Processamento Paralelo e Distribuídos - G3PD).
O projeto tem como premissa a colaboração dos profissionais de saúde dos hospitais universitários destas instituições, os quais serão responsáveis por determinar os
requisitos do sistema a ser desenvolvido. Estes profissionais também contribuirão para
a identificação de características e funcionalidades, análise e adequação do projeto à rotina hospitalar. Além do atendimento às necessidade destes dois hospitais, o sistema tem
como meta a generalização da solução para o atendimento aos requisitos da rede SUS,
onde poderá ser utilizado amplamente.
O Pertmed busca viabilizar o atendimento a lugares remotos e carentes, onde há
falta de serviços de saúde especializados devido ao alto custo de transporte. Isto seria
viabilizado através do acesso ao estado de saúde do paciente através de monitoramento
remoto. Simples orientações clínicas poderiam ser enviadas diretamente aos celulares dos
pacientes. Desta forma o projeto contribuirá com a redução na fragmentação e interrupção
de tratamentos devido a dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
O sistema está sendo desenvolvido na plataforma Java, utilizando diagramas UML
(Unified Modeling Language) e programação orientada a objetos. O gerenciamento do
ambiente pervasivo é feito através do middleware EXEHDA [Yamin 2004].
Este projeto pretende disponibilizar informações de saúde (tais como resultados
de exames laboratoriais e registros de pacientes) aos médicos e enfermeiros sempre que
necessárias, baseadas em contexto, independentemente do local onde se encontram, a
qualquer momento e de qualquer dispositivo (acesso pervasivo).
De acordo com a proposta do projeto, para se ter qualidade nos serviços prestados
na área da saúde, é necessário que os profissionais tenham acesso rápido às informações
clínicas dos pacientes, permitindo assim que os mesmos tomem decisões rápidas. Estas
informações podem ser acessadas pelos profissionais de saúde através da internet e dispositivos móveis, tais como smartphones, telefones celulares e PDAs. O sistema também
disponibiliza o tráfego de informações entre os profissionais de saúde e os pacientes.
1.3.4. uMed: Um Framework para o Gerenciamento de Aplicações Direcionadas à
Medicina Ubíqua
O projeto uMED é uma arquitetura para desenvolvimento de software direcionada a medicina ubíqua [Rodrigues 2011, Rodrigues et al. 2011], concebido como parte dos esforços
de pesquisa do projeto PERTMED. O uMED foi desenvolvido no Grupo de Pesquisa em
Processamento Paralelo e Distribuído (G3PD) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
Este projeto permite o monitoramento remoto dos sinais vitais de pacientes internados em um ambiente hospitalar. O sistema pode emitir alertas clínicos através da
captura de informações contextuais. Os alertas são baseados em regras criadas pelos profissionais de saúde, sendo possível alterá-las a qualquer momento.
O uMED permite aos clínicos monitorar e controlar remotamente dispositivos e
equipamentos eletromédicos (tais como ventiladores pulmonar e bombas de infusão) com
o objetivo de otimizar a rotina clínica dos profissionais de saúde. Os dispositivos podem
ser para controle ambiental, como por exemplo alarmes, luzes de sinalização, aquecedores
e umidificadores. Através deste framework os equipamentos e dispositivos do ambiente
ubíquo podem ser configurados, acionados ou desligados.
O uMED foi desenvolvido com a premissa de ser integrado ao middleware EXEHDA
[Yamin 2004], empregando suas funcionalidades de reconhecimento e adaptação de contexto. Seu objetivo principal é melhorar a mobilidade dos profissionais de saúde através
do fornecimento de serviços de saúde, com acesso independente do tempo e localização.
O framework propõe uma infraestrutura para integração de sensores e dispositivos computacionais móveis e fixos no meio hospitalar, disponibilizando serviços com consciência
ao contexto através de um ambiente ubíquo.
A Figura 1.4 apresenta a arquitetura do projeto uMED, o qual foi estruturado nos
seguintes módulos:
• Gerente de Atuação: permitem controlar (ligar, desligar e configurar) os atuadores
do ambiente ubíquo de forma manual (através do operador) ou automática (através
do servidor de contexto);
• Gerente de Aplicações: fornece ao usuário as aplicações disponibilizadas pelo framework: emissão de alertas aos profissionais de saúde baseados no monitoramento
de sinais vitais, acionamento imediato e configuração dos atuadores e elaboração
de relatórios personalizados;
• Gerente de Borda: realiza o primeiro processamento dos sinais aquisitados pelos
sensores e faz o tratamento dos dados para acionamento dos atuadores;
• Gerente de Comunicação: responsável por enviar mensagens de notificação aos clínicos, pacientes e familiares através de mensagems SMS (Short Message Service),
Google Talk e e-mail;
• Servidor de Contexto: realiza o processamento de informações de contexto através
do suporte semântico.
Figura 1.4. Arquitetura do Projeto uMED [Rodrigues et al. 2011]
Como diferencial frente a outros projetos, o uMED possui a possibilidade de geração de relatórios personalizados pelos usuários para estudo de casos clínicos e a criação de
regras para inclusão e exclusão de atuadores e sensores, de maneira que as características
dos mesmos possam ser abstraídas.
1.3.5. UbiDoctor: Serviço de Gerenciamento de Sessão para Ambientes de Medicina
Ubíqua
O projeto UbiDoctor [Diniz and Trinta 2008] é um middleware, desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), proposto para fornecer serviços de medicina
ubíqua com o objetivo de melhorar a produtividade dos profissionais de saúde. Através
desta arquitetura estes profissionais podem acessar de forma ubíqua os dados pessoais
e casos clínicos de pacientes, visualizar pareceres clínicos anteriores e solicitar segunda
opinião a outros médicos.
O UbiDoctor considera a necessidade de atendimento a premissas tais como a
interação entre os profissionais de saúde para troca de informações e opiniões clínicas,
suporte à mobilidade dos usuários (característica inerente ao ambiente hospitalar), necessidade de acesso às informações de saúde do paciente através de diversos tipos de
dispositivos computacionais, nomadismo e interrupções constantes da execução de atividades.
A Figura 1.5 apresenta a arquitetura do middleware UbiDoctor, o qual foi estruturado nos seguintes serviços:
• Serviço de Gerenciamento de Contexto: encarregado de examinar os dados contextuais e enviar aos demais serviços através de variáveis de contexto;
• Serviço de Gerenciamento de Sessões: disponibiliza a manutenção e persistência
das sessões e a migração de aplicações;
• Serviço de Adaptação de Conteúdo: faz a adequação das informações a serem apresentadas ao usuário considerando a abrangência da rede e as características e configurações do dispositivo computacional usado.
Com o objetivo de realização de testes foram implementados os serviços de gerenciamento de contexto, gerenciamento de sessão e adaptação de conteúdo do middleware
UbiDoctor. Também foi desenvolvida uma aplicação protótipo chamada de UHSys (Ubiquitous Health System) para uso destes serviços. O UHSys possibilita aos profissionais
clínicos acessarem um sistema de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), permitindo
que o mesmo seja utilizado a qualquer momento (anytime), de qualquer lugar (anywhere)
e em qualquer dispositivo computacional (any device). O sistema também permite que os
profissionais de saúde solicitem e atendam a pedidos de segunda opinião médica.
Através da arquitetura desenvolvida, o médico pode fazer a migração de uma atividade em execução para outro tipo de dispositivo computacional, no qual a tarefa continuará a ser executada. Através do serviço de gerenciamento de sessão esta troca é feita
com a persistência do conteúdo assegurada. Dependendo dos tipos de dispositivos usados, o ajuste do conteúdo a ser exibido ao usuário é realizado através dos serviços de
gerenciamento de contexto e adaptação de conteúdo do middleware.
Na Figura 1.6 pode-se observar a arquitetura doUHSy.
Figura 1.5. Arquitetura do Projeto UbiDoctor [Diniz and Trinta 2008]
Figura 1.6. Arquitetura do módulo doUHSy [Diniz and Trinta 2008]
Na parte superior da figura estão os servidores de aplicação dos PEPs, enquanto
na parte inferior estão representados os serviços disponibilizados pelo middleware UbiDoctor. Estes componentes formam o back end do sistema, responsáveis pelos serviços
disponibilizados aos clientes. Os componentes que acessam o ambiente computacional
através de computadores pessoais, tablets, PDAs ou telefones celuares são denominados
clientes e formam o front end do cenário.
Os profissionais de saúde podem acessar os dados do paciente através do front
end de qualquer lugar, usando diversos tipos de dispositivos computacionais através de
diversas possibilidades de rede de acesso. Dependendo do dispositivo de acesso usado,
as aplicações terão mais ou menos recursos disponibilizados aos clientes. Por exemplo,
a aplicação web usada em computadores pessoais terá mais recursos disponíveis que um
telefone celular, devido as limitações impostas pelos tamanhos de display e teclado deste
último.
1.4. Conclusões
Existe uma grande expectativa na aplicação futura da computação ubíqua em home care.
Através desta tecnologia será possível o monitoramento de pacientes a distância, possibilitando que os mesmos recebam o tratamento de saúde em casa.
Um dos principais desafios para a aplicação prática da medicina ubíqua é o desenvolvimento de dispositivos interativos para os ambientes hospitalares (paredes, tetos,
pisos, leitos, aplicações clínicas incorporadas aos equipamentos, superfícies interativas,
interface natural de comunicação dos humanos). Atualmente não existe tecnologia suficiente para o desenvolvimento de muitos destes recursos.
Diversas pesquisas estão sendo feitas com o objetivo de criar tecnologias para o
desenvolvimento de hospitais inteligentes (Smart Hospitals), os quais possuiriam características tais como:
• os sistemas e dispositivos computacionais estariam altamente integrados e seriam
colaborativos;
• os profissionais de saúde usariam interfaces interativas para acesso aos registros
médicos;
• os dispositivos computacionais possuiriam recursos de sensibilidade e adaptação ao
contexto.
A evolução tecnológica trazida pelas constantes inovações nas áreas de computação e eletrônica embarcada trazem inúmeras possibilidades de avanços no desenvolvimento de equipamentos eletromédicos. Recursos como comunicação sem fio, maior
autonomia das baterias dos equipamentos móveis e displays coloridos nos permitem desenvolver equipamentos cada vez mais eficientes, seguros e de fácil interação.
O uso destes recursos traz grandes benefícios aos profissionais de saúde, que monitoram e controlam os equipamentos eletromédicos. Através de interfaces mais intuitivas
e conexão remota, os pacientes se beneficiam com menos erros médicos, melhores cuidados e mais eficiência em seus tratamentos. Os profissionais de saúde têm sua rotina de
trabalho mais otimizada, reduzindo suas tarefas e ganhando melhor qualidade de vida.
1.5. Referências Bibliográficas
Referências
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desafios. XXI Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores, pages 45–115. Pag 10 a
17: São descritos os dispositivos da computação ubíqua, controles inteligentes, Cartões
Inteligentes, Dispositivos de Mão, Bateria: Tecnologia Limitante, telas, Teclados Virtuais em Telas Sensíveis a Toque, Reconhecimento de escrita a mão, Reconhecimento
de Voz. Pag. 27: Sistemas operacionais embarcados (Windows CE, Symbiam, Palm
OS, Linux) Pag. 81: Segurança e criptografia Pag. 42: Conectividade: Sistema Celular, Bluetooth, Infravermelho, Tecnologia HomeRF, Tecnologia 802.11 – Wi-Fi, Redes
Domésticas <b>Pag. 58: Aspectos de Hardware dos Dispositivos Ubíquos: Bateria:
Tecnologia Limitante, Telas, Teclados, Reconhecimento de escrita a mão, Reconhecimento de Voz Pag. 110: </b>Desafios da Computação Ubíqua.
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Serviço de Gerenciamento de Sessão para Ambientes de Medicina Ubíqua. pages 1–
9. Este é o artigo principal do projeto UbiDoctor. Descrição do projeto: arquitetura de
middleware para gerenciar sessões e adaptar conteúdo de aplicações executadas em um
cenário onde médicos podem fazer acesso a informações de PEPs de qualquer lugar e
a qualquer hora, dando suporte a natureza nômade e fragmentada das suas atividades.
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Um Framework para o Gerenciamento de Aplicacoes Direcionadas a Medicina
Ubf ±qua. pages1 − −10. Esteartigoapresentaoresumodopro jetouMED.Descrio :
O f rameworkuMEDtemcomopremissatratarasin f ormacoesadquiridasporsensores, noti f icaraspartesin
qua, alemdepermitiralteracoesdasregrasdetratamentodecontextoduranteaexecucaodasaplicacoes.
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