Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 SOFRIMENTO PSIQUICO DE CRIANÇAS EM INSTITUÇÕES FUNÇÕES PARENTAIS E APRENDIZAGEM 1 Maria de Lourdes Teodoro2 RESUMO Recorte de uma pesquisa mais longa, o trabalho investiga o modo como a insuficiência das funções parentais gera sintomas na criança, a exemplo da dificuldade de aprendizagem, causa de sofrimento psíquico; considera a relevância da inclusão social e levanta a hipótese de que crianças em instituição podem ser ajudadas pela psicanálise, que devolve à criança a capacidade de aprender: pensar, julgar e agir. O trabalho conclui sobre a vantagem para a criança, em situação de risco social, de submeter-se à análise pessoal. Palavras-chave: criança, aprendizagem, sofrimento psíquico, risco social, funções parentais. INTRODUÇÃO À Psicóloga Landecy Martins À psicoanalista Silvia Valladares “A hospitalidade, tanto para com o que é familiar quanto para o que é estranho, é a razão de ser da psicanálise.” René Major, Presidente da Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e da Psicanálise, idealizador dos Estados Gerais da Psicanálise. A clínica psicanalítica observa que, quanto mais desejada e planejada uma criança, mais importante se torna seu lugar na afeição parental. Freqüentemente, a demanda parental, para uma análise de criança, traz à tona os déficits de capacidade e a inadequação do comportamento, sendo que o sofrimento psíquico da criança é raramente evocado pelos adultos. E, possivelmente, ele não é evocado por não ser percebido como tal. Na criança em idade escolar, o sofrimento psíquico, ou o que dele se dá a ver: o sintoma – com freqüência - aparece imbricado nas dificuldades de aprendizagem e de relacionamento em grupo. 1 O presente trabalho é produto de uma primeira experiência de dois anos, como psicanalista voluntária, em uma instituição para crianças órfãs em Brasília – Brasil. 2 Psicanalista em formação no Instituto Virgínia Leone Bicudo de Psicanálise, da Sociedade de Psicanálise de Brasília. 1 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 A abordagem aqui feita busca compreender, sobretudo, o modo como a deficiência das funções parentais pode afetar a pulsão epistemofílica na criança e gerar sofrimento psíquico intenso, que se dá a ver através de sintomas os mais variados e coloca a criança em risco de ruptura em seu desenvolvimento com a conseqüente ruptura com a ordem social e cultural. Diante de várias questões interessantes, observadas ao longo de dois anos de trabalho no caso clínico a ser abordado nesse trabalho, fiz a opção pela reflexão sobre a deficiência das funções parentais e as dificuldades de aprendizagem. Objetivos O objetivo geral é investigar os problemas a enfrentar no trabalho psicanalítico com crianças isntitucionalizadas. O objetivo específico é ajudar meu paciente a “encontrar um sentido na vida (BETTELHEIM, 1980). Ao longo do percurso, vi que esse objetivo devia se tornar menos pretensioso: o “sentido” a ser encontrado poderia referir-se à redução da intensidade de seu sofrimento, por via da produção de um relato de sua história emocional. Justificativa As crianças em situação de risco social, estão em uma condição semelhante à daquelas crianças atendidas pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott, no período da Segunda Grande Guerra (1939-1945): “evacuadas”, órfãs, abandonadas, rejeitadas, ou “deixadas com alguém” por um período difícil para os pais (WINNICOTT, 1999). Sabendo-se que, no Brasil, há cerca de um milhão de crianças e adolescentes institucionalizados (ABREU, 2002), como tornar os benefícios da psicanálise acessíveis àquelas que os quiserem? Quais são os riscos em que se incorre, em tal experiência, como contorná-los? Convém lembrar Bion ao dizer que “um bom analista está sempre lidando com uma situação desconhecida, imprevisível e perigosa” (BION, 1989). Quando se inicia nesse campo, como é o meu caso, só é certo que se lida – de todo modo – com o desconhecido e com o imprevisível, portanto, com o perigo. Experiências inspiradoras 2 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 Hélio Pellegrino, então membro da Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro e Ana Katrin Kemper, criaram uma Clínica Social da Psicanálise, em 1971. A clínica se propunha a oferecer tratamento analítico aos mais carentes. Essa iniciativa influenciou os mais jovens à época, quando o Brasil vivia sob regime ditatorial (ROUDINESCO/PLON, 1998). Hoje, a Sociedade de Psicanálise de Brasília, por exemplo (há outras instituições psicanalíticas que o fazem também), oferece uma clínica psicanalítica, com preços mais acessíveis, que é ao mesmo tempo espaço de estudos e pesquisas, para candidatos em formação em psicanálise, sob a supervisão dos didatas da instituição. O tema é muito atual, pelo significativo crescimento do trabalho voluntário, de um modo geral, em instituições. Lembre-se que, na França, por exemplo, mais recentemente, muitos psicanalistas tem levado a psicanálise a moradores de rua e a instituições, embora mantenham também, e necessariamente, sua clínica em consultório (ROUDINESCO, 1999). Caso os resultados deste trabalho se mostrem promissores, eles poderão, eventualmente, favorecer, por um lado, o interesse da instituição pela clínica psicanalítica, por outro lado, poderão sensibilizar analistas em formação e já formados, para a infância e a adolescência, nessa faixa socio-econômica. Finalmente, o tema poderá alertar para a relação crucial entre os problemas de aprendizagem e as questões subjetivas. Não há como superar plenamente dificuldades de aprendizagem, inibição face ao conhecimento, sem elaborar no campo próprio – o campo da realidade psíquica – problemas subjetivos que comprometem o desenvolvimento integral da criança. A INSTITUIÇÃO Trata-se de uma instituição privada, declarada de “Utilidade Pública”, organizada em dez Casas-lares, cada uma com um casal e nove crianças e adolescentes, de 2 a 18 anos. Próximos às casas, vários outros prédios garantem a estrutura de funcionamento. Quem é o paciente? Klaus – nome fictício – é um garoto de 8 anos, com desenvolvimento físico adequado para sua idade e sem déficits de origem orgânica. Sua história 3 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 dos primeiros anos me foi relatada por sua mãe biológica, a partir do relato de sua madrinha. Durante os primeiros meses de análise, manteve uma postura corporal de uma criança de cerca de dois anos, embora falasse muito, quando sentado, parecia ter algum problema grave na coluna, e esta minha impressão só se dissipou quando pudemos brincar com isso e ele, aos poucos, pode ficar na postura normal. Pelo relato da mãe, Klaus nasce de parto cesariana, de gravidez a termo, é amamentado durante três meses, tem problemas demorados de icterícia: manchas pretas pelo corpo. Primeiro filho de uma mãe adolescente, solteira. O bebê sustentou a cabeça com 2 meses, sentou-se aos 6 meses, engatinhou aos 8 meses, andou aos 9 meses, dentição aos 8 meses, balbuciou com 1 ano, pronunciou as primeiras palavras com 1 ano e 6 meses: água, me dá, “quer papa”. Dois meses após o nascimento, Klaus foi deixado aos cuidados de sua madrinha (um casal estrangeiro) até os dois anos, quando voltou a morar com sua mãe. Ele obteve o controle diurno dos esfíncteres aos dois anos, o controle noturno, mais ou menos aos quatro anos. O sono era tranqüilo, salvo “entre os quatro e cinco anos, quando acordava andando pela casa, dormindo. Falava um pouco dormindo, depois parou”. Família social: Dona Alzira, Seu marido, sua filha e seus oito “filhos sociais”, com os quais Klaus mora durante a semana. Mãe biológica: Dona Marta, Seu Artur, seu filho de um ano, um filho adulto do Seu Artur e uma irmã adulta de dona Marta, moram juntos. Com eles, Klaus passa os finais de semana e as férias. Dona Marta relata depressão pós-parto. A gravidez foi indesejada, o filho é rejeitado. Pouco depois de um ano de nascido, ela estabelece um relacionamento permanente com seu atual parceiro, pai do seu segundo filho. RECORTE DO CASO CLÍNICO Motivo da consulta Os pais sociais, a instituição e a família querem o fim do comportamento anti-social de Klaus: morder, roubar brinquedos, mexer obsessivamente em lixeiras, “procurando algo”, não poder ouvir um não, sem entrar em crises de agressividade nas quais rasga livros, rasga cadernos, joga coisas no chão”, 4 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 comportar-se mal à mesa. Em sua casa ele é acusado de atear fogo, roubar, fugir de casa, dormir na rua, ter sido expulso da escola e “ter problema com a questão de autoridade”, enfim, “é um menino problema”. A mãe o vê ainda como uma perigosa ameaça para o irmão menor. Ela teme que ele lhe “faça algo”. Aos oito anos, Klaus é encaminhado à Instituição, devido aos maus tratos por parte da família, particularmente da mãe. Nesse momento, sua mãe está no oitavo mês de gravidez de seu irmão. Antes de vir para a Instituição, o paciente esteve em acompanhamento no COMP – Centro de Orientação Médico Psicopedagógica, órgão da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A psiquiatria reconhece problema de fundo emocional. O contrato O contrato para o atendimento de Klaus foi definido com a equipe da Instituição constituída pela mãe social, a psicóloga, diretora de Psicologia, a assistente social e a analista. Nesse contexto, são trazidas as ponderações contratuais lembradas por Freud, não ao paciente diretamente, mas a alguns dos seus responsáveis. A criança me é apresentada, logo após esse encontro, e o contrato é mantido pela criança. O setting O “Consultório Psicológico”, onde foi feito o atendimento, duas vezes por semana, dispunha de duas caixas e um armário com brinquedos, alguns bonecos, material para desenho e pintura e revistas. Alguns móveis, duas grandes almofadas, um tapete, filtro de água, geladeira, ventilador, um aparelho de ar refrigerado A analista podia sentar-se na cadeira, no sofá, em almofadas no chão, ou ficar de pé nas brincadeiras, conforme a atividade proposta pelo paciente. A demanda do paciente A demanda feita por Klaus em sua primeira sessão: “aprender, ler, escrever” e ser aceito, ser incluído, ser amado. Construção da interdisciplinaridade em espaço institucional 5 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 A interdisciplinaridade foi sendo construída de acordo com a necessidade de apoio ao paciente. Antes do início do tratamento, já havia um diálogo entre a escola de Klaus e o serviço de psicopedagogia da rede pública de ensino. Observe-se que onde realmente houve um trabalho interdisciplinar, os resultados foram indiscutíveis. Em geral, ocorreu mais um atravessamento da interdisciplina que uma verdadeira prática interdisciplinar. Questões de aprendizagem: psicopedagogia e psicanálise A avaliação psicopedagógica favoreceu trazer sua mãe para o campo da atenção dada a seu filho. Os resultados dos testes psicopedagógicos, no que se refere à coordenação motora, não coincidem com o que é possível ser observado durante as sessões de análise. Enquanto a pedagoga observa que sua coordenação motora é “muito defasada, com mais ou menos 5 anos”, ele joga palitinhos e monta um lego que é um robô, com muita habilidade. Seu desenho, porém, é muito pobre, deixando perceber que ele não tem “um bom traçado”, como observou a psicóloga Odete Rodrigues. Creio que, da linguagem do desenho para a linguagem verbal, esse “traçado” corresponde ao que Bion chama de “evacuação”: uma fala atropelada, sem sentido aparente. No entanto, o interesse dos desenhos sem “um bom traçado”, quando produzidos em análise, foi o de permitir, a partir deles, que Klaus elaborasse experiências emocionais. Quando os testes da psicopedagoga revelam que ele está “querendo relacionar som e grafia”, cerca de dois meses depois, ele “já está lendo tudo”, como disse sua mãe, com seu primeiro entusiasmo com o filho. Quanto à parte cognitiva, ele “faz julgamento mais de percepção do que pela lógica”, observa a pedagoga. É difícil no campo analítico encontrar o significado dessa avaliação, quando tenho nas sessões uma criança com capacidade de discernimento, percepção rápida, ativa, julgamento crítico, e sensibilidade. Quanto à lógica, sempre me impressionou sua capacidade de construir novas e coerentes regras para jogos cujas regras lhe desagradavam (em geral por expor sua incapacidade de lê-las). Quando se defende contra a depressão e funciona na condição maníaca, pode ocorrer falta de lógica: subir no armário, voar, pular do 6 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 alto do armário no sofá; jogar objetos nas pás do ventilador, etc. Todas as ações remetem, no entanto, a uma outra lógica: a do inconsciente. No que se refere às relações sociais, a avaliação da psicóloga O.G. Rodrigues se encontra em maior sintonia com o que se observa na análise. Entretanto, suas observações de que Klaus “perde e ganha sem problemas”, “aceita regras e limites”, podem se verificar muito flexíveis no contexto analítico. É, de longe, a questão do limite a mais espinhosa para Klaus, como se observou em outro ponto deste trabalho. Raramente ele passa uma sessão inteira, sem sofrer ou se aborrecer por “perder” nos jogos e brincadeiras (dama, dominó, batalha espacial, etc.). Na fase final dos testes, realizados pelas psicopedagogas, a mãe biológica solicitou a retirada da criança desse importante suporte. Análise de crianças Na clínica de orientação kleiniana, o essencial, dirá Silvia Valladares, é o trabalho com as emoções, com o sofrimento. E manejar a transferência é possibilitar a expressão dessas emoções e dar-lhes sentido, de modo a tornar possível, para o paciente, o aprender com a experiência (VALLADARES, 2003). Pós-kleiniano, Bion avançará esses aspectos da técnica, propondo a necessidade de reverie3 para a eficácia do par analítico (VALLADARES, 2003). Em O estádio do espelho (1936) e em A Família (1938) texto do qual vários conceitos serão revistos ao longo de sua obra, Lacan analisa a estreita relação entre a instituição familiar e a constituição ou a estruturação subjetiva do sujeito humano. Ele demonstra, por um caminho diverso do de Winnicott, como é que tudo “começa em casa”: ao Real do corpo, a mãe irá trazer o Imaginário e o Simbólico que – em nome do Pai, introduzirão o bebê na ordem familiar e no mundo da cultura. Os registros do Imaginário e do Simbólico e a categoria do Real foram sistematizados por Jacques Lacan. Em seu Seminário 22, R.S.I. réel 3 “Reverie” é o estado mental que está aberto à recepção de qualquer “objeto” vindo do objeto amado e é portanto, capaz de receber as identificações projetivas do bebê, sejam elas sentidas como boas ou más”. 7 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 symbolique, imaginaire, cerne de sua teoria, com a releitura de toda a obra de Freud, é uma contribuição ímpar à teoria freudiana da psicanálise. Em uma simplificação razoável, se pode dizer que o real é um elemento da exterioridade que, ao tocar o sujeito, escapa à produção significante e, a partir dessa impossibilidade, produz no sujeito um efeito de sideração; não se inscreve senão como marcas, efeitos desse estranhamento na subjetividade. Esse corpo estranho não é nomeável. “Um elemento da exterioridade permanece no Real quando – ao tocar o sujeito – escapa à produção significante (RUFFINO, 1993).” Ou “o Real é a terceira dimensão, o que faz com que r. s. i. façam 3” (Lacan, Apud, PORGE). O imaginário, pode ser dito um elemento que, vindo de fora, se oferece enquanto imagem. “Um elemento da exterioridade será pertinente ao Imaginário no instante em que se oferecer enquanto figura representacional (RUFFINO, 1993).” O simbólico pode ser descrito como um elemento da exterioridade que, ao tocar o sujeito, o produz, determina, ou sustenta e o altera em sua subjetividade. Rodolfo Ruffino diz ainda que “o simbólico se interpõe, como se fosse um pacto, em posição terceira, como mediação reguladora entre o sujeito e tudo aquilo que ele confronta. Ele comparece em forma de lei que interdita, mas igualmente possibilita e sustenta a subjetividade (RUFFINO, 1993).” É a ordem lógica de várias funções e operações próprias do sujeito humano. “O simbólico está em terceiro, numa relação de objetos constituídos pela relação imaginária. O atributo da efetividade é expresso pelo simbólico e o real. A ordem simbólica: Lei, cultura. Quando a criança brinca e simboliza, ela tem no brinquedo sua linguagem, seu modo de estar no mundo, ela metaforiza sua inserção na família, na escola, na cultura. No brincar, a criança em sofrimento psíquico deixa falar seu inconsciente, expressa suas dificuldades ou sua impossibilidade de lidar com a frustração e de aceitar limites. E, em psicanálise, o que faz limite Bion, Apud Edna O’Shaughnessy, “A teoria do pensar em Bion e novas técnicas em análise de crianças”, Melanie Klein Hoje, Vol. 2, Rio de Janeiro, Imago, 1990. 8 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 é a função paterna, vetorizada pela função materna. Nome-do-pai, Lei, limites são outras formas de dizer da ordem simbólica (CORIAT, 1990). Mesmo submetida à lei simbólica, uma filiação que “se quebra, se rompe ou se ignora” é um fator que põe em risco a criança. Ao final da substituição metafórica, o pai passa a ser referido ao falo pela criança, enquanto objeto do desejo da mãe. É apenas nessa medida que o Pai real foi investido como Pai simbólico, pela mediação do Pai imaginário. Daí por diante, toda referência ao pai está associada ao desejo da mãe; é apenas um puro significante, o primeiro significante introduzido na simbolização, isto é, o significante materno: é esta a função do pai no complexo de Édipo (DOR, 1991). Se o mecanismo cujo objetivo é manter afastado da consciência todo representante da pulsão que poderá provocar mal-estar ao eu – o recalque primário – fracassa, a imagem deixa de exercer o efeito formativo do tempo inaugural do ser, que é unificante, tornando-se abusivamente alienante. O bebê fica, assim, exposto ao risco das micro-forclusões nas neuroses ou de forclusões nas psicoses (MOLINA, 2001). Essas são questões preliminares ao problema do sintoma e da transferência, na infância. A Transferência na infância Françoise Dolto, em No Jogo do Desejo, observa – na análise de crianças - o modo como desenhos e modelagens equivalem a associações livres, testemunhas adjacentes da vivência transferencial (DOLTO, 1984). Em A Família (1938), Jacques Lacan irá, por sua vez, remeter o sintoma da criança à realidade psíquica do casal parental (LACAN, 1981). Erik Porge afirma que, na criança, a transferência tem um papel diferente do que tem no adulto, pois não substitui uma neurose comum, mas é uma neurose comum que substitui uma neurose de transferência não resolvida. A criança dirige sua neurose de transferência a “qualquer objeto parental próximo: o pai, a mãe, um irmão, uma irmã...”. Ele acrescenta: “A neurose de transferência eclode diante de quem não mais sustenta a transferência da criança, nas ocasiões, bem freqüentes, de uma mudança de lugar na família, por nascimento ou morte”. Isso ocorrerá 9 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 no momento em que os pais deixam de sustentar o lugar de sujeito suposto saber . Para Porge, o limite do papel do analista, na análise de criança, está na sua possibilidade de restabelecer a transferência posta à prova no romance familiar. Só assim é pensável o fim da análise da criança (PORGE, 1995)”. Sintoma Sintomas são produções do inconsciente e ocorrem quando alguma função do corpo passou por alguma modificação inusitada ou quando uma nova manifestação surge desta. Por exemplo, a função sexual, a função de estudar e aprender podem ser perturbadas pelo sintoma. Ele vem no lugar de algo que não aconteceu. O que não aconteceu é o que foi recalcado: a não satisfação da pulsão. O recalcamento é a pré-condição da manifestação do sintoma. O sintoma neurótico é uma formação de compromisso, na medida em que, sendo o retorno de uma satisfação pulsional, sexual, há muito recalcada, nele se exprime também o recalque (FREUD, [1916-17] 1976). Para Lacan, o sintoma é produzido no simbólico e realizado no Real. No caso do sintoma da criança, Lacan dirá que ele não é mais do que o representante de três verdades: a verdade do casal parental, a verdade do fantasma da mãe, e aquela de seu desejo quando seu filho encarna o objeto (Apud JERUSALINSKY, 1999). É dessa realização do sintoma no Real que nos fala Jerusalinsky (na perversão, o que é negado é também afirmado, e retorna no simbólico como fetiche, sendo o objeto o falo) quando, no caso clínico da menina Alice, afirma que quando o significante fica capturado no real da imagem, a insuficiência do sujeito infantil faz-se carne. Emerge, então, o corpo sem saber próprio do symptôme ou do sintoma clínico, lugar infantil de detenção e retorno, onde o sujeito se enuvia (JERUSALINSKY, 1997). No Seminário De um Outro ao outro (1969) Lacan dá a seguinte definição de perversão: “perversão é se fazer objeto a serviço do gozo do outro”, negando que o perverso só pense em seu próprio gozo” (JULIEN, 2002). No campo da neurose, o recalque faz com que o que é negado no simbólico retorne no próprio simbólico, enquanto sintoma, como sendo o objeto do desejo do Outro. 10 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 O sintoma pode ter como expressão a restrição de certas funções do corpo, mas tal restrição pode ocorrer também em função da inibição, que é, diz Freud, a “expressão de uma restrição de uma função do ego” (FREUD, 1926). Para Lacan, a inibição é produzida no imaginário e realizada no simbólico. Sintoma de infância e estrutura subjetiva Como vimos em Melanie Klein (KLEIN, [1955], 1991) ao brincar, a criança deixar falar seu inconsciente, uma vez que é através da brincadeira, do jogo, que a criança se apropria dos significantes que a marcaram (CORIAT, 1990). Daí ser também o brincar um instrumento chave na produção de um sujeito desejante. Jerusalinsky, acima citado, refere três variantes que apontam para três posições do sintoma de estrutura ou sinthome: quando a criança simboliza, o brincar é a realidade (na neurose); a criança fica capturada no imaginário, quando a realidade é o brincar (na psicose); a criança fica no registro do real: não há brincadeira, nem há realidade (no autismo) ou na insuficiência. Como se pode observar, com alguma freqüência, na clínica, os sintomas são o resultado do lugar que a criança ocupa para o casal parental. E em alguns casos, Coriat considera indispensável o trabalho também com os pais, no tratamento psicanalítico da criança (CORIAT, 1990). Se o brincar é a linguagem preferencial da criança, é através dele que se pode desatar o nó do sintoma. “(...) O sintoma se resolve inteiro numa análise da linguagem, porque ele é linguagem, da qual a palavra deve ser liberta” (LACAN, 1953, “Relatório de Roma”; Apud, Joel Dor, Estruturas e clínica psicanalítica). Assim, escutar a criança que brinca, em análise, desenvolver a capacidade de reverie, permitindo o surgimento do par analítico (BION), dá à brincadeira seu valor de linguagem. Como o viu Klein, o jogo é o verdadeiro trabalho da criança, modo de representar suas fantasias, mesmo as mais arcaicas, e que lhe permite controlar a angústia e elaborar os conflitos (FERRO, 1995), é por isso que, é pelo brincar que se pode desatar o nó do sintoma. A EXPERIÊNCIA CLÍNICA 11 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 Primeira sessão, de 11 de setembro de 2001 Na primeira sessão, Klaus narra a história do Rei Leão: “Rei Leão, o pai dele tinha morrido, aí a mãe pegou, reuniu todos os bichos da selva e falou: o rei leão morreu. Aí tinha um tio que era muito ruim e a mãe morreu também. O hipopótamo, ele e o amigo gostavam de comer bichinhos”. Pergunto-lhe e ele enumera com precisão, para incluir: “Gosto de números, do número 3, qualquer número. E termina a enumeração das coisas de que gosta dizendo: “eu não sei ler” Sua expressão era como se me dissesse: mas não se iluda, veja o que há de errado comigo: “eu não sei ler!”. Diz também gostar do irmão e da mãe biológica. Então eu lhe pergunto: Em que você acha que eu posso ajuda-lo? E ele repete: “Eu não sei ler” e acrescenta: “Você pode me ajudar a aprender, ler, escrever”. Quando lhe pergunto: E sua casa? Ele se vê remetido à casa da família social e cheio de constrangimento me diz que tia Alzira é sua “mãe social” e me pergunta se eu sei o que é isso: “mãe social?”, repete. Eu respondo que não sei e pergunto se há também “pai social” Durante todo o tempo ele está ocupado em descobrir a sala, os brinquedos, as gavetas, o armário e termina me propondo: “Por que a gente não faz uma brincadeira? Você é o Piu piu e eu sou o Frajola. Frajola gosta de pegar o Piu piu e aí o Piu piu não gosta.” Fim da sessão. Leitura do caso clínico, a partir da primeira sessão O Rei Leão, filme de Walt Disney, de 1988, fala da questão da transmissão entre gerações, do cuidado do pai na educação de seu filho, do carinho da mãe com o bebê, do ciúme do irmão mais novo, da maldade do tio que trai o irmão mais velho - o rei - e o sobrinho, da importância dos laços de amizade, de culpa e da coragem para enfrentar o desconhecido. Esses são aspectos relevantes na história pessoal de Klaus. No filme a mãe não morre, nem tampouco anuncia aos bichos reunidos que o “rei Leão morreu”; esses dois aspectos não deixam, contudo, de revelar desejos inconscientes de Klaus. A história abre assim a possibilidade para a realização de desejo, como um sonho de criança. “Um sonho de uma criança, dirá Freud, é uma reação a uma experiência do dia precedente, a qual deixou atrás de si uma mágoa, um anelo, 12 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 um desejo que não foi satisfeito. O sonho proporciona uma satisfação direta, indisfarçada, desse desejo (FREUD, 1915-16)”. Em seu relato do filme, ele expressa ansiedades e desejos, por exemplo, o desejo de um pai, que – como no filme – anunciasse à família e aos amigos o nascimento de seu herdeiro. Ora, em uma das versões que faz da mesma história, diz: “Rei Leão morreu em 92, e as três namoradas contaram para todos os bichos”; lembre-se que Klaus nasceu em 93. Quando a mãe informa os bichos que o pai morreu, ela o situa numa filiação, e o situa também na ordem social, com sua particularidade. Esta é a mãe cujos segredos corporais Klaus busca freneticamente conhecer, abrindo gavetas, entrando no armário, tentando abrir minha bolsa à procura de balinha e comida. A representação masculina, persecutória na narrativa do filme, nos faz lembrar os avatares pelos quais passa a figura paterna na vida de Klaus. Dona Marta não entende os problemas de comportamento desviante do filho, ao qual ela “não deixa faltar nada”. Mas, a perseguição masculina evoca ainda “o tio ruim”, tão presente em suas histórias, suas queixas após a passagem pelo CRT- Centro de Recrutamento e Triagem, as angústias geradas por acontecimentos traumáticos na Instituição, onde as crianças menores correm riscos face aos adolescentes mais velhos ou a adultos. É Winnicott que chama a atenção para o fato de que numa instituição que acolhe crianças e adolescentes difíceis, os jovens que impedem que outros se beneficiem de ajuda e tratamento deveriam ser afastados, para outro tipo de instituição, pelo bem da maioria (Winnicott 1961). Impasses da aprendizagem Klaus freqüentou a creche até os 6 anos, quando foi para a Escola Pública. De um modo geral, as crianças saem desta creche alfabetizados, o que não ocorreu com ele. Ao iniciar o tratamento, Klaus estava repetindo a Primeira Série do Ensino Fundamental e continuava analfabeto e sem acesso à aritmética. Em seu artigo “A organização das construções cognitivas a partir da constituição subjetiva”, Sílvia Eugenia Molina se interroga sobre o que a psicanálise infantil nos aporta para entender “o que possibilita que uma criança 13 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 aprenda ou não”. Uma questão fundamental em suas argumentações é o modo como foi constituída a cena edípica primordial, e como ocorreu o recalcamento. É quase certo que os cuidados maternos primários recebidos da madrinha, durante 21 meses, tenham garantido a Klaus o acesso à ordem simbólica. Vêse que a função paterna não parece ter funcionado como reguladora da relação mãe-filho, senão de um modo deficitário, sobretudo após os dois anos. É possível que este seja um caso onde Klaus tomou o Nome-do-Pai, mas não tomou o Édipo, “quer dizer que a diferença de sexo e de gerações existe para ele, mas não tem objeto”, gerando o que Jean Jacques Rassial denomina “estado de não escolha”. O recalcamento “cumpre função representativa e ativa, nas instâncias inconscientes e pré-conscientes da estruturação subjetiva; a partir daí se diferenciará o conhecimento como patrimônio do ego, permitindo as relações da criança com a realidade e, em conseqüência, com a cultura” (MOLINA, 1995). De fato, a aprendizagem é um processo lógico, que não permite queimar etapas. Após a radicalidade dos dezoito primeiros meses, nos quais a criança organiza sua inteligência sensório-motora, ela é lançada no que Piaget chamou de “revolução copérnica”, que começa com a linguagem e vai até os sete ou oito anos. Durante esse importante período Klaus irá enfrentar terríveis dificuldades para se subordinar à Lei e aos valores culturais: é quando ele é objeto de uma regular violência doméstica, plenamente assumida por sua mãe. No caso Klaus, os sintomas clínicos apontam um empobrecimento do Simbólico. Inicialmente, a dificuldade de aprender a ler e a escrever e dominar as operações aritméticas básicas, situou a criança em posição desconfortável na sala de aula, e a excluiu de um considerável número de atividades. Seus jogos e brincadeiras preferidos eram – no início - mais adequados a crianças entre três e cinco anos. A condição de iletrado gerou também um tratamento diferenciado e negativo, entre os irmãos sociais. Sua produção simbólica revela um superego feroz, com muita culpa. Verifica-se um empobrecimento do Imaginário, a falta de preparo dos adultos para lidar com as limitações da criança, desde os dois anos, expõemna a conflitos identificatórios, levam-na à inibição de sua capacidade criadora e reduzem seu mundo Imaginário, seus desenhos revelam muita inibição. Sua 14 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 possibilidade de sonhar se vê comprometida por fantasias de traição e engano: “não vou ser médico porque se o doente morrer, vão me prender”, etc. Não pergunta o nome do tio, porque se perguntar “vão me enganar”, enfim. Há um funcionamento persecutório face à busca de conhecimento. Um comportamento desviante, marcado por uma agressividade não controlada, acarreta rejeição da criança pela família, pelo grupo de pares, dentre outros agentes sociais, com os quais convive; a criança desenvolve um sentimento persecutório, sugerindo a primazia do Real. Esta primazia é também sugerida pela freqüência com que – tanto em análise – quanto nas situações externas, ele funciona na posição esquizo-paranóide, por não tolerar frustrações. Curiosamente, é na sala de aula onde é Klaus mais sociável e raramente agressivo, contra terceiros. Lembre-se que as características acima descritas, foram sensivelmente alteradas, no curso da análise. As crises de agressividade de Klaus, ocorreram de modo cada vez mais raro. Isso não significa que ele obteria por isso, maior tolerância. Pelo contrário. O aumento da idade, faz – e é normal – aumentar a exigência de adequação social e inversamente, reduzir a compreensão dos desvios. Registre-se que a sociedade tem plenamente razão ao punir o desrespeito aos limites que a harmonia social requer. A direção da escola, o motorista do ônibus, a professora na sala de aula, os pais sociais, todos, investidos de suas responsabilidades – em princípio – ajudam a criança a se relacionar com o mundo externo, de modo sociável. Após 18 meses de análise, Klaus foi eleito representante de turma, pela sua cordialidade, interesse pelos colegas, afabilidade. Foi o ano em que aprendeu a ler. Um acontecimento infeliz – um ato de agressão física contra uma professora - em julho, levou-a a ser transferido de uma escola comum, para uma escola voltada para crianças com necessidades especiais (do ponto de vista físico ou cognitivo). Seu estado alterado pareceria relacionado com o fato de a sua mãe social, com quem mantinha então ótima relação, ter abandonado sua família social, sem aviso prévio e sem explicações. O episódio funesto - sua crise de agressividade - ocorreu no dia seguinte, durante o recreio. 15 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 Contexto familiar do paciente Dona Marta, diz que nunca foi amada, e que saiu de casa, aos quatorze anos, “porque não queria atrapalhar a vida da mãe com o padrasto”. Mãe solteira, não se perdoou pelo que considerou ser “o seu maior erro na vida”. Sua questão perde também a borda, e transborda, inundando seu filho, e talvez, inundando seus filhos. É devido a esse transbordamento, que se pode supor a insuficiência das funções parentais. É por caminhos como esse que a criança é dita ter sintomas que dizem a verdade do casal parental. “Nunca chamei ninguém de pai - dirá dona Marta - acho que pai é uma palavra que só se deve dizer quando necessário”. E, sem o perceber, proíbe que o seu filho venha a chamar alguém de pai. Assim, a palavra “pai”, mesmo que “desconhecido”, se torna necessária, nos contextos formais ou legais, onde finalmente chega, para se ocupar do seu filho, junto às autoridades. Assim, que Klaus acredite “não saber escrever” por inibição, é mais condizente com o caso em exame, sobretudo por se saber o peso da figura materna, quando recobre a função paterna, de modo fálico. Mas, do que se trata, é mesmo do desejo de Klaus, comprometido pela demanda materna. O padrasto, Seu Artur, não se opõe a que a mãe diga ao filho o nome de seu verdadeiro pai. Aproximações teóricas É na relação entre analista e analisando que a situação transferencial mostra toda sua flexível intensidade (amorosa ou destrutiva). Foram freqüentes, no início do tratamento, usando a linguagem da escola inglesa, a identificação projetiva4 maciça onde o analisando coloca dentro do analista aspectos destrutivos que ele não consegue conter. Sua postura corporal durante as sessões foi durante meses, literalmente a de um bebê, embora falasse e fosse bastante comunicativo. Mais tarde, após dez meses de trabalho, começou a permanecer por mais tempo na posição depressiva: 4 O histórico do conceito kleiniano de identificação projetiva, é discutido por Manfredi, que propõe que se pense na análise como sendo uma modificação das relações objetais internas. Produto de uma relação 16 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 começou a desfazer a idealização da figura materna, relatando, de uma única vez, os maus tratos a que fora submetido durante anos. A proposta de brincar que ele é Frajola (o mais forte) e a analista o Piu piu é exemplar de muitas outras situações que expressam onipotência e mascaram um sentimento de pouca valia mas, o essencial, é que tais jogos expressam o desejo de que a analista venha a experimentar e sentir as emoções que o invadem, o que permite nomeá-las e apaziguar suas angústias e temores, tornando-o capaz de pensar e aprender com a experiência. É pelo manejo adequado da transferência que essa ansiedade é trabalhada. De todo modo, a transferência negativa permite o avanço do trabalho e a chegada de questões novas para a análise. Foi no contexto de uma real aproximação de seus pais sociais, que ocorreu uma primeira virada no caso de Klaus (o surgimento do ciúme da mãe social em relação ao pai). Enquanto um filho assumido tem a proteção do julgamento dos pais, mesmo contra a sociedade, uma criança rejeitada pelos pais pode se beneficiar de um cuidador, ou de pais adotivos, para o exercício da lei simbólica. Para a criança aceitar as perdas da castração, ela precisa crer que algo de bom advirá no futuro, mas já lhe é dada a prova da existência desse algo, no presente, “o saco de ouro”: “Realização, reconhecimento social, emprego, trabalho, possibilidade de apropriação do que, no discurso social, simboliza o objeto do bem comum (JERUSALINSKY, 2003)”. É o que se verá quando os pais sociais se tornarem confiáveis para a criança e cumprirem a função parental de modo “suficientemente bom” (WINNICOTT, 1951). É curioso observar o modo como os déficits de capacidade, revelados pelo Klaus, apontam para o que Charles Melman, ao falar do sintoma da criança, chamou de auto-proteção da criança, um gesto pelo qual ela se mantém e subsiste na ocultação de uma subjetividade “de certo modo jogada na cara do meio que a cerca (MELMAN, 1997)”. Para Jerusalinsky, é face a uma ambigüidade indecifrável, ou quando ocorre uma hesitação insuportável quanto ao nome que tem no Outro que a criança pode ser levada à interpessoal , na clínica, a identificação projetiva seria “uma manobra realizada no objeto externo real, o qual é levado para vivências especiais, que lhe seriam quase impostas”. (MANFREDI, 1998). 17 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 psicotização ou ao enlouquecimento. Quando esse outro não responde, diz ele, é como se saíssem do “leito do rio” e aprontassem por toda parte: “a correnteza em que está a criança transborda, perde a borda”. Foi observado que quando xingado de ladrãozinho, mendigo, sem pai, sem mãe, Klaus irrompe em crises de agressividade incontroláveis. O padrasto observou a mesma coisa, quando dizem a ele que ele não tem pai. “Ele fica doido”, como disse sua tia, ao pô-lo para fora de casa, trancando a porta. De fato, a situação de Klaus é diferente da maioria das crianças da instituição, que esperam serem adotadas. Ele o que quer é, também, sair da instituição, voltar para sua casa. Assim é que os déficits de capacidade estão freqüentemente voltados, na infância, para a escola e o comportamento, como ocorre no caso em exame. Freqüentemente, as crises de cólera e agressividade de Klaus são desencadeadas por palavras ou ordens que não suportou ouvir dos irmãos sociais, dos colegas ou das professoras, confirmando que “ce qui n’est pas symbolisé, retourne du réel” (Lacan, 1975). O “boiola” que dormia na cama cor de rosa, no quarto dos meninos, o “ladrãozinho” (de brinquedos, cuecas e Reais), o “mendigo” (que sem pai, sem mãe, não tem casa e dorme na rua). Mas é pela idéia de incompletude, de deficiência generalizada, que ele vai assumir esse lugar que tem no Outro: “defi” (redução de “deficiente”) resumindo essas incompletudes. É a partir desse Sn, que seu acesso ao saber se bloqueia, até que ele possa “recordar, repetir, elaborar” (Freud, 1914). O que é semelhante à produção de sua história emocional, por via de incansáveis repetições, até vir a perceber o sentido, o seu lugar próprio nisso. Embora se observe no paciente a inscrição subjetiva do Simbólico, um certo número de formações clínicas, mostra que algo está obstaculizando que, após o fim da crise edipiana, o recalcamento da tendência sexual, a partir desta altura tornada latente, dê lugar a interesses neutros, eminentemente favoráveis às aquisições educativas, como apontava Lacan em A Família. Nesse ponto da pesquisa, pode-se observar a importância dos jogos, brincadeiras, desenhos, colagens, como sendo a linguagem na qual – associando livremente – a criança faz comparecer os significantes que a marcaram. Donde a repetição incansável de tantos jogos, de tantas 18 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 brincadeiras. Esses movimentos são uma oportunidade para a criança aprofundar suas questões, reafirmadas verbalmente, a partir dos mesmos. Klaus criou um personagem, cujo repentino crescimento, no segundo ano de análise, lhe permitiu elaborar aquele momento de seu próprio processo analítico, ou alguns dos seus sintomas, até o momento em que pareceu ter podido dispensar essa fantasia, isto é: uma construção imaginária, que permite a relação com o objeto (JERUSALINSKY, 2003). Graças à espécie de novela que criou para seu personagem, ele passou dos dois aos oito anos, fez todos os aniversários “no mesmo dia”, liberando seu autor para uma relação mais verdadeira consigo mesmo. Retomada ao longo de vários meses, a história durou até umas duas ou três sessões depois de o autor ter-se confundido, claramente, com sua criação. Naquele momento, ele estava, pela primeira vez, entusiasmado com a possibilidade de aprender. Na relação com a professora que estava certa também de que “Klaus não quer pensar”, ele “dormiu nas quatro provas”, de final de ano. Foi dele a frase: “Eu não vou passar de ano, dormi nas quatro provas”. O seu sono era surpreendente e pesado, dissera a professora. Ela não pode acordá-lo. É possível que suas afirmações tenham fundamentação na realidade psíquica de Klaus, naquele momento. Tal fato deu-se no período no qual sua mãe lhe nega – uma vez mais - o acesso à filiação paterna, “ela não quer soltar o segredo”, dirá ele. Não surpreende que esta criança, com tanta privação, “não goste de subtração”. Afinal, ele não teve a possibilidade de desmame, no conforto da reverie materna; ele acreditou ter um pai, que lhe foi “subtraído” aos oito anos etc. Assim, ao dormir nas “quatro provas”, ele se priva da confrontação com o seu “não saber ler” e não saber as questões de matemática, e se esse desconhecimento é insuportável, é pela razão de se opor ao seu desejo. Posso hoje imaginar essas quatro “provas” como os dois casais que com duas famílias completas, não lhe dão direito a um pai e um sobrenome paterno. São provas, como provações, privações. Uma vez que isso é trazido pra a análise e trabalhado, o personagem de Klaus resolve crescer, “aprender, ler e tudo mais”. Tal mudança, sugere que, antes, ele satisfazia o gozo materno. 19 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 Aprender a ler e escrever foi mais uma conquista de Klaus, no sentido de descolamento do desejo materno, contudo ainda lhe é impossível aprender aritmética. Este aspecto é todavia pleno de paradoxos uma vez que, em uma das avaliações de psicopedagogia, foi considerado “rápido em cálculo”, e nos jogos onde comparece aritmética, ora sabe ou não sabe uma mesma coisa. Em julho 2002, pela primeira vez, vejo Klaus escrever, sem qualquer dificuldade e em letra cursiva, a palavra Bola, que corresponde a um objeto muito freqüente em suas brincadeiras. Ele me pede que separe as sílabas, e coloca um “C”, de certo, como o faria um professor. No início do tratamento de Klaus, em 2001, eu confundi um pouco minha função e cheguei a dar-lhe de presente uma pasta com lápis de cor e papel, um caderno de caligrafia (ele só fazia letras maiúsculas) com frases a serem copiadas, e uma tabuada. Ele perdeu logo tudo isso. Em Novembro, 2003, Klaus me perguntou se eu ainda tinha “uma daquelas tabuadas”, pois ele agora estava estudando Matemática, “acima de tudo”. Esse pedido ocorreu na mesma sessão em que ele me contou que fez a Carteira de Identidade. Se, por um lado, ele estava orgulhoso de tê-la dentro da carteira, por outro, parecia envergonhado, não podia mostrá-la. Disse que sua mãe preencheu um formulário onde estava escrito: “pai desconhecido”. O significante pai se repete, freqüentemente, ao longo das mais de oitenta sessões, e começa a sofrer um deslocamento, quando a ele não se segue uma impossibilidade, relativa à aprendizagem, não se segue uma idéia “defi”, mas, ao contrário, a ele se segue um voto em si mesmo, em favor do aprender matemática. Para chegar a esse momento, Klaus tem vivido, em sua análise, situações ora prazerosas, ora difíceis, ora tenebrosas5. Klaus cria histórias, brinca de teatro, desenho, colagens, polícia e ladrão, guerras, guerra do Iraque, quebra-cabeça, adivinhas. Um exemplo interessante de suas adivinhas: “ O 5 Em uma determinada sessão, Klaus pegou vários objetos domésticos da caixa de brinquedos e montou uma cena familiar: uma mesa muito bem posta, com pratos, talheres e alimentos: frango, macarrão, arroz, salada. Pegou um pequeno armário e dentro dele colocou um casal. Depois, em um único gesto jogou toda a mesa posta ao chão e ao retirar o casal, que parecia deitado, dentro do armário, não conseguiu abrir a porta, entrando em pânico horrorizado. Esse pareceu um momento de captura no Imaginário, onde “a realidade é a brincadeira”, um momento psicótico, de prevalência do Real. 20 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 que é o que é, que vem vem e nunca chega?” ou “O que é que vai e volta e não sai do lugar”? Assim, é que chega até esse momento único, no qual ele encontra um continente mais adequado e de significação durável, quando entra na almofada, fecha o zíper por dentro e, com minha ajuda, nasce devagarinho, com expressão de júbilo: “brincar é uma operação clínica em si mesma, brincar que seu próprio devir se constitui como “estruturante” (“Que se juega, cuando jugamos”?). Ele virá, nas duas sessões seguintes, vestido com várias peças: três camisas, cueca e duas calças, como se necessitando de peles protetoras (BICK, 1960) para sua nova condição de recém-nascido: uma nova pele, protegida por várias camadas de tecido macio e que aquecem. Esquecerá, então, um casaco no consultório, indicando que começa a confiar no Outro. Foi possível observar - nesse caso - que a duração de uma análise de criança está bastante dependente da possibilidade de se conversar com os pais ou responsáveis, quando necessário. Considerações finais Conclui-se pela inconsistência das funções parentais (família biológica e família social) como fator decisivo para a permanente instabilidade do paciente. O “pai desconhecido” gera um prejuízo psíquico incomensurável, caracterizando uma criança tipicamente abandonada, embora conte materialmente com sua mãe e seu padrasto. Em um comentário de Susane Rocha de Abreu, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, que ela encerra lembrando a definição de risco dada pelo Aurélio: “risco é a situação em que há probabilidades mais ou menos previsíveis de perda ou ganho”, a autora examina algumas estatísticas da ONU – Organização das Nações Unidas, da OIT – Organização Internacional do Trabalho, e nacionais. Há, diz ela, cerca de um milhão de crianças e adolescentes institucionalizadas, no Brasil. Em pesquisa sobre saúde mental, de crianças e adolescentes, criados em instituições sérias e respeitadas, verificou-se que eles apresentam risco para 21 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 transtornos psiquiátricos, cerca de seis vezes maior, em relação a quem vivia com suas famílias (ABREU, 2002). Assim, é importante que os pais saibam que vale a pena correr o risco do ganho, investindo na saúde mental, na prevenção, na cura, no tratamento e na educação de seus filhos, e isso ninguém pode fazer melhor que uma mãe, e um pai, que assumem, plenamente, a responsabilidade pelo crescimento sadio de seus filhos, ou enteados, ainda que não os amem profundamente. Com a morte anunciada do rei Leão, em uma de suas histórias, Klaus expressa seu desejo de ver-se reconhecido nos laços familiares, ainda que seu pai tenha sido dado como morto. Ao brincar, ao recortar figuras, constrói a triangulação na qual nunca foi situado pela mãe. Esse rombo psíquico, gera uma ferida narcísica, que a criança vem, lentamente, “elaborando” em seu tratamento. Como se verificou, anteriormente, é no brincar que ele poderá vir a dar sentido aos seus sintomas, libertando sua capacidade de abstração, sua criatividade, de modo a poder “aprender”, conforme nos disse na primeira sessão. Talvez, a partir daí, ele se veja melhor preparado, para ir atrás do seu sentido na vida. Nem todos os problemas aqui levantados puderam ser plenamente contemplados e esclarecidos. Observou-se que o estabelecimento do Real, já fazia parte da história médica do paciente, pois se supunha nele alguma deficiência orgânica que o impedisse de aprender a ler. A análise mostrou que as questões subjetivas é que faziam obstáculo à aprendizagem. Nesse sentido, ficaram claros, tanto os efeitos nocivos dos sintomas no que se refere à vida da criança, quanto os benefícios do desatamento de alguns desse nós, por via da análise da linguagem: associações livres, brincadeiras, jogos, etc. Se o que está em jogo na interdisciplina é uma visão global da criança, nesse caso, esse era um esforço necessário, pois foi possível observar sua rica contribuição. Não penso, todavia, que ela seja sempre indispensável, na prática da análise de crianças de crianças. Considerando-se o que, até aqui, se obteve de alívio do sofrimento da criança, com o desaparecimento de vários sintomas, sua alfabetização e o conseqüente aumento de sua auto-confiança, de sua aceitação familiar e 22 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 social, sugiro a utilidade do tratamento psicanalítico para crianças em condições semelhantes. Todavia, é muito cedo para se avaliar as repercussões eventuais desse trabalho. Inclusive porque a manutenção das frágeis conquistas, depende ainda dos contextos sociais (escolar) e familiares (família biológica ou família social). E estamos sempre diante do imprevisível e do desconhecido. Isto é: ajudar tais crianças e adolescentes é aceitar os riscos de lidar com o imprevisível, como o é a própria psicanálise. RESUMEN Como sumario de una investigación más amplia, este trabajo muestra la manera como la insuficiencia de las funciones parentales genera síntomas en el niño, ejemplificando la dificultad de aprendizaje, como causa de sufrimiento psíquico; considera la importancia de la inclusión social y levanta la hipótesis que de los niños en instituciones pueden ser ayudados por el psicoanálisis, devolviendo al niño la capacidad de aprender: pensar, juzgar y actuar. El trabajo concluye sobre la ventaja para el niño, en la situación de riesgo social, de someterla al análisis, o a la psicoterapia infantil psicoanalítica Palabras-llave: niño, aprendizaje, sufrimiento psíquico, riesgo social, funciones parentales. BIBLIOGRAFIA BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. BICK, E. “A experiência da pele em relações arcaicas” (1968). In: Melanie Klein Hoje, Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 1991. DOLTO, F. “Personalogia e imagem do corpo”, In: No jogo do desejo. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 1984. DOR, Joel. “O pai real, o Pai imaginário e o Pai simbólico: a função do pai na dialética edipiana”. In: O pai e sua função em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. FERRO, A. A técnica na psicanálise infantil. A criança e o analista – da relação ao campo emocional. Tradução de Mérica Justum. Rio de Janeiro: Imago, 1995. 228p. 23 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 FREUD, Sigmund. “Os processos primário e secundário- recalcamento”. In: Interpretação dos Sonhos (1900). Rio de Janeiro: Imago, 1987. v.V, p. 534551. _______________ . Tres ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). In: Fragmento da análise de um caso de histeria, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1989. v. VII, p. 118-230. _______________ . Parte III, Teoria Geral das neuroses, Conferência XVII, O sentido dos sintomas (1917 [1916-1917]). In: Conferências introdutórias sobre psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1976.v. XVI, p.305-322. ______________ . Inibições, sintomas e ansiedade (1926 [1925]). In: Um estudo autobiográfico, Inibições sintomas e ansiedade, A questão da análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XX, p. 107201. _____________ . Recordar, repetir, elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II (1914). In: O Caso Schreber e artigos sobre técnica. Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XII, p. 191-203. ______________. Sonhos de crianças Conferência VIII ([1915-1916]). In: Conferências Introdutórias sobre psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XV, p.153-164. JERUSALINSKY, Alfredo (et Al.). Psicanálise e desenvolvimento infantil. Um enfoque transdisciplinar. Porto Alegre: Arts e Ofícios, 1999.318p. Il. JULIEN, Philippe. Mini-curso, As estruturas clínicas, neurose, psicose, perversão. IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE E SUAS CONEXÕES. 2002, Rio de Janeiro: Escola Lacaniana de Psicanálise. Notas manuscritas. KLEIN, Melanie, “A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e significado”, in: Inveja e gratidão e outros trabalhos, 1946-1963, Rio de Janeiro, Imago, 1991. LACAN, Jacques. A família (1938), Lisboa: Assírio e Alvim, 1981. 115p. ______________ . « O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelada na experiência psicanalítica (1949) » In : Escritos, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998. 24 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 _______________. r.s.i, Séminaire 22. Version Chollet, Paris: la Bibliothèque, elp, 1974-75. 199p. MANFREDI, Stefania Turillazzi. As certezas perdidas da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1998. MELMAN, Charles. Sobre a infância do sintoma. In: Neurose infantil versus neurose da criança: as aventuras e desventuras na busca da subjetividade. Salvador: Agalma, 1999. MOLINA, Silvia E. O bebê na sincronia e na diacronia: algumas questões. CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE E CLÍNICA DE BEBÊS. Associação de Psicanálise de Curitiba-PR, 2001. RUFFINO, Rodolpho. Sobre o lugar da adolescência na teoria do sujeito. In: RAPPAPORT, Clara Regina (Coord.). Adolescência: abordagem psicanalítica. São Paulo: EPU, 1993. P. 25-57. SEMINÁRIO CLÍNICO COM BION. “Bion – Dez anos de Ausência”. Revista IDE, N. 8, 1989.P.4-11. VALLADARES, Silvia Regadas de Moraes. SEMINÁRIO PSICOTERAPIA INFANTIL PSICANALÍTICA. DE FORMAÇÃO EM Brasília-DF, Instituto de Psicanálise Virgínia Leone Bicudo, 2003. Notas Manuscritas. WINNICOTT, D.W. Privação e Delinqüência (1961). São Paulo: Martins, 1999. _______________ . Comentários sobre o Report of the Committee on Punishment in Prison and Borstals (1961). In: Privação e Delinqüência, São Paulo: Martins, 1999. P. 229-236. ________________ . O brincar e a realidade. Rio de janeiro: Imago, 1975. 203p. Periódicos ABREU, Susane Rocha de. Crianças e adolescentes em situação de risco no Brasil. Revista brasileira de psiquiatria, 24 (1) p. 5-6, 2002. CORIAT, Elsa. O objeto do especialista. Escritos da criança, POA, 13, p. 2337, 1990. PAEZ, Estella M.C. de e ENRIGHT, P. ? Que se juega cuando jugamos ?: La intervención diagnóstica en la clínica de la Psico-Pedagogia Inicial. Escritos de la Infancia, 7, Buenos Aires: F.E.P.I. Centro Lydia Coriat. S.d. 25 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 JERUSALINSKY, Alfredo. La infancia sin fin. Revista de psicoanalysis com niños y adolescentes. Buenos Aires, 1990. JERUSALINSKY, Alfredo. Quando começa a transferência na infância? In: Seminário I. Lugar de Vida. São Paulo: USP, 2001, p.69-87. ______________________ . Atualidade e vigência do complexo de Édipo. Porto Alegre: APOA, 2002. 101. ______________________ . Sintomas de Infância. APOA. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 13 [? ]. p.7-14. _____________________ Quantos terapeutas para cada criança? Escritos da criança. Porto Alegre, 5, Centro Lydia Coriat, 1998. [Edição comemorativa aos 20 anos do Centro Lydia Coriat de Porto Alegre, 1998].p.30-47. LAMPHREAR VS. The Impact of maltreatment on children’s psychosocial adjustment: a review of the research. Child Abuse Neglt, 9, p. 251-63, 1989. MOLINA, S. E. (2001). “O bebê na sintonia e na diacronia: algumas questões”, Trabalho apresentado no CONGRESSO INTERNACIONAL DE BEBÊS, DE PSICANÁLISE E CLÍNICA promovido pela Associação de Psicanálise de Curitiba de 6 a 9/6, Curitiba-PR ______________ (1995). “O sujeito cognoscente e a aprendizagem”, Porto Alegre, Revista da Associação Psicanalítia de Porto Alegre, APPOA, 16, 1995. PORGE, Erik. “Os bastidores da transferência”. Am (a) relinhas, Revista do Departamento de Psicanálise de crianças da Biblioteca freudiana de Curitiba – Centro de Trabalho em Psicanálise, Ano II, 2, 1995. RASSIAL, Jean Jacques. Psicose na adolescência. Escritos da criança 2ª. Edição. Porto Alegre, 4, Centro Lydia Coriat, 2001. P.80-96. REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Saúde mental e direitos humanos. Editorial. 24 (1), p. 3-4, São Paulo, 2002. WISDOM, CS. The cycle of violence. Science, 244, p.160-6, 1989. Jornais MAJOR, René. Entrevista a Leneide Duarte-Plon. Folha de São Paulo. São Paulo, 12 out. 2003. “O inconsciente sociopolítico”. 26 Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006 Obras de Referência CHEMAMA, Roland (Org.). Dicionário de Psicanálise; Tradução Francisco Franke Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. KAUFMANN, Pierre (Ed.). Dicionário enciclopédico de psicanálise: legado de Freud e Lacan. o Tradução Vera Ribeiro, Maria Luiza X. Borges. Consultoria Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. ROUDINESCO, Elisabeth, PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Tradução Vera Ribeiro, Lucy Magalhães. Supervisão da edição brasileira Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. Vídeo ELISABETH ROUDINESCO. Programa Roda Viva. Entrevistadores: Mônica Teixeira, Carlos Guilherme Motta, Renato Mezan, Mário Eduardo Costa Pinto, Luis Tenório de O. Lima, Artur Nestrovski. Mediador: Paulo Markun. São Paulo: TV Cultura, Fundação Padre Anchieta, 1999. VHS, 1H50’. 27