APRESENT AÇÃO o mundo atual passa por profundo e dramático processo de transformação, que envolve todas as esferas da vida. A organização espacial é, em toda parte e em maior ou menor grau, também alterada. O conjunto de todas as transformações suscita reflexões críticas, de modo que não sejamos levados de roldão, aceitando-as como inevitáveis e definitivas. Como criticamente pensar essas transformações? Certamente, como geógrafos, por meio da organização espacial que as reflete e as condiciona. O presente número da revista Território contém algumas reflexões relativas a algumas importantes questões da atualidade. Como pensar o espaço e sua rediferenciação no contexto da globalização? Como pensar criticamente estratégias territoriais visando ao desenvolvimento regional de regiões como a Amazônia? Como as pequenas cidades são afetadas pela globalização? São reflexões que, em realidade, estão na base da criação do LAGET e da revista Território. Constituem elas o conteúdo dos quatro primeiros textos deste número. Milton Santos discute as relações entre modo de produção técnicocientífico e diferenciação espacial. Afirma ele que os "conteúdos de técnica, de ciência e de informação constituem a nova variável motora que permite reconhecer um novo sistema temporal, com a organização de um novo espaço". A universalidade das técnicas, a percepção universal da simultaneidade e a universalidade da mais-valia, em conjunto e sob a ação das empresas multinacionais e dos bancos transnacionais, estão na base da compreensão das transformações socioespaciais da atualidade. Criam-se novos espaços que passam a apresentar novos atributos. Horizontalidades, verticalidades, redes e regiões, estas redefinições são expressões da espacialidade do meio técnico-científico-informacional. Os novos subespaços reafirmam a inevitabilidade da diferenciação espacial, base para uma geografia sempre renovada. O texto de Maria Laura Silveira sobre o conceito de situação geográfica é uma contribuição metodológica. Uma situação geográfica pode ser definida como "um resultado do impacto de um feixe de eventos sobre um lugar", estabelecendo singularidades espaciais e, assim, padrões de diferenciação dinâmica do espaço. Mas uma situação geográfica, por outro lado, pode ser 4 Revista TERRI~ÓRIO, ano IV, nº 6, jan./jun. 1999 reconhecida pela co-presença nos lugares de "objetos técnicos, ações, normas, agentes, escalas, ideologias, discursos (e) imagens". Bertha Becker nos leva à Amazônia, abordando temática relativa ao planejamento e desenvolvimento regionais, a partir de uma estratégia territorial, os Eixos de Integração e Desenvolvimento. A autora considera os antecedentes e o contexto em que a estratégia é concebida e, por fim, faz uma avaliação das perspectivas decorrentes de uma possível implementação da referida estratégia territorial. A importância do texto em questão reside no fato de se considerarem as experiências passadas, na maioria das vezes frustradas, para se pensar em estratégias do presente e do futuro imediato. O impacto da globalização sobre as pequenas cidades é discutido por Roberto Lobato Corrêa, com base na experiência brasileira. Pequenas cidades são criadas; outras, nascidas em um contexto anterior à globalização, são obrigadas a se transformarem, muitas passando a constituir-se em reservatórios de força de trabalho, enquanto outras, com base em capitais locais ou externos, adquirem especializações produtivas: em ambos os casos há uma reinserção na divisão territorial do trabalho. Os outros dois textos abordam empiricamente duas transformações recentes verificadas na sociedade e no espaço brasileiro. Produto e condição das transformações socioespaciais, a reestruturação bancária traduz-se na constituição de poderosos bancos organizados em redes cujos nós distribuem-se em amplo território. É este o tema de Carlos Alberto Franco da Silva, ao considerar o Banco Nacional S.A. (absorvido recentemente pelo Unibanco) e os impactos a que foi submetido com a renovação telemática, afetando a sua rede de gestão territorial. A agricultura constitui ..se em atividade profundamente afetada pela globalização. Se a cultura da soja é emblemática dessas transformações, menores não foram aquelas envolvendo a cafeicultura. O artigo de Céline Broggio, Martine Droulers e Pernette Grandjean considera a dinâmica territorial da cultura do café em Minas Gerais, enfatizando a existência de dois sistemas distintos de produção, o do sul de Minas e o do oeste mineiro, mais moderno, no qual o café é cultivado em áreas de cerrado. A partir deste número a revista Território passa a contar no seu Comitê Editorial com a colaboração de Maurício de Almeida Abreu, nosso colega no Departamento de Geografia da UFRJ. Roberto Lobato Corrêa Departamento de Geografia - UFRJ