5504 UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR E ESTRATÉGIAS PLURIATIVAS NO BAIRRO RURAL CANTA GALO - AREADO/MG: ANÁLISES PRELIMINARES Vanderléia Correa LOURENÇO Discente do curso de Geografia - UNIFAL-MG [email protected] Ana Rute do VALE Docente do curso de Geografia - UNIFAL-MG [email protected] Introdução O meio rural vem configurando-se influenciado por novos seguimentos conjunturais, causando-lhe intensas transformações e modificações nas dinâmicas tradicionais pertencentes a esse meio, conferindo-lhe particularidades distintivas, que são as bases formadoras de novas dinâmicas socioespaciais, que passam a compor e a remodelar as relações pertencentes nele. Mudanças que despertam novos questionamentos e a possibilidade de se repensar o conceito de espaço rural, uma espacialidade geográfica influenciada pelas novas exigências da realidade atual. Bases percussoras de novas concepções analíticas, reavivando a busca por novas investigações, pesquisas e análises do meio científico e acadêmico. A incorporação de novos métodos articuladores adquirida pela unidade produtiva familiar, trouxe a ela oportunidades mais diversificadas de se relacionar e sobressair-se nesse meio muitas vezes excludente, cada vez mais competitivo e globalizado. Dessa forma, essas famílias passaram a adquirir e apresentar diferentes estratégias sociais e econômicas advindas das necessidades de sua própria população como alternativa de permanecer morando em seus estabelecimentos rurais e, sobretudo, não havendo a necessidade de vendê-la e migrar para as cidades. Esse fenômeno é heterogêneo e diversificado dependente do contexto social, econômico e cultural ao qual o grupo familiar está inserido, herança familiar e identidade local. Construções que se realizam nas próprias contradições do processo capitalista, interligam e proporcionam uma capacidade indestrutível tanto adaptativa como articuladora da unidade produtiva familiar, alicerçados pelas políticas públicas vigentes I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5505 no campo, indivíduos exercendo atividades pluriativas e facilidade na mobilidade espacial, dão um novo contraste às relações vigentes no campo dentro da unidade produtiva familiar. Essas transformações suscitam novas concepções analíticas atribuídas aos termos rural e ruralidade. Novos patamares orientadores advindos de um novo processo estrutural da sua base agrária tradicional. Junção de mudanças advindas tanto do campo político, social, econômico e também cultural. O espaço rural hoje não é mais apenas um local onde predominam atividades agrícolas de base produtiva e natural, mas também é destinado ao lazer, às atividades turísticas e segunda residência (CARNEIRO, 2003; MOREIRA, 2006 citado por BIAZZO, 2007). Reforçando essa nova análise atribuída ao rural, de acordo com Guibert (2009, p. 232), “En suma, en su función productiva, el campo vive un proceso de diversificación (multifuncionalidad y multiactividade de la agricultura) en sinergia con los otros usos que les reconoce la sociedad urbana, como lo residencial y lo recreativo". Isto nos revela que o espaço rural passou a adquirir e refletir novos patamares orientadores para novas atividades e utilidades no e do espaço, ações antrópicas diversificadas alicerçadas pelas possibilidades de desenvolvimento. Esse questionamento sobre a complexidade advinda à terminologia ruralidade, permite citar Carneiro (2002), revelando-nos que ela pode ser pensada com um processo dinâmico em constante reestruturação dos elementos da cultura local, através da incorporação de novos valores, hábitos e técnicas. Espaços heterogêneos que acabam refletindo particularidades locais. Portanto, além dessas particularidades atuantes da nova ruralidade, outros questionamentos nos são pertinentes nesta referida análise e dizem respeito às novas concepções advinda à agricultura familiar neste novo processo atuante, que se perfaz através da pluriatividade, redefinindo os espaços e as novas relações no campo. Agricultura Familiar e pluriatividade: diferentes concepções em análise Esses termos nos trazem especificidades, porém, interligam-se na busca incessante de explicar as novas relações pertencentes na unidade produtiva familiar, mecanismos articuladores e construtores de uma unidade que se faz na diversidade. Segundo Costa Neto (2007), a agricultura familiar contemporânea está se desenvolvendo em um ambiente no qual se percebe práticas camponesa sendo asfixiada, I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5506 obrigadas a despojar-se de suas características constitutivas, bases objetivas e simbólicas de sua reprodução social. Deixando evidente o paradoxo do sistema econômico (capitalista) que aniquila a produção camponesa, mas, ao mesmo tempo, faz ressurgir com a agricultura familiar sua principal base social de desenvolvimento. Schneider (2003) considera que a agricultura familiar pode ser definida por vários elementos. O primeiro diz respeito à forma de uso do trabalho, uma vez que as unidades familiares utilizam quase que unicamente a força de trabalho familiar, podendo raramente haver contratações temporárias. O segundo são os obstáculos impostos pela própria natureza, impedindo que se torne uma atividade produtiva industrial. E, finalmente, o terceiro se refere às bases da teoria social crítica, a tradição marxista de se referir ao desenvolvimento agrário como um processo macrossocial e econômico, ao invés de considerar o campesinato. Contudo, o ponto central disto tudo está na própria natureza familiar dessas unidades, relações de parentesco e de herança existente entre os membros dessas unidades. Segundo Marafon (2006, p. 19), "a produção familiar se caracteriza pelo trabalho familiar na exploração agropecuária” exercido em pequenas e médias propriedades rurais e “pela propriedade dos meios de produção", ou seja, “a gestão e o trabalho estão intimamente ligados”. Isto nos revela a força de coesão existente nos grupos familiares na construção e distinção de diferentes ações locais e a sua capacidade de articulação na superação de suas próprias necessidades existenciais. Citando Carneiro (2000) Moreira (2007) lembra que a atuação do grupo familiar é tida como um ator social do processo de desenvolvimento econômico permite que se construa e se distingue diferentes atuações locais que acabam se processando em transformações nas próprias estruturas das quais fazem parte. Essa compreensão permite levantar pontos relevantes deste processo de atuação na agricultura familiar, novas caminhos trilhados visando aumentar sua rentabilidade sem que seja necessária a venda de suas propriedades e o conseqüente êxodo rural. [...] eleger a unidade familiar ou o grupo doméstico, como unidade de observação revela-se um procedimento fundamental para a compreensão das transformações recentes no campo brasileiro, onde o aumento das atividades não-agrícolas, articuladas ou não à agricultura, exige um maior grau de complexidade (CARNEIRO, 2000, p.131 citado por MOREIRA, 2007, p.64). No ponto de vista de Carneiro; Maluf (2003) a agricultura familiar vem se configurando I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5507 num cenário de uma total flexibilidade social e econômica, a adoção concreta de política agrária, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), dentre outras, vem proporcionando a elas novas direções. As unidades de produção familiar estão, em geral, inseridas espacialmente nos birros rurais. Para Moreira (2007, p. 23), bairro rural é “uma unidade socioespacial alicerçada em três elementos: a base físico-territorial, o sentimento de localidade (identidade) e a sociabilidade entre os moradores (as relações de vizinhança)”. Cândido (2004) afirma que eles estão cada vez mais sendo influenciados por novas técnicas de produção e produtos que estão transformando e modificando seu modo de vida, as visões rudimentares de lidar com a terra, sua autonomia, uma produção cada vez mais destinada à venda, a economia de mercado. “A incorporação à economia capitalista altera as posições na estrutura tradicional e possibilita a definição de outras, fora dela" (CÂNDIDO, 2004 p.233). Tendo por base essas concepções os bairros rurais acabam fazendo parte do contexto social e estrutural da cidade. Diante da realidade da agricultura familiar supracitada, torna-se perceptível a existência dos processos atuantes da pluriatividade, que segundo Schneider (2003), se refere às [...] situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família em domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura e ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção (SCHNEIDER, 2001, p.3). O mesmo autor acredita que é a pluriatividade a melhor forma para apreender as transformações que está havendo nas formas de trabalho e renda das unidades agrícolas (SCHNEIDER, 2003). Estes são, portanto, os mecanismos de suporte para a reprodução social das famílias, que por não apresentam condições adequadas de sobreviver apenas das atividades agrícolas que desempenham, se vêem obrigadas a passar por um processo de mudanças dos seus padrões, associando-se às atividades de serviços. A pluriatividade se associa a noção de multifuncionalidade e acabam sendo o suporte para as bases dessas novas características da ruralidade em nossos dias atuais (CARNEIRO, 1996). Quando se refere à pluriatividade, outro aspecto relevante nos é apresentado por Alentejano(1999). A complexidade dialética existente na questionável apresentação entre os termos pluriatividade e agricultura em tempo parcial, revelando que I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5508 [...] a noção de pluriatividade permite dar conta melhor do caráter familiar da unidade agrícola, pois parte dos membros pode dedicar-se até integralmente ao trabalho agrícola, enquanto outros trabalham em outras atividades, o que não caracterizaria agricultura em tempo parcial - referida normalmente apenas ao chefe da exploração-, porém, enquadra-se na noção de pluriatividade, se falarmos não apenas de indivíduos pluriativos, mas, fundamentalmente, de unidades familiares calcadas no trabalho pluriativo. Portanto, a noção de pluriatividade é mais adequada para dar conta do fenômeno referido, e é por isso que preferimos sua utilização e não a de agricultura de tempo parcial (ALENTEJANO, 1999, p.154) De acordo com Carneiro; Maluf (2003), a multifuncionalidade da agricultura familiar é outra questão que acaba atingindo todas as famílias rurais. "O enfoque da multifuncionalidade suscita questões ligadas à dimensão ambiental (uso dos recursos naturais) da atividade agrícola, ao aspecto paisagístico e, em menor grau, à preservação da herança cultural" (MALUF, 2003, p. 140). Portanto, a reprodução econômica dessas famílias acabam não mais ficando restrita às atividades agrícolas, mas também a outras fontes de renda que acabam exercendo dentro deste contexto novos processos geradores de emprego e renda. Tendo por base este caráter multifuncional ora vigente no meio rural brasileiro, Soares (2001), com base na OECD (Organização da Cooperação e do Desenvolvimento Econômico) de março de 1998, declara que [...] além de sua função primária de produção de fibra e alimentos, a atividade agrícola pode também moldar a paisagem, prover benefícios ambientais tais como conservação dos solos, gestão sustentável dos recursos naturais renováveis e preservação da biodiversidade e contribuir para a viabilidade sócio econômica em várias áreas rurais [...]. Agricultura multifuncional quando tem uma ou várias funções adicionais ao seu papel primário de produção de fibras e alimentos (SOARES, 2001, p.41). A questão é que a modernização introduzida nas atividades agrícolas passa a moldar fortemente as bases suas estruturas tradicionais não apenas dos grandes proprietários, mas também dos pequenos e médios produtores. A modernização da agricultura vem acontecendo a partir do momento em que o homem começou a lidar com a prática do cultivo e dos sistemas criatórios. Modernização entendida, em sua dimensão produtiva, como introdução de ingredientes técnico, bem como alterações nas relações de submissão do trabalho (SUZUKI, 2009, p. 242). I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5509 Contudo, os preços dos produtos não apresentam a real valorização que deveriam ter no mercado e isto faz com que esse grupo familiar se articule e reformule suas estratégias econômicas. A adoção de atividades não-agrícolas no contexto da unidade familiar vai permitir que amplie sua atuação e sua inserção social e econômica. Segundo Schneider (2003) vários tipos de atividades e ocupações estão se inserindo no meio rural, na agricultura familiar, medidas essas que visa a permanência no campo. São atividades industriais, as comerciais e, sobretudo, as de lazer (chácaras de veraneio, pesque- pague, pousadas, hotéis fazenda, etc.) que estão se proliferando em grande velocidade sobre o meio rural. Essas novas visões da agricultura familiar e a conseqüente atuação da pluriatividade não se restringem apenas às localidades rurais das cidades grandes, mas também das médias e das pequenas nesse novo contexto histórico atual, como é o caso do município de Areado (MG), no qual se localiza o bairro rural Canta Galo, objeto de nosso estudo. Convém ressaltar, antes de mais nada que nosso trabalho encontra-se em andamento, por tratar-se de um projeto de Trabalho de Conclusão do Curso de licenciatura em Geografia, o que torna nossos resultados ainda preliminares. Caracterizando o espaço rural do município O município de Areado situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, na mesorregião Sul/Sudoeste de Minas, na microrregião de Alfenas, fazendo limites ao Norte com Alterosa, Sul Divisa Nova, Leste Alfenas e Oeste Monte e Cabo Verde. A área total do município é de 281 km², tendo como divisores territoriais os lagos, formados pela construção de Furnas (Figura 1). I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5510 Figura 1: Macrozoneamento do município de Areado (MG). Fonte: Plano Diretor de Areado (Prefeitura Municipal de Areado). Sua população rural até a década 70 era superior à urbana, contudo, a partir da década de 80 a urbana ultrapassou a rural e esta vem decrescendo continuamente. Por conta disso, atualmente a população total do município é de 13.181 habitantes (Censo 2007), sendo que desse total, 80% é urbana e 20% rural. A economia de Areado baseia-se em atividades agrícolas, tendo como principais culturas: café, arroz, milho, feijão, batata e cana-de-açúcar; além da pecuária (gado leiteiro e de corte), da piscicultura, da suinocultura e da avicultura. No setor industrial, destacam-se microempresas de olarias, serralherias, artesanato de couro, tecido, tecelagem, fabricação de roupas. Existe também no município um comércio variado e um setor de prestação de serviços para atendimento da população local. É importante ressaltar que, nas últimas décadas, a atividade turística também vem se destacando no município, devido à construção da usina hidrelétrica de Furnas, na década de 1960, que inundou terras de 34 municípios, inclusive de Areado, alterando o perfil geoeconômico e a configuração da paisagem da região. Por outro lado, a existência do reservatório permitiu o desenvolvimento de seu potencial turístico, I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5511 embora este ainda seja subutilizado e a maior parte das instalações é de pequenos investimentos privados, nos quais a recepção de pescadores e turistas é bastante insipiente. Tendo por base todas essas informações podemos destacar que em Areado a agricultura familiar ainda é muito presente. As políticas agrícolas implementadas, principalmente o PRONAF, trouxeram a esses produtores rurais uma esperança para continuarem vivendo em suas propriedades e investindo na produção, embora não sejam suficientes. De acordo com os dados coletados junto a EMATER, no ano de 2009, haviam 216 pessoas inscritas na ajuda de custeio e 117 pessoas na de investimentos. Mesmo com esse apoio, esses agricultores enfrentam dificuldades por conta da intensificação do processo capitalista na agricultura, sobretudo com relação à modernização agrícola. Além de causar desemprego no campo, essa realidade torna o agricultor cada vez mais dependente do mercado (ou seja, as agroindústrias), o que exige aumento de produtividade. Contudo, há um paradoxo nessa questão: enquanto os insumos agrícolas têm preços elevados, os preços dos produtos agrícolas são, geralmente, baixos. Não há dúvida, portanto, que esse agricultor familiar está sempre em desvantagem com relação ao latifundiário. Toda essa situação contribuiu e fez com que pequenos produtores buscassem outras alternativas para aumentar a rentabilidade de sua família. Dessa forma, atividades agrícolas e não-agrícolas também estão transformando e remodelando as antigas concepções sobre o rural no município. O espaço rural de Areado é composto por 33 bairros rurais, que são: Anhumas, Aterro do Muzambo, Barro Branco, Cambuí, Canta Galo, Capetinga, Capoeira, Coqueiro, Cruzes, Engenho de Serra, Estação de Areado, Glória, Gomes, Grama, Morro do Pito, Movimento, Mumbuca, Perobas, Pinhal, Pinhalzinho, Pitangueira, Ponte Funda, Posses, Represa, Retiro, Saca Borges, Santa Helena, São Luiz, São Miguel, Serra dos Silveiras, Serrinha, Taboão e Taquaruçu. Dentre esses escolhemos o bairro Canta Galo, como estudo de caso, por ser representativo no município pela presença da agricultura familiar, dedicada principalmente à cafeicultura, e onde tem sido observada a adoção de atividades pluriativas por indivíduos do grupo familiar, especialmente aquelas exercidas no espaço urbano. A localização privilegiada do bairro, próximo à rodovia BR- 491, que liga Areado ao município de Alfenas, permite essa migração pendular de trabalhadores. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5512 Estudo de caso: o bairro rural Canta Galo O Bairro Canta Galo, tem suas terras banhadas por um dos braços do reservatório do Lago de Furnas, como pode ser verificado na Figura 2. Fator a destacar que favorece o desenvolvimento de atividades ligadas ao lazer e ao turismo, ainda muito insipiente no Bairro. É grande o predomínio de proprietários rurais que apresentam laços consangüíneos, propriedades familiares, no qual a unidade familiar ainda se faz presente. Sendo este um dos indícios de que muitos estabelecimentos rurais resultaram da fragmentação de grandes propriedades, divididas entre herdeiros e, portanto, propriedades que trazem forte identidade. Figura 2: Vista parcial do bairro rural Canta Galo banhado pelo reservatório de Furnas. Autora: Vanderléia Correa Lourenço - Pesquisa de campo (Julho de 2010). O bairro Canta Galo se localiza a 10 km da sede do município. Sua ocupação ocorreu paralelamente à formação do primeiro povoado de São Sebastião de Areado em 1871, de acordo com os relatos dos moradores mais antigos (nascidos entre 1930 e 1947), terras estas pertencentes a avôs e até bisavós. Atualmente contem uma fazenda, 2 chácaras de veraneio e 18 propriedades familiares, aproximadamente 160 habitantes. É um bairro que possui poucas habitações ao longo de sua extensão, podendo destacar três núcleo de concentração de moradores. Durante nosso trabalho de campo e coleta de dados foi possível obter algumas informações sobre o bairro Canta Galo, o qual passou por um período de dissociação de I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5513 seus grupos originais, mas mesmo assim ainda há grande representabilidade dos mesmos. Já é possível observar a presença de chácaras de veraneio e segundas residências no bairro. A existência desse tipo de chácara no local pode ser explicada se considerarmos a definição de Graziano da Silva; Vilarinho; Dale (1998, p. 41-42), para o quem elas são pequenas áreas de terra destinadas ao lazer de famílias de classe média urbana, geralmente inferiores a 2 hectares (que é o menor módulo rural) localizadas nas periferias dos grandes centros urbanos, na orla marítima ainda não densamente povoada ou em áreas próximas a rios, lagos, represas ou reservas florestais e com fácil acesso pelas principais rodovias asfaltadas do país. Enquanto que as segundas residências são domicílios particulares destinados ao descanso de fim de semana, férias ou outro fim. Nesse caso é também a localização do bairro às margens da represa que justifica essa utilidade da propriedade rural. Todavia, é preciso ressaltar que esta é “uma modalidade de alojamento turístico elitista, símbolo de status social, característica das camadas sociais alta, na sua grande maioria, média”, uma vez que para obtê-la “pressupõe a disponibilidade de uma renda excedente” (ASSIS, 2003, p.112). Esses novos proprietários, certamente, são “estrangeiros” no bairro, ou seja, vieram de fora (inclusive de outros estados) e não possuem nenhum tipo de ligação de parentesco com a comunidade e, menos ainda com o cultivo da terra. Esses são indícios de que esse bairro está passando por transformações espaciais e socioeconômicas, uma vez que vem ocorrendo um aumento de atuação das atividades pluriativas. Apesar das unidades produtivas familiares dedicarem-se à agricultura especialmente a cafeicultura – ela já não é exclusiva. A adoção de atividades nãoagrícolas dizem respeito, sobretudo àquelas exercidas na cidade, quer dizer, fora da unidade de produção familiar. Esse fato se explica pela mobilidade espacial dos moradores facilitada pela proximidade da rodovia BR-491, que liga Alfenas a Areado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como estamos praticamente no início de nossa pesquisa, ainda temos uma parte do caminho a percorrer para desvendar a realidade contida nessas unidades de produção familiar do bairro, as quais serão caracterizadas e analisadas após a aplicação de questionários semi-estruturados, junto aos membros responsáveis por elas. A partir I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5514 disso, pretendemos lançar um olhar sobre futuro dessas famílias e, consequentemente sobre o bairro Canto Galo, para compreendermos os benefícios e malefícios das estratégias pluriativas. REFERÊNCIAS ALENTEJANO, P. R. Pluriatividade: uma noção válida para a análise da realidade agrária brasileira? In: TEDESCO, J.C. (organizador). 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