FOIRN, Instituto Sócio-Ambiental, Povos Indígenas do Rio Negro

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ALGUNS ASPECTOS DA VEGETAÇÃO AMAZÔNICA E NA REGIÃO DO ALTO E MÉDIO RIO
NEGRO
1. Floresta de terra firme: são as florestas que ocupam terras mais altas e não são inundáveis. A altura
média destas matas da bacia do rio Negro é inferior à de outras áreas da Amazônia.
2. Campina, campinarana ou caatinga amazônica: tipo de floresta baixa, arbustiva, variando entre 6 e 20
metros, que cresce em solos com muita areia branca,
branca, inundáveis quando ocorrem as chuvas mais fortes.
Esta vegetação é caracterizada
rizada por um pequeno número de espécies e alto endemismo (ocorrência de
espécies
pécies exclusivas). As folhas das plantas da caatinga são duras e rijas, o que torna sua decomposição
mais lenta. Na forma mais pobre de caatinga, os arbustos são mais baixos (3 a 7 metros) e esparsos,
es
intercalados com vegetação rasteira (gramíneas);
3. A vegetação de igapó é aquela que passa a maior parte do tempo inundada (de 7 a 10 meses por ano).
Estas florestas inundáveis possuem um número menor de espécies, se comparadas com
c as matas de
terra firme, mas são mais diversificadas que as caatingas. Os peixes invadem os igapós na época das
enchentes, para engordar
dar e desovar, visto que são as áreas mais ricas em alimentos, isto é, frutas, folhas
e outras formas de matéria orgânica
orgâni provenientes da vegetação e das terras inundadas.
das.
Gradiente de vegetação no rio Negro (cf. Clark and Uhl 1987: 5 in Moran,
Caatinga
amazônica
1990: 164)
Alta caatinga Baixa caatinga
Floresta de igapó
Podem-se
se distinguir ainda áreas de vegetação localizadas nas margens dos rios e que
permanecem inundadas durante todo o tempo, denominadas chavascal.
As áreas de terra firme, cujas coberturas florestais foram alteradas por ação antrópica e,
posteriormente, abandonadas, apresentam matas de crescimento secundário,
secundário, chamadas
capoeiras. Resultam da regeneração de áreas desmatadas e utilizadas temporariamente, seja para
o cultivo de roças ou formação de povoados.
A distribuição, na região do alto rio Negro, das áreas de terra tirme cobertas por tlorestas, das
zonas de caatinga, dos igapós e dos chavascais não é homogênea. Por exemplo, enquanto somente 12%
da extensão do rio Uaupés é tormada por igapós, quase a totalidade (95%) do percurso do rio Tiquié no
Brasil é margeada por florestas sazonalmente inundáveis (Chernela, 1986b).
Esta diversidade de paisagens naturais no alto rio Negro tem uma relação direta com a distribuição
e disponibilidade dos recursos naturais importantes para a vida das populações da região (caça, pesca,
tibras e palhas para construção e utensílios, terras
terras férteis para a agricultura e assim por diante). As áreas
de caatinga amazônica, de igapós, além dos chavascais, são totalmente impróprias para as atividades
agrícolas. As primeiras por causa
sa da alta acidez do solo e de sua pobreza em nutrientes que lhes são
características; as segundas, devido aos ciclos consecutivos de alagamento e seca que limitam o número
de plantas adaptadas a esse tipo de ecossistema. Assim, por exemplo, a mandioca brava
bra (maniva), que é
um planta perfeitamente adaptada às características e limitações ecológicas da região do rio Negro
(acidez do solo, com baixos níveis de nutrientes) e ocupa, de acordo com Chernela (1986a), aproxiaproxi
madamente 91% das áreas cultivadas pêlos índios, não se sustenta em terreno alagado.
alaga Por essa razão,
os roçados são sempre abertos em terra firme, restringidos aos terrenos altos e, desse modo, longe das
zonas de floresta sazonalmente inundadas.
Por outro lado, os igapós, como foi dito, são áreas de reconhecida produtividade pesqueira, sendo
preservados para este fim pêlos índios. Áreas de igapós são também ricas em cipós e seringa. Já as
áreas de caatinga são fontes de palhas, caraná, sororoca etc., matérias-primas para a cobertura de suas
casas. Nas zonas de caatinga a caça é extremamente escassa, de acordo com os índios (Buchillet,
1990).
Por fim, as capoeiras são o habitat privilegiado de pequenos animais apreciados pêlos índios
(cutias, acutivaras), sendo também ricas em plantas medicinais. Quando estão com 20 ou 30 anos, as
capoeiras, muitas vezes, são reutilizadas pêlos índios para seus roçados. Exigem menor esforço para
serem derrubadas e secam com poucos dias de sol, possibilitando sua queima mais rapidamente. As
áreas de capoeira também são valorizadas porque existem espécies cultivadas que continuam a dar
frutos por muitos anos, como a pupunha, buriti, caju, cucura e outras.
Vê-se assim que as populações indígenas do alto rio Negro exploram um vasto território de modo
a encontrar os recursos alimentares, tecnológicos e medicinais imprescindíveis para sua sobrevivência
física e social. Dentre estes recursos, pode-se mencionar as folhas de palmeiras para a cobertura das
casas, madeira ou casca de árvore parq as paredes das casas, tucum e tucumã para cestaria, cordas e
fios, venenos de pesca e de caça etc.
(In FOIRN, Instituto Sócio-Ambiental, Povos Indígenas do Rio Negro)
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