A INTEGRAÇÃO ENTRE A NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO - NEGG -: UMA PROPOSTA DE ESTUDO Autor: Carlos Hernán Rodas Céspedes Universidade Federal do Pampa I.- INTRODUÇÃO No prefacio do informe do Banco Mundial titulado “Uma nova geografia econômica” (2009), a instituição financeira global apresentou dados sobre o papel que o espaço geográfico assume no desenvolvimento econômico. Por exemplo, metade daquilo que o mundo produz esta concentrada em 1,5% da superfície do planeta; El Cairo, cujo tamanho não ultrapassa 0,5% da superfície do Egito, produz 50% do PIB; no Brasil, três dos seus estados localizados no centro-sul, ocupam 15 % do território nacional e produzem mais da metade da produção; no espaço geográfico formado por Europa, Estados Unidos e Japão se produzem três quartas partes da riqueza mundial. Esses dados a nível global se reproduzem a nível regional, por exemplo, no Estado do Rio Grande do Sul, observam-se regiões prosperas e dinâmica a exemplo da serra gaúcha, atraindo investimentos e mão de obra mais qualificada (embora a maior parcela de mão de obra que migra para aquela região ainda é não qualificada) e, regiões economicamente deprimidas como a da metade sul do Estado. Estas observações a respeito da distribuição geográfica das atividades econômicas dão a entender que: i) o desenvolvimento não gera prosperidade em todos os espaços geográficos e no mesmo momento; e, ii) o mercado favorece certos espaços geográficos em detrimento de outros. Segundo a Nova Geografia Economia, três são os atributos que ajudam a entender esse desenvolvimento desigual das regiões, países, estados, etc. O primeiro, denominado heterogeneidade espacial, distingue no espaço geográfico regiões mais, ou, menos desenvolvidas; as cidades avançam mais que o campo e, alguns estados, regiões, países, etc., melhoram em relação a outros. À medida que o desenvolvimento atinge certas regiões, países, cidades, etc., a localização econômica assume um papel mais importante para empresas e famílias; as primeiras, dificilmente se instalam em regiões deprimidas economicamente e, as segundas, mostram-se mais dispostas em formar parte de grupos migratórios à procura de emprego e de renda. “O desenvolvimento parece conferir ao lugar (espaço) a capacidade de se beneficiar economicamente das maiores concentrações da produção e obter as vantagens sociais resultantes da convergência. Desta maneira, o desenvolvimento econômico leva junto as condições de uma prosperidade ainda maior.” (Banco Mundial,2009,Pg.2.) 1 O segundo refere-se à causalidade circular. Seu significado pode ser compreendido através da seguinte seqüência. Quanto maior o número de pessoas residentes numa determinada área, maior é a demanda e o número de unidades produtoras dispostas em atendê-la. Por sua vez, quanto maior é o numero de firmas, potencializa-se o aumento de tamanho de algumas delas, o surgimento de retornos crescentes e a concorrência monopolística. Esses elementos aumentam a variedade de bens e serviços disponíveis e, devido ao fator proximidade, se possibilita menores custos de transporte. Da seqüência desses elementos espera-se uma maior renda real maior, uma maior mobilidade da mão-de-obra, e, um maior número de pessoas na área da concentração dando inicio, assim, a um novo ciclo da causalidade circular. Finalmente, o terceiro atributo denominado efeito proximidade surge como resultado das conexões entre os atores de um determinado espaço geográfico, e, entre este e sua periferia. O efeito torna-se mais evidente na medida em que as trocas de informações, produtos e conhecimentos são mais fluidas e eficazes e, para isto, as distancias jogam importante papel. Esses atributos estilizados, a saber, a heterogeneidade geográfica, a causalidade circular e o efeito proximidade, são abordados pela teoria da Nova Geografia Econômica, NGE, e se constituem no marco teórico para entender a dinâmica do capital espacial, as economias de aglomeração e seus efeitos sobre a produção inovadora. O presente trabalho apresenta de forma introdutória alguns aspectos relevantes da relação entre a Nova Geografia Econômica e o Crescimento Econômico com a finalidade de entender a dinâmica do capital geográfico, o potencial e/ou efetivo spillover do conhecimento, os efeitos deste último sobre a produção inovadora a nível regional, estadual, etc. Em algumas regiões do Brasil evidencia-se, da forma como a NGE explica e entende, a influência que os espaços geográficos possuem sobre a produção, a renda e o emprego. Nesses espaços, observa-se um conjunto de empresas pertencentes a um mesmo ramo produtivo, compartilhando o mercado, a mão de obra, o capital físico, o capital social, etc., e, estabelecendo entre si, contatos (em função da proximidade) que potencializam o aprendizado, a produção e difusão do conhecimento Assim, uma proposta de estudo sobre tal assunto permitirá: i) identificar os mecanismos que explicam a dinâmica do capital espacial; ii) analisar os elementos que limitam e potencializam a sua expansão; e, iii) entender os seus impactos sobre o desenvolvimento regional. Nas segunda e terceira partes deste trabalho apresentam-se um resumo dos aspectos teóricos relevantes da Nova Geografia Econômica e da relação entre esta e o Crescimento Econômico. Na quarta parte, apresentam-se algumas evidências da relação supracitada e, na ultima parte, apresenta-se as conclusões. 2 II.- A NOVA GEOGRAFIA ECONOMICA Os primórdios da Nova Geografia Econômica encontram-se no trabalho de seu principal mentor Paul Krugman (1991). Nele, o autor aborda uma economia com dois setores: um setor tradicional, perfeitamente competitivo que fabrica um bem homogêneo sem custo de transporte, outro, o setor moderno, industrial, que opera com retornos crescentes, produtor de bens diferenciados e com custos de transporte. A distribuição espacial da atividade econômica decorre do equilíbrio resultante da ação de duas forcas: a centrípeta e a centrífuga. A primeira refere-se ao tamanho do mercado, e é vista como responsável pela aglomeração geográfica da atividade econômica; sua força é tanto maior quanto maior é o grau das economias de escala e o gasto com bens industriais. No espaço onde as forças centrípetas agem, o salário real é elevado e constitui-se em fator de atração de trabalhadores da periferia. Em relação à segunda força, ela responde pela dispersão das atividades econômicas, devido aos efeitos da concorrência entre empresas; e, pela demanda de bens industriais por parte do setor tradicional (agrícola). A mão de obra mais barata na região periférica pode constituir-se em fator de atração de empresas submetidas à pressão concorrencial elevada na região com maior densidade empresarial. Na medida em que as condições econômicas favorecem uma região, a força centrípeta gera um efeito cumulativo de concentração do setor industrial através da mobilidade de trabalhadores atraídos por ganhos salariais reais; dos custos de transporte reduzidos; e, do maiores niveis das economias de escala e do gasto com bens industriais. Juliana Cunha (2008), a partir do trabalho de Krugman, Fujita e Venables (1999), complementa a descrição anterior. Segundo esses autores, a localização de uma atividade produtiva relaciona-se efetivamente com o fornecimento de insumos e com o acesso ao mercado, como salientado por diversos autores da Teoria da Localização, mas, ao longo do tempo, aqueles dão destaque para uma tendência persistente à concentração da produção numa determinada localidade, gerando assim um tamanho econômico maior em relação a outras localidades. O que é que explica a tendência persistente à concentração que torna determinada localidade tão especial em relação a outras? Na avaliação da Nova Geografia Econômica, a exemplo de Fujita e Thisse, citados por Cunha (2008), as externalidades representam o fator de aglomeração das firmas em economias restritas a um espaço geográfico. Além disso, conforme destaca Alejandro Diaz-Bautista, deve mencionar-se que por trás dessas externalidades situa-se o fator proximidade ou distância, considerado clave para entender os efeitos positivos das últimas. Segundo Cunha op.cit. as externalidades funcionam como economias de escala a nível individual das firmas. Para Fujita e Thisse, citados por Cunha (2008), “O conceito de externalidade é importante de se mencionar porque ele captura o efeito 3 bola de neve no qual um numero crescente de agentes querem se reunir para se beneficiar de uma grande diversidade de atividades e uma maior especialização. Esse processo acumulativo esta agora associado com a interferência de externalidades pecuniárias nos modelos que combinam retornos crescentes e competição monopolítistica, como é (grifo meu)o caso da Nova Geografia Econômica” De acordo com a NGE, a lógica dos retornos crescentes de escala, presentes no processo de concentração espacial, resultam essenciais para se entender o processo de aglomeração, eles estão relacionados com os encadeamentos para frente e para trás nos mercados de recursos produtivos e produtos. Quando firmas e consumidores decidem deslocar-se para uma determinada região, ambos beneficiam-se ao longo do tempo e reforçam a aglomeração das atividades produtivas por meio de custos de transporte menores e ganhos salariais reais em razão de preços menores. “ Associadas aos retornos crescentes de escala, estão as economias de externas ou externalidades, responsáveis por reforçar o processo de aglomeração” Cunha (2008, p.30) Em resumo, a Nova Geografia Econômica, baseada nos modelos de retornos crescentes de escala e de concorrência imperfeita explica a distribuição espacial das atividades produtivas colocando ênfase no espaço para a localização das atividades produtivas e, nas distâncias entre agentes econômicos para medir e avaliar os efeitos positivos das externalidades. Edgard Moncayo Jimenez (2003) resume através do seguinte parágrafo a estrutura da Nova Geografia Econômica –NGE : “ La NGE plantea que el crecimiento de la economía en una determinada localización, obedece a una lógica de causación circular, en la que los rendimientos crecientes a escala y los encadenamientos hacia atrás y hacia adelante de las empresas, conducen a una aglomeración de actividades que se auto-refuerza progresivamente. Una vez que una región tiene una alta concentración productiva, este patrón tiende a ser acumulativo: la región dominante adquiere una ventaja de localización, esto es, ella deviene atractiva para las firmas debido al gran número de firmas que ya producen allí (y no, por ejemplo, por tener una mejor dotación de factores). En otras palabras, el éxito explica el éxito.” (idem.p.11 Resulta oportuno, agora, descrever à luz de um modelo, quais e como agem os fatores que explicam o crescimento numa região onde o processo de aglomeração está em andamento. Ao fazê-lo se poderá indagar à luz destas abordagens, porque algumas regiões do Rio Grande do Sul, como é o caso da região da serra, ampliam suas economias enquanto outras mostram uma queda sustentada como é o caso da metade sul? 4 III.- A NOVA ECONOMICO. GEOGRAFIA ECONOMICA E O CRESCIMENTO É possível derivar da NGE modelos através da modificação de certas hipóteses e/ou a inserção de novos elementos. O estudo proposto por Venables, A.J.(1996) é um bom exemplo. Nele substitui-se a força centrípeta baseada na mobilidade da mão de obra por outra baseada em relações verticais de complementaridade entre setores industriais; as empresas produtoras de bens finais economizam com os custos de transporte situando-se próximas produtoras de bens intermediários tornando possível a formação de aglomerações. Por outro lado, da mesma forma como podem ser derivados novos modelos a partir da NGE, resulta destacável o diálogo que ela estabelece com outras teorias, a exemplo do que ocorre com as teorias do crescimento endógeno (desta relação resulta a sigla NEGG: New Economic Geographic Growth). Esse diálogo tem sido produtivo uma vez que, de um lado, complementa-se e/ou completa-se o entendimento sobre os mecanismos através dos quais os retornos crescentes, as externalidades, e a estrutura monopolística dos mercados servem de base aos processos de aglomeração espacial e à dinâmica de acumulação dos fatores do crescimento. Por outro lado, o diálogo tem provocado análises empíricas que colocam em evidência a relação entre a urbanização e o crescimento e, tem propiciado um melhor entendimento sobre a formação de aglomerações espaciais vinculadas às atividades geradoras de crescimento, a exemplo dos serviços para empresas nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, comunicação, logística, capital humano. (Raush, 1993; Hansen 1993) A relação entre a NGE e, de forma específica, a teoria de crescimento endógeno, é iniciada na década dos noventa do século vinte e o seu resultado mais concreto é a integração dos fatores geográficos (a exemplo dos custos de transporte, das economias de aglomeração e da mobilidade de fatores de produção) com os determinantes econômicos do crescimento. Ela tem mostrado que a concentração espacial das atividades é um fator determinante do crescimento e vice-versa. (Martin e Otaviano,1999; Pavilos e Wang,1996; Walz, U.1996) No entanto, essa literatura alerta para o fato de que não é qualquer nível de concentração ou aglomeração espacial que terá efeitos sobre o crescimento. Esse nível terá que estar situado entre um nível mínimo, abaixo do qual inexistem as condições para favorecer a dinâmica da acumulação dos fatores de produção nem suficiente para estabelecer a existência de externalidades positivas, e, um nível máximo, a partir do qual o processo de acumulação dos fatores torna-se ineficaz uma vez que poderá detectar-se a presença de externalidades negativas. Entre ambos os níveis haverá um nível de concentração para o qual o processo de acumulação dos fatores é possível, e as externalidades produzidas pela aglomeração 5 serão favoráveis ao crescimento. Determinar quais são esses limites, captá-los, calibrálos e ate transformá-los em outros que ofereçam maior flexibilidade resulta tarefa por demais complexa pela própria dinâmica subjacente. Outra forma de entender esta integração é considerar o crescimento como fonte da aglomeração geográfica. Neste caso, seguindo o modelo proposto por Krugman, o crescimento estaria sustentado por uma dinâmica endógena através da criação de inovações com a participação do capital humano. A acumulação de inovações em uma determinada região produziria externalidades de conhecimento local ou global (Martin, P. y Ottaviano G.I.P.1996). As relações de complementaridade entre diversos setores seriam capazes de reforçar os efeitos centrípetos da demanda e, o crescimento se sustentaria pela acumulação do capital humano e/ou físico que produziria, a exemplo das inovações, uma externalidade local. Assim, o mecanismo da causalidade cumulativa pode ser explicado por um processo com o seguinte formato: a aglomeração espacial se manifesta como um fator do crescimento e, por sua vez, este favorece a aglomeração através das externalidades. Alejandro Diaz-Bautista (2005) refere-se assim à relação entre a nova geografia econômica e os modelos de crescimento endógeno: “Recent work on endogenous growth theory and new trade theory has renewed the interest in economic geography over the last decade. Geographical space is introduced as an important concept in mainstream economics. In the new perspective internal conditions, not external demand conditions in an economy are the most important growth stimulating factors. In these models economies of scale exist in relation to capital, more specific in the production of human capital or knowledge and technology as in Romer (1986) and in Krugman (1991). In other words, the marginal product of capital grows as the stock of capital expands. The more we invest in knowledge, the more the economy will grow. With the development of technology and accumulation of knowledge, positive externalities are produced.” Romer e Krugman, citados por Diaz-Bautista (2005), defendem a visão do crescimento endógeno e dos retornos crescentes de escala a partir da perspectiva de acumulação do conhecimento e da localização. “The development of economies of scale in relation to knowledge production, technological spillover and institutional or spatial limits to the diffusion of such externalities, are therefore often connected to the functional and spatial context such systems operate in. Regions including dynamic industrial systems with scale economies in knowledge production would grow faster than regions not in command of such elements. As a result spatial differentiation in economic growth would appear between regions.”(idem.p.3) Todavia, o referido autor alerta sobre as dificuldades de estudar o fenômeno da aglomeração e das externalidades. Salienta que pesquisadores têm utilizado alguns 6 indicadores para medir a aglomeração e as externalidades, sendo a proximidade física um facilitador de sua difusão. Destaca que, se o efeito transbordamento das tecnologias é compartilhado, as firmas deveriam investir em conhecimento. Outros trabalhos têm insistido em procurar os nexos entre o crescimento endógeno e a NGE. Francesco Mureddu (2009) mostra formalmente o “acoplamento” do crescimento endógeno na versão centro-periferia da Nova Geografia Economia de Krugman. Nas suas palavras, esta adição (acoplamento) toma a forma de “intertemporal localized knowledge spillovers. Thanks to this departure we have that the cost of innovation is minimized when the whole manufacturing sector is agglomerated. In this case in fact innovating firms have a higher incentive to invest in new units of knowledge capital with respect to a situation in which manufacture firms are scattered along the two regions.” (pg.25) Mureddu (2009), apoiado no trabalho de Martin e Ottaviano (2001), mostra que quanto maior a concentração de empresas industriais, maior a difusão intertemporal de conhecimentos, maior o incentivo a investir em novas unidades de capital e, portanto, maior a taxa de crescimento. Em tese, não se deveria impedir a formação de aglomerações porque os ganhos globais (para o centro e periferia) superam as perdas. É o trabalho de Behrens e Thisse (2006) que melhor se aproxima da relação entre a nova geografia econômica e a teoria do crescimento endógeno: “NEG and endogenous growth theory share the same framework, using monopolistic competition, increasing returns and spillovers. This suggests the existence of a high potential for cross-fertilization, which is being explored in recent contributions.” (pg,5) Julian Christ (2009) busca explorar o surgimento e desenvolvimento da “nova geografia econômica do crescimento, NEGG” no contexto da geografia da inovação. Neste trabalho, o autor examina sessenta e um estudos empíricos para tentar descobrir quais deles relacionam a função de produção do conhecimento, o conceito de dependência espacial e os spillovers do conhecimento. A conclusão do trabalho mostra que spillovers do conhecimento podem gerar padrões de aglomeração e crescimento, mas, aglomeração e crescimento se influenciam um ao outro conforme a nova geografia econômica do crescimento, portanto, ambos os processos tem de ser analisados simultaneamente. “…it seems unambiguous that localized spillovers contribute to location decision, spatial distribution of R&D activities, industrial clustering and finally to the diffusion of knowledge in the innovation process”. 7 IV.- EVIDÊNCIAS E MÉTODOS UTILIZADOS Uma série de trabalhos empíricos foi realizada com a finalidade de mostrar, a partir da econometria espacial, os efeitos das externalidades, decorrentes do capital humano, sobre a produtividade regional. (Anselim). Ramos, Surinach e Artis (2009) analisam o impacto diferenciado do capital humano, mensurada em termos de anos de escolaridade, sobre a produtividade e a convergência. Nesse estudo é considerada a existência de potenciais spillover geográficos de capital humano a partir de técnicas de dados de painel espacial. Suas evidências sugerem que o capital humano afeta positivamente a produtividade regional e a convergência, mas, não sugerem qualquer evidência a respeito das externalidades geográficas positivas do capital humano. Di Liberto (2008) mostra que, no caso italiano, a educação primária parece importante para o desenvolvimento do sul, mas para o norte, os estudos de terceiro grau estão correlacionados negativamente. Os resultados sugerem que Itália tem sido incapaz de aproveitar os retornos positivos da formação superior uma vez que seu crescimento econômico parece vinculado a atividades de baixa tecnologia, na qual a mão de obra qualificada não joga papel significativo. Contudo, o importante desse trabalho é mostrar que o efeito do capital humano não fica restrito a um território, as evidencias mostram que ele é capaz de afetar as regiões vizinhas, em alguns casos de forma positiva e em outros de forma negativa. Neste último caso, o efeito parece ter provocado uma migração de trabalhadores em direção a regiões mais prósperas. Baumont, Ertur e Le Gallo (2001), estudam o papel dos spillovers geográficos no crescimento econômico regional. Para tanto, consideram fundamental a dimensão geográfica dos dados na estimação da convergência de regiões européias e estimam a magnitude dos efeitos geográficos das externalidades sobre o crescimento regional enfatizando o processo de difusão espacial. Os resultados do seu estudo mostram que a rapidez da convergência num modelo com autocorrelação espacial é maior que qualquer outro. Outro resultado importante é constatar, a partir da nova geografia econômica, que o efeito dos spillovers sobre o crescimento de uma determinada região é influenciada de forma positiva pela taxa de crescimento médio das regiões vizinhas. “In other words, the geographical environment has an influence on growth processes. This corroborates the theoretical results highlighted by the New Economic Geography.” Existem outros estudos que se aproximam do objetivo que esta proposta pretende. Podemos citar entre eles o trabalho de Anselin L. e Varga A. (1997) no qual procura-se evidenciar o grau dos spillovers espaciais entre a pesquisa universitária e as inovações tecnológicas. Também citamos a Danlin Yul, Yehua Dennis Wei (2006) cujo trabalho estuda a dependência espacial e os mecanismos de desenvolvimento na grande Beijing aplicando 8 técnicas estatísticas espaciais. O estudo detecta forte correlação entre a localização e a produtividade espacial no período de 1978 a 2001, como resultado da formação e extensão das aglomerações. Nessa mesma linha, Trippi e Maier (2007) investigam a relação entre a mobilidade de talentos e o fluxo de conhecimentos com a finalidade de diagnosticar o papel do trabalho altamente qualificado no desenvolvimento regional, as características das externalidades do conhecimento através da mobilidade do trabalho, e, os fatores que atraem e retém os talentos. V.- CONCLUSÃO Esta proposta de estudo tem constatado a importância que a heterogeneidade geográfica, a causalidade circular e o efeito da proximidade assumem quando se procura entender o desenvolvimento econômico a partir da Nova Geografia Economia. A configuração do espaço geográfico econômico é explicada pela dinâmica das forças centrípeta e centrifuga. A primeira, responsável pela aglomeração das atividades econômicas e, a segunda, pela dispersão das mesmas. É salientado o papel das externalidades como propulsor da aglomeração e, da mesma forma, o fator distancia ou proximidade. Àquelas lhes corresponde o papel das economias de escala, e, são estes fatores os que explicam a distribuição espacial das atividades produtivas. A seguir foi estabelecida a relação entre a Nova Geografia Economia e o Crescimento apresentando inicialmente as relações verticais de complementaridade entre setores em substituição da força centrípeta. O vinculo específico com o crescimento endógeno estabelece que a concentração espacial das atividades (e o papel subjacente das externalidades) é um fator determinante do crescimento e vice-versa. É oportuno mencionar o pensamento de Romer e Krugman ao respeito quando afirmam que “regiões que incluem sistemas industriais dinâmicos com economias de escala na produção de conhecimento cresceriam mais rápido que regiões não comandadas por tais elementos”. Mureddu reafirma o pensamento de Krugman e Romer ao especificar que “quanto maior a concentração de empresas industriais, maior a difusão intertemporal de conhecimentos, maior é o incentivo a investir em novas unidades de capital e maior é a taxa de crescimento”. Finalmente, foram apresentados alguns resultados de uma serie de trabalhos aplicados com o uso da econometria espacial para mostrar os efeitos das externalidades, decorrentes da presença crescente do capital humano nos aglomerados, sobre a produtividade regional. 9 Fica a sugestão para que os acadêmicos da área sintam-se motivados com esta proposta de estudo e, nas regiões de interesse particular, possam ser realizadas analises que permitam identificar os mecanismos que explicam a dinâmica do capital espacial; analisar os elementos que limitam e potencializam a sua expansão; e, entender os seus impactos sobre o desenvolvimento regional. 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