ARTE E CULTURA EGÍPCIA “O Egito é uma dádiva do Nilo” (Heródoto) As primeiras tribos nômades fixaram-se no vale e no delta do Nilo já em tempos pré-históricos. Como desenvolvimento da agricultura a partir das cheias, esses agrupamentos tornaram-se comunidades que se reuniam para semearas terras e irrigar as plantações após a cheia do Nilo. Eles formaram aldeias rurais que estruturaram-sedepois em quarenta províncias denominadas de ‘nomos’. Por volta de 4.000 a 3.500 a.C, impulsionados pela necessidades econômicas e como estratégia de defesa, os ‘nomos’ agruparam-se em doisreinos: o Alto e o Baixo Egito. A unificação do Egito, estruturada do sul para o norte, ou seja, do Alto parao Baixo Egito, só foiconseguida pelofaraó, Menés (entre cerca de 3.500 a 3.000 a.C), identificado comoNarmer, primeiro faraó egípcio, pois com ele foram iniciadas as 30 dinastias egípcias, perfazendo uma história de cerca de 3.000 anos. O tipo de governo que surgiu alifoi a monarquia teocrática, ou seja, um regime altamente centralizado, cuja base do poder do faraó estava na religião. Oseu caráter divino, baseado na sua identificação como a encarnação do deus Hórus, tornava o seu poderabsoluto e inquestionável. O faraó era a autoridade máxima em todas as esferas (religiosa, administrativa,social, econômica, judicial, militar), ele era o senhor de todas as terras e de todos os egípcios. Como já vimos na Mesopotâmia, também no Egito, com a urbanização, a organização do trabalhoe novas necessidades de mercado, o artista tornou-se um profissional, embora permanecesse geralmente como um artífice anônimo. Como ressalta o historiador da arte Arnold Hauser,“o criador de imagens de espíritos, de deuses e de homens, de utensíliosdecorativos e de joias, emerge do meio fechado do lar e torna-se umespecialista que faz dessa profissão seu modo de subsistência. Já deixoude ser o inspirado mágico ou o membro expedito do lar para tornar-se o artífice que cinzela esculturas, faz pinturas ou modela vasos,tal como outros fabricam machados e sapatos, e não é tido em muitomais alto apreço que o ferreiro ou o sapateiro. A perfeição do trabalhomanual, o controle seguro de materiais difíceis e o esmero da execuçãoimpecável, que é especialmente notável no Egito, em contrastecom a genialidade ou a despreocupação diletante da arte anterior, éresultado da especialização profissional do artista, da vida urbana coma crescente competição entre forças rivais e do treinamento de umaelite experimentada e exigente de conhecedores nos centros culturaisda cidade, nos recintos dos templos e no palácio real.” Assim, a arte egípcia foi uma expressão deste“Estado Teocrático”, por isso a importância da Arte Monumental, em que a matéria prima preferida foi a pedra, ao contrário da Mesopotâmia (que tinha escassez deste material). Como os períodos artísticos estão vinculadosao poder dos faraós, vamos abordá-los considerando a divisão didática da história egípcia em Antigo,Médio e Novo Império. Antigo império (c. 3.200 A. C. - 2200 A.C) As maiores realizações artísticas egípcias foram os templos e os túmulos. Os mais famosos exemplares,que datam desse período são as três grandes pirâmides dos faraós Queops (Khufu), Quefrem(Khafre) e Miquerinos (Menkure), da 4ª dinastia, fruto da evolução técnica conseguida pelos egípcios. Elas são descendentesdas mastabas (túmulos trapezoidais de um só pavimento, como pode ser visto abaixo) e da experiência do arquiteto Imhotep, construtor da pirâmidede degraus (também conhecida como pirâmide escalonada, também abaixo) de Sakara (superposição de seis mastabas) do faraó Zoser da 3ª dinastia. (Esquema de uma mastaba) (Pirâmide Escalonada de Zózer, Egito. C 2600 a.C.) Esses colossaistúmulos reais são feitos com imensos blocos de pedra,originalmente revestidos com pedracalcária branca, formando superfícies planas, polidas e brilhantes. Imagine isso refletindo o sol do deserto!! Dessa cobertura (depredada ao longodos séculos), só resta uma pequena parte no topo da pirâmide de Quéops. Interiormente, uma série decorredores conduzem à câmara funerária onde era depositada a múmia. Esses corredores, após o sepultamento do faraó,eram obstruídos com pedras como proteção a futuros saques.. que já existiam!! (Esquema do interior da Pirâmide de Queóps) Na verdade, as grandes pirâmides não estão sozinhas no meio do deserto: elas são parte de um conjunto funeráriomaior composto de pirâmides menores destinadas às rainhas eparentes reais, e construções cerimoniais de culto. Parte deste conjuntoé a Grande Esfinge, representação antropozoomórfica com corpode leão e cabeça humana. Sua construção é atribuída aofaraó Quéfrem. (Esfinge de Quéops. Gizé, Egito) Todas essas grandiosas construções só forampossíveis graças à estrutura egípcia baseada no poder religioso e temporal do faraó, o que permitia o surgimento do chamado “modo de produção asiático”: os egípcios (trabalhadores normalmente agrícolas) destinavam parte de seu tempo e parentes para trabalhar na construção somente pelo fornecimento de alimentação, não sendo escravizados.Vale a pena ressaltar que atualmente, o custo com materiais e mão-de-obra inviabilizariamessas construções. BOX:Quanto custaria construir a Grande Pirâmide de Gizé? “Mesmo com toda a tecnologia atual, ainda seria complicado (e caro) construir uma pirâmide equivalente” Redação Galileu (Se a grande pirâmide foi construída em 20 anos, uma pedra precisaria ser colocada a cada 5 minutos) A Grande Pirâmide de Gize, ou de Quéops, foi construída há 4500 anos – mas é tão grande e tão simétrica que é muito difícil imaginar como os egípcios teriam colocado a estrutura de pé. Ela tem 230 metros de largura em cada lado, quase 150 metros de altura e é feita de 2,3 milhões de pedras (cada uma pesando cerca de 3 toneladas, fechando o peso total em 6,5 milhões de toneladas). Relatos do Egito antigo dizem que ela foi construída em apenas 20 anos, o que significa que uma pedra era colocada lá a cada 5 minutos, pelo menos, durante este período. Para isso, uma enorme força de trabalho – 4mil escravos – seria necessária. Mesmo com a tecnologia atual, uma grande mão de obra seria necessária para replicar a construção – cerca de 2mil operários, trabalhando durante 5 anos. Seriam usados guindastes, motores, carros e até helicópteros. Tendo isso em vista, estima-se que reconstruir essa maravilha do mundo antigo custaria 8,6 bilhões de reais. Até hoje, não se sabe exatamente como a pirâmide foi feita, embora a teoria mais recente seja a de que as pedras eram empilhadas de dentro pra fora, através de uma rampa interna que ia até o topo da construção. Pesquisadores da Universidade de Laval, em Quebec, planejam fazer uma investigação em infravermelho por dentro da pirâmide, revelando se houve ou não essa estrutura em seu interior. A teoria antiga, de que havia uma rampa externa que circulava toda a pirâmide está desacreditada porque, para construir uma rampa larga suficiente para empurrar pedras gigantes, seria necessário o dobro de rochas do que o usado na própria pirâmide. Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI297672-17770,00-QUANTO+CUSTARIA+CONSTRUIR+A+GRANDE+PIRAMIDE+DE+GIZE.html (Pirâmides dos faraós Quéops, Quefreme Miquerinos) A escultura egípcia A escultura egípcia representa tanto o indivíduo como a classesocial à qual pertence, por isso os nobres sãomais idealizados que as pessoas de classe social inferior. Como solução técnica de apoio, as esculturas decorpo inteiro encontram-se presas nas costas aobloco de pedra.Para conferir maior equilíbrio estético à composição destas, as figuras de pé estão sempre dando umpasso (geralmente com a perna esquerda àfrente) de modo a distribuir o peso. A escultura do faraó Miquerinos e sua esposademonstram essas características bem como uma certa rigidez no corpo. (O faraó Miquerinos e a rainhaCamerernebti, esculturaem xisto, c. 2.470 a.C.Altura: 1,40 m. Museu deBelas Artes de Boston, EstadosUnidos da América.) No entanto isso nem sempre é a regra: a escultura do escriba sentado, encontrada em Sakara, possui menos rigidez emais realismo que a do faraó Miquerinos: os olhos, a boca e a mão direita estão preparados para escrever e denotam ummomento de atenção. É importante saber que os escribas tinham um papel muito importante no Egito Antigo, pois cabia a eles a confecção dos registros e o controle dos impostos. Nesta escultura nota-se que a pelefoi pintada de vermelho, cor destinada às figuras masculinas e os olhos foram incrustadosem branco com a pupila e íris negras de forma a criar uma expressão viva. (Escriba sentado emSakara,pedra calcária pintada, c.2.400 a.C. Alt: 53,0 cm. Museudo Louvre, Paris, França.) Relevos e Pinturas As paredes dos túmulos (reais e de particulares) e templos eram enfeitadas comrelevos narrativos coloridos acompanhados por inscrições em hieróglifos. No entanto essas representaçõesbidimensionais não apresentavam preocupação com a perspectiva e seguem a umasérie de convenções estabelecidas. Assim, as figuras mais importantes sempre estão emtamanho maior para dar mais destaque. As pessoas, quando de corpo inteiro, quase sempresão representadas da mesma forma: rostos de perfil, o torso frontal e as pernas vistas de lado, a isso chamamos “Lei da Frontalidade”. (Túmulo do faraóTutankamon, Vale dos Reis) As mulheres egípcias, geralmente, são pintadas de cor mais clara que os homens. Osdeuses trazem seus atributos simbólicos que permitem seu reconhecimento, como enfeites e instrumentos, além do rosto que – na maioria das vezes – apresenta feições zoomórficas (os deuses egípcios eram, portanto, representados de forma antropozoomórfica). Havia uma espécie de “produção em série” nos relevos das paredes dos túmulos, pois cada artesão era responsável pela confecção de um das partes: um fazia somente os pés, o outro as pernas, o outro o corpo, o outro o rosto e assim sucessivamente, pois todas as imagens tinham que representar o faraó da mesma maneira. Quanto à proporção, as figuras humanas eram representadas segundo um sistema regido por umquadriculado com unidades de igual tamanho, que garantia a repetição e unidade emqualquer escala e posição. Os artistas aplicavam o quadriculado nas superfícies a serem decoradas e ajustavamnele as figuras humanas a serem representadas. Todas essas regras são praticamente constantes através de todosos períodos artísticos egípcios, só havendo uma sensível ruptura no Novo Império. Além da pintura dos relevos, a pintura sozinha, propriamente, dita ornava túmulos e até ricasresidências. Além disso, eram mais baratas que os relevos pintados, que envolviam a arte escultórica. Na Mastaba de Nefermaat e de sua esposa Itet foram encontradas pinturas de cenas da vida diária deexcepcional qualidade. Uma dessas pinturas era um friso composto por gansos. Esse foi pintado natécnica da têmpera, com pigmentos minerais diluídos em água. É importante lembrar que tudo era feito de forma colorida; dos templos às estátuas, passando pelas decorações tumulares e se hoje eles não são, isso se deve ao tempo e às intempéries. Box: O Livro dos Mortos O Tribunal de Osíris Encarregadode julgar as almas, o tribunal deOsíris era composto de 42 deusespor ele chefiados. A alma, depoisde fazer a sua defesa através do"Livro dos Mortos", deveria declarar-seinocente dos 42 pecados econfirmar as suas virtudes. Depois,seu coração, símbolo daconsciência, era pesado numabalança por Anúbis. Se fosseinocente, ia viver em bosques compássaros canoros e lagos cheios delotos e gansos. “Recitar este capítulo junto a uma coroa feita de flores Ankham colocada perto do ouvido direito do morto; recitar igualmente junto a outra coroa envolta em tecido de cor púrpura, no qual, no dia dos funerais, será inscrito o nome do morto.” O Livro dos Mortos foi descoberto por Jean-François Champollion, por volta de 1830, quando estudava material egípcio no Museu de Turim, especialmente um papiro de vinte metros coberto de hieróglifos dispostos verticalmente, e outros fragmentos diversos. Chamou de “Ritual funerário”, já que tratavam da morte e do culto aos mortos. Ricardo Lepsius, que vinha estudando o livro desde 1836 deu a primeira versão para o nome do livro: “Saída para o dia”. Existem três edições em inglês: a de Birch, de 1867; a de Le Page Renouf, de 1897, que não foi terminada e a de W. Budge, de 1898. Existem duas edições em francês: a de P. Pierret, de 1882 e de Gregory Kolpaktchi, de 1954 e existe , ainda, uma edição espanhola de Juan Bergua, de 1960. A edição em português da Hemus, traduzida por Edith Carvalho Negraes, não esclarece a partir de que edição foi traduzida. (O Livro dos Mortos. 1982) Consiste em uma coleção de fórmulas que facilitam a passagem para o além. O livro data do Novo Império e é considerado o mais importante da literatura egípcia antiga. O nome Livro dos Mortos é o título dado pelos árabes: Kitabul-maitim. O título original em egípcio era Per-em-hru, ‘Livro da chegada à luz’. Compõe-se de cerca de 180 capítulos e era escrito em papiro ou couro, colocado numa caixa decorada com a imagem de Osíris, colocada no sarcófago. Foram encontradas centenas de exemplares, com ligeiras diferenças entre eles, como se pode observar em museus do mundo. Muitos capítulos são acompanhados de instruções para recitar a fórmula. Por exemplo, o capítulo XIII, A entrada para o Amenti (habitação dos mortos, a segunda etapa da Viagem, morada de Osíris, onde são julgados.) “Entro no Céu como um Falcão. Percorro as regiões do Céu como Fênix. Os deuses adoram Ra e ele prepara os caminhos. Agora penetro na bela Amenti. Eis-me junto ao Lago sagrado de Hórus; amarrei seus cães. Que oCaminho me seja aberto! Possa eu percorrê-lo e ir adorar Osíris, Senhor da Vida Eterna.” Médio império (2.200 a.C. - 1.785 a.C.) A arte desse período tenta resgatar o Antigo Império, mas sem as suas grandiosas construções.Nessa fase, a arte é mais marcada pela simplicidade e pelo realismo. Pouco restou das construções desse período por dois motivos básicos: a destruição feita pelos hicsos e a modernização realizada no Novo Império. Os túmulosreais da 12ª dinastia são pirâmides de dimensões bem inferiores às das grandes pirâmides de Gizé. Com relação à escultura, a serenidade do Antigo Império foi perdida e uma nova expressão surgiuprincipalmente nos retratos. Para o professor e estudioso Giovanni Garbini, “ao contrário das obras anteriores, os retratos dos faraós e do povo doMédio Império parecem quase iluminar-se pelo seu realismo físico. Maspermanecem de fato tão estilizados quanto os seus predecessores doAntigo Império: apenas o ideal mudou. Não mais se vê o deus-faraó ou o homem confiante no seu poder de manter a própria essência vitalmesmo no túmulo mas, ao contrário, um rei-faraó, bravamente militanteou humanamente sábio, ou ainda o súdito que antecipa com serenidadeuma vida além-túmulo muito semelhante à vida terrena”. (Parte do friso de pintura da Mastaba deNefermaat e de sua esposa Itet. 4ª dinastia,Medum, Egito. Museu do Cairo, Egito. Médio império) Ao procurar compreender a escultura do Médio Império, éimportante perceber que a forma é primariamente modelada para receber aluz, que agora assume um papel dominante. Assim, os volumes contidos do AntigoImpério foram trabalhados com um modelado mais elaborado e suavizadopelo jogo de luz e sombra.Dessa forma, temos a escultura do faraó Amenemhet III, com uma expressão serena, mas quase triste. Na decoração das tumbas, os relevos foram substituídos pelas pinturas. Cenascom animais são bastante frequentes. As pinturas mais célebres desse período foramdescobertas em BéniHasen. No túmulo de Ukhotep, em Meir, as cores são intensificadas por variações de tons numa espécie de técnica pontilhista. Exemplo bem preservadodessa técnica é a pintura do sarcófago de Djehuty-nekht, da 12ª dinastia. BOX: Novo império (1580 a 525 a.C.) Por ser mais recente, a arte do Novo Império ainda é possível ser vista e admirada em construções. Na arquitetura,destacam-se imponentes templos, estruturados em partes chamadaspilone, peristilo, sala hipostila e santuário. O pilone apresenta de formato trapezoidal e é a monumental entrada do templo, ladeadapor duas torres maciças (é a grande fachada, o primeiro umbral a ser transposto. Obs.: em alguns templos,obeliscos e estátuas eram colocados em frente ao pilone.). (Templo de Ísis em Filas, com pilones e um pátio fechado à direita, e o edifício interno à esquerda) Ao passar por ele, entrava-se no peristilo,um pátio com pórticos. Esse pátio leva-se à sala hipostila (sala de colunas), cujo teto é sustentado por travesde colunas (sistema arquitravado). Atrás desta sala estava o santuário, o local mais sagrado do templo, que abrigava a estátua do deusao qual era dedicado. Esses quatroelementos que formam o templo sãodispostos hierarquicamente, com funçõesdiferenciadas, do público para osagrado. Assim o acesso era progressivamente filtrado, estando o santuárioreservado exclusivamente para ossacerdotes e o faraó, o chefe religiosode todo o Egito. O mais famoso templodo Novo Império era Karnak, dedicadoao deus Amon, iniciado em cercade 1.390 a.C., sofreu acréscimos nodecorrer dos séculos pelos faraós quequeriam se eternizar. Além dele, há o grandioso templo funerário da rainha Hatshepsut(1.501-1.480 a.C), em Deir El-Bahri, projetado pelo arquiteto Senmut. Em grande escala, possui três terraços, umarampa de acesso e uma elegante colunata (nome dado a uma sequência de colunas). O santuário e a sala hipostila estão dissimulados no rochedo e ospátios abertos correspondem ao peristilo. As colunas apresentam 16 faces. A decoração em relevo dos pilares e paredes dotemplo revela uma arte cortesã. As cenas que retratam a expediçãoà Terra de Punt são, particularmente, reveladoras de uma liberdade,vivacidade e ironia na narrativa até então desconhecida. (Templo de Hatshepsut em Deir El-Bahri, 18ª dinastia, séc.XV a.C. Egito) Quanto à arquitetura funerária, em virtudedas violações de sepulturas na época dos hicsos, foi escolhido um novo local para as sepulturas: o Vale dos Reis, uma área desértica de fácilvigilância. Os túmulos no Vale dos Reis ficaram conhecidos pelo nome de hipogeus (de: hipo – abaixo e geos – terra),estruturas subterrâneas, com vários compartimentos, escavadas nasencostas das montanhas. Esses compartimentos eram decoradoscom relevos e pinturas que traziam narrativas sobre a vida do morto,as promessas de vida no além e inscrições mágicas que orientassem apassagem para a vida eterna, além de salas que enganassem os violadores e poços que serviam de armadilhas. Neste período foi importante o faraó Ramsés II (c.1290-1224 a.C.), que reafirmou a primazia egípcia durante o seu reinado, considerado o último período de destaque dopoder faraônico. Éresponsável, dentre outros monumentos, pela construção do templo de AbuSimbel, um marco simbólico do poder na região. Escavado na pedra, o complexo compreende dois templos: um dedicado a Amon, Rá e Ptah e o outro dedicado à deusa Hathor. Quatrocolossais estátuas do faraó com cerca de 20 metros de altura decorama fachada de 35 metros em média. No interior, a sala hipostilatraz uma série de altas colunas e uma profusão de relevos comnarrações e ilustrações. Após um vestíbulo, há um santuário comas esculturas sentadas dos deuses patronos do templo e RamsésII. Essa câmara foi posicionada de forma a receber em seu escurointerior os raios solares duas vezes por ano. (Entrada do túmulo de Ramsés II, Vale dos Reis. Abu Simbel, Egito.) No Novo Império, as esculturas eram realizadas em busca de graça e elegância. Embora houvesseum maior realismo nos rostos, as regras de composição ainda eram seguidas. Uma das maiores contribuiçõesdesse período foi a pintura. Utilizada em maior escala na decoração dos túmulos do Vale dos Reis,agora era independente dos relevos. O monoteísmo de Akenaton Por um breve período na longa história do Egito, o politeísmofoi substituído por um culto monoteísta. Isso ocorreu no século XIV a.C. com o faraó Amenófis IV que trocou seu nome para Akenaton em honra do deusúnico Aton. Ele transferiu a capital de Tebas para Tellal-Amarna, para facilitar o seu controle, pois esta cidade era mais central em relação ao rio Nilo. Aarte desse período é bastante característica, pois além de retratar os soberanosem situações cotidianas com alto grau de realismo e informalidade, mostra figuras mais delgadas e sinuosa.Exemplo disso é uma estela de Amarna retratando a família real emuma situação informal, com demonstração de afeto familiar, e adoração ao deus Aton, representado no alto pelo disco solar e seus raios que banham seus adoradores reais. BOX: Champollion e a Pedra de Roseta Diante do grande e antigo Templo de Dendera, no Alto Egito, aqueles quinze homens sentiram-se petrificados. O luar brilhava através do pórtico, iluminando as centenas de hieróglifos e figuras entalhadas nas superfícies de arenito duro do templo. O chefe da expedição, Jean-François Champollion, mantinha um ar de calma, mas estava intimamente admirado. Desde menino ele havia sonhado com o Egito Antigo. Depois de ter estudado todos os livros sobre o Egito que conseguira, ele passara a conhecer esse país tão bem que vivia nele em seus sonhos e imaginações. Agora, em 1828, esse francês, curador do museu e professor de História, com 38 anos de idade, pisava o solo de uma terra que, embora antes distante, era como um lar para ele. Para os outros homens da expedição, Champollion, com sua pele escura e usando veste e turbante, parecia um habitante daquela antiga região. Eles o chamavam de "o egípcio". Quando Champollion contemplou os belos e solenes hieróglifos inscritos nas colunas e paredes de Dendera, começou a fazer uma leitura deles... a primeira pessoa a fazer isso num período de quase dois mil anos. A misteriosa história daquela terra antiga começou a jorrar diante de seus próprios olhos. As lendas de poderosos reis, sacerdotes e deuses, foram contadas novamente. A terra dos mortos tornava-se viva! Mas esse conhecimento concedido a Champollion não viera facilmente. Muitos outros haviam tentado adquirir os segredos do Egito. E por vezes tinham quase desvendado os mistérios, mas obstáculos imprevistos tinham-nos levado a desistir, desanimados. O que tornava Champollion diferente era sua genialidade lingüística e sua compulsiva e persistente paixão de conhecer o Egito. Ele conhecia mais de doze línguas, muitas delas do Oriente Próximo. Era uma das poucas pessoas, no começo do século dezenove, que conheciam o copta, língua que sucedeu ao egípcio antigo. Mas o que Champollion tinha acima de tudo era a disposição de seguir sua própria intuição, de abandonar a tradição quando ela era restritiva ou errônea. Ele teve de rejeitar conceitos que datavam de 2000 anos, à época de Heródoto, segundo os quais os hieróglifos seriam uma escrita puramente simbólica e pictórica. A revolução de Champollion consistiu em reconhecer a qualidade alfabética daqueles sinais. A chave dessa revolução encontra-se agora no Museu Britânico, em Londres. Trata-se de uma pedra de basalto negro, muito desgastada e quebrada, entalhada com três formas de escrita: hieroglífica egípcia, demótica egípcia, e grega. Essa pedra foi descoberta perto da cidade de Rosetta (ou Rashid) — daí seu nome — durante a desastrada campanha de Napoleão no Egito, em 1799. Embora tenha sido um fracasso militar, essa expedição foi um sucesso arqueológico, já que os 150 eruditos e artistas que acompanhavam o exército de Napoleão catalogaram e desenharam os remanescentes do glorioso passado do Egito. E tropeçaram em um mundo desconhecido; mas os eruditos perceberam que, assim que fossem decifrados os hieróglifos da Pedra de Roseta, eles poderiam então conhecer alguma coisa daquela antiga civilização. Claramente, os dois textos egípcios eram traduções do grego. Seguramente, eles pensaram, seria simples decifrá-los. Mas não seria assim. Mais de vinte anos de infrutíferas sondagens e conjecturas passariam antes que o erudito francês, Jean-François Champollion pudesse anunciar ao mundo, em 1822, que resolvera o enigma. (Arnaldo Poesia, Paris, 1995) Nefertiti, a esposa de Akenaton, que teve papel decisivo nessa nova configuração e no culto a Aton, foi imortalizada por um busto que se encontra sob a guardado Museu de Berlim. Essa escultura é considerada uma das obras primas doestilo Amarna. Segundo Janson, ela quebra a “rigidez da imobilidadetradicional. Não só os contornos mas também a configuração plástica parecem mais flexíveis e descontraídos, antigeométricos”. (Busto da Rainha Nefertiti, calcário e estuque, cerca 1345 a.C. – ‘NeuesMuseum’, Berlim, Alemanha.) Com a morte de Akhenaton, instituiu-se um período de convulsão popularcontornado pela ação dos sacerdotes de Amon. Eles se encarregaram dedestruir Amarna, os templos a Aton, perseguir os antigos adeptos e afastar ossucessores de Akhenaton. Considerado um rei herético, seus inimigos tentaram apagá-lo da históriado Egito apagando todas as inscrições que trouxessem seu nome. A capitalvoltou a ser Tebas e o clero de Amon restabeleceu o poder. A liberdade artísticadesse período – contudo - abriu novos caminhos para a arte egípcia. (Estela em pedra calcárea de Amarnacom o faraó Akenaton, a rainha Nefertiti e suas filhas. Egito, c. 1.350 a.C.Museu de Berlim, Alemanha.) A arte egípcia resistiu à dominação persa (525-404 a.C), à conquista de Alexandre (332 a.C.), ao períodoptolomaico (332-30 a.C) e à dominação romana iniciada em 30 a.C. A ruptura final veio no séc.IV d.C. com aascensão do Cristianismo a religião oficial do Império Romano. A partir de então os templos egípciosforam fechados, o conhecimento da escrita hieroglífica e a tradição da arte egípcia foi desaparecendo gradativamente e sofrendo transformações. Box: A Religião Egípcia e os deuses mais importantes A religião egípcia - como qualquer outra religião registrada na história - tinha importante papel no sistema social, sendo a justificadora de poder da elite egípcia. Politeísta e zoomórfica, atribuía a vários diferentes deuses o controle sobre os sistemas transcendentais que compunham sua filosofia, sistemas como a Natureza e o sistema espiritual. Era, em essência, uma forma de explicar á sociedade como funcionava o sistema transcendental da vida e da morte e as relações dele com a natureza. Os Deuses egípcios eram imaginados por seus fiéis como sendo feitos de carne e osso e acreditava-se que tinham as mesmas necessidades de qualquer ser vivo, sendo inclusive alimentados com oferendas, por isso tantas inscrições e tanta comida foram encontradas nos túmulos. Além de politeísta, a religião egípcia tinha uma imensa quantidade de deuses que tinham relação com a natureza e com os homens. Segue abaixo uma relação dos principais deuses e deusas do panteão (de: pan – todos, tudo e teos – deuses): Referências Bibliográficas BENEVOLO, Leonardo. A História da Cidade. São Paulo, Perspectiva, 1999. CUNHA, Almir Paredes. Dicionário de Artes Plásticas. Rio de Janeira: EBA/UFRJ, 2005. V.1 GARBINI, Giovanni. Mundo Antigo. O mundo da Arte. Livraria José Olympio Editora/ Editora Expressão e Cultura. Rio de Janeiro. 1966. GIODANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. Petrópolis: Vozes, 1969. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Livros Técnicos e Científicos Editora S. A. - LTC. Rio de Janeiro. 1999. HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo, Mestre Jou, 1982. JANSON, H. W. História da Arte: panorama das artes plásticas e da arquitectura da Pré-História à actualidade. 3ª ed. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 1984. LOMMEL, Andreas, A Arte Pré-histórica e Primitiva. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora/ Editora. Expressão e Cultura, 1966. 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