Maria Helena Primon lema Pes-graduaCao/USP 1. lNTRODUCAo

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Maria Helena Primon lema
Pes-graduaCao/USP
1. lNTRODUCAo
Embora a lingua inglesa seja amplamente difundida
a
ponto de "respirarmos· ingles por todas as partes, de inUmerros estudos terem e estarem sendo feitos, de as gramaticas s~
rem cada vez mais completas, da variedade de dicionarios, alguns aspectos lingaisticos merecem ainda urnestudo mais aprofundado, seja para sua melhor compreensao, para a facilitacao
da vida do usuario da lingua, seja porque tais estudos ainda
nao esgotaram 0 tema.
Urndesses aspectos diz respeito aos phrasal verbs, paE
te essencial da lingua inglesa, em especial da modalidade oral
constituida de uma base verbal e uma particula, que pode ser
adverbial (make up , give in, put down), preposicional (look
after, go for) ou ambas (put up with / away with). Sao consideradas unidades por assim se comportarem tanto sintatica
/
quanta semanticamente. Sintaticamente, pois pedem complemen tos como qualquer outro verbo da lingua; semanticamente, porque seu significado nao pode ser depreendido a partir do significado das partes, mas da unidade como urn todo. sao, portag
to, unidades complexas.
Nesta perspectiva, pretendemos estudar problemas q~~ I
estas estruturas acarretam para 0 ensino, propor alternativas
possiveis e, urnobjetivo mais ambicioso, comparar duas lin
guas de acordo com os procedimentos da Teoria Gramatical. Entretanto, este trabalho, dados os limites, restringir-se-a
a
revisar 0 tratamento de tais unidades em algumas gramaticas /
pedagegicas disponiveis, e na gramatica de Quirk (1985).
2. AS GRAMATlCAS PEDAGeGlCAS E 0 MODELO DE QUIRK
As gramaticas pedagegicas do ingles pouco fazem alem
de dar algumas definicoes e regras de uso.
Thomson (1986) detem-se em dizer que colocar preposicoes ou adverbios apes alguns verbos se faz para obter uma va
riedade de significados, mas nao vai alem disso. Divide
as
combinacoes em transitivas e intransitivas e faz uma listagem
de alguns exemplos.
Uma das mais difundidas grmaticas, a de Swan (1984)
classifica os phrasal verbs em transitivos e intransitivos,nao
mencionando que tipo de verba ou de particula seria mais adequada. Sobre 0 significado, diz aoenas que em alguns casos 0
verbo man tern seu sentido e que a particu1a funciona como
urn
intensificador (break up, tire out, etc). Em outros casos, a
combinacao ternurn significado bastante diferente do de suas /
partes: ~ive up (; surrender), ou seja, combinacoes
cujo
significado e literal e outras cujo significado e idiomatico.
De qualquer forma, diz sobre os idiomaticos: 0 unico modo de
depreender seu significado e consu1tando 0 dicionario.
Graver (1989), em poucas limhas, refere-se ao significado dos phrasal verbs como nao podendo ser previsto partin do-se dos constituintes. Sobre sua sintaxe, 0 autor nada diz;
o que, alias, as tres gramaticas vistas tambem nao fazem: nao
levam em conta as relacoes sintaticas qundo buscam defunir /
tais unidades.
t neste ponto que Quirk (1985) se diferencia. Ele
se
apoiara em conceitos como complementacao e coesao para explicar tal fenomeno da lingua
Para 0 autor, esta e amis urna questao de complementa cao, a qual define como sendo "a parte de urn sintagma ou oracao que segue a palavra e completa a especificacao da relacao
de sentido que implica tal pa1avra" (id.ibid: 1150) item
lexical. Para e1e, tal nocao e fundamental para se entender a
lingua, tanto que os verbos sac c1assificados de acordo
com
sua complementacao (transitivo, intransitivo, copular, etc).
Sobre coesao, 0 autor se vale do conceito proposto por
Halliday & Hasan (1976); embora os autores considerem tal co£
ceito como semantico, Quirk afirma que existem sinais sintaticos de coesao. para aqueles, a coesao "ocorre quando a in terpretacao de a1gum elemento no discurso e dependente de outro e1emento" (1976:4); para Quirk coesao e sinonimo de idiomaticidade, pois 0 significado da forma nao pode ser previsto
das partes. Quando se terna forma give up, 0 que a diferencia
de outras possibilidades da lingua e que nao adianta quebrarmos a unidade, nao depreenderemos seu significado assim,
ou
seja, give + up isolados nao resultam em give up (;surrender).
t, portanto, uma forma coesa, logo, idiomatica.
Quanto aos phrasal verbs, Quirk divide-os
em intransi,
tivos (Tipo I) e transitivos (Tipo II). A respeito do Tipo I,
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e
formado de um verbo mais uma particula adverbial; seu uso e
normalmente informal, com a particula funcionando como um adjunto do predicado. (Ex.: The plane has taken off). Sobre
0
Tipo II, sao assim chamados transitivos por pedirem um objeto
direto como complementador; podendo a particula preceder
ou
nao 0 objeto direto (Ex.: They turned on the light ou
They
turned the light off).
Quirk baseia suas comparacoes sobremaneira nas free /
combinations, combinacoes livres da lingua que nao funcionam
como multi-word verbs.
Diz ele que os phrasal verbs devem ser distintos lexicalmente das free combinations sintaticas. segundo 0 autor
uma expressao altamente idiomatica (coesa) nao suporta tal v~
riacao, pois as duas unidades fundem-se numa so que nao permi
te substituicoes individuais. Entretanto, ha casos nao muito
claros entre os dois extremos (free combinations e phrasal
verbs), mas apenas um nUmero limitado, do qual e possivel ex
trair-se um exemplo semi-idiomatico (Turn on the light).
Com 0 Tipo II dos phrasal verbs nao ha metodo totalmente eficaz de se testar a coesao (idiomaticidade) atraves
da
colocacao da particula antes do sujeito, algo que nem sempre
e possivel com as free combinations. Urnoutro teste de inde pendencia (nao-coesao = nao-idiomatico), e a insercao de
urn
adverbio antes da particula. Este ultimo e um teste que pode
selecionar a combinacao nao-idiomatica, embora algumas combin~
coes deste grupo nao permitam facilmente a possibilidade de c£
locacao de uma particula apos 0 objeto, exceto se ele for
urn
pronome.
A fixacao da ordem SVAO (sujeito-verbo-adjunto-objeto)
tende a ocorrer onde ha forte idiomaticidade (freqden~emente
estabelecendo a diferenca entre metaforico e literal) entre 0
phrasal verb e 0 objeto. Em adicao, a particula nao pode ser
colocada normalmente apos uma oracao-objeto (clausal object) ,
tal como a oracao em -ing, mesmo quando reduzida. (*She gave
trying up). Paralelamente, alguns phrasal verbs nao permitem
a colocacao da particula antes do objeto. Em alguns casos, a
ordem SVAO e provavelmente evitada por causa da ambigdidade
pois tambem a ordem tende a ser fixrda pela convencao idiom!
tica. Propoe, ainda alguns meios de reconhimento dos phrasal
verbs:
- a inabilidade de movimento da particula para uma posicao an
terior ao sintagma nominal (She called her friends on).
- tonicidade (The light was switched ON). Entretanto, tal c~~
terio nao e confiavel, pois preposicoes como across, over
e
without recebem a tonicidade, e outros fatores podem afetar 0
posicionamento do nucleo.
- quando 0 sintagma nominal precedente ao verbo e urn pronome
pessoal, 0 objeto direto segue a particula (They called
him
up) •
- urn adverbio (funcionando como adjunto) nao pode ser inserido entre 0 verba e a particula (* They called anqrily the dea~
- a particula do phrasal verb nao pode preceder urn pronome relativo no inicio de uma oracao relativa (*The man up whom they
called) •
- da mesma forma, a particula do phrasal verb nao pode preceder urna palav~a interrogativa no inicio de uma.oracao-wh (*Up
which man did they call?).
Quirk ainda agrupa urn outro tipo, 0 dos phrasal
/
prepositional verbs, assim chamados por serem combinacoes
de
verba + particula adverbial + particula preposicional (put up
with· tolerate, 100 in on = visit).
Propoes, ainda, alguns criterios sintiticos para 0
estabelecimento do status idiomitico:
A- A unidade semantica dos multi-word verbs pode freqdentemea
te ser manifestada pela substituicao por urnverba de urna so
palavra (visit· call on ). Todavia, este criterio nio e sempre confiivel: primeiro porque hi multi-word verbs como qet
away with, que nao possuem equivalente de urna so palavra/ segundo, hi combinacoes nao-idiomiticas, como qo across (·cros~
que possuem tal equivalente.
B- 0 fato de que 0 significado de certa construcio nao
pode
ser previsto das partes pode ser verificado pelo fato ~o significado do verba ou da particula nao permanecer constante /
quando outras partes dela sac substituidas. Este criterio nos
leva a reconhecer tres categorias principais:
(i) combinacoes livres, nao-idiomaticas, em que 0 significado
individual dos componentes se mantenha mesmo quando das substituicoes.
(ii) construcoes "semi-idiomiticas" que sac variaveis, mas de
urnmodo mais limitado. A relacao entre 0 verbo e a particula
e similar aquela entre a raiz e 0 afixo na formacao de palavra, em que a substituicao de urnverbo. por outro, ou de
urna
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partIcula po~outra, implica limitacao da produtividade.
Em
phrasal verbs como find out 0 verba man tern seu significado
enquanto que 0 significado da partIcula e menos facil de
se
isolar.
(iii) construcoes altamente idiomaticas como bring up. Sao a£
solutamente idi~maticas porque nao ha possibilidade de substi
tuicao contrastiva: bring up/ down, etc.
3. CONSIOERACoES FINAlS
Feitos estes comentarios, 0 que vale ressaltar
e
que embora Quirk nao 0 diga explicitamente utiliza criterios
da Teoria Gramatical, como posicionamento e complementacao pa
ra explicar os phrasal verbs como parte da categoria,
se
assim podemos chamar, dos multi-word verbs.
Quanto a questao pedagogica, e sabido que tais es truturas representam dificuldades tanto para 0 professor
/
quanta para 0 aluno. 0 ensino dessas construcoes, acreditamo~
pOdera ser facilitado relacionando-se os aspectos da coesao /
com a Teoria Gramatical no que diz respeito a aproximacao dos
sistemas do ingles e do portugues, por meio das nocoes
de
PrincIpios e Parametros.
PALAVRAS-CHAVES: phrasal verbs, complementacao, coesao sintatica, idiomaticidade.
BIBLIOGRAFIA
GRAVER,B.D. An advanced English grammar. London, &ongman,1989
HALLIDAY,M.A.K. & HASAN, R. Cohesion in English.London,Longman
1976.
QUIRK,R, et alii. A comprehensive grammar of the English
language. London, Longman, 1985.
SWAN,M. A practical English usage. Oxford, Oxford University
Press, 1984.
THOMSOM, A.J. et al. A practical English grammar. London
Oxford University Press, 1986.
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