A6 Nas ruas Domingo, 26 de abril de 2015 efeito colateral Surto de dengue traz prejuízos a comerciantes e autônomos da capital Não bastassem as dores, o incômodo e a preocupação, a dengue ainda tem trazido prejuízos financeiros para vítimas da doença na capital. Os dias não trabalhados deixam no vermelho profissionais autônomos ou donos do próprio negócio, como psicólogos e lojistas.(FSP) tipos de vírus da dengue A dengue hemorrágica São quatro: 1, 2, 3, 4 ■ Quando uma pessoa é contaminada com o vírus 1, por exemplo, fica imune a ele, pois produz anticorpos contra esse tipo ■ Portanto, uma pessoa só pode pegar dengue quatro vezes ■ Não existe relação entre o tipo de vírus e a gravidade da doença. A gravidade é resultado de vários fatores, como a reação do organismo ao tipo de vírus É uma complicação da doença. Ocorre quando as substâncias liberadas pelo vírus provocam uma inflamação maior nas paredes dos vasos sanguíneos. Com essas inflamações, os vasos ficam mais permeáveis, podendo provocar o sangramento nos pulmões, no aparelho digestivo, na cavidade torácica, na pele e até no cérebro Mosquito da dengue dengue veio de navio e se adaptou às cidades Aedes aegypti prefere sangue humano e encontrou, no meio urbano, condições para se reproduzir O Aedes aegypti é quase um integrante da família. Ele se encontra na sala de estar, embaixo da mesa da cozinha e até na estante espaços perfeitos para descansar. Nos recipientes com água parada e limpa, um lugar para colocar os ovos e procriar. E no sangue humano, alimento. É essa íntima relação com o ser humano que fez o mosquito transmissor da dengue se adaptar ao nosso cotidiano. Segundo pesquisadores, o Aedes aegypti é um mosquito urbano, que surgiu no Egito (na África) e chegou ao Brasil nos navios que traficavam escravos. E ao encontrar nas cidades condições para se reproduzir com poucos predadores, o Aedes aegypti se adaptou ao ambiente. O infectologista do hospital Oswaldo Cruz Stefan Cunha Ujvari, autor do livro “A história da humanidade contada Julia Chequer/Folhapress pelo vírus”, explica que o mosquito da dengue foi eliminado na década de 1950. Isso porque, naquela época, as coleções de água parada eram concentradas em caixas d’água, por exemplo. Já com a industrialização, as garrafas PET, latas, copos e pneus viraram criadouros para a fêmea colocar seus ovos. “O mosquito da dengue já é adaptado ao comportamento humano que vive nas cidades. E no meio das cidades brasileiras ele encontrou con26CR701 dições para se reproduzir, de4.0 vido à urbanização caótica, o lixo depositado em local ina34.0 dequado e o clima tropical”, disse Ujvari. O biólogo Adriano Mondini, especialista em dengue da Unesp Araraquara, concorda, mas diz que a seleção natural da espécie também fez com que somente os mosquitos mais resistentes aos predadores e aos inseticidas, por exemplo, sobrevivessem. “Não é o mosquito que ficou mais resistente. É o gene de alguns mosquitos que tem mais resistência a alguns tipos de substâncias.” ■O estudante Gabriel Teodoro, 10 anos, anota em questionário detalhes da vistoria que fez na casa da (Regiane Soares) Tipo de vírus, descuido e clima explicam surtos O número de casos de dengue na capital neste ano é quatro vezes maior do que o que foi registrado no mesmo período há três anos. Em 2012, foram apenas 441 casos, contra os 20.764 confirmados em 2015. E o por que existem esses surtos de dengue de tempos em tempos? Segundo os especialistas, há pelo menos três fatores que podem explicar o aumento e queda no número de casos: o tipo de vírus em circulação, questões climáticas e o descuido com os criadouros, principalmente dentro das casas. (RS) vizinha Albertina Costa, 53, em Suzano (Grande SP); cidade capacita alunos no combate à dengue Suzano aposta em agentes mirins Os sintomas da dengue e como combater o mosquito transmissor não são mais mistérios para a dona de casa Eva Macleide Teodoro, 38 anos. E o motivo não é só porque ela teve a doença há um ano, mas porque seu filho caçula, Gabriel Teodoro, 10 anos, é um dos agentes mirins de combate à dengue em Suzano (Grande SP). Repelente é eficaz, mas combate ao mosquito deve continuar Médicos evitam estimular o uso dos repelentes porque são considerados uma proteção individual para um problema de saúde que é coletivo. Mas se usarmos o produto certo, de forma correta, os repelentes podem ser, sim, mais uma arma na guerra contra o Aedes aegypti. Segundo o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor do ambu- latório do hospital Emílio Ribas, somente os repelentes (sejam de pele ou elétricos) que contenham as substâncias icaridina (ou picaridina) ou DEET (abreviação do nome científico N,N-diethyl-metatoluamide) são eficazes para afastar o mosquito da dengue. “Por isso, na hora de comprar, as pessoas devem olhar na embalagem e ver se há essas substâncias na fór- mula do produto”, afirmou. Os repelentes de pele (creme e spray, por exemplo) devem ser passado em todas as regiões expostas do corpo, principalmente pés e pernas (preferidos dos mosquitos). Vale lembrar que o repelente tem tempo de duração que varia de quatro a oito horas, dependendo do produto. Já as soluções caseiras não têm comprovação de eficácia. (RS) “Acho que eu teria sofrido menos se soubesse tudo o que ele sabe hoje sobre a doença”, diz Eva. Gabriel e colegas já aprenderam sobre a doença na escola. Agora vão à casa de vizinhos para ver se eles têm criadouros do mosquito ou caso da doença. “A dengue está matando as pessoas, por isso estamos indo falar dessa doença”, diz Gabriel. Na casa da vizinha Albertina Costa, 53 anos, o menino já fez uma vistoria e não encontrou nada. “É bacana ver as crianças envolvidas. É uma força de comunicação que faz diferença. Espero que combata a dengue”, afirma. O trabalho é uma das ações de combate à dengue da Prefeitura de Suzano, que tem 48 casos confirmados. O programa envolve mil alunos da 5ª série do ensino fundamental. Eles estão fazendo um questionário com os vizinhos. “Se percebermos que tem alguma informação relevante, já acionamos a vigilância sanitária”, diz a professora Izabel Cristina Soares de Oliveira, uma das coordenadoras do programa. (RS) Como combater a dengue ■ ■ Eliminar criadouros: qualquer recipiente com água limpa e parada Se encontrar recipientes com larvas, jogar na terra ou no cimento. Nunca em ralos, onde as larvas podem continuar a se desenvolver ■ ■ Telas, mosquiteiros, inseticidas e repelentes auxiliam na proteção individual Lavar os recipientes onde estava o criadouro com esponja e sabão, pois os ovos ali depositados podem se transformar em mosquito mesmo depois de um ano ■ O repelente deve conter as substâncias icaridina (ou picaridina) ou DEET. Passar o produto em todas as áreas do corpo que ficarem expostas, inclusive nuca e orelhas Para secretário-adjunto, número Faltam ações a longo prazo e de casos na capital é ‘uma vítória’ envolvimento da população O secretário-adjunto de saúde da capital, Paulo de Tarso Puccini, diz acreditar que as medidas adotadas pela administração municipal nos últimos anos “seguraram” os casos de dengue. “Acho que os 20.764 casos confirmados são uma vitória importante”, disse Puccini, que leva em consideração a incidência da doença na cidade, de 184,5 casos por 100 mil habitantes. Os casos de dengue confirmados na capital consideram as notificações feitas até 11 de abril (14ª semana epidemiológica). Para Puccini, a tendência é de aumento do número de casos, pois “o pico da doença está por vir”. Isso ocorre por causa do período da notificação: o mosquito só começa a transmitir o vírus de dez a 12 dias depois que pica a pessoa infectada e quem for picado leva mais sete dias para sentir os primeiros sintomas. (RS) O combate ao mosquito transmissor da dengue deixou de ser uma prioridade para os governos e, por isso, o país ainda tem epidemias. A avaliação é do infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, do hospital Emílio Ribas. “Não é um problema de um governo específico”, diz. Para ele, não há nos governos uma visão de longo prazo. “Os governos só tomam medidas para responder a uma demanda imediata.” Para o infectologista Marcos Boulos, do departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, as epidemias poderiam ter menor impacto se as ações fossem melhor realizadas pelo poder público. “É necessário uma ação concentrada na divulgação para a população participar ativamente da prevenção. Senão, vamos ter que ficar torcendo para Deus ser brasileiro.” (RS)