RPS jan-abr-2014.cdr

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ISSN-2236-6288
Artigo Original / Original Article
FATORES ASSOCIADOS AO VÍRUS HPV E LESÕES CERVICAIS EM MULHERES
QUILOMBOLAS
FACTORS ASSOCIATED WITH HPV VIRUS AND CERVICAL LESIONS IN QUILOMBOLA WOMEN
José Eduardo Batista1, Silvio Gomes Monteiro2, Omar Khayyam Duarte do Nascimento Moraes3, José Eduardo Batista Filho4, Walder Jansen de Mello Lobão5,
Gerusinete Bastos Santos6, Breno Facundes Bonfim7
Resumo
Introdução: O Papilomavirus Humano é reconhecido como o principal agente causador do câncer do colo do útero. A identificação de HPV de alto risco pode auxiliar na prevenção de lesões do colo uterino. Objetivo: Identificar os tipos de HPV oncogênicos
da região do Quilombo de Juçatuba, no município de São José de Ribamar (MA), e avaliar os fatores de risco associado à infecção
do HPV com anormalidades citológicas. Métodos: Estudo transversal com 150 mulheres quilombolas residentes no município de
São José de Ribamar (MA), para rastreamento do câncer do colo uterino. A coleta foi realizada no período de março a julho de
2012. Foram coletadas amostras da cérvice uterina por meio do exame citopatológico. A tipagem molecular de HPV foi realizada
por meio da Reação em Cadeia da Polimerase e para a genotipagem do HPV-DNA foi utilizado ensaio de hibridização reversa em
pontos. Resultados: Das 150 amostras, 16 (10,6%) foram positivas para HPV, sendo identificados os tipos 33, IS39, 52, 54, 56,
58, 59, 62, 66, 68, 70, 72, 73 e 84, além de infecções múltiplas. A maior prevalência foi para o HPV 58 (25%), considerado de alto
risco. O HPV foi identificado em 5,5% (2/36) dos esfregaços inflamatórios de mulheres com 30 anos de idade ou menos
(p<0,0001). A infecção por HPV, segundo variáveis demográficas comportamentais e reprodutivas, não apresentou variável estatisticamente significante. Conclusão: A presença de HPV e o câncer de colo uterino destacam a importância de ações específicas
para a prevenção na transmissão desse vírus e rastreamento nos Quilombos maranhenses. Enfatiza-se a necessidade de programas de controle e prevenção nessa população contribuindo para a detecção e tratamento precoces do câncer colo do útero.
Palavras-chave: Papilomavirus humano. Citologia. Quilombolas.
Abstract
Introduction: The Human Papillomavirus (HPV) infection is known as the main cause of cervical cancer. The identification of
individuals at high risk to be infected by HPV may help prevent cervical lesions. Objective: To identify the types of oncogenic HPV
types in individuals from the region of Quilombo Juçatuba, in the city of São José de Ribamar, Maranhão, Brazil and evaluate the
demographic risk associated with HPV infection as well as cytologic abnormality. Methods: Cross-sectional study with 150
women for cervical cancer screening in the city of São José de Ribamar, Maranhão, Brazil. Samples of the uterine cervix of
Quilombola women were collected for the Pap smear test from March to July 2012. Molecular typing of HPV was done by polymerase chain reaction. Genotyping of HPV was performed by the reverse dot blot hybridization. Results: Of the 150 samples tested,
sixteen (10.6%) were positive for HPV. We identified the types 33, IS39, 52, 54, 56, 58, 59, 62, 66, 68, 70, 72, 73 and 84. Multiple
infections were also found. The highest prevalence was for the HPV type 58 (25%) that is considered a high-risk HPV type. HPV was
identified in 5.5% (2/36) of inflammatory smears of women who were 30 years or younger (p<0.0001). Regarding HPV infection
according to behavioral and reproductive demographic variables, there was no statistically significant variable. Conclusion:
The presence of HPV and cervical cancer highlights the importance of specific actions that aim at preventing the transmission of
this virus and the screening of this infection in Quilombos from Maranhão, Brazil. We also highlight the necessity of control and
prevention programs against HPV in order to contribute for early detection and treatment of cervical cancer in this population.
Keywords: Papillomavirus. Cytology. Quilombolas.
Introdução
Estudos epidemiológicos e moleculares têm mostrado a íntima relação entre o Papilomavírus Humano
(HPV) e o surgimento de câncer cervical, bem como suas
lesões precursoras, inferindo que a presença do vírus
seja um agente causal para esta malignidade1,2. O DNA
do HPV tem sido detectado em até 99,7% dos cânceres
cervicais em todo o mundo2. Os HPVs envolvidos em
infecções da região anogenital podem ser classificados
de acordo com a sua capacidade de gerar neoplasias
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
malignas, em HPVs de baixo risco oncogênico, de alto
risco oncogênico e genótipos de provável alto risco3.
Mais de 200 tipos de HPV foram caracterizados
baseados na similaridade das sequências genéticas virais. Desses, cerca de 40 infectam a região anogenital2. Os
HPVs genitais podem infectar o epitélio escamoso e as
membranas mucosas da cérvice, da vagina. São comuns
em mulheres jovens, mas com frequência resolvem-se
espontaneamente. Em média, as infecções ocorrem de
12 a 15 anos entre a infecção por HPV de alto risco oncogênico e o desenvolvimento do câncer cervical, o que
Farmacêutico-Bioquímico. Docente da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA.
Biólogo. Doutor em Genética. Docente da Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
Farmacêutico-Bioquímico. Docente da UFMA.
Farmacêutico. Especialista em Tecnologia de Alimentos. Secretaria Municipal de Saúde/São Luís - MA.
Cirurgião Dentista. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. UFMA.
Farmacêutica. Especialista em Citologia. Secretaria Municipal de Saúde/São Luís - MA.
Curso de Graduação em Farmácia. UFMA.
Contato: José Eduardo Batista. E-mail: [email protected]
218
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Batista JE, Monteiro SG, Moraes OKDN, Batista-Filho JE, Lobão WJM, Santos GB, Bonfim BF
reforça o padrão multiestagial da carcinogênese cervical
induzida pelo HPV4. Os genótipos de HPV 6 e 11, principalmente, induzem a condilomas exofíticos que afetam
a pele anogenital e a parte inferior da vagina, sendo
detectados nas lesões intraepiteliais de baixo grau e são
ditos de baixo risco. Os genótipos 16, 18, 31, 33, 35, 39,
45, 51, 52, 56, 58, 59, 66 e 68 são considerados de alto
risco e estão diretamente relacionados ao desenvolvimento do câncer cervical e suas lesões precursoras5.
Além destes, mais de 20 genótipos de HPV estão
associados ao câncer cervical, um estudo multicêntrico, confirma a predominância do HPV 16 mais frequentemente encontrado em carcinomas cervicais e em
Neoplasias Intraepiteliais Cervicais (NIC)6,7. O genótipo
18 parece predominar em adenocarcinomas e carcinomas adenoescamosos, os quais são responsáveis por
aproximadamente 5% dos cânceres cervicais7,8.
As lesões oriundas de infecção pelo HPV provocam, geralmente, alterações morfológicas características, detectáveis em citologia de raspados cérvicovaginais e biópsias. Com isso, é de suma importância a
realização dos exames rotineiros de detecção precoce
de câncer, através de esfregaços corados pelo método
de Papanicolaou9. O exame citopatológico consiste na
coleta, fixação em lâmina de vidro, coloração e posterior
análise de células epiteliais esfoliadas do colo do útero
utilizando um microscópio óptico9. Quando se detecta
alterações citológicas relacionadas ao HPV, estas são
interpretadas e as mulheres submetidas a condutas
clínicas adequadas, levando em consideração o grau das
anormalidades citológicas observadas no esfregaço10.
O sistema de Bethesda é um sistema de terminologia utilizado para repor os resultados do exame citológico de forma a fornecer orientações claras para o
manejo clínico e diminuir a confusão entre laboratórios
e médicos gerada pela utilização de múltiplos sistemas
de classificação. Segundo o sistema de Bethesda, revisado em 2001, os achados citológicos podem ser interpretados de acordo com o grau e a natureza das alterações morfológicas observadas no esfregaço10.
O HPV 16 apresenta maior poder de persistência
e capacidade única de evadir o sistema imune, o que
resulta em maior persistência das infecções do que por
outros tipos de HPV11. Quando persiste por dois anos o
HPV 16 possui maior capacidade de causar NIC e câncer
do que qualquer outro tipo potencialmente oncogênico. Além disso, há indicações de que a idade e o tipo
relacionado são fatores de risco para o desenvolvimento de NIC 2 ou lesão mais severa11.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou para
os anos de 2012 uma incidência de câncer de colo uterino
no Brasil de 17.540. No estado do Maranhão, segundo
estimativa do INCA, foram registrados 750 novos casos de
câncer de colo do útero (taxa de 22,79). Na capital, São
Luís (MA), foram detectados 190 novos casos, com uma
taxa bruta de 36,20 para cada 100.000 mulheres12. Neste
contexto, este estudo teve como objetivo detectar os tipos
de HPV oncogênicos do Quilombo de Juçatuba, São José
de Ribamar (MA), e avaliar os fatores de riscos associados
a infecção do HPV e anormalidades citológicas associadas.
Métodos
Estudo transversal com 150 mulheres que pro-
Rev Pesq Saúde, 15(1): 218-222, jan-abr, 2014
curaram as Unidades Básicas de Saúde do Quilombo de
Juçatuba, São José de Ribamar (MA), no período de
Março a Julho de 2012 para realização do exame preventivo do câncer de colo uterino. O cálculo do tamanho amostral das mulheres quilombolas foi feito utilizando-se o programa estatístico PASS 1113 e os seguintes parâmetros: Prevalência de 10% de DSTs em populações quilombolas em Turiaçu (MA)14, nível de significância (α) de 5%, erro tolerável de 7%, poder de teste de
80%, sendo a amostra de 150 mulheres.
Como critérios de inclusão, foram admitidas as
mulheres que já tiveram ou tinham atividade sexual e
procuraram espontaneamente pelo exame de Prevenção do Câncer de Colo Uterino (PCCU); como critério de
exclusão exigiu-se não estar em período gestacional,
não ser histerectomizada, nem ter sido submetida a
outra cirurgia em colo uterino e ser portadora de déficit mental que prejudicasse o entendimento e as respostas para o preenchimento do formulário específico.
A extração do DNA foi realizada por meio de um
kit comercial de purificação cujo método se baseia na
ligação seletiva do DNA a uma membrana de sílica na
presença de sais caotrópicos (Purelink™, Invitrogen®).
Após ressuspensão por agitação em Vortex, foi transferido um volume de 200 µL do Meio Universal de Coleta
(UCM) contendo o material coletado para um tubo tipo
Eppendorf ao qual foram adicionados 20 µL de proteinase K e 20 µL de RNAse. A mistura resultante foi incubada
por dois minutos à temperatura ambiente. Após esse
período, foi adicionado ao material 200 µL do tampão
de Lise/Ligação e a mistura incubada por 30 minutos a
55 °C. Terminada a etapa de lise, foram adicionados 200
µL de etanol a 96%, seguido por agitação em Vortex de
modo a se obter uma solução homogênea. O material
lisado foi aplicado à coluna e o procedimento de purificação foi realizado de acordo com as instruções de uso
do kit comercial em três etapas: ligação do DNA à coluna
de sílica, lavagem para retirada de material não ligado e
recuperação (eluição) do DNA ligado à coluna. O DNA
extraído foi armazenado em freezer a -20 °C.
O DNA foi amplificado utilizando PGMY09/11
HPV primers específicos que amplificam o fragmento de
450-pb da região de consenso para L1 do HPV genital. A
genotipagem do HPV-DNA foi realizada utilizando um
ensaio de hibridização reversa em pontos, que envolveu
a hibridação de um fragmento amplificado por PCR de
450-pb gerado pela PGMY definido como uma tira de
nylon contendo sondas imobilizadas para diferentes
tipos de HPV de alto e baixo risco oncogênicos15. A faixa
continha dois níveis de sondas de globina ß-controle, 18
sondas de HPV de alto risco (HR-HPV 16, 18, 26, 31, 33,
35, 39, 45, 51,52, 55, 56, 58, 59, 68, 73, 82 E 83) e nove
sondas de HPV de baixo risco (LR-HPV 6, 11, 40, 42, 53,
54, 57, 66 e 84). Os reagentes de PCR, as tiras de sondas
e reagentes de desenvolvimento foram gentilmente
fornecidas pela Roche Molecular Systems, INC® (Pleasanton, CA, EUA). O volume de 100 µl da mistura de amplificação continha 4 mM de MgCl2, 50 mM de KCl, 7.5u de
Amplitaq DNA Polimerase Gold (Perkin-Elmer, Foster
City, CA), 200 um de cada um de dATP, dCTP, dGTP, 600
uM de dUTP, 100 pmol de cada iniciador biotinilado piscina PGMY09/PGMY11 e 2,5 pmol de cada um dos 5
'Biotinilada-globina ß primers, e PCO4 Gh20.
O perfil de amplificação que se segue foi usado:
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FATORES ASSOCIADOS AO VÍRUS HPV E LESÕES CERVICAIS EM MULHERES QUILOMBOLAS
a ativação de Amplitaq Gold durante 9 minutos a 95°C,
a desnaturação durante 1 minuto a 95 °C, recozimento
durante 1 minuto a 55°C, extensão a 72 °C durante 1
minuto, para um total de 40 ciclos, seguidos de um
passo de extensão de 5 minutos do terminal a 72 °C.
Amplicons foram desnaturados em NaOH 0,4 N e 40 µl
de produto de desnaturado foram feitos reagir em 3 ml
de tampão de hibridação com uma inversão de linhablot contendo os genótipos de HPV e ß-globina em 2
concentrações de sondas imobilizadas em tiras de
nylon. Hibridação positiva foi detectada por estreptavidina-peroxidase de precipitação cor mediada na membrana na linha de sonda. Em amostras consideradas
HPV negativo as duas linhas de globina (cópias alto e
baixo) aparecem em níveis comparáveis aos controles
positivos, ou foram repetidos até que os critérios de
positividade globina foi alcançado.
A citologia cervical foi realizada pelo método
convencional. O esfregaço citológico foi constituído de
duas amostras, raspado ectocervical e endocervical,
coletado com espátula de Ayre e escova endocervical. O
material foi imediatamente fixado após a coleta com
polietilenoglicol e corado pelo método de Papanicolaou.
O kit utilizado para identificação por hibridização reversa foi Linear Array HPV Genotyping Test (Roche Molecular Systemas) inclui apenas 37 sondas para
diferentes tipos de HPV de alto e baixo risco oncogênicos o que pode ter limitado a identificação de outros
tipos de HPV16.
Para investigar fatores associados à infecção
por HPV realizou-se análise univariada, o teste de quiquadrado de Pearson, e alguns casos foi feito a correção de Yates, o nível de significância foi de 5%.
Para análise multivariada utilizou-se a regressão
logística. Considerou-se como variável a infecção por
HPV e as variáveis estatisticamente significantes no
teste qui-quadrado como variáveis explicativas. O
método backwars foi realizado para seleção das variáveis. Foram calculados os respectivos intervalos de
confiança de 95%.
Este estudo é parte integrante da pesquisa “Alterações morfológicas, tipos de HPV e carga viral em
mulheres quilombolas” aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Hospital Universitário – CEP/HUUFMA
com o Parecer Nº 233/2011.
Resultados
Foram incluídas 150 amostras da cérvix de
mulheres para citologia oncótica e detecção de HPV. A
prevalência da infecção genital por HPV em todas as
150 amostras foi de 10,6%. Ao estratificar a prevalência de HPV nos diferentes grupos etários, observou-se
positividade em: 10,2% (abaixo de 30 anos), 8,6% (3145 anos), 12,3% (acima de 45 anos). Nas demais variáveis demográficas como escolaridade, as mulheres
apresentaram maior número (96) com ensino fundamental e (9) 9,3% com vírus HPV. Em relação ao número
de parceiros houve maior prevalência nas mulheres
220
que tiveram 1 a 2 (111), 8 (7,2%) estavam contaminadas pelo vírus HPV. Observou-se que na associação
demográfica comportamental e reprodutiva com o
vírus HPV não houve associação estatisticamente significante para nenhuma das variáveis. Os resultados
citológicos revelaram-se 138 (92%) inflamatório, e 12
(8%) com alterações citológicas (Tabela 1).
Tabela 1 - Variáveis demográficas, comportamentais e reprodutivas
de mulheres Quilombolas portadoras de HPV. São José de Ribamar
- MA. 2012.
Variável
HPV+N/N
Idade (anos)
< 30
4/39
31-45
4/46
> 45
8/65
Escolaridade
Analfabeto
2/12
Fundamental
9/96
Médio
4/37
Superior
1/5
Nº de parceiros
1a2
8/111
Mais de 2
8/39
Início da Atividade Sexual
< 16
8/62
> 16
8/88
Uso de contraceptivo
Não
11/103
Sim
5/47
Papanicolau
Sim
14/130
Não
2/20
HPV+(%)
p
10,2
08,6
12,3
0,8988
16,0
09,3
10,8
20,0
0,7825
07,2
20,5
0,0206
12,9
09,0
0,4564
10,6
10,6
0,9939
10,7
10,0
0,7784
Tabela 2 - Distribuição da infecção pelo HPV de acordo com a faixa
etária em mulheres Quilombolas. São José de Ribamar - MA. 2012.
Detecção do HPV
Negativo
Positivo
n
%
n
%
Total
(%)
p
Inflamatório
34
094,4
02
05,5
099,9
<0,0001
ASC-US
Faixa etária
<30 anos
01
100,0
-
-
100,0
LSIL
-
-
-
-
-
ASC-H
-
-
-
-
-
HSIL
-
-
02
100,0
100,0
Inflamatório
38
092,6
03
07,3
099,9
ASC-US
01
100,0
-
-
100,0
LSIL
01
100,0
-
-
100,0
ASC-H
01
050,0
01
50,0
100,0
HSIL
01
100,0
-
-
100,0
Inflamatório
54
088,5
07
11,4
099,9
ASC-US
31-45 anos
0,3216
>45 anos
02
100,0
-
-
100,0
LSIL
-
-
-
-
-
ASC-H
-
-
-
-
-
01
050,0
01
50,0
100,0
HSIL
0,2285
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Batista JE, Monteiro SG, Moraes OKDN, Batista-Filho JE, Lobão WJM, Santos GB, Bonfim BF
O grupo de mulheres acima de 45 anos apresentou maior associação das lesões cervicais, total de 8
com o vírus HPV, sendo 7 inflamatória e 1 com lesão de
alto grau HSIL. A faixa etária de 31 a 45 anos apresentou 4 lesões não associadas ao HPV, duas de baixo grau,
ASC-US e LSIL e duas de alto grau ASC-H e HSIL, e um
lesão de alto grau ASC-H associada ao HPV. As mulheres
com menos de 30 anos apresentaram 4 com o vírus
HPV, sendo 2 inflamatório e 2 com lesões de alto grau
do tipo HSIL, notando-se que esta associação foi estatisticamente significante para a faixa etária (Tabela 2).
Todas as 150 amostras de colo de útero foram
analisadas utilizando-se o ensaio Linear Array HPV por
Hibridização reversa em pontos. Dentre as amostras de
mulheres positivas para o HPV, n = 16 amostras (10,6%),
foram encontrados 14 tipos de HPV, sendo o mais prevalente o HPV 58 (25%), seguido pelos tipos 52 (18,7%), tipo
73 (12,5%), os demais tipos 84, 72, 70, 68, 66, 62, 59, 56,
54, IS39 e 33 todos com (6,25%) cada (Figura 1).
Figura 1 - Distribuição da infecção por diferentes tipos de HPV, em
mulheres Quilombolas. São José de Ribamar - MA. 2012.
Discussão
A prevalência genital por HPV neste estudo foi
de 10,6%, para ambos os tipos virais. Estes achados
estão de acordo com a literatura que relata prevalência
de 10% a 20% de HPV em populações urbanas17. Resultado semelhante foi identificado em estudo realizado
no município de Campinas (SP), por Captura Hibrida,
sendo que a prevalência de HPV em mulheres com
citologia normal foi de 14,3%17.
Dentre os tipos de HPV encontrados neste estudo verificou-se maior prevalência do vírus tipo 58 (25%),
considerado de alto risco oncogênico. Estudos realizados na Ásia e na América do Sul demonstraram que este
tipo de HPV é o terceiro mais prevalente, ficando atrás
apenas dos tipos 16 e 1818, entre as mulheres africanas,
o segundo genótipo de alto risco mais comuns foram os
HPV 58 (9,4%), HPV 33 (6,3%) e HPV 56 (6,3%)19.
Os tipos de HPV de alto risco oncogênicos diferem muito entre si em relação ao potencial carcinogênico individual. Além disso, a prevalência desses tipos
Rev Pesq Saúde, 15(1): 218-222, jan-abr, 2014
varia de acordo com a região geográfica analisada20.
Estudos anteriores têm demonstrado que o HPV
52 foi o tipo mais prevalente no Leste da Ásia e um dos
mais comumente encontrado nas populações em Hong
Kong e Shenzhen City21,22. No presente estudo o HPV 52
foi segundo mais prevalente.
A prevalência da infecção genital por HPV apresenta grande variação conforme a região geográfica
estudada. Isto se deve a vários fatores que incluem: o
desenho do estudo, a sensibilidade do teste empregado para detecção viral, os tipos virais pesquisados e os
padrões sexuais socialmente aceitos. Além disso,
deve-se considerar a efetividade dos programas de
rastreamento do câncer cervical no diagnóstico e tratamento das mulheres com lesões induzidas23. O presente estudo, por ser transversal, não permitiu diferenciar
infecção incidente da infecção persistente por HPV.
Entre as participantes com mais de 45 anos, 8 apresentaram HPV positivo.
Estudos realizados na América Latina detectaram associação entre risco de câncer cervical e os
seguintes hábitos sexuais como: número de parceiros
e início da atividade sexual24. No presente estudo sobre
fatores comportamentais, 16 mulheres com mais de
dois parceiros iniciaram as atividades sexuais com
menos de 16 anos. No entanto, essas duas variáveis
não apresentaram associação estatisticamente significante com a infecção por HPV.
As alterações citológicas detectadas nos esfregaços cervicais foram semelhantes as frequências
aproximadas de 1% a 5%, encontradas por Nobre e
Lopes Neto25, no Amazonas e outras que variaram de
2% a 9% relatadas em mulheres atendidas pela rede SUS
rede pública no município de Patos de Minas (MG)26 e
município de São Luís (MA)27.
Os casos de alterações citopáticas relacionados
ao Papilomavírus Humano estavam associados ao processo inflamatório e lesões de alto grau.
Em relação à distribuição da infecção por HPV
nos resultados citológicos observou-se estatisticamente significante (p < 0,0001) nas mulheres com
menos de 30 anos.
Para adquirir o vírus do Papilomavírus humano é
necessário que a mulher esteja predisposta a fatores
de risco, como início precoce da atividade sexual,
número de parceiros sexuais e promiscuidade do parceiro sexual. Também são considerados fatores de
risco o número de partos, o uso de contraceptivo oral,
tabagismo, imunossupressão ou imunodeficiência,
Doenças Sexualmente Transmissíveis e outros.
Os resultados mostraram que o HPV 58 foi o tipo
mais prevalente seguido pelos tipos 52 e 73. A população estudada com fatores de risco para o HPV, foi constituída por mulheres que iniciaram a atividade sexual
com menos de 16 anos de idade e tiveram mais de dois
parceiros, não faziam uso de contraceptivos e já realizaram exame de Papanicolaou. Mulheres com menos
de 30 anos com diagnóstico de HSIL, associada ao HPV,
apresentaram estatisticamente mais risco para desenvolver lesões cervicais de alto grau. Não houve associação estatisticamente significante na associação do HPV
e lesões cervicais nas demais faixas etárias 30 a 45
anos e acima de 45 anos.
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FATORES ASSOCIADOS AO VÍRUS HPV E LESÕES CERVICAIS EM MULHERES QUILOMBOLAS
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