A EXPANSÃO DAS REDES DE SUPERMERCADO EM BRASÍLIA

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A EXPANSÃO DAS REDES DE SUPERMERCADO EM BRASÍLIA (DF)
THE EXPANSION OF SUPERMARKET CHAINS IN BRASILIA (DF)
Juscelino Eudâmidas Bezerra
Professor Adjunto do Departamento de Geografia (UnB). E-mail:[email protected]
Marcelo Ramalho Agner
Discente Geografia (UnB), Bolsista PIBIC/CNPq. E-mail:[email protected]
George Luís Sampaio Azevedo Filho
Discente Geografia UnB, Bolsista PIBIC/FAPDF. E-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo da presente pesquisa é analisar a expansão das redes de supermercado em Brasília de forma
a verificar o perfil dos estabelecimentos, a origem do capital e sua inserção nas regiões administrativas
com maior renda. A metodologia adotada na pesquisa foi estruturada em torno de três eixos: a
organização de uma pesquisa bibliográfica, a construção de um banco de dados estatísticos, e, por fim,
a realização de trabalhos de campo. Em Brasília é possível encontrar as principais redes varejistas do
mundo demonstrando a importância da capital federal como espaço de consumo na economia
globalizada. A pesquisa contribuiu para demonstrar a heterogeneidade do setor na cidade sendo
possível encontrar diferentes perfis de loja considerando o formato, as estratégias de comercialização,
participação de grupos familiares e localização.
Palavras-chave: geografia econômica; supermercados; Brasília.
ABSTRACT
The purpose of this research is to analyze the expansion of supermarket chains in Brasilia in order to
identify the profile of establishments, the origin of the capital and its insertion in the administrative
regions with the highest income. The methodology used in the research was structured around three
themes: the organization of a bibliographical research, the construction of a database, and finally, the
realization of fieldwork. In Brasilia it is possible to find the world's leading retailers demonstrating the
importance of the federal capital as consumer space in the globalized economy. The research helped to
demonstrate the heterogeneity of the sector in the city where you can find different store profiles
considering the format, marketing strategies, participation of family groups and location.
Keywords: economic geography; supermarkets; Brasília.
INTRODUÇÃO
A Geografia tem desenvolvido inúmeras reflexões sobre a relação entre o urbano e o
rural na contemporaneidade. Muito embora a perspectiva predominante seja a de considerar o
campo e a cidade como realidades amalgamadas, percebe-se ainda uma clara dificuldade em
conduzir pesquisas que possam romper tal segmentação no interior do campo disciplinar
(SPOSITO, 2006; ELIAS, 2013).
Uma proposta que coaduna tal preocupação reside na apreciação sobre o estudo da
comercialização dos alimentos na cidade, as mudanças no consumo de alimentos
industrializados, a forma de abastecimento e a relação entre produtores e consumidores como
nexos teóricos e empíricos para o entendimento da cidade e do campo. Dentre as inúmeras
possibilidades aventadas, defende-se que a análise do papel dos supermercados pode
contribuir de forma significativa em tal intento.
A visita semanal ou mesmo diária aos supermercados representa um dos principais
hábitos da sociedade urbana. Portanto, parte do ethos fundado na conformação de um
comportamento específico inerente à vida nas cidades.
Dessa forma, uma atividade
aparentemente simples, como a de abastecer a residência com alimentos perecíveis, frutas,
vegetais e itens de utilidade doméstica é, na verdade, uma prática que cotidianamente anima o
movimento de uma extensa rede de produção global.
Os supermercados enquanto espaço de consumo exercem enorme centralidade na vida
cotidiana das grandes e médias cidades uma vez que os mesmos são responsáveis por parte
preponderante da comercialização de alimentos no mundo.
O papel dos supermercados nesta nova configuração econômica da rede agroalimentar
supera a simples comercialização e distribuição de alimentos e passa a influenciar diretamente
os padrões de produção e de consumo e, portanto, conduzem a decisão do que será produzido,
onde e qual padrão será adotado (LAWRENCE; BURCH, 2007).
O fortalecimento das redes varejistas tem promovido uma nova configuração na
estrutura de poder particularmente pela formação de um oligopólio, mediante a atuação de um
pequeno grupo de empresas que dominam o mercado a partir de sua atuação global (FUCHS
et al 2009; VORLEY,2007).
As principais redes, notadamente as líderes mundiais Wal-Mart e Carrefour,
participam cada vez mais de mercados distantes de seu lugar de origem. Cita-se, por exemplo,
o caso da América Latina no qual as três principais empresas com maior receita anual são
estrangeiras (Planet Retail Report, 2012; REARDON;BERDEGUÉ,2002). A presença dessas
gigantes em mercados externos foi fruto da fusão e aquisição de empresas nacionais, fato esse
que se tornou uma estratégia comum para ampliar a participação do mercado e aniquilar a
concorrência.
Ainda de acordo com Lawrence e Burch (2007) em 2004 as trinta principais redes de
supermercado do mundo controlavam 33% do total mundial da comercialização de alimentos.
No Brasil, a concentração do varejo também avança e somente as três gigantes Carrefour,
Wal-Mart e o Grupo Pão de Açúcar foram responsáveis por 47% do faturamento brasileiro do
setor em 2012 (FERREIRA, 2013).
Por tudo isso, devemos considerar que as redes de supermercados exercem cada vez
mais seu poder de governança do setor agroliamentar. Por governança devemos entender a
capacidade de articular formas de controle exercidas por agentes públicos e/ou privados e toda
diversidade de atores não estatais visando a co-ordenação social, política e econômica da
sociedade.
No caso da Geografia devemos mencionar que as redes varejistas possuem estratégias
espaciais que precisam ser consideradas ao tratar, por exemplo, da sua relação com a cidade e
o campo, conformando novas lógicas econômicas ligadas à localização dos estabelecimentos
comerciais e sua inserção no tecido urbano, o surgimento de novos formatos de loja, as
demandas dos consumidores, a logística de abastecimento e a relação com os fornecedores.
Lefebvre (1999) já nos advertida que a cidade reúne todos os mercados atraindo para
si tudo o que nasce da natureza e do trabalho, noutros lugares. Ou seja, ela centraliza todas as
criações. A nosso ver, os supermercados cada vez mais parecem sintetizar materialmente a
perspectiva da cidade como lócus da produção humana. Fundamental nessa centralização, os
supermercados funcionam muitas vezes como o grande empório e único canal para a
comercialização dos alimentos.
O que caracteriza o varejo de alimentos é que os mesmos possuem uma elevada
frequência de compra o que favorece um contato muito próximo com os consumidores. Os
supermercados operam com baixa margem e uma elevada concorrência (SERRENTINO,
2010). Por isso mesmo, a busca por lucratividade no setor é uma tarefa extremamente
complexa, pois necessita de uma constante negociação com seus fornecedores que podem ser
desde gigantes da indústria alimentícia até pequenos agricultores das áreas rurais próximas.
Isso sem esquecer que as redes varejistas não produzem aquilo que comercializam mesmo
com o advento das marcas próprias.
Outro fato importante é que os estabelecimentos de varejo são lojas de contatos
próximos e a despeito do crescimento do comércio virtual, eles exigem inexoravelmente a
necessidade da presença física do consumidor. Logo, os supermercados dependem de uma
eficiente escolha locacional, tema esse de importância capital na Geografia (BEZERRA,
2015).
As variáveis que conferem a localização ótima a um supermercado variam de acordo
com o tempo. Podemos citar o exemplo dos hipermercados com suas amplas superfícies
comerciais que surgiram no contexto de ampliação do processo de urbanização e
metropolização. Com a valorização do mercado imobiliário nas grandes regiões
metropolitanas e cidades médias, a procura por espaços amplos e com rede viária adequada
tornou-se uma variável com forte impacto financeiro nos investimentos realizados pelas
grandes redes varejistas.
Nesse sentido, mantém-se a tendência da criação de lojas de maior porte próximas às
rodovias de grandes fluxos localizados nas periferias das grandes cidades com o objetivo de
reduzir os custos. Podemos citar como exemplo o crescimento dos “atacarejos”, um novo
formato de loja que reúne características do atacado de autosserviço, porém com operação
aberta ao público final. No período de 2000 a 2009, houve um acréscimo de mais de 200 % no
número de lojas de atacarejo (SERRENTINO, 2010).
A valorização dos terrenos mais bem localizados aliado ao crescente trânsito nas
cidades e a diminuição do tempo disponível para alimentação doméstica fez com que os
supermercados reavaliassem toda sua estratégia de localização e de tipologia de lojas. O
Brasil segue o movimento mundial da transformação no setor supermercadista que preconiza
a criação de lojas de menor porte voltadas para o atendimento de um novo perfil de cliente.
A ideia de proximidade, conveniência e flexibilidade passa a atrair as demandas de um
público cuja alimentação fora de casa é uma rotina. Ao mesmo tempo em que a busca por
produtos com rápida preparação, comidas pré-prontas; semi-prontas, congeladas exige do
setor a oferta de soluções devidamente sintonizadas como expressão de uma mudança
significativa nos hábitos alimentares (OOSTERVEER et al, 2010).
O redirecionamento estratégico para a criação de lojas de menor porte, capilarizada
nos diferentes bairros tem provocado um aumento na concorrência. Invariavelmente o que
temos é a diminuição paulatina das feiras de rua, dos mercados públicos, mercearias,
pequenos mercados, bodegas, açougues e padarias contribuindo para a perda da diversidade
comercial nas cidades.
A logística de abastecimento e distribuição das redes de supermercado também
comparece como aspecto importante na abordagem geográfica do setor varejista. A existência
de vários formatos de loja (atacarejo, hipermercado, supermercado,minimercado) exige uma
logística específica. O setor de frutas, legumes e verduras (FLV) é um caso exemplar dessa
delicada operação. A perecibilidade dos produtos torna-se um desafio para a gestão de
estoque , bem como a existência de uma rede de fornecedores que possa garantir a
regularidade da entrega, além do compromisso da qualidade.
Devido a importância da relação dos fornecedores com as redes de supermercados é
que entendemos como importante investigar a ligação cidade e campo. São inúmeros os
produtores que dependem diretamente dos supermercados como principal agente responsável
por absorver a produção. As diferentes redes, a depender do porte, exercem maior ou menor
controle sobre o seus fornecedores. Muitos agricultores tornam-se fornecedores exclusivos e
no extremo oposto, as redes compram diretamente da Central de Abastecimento cujo contato
com o produtor direto é praticamente inexistente.
A dependência dos pequenos e médios produtores/fornecedores com relação às
principais redes de supermercado tem sido vista como nociva. Os supermercados são
constantemente criticados por explorar seus fornecedores através de inúmeros mecanismos,
tais como: diminuição da margem de lucro entre os fornecedores; cobrança de taxas para a
comercialização nas lojas; responsabilidade do prejuízo caso os produtos não sejam
adquiridos; atrasos no pagamento; ameaças de quebra de contrato caso suas demandas não
sejam atendidas. Com todas as exigências impostas pelos supermercados, muitos produtores
de pequeno porte (da indústria alimentícia ou agricultores) são expulsos do mercado por não
terem condições de concorrer com as empresas de maior vulto cuja produção em grande
escala comparece como trunfo na relação com os supermercados aumentando seu poder de
barganha.
Nos últimos anos, paralelamente à guerra de preços instaurada no seio das grandes
redes, consolida-se a estratégia da política de qualidade. Tal política é alicerçada na promoção
de selos e certificações (sociais, ambientais e de origem) que funcionam como uma dos
principais instrumentos de governança da rede agroalimentar por parte dos supermercados
(BEZERRA 2014; 2012).
O DESENVOLVIMENTO DE BRASÍLIA COMO IMPORTANTE CENTRO DE
CONSUMO
Os processos supramencionados têm ocorrido em diferentes escalas geográficas com
ritmos e intensidades variadas. Na realidade de Brasília (considerando todas as suas 31
regiões administrativas) mediante o intenso processo de urbanização (PENNA, 2013) num
padrão de cidade polinucleada (PAVIANI, 2010) e de forte crescimento populacional nas
últimas décadas, pode-se verificar a coexistência de muitos elementos que indicam o
fortalecimento do setor supermercadista.
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
presentes no Censo Demográfico de 2010, a população do Distrito Federal alcançou
2.570.160 habitantes. A renda per capita registrada em 2014 pela PNAD continua é a maior
do país com R$ 2.055, sendo esta quase o dobro da renda nacional que foi de R$ 1.052.
A área metropolitana de Brasília pode ser considerada um exemplo máximo do
significado de uma metrópole terciária. Ancorada no setor público como principal
empregador, a atratividade dos serviços ligados à gestão pública atraiu residentes de várias
regiões brasileiras. A taxa média de crescimento populacional de Brasília é uma das mais
elevadas do país fruto do aumento do fluxo de migrantes.
A combinação entre aumento populacional e a elevação dos salários no setor público
permitiu a elevação de Brasília como um dos princípios espaços de consumo do Brasil. A
empresa IPC Marketing Editora reúne dados sobre o Índice de Potencial de Consumo
construído a partir da compilação de dados de variadas fontes sobre informações
demográficas e de potencial de consumo de todos os municípios brasileiros.
Para o ano de 2015, o IPC prevê que o consumo dos brasileiros deve chegar a R$
3,730 trilhões. A Geografia do consumo mostra que os principais mercados concentram-se,
sobretudo nas grandes cidades e regiões metropolitanas. Brasília ocupou a terceira posição no
ranking do IPC considerando todos os municípios brasileiros com potencial de consumo de
R$ 80,538 bilhões. Importante ainda ressaltar que os gastos previstos dos brasileiros com
alimentação no domicílio em 2015 correspondem a 412,58 bilhões ou 11,9% do total
ocupando a terceira posição entre os tipos de gasto realizados pelos brasileiros. Tal fato
demonstra a importância dos estabelecimentos do setor do comércio varejista de alimentos
como aqueles diretamente beneficiados com o padrão de consumo da população brasileira.
Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) para Brasília no ano de
2014 apontam a existência de 1.476 estabelecimentos no setor do comércio varejista de
mercadorias em geral (hipermercados, supermercados, minimercados, mercearias e armazéns)
com predominância de produtos alimentícios. Nestes estabelecimentos foram empregados
27.853 trabalhadores.
Em Brasília podemos encontrar as principais redes varejistas do mundo distribuídas
eminentemente no plano piloto e nas demais regiões administrativas com destaque para a rede
francesa Carrefour, a estadunidense Wal-Mart e a empresa brasileira com participação de
capital francês, o Grupo Pão de Açúcar. As redes locais mais importantes são: Big Box e
Super Maia que juntas possuem 29 lojas com faturamento de R$ 1.036.815.315,95 (Revista
Supermercado Moderno) no ano de 2014.
O contexto indicado sugere a proposição de questões norteadoras que possam balizar
os objetivos da presenta pesquisa, são elas: Quais as transformações ocorridas no setor de
autosserviço alimentar em Brasília? Como se deu a expansão das redes de supermercado
internacionais no mercado regional e o papel das empresas locais? Quais foram as estratégias
de localização das redes de supermercado em Brasília?
A partir das indagações supracitadas estabeleceu-se como objetivo principal da
pesquisa analisar a expansão das redes de supermercado em Brasília (DF) de forma a verificar
o perfil dos estabelecimentos, a origem do capital e sua inserção nas regiões administrativas
com maior renda.
AS REDES DE SUPERMERCADO EM BRASÍLIA
Para a consecução da pesquisa optou-se pela realização de trabalhos de campo de
modo a catalogar todos os estabelecimentos do varejo alimentar existentes nas regiões
administrativas (RA’s) de Brasília (Asa Sul e Asa Norte), Lago Sul, Lago Norte e
Sudoeste/Octogonal. A escolha das RA’S em questão seguiu o objetivo inicial de analisar a
presenças das redes varejistas no núcleo original de criação da capital federal em virtude não
somente da sua importância histórica, como também por estar presente nas RA’s em tela
grande parte do emprego e dos serviços, bem como a maior renda e potencial de cosumo no
Distrito Federal.
Para confirmar tal premissa, o estudo realizado pelos autores Silva et al (2012)
demonstrou que as RAs selecionadas para a pesquisa obtiveram maior concentração no
quesito renda per capita na área metropolitana de Brasília em 2011. O grande destaque foi a
RA Lago Sul
que obteve renda per capita de R$ 5.420. Em segundo lugar a RA
Sudoeste/Octogonal com 4.792 seguida da RA Lago Norte com R$ 4.297 e a RA Brasília
(Asa Sul e Asa Norte) com R$ 3.835.
No total da pesquisa foram visitados 73 estabelecimentos dentro das quatro regiões
administrativas estando as redes de supermercado dispostas conforme o gráfico abaixo.
Lago
Norte
8%
Lago Sul
7%
N° de supermercados total
Noroeste
0%
Sudoeste
13%
Asa Norte
38%
Asa Sul
34%
Gráfico 1: Número de supermercados nas RA’s. Fonte: Pesquisa de Campo. Abril/2016
Como é possível apreender através do gráfico, a maioria dos estabelecimentos se
concentra na região de Brasília (Asa Sul e Asa Norte), concentrando cerca de 72% de todos os
estabelecimentos pesquisados. Essa concentração corresponde à área mais populosa e com
maior presença de serviços, a região central de Brasília.
Para melhor compreender o perfil dos estabelecimentos visitados optou-se por
classificá-los em cinco grupos, quais sejam: estabelecimentos locais, redes locais, redes
regionais, redes nacionais e redes multinacionais. A divisão foi estabelecida a partir dos
critérios abaixo discriminados:

Os estabelecimentos que só possuem um estabelecimento em Brasília serão
classificados como estabelecimentos locais;

As redes que possuem mais de um estabelecimento em Brasília são redes
locais;

As redes que possuem lojas em Brasília e em outros estados do Centro Oeste
são redes regionais;

As redes que possuem lojas em mais de uma macrorregião são consideradas
redes nacionais;

As redes que possuem lojas no Brasil e em outros países do mundo, bem como
matriz estrangeira, são redes multinacionais;
Em Brasília, segundo a classificação segundo a atuação das redes, temos a seguinte
distribuição por sua localidade (Tabela 1).
Tabela 1: Distribuição dos estabelecimentos varejistas segundo classificação
Estabelecimento
Local
RA's
Asa Norte
Rede
Local
Rede
Regional
Rede
Nacional
Rede
Multinacional
11
6
1
2
8
Asa Sul
9
4
1
4
6
Sudoeste
3
3
1
2
1
LagoNorte
0
4
1
0
1
Lago Sul
0
1
0
2
2
23
18
4
10
18
Total
Fonte: Pesquisa de campo. Abril/2016
A tabela demonstra que em Brasília as redes multinacionais se encontram em mesmo
número que as redes locais, e que os estabelecimentos locais possuem a maior quantidade de
estabelecimentos. A maioria desses estabelecimentos locais se concentra na RA de Brasília,
consequentemente a região mais antiga e que ainda abriga lojas de menor porte visando
atender a uma demanda específica. Geralmente são empresas familiares constituídas apenas
de 1 ou 2 checkouts com um mix reduzido de produtos e com poucos funcionários.
A concentração das lojas na área mais populosa e mais intensa de fluxos pode ser
corroborada por Parente e Kato (2001) quando trazem o debate sobre a área de influência dos
supermercados, afirmando que:
O desempenho de supermercados depende, grandemente, de sua localização,
pois a maior parte das vendas de uma loja vem de clientes que moram dentro
de uma área geográfica relativamente pequena em torno da loja.
(PARENTE, KATO, 2001, p. 46)
Brasília por sua elevada renda per capita e a característica de seu mercado de trabalho
voltado fortemente para o setor público cujo crescimento dos salários e a garantia de
estabilidade atraiu importante parcela da classe média, tornou-se uma localização privilegiada
para o aporte de investimentos em inúmeras atividades econômicas. É o caso do setor do
varejo que registrou um número crescente da instalação de lojas. A partir da pesquisa
conduzida constatou-se que as redes multinacionais, por exemplo, desembarcaram em Brasília
majoritariamente a partir dos anos 2000. A rede francesa Carrefour criou sua primeira loja
em Brasília no ano 2000 e a concorrente norte-americana Wal-Mart instalou-se em Brasília no
ano 2005. Já o Grupo Pão de Açúcar teve sua primeira loja em Brasília ainda na década de
1980. No entanto, após aquisição do grupo pela multinacional francesa Casino, o Grupo Pão
de Açúcar vem diversificando seus investimentos com a instalação de várias lojas da rede.
O crescimento das redes multinacionais tem sido uma tendência em todo o mundo
alertando para a oligopolização do setor. No mercado brasileiro a participação das empresas
multinacionais também chama atenção. Nesse sentido, verifica-se em Brasília o processo que
Reardon e Berdegué (2002) chamaram de uma “segunda onda” de multinacionalizações do
setor:
A segunda, muito maior, onda de M&A, que começou do início para meados
da década de 90, foi comandada por firmas de supermercado norte
americanas e europeias investindo internacionalmente, motivadas por
mercados locais saturados e levada por mercados com poucas lojas e muito
lucro.(REARDON, BERDEGUÉ, 2002, p. 378, tradução nossa)
Através da identificação da tipologia das redes pode-se depreender que a chegada das
redes multinacionais tenciona o mercado local. Já que o que se percebe é o investimento em
vários formatos de loja (minimercados, supermercados, hipermercados, atacarejos etc).
Vejamos o tipo de estabelecimento considerando o número de funcionários e o
tamanho da loja (Tabela 2).
Tabela 2 - Lojas nas RA’s segundo número de funcionários e m²
Loja
Número de
m²
funcionários
Extra
470
120.000 m²
Atacadão
234
14.000 m²
Big Box
197
1200 m²
Pão de Açúcar
153
2153 m²
Big Box
140
1200 m²
Dona de Casa
138
2000 m²
Super Maia
135
------Pão de Açúcar
135
------Big Box
131
------Rede Horti Mais
125
850 m²
Big Box
112
400 m²
Carrefour Bairro
110
Big Box
108
800 m²
Carrefour Bairro
103
Carrefour Bairro
100
1700 m²
Big Box
100
380 m²
Pão de Açúcar
100
1100 m²
Fonte: Pesquisa de campo. Abril/2016
Os estabelecimentos locais não possuem tamanho comparável ao de supermercado
quando analisamos o tamanho da loja em m² e em número de funcionários, sendo as redes
nacionais as maiores empregadoras do setor supermercadista de Brasília, como mostra a
tabela . Os dados evidenciam ainda que nenhum estabelecimento local compete em tamanho
ou número de empregados.
Dentre as redes, vale destacar a forte presença multinacional do Pão de Açúcar e do
Carrefour, apresentando lojas com um padrão entre 800 e 2000 m² juntamente com uma
média de um pouco mais de 100 funcionários. O tipo de loja é padronizado e busca atender a
uma estrutura que trabalha com redução de custos no autosserviço, como afirma Ortigoza:
“[...] Os supermercados conseguiram baixar os custos de circulação
significativamente, aumentando o lucro. O volume de vendas passou a
operar no sentido de redução dos preços ao consumidor e, a partir daí, a
concorrência, principalmente no setor de alimentos, tornou-se acirrada.”
(ORTIGOZA, 1996, p. 30 apud SILVA, 2005, p. 616)
As redes multinacionais praticam um padrão de loja específico de acordo com a
demanda encontrada em Brasília. o formato adotado foi o formato de “bairro”, elegendo um
tamanho entre 800 e 2000 m² no máximo e uma quantidade reduzida de funcionários para
operar com baixos custos e atingirem nichos residenciais de Brasília.
As redes locais são representadas na tabela basicamente pelo Big Box, notória rede
local com nove lojas dentre as 73 pesquisadas. Na tabela é possível ver que esta rede local
apresenta um elevado número de funcionários pelo tamanho da loja, sendo o Big Box a rede
que mais possui estabelecimentos com maior número de empregados. Isso evidencia um
padrão diferenciado de redes como Pão de Açúcar e Carrefour, que possuem um número
menor de empregados em relação ao tamanho da loja.
Não obstante a carência de informações quanto ao faturamento chamou atenção o fato
de apenas uma loja ter faturado no ano de 2015 o total de R$ 390 milhões. Em matéria
publicada pelo Correio Braziliense em 11/07/2010 intitulada “Renda alta faz Brasília bater
recordes de consumo” os jornalista avaliam a representatividade de Brasília no consumo
nacional. No exemplo referente ao setor do varejo, destacou-se o fato de a loja do
hipermercado Extra do Grupo Pão de Açúcar localizada na Asa Norte ter sido a loja com o
maior volume de vendas do Brasil na rede Extra em sete anos consecutivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento de dados e dos trabalhos de campo realizados foram
catalogados 73 estabelecimentos varejistas com foco na comercialização de alimentos nas
regiões administrativas de Brasília (Plano Piloto), Lago Sul, Lago Norte e Sudoeste/
Octogonal. Percebeu-se que somente no plano piloto concentraram-se 70% do total de
estabelecimentos. Há uma forte participação das redes internacionais no setor supermercadista
de Brasília tendo como marco temporal de instalação o início da década de 2000. Ao
considerar a área de comercialização existem lojas de diferentes portes variando entre 1.000
m² e 14.000 m² que juntas foram responsáveis por empregar 3.740 empregos. Não obstante a
carência de informações quanto ao faturamento chamou atenção o fato de apenas uma loja ter
faturado no ano de 2015 o total de R$ 390 milhões.
Em Brasília é possível encontrar as principais redes varejistas do mundo
demonstrando a importância da capital federal como espaço de consumo na economia
globalizada. A pesquisa contribuiu para demonstrar a heterogeneidade do setor no qual
podemos encontrar desde estabelecimentos familiares presentes desde a década de 1950 até
atacarejos de redes internacionais que conformam a nova tendência do setor.
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