UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR E ESTRATÉGIAS

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UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR E ESTRATÉGIAS PLURIATIVAS
NO BAIRRO RURAL CANTA GALO - AREADO/MG: ANÁLISES
PRELIMINARES
Vanderléia Correa LOURENÇO
Discente do curso de Geografia - UNIFAL-MG
[email protected]
Ana Rute do VALE
Docente do curso de Geografia - UNIFAL-MG
[email protected]
Introdução
O meio rural vem configurando-se influenciado por novos seguimentos conjunturais,
causando-lhe intensas transformações e modificações nas dinâmicas tradicionais
pertencentes a esse meio, conferindo-lhe particularidades distintivas, que são as bases
formadoras de novas dinâmicas socioespaciais, que passam a compor e a remodelar as
relações pertencentes nele. Mudanças que despertam novos questionamentos e a
possibilidade de se repensar o conceito de espaço rural, uma espacialidade geográfica
influenciada pelas novas exigências da realidade atual. Bases percussoras de novas
concepções analíticas, reavivando a busca por novas investigações, pesquisas e análises
do meio científico e acadêmico.
A incorporação de novos métodos articuladores adquirida pela unidade produtiva
familiar, trouxe a ela oportunidades mais diversificadas de se relacionar e sobressair-se
nesse meio muitas vezes excludente, cada vez mais competitivo e globalizado. Dessa
forma, essas famílias passaram a adquirir e apresentar diferentes estratégias sociais e
econômicas advindas das necessidades de sua própria população como alternativa de
permanecer morando em seus estabelecimentos rurais e, sobretudo, não havendo a
necessidade de vendê-la e migrar para as cidades.
Esse fenômeno é heterogêneo e diversificado dependente do contexto social, econômico
e cultural ao qual o grupo familiar está inserido, herança familiar e identidade local.
Construções que se realizam nas próprias contradições do processo capitalista,
interligam e proporcionam uma capacidade indestrutível tanto adaptativa como
articuladora da unidade produtiva familiar, alicerçados pelas políticas públicas vigentes
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no campo, indivíduos exercendo atividades pluriativas e facilidade na mobilidade
espacial, dão um novo contraste às relações vigentes no campo dentro da unidade
produtiva familiar.
Essas transformações suscitam novas concepções analíticas atribuídas aos termos rural e
ruralidade. Novos patamares orientadores advindos de um novo processo estrutural da
sua base agrária tradicional. Junção de mudanças advindas tanto do campo político,
social, econômico e também cultural. O espaço rural hoje não é mais apenas um local
onde predominam atividades agrícolas de base produtiva e natural, mas também é
destinado ao lazer, às atividades turísticas e segunda residência (CARNEIRO, 2003;
MOREIRA, 2006 citado por BIAZZO, 2007).
Reforçando essa nova análise atribuída ao rural, de acordo com Guibert (2009, p. 232),
“En suma, en su función productiva, el campo vive un proceso de diversificación
(multifuncionalidad y multiactividade de la agricultura) en sinergia con los otros usos
que les reconoce la sociedad urbana, como lo residencial y lo recreativo". Isto nos
revela que o espaço rural passou a adquirir e refletir novos patamares orientadores para
novas atividades e utilidades no e do espaço, ações antrópicas diversificadas alicerçadas
pelas possibilidades de desenvolvimento.
Esse questionamento sobre a complexidade advinda à terminologia ruralidade, permite
citar Carneiro (2002), revelando-nos que ela pode ser pensada com um processo
dinâmico em constante reestruturação dos elementos da cultura local, através da
incorporação de novos valores, hábitos e técnicas. Espaços heterogêneos que acabam
refletindo particularidades locais.
Portanto,
além dessas particularidades atuantes da nova
ruralidade,
outros
questionamentos nos são pertinentes nesta referida análise e dizem respeito às novas
concepções advinda à agricultura familiar neste novo processo atuante, que se perfaz
através da pluriatividade, redefinindo os espaços e as novas relações no campo.
Agricultura Familiar e pluriatividade: diferentes concepções em análise
Esses termos nos trazem especificidades, porém, interligam-se na busca incessante de
explicar as novas relações pertencentes na unidade produtiva familiar, mecanismos
articuladores e construtores de uma unidade que se faz na diversidade.
Segundo Costa Neto (2007), a agricultura familiar contemporânea está se
desenvolvendo em um ambiente no qual se percebe práticas camponesa sendo asfixiada,
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obrigadas a despojar-se de suas características constitutivas, bases objetivas e
simbólicas de sua reprodução social. Deixando evidente o paradoxo do sistema
econômico (capitalista) que aniquila a produção camponesa, mas, ao mesmo tempo, faz
ressurgir com a agricultura familiar sua principal base social de desenvolvimento.
Schneider (2003) considera que a agricultura familiar pode ser definida por vários
elementos. O primeiro diz respeito à forma de uso do trabalho, uma vez que as unidades
familiares utilizam quase que unicamente a força de trabalho familiar, podendo
raramente haver contratações temporárias. O segundo são os obstáculos impostos pela
própria natureza, impedindo que se torne uma atividade produtiva industrial. E,
finalmente, o terceiro se refere às bases da teoria social crítica, a tradição marxista de se
referir ao desenvolvimento agrário como um processo macrossocial e econômico, ao
invés de considerar o campesinato. Contudo, o ponto central disto tudo está na própria
natureza familiar dessas unidades, relações de parentesco e de herança existente entre os
membros dessas unidades.
Segundo Marafon (2006, p. 19), "a produção familiar se caracteriza pelo trabalho
familiar na exploração agropecuária” exercido em pequenas e médias propriedades
rurais e “pela propriedade dos meios de produção", ou seja, “a gestão e o trabalho estão
intimamente ligados”. Isto nos revela a força de coesão existente nos grupos familiares
na construção e distinção de diferentes ações locais e a sua capacidade de articulação na
superação de suas próprias necessidades existenciais.
Citando Carneiro (2000) Moreira (2007) lembra que a atuação do grupo familiar é tida
como um ator social do processo de desenvolvimento econômico permite que se
construa e se distingue diferentes atuações locais que acabam se processando em
transformações nas próprias estruturas das quais fazem parte. Essa compreensão permite
levantar pontos relevantes deste processo de atuação na agricultura familiar, novas
caminhos trilhados visando aumentar sua rentabilidade sem que seja necessária a venda
de suas propriedades e o conseqüente êxodo rural.
[...] eleger a unidade familiar ou o grupo doméstico, como unidade de
observação revela-se um procedimento fundamental para a
compreensão das transformações recentes no campo brasileiro, onde o
aumento das atividades não-agrícolas, articuladas ou não à agricultura,
exige um maior grau de complexidade (CARNEIRO, 2000, p.131
citado por MOREIRA, 2007, p.64).
No ponto de vista de Carneiro; Maluf (2003) a agricultura familiar vem se configurando
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num cenário de uma total flexibilidade social e econômica, a adoção concreta de política
agrária, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), dentre outras, vem proporcionando a elas novas direções.
As unidades de produção familiar estão, em geral, inseridas espacialmente nos birros
rurais. Para Moreira (2007, p. 23), bairro rural é “uma unidade socioespacial alicerçada
em três elementos: a base físico-territorial, o sentimento de localidade (identidade) e a
sociabilidade entre os moradores (as relações de vizinhança)”. Cândido (2004) afirma
que eles estão cada vez mais sendo influenciados por novas técnicas de produção e
produtos que estão transformando e modificando seu modo de vida, as visões
rudimentares de lidar com a terra, sua autonomia, uma produção cada vez mais
destinada à venda, a economia de mercado. “A incorporação à economia capitalista
altera as posições na estrutura tradicional e possibilita a definição de outras, fora dela"
(CÂNDIDO, 2004 p.233). Tendo por base essas concepções os bairros rurais acabam
fazendo parte do contexto social e estrutural da cidade.
Diante da realidade da agricultura familiar supracitada, torna-se perceptível a existência
dos processos atuantes da pluriatividade, que segundo Schneider (2003), se refere às
[...] situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família
em domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto
de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à
agricultura e ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro
da unidade de produção (SCHNEIDER, 2001, p.3).
O mesmo autor acredita que é a pluriatividade a melhor forma para apreender as
transformações que está havendo nas formas de trabalho e renda das unidades agrícolas
(SCHNEIDER, 2003).
Estes são, portanto, os mecanismos de suporte para a reprodução social das famílias,
que por não apresentam condições adequadas de sobreviver apenas das atividades
agrícolas que desempenham, se vêem obrigadas a passar por um processo de mudanças
dos seus padrões, associando-se às atividades de serviços. A pluriatividade se associa a
noção de multifuncionalidade e acabam sendo o suporte para as bases dessas novas
características da ruralidade em nossos dias atuais (CARNEIRO, 1996).
Quando se refere à pluriatividade, outro aspecto relevante nos é apresentado por
Alentejano(1999). A complexidade dialética existente na questionável apresentação
entre os termos pluriatividade e agricultura em tempo parcial, revelando que
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[...] a noção de pluriatividade permite dar conta melhor do caráter
familiar da unidade agrícola, pois parte dos membros pode dedicar-se
até integralmente ao trabalho agrícola, enquanto outros trabalham em
outras atividades, o que não caracterizaria agricultura em tempo
parcial - referida normalmente apenas ao chefe da exploração-,
porém, enquadra-se na noção de pluriatividade, se falarmos não
apenas de indivíduos pluriativos, mas, fundamentalmente, de
unidades familiares calcadas no trabalho pluriativo. Portanto, a noção
de pluriatividade é mais adequada para dar conta do fenômeno
referido, e é por isso que preferimos sua utilização e não a
de agricultura de tempo parcial (ALENTEJANO, 1999, p.154)
De acordo com Carneiro; Maluf (2003), a multifuncionalidade da agricultura familiar é
outra questão que acaba atingindo todas as famílias rurais. "O enfoque da
multifuncionalidade suscita questões ligadas à dimensão ambiental (uso dos recursos
naturais) da atividade agrícola, ao aspecto paisagístico e, em menor grau, à preservação
da herança cultural" (MALUF, 2003, p. 140). Portanto, a reprodução econômica dessas
famílias acabam não mais ficando restrita às atividades agrícolas, mas também a
outras fontes de renda que acabam exercendo dentro deste contexto novos processos
geradores de emprego e renda.
Tendo por base este caráter multifuncional ora vigente no meio rural brasileiro, Soares
(2001), com base na OECD (Organização da Cooperação e do Desenvolvimento
Econômico) de março de 1998, declara que
[...] além de sua função primária de produção de fibra e alimentos, a
atividade agrícola pode também moldar a paisagem, prover benefícios
ambientais tais como conservação dos solos, gestão sustentável
dos recursos naturais renováveis e preservação da
biodiversidade e contribuir para a viabilidade sócio econômica
em várias áreas rurais [...]. Agricultura multifuncional quando tem
uma ou várias funções adicionais ao seu papel primário de produção
de fibras e alimentos (SOARES, 2001, p.41).
A questão é que a modernização introduzida nas atividades agrícolas passa a moldar
fortemente as bases suas estruturas tradicionais não apenas dos grandes proprietários,
mas também dos pequenos e médios produtores.
A modernização da agricultura vem acontecendo a partir do momento
em que o homem começou a lidar com a prática do cultivo e dos
sistemas criatórios. Modernização entendida, em sua dimensão
produtiva, como introdução de ingredientes técnico, bem como
alterações nas relações de submissão do trabalho (SUZUKI, 2009, p.
242).
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Contudo, os preços dos produtos não apresentam a real valorização que deveriam ter no
mercado e isto faz com que esse grupo familiar se articule e reformule suas estratégias
econômicas. A adoção de atividades não-agrícolas no contexto da unidade familiar vai
permitir que amplie sua atuação e sua inserção social e econômica. Segundo Schneider
(2003) vários tipos de atividades e ocupações estão se inserindo no meio rural, na
agricultura familiar, medidas essas que visa a permanência no campo. São atividades
industriais, as comerciais e, sobretudo, as de lazer (chácaras de veraneio, pesque- pague,
pousadas, hotéis fazenda, etc.) que estão se proliferando em grande velocidade sobre o
meio rural.
Essas novas visões da agricultura familiar e a conseqüente atuação da pluriatividade não
se restringem apenas às localidades rurais das cidades grandes, mas também das médias
e das pequenas nesse novo contexto histórico atual, como é o caso do município de
Areado (MG), no qual se localiza o bairro rural Canta Galo, objeto de nosso estudo.
Convém ressaltar, antes de mais nada que nosso trabalho encontra-se em andamento,
por tratar-se de um projeto de Trabalho de Conclusão do Curso de licenciatura em
Geografia, o que torna nossos resultados ainda preliminares.
Caracterizando o espaço rural do município
O município de Areado situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, na mesorregião
Sul/Sudoeste de Minas, na microrregião de Alfenas, fazendo limites ao Norte com
Alterosa, Sul Divisa Nova, Leste Alfenas e Oeste Monte e Cabo Verde. A área total do
município é de 281 km², tendo como divisores territoriais os lagos, formados pela
construção de Furnas (Figura 1).
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Figura 1: Macrozoneamento do município de Areado (MG).
Fonte: Plano Diretor de Areado (Prefeitura Municipal de Areado).
Sua população rural até a década 70 era superior à urbana, contudo, a partir da década
de 80 a urbana ultrapassou a rural e esta vem decrescendo continuamente. Por conta
disso, atualmente a população total do município é de 13.181 habitantes (Censo 2007),
sendo que desse total, 80% é urbana e 20% rural.
A economia de Areado baseia-se em atividades agrícolas, tendo como principais
culturas: café, arroz, milho, feijão, batata e cana-de-açúcar; além da pecuária (gado
leiteiro e de corte), da piscicultura, da suinocultura e da avicultura. No setor industrial,
destacam-se microempresas de olarias, serralherias, artesanato de couro, tecido,
tecelagem, fabricação de roupas. Existe também no município um comércio variado e
um setor de prestação de serviços para atendimento da população local.
É importante ressaltar que, nas últimas décadas, a atividade turística também vem se
destacando no município, devido à construção da usina hidrelétrica de Furnas, na
década de 1960, que inundou terras de 34 municípios, inclusive de Areado, alterando o
perfil geoeconômico e a configuração da paisagem da região. Por outro lado, a
existência do reservatório permitiu o desenvolvimento de seu potencial turístico,
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embora este ainda seja subutilizado e a maior parte das instalações é de pequenos
investimentos privados, nos quais a recepção de pescadores e turistas é bastante
insipiente.
Tendo por base todas essas informações podemos destacar que em Areado a agricultura
familiar ainda é muito presente. As políticas agrícolas implementadas, principalmente o
PRONAF, trouxeram a esses produtores rurais uma esperança para continuarem
vivendo em suas propriedades e investindo na produção, embora não sejam suficientes.
De acordo com os dados coletados junto a EMATER, no ano de 2009, haviam 216
pessoas inscritas na ajuda de custeio e 117 pessoas na de investimentos. Mesmo
com
esse apoio, esses agricultores enfrentam dificuldades por conta da intensificação do
processo capitalista na agricultura, sobretudo com relação à modernização agrícola.
Além de causar desemprego no campo, essa realidade torna o agricultor cada vez mais
dependente do mercado (ou seja, as agroindústrias), o que exige aumento de
produtividade. Contudo, há um paradoxo nessa questão: enquanto os insumos agrícolas
têm preços elevados, os preços dos produtos agrícolas são, geralmente, baixos. Não há
dúvida, portanto, que esse agricultor familiar está sempre em desvantagem com relação
ao latifundiário.
Toda essa situação contribuiu e fez com que pequenos produtores buscassem outras
alternativas para aumentar a rentabilidade de sua família. Dessa forma, atividades
agrícolas e não-agrícolas também estão transformando e remodelando as antigas
concepções sobre o rural no município.
O espaço rural de Areado é composto por 33 bairros rurais, que são: Anhumas, Aterro
do Muzambo, Barro Branco, Cambuí, Canta Galo, Capetinga, Capoeira, Coqueiro,
Cruzes, Engenho de Serra, Estação de Areado, Glória, Gomes, Grama, Morro do Pito,
Movimento, Mumbuca, Perobas, Pinhal, Pinhalzinho, Pitangueira, Ponte Funda, Posses,
Represa, Retiro, Saca Borges, Santa Helena, São Luiz, São Miguel, Serra dos Silveiras,
Serrinha, Taboão e Taquaruçu.
Dentre esses escolhemos o bairro Canta Galo, como estudo de caso, por ser
representativo no município pela presença da agricultura familiar, dedicada
principalmente à cafeicultura, e onde tem sido observada a adoção de atividades
pluriativas por indivíduos do grupo familiar, especialmente aquelas exercidas no espaço
urbano. A localização privilegiada do bairro, próximo à rodovia BR- 491, que liga
Areado ao município de Alfenas, permite essa migração pendular de trabalhadores.
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Estudo de caso: o bairro rural Canta Galo
O Bairro Canta Galo, tem suas terras banhadas por um dos braços do reservatório do
Lago de Furnas, como pode ser verificado na Figura 2. Fator a destacar que favorece o
desenvolvimento de atividades ligadas ao lazer e ao turismo, ainda muito insipiente no
Bairro. É grande o predomínio de proprietários rurais que apresentam laços
consangüíneos, propriedades familiares, no qual a unidade familiar ainda se faz
presente. Sendo este um dos indícios de que muitos estabelecimentos rurais resultaram
da fragmentação de grandes propriedades, divididas entre herdeiros e, portanto,
propriedades que trazem forte identidade.
Figura 2: Vista parcial do bairro rural Canta Galo
banhado pelo reservatório de Furnas.
Autora: Vanderléia Correa Lourenço - Pesquisa de
campo (Julho de 2010).
O bairro Canta Galo se localiza a 10 km da sede do município. Sua ocupação ocorreu
paralelamente à formação do primeiro povoado de São Sebastião de Areado em 1871,
de acordo com os relatos dos moradores mais antigos (nascidos entre 1930 e 1947),
terras estas pertencentes a avôs e até bisavós. Atualmente contem uma fazenda, 2
chácaras de veraneio e 18 propriedades familiares, aproximadamente 160 habitantes. É
um bairro que possui poucas habitações ao longo de sua extensão, podendo destacar três
núcleo de concentração de moradores.
Durante nosso trabalho de campo e coleta de dados foi possível obter algumas
informações sobre o bairro Canta Galo, o qual passou por um período de dissociação de
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seus grupos originais, mas mesmo assim ainda há grande representabilidade dos
mesmos. Já é possível observar a presença de chácaras de veraneio e segundas
residências no bairro. A existência desse tipo de chácara no local pode ser explicada se
considerarmos a definição de Graziano da Silva; Vilarinho; Dale (1998, p. 41-42), para
o quem elas
são pequenas áreas de terra destinadas ao lazer de famílias de classe
média urbana, geralmente inferiores a 2 hectares (que é o menor
módulo rural) localizadas nas periferias dos grandes centros urbanos,
na orla marítima ainda não densamente povoada ou em áreas próximas
a rios, lagos, represas ou reservas florestais e com fácil acesso pelas
principais rodovias asfaltadas do país.
Enquanto que as segundas residências são domicílios particulares destinados ao
descanso de fim de semana, férias ou outro fim. Nesse caso é também a localização do
bairro às margens da represa que justifica essa utilidade da propriedade rural. Todavia, é
preciso ressaltar que esta é “uma modalidade de alojamento turístico elitista, símbolo de
status social, característica das camadas sociais alta, na sua grande maioria, média”,
uma vez que para obtê-la “pressupõe a disponibilidade de uma renda excedente”
(ASSIS, 2003, p.112). Esses novos proprietários, certamente, são “estrangeiros” no
bairro, ou seja, vieram de fora (inclusive de outros estados) e não possuem nenhum tipo
de ligação de parentesco com a comunidade e, menos ainda com o cultivo da terra.
Esses são indícios de que esse bairro está passando por transformações espaciais
e socioeconômicas, uma vez que vem ocorrendo um aumento de atuação das atividades
pluriativas. Apesar das unidades produtivas familiares dedicarem-se à agricultura especialmente a cafeicultura – ela já não é exclusiva. A adoção de atividades nãoagrícolas dizem respeito, sobretudo àquelas exercidas na cidade, quer dizer, fora da
unidade de produção familiar. Esse fato se explica pela mobilidade espacial dos
moradores facilitada pela proximidade da rodovia BR-491, que liga Alfenas a Areado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como estamos praticamente no início de nossa pesquisa, ainda temos uma parte do
caminho a percorrer para desvendar a realidade contida nessas unidades de produção
familiar do bairro, as quais serão caracterizadas e analisadas após a aplicação de
questionários semi-estruturados, junto aos membros responsáveis por elas. A partir
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disso, pretendemos lançar um olhar sobre futuro dessas famílias e, consequentemente
sobre o bairro Canto Galo, para compreendermos os benefícios e malefícios das
estratégias pluriativas.
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