sem pensar nas conseqüências ao meio ambiente. E

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Desenvolvimento ou regresso?
Uma reflexão sobre a construção de hidrelétricas na Amazônia e seus impactos e conflitos
socioambientais
Por muito tempo, o Brasil foi um país que pensou no desenvolvimento - com a construção de
usinas hidrelétricas, gasodutos, oleodutos, rodovias, aproveitamento turístico e a expansão
agrícola – sem pensar nas conseqüências ao meio ambiente. E, apesar dos avanços, continua
cometendo erros primários. Não devemos ser contra o progresso, e sim lembrar que ele deve
vir sempre acompanhado de responsabilidade e respeito à natureza e ao ser humano. Caso
contrário, os desdobramentos advindos desse processo desordenado podem resultar em um
tiro no próprio pé.
Ao se destruir os recursos naturais, além de se provocar desastres ecológicos como enchentes
(como as que vimos recentemente em vários estados), efeito estufa e extinção de animais,
outras conseqüências, menos colocadas na mídia, porém não menos importantes também são
devastadoras: acaba-se com o potencial turístico da região, prejudica-se as comunidades locais
que vivem da agricultura de subsistência e, em alguns casos, desrespeita-se o direito dos povos
indígenas à posse de suas terras.
Atualmente, a maior polêmica está concentrada na construção de complexos hidrelétricos na
Amazônia, a maior riqueza natural do país. A construção das hidrelétricas de Santo Antônio e
Jirau, no Rio Madeira/ RO, e de Belo Monte, no Xingu/ PA irá gerar um grande impacto e
desequilíbrio ambiental, como a devastação da floresta – não somente com a construção em
si, mas também pelo grande número de habitantes que deve se estabelecer nesses locais e,
conseqüentemente, abrir estradas, construir casas e infra-estrutura em geral - e a escassez de
peixes nos afluentes dos rios, por afetar diretamente a população local, que sobrevive
principalmente da pesca.
Além disso, o projeto hidrelétrico do Rio Madeira não considera a presença de povos indígenas
isolados que habitam o local, apesar da ciência do governo sobre o caso. Além de terem suas
terras devastadas, eles devem sofrer com as doenças trazidas pelos “brancos”, diante das
quais estes povos possuem baixa imunidade e, no passado, provocaram inúmeras mortes.
Já o projeto de Belo Monte promete trazer cerca de 20 mil empregos para a região. Porém,
existem hoje 19 mil pessoas desempregadas e mais 200 mil pessoas estão migrando para o
Xingu, em busca de trabalho. Isto é, mais pessoas se concentrarão em uma região em situação
de vulnerabilidade e não há uma perspectiva de incluir socialmente a população.
O Brasil tem um histórico de erros que foram cometidos em nome do “progresso”. É preciso
acordar para alternativas de geração de energia sustentável, que são possíveis de serem
implantadas. Avançamos com a criação do biodiesel, por que não avançar também quando se
fala em energia elétrica? Divulga-se tanto que o país tem reduzido as iniqüidades sociais.
Então, por que não ouvir as comunidades locais, ao invés de impor um projeto que afetará
diretamente a vida destas pessoas? Devemos lembrar que colhemos o que plantamos e cuidar
das nossas florestas é garantir um futuro melhor para nós mesmos e para as próximas
gerações.
A Amazônia é uma das maiores riquezas do nosso país, admirada mundialmente. É nosso
dever primar pela sua preservação e pela cultura e valores do seu povo, que tanto tem a nos
ensinar. Continuarei lutando para dar voz aos povos indígenas, à população ribeirinha, aos
camponeses, extrativistas e a toda população da Amazônia. Esse deve ser um compromisso de
todos: governo, mídia e sociedade.
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