VETERINÁRIA EM FOCO Revista de Medicina Veterinária Vol. 7 - No 2 - Jan./Jun. 2010 ISSN 1679-5237 Presidente Augusto Ernesto Timm Neto Vice-Presidente Joseida Elizabete Timm Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio González Hernández Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Sara Beatriz del Cueto Moraes VETERINÁRIA EM FOCO Disponível eletronicamente no site www.ulbra.br/medicina-veterinaria/rfoco.htm Indexadores AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX Comissão Editorial Prof. Ms. Carlos Santos Gottschall Prof. Dr. Luís Cardoso Alves Prof. Dr. Sérgio José de Oliveira Conselho Editorial Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP - Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Cesar H. E. C. Poli (UFRGS) Profa. MSC. Cristine Bastos Dossin Fischer (ULBRA) Prof. Dr. Eduardo Malschitzky (ULBRA) Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Ms. João Sérgio Coussirat de Azevedo (ULBRA) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Profa MSC Maria Inês Witz (ULBRA) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA) Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS) Profa. MSC. Maria Inês Witz (ULBRA) Profa. Ms. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA) Prof. Dr. Paulo Ricardo Loss Aguiar (ULBRA) Prof. Dr. Renato Silvano Pulz (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Secretaria do Curso de Medicina Veterinária ULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 60 - Sala 01 CEP: 92425-900 - Fone/fax: (51) 3477.9284 E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected] Editora da ULBRA Diretor - Astomiro Romais Coordenador de periódicos - Roger Kessler Gomes Capa - Everaldo Manica Ficanha Editoração - Roseli Menzen Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 CEP: 92425-900 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Solicita-se permuta We request exchange On demande l'échange Wir erbitten Austausch Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida com referência à fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003). – Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05) Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero Sumário 107 Editorial Artigos científicos 108 Aspectos relacionados ao uso do sêmen congelado de garanhões Paulo Roberto Rojas Scaldelai, Beatriz Ramos Bertozzo, Mônica Yurie Machado Shiroma, Juliana Bueno de Castro, Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari 124 Efeitos do uso de GNRH no momento da IATF e dias pós-parto sobre a taxa de prenhez em vacas de corte com cria ao pé Carlos Santos Gottschall, Milena de Vargas Schüler, Carla Tiane Dal Cortivo Martins, Marcos Rosa de Almeida, Jéssica Magero, Jean Carlos dos Reis Soares, Hélio Radke Bittencourt, Rodrigo Costa Mattos, Ricardo Macedo Gregory 135 Perda reprodutiva causada pelo footrot em dois rebanhos ovinos no Rio Grande do Sul Luiz Alberto Oliveira Ribeiro, Gustavo Felipe Lopes, Fernando Magalhães de Souza, Carla Menger Lehugeur 141 Inquérito soroepidemiológico para brucelose em suídeos do Brasil Pedro Moreira Couto Motta, Antônio Augusto Fonseca Jr., Anapolino Macedo de Oliveira, Kelly Fagundes Nascimento, Paulo Martins Soares Filho, Cláudia Vieira Serra, Aládio Lopes Jesus, Anselmo Vasconcelos Rivetti Jr., Alberto Knust Ramalho, Pedro Moacyr Pinto Coelho Mota, Ronnie A. Assis, Marcelo Fernandes Camargos 148 Amblyomma aureolatum (Pallas, 1772) (Acari: Ixodidae) em Puma concolor: primeiro registro em Santa Catarina, Brasil Sandra Márcia Tietz Marques, Rosiléia Marinho de Quadros, Marcelo Mazzolli, Gino Chaves, Rodrigo César Benedet, Klaus Guinter Lessmann 153 Cirurgia endoscópica transluminal por orifícios naturais: o que é? Beatriz Guilhembernard Kosachenco, Fabiana Schiochet, Carlos Afonso de Castro Beck 165 Sutura extramucosa em pontos separados simples e plano único no esôfago torácico de cães Ana Maria Quessada, Lucy Marie Ribeiro Muniz, João Macedo de Sousa, Karina Oliveira Drumond 175 Hiperadrenocorticismo associado com linfossarcoma hepático em cão – relato de caso Éverton Eilert Rodrigues, Melina Garcia Guizzo, Eduardo de Freitas Costa, João Pereira Guahyba Bisneto, Simone Tostes de Oliveira, Félix Hilario Díaz González, Alan Gomes Pöppl 185 Catarata em cães – revisão de literatura Luciane de Albuquerque, Ana Carolina da Veiga Rodarte de Almeida, Paula Stieven Hünning, Fabiana Quartiero Pereira, Cláudia Skilhan Faganello, João Antonio Tadeu Pigatto 198 Hematoma auricular em gato: relato de caso Fabiana Schiochet, Eloete Teixeira, Paulo Ricardo Centeno Rodrigues, Andréia Weber Gimosk, Carlos Afonso de Castro Beck, Emerson Antonio Contesini, Marcelo Meller Alievi, Letícia Mendes Fratini 206 Anestesia para procedimento ortopédico em avestruz (Struthio camelus) Viviane Machado Pinto, Maria Eugênia Menezes de Oliveira, Jussara Zani Maia, Maria Inês Witz, Mariane Feser, Mariangela da Costa Allgayer 215 Normas editoriais Editorial Prezado leitor, este volume representa o amadurecimento da revista Veterinária em Foco em relação a nossa proposta inicial. Nesse exemplar estão disponíveis artigos científicos, relatos de caso e uma revisão de literatura oriundos de diversos pesquisadores de diferentes instituições públicas e privadas do País. O volume inicia com um artigo sobre aspectos relacionados ao uso de sêmen congelado de garanhões com o objetivo de informar o leitor sobre as diferentes metodologias e etapas envolvidas no uso do sêmen congelado, bem como difundir o uso dessa técnica. Na sequência, são apresentados resultados sobre os efeitos do uso de GnRH no momento da IATF e dias pós-parto sobre a taxa de prenhez em vacas de corte com cria ao pé. A seguir, o leitor terá acesso a um trabalho sobre perda reprodutiva causada pelo footrot em dois rebanhos ovinos no Rio Grande do Sul. O inquérito soroepidemiológico para brucelose em suídeos do Brasil, enviado por pesquisadores de Minas Gerais, é o quarto artigo publicado. Após segue um artigo com registro inédito de parasitismo por Amblyomma aureolatum em um Puma concolor resgatado pelo Projeto Puma em Lages, Santa Catarina. Encontram-se ainda diversos artigos com abordagem clínica e cirúrgica em pequenos animais, com destaque para a cirurgia endoscópica transluminal, o uso de sutura extramucosa em pontos separados simples e o plano único no esôfago torácico de cães. O hiperadrenocorticismo associado com linfossarcoma hepático em cão também é abordado, assim como a catarata em cães e um relato de hematoma auricular em gato. Por fim, é descrita a anestesia para procedimento ortopédico (amputação de asa), em avestruz. Boa leitura. Comissão Editorial Aspectos relacionados ao uso do sêmen congelado de garanhões Paulo Roberto Rojas Scaldelai Beatriz Ramos Bertozzo Mônica Yurie Machado Shiroma Juliana Bueno de Castro Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari RESUMO O sêmen congelado atua como seguro biológico do garanhão. Permite o transporte a longas distâncias e preserva os gametas por tempo indeterminado. As desvantagens advêm da baixa criorresistência, variação entre raças, garanhões e ejaculados, menores taxas de prenhez e rendimento de doses por ejaculado. Diferentes metodologias para as etapas envolvidas no uso do sêmen congelado procuram aumentar a aplicabilidade em nível de campo. A presente revisão aborda aspectos relacionados à utilização do sêmen congelado de garanhões enfocando número total de espermatozoides e volume da dose, local de deposição, momento e frequência da inseminação, transporte espermático, resposta uterina e utilização do sêmen sexado. Palavras-chave: Criopreservação. Equino. Espermatozoide. Inseminação artificial. Aspects related to the use of stallion frozen semen ABSTRACT The frozen-thawed semen acts like a stallion’s biological insurance, allows the long distances transportation and preserves the gametes for an indefinite time. The disadvantages come from low cryoresistance, breed variation, stallions and ejaculates, lower pregnancy rates and dose-income per ejaculate. Different methodologies for the steps involved in the use of frozen-thawed semen seek to increase the field applicability. The present review brings up aspects related to the stallion frozen-thawed semen utilization, focusing total sperm number and volume of the dose, site, moment and frequency of the insemination, sperm transport, uterine response and sexed semen utilization. Keywords: Artificial insemination. Cryopreservation. Equine. Spermatozoa. Paulo Roberto Rojas Scaldelai é acadêmico de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS. Bolsista PIBIC 2007/08. Beatriz Ramos Bertozzo é acadêmica de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS. Bolsista PIBIC 2007/08. Mônica Yurie Machado Shiroma é acadêmica de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS. Bolsista PIBIC 2007/08. Juliana Bueno de Castro é acadêmica de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS. Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari é Médica Veterinária, Professora, MSc., Dra., Laboratório de Biotecnologia da Reprodução Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UFMS. Endereço para correspondência: Avenida Senador Felinto Müller, 2443. Campo Grande/MS. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.108-123 jan./jun. 2010 INTRODUÇÃO A longevidade dos gametas e a duração do estro são fatores determinantes no estabelecimento do momento e frequência das inseminações artificias (IA). Além disso, na espécie equina o momento da ovulação está relacionado ao término do cio e não ao seu início, como na maioria das espécies domésticas (GINTHER, 1992). Para o sêmen criopreservado atenção especial deve ser dispensada quanto a esses aspectos, pois o ciclo congelação/descongelação tanto reduz, em cerca de 50%, o número de espermatozoides viáveis, como também sua longevidade. Portanto, a IA deve ser efetuada o mais próximo possível do momento da ovulação (SQUIRES et al., 1999). Alguns fatores impedem que o sêmen equino congelado seja usado em larga escala, dentre eles, a variação individual a criopreservação e o baixo rendimento de doses por ejaculado (MORRIS et al., 2003). Pelo método tradicional as éguas são inseminadas no corpo do útero, com uma dose mínima de 300 a 500 x 106 espermatozoides (SAMPER, 2001). Novas técnicas de inseminação artificial vêm sendo avaliadas com o objetivo de aumentar o rendimento de doses/ejaculado. Com o auxílio de histeroscópio ou pipetas longas flexíveis, um número reduzido de espermatozoides pode ser depositado sobre ou ao redor da papila útero-tubárica (RIGBY et al., 2001). Estes métodos são de especial importância quando se utiliza o sêmen sexado por citometria de fluxo, pois são obtidos apenas cerca de 5 a 15 x 106 espermatozoides/hora (LINDSEY et al., 2001). A presente revisão tem como objetivo abordar aspectos relacionados à utilização do sêmen congelado de garanhões, com enfoque sobre número total de espermatozoides e volume da dose, local de deposição, momento e frequência da inseminação, transporte espermático, resposta uterina frente ao sêmen e a utilização de sêmen sexado. REVISÃO DE LITERATURA Número total de espermatozoides e volume da dose inseminante O volume utilizado na inseminação artificial varia de acordo com a técnica adotada. Valores entre 0,6 a 120 ml resultaram em taxas de prenhez aceitáveis para a inseminação artificial convencional no corpo do útero (ALLEN et al., 1976; BEDFORD; HINRICHS, 1994 citados por MORRIS, 2004). Volumes inferiores aos normalmente utilizados têm sido testados por diminuírem o refluxo uterino (KATILA et al., 2000) e otimizarem o uso do sêmen congelado. Morris et al. (2000) trabalharam com sêmen resfriado na inseminação por histeroscopia e, ao testarem diferentes doses com volumes de 30 a 150 μl, constataram que a variação no volume não exerceu influência sobre as taxas de prenhez. Doses de sêmen congelado, com motilidade > 35%, foram comparadas quanto ao volume (0,5 ml vs 4 ml + 8 ml diluente INRA82) e concentração (100 x 106 vs 800 x 106 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 109 espermatozoides), respectivamente, não sendo observada diferença significativa entre os grupos para a taxa de prenhez (SIEME et al., 2004). Neste estudo as doses com volume e concentração menores equivaliam a 10% daquelas geralmente recomendadas, no entanto as taxas de prenhez foram satisfatórias, o que sugere uma reavaliação da dose mais indicada. Não há um protocolo padrão adotado mundialmente para a congelação do sêmen equino. Apesar do número mínimo de espermatozoides/dose inseminante variar entre reprodutores é importante determinar o menor valor necessário, para se atingir taxas de prenhez aceitáveis para a maioria dos garanhões. Além disso, dado laboratório geralmente utiliza uma metodologia única, portanto, o número de espermatozoides/ palheta, como de palhetas/inseminação também varia conforme o laboratório e não apenas em função do garanhão. Na busca de uniformidade a Federação Mundial de Reprodução para Cavalos de Esporte (WBFSH) estabeleceu uma concentração mínima ≥250 x 106 espermatozoides viáveis e motilidade progressiva ≥35% (MILLER, 2008). A maioria dos experimentos na área utiliza essa concentração e motilidade mínimas para utilização do sêmen congelado. Uma concentração de 100 a 1600 x 106 espermatozoides/ml pode ser utilizada ao congelar sêmen em palhetas de 0,5 ml. Nos testes de fertilidade o sêmen deve conter, pósdescongelação, no mínimo 30% de espermatozoides com motilidade progressiva e, em razão desta variar entre garanhões, deve se obter entre 100 e 400 milhões de espermatozoides viáveis após a descongelação (SQUIRES et al., 1999). Samper e Morris (1998) reportaram uma taxa de concepção/ciclo de 73% para éguas inseminadas, 24 e 36 horas após indução da ovulação, com uma dose de 600 x 106 espermatozoides congelados. O desenvolvimento da técnica de inseminação artificial com baixa concentração espermática tem trazido benefícios como aumentar o rendimento de doses/ejaculado e ser uma ferramenta potencial no aumento da fertilidade de garanhões com subfertilidade adquirida (SIEME et al., 2004). Para doses inferiores a 5 x 106 espermatozoides totais (MORRIS; ALLEN, 2002) ou volumes menores que 0,5 ml (MILLER, 2008) a literatura recomenda, preferencialmente, o uso da histeroscopia para se obter taxas mais altas de concepção. A histeroscopia permite que a concentração de sêmen criopreservado seja reduzida com sucesso para 3 x 106 espermatozoides (MORRIS, 2004). Lindsey et al. (2005) utilizando a histeroscopia obtiveram 72% de taxa de prenhez para dose de 20 x 106 de espermatozoides resfriados sexados, em volume de 300 μl, enquanto para inseminação no corno uterino, guiada por palpação retal, com a mesma dose e volume, esta caiu para 38%. Samper et al. (2005) trabalhando com palhetas de 0,5 ml e concentrações de 50 a 150 x 106 espermatozoides totais, inseminaram 265 éguas, com pipeta flexível no ápice do corno uterino ou por histeroscopia. A ovulação foi induzida e as inseminações feitas após sua detecção. As taxas médias de recuperação embrionária não diferiram significativamente entre as técnicas, sendo de 50,7% para histeroscopia e 46% para pipeta flexível. A inseminação com baixa concentração espermática irá maximizar a relação macho:fêmea e terá muita importância para o sêmen sexado ou quando um número 110 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 restrito de doses de sêmen congelado estiver disponível (MORRIS; ALLEN, 2002). Squires et al. (2000) avaliaram a diferença nas taxas de prenhez considerando quatro tratamentos: sêmen fresco sexado e não sexado e sêmen congelado sexado e não sexado. A inseminação era realizada por histeroscopia com 5 x 106 espermatozoides viáveis em volume de 230 μl. A taxa de prenhez para o sêmen congelado sexado foi inferior (13%; p<0,05) a dos demais tratamentos, que não diferiram entre si (40, 38 e 38% para fresco não sexado, fresco sexado e congelado não sexado, respectivamente). Rotineiramente, as éguas são inseminadas com sêmen fresco no corpo uterino, com 500 x 106 de espermatozoides viáveis, diariamente ou em dias alternados, durante o estro. Recomenda-se 800 x 106 espermatozoides com motilidade ≥30% após a descongelação (SIEME et al., 2004). Volkman e Van Zyl (1987) utilizando sêmen congelado em palhetas de 0,5 ml de dois garanhões para inseminar 60 éguas, relataram um aumento significativo da taxa de prenhez, de 44 para 73% quando a dose inseminante média se elevou de 175 para 249 x 106 espermatozoides viáveis. Kloppe et al. (1988) empregaram sêmen congelado na concentração de 600 x 106 espermatozoides/macrotubo (5 x 240 mm) e obtiveram taxas de prenhez variando de 55 a 60%. Leipold et al. (1998) ao utilizarem dose inseminante de 320 e 800 x 10 6 espermatozoides viáveis e compararem concentrações de 400 e 1600 x 10 6 espermatozoides/ml congelados em palhetas de 0,5 ml (fatorial 2 x 2), obtiveram maiores taxas de prenhez (37%) para a concentração de 1600 ao invés de 400 x 106 espermatozoides/ml (22%). O aumento de 320 para 800 x 106 espermatozoides viáveis, não exerceu diferença significativa nas taxas de prenhez. Diante dos resultados obtidos os autores recomendam a congelação de 800 x 106 espermatozoides/palheta de 0,5 ml e uma dose inseminante com 320 x 106 espermatozoides viáveis. Squires et al. (2003) utilizando dose inseminante única com 800 x 10 6 espermatozoides totais ou duas inseminações pós-ovulação, contendo a metade do número de espermatozoides totais (400 x 106), obtiveram taxas de recuperação embrionária de 55% e 60%, respectivamente, não constatando diferença significativa. Já, para éguas inseminadas duas vezes, após indução da ovulação, com doses de 200 x 106 espermatozoides totais, no corno ou no corpo uterino, as taxas de recuperação embrionária diferiram significativamente (20% vs 50%, respectivamente). Da mesma forma, Barbacini et al. (2005) buscando determinar as melhores dose e frequência para a inseminação artificial, encontraram para éguas inseminadas com 800 x 106 espermatozoides totais pós-ovulação, taxa de prenhez/ciclo em torno de 47%. A seguir usaram o mesmo número total de espermatozoides, mas comparando uma ou duas inseminações e obtiveram taxas de prenhez/ciclo significativamente diferentes (57% e 76%, respectivamente). Por outro lado, éguas que foram inseminadas duas vezes com 400 x 106 espermatozoides totais por dose atingiram uma taxa de prenhez/ ciclo de 80%, resultado bastante satisfatório. Metcalf (2005) trabalhando com duas inseminações após indução da ovulação e com <200, 200 – 400, 400 – 600, 600 – 800 e > 800 x 106 espermatozoides viáveis, relatou taxas de prenhez de 54%, 70%, 60%, 88,2% e 56,4%, respectivamente. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 111 Concluiu que a dose inseminante entre 600 – 800 x 106 espermatozoides viáveis foi significativamente melhor que as demais, as quais não diferiram entre si. Entretanto, Barbacini et al. (2005) testaram duas inseminações, após a indução da ovulação, com valores de 400 e 800 x 106 espermatozoides e obtiveram taxas de prenhez de 60% e 31% (p>0,05), respectivamente. A inseminação artificial é seguida de uma endometrite e o uso de doses e volumes menores parece minimizar esse processo (SIEME et al., 2004). Essa não é a única vantagem da diminuição da dose e volume inseminantes, levando em consideração o aumento do rendimento de doses/ejaculado, aumento da fertilidade de garanhões com subfertilidade adquirida e viabilidade no uso do sêmen sexado. Portanto, doses com cerca de 300 milhões de espermatozoides viáveis são recomendadas para o sêmen congelado, mas estudos mostram um crescente sucesso no uso de doses menores quando associadas às novas técnicas de inseminação artificial. Local da inseminação artificial A maximização na utilização do sêmen de determinados garanhões, principalmente daqueles com infertilidade adquirida, gera discussões quanto à melhor dose a ser usada e o local de deposição seminal. O objetivo é alcançar uma alta taxa de concepção com a menor dose, embora o número mínimo de espermatozoides por dose inseminante varie entre garanhões. A introdução da técnica de congelação do sêmen equino gerou polêmicas quanto à sua eficiência na obtenção de taxas satisfatórias de prenhez. Muller (1982) inseminando 175 éguas, com 200x106 espermatozoides/ml viáveis e deposição seminal na porção média do corpo uterino, obteve uma taxa de prenhez de 40-45%. Em estudo posterior, Müller (1987) avaliando 959 éguas, relatou taxa de prenhez de 56%, quando a deposição seminal foi realizada na porção inicial do corpo uterino. Valores similares foram observados por Cristanelli et al. (1984) que trabalhando com 108 ciclos estrais de 90 éguas, compararam a eficiência da inseminação artificial no corpo do útero com sêmen fresco ou congelado de três garanhões. Os autores constataram que embora não tenham diferido significativamente, as taxas de prenhez para o congelado (50, 56 e 61%) corresponderam a 86% daquelas obtidas com o sêmen fresco (67, 67, 61%). Uma alternativa à deposição do sêmen no corpo do útero é a inseminação no ápice do corno uterino. Rigby et al. (2000) constataram a presença de espermatozoides viáveis na junção útero-tubárica após a inseminação no ápice do corno ou na porção média do corpo do útero. Os autores acreditam que a inseminação artificial no corno possa aumentar a taxa de prenhez por elevar o número de espermatozoides viáveis no oviduto, em especial quando se utiliza sêmen congelado, pois o número de espermatozoides viáveis é reduzido. Embora Squires et al. (2003) tenham obtido uma taxa de recuperação embrionária menor para inseminação no corno (4/20; 20%) que no corpo do útero (10/20; 112 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 50%), os autores atribuem esse pior resultado à inexperiência do técnico em posicionar corretamente o cateter e também a possível resposta inflamatória uterina mais intensa pelo fato das éguas terem sido inseminadas 24 e 40 h após a aplicação do hCG. Güvenc et al. (2005) avaliaram o efeito do número total de espermatozoides na dose inseminante e do local de deposição do sêmen, corpo do útero e ápice do corno ipsis lateral ao folículo pré-ovulatório, sobre a resposta inflamatória intrauterina. Verificaram que a inseminação no ápice do corno uterino com o uso da pipeta plástica flexível associada à palpação transretal, não aumentou a resposta inflamatória local, sugerindo que o uso de baixo número de espermatozoides é mais recomendável quando a inseminação é realizada na extremidade do corno. Por outro lado, Clulow et al. (2008) usando a inseminação histeroscópica para testar diferentes doses (6, 13 e 25 x 106) e volumes (250, 500 e 1000 µl) de sêmen sexado ou não, adotaram a inseminação convencional no corpo do útero com 4 ml contendo 500 x 106 espermatozoides móveis, como grupo controle. O método convencional resultou em taxa de prenhez/ciclo significativamente maior (22/62 ciclos; 35,5%) que aquela com baixo número de espermatozoides, que variou de 0 a 20%, não diferindo entre sêmen sexado e não sexado. Squires et al. (2000), comparando a taxa de prenhez entre deposição seminal no corno uterino com pipeta plástica flexível guiada por ultrassonografia e inseminação na papila útero-tubárica por histeroscopia, obtiveram valores de 0 (0/10) e 50% (5/10), respectivamente. Utilizando sêmen fresco, Buchanan et al. (2000) verificaram que a deposição no corpo uterino de 500x106 de espermatozoides, em 20 ml de diluidor, resultou em taxa de prenhez de 90%, significativamente maior que aquela obtida para o ápice do corno uterino ipsis lateral ao folículo pré-ovulatório contendo 25 x 106 espermatozoides diluídos em 1 ml de meio (57%). Esta dose por sua vez não diferiu da prenhez observada no grupo inseminado com 5 x 106 espermatozoides (35%). Sieme et al. (2004) trabalhando com sêmen fresco, verificaram que éguas com trato reprodutivo normal tiveram taxa de prenhez superior (27/38; 71%) com inseminações no corno, com auxílio da histeroscopia, quando comparada ao corpo do útero (18/38; 47,3%). No entanto, o mesmo não foi observado para as éguas com problema no trato reprodutivo que apresentaram taxas de prenhez de 33,3% (5/15) e 84,2% (16/19), para inseminações no corno e corpo uterino, respectivamente. A inseminação artificial rotineiramente realizada no corpo do útero com sêmen congelado de garanhões resultada em taxa de prenhez equivalente a cerca de 60% a 80% daquela obtida com o sêmen fresco ou refrigerado. A deposição seminal no corno uterino, por histeroscopia ou com pipeta flexível guiada por palpação transretal, são técnicas que permitem redução drástica do número necessário de espermatozoides viáveis, viabilizando o uso de garanhões com subfertilidade adquirida (oligospérmicos), aumentando o rendimento de doses por ejaculado e possibilitando o uso do sêmen sexado. Por histeroscopia a deposição seminal pode ser realizada sobre a papila no ápice do corno uterino, contudo com aplicabilidade limitada devido ao alto custo do equipamento. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 113 Momento e frequência da inseminação artificial A gonadotrofina coriônica humana (hCG) e análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) como o acetato de deslorelina são utilizados para a indução e sincronização da ovulação, permitindo a escolha do melhor momento para a inseminação artificial das éguas. Esses hormônios podem ser administrados por várias vias, dentre elas, intramuscular, intravenosa ou implantes vulvares, após se detectar folículos com diâmetro ≥35 mm (KLOPPE et al., 1998; LEIPOLD et al., 1998; MORRIS et al., 2000; BUCHANAN et al., 2000; SQUIRES et al., 2000; SQUIRES et al., 2003), ou ≥42 mm (HEMBERG, 2006). Durante a estação de monta, o uso repetido de hCG pode estar associado a uma diminuição na eficiência em induzir a ovulação pois sendo uma proteína heteróloga, sua administração provocará a produção de anticorpos, diminuindo sua eficácia, fato que também pode ocorrer com o aumento da idade da égua (VOSS, 1993; McCUE et al., 2004). McCue et al. (2004) constataram que a ovulação em éguas após a administração de hCG ocorreu dentro de 48 horas em 78,4% dos ciclos, entre 24 e 48 horas em 59,9% e 4,4% não ovularam durante o tratamento. Sugere-se que o hCG não deve ser usado por mais de uma ou duas vezes durante uma estação de monta, recomendandose o emprego de hormônios alternativos, como os análogos do GnRH, procedimento preconizado também por Squires et al. (2003). Morris et al. (2000) utilizaram um protocolo de indução da ovulação com uma dose intravenosa de 3.000 UI de hCG ou implante subcutâneo de liberação lenta de GnRH (2,1 mg) administrado 8 horas antes ou no momento da inseminação. A ovulação ocorreu no segundo dia após a indução em 79,1% das éguas, não havendo diferença entre o hCG e GnRH para as taxas de prenhez. Hemberg (2006) determinou o momento da ovulação em éguas tratadas com acetato de deslorelina (Ovuplant®) e inseminadas uma vez pós-ovulação. As ovulações ocorreram em média com 39,4 horas dentro de um intervalo de 36 a 48 horas e 94,1% ovularam 38 a 42 horas após o tratamento, obtendo taxa de prenhez de 45,4%. Leipold et al. (1998), utilizando inseminação com sêmen congelado pré e pósovulação, em diferentes doses e usando implante de 2,2 mg de análogo de GnRH para indução da ovulação, detectaram 89,7% delas ocorrendo 48 horas após o tratamento, com taxas de prenhez variando de 15 a 40%. Testando estratégias de inseminação artificial, visando racionalizar o manejo quando da utilização do sêmen congelado, Squires et al. (2003) induziram a ovulação com a administração intravenosa de 2.500 UI de hCG. Não encontraram diferença para as taxas de prenhez quando as éguas foram inseminadas dentro de 6 horas pós-ovulação ou 24 e 40 horas após o hCG (83,3 e 86,6%, respectivamente; p>0,05). Segundo os autores a alta fertilidade se deveu, provavelmente, à seleção de garanhões férteis e com boa criorresistência. 114 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Segundo Kloppe et al. (1988) as recomendações gerais nos programas reprodutivos que utilizam sêmen congelado são de inseminar as éguas diariamente durante o cio ou acompanhar frequentemente o desenvolvimento folicular e inseminá-las uma vez após a ovulação. As éguas receberam 2.500 UI de hCG intravenoso. Utilizando esses protocolos em seu trabalho obteve taxas de prenhez de 60 e 55%, respectivamente, não havendo diferença significativa entre elas. Barbacini et al. (2005) avaliaram a inseminação em tempo fixo, 24 e 40 horas após a indução da ovulação com 2.000 UI de hCG intravenoso, ou uma inseminação pós-ovulação e obtiveram taxas de prenhez de 46% e 47% (p>0,05), respectivamente. Os autores concluíram que sendo o sêmen de boa qualidade, fertilidade semelhante é atingida quando as éguas são inseminadas pós-ovulação ou as 24 e 40 horas após a administração de hCG. Em síntese, a indução da ovulação é usada rotineiramente para inseminações com sêmen congelado. O GnRH é a alternativa quando mais de duas doses de hCG forem empregadas na mesma estação de monta. Em geral, o intervalo entre o tratamento e a ocorrência da ovulação é superior para o hCG. Além disso, os resultados demonstram que as taxas de prenhez não diferem entre os indutores. Pesquisas têm demonstrado que a inseminação artificial em tempo fixo nas éguas é uma estratégia a ser adotada visando à racionalização do manejo das inseminações. Transporte espermático O transporte espermático é fundamental para que a fecundação ocorra, pois através dele os espermatozoides colonizam o oviduto. Os gametas masculinos devem ser transportados até o sítio da fecundação no oviduto, se manter no trato reprodutor feminino até a liberação do ovócito e estarem fisiologicamente preparados para penetrálo (TROEDSSON et al., 1998). Nas éguas o estro tem uma duração de 5 a 7 dias e a fecundação pode ocorrer até 6 dias após a monta ou inseminação, portanto é necessário um armazenamento prolongado de espermatozoides viáveis no trato reprodutivo da fêmea (THOMAS et al., 1994). A maior porção do ejaculado é depositada no útero da égua durante a cópula. Em função disso a junção útero-tubárica é a principal barreira que os espermatozoides devem transpor para atingirem a ampola, o local da fecundação (TROEDSSON et al., 1998). Após o transporte até o oviduto os espermatozoides se aderem às células do epitélio tubárico formando o reservatório espermático. Nos mamíferos o reservatório se forma no istmo do oviduto algumas horas após a monta ou inseminação artificial (BADER, 1982). Thomas et al. (1994) avaliaram in vitro como se estabelece a ligação dos espermatozoides com as células de diferentes regiões anatômicas do oviduto (ampola e istmo), em diferentes fases do ciclo estral. Os explants celulares foram coletados de éguas em três fases do ciclo: fase folicular, imediatamente após a ovulação e no Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 115 diestro. As células foram coincubadas com sêmen fresco na concentração final de 50 x 106 espermatozoides/ml e aos 30 minutos, 24 e 48 horas foram retiradas amostras para avaliar a motilidade e o número de espermatozoides fixados entre as células do oviduto. A análise por micrografia eletrônica demonstrou que os espermatozoides se ligaram às células ciliadas e não ciliadas. As células epiteliais do istmo apresentaram maior número de espermatozoides fixados quando comparadas às da ampola e mais células se ligaram ao epitélio do oviduto nas fases folicular e pós-ovulação que no diestro. A motilidade dos espermatozoides fixados foi maior na fase folicular. Usando as técnicas de inseminação artificial no corpo do útero e no ápice do corno uterino Rigby et al. (2000) relataram que o número médio de espermatozoides no oviduto de éguas normais e daquelas com limpeza uterina tardia foi semelhante entre as técnicas usadas. Os autores sugerem que as éguas com limpeza uterina tardia necessitam de mais tempo para que os espermatozoides migrem até o oviduto, devido à contratilidade uterina reduzida. As células espermáticas ficam retidas no reservatório pela combinação de uma série de fatores. Dentre eles: constrição localizada do istmo, queda da motilidade espermática no istmo, fixação às células epiteliais do oviduto, aprisionamento dos espermatozoides no muco local e o edema da mucosa do oviduto associado à fase do ciclo estral (THOMAS et al., 1994). In vitro o reservatório espermático aumenta a viabilidade do espermatozoide equino (TROEDSSON et al., 1998). Sugere-se que ele possua diferentes funções como redução do risco de poliespermia por liberar uma quantidade pequena e suficiente de espermatozoides para a fecundação no momento da ovulação (LEFEBVRE et al., 1995) e previne a capacitação espermática precoce por manter em nível basal a concentração intracelular de cálcio. Morris et al. (2000) determinaram que a concentração mínima para a formação de um reservatório espermático adequado por um a quatro dias é de 1x106 espermatozoides viáveis. Scott et al. (2002) descreveram a presença de espermatozoide equino nos tecidos do trato genital de éguas 18 e 26 horas após a inseminação. Os espermatozoides estavam presentes na junção útero-tubárica de 70% dos animais. As 18 e 26 horas após a inseminação os espermatozoides estavam localizados principalmente no lúmen da junção útero-tubárica e não na porção uterina da papila. Os autores concluíram que a junção útero-tubárica é o reservatório espermático na égua. Fiala et al. (2007) avaliaram após 2, 4 e 24 horas da inseminação artificial se a concentração influenciava no transporte dos gametas até o reservatório espermático. Utilizando doses de 5x106, 25x106 e 50x106 espermatozoides/ml verificaram que o número deles presente no oviduto e na junção útero-tubárica foi semelhante para as concentrações de 25x106 e 5x106 espermatozoides/ml, em todos os momentos analisados. Os autores sugerem que a resposta inflamatória intensa observada às 4 horas pós-inseminação é prejudicial ao transporte espermático nesse período. Independente da concentração testada, 2 horas após a inseminação artificial havia espermatozoides suficientes para permitir a fecundação na junção útero-tubárica, em mais de 54% das 116 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 éguas, fato observado para 67% e 74% delas as 4 e 24 horas, respectivamente. A partir das 4 horas após a inseminação o transporte espermático não foi influenciado pela concentração utilizada. O transporte e a sobrevivência dos espermatozoides variam de acordo com a fertilidade da égua, do garanhão e entre sêmen fresco e congelado, sendo que no trato reprodutor feminino a longevidade do espermatozoide criopreservado é menor (TROEDSSON et al., 1998). Bader (1982) inseminou 14 éguas com sêmen fresco e nove com criopreservado no corpo do útero, imediatamente após ou até 6 horas pós-ovulação. As éguas foram sacrificadas 2, 4 ou 6 horas após a inseminação, sendo realizados lavados da junção úterotubárica, istmo e ampola do oviduto ipsis lateral à ovulação. O número de espermatozoides na junção útero-tubárica e oviduto foi muito baixo após 2 e 6 horas da inseminação com sêmen fresco ou congelado, porém às 4 horas grande número de espermatozoides do sêmen fresco atingiu a junção útero-tubárica. A habilidade dos espermatozoides congelados ascenderem ao oviduto e alcançarem à ampola foi muito menor que daqueles do sêmen a fresco. Os resultados indicam que embora poucos espermatozoides estejam presentes na junção útero-tubárica e istmo após 2 horas da inseminação, o transporte até a ampola ainda não se completou, evento observado após 4 horas. Dobrinski et al. (1995) utilizando sêmen congelado e fresco diluído em meio à base de leite ou em diluente de congelação, demonstraram que espermatozoides criopreservados têm uma habilidade reduzida de se ligar às células do oviduto e, principalmente, se encontram em número reduzido no istmo antes da fecundação. Da mesma forma, a motilidade foi significativamente menor para o sêmen congelado. Os autores relatam que o processo de criopreservação modifica a estrutura e o funcionamento da membrana plasmática através da reorganização dos seus lipídios e alterações nas ligações entre estes e as proteínas. Possivelmente, as mudanças nas glicoproteínas e glicolipídeos da membrana impeçam que os espermatozoides estabeleçam um contato íntimo com as células epiteliais do oviduto, reduzindo assim a fertilidade do sêmen congelado. Resposta inflamatória uterina Após a monta natural ou a inseminação artificial as éguas desenvolvem um processo inflamatório fisiológico que se caracteriza pelo acúmulo de fluido intrauterino rico em leucócitos polimorfonucleares. Essa endometrite fisiológica serve para remover o material estranho presente no útero como excesso de espermatozoides, plasma seminal, bactérias e diluente (BARBACINI et al., 2003). A limpeza do útero fornece um ambiente compatível à sobrevivência do embrião quando este ingressa no lúmen uterino cinco dias após a fecundação (TROEDSSON et al., 1998). Apesar dos espermatozoides aparentemente não exercerem efeito quimiotático direto sobre os neutrófilos, eles induzem a quimiotaxia de polimorfonucleares através Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 117 da ativação do sistema complemento, ao contrário do plasma seminal que tem um efeito inibidor sobre a migração dos leucócitos (TROEDSSON et al., 1998). A endometrite induzida pelos espermatozoides parece estar associada com queda na fertilidade das éguas, pois altera o microambiente uterino e prejudica a sobrevivência do embrião (CARD, 2005). Com o objetivo de avaliar se ocorria queda da fertilidade do sêmen congelado quando a inseminação era realizada 4 a 10 horas após uma inseminação prévia, Metcalf (2000) utilizou a inseminação heterospérmica que compreende o uso de espermatozoides provenientes de mais de um reprodutor. As éguas foram inseminadas com sêmen congelado do Garanhão A e após a detecção da ovulação as éguas foram inseminadas com sêmen congelado do Garanhão B, 6 a 10 horas após a primeira inseminação. A taxa de prenhez foi de 82%, sendo o Garanhão B responsável pela maioria das gestações, porém não houve diferença significativa entre as inseminações. A autora concluiu que aparentemente a endometrite desencadeada após a inseminação inicial com sêmen congelado não está associada à infertilidade das subsequentes até mesmo quando realizada no pico de atividade dos neutrófilos e da queda da motilidade espermática. Os resultados reforçam a hipótese de que os neutrófilos fazem fagocitose seletiva dos espermatozoides anormais e inférteis concomitante à endometrite pósinseminação. A utilização de baixa concentração e volume de sêmen com deposição direta na papila da junção útero-tubárica parece reduzir a endometrite pós-inseminação (LINDSEY et al., 2001). Güvenc et al. (2005), estudando o efeito do número total de espermatozoides e do local da inseminação na resposta inflamatória do útero equino concluíram que ambos não afetaram a intensidade da reação inflamatória, medida pelo número de neutrófilos e presença de fluido no útero, 24 horas após a inseminação. Além disso, os autores relatam que a inseminação no ápice do corno uterino com auxílio de pipeta associada à palpação retal não aumentou a irritação da mucosa uterina, nem a resposta inflamatória local, com o acúmulo de fluido sendo significativamente menor para dose de 20 x 106 espermatozoides/0,5 ml. Dessa forma, sugerem que um menor número de espermatozoides é preferível quando a inseminação é realizada na extremidade do corno uterino. Fiala et al. (2007) avaliaram o efeito de diferentes concentrações espermáticas e da presença de plasma seminal ou do diluente sobre a intensidade da resposta inflamatória no útero 2, 4 e 24 horas após a inseminação artificial. As éguas foram submetidas a seis tratamentos: (1) 5 x 106 espermatozoides/ml; (2) 25 x 106 espermatozoides/ml; (3) 50 x 106 espermatozoides/ml; (4) infusão de 20 ml de plasma seminal; (5) infusão de 20 ml de diluente a base de leite desnatado e; (6) controle. Os animais foram sacrificados 2, 4 e 24 horas após os tratamentos. Foram feitos lavados do útero e ovidutos para detectar a presença de neutrófilos. O número de neutrófilos no lavado uterino das éguas tratadas foi significativamente maior que no grupo controle demonstrando que o plasma seminal, diluente e concentração de espermatozoides provocaram uma resposta inflamatória mais intensa às 4 horas que aquela observada para o controle. Provavelmente, a concentração 118 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 de 50 x 106/ml promoveu um estímulo quimiotático mais intenso através da ativação do sistema complemento e outros mediadores inflamatórios. A concentração mais elevada de espermatozoides acelerou o desaparecimento da inflamação devido à maior eficácia da fagocitose. Quando a habilidade fisiológica da fêmea de combater a endometrite está comprometida a inflamação persiste e se torna patológica resultando em queda da fertilidade, portando é importante considerar a duração da resposta inflamatória em éguas inseminadas repetidamente com sêmen congelado. A remoção do plasma seminal durante o processo de criopreservação parece ser um importante fator para uma resposta inflamatória acentuada após a inseminação, que geralmente é observada clinicamente ao se utilizar sêmen congelado (TROEDSSON et al., 1998). Uso de sêmen sexado e não-sexado A possibilidade de selecionar o sexo do embrião antes da fecundação possui uma série de vantagens nas espécies domésticas voltadas para a produção de carne ou leite. Nos equinos estas não são muito evidentes, embora muito desejadas pela maioria dos criadores (LINDSEY et al., 2001). Johnson et al. (1989) citado por Lindsey et al. (2001) foi o primeiro a realizar a sexagem pela análise quantitativa de DNA nos cromossomos de espermatozoides X e Y, produzindo embriões saudáveis de coelhos. O primeiro potro produzido a partir de sêmen sexado originou-se da inseminação cirúrgica diretamente no oviduto de 150.000 espermatozoides (LINDSEY et al., 2001). Os principais fatores que afetam as taxas de prenhez do sêmen sexado são o número reduzido de espermatozoides disponíveis para a inseminação e sua criopreservação (MORRIS, 2005). O processo de sexagem é prejudicial para a célula e acredita-se que o espermatozoide equino seja mais sensível aos procedimentos que o bovino. Em decorrência da baixa recuperação de células sexadas, passam a ter relevância técnicas de inseminação que resultem em taxas de prenhez aceitáveis quando o menor número possível de espermatozoides é utilizado (LINDSEY et al., 2001). Buchanan et al. (2000) trabalhando com sêmen fresco diluído na dose de 25x106 espermatozoides sexados, avaliaram o efeito da adição de 4% de gema de ovo, visando aumentar a motilidade, sobre a taxa de prenhez. O sêmen foi depositado no ápice do corno uterino ipsis lateral ao ovário contendo o folículo pré-ovulatório. A taxa de prenhez não diferiu (p>0,05) entre os grupos controle e com gema de ovo, sendo de 33% e 50%, respectivamente. O mesmo foi observado no experimento de Squires et al. (2000) em que a adição de gema de ovo ao diluente do sêmen sexado não afetou as taxas de concepção. Lindsey et al. (2000) compararam a fertilidade do sêmen sexado e não-sexado na dose de 5 x 106 espermatozoides, frente a diferentes técnicas de inseminação, sendo elas: deposição guiada pelo ultrassom no corno uterino (não-sexado); diretamente na papila da junção útero-tubárica (não-sexado) e; histeroscópica, na papila uterina Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 119 (sexados). A taxa de prenhez foi maior para a inseminação histeroscópica ao se utilizar sêmen não-sexado. Porém, a taxa de prenhez com a utilização do sêmen sexado não foi significativamente menor (25%) que aquela com não-sexado (50%), utilizando a inseminação histeroscópica. Os autores concluíram que a histeroscopia é mais recomendada quando se dispõe de baixa concentração de espermatozoides sexados de garanhão. A possibilidade de criopreservar o sêmen sexado aumenta consideravelmente a aplicabilidade desta biotecnologia na indústria equina. O espermatozoide de garanhões sobrevive por curto período de tempo após a sexagem, portanto as éguas devem ser inseminadas imediatamente após para que se atinjam boas taxas de prenhez. Em virtude disso a criopreservação é vantajosa, pois permitirá usar o sêmen no momento e local desejados. Comparando as taxas de concepção de éguas inseminadas com 5 x 106 espermatozoides sexados e não-sexados, Squires et al. (2000) utilizaram 40 éguas, divididas em três grupos: (1) sêmen fresco não-sexado, depositado profundamente no corno uterino com auxílio de pipeta flexível e ultrassonografia; (2) sêmen fresco nãosexado, diretamente na papila da junção útero-tubárica do corno uterino ipsis lateral ao ovário com folículo dominante e; (3) sêmen fresco sexado utilizando vídeo-endoscopia. A taxa de prenhez para o não-sexado foi 50%, enquanto para o sexado de 25%, não havendo diferença (p>0,05) entre elas. Clulow et al. (2008) também não encontraram diferença significativa entre as taxas de prenhez ao utilizarem sêmen congelado nãosexado e sexado, porém, a motilidade pós-descongelação do sêmen sexado foi menor até 90 minutos de incubação, momento a partir do qual não houve mais diferença entre as amostras. Squires et al. (2000) conduziram experimentos para avaliar os efeitos da dose e técnica de inseminação, histeroscópica ou pipeta flexível, comparando sêmen sexado vs não-sexado e sêmen fresco vs congelado. Embora não tenha sido detectada diferença significativa entre os grupos, o sêmen congelado sexado resultou na menor taxa de prenhez, de 13%. Em bovinos é possível criopreservar o sêmen sexado sem queda significativa da fertilidade, já em equinos os resultados de Squires et al. (2000) levaram a concluir que a criopreservação do sêmen sexado levou a queda da fertilidade do sêmen, provavelmente por danos que as técnicas de sexagem por citometria de fluxo e congelação provocaram na célula espermática. Uma alternativa para aumentar a longevidade do sêmen sexado é armazená-lo antes da sexagem. Lindsey et al. (2000) compararam a fertilidade do sêmen sexado com a do sêmen armazenado sob refrigeração por 18 horas e então sexado. Os resultados do estudo indicaram que não houve diferença nas taxas de prenhez entre os tratamentos, sugerindo que é possível armazenar o sêmen refrigerado antes da sexagem sem prejuízos na fertilidade. Os experimentos demonstram que a utilização do sêmen sexado na reprodução equina ainda não é uma prática muito vantajosa em virtude de sua fertilidade reduzida a campo. Portanto, são necessários estudos tanto para aperfeiçoar a utilização do sêmen 120 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 equino sexado, quanto para aumentar a longevidade deste através de refrigeração ou criopreservação sem que haja queda significativa da fertilidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em síntese, a dose influencia o grau da resposta uterina, portanto doses menores associadas às técnicas de inseminação no ápice do corno compensam a menor longevidade do espermatozoide equino criopreservado, pela deposição dos gametas nas proximidades do reservatório espermático. Assim, essa associação aumenta o rendimento das doses disponíveis, com taxas de prenhez equivalentes àquelas da inseminação no corpo do útero. Além disso, indutores da ovulação viabilizam a adoção da inseminação artificial em tempo fixo racionalizando o manejo das inseminações. O sêmen sexado se mostra mais sensível à congelação e resulta em baixas taxas de prenhez. Estudos sobre a criobiologia do espermatozoide equino associados a estratégias de aplicação condizentes com a fisiologia reprodutiva das éguas devem ser realizados visando ao aumento da eficiência reprodutiva da espécie. REFERÊNCIAS BADER, H. A. An investigation of sperm migration into the oviducts of the mare. J. Reprod. Fertil, v.32, p.59-64, 1982. BARBACINI, S.; LOOMIS, P.; SQUIRES, E. L. The effect of sperm number and frequency of insemination on pregnancy rates of mares inseminated with frozen-thawed spermatozoa. Anim. Reprod. Sci., v.89, p.203–205, 2005. BARBACINI, S. et al. 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Recebido em: jan. 2009 Aceito em: jul. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 123 Efeitos do uso de GNRH no momento da IATF e dias pós-parto sobre a taxa de prenhez em vacas de corte com cria ao pé Carlos Santos Gottschall Milena de Vargas Schüler Carla Tiane Dal Cortivo Martins Marcos Rosa de Almeida Jéssica Magero Jean Carlos dos Reis Soares Hélio Radke Bittencourt Rodrigo Costa Mattos Ricardo Macedo Gregory RESUMO A falha na detecção de estros e o anestro pós-parto são as principais causas da baixa fertilidade nos rebanhos bovinos. Para minimizar estes problemas uma das biotecnologias recomendadas é o emprego da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). O trabalho avaliou o uso de GnRH no momento da IATF e o número de Dias Pós-Parto (DPP) sobre o desempenho reprodutivo. Foram utilizadas 32 vacas de corte com cria ao pé, 15 vacas formaram o grupo GnRH e 17 o grupo controle. As vacas estavam com data média de 74 DPP por ocasião da IATF. Os animais formavam um grupo homogêneo sendo manejados em iguais condições. As vacas receberam no dia “0” 2 mg de benzoato de estradiol e implante intravaginal de progesterona usado previamente (2º uso), no 6º dia foi aplicado 0,375 mg de Cloprostenol Sódico e no 8º dia, pela manhã, foram retirados os implantes, separados os bezerros e foi aplicado 0,5 mg de cipionato de estradiol. No dia 10º dia pela tarde procedeu-se a IATF. Neste momento, aleatoriamente, de cada duas vacas uma recebia 100μg de análogo sintético ao GnRH. Sete dias após a IATF os animais Carlos Santos Gottschall – Médico Veterinário. Mestre em Zootecnia. Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. Carla Tiane Dal Cortivo Martins, Milena de Vargas Schüler, Jéssica Magero – Aluna de Graduação do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA/RS. Marcos Rosa de Almeida – Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA e Bolsista de Iniciação Científica – PROICT/ULBRA. Jean Carlos dos Reis Soares – Médico Veterinário do Campo Experimental da ULBRA. Mestrando em Zootecnia – UFRGS. Hélio Radke Bittencourt – Estatístico, Mestre em Sensoriamento Remoto e Professor Assistente do Departamento de Estatística da PUCRS. Rodrigo Costa Mattos, Ricardo Macedo Gregory – Médico Veterinário. PhD. Pesquisador do CNPq. Professor da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS/RS Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001, Bairro São Luís, CEP 92420-280. Canoas/RS. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.124-134 jan./jun. 2010 foram alocados em potreiro único com mais 35 vacas e 2 touros por mais 60 dias. Avaliou-se os efeitos da aplicação do GnRH sobre a Taxa de Prenhez a IATF (TPI), Taxa de Prenhez Final (TPF) e a influência dos Dias Pós Parto (DPP) sobre a TPI e TPF. A TPI foi de 46,7% e 35,3%, respectivamente para as vacas do grupo GnRH e controle (P>0,05). A TPF foi de 53,3% e 64,7%, respectivamente para as vacas do grupo GnRH e controle (P>0,05). Não sendo encontrada relação no uso do GnRH com as TPI e TPF, para fins analíticos formou-se dois grupos, um grupo (14 vacas) com média de 57 ±18,4 dias pós parto (DPP57) e outro grupo (18 vacas) com média de 88 ±9,1 dias pós parto (DPP88). Para os grupos DPP57 e DPP88 a TPI foi respectivamente de 42,9% e 38,9% (P>0,05); e a TPF respectivamente de 64,3% e 55,6%, (P>0,05). Não foi constatado efeito no uso do GnRH nem do DPP sobre a TPI e TPF. Palavras-chave: Bovinos de corte. Reprodução. IATF. Dias pós-parto. Effects of the use of GnRH in the moment of fixed-time artificial insemination and postpartum days on the pregnancy of the nursing beef cows ABSTRACT The lack of estrous detection and the postpartum anestrous are the largest causes of the low fertility in the beef cattle herds. To minimize these problems one of the recommended biotechnology it is the use of the fixed-time artificial insemination (TAI). This work evaluated the use of GnRH at the moment of TAI and the postpartum days (PPD) on the reproductive performance. Data of the thirty two cows rearing calves were used. Fifty cows formed the group GnRH and 17 the group control. The PPD of the cows were in medium 74 days for occasion of TAI. The animals formed one homogeneous group being handled equally. All cows received in the day “0” 2 mg of estradiol benzoato and one intravaginal implant content progesterone of 2nd use. On the 6th day was applied 0,375 mg of sodic cloprostenol and in the 8th day, by the morning, the implants were take off and the calves were separated temporarily and were applied 0,5 mg of estradiol cipionate. On the 10th day at the afternoon TAI was done. At this time randomly, one of each two cows received 100 µg of synthetic analogue to GnRH. Seven days after TAI the animals were allocated into one field with more 35 cows and 2 clean-up bulls during 60 days. It was evaluated the effects on the GnRH application on the Pregnancy rate at TAI (PRTAI) and the pregnancy rate after clean-up bulls (PRB). The effects of the PPD were analyzed on the PRTAI and PRB. The PRTAI was of 46.7% and 35.3%, respectively for the cows of the groups GnRH and control (P>0.05). The PRB was of 53.3% and 64.7%, respectively for the cows of the group GnRH and control (P>0.05). There was not relationship by the use of GnRH with PRTAI and PRB. For analyze the PPD it was formed two groups. One group (14 cows) with average of 57 ± 18.4 PPD (PPD57) and other group (18 cows) with average of 88 ± 9.1 PPD (PPD88). In the groups PPD57 and PPD88 the PRTAI was respectively 42.9% and 38.9% (P>0.05); and the PRB was respectively 64.3% and 55.6% (P>0,05). There was not effect in the use of GnRH at the moment of TAI and nor effect of PPD on PRTAI and PRB. Keywords: Beef cattle. Postpartum days. Reproduction. TAI. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 125 INTRODUÇÃO O desempenho reprodutivo é um dos principais indicadores de produtividade de um sistema de produção de pecuária bovina e está diretamente relacionado com a sanidade, nutrição, genética e manejo adequado do mesmo (ROVIRA, 1996). Para a obtenção da máxima eficiência reprodutiva de um rebanho é necessário que cada vaca produza um bezerro por ano (THOMAS, 1992). Sendo a gestação média de 280 dias, é necessário que as vacas concebam até 80 e 85 dias pós-parto para atingirem esta meta. No entanto, a maioria das vacas no pós-parto está em anestro podendo não conceber no período esperado (YAVAS; WALTON, 2000). No intervalo parto-concepção, se deve considerar o prazo de involução uterina que em média dura 40 dias, restando apenas outros 40 dias em média para uma nova concepção (HAFEZ; HAFEZ, 2004). Muitas são as biotecnologias disponíveis para aumentar os índices reprodutivos, destacando-se inseminação artificial em tempo fixo (IATF), a qual visa sincronizar a ovulação possibilitando inseminar os animais em dia e horário pré-determinado. Esta técnica elimina a necessidade da detecção de estro, sendo este, o principal problema da Inseminação Artificial (IA) e traz vantagens também como a concentração de parições no início da temporada, favorecendo a repetição de cria na temporada de monta subsequente (FERRAZ et al., 2008; GOTTSCHALL et al., 2008). A manipulação da atividade ovariana com produtos exógenos permite a sincronização da ovulação. Atualmente, existem diversos tipos de protocolos para a IATF, sendo a combinação dupla, tripla ou maior de produtos a base de prostaglandinas, progestágenos, estrógenos, GnRH e eCG os hormônios mais utilizados. (GOTTSCHALL et al., 2008). A administração de análogos sintéticos ao GnRH exerce uma função fisiológica nas fêmeas, induzindo o pico pré-ovulatório de LH (hormônio luteinizante) e consequentemente a ovulação e/ou a luteinização do folículo induzindo uma nova onda de crescimento folicular (GOTTSCHALL et al., 2008). Segundo Lucy e Stevenson (1986) o GnRH aplicado antes da inseminação pode aumentar fertilidade por sua ação direta ou indireta (por secreção de LH) agindo sobre o folículo ovulatório, resultando em uma ação semelhante a que ocorre em uma inseminação depois do estro espontâneo. Estudos prévios em bovinos de leite indicaram que o tratamento com análogo sintético do GnRH aumentou (SCHELS; MOSTAFAWI, 1978; LEE et al., 1983) ou não a taxa de concepção de primeiro-serviço (LEE et al., 1983). De forma similar Mee et al. (1990) descrevem que GnRH administrado ao início do estro não apresentou efeito sobre a taxa de concepção em vacas de leite. Entretanto, Lee et al. (1983) identificaram efeito consistente na administração do GnRH sobre o aumento de fertilidade em vacas repetidoras de estro. Kaim et al. (2003) também encontraram resultados variados sobre as taxas de prenhez de vacas submetidas a inseminação após a aplicação de GnRH. Os autores identificaram efeitos positivos do GnRH em primíparas, mas não em multíparas. Nesse estudo, animais com condição corporal inferior também foram beneficiadas pela aplicação do GnRH, enquanto animais com 126 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 condição corporal superior não foram favorecidos pela aplicação de GnRH. A maioria dos estudos prévios foi conduzido com vacas leiteiras, que apresentam metabolismo diferenciado em relação a vacas de corte. Perry e Perry (2009) não encontraram efeitos favoráveis da aplicação de GnRH sobre as taxas de prenhez por ocasião da inseminação artificial em vacas e novilhas de corte. Segundo Short et al., (1990); Williams, (1990) e Yavas e Walton (2000) o anestro pós-parto é o fator de maior impacto negativo sobre a fertilidade, aumentando o intervalo do parto ao primeiro cio, e reduzindo a produção de bezerros. A ausência de ciclicidade é consequência de falha na ovulação de folículos dominantes ocasionados pela baixa concentração de LH. Segundo Madureira e Pimentel (2005a) o tratamento com progestágenos estimula o desenvolvimento e a maturação de folículos dominantes, em vacas em anestro, por aumentar a secreção de LH, estimular o desenvolvimento de receptores de LH e a síntese de estradiol. Nesse sentido Penteado et al. (2006) estudaram o desempenho reprodutivo de 2.489 vacas lactantes submetidas a IATF entre 40 a 100 dias após o parto. Os autores dividiram os animais em 5 grupos, resultando em grupo P40-49 (n=142) os animais foram inseminados entre 40 a 49 dias; grupo P50-59 (n=759) entre 50 a 59 dias; grupo P60-69 (n=263) entre 60 a 69 dias; grupo P70-79 (n=684) entre 60 a 69 dias e grupo P>80 (n=641) acima de 80 dias após o parto. A taxa de prenhez a IATF foi, respectivamente, de 52,82% (75/142); 55,20% (419/759); 52,09% (137/263); 56,29 (361/684) e 52,11 (334/641); sem diferença significativa (P>0,05). Reforçando os resultados Sá Filho et al. (2009) em estudo retrospectivo com 64.033 animais não encontraram efeitos dos dias pós parto sobre a taxa de prenhez em vacas de corte submetidas a IATF a partir de 30 dias pós parto. Devido a existência de resultados conflitantes e poucos trabalhos que associem a administração de GnRH por ocasião da IATF em vacas de corte lactantes o presente trabalho procurou avaliar o efeito da aplicação do GnRH no momento da IATF sobre a resposta reprodutiva de vacas de corte e a relação do resultado com o número de dias pós-parto. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Campo Experimental da ULBRA (CEULBRA), localizado na cidade de Montenegro, Rio Grande do Sul. Foram utilizadas 32 vacas de corte, com cria ao pé, em regime de pastejo de campo nativo, com escore de condição corporal média de 2,5 em uma escala de 1 a 5 (LOWMAN, 1973). Todas as vacas estavam com data média de 74 dias pós-parto. As vacas receberam no dia “0” 2 mg de Benzoato de Estradiol intramuscular (IM) quando da colocação dos implantes (Primer® – Tecnopec) de 2º uso. No 6º dia foi aplicado 0,375 mg de Cloprostenol Sódico (IM) (Sincrocio®) em todos os animais. No 8º dia (36 horas após a PGF2α) foi realizada a remoção dos implantes, o desmame Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 127 temporário dos terneiros e a aplicação de 0,5 mg de Cipionato de Estradiol (IM). No dia 10, a tarde, foi realizada a IATF (Figura.1). Neste momento os animais foram divididos em dois grupos. Um grupo (15 animais) recebeu 100 µg análogo sintético ao GnRH (acetato de buserelina – Sincroforte®), enquanto o grupo controle (17 animais) que não recebeu o análogo ao GnRH. Após a inseminação os terneiros foram realocados com as vacas. Sete dias após a IATF os animais foram alocados em potreiro único com mais 35 vacas e 2 touros por mais 60 dias. O diagnóstico de gestação foi realizado aos 42 e aos 137 dias após a IATF por palpação retal. Para fins analíticos, as mesmas vacas foram divididas em dois grupos conforme média de intervalo entre partos. Um grupo (14 vacas) com média de 57 ±18,4 Dias Pós-Parto (DPP57) e outro grupo (18 vacas) com média de 88 ±9,1 Dias Pós-Parto (DPP88). A análise estatística dos resultados foi feita através do teste do Qui-Quadrado. Implantes Remoção implantes + BE PGF2α + CE IATF +GnRH PRIMER D0 – GnRH RT D6 D8 D10 FIGURA 1 – Protocolo utilizado para sincronização da ovulação. BE-Benzoato de Estradiol; PGF2α-Prostaglandina; CE-Cipionato de Estradiol; PRIMER – Dispositivo intravaginal de progesterona; RT- Retirada terneiros; GnRH(análogo sintético ao hormônio liberador de gonadotrofinas – Acetato de buserelina –Sincroforte®). RESULTADOS E DISCUSSÃO A TPI foi de 46,7% e 35,3% respectivamente para as vacas do grupo GnRH e grupo controle (P>0,05). A TPF foi de 53,3% para as vacas do grupo GnRH e 64,7% para o grupo controle (P>0,05) (Tabela 1). 128 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 TABELA 1– Efeitos do uso de GnRH no momento da IATF sobre as taxas de prenhez a IATF (TPI) e prenhez após o repasse de touros (TPF) em vacas de corte com cria ao pé. Grupos Número TPI TPF GnRH 15 46,7% (7) 53,3% (8) Controle 17 35,3% (6) 64,7% (11) Média 32 40,6% (13) 59,4% (19) Os valores entre parênteses se referem ao número de animais prenhes. Segundo Schels et al. (1978) e Lee et al. (1983), o tratamento com GnRH na IA, após a detecção de estro, não teve efeito na taxa de concepção ao primeiro serviço em vacas de leite. Entretanto, as taxas de prenhez em vacas repetidoras de cio foram aumentadas com o mesmo tratamento (LEE et al.; 1983, MEE et al.; 1993). Perry e Perry (2009) não encontraram melhora nas taxas de concepção ao primeiro serviço com administração de GnRH na IA em vacas de corte. Concordando com o presente experimento onde também não foi encontrada relação entre o uso do GnRH na IATF com as TPI e TPF. Segundo alguns autores (STEVENSON et al. 2000; FERNANDES et al. 2001; BARUSELLI et al. 2002) os protocolos para IATF que utilizam GnRH para induzir a ovulação, ao contrário do que ocorre em vacas de leite, ainda apresentam resultados variáveis quando usados em vacas de corte com cria ao pé, resultando muitas vezes em baixas taxas de prenhez. Segundo os autores, os baixos resultados de concepção provenientes da IATF estão relacionadas com a incapacidade do folículo maior resultar em processo ovulatório. O pico pré-ovulatório de LH desencadeia a ovulação, que em vacas europeias, ocorre quando o folículo adquire um diâmetro médio de 12 mm (SARTORI et al. 2001). No momento do pico de LH a assincronia do crescimento folicular e o tamanho reduzido do folículo dominante, são desafios a serem vencidos para possibilitar aumento das taxas de ovulação e prenhez da IATF (SIQUEIRA, et al. 2008). Na análise dos DPP, entre os animais dos grupos DPP57 e DPP88, a TPI foi respectivamente de 42,9% e 38,9% (P>0,05); e a TPF respectivamente de 64,3% e 55,6%, (P>0,05) (Tabela 2). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 129 TABELA 2 – Efeitos do número de dias pós-parto (DPP) sobre as taxas de prenhez a IATF (TPI) e prenhez após o repasse de touros (TPF) em vacas de corte com cria ao pé. Grupos Número TPI TPF DPP57 14 42,9% (6) 64,3% (9) DPP88 18 38,9% (7) 55,6% (10) Média 32 40,6% (13) 59,4% (19) Os valores entre parênteses se referem ao número de animais prenhes. Na avaliação do número de dias pós-parto, o presente experimento não encontrou diferença significativa entre os grupos analisados, DPP57 e DPP88 em relação a TPI e TPF. Segundo Baruselli e Marques (2002) em experimento com 211 vacas da raça Brangus com boa condição corporal e com média de 63 dias de período pós parto, observaram que os animais entre o período de 40 e 50 dias, tiveram menor taxa de concepção que animais com 61 e 70 dias pós parto. Discordando de Meneghetti et al. (2008) que não encontraram benefícios a IATF com o aumento dos DPPs. De forma similar a Meneghetti, Penteado et al. (2006) e Sá Filho et al. (2009) não encontraram efeitos dos dias pós parto sobre a taxa de prenhez em vacas de corte submetidas a IATF a partir, respectivamente, de 40 e 30 dias pós parto. Convém ressaltar que nos experimentos de Penteado et al. (2006) e Sá Filho et al. (2009), os autores utilizaram eCG (Gonadotrofina coriônica equina) nos protocolos de IATF, produto recomendada para animais em anestro ou submetidos a IATF antes de 40 dias pós parto. No presente experimento, não utilizamos o eCG. No presente experimento a TPI média foi 40,6%. Silva et al. (2004) verificaram 48,0% de concepção quando o GnRH foi aplicado no momento da IATF. Baruselli et al. (2003) obtiveram 59,0% de prenhez na IATF precedida da administração de GnRH. Ayres et al (2006a) e Ayres et al. (2006b), diagnosticaram 66,7% e 61,59% de prenhez nas vacas que receberam GnRH. Vaca et al. (2007) observaram 62% de prenhez nas vacas tratadas com GnRH por ocasião da IATF. Meneghetti et al. (2009) observaram 54,2% de prenhez em vacas Nelore induzidas a ovulação com GnRH. Ao confrontarmos os resultados relatados na literatura com a TPI média, observa-se que a administração do GnRH no ato da inseminação artificial, com o intuito de induzir a ovulação e aumentar a capacidade de concepção, não favoreceu à prenhez da IATF. Entretanto, resultados semelhantes e até mesmo inferiores ao deste experimento foram observados em outras pesquisas. Ratificando, Sá Filho et al. (2010) observaram que 40,1% das vacas que receberam GnRH para induzir a ovulação emprenharam. Souza et al. (2009) observaram apenas 28,9% de prenhez nas vacas Holandesas que receberam somente GnRH no momento da IATF. Após o segundo 130 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 diagnóstico de gestação para a avaliação da taxa de prenhez final encontrou-se uma TPF média, 59,4%. Outros experimentos mostram que ao final da estação de acasalamento, iniciada pelo uso de IATF, taxa de prenhez superior à atingida neste experimento é factível. Em trabalho com IATF Baruselli et al. (2002) obtiveram 79,0% de prenhez ao final de um período de repasse de 90 dias. Gottschall et al. (2005) verificaram 70,6% de prenhez após o repasse de touros. Madureira et al. (2005b) obtiveram 92,7% após 90 dias de acasalamento. Entretanto, a baixa taxa de ciclicidade das fêmeas, ou seja, o anestro no período do acasalamento é um fato de importante impacto sobre os resultados reprodutivos (BARBOSA, et al. 2007). Segundo Gottschall et al. (2005), o desempenho reprodutivo da vaca está relacionado com a condição corporal do animal e este é reflexo direto do manejo nutricional à que elas estão condicionadas. Nota-se então que à medida que melhora a condição fisiológica da vaca aumenta a chance dela emprenhar (FERNANDES, et al. 2001). Essa relação foi mostrada por Gottschall et al. (2005), onde os autores confrontaram a taxa de prenhez de vacas com cria ao pé, que geralmente estão em anestro por ação da mamada e manejo alimentar desfavorável, e vacas solteiras. Estes autores verificaram 58,6% e 83,3% de prenhez para vacas com cria ao pé e vacas solteiras, respectivamente. Silva et al. (2007) observaram 62,50% de prenhez final. Bastos et al. (2004) observaram que a prenhez variou de 30,0% para vacas com ECC=2 a 66,0% para vacas com ECC=3. Segundo Bastos et al. (2004), uma das possibilidades para a baixa taxa de prenhez de vacas com baixa condição corporal seja o anestro ou a ovulação de oócitos de baixa qualidade, em decorrência de um balanço energético negativo em vacas magras. Estas razões podem estar relacionadas ao resultado da TPF encontrado neste experimento, possivelmente pela baixa taxa de ciclidade resultante do anestro, atingindo valores inferiores à outros relatados (BARUSELLI, et al. 2002; GOTTSCHALL, et al. 2005; MADUREIRA, et al.2005b). Contudo, outros fatores também influenciam a resposta reprodutiva ao final da estação de acasalamento precedida de IATF. Segundo Gottschall et al. (2008), o repasse com touros após a IATF deve preconizar a proporção adequada de touro:vaca, evitando a perda de capacidade reprodutiva do touro e a diminuição da taxa de prenhez devido a um possível retorno ao estro sincronizado. Conforme Barbosa et al. (2007), idade, raça, condição corporal, exame andrológico, libido, hierarquia social, índice de cios, bem como a topografia, tipo de pastagens e presença de aguadas são fatores que influenciam a capacidade reprodutiva dos animais em acasalamento. CONCLUSÕES Os resultados do presente experimento não apresentaram relação significativa da administração de GnRH no momento da IATF sobre as TPI e TPF. O número de dias pós parto não afetou o desempenho reprodutivo de vacas de corte submetidas a IATF. REFERÊNCIAS AYRES, H. et al. Efeito do momento da inseminação e do tratamento com GnRH na IATF sobre a taxa de concepção de vacas de corte lactantes sincronizadas com Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 131 norgestomet e valerato de estradiol. Acta Scientiae Veterinariae. v.34, p.408, Supl.1, 2006a. AYRES, H. et al. 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Foram estudados dois rebanhos, o rebanho 1, com 880 ovelhas Merino Australiano, criadas no município de Quaraí (RS); o rebanho 2, com 65 ovelhas cruzas (Crioula x Texel), criadas em Osório (RS). As ovelhas foram encarneiradas nos meses de outono (março-abril), com 2% de carneiros férteis. No início do encarneiramento foram examinados todos os cascos de todas as ovelhas dos dois rebanhos, quando foi estimada a gravidade das lesões numa escala de 1 a 4. O diagnóstico de gestação foi realizado por ultrassonografia aos 60 dias após a retirada dos carneiros. No rebanho 2 foi estimada, também, a condição corporal (CC) das ovelhas no início do experimento. A PP das ovelhas sadias e infectadas nos rebanhos 1 e 2 foram respectivamente: 91 87%; 81 e 44%, mostrando diferença estatisticamente significativa entre ovelhas do mesmo rebanho (P<0,05). A prevalência do FR nos rebanhos 1 e 2 foi de 14 e 26,7%, respectivamente. Finalmente, no rebanho 2, a CC das ovelhas sadias (3,32) foi superior a do grupo infectado (2,45) (P<0,001). Os dados sugerem que nesse rebanho, a baixa PP das ovelhas infectadas está associada a menor CC, detectada no início do encarneiramento. Palavras-chave: Footrot. Perdas reprodutivas. Percentagem de prenhez. Ovelha. Escore da condição corporal. Reproduction losses caused by footrot on two sheep flocks of Rio Grande do Sul State, Brazil ABSTRACT Ovine footrot (FR) is the most pressing problem of the sheep industry of Rio Grande do Sul (RS) the southern most State of Brazil. No accurate information is available concerning the economic impact of FR upon the local sheep industry. The aim of this paper was to evaluated the losses caused by this condition on the pregnancy percentage (PP) of sheep flocks reared in natural Luiz Alberto Oliveira Ribeiro é Médico Veterinário, Professor Associado do Departamento de Medicina Animal da Faculdade de Veterinária (UFRGS). Gustavo Felipe Lopes e Fernando Magalhães de Souza são graduandos em Medicina Veterinária (UFRGS) e bolsistas do Programa de Iniciação Científica PIBIC – CNPq/UFRGS. Carla Menger Lehugeur é graduanda em Medicina Veterinária (UFRGS). Endereço para correspondência: Av. Bento Gonçalves, 9090, P. Alegre, 91540-000, E mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.135-140 jan./jun. 2010 pastural areas of RS. The study was carried out in two flocks. Flock 1, comprising 880 Australian Merino ewes, grazed in the district of Quaraí (RS); Flock 2 comprising 65 cross ewes (Crioula x Texel), grazed in the district of Osorio (RS). The ewes were naturaly mated during autumn (March-April), using 2% of fertile rams. At the beginning of the mating season all sheep feet were acessed for footrot lesions, when the severity of the lesions were graded in a scale from 1 to 4. The ewes were scanned 60 days after the finishing of the breeding period. The flock 2 had the ewes body condition score (CS) evaluated at the time of ram intruduction. The PP of the infected and healthy ewes in the flocks 1 and 2 was: 91 and 87%; 81 and 44%, respectively, showing statistical significancy between ewes of the same flock (P<0,05). The prevalence of FR on flocks 1 and 2 was 14 and 26,7%, respectively. Finally, in flock 2, the CS of health ewes (3,32) was significantly higher than the infected ones (2,45) (P<0,001). The data presented sugest that, at least in this flock, the lower PP observed on the infected ewes is associated to the lower CC mean detected at the beginning of the breeding season. Keywords: Footrot. Ovine reproduction losses. Pregnancy rate in sheep. Body condition score. INTRODUÇÃO O footrot (FR) é uma enfermidade contagiosa do casco de ovinos, que leva à manqueira e consequentemente à redução da produtividade de rebanhos infectados. A doença é causada pelo Dichelobacter nodosus, cuja proliferação na camada de cornificação da epiderme leva ao descolamento do casco (EGERTON et al. 1969). A base dessa ação está ligada a uma potente protease produzida por esse organismo (ROBERTS; EGERTON, 1969). A doença é prevalente em rebanhos ovinos no Rio Grande do Sul (RS) e é considerada como o maior problema sanitário da ovinocultura gaúcha, sendo talvez, em ordem de importância econômica, superado somente pela verminose gastrointestinal (RIBEIRO, 1978). Há poucos estudos sobre o impacto do FR na produção ovina. Beveridge (1941), observando ovinos na Austrália, cita que as perdas econômicas estariam relacionadas com a redução da condição corporal e o alto custo do tratamento de ovelhas infectadas. Posteriormente a essa citação, estudos feitos nesse mesmo país, detectaram uma diminuição de 10% na taxa de crescimento da lã e de 11% no peso vivo em ovinos infectados com FR (SYMONS, 1978; MARSHALL et al., 1991). Há pouca informação sobre o impacto do FR na eficiência reprodutiva de rebanhos ovinos, tanto na literatura internacional, como na brasileira. O presente trabalho teve como objetivo determinar a influência do FR na taxa de prenhez de dois rebanhos ovinos, criados extensivamente no RS MATERIAIS E MÉTODOS As observações foram realizadas em dois rebanhos ovinos comerciais do RS. O rebanho 1, constituído por 880 ovelhas da raça Merino Australiano, criadas em condição extensiva em uma propriedade do município de Quaraí, na região da Fronteira Oeste do Estado; Rebanho 2, constituído de 65 ovelhas cruzadas (Crioula X Texel) , criadas em condições extensivas em uma propriedade do município de 136 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Osório, na região Litorânea do RS. As ovelhas dos dois rebanhos foram encarneiradas durante os meses de outono (março-abril), por monta natural, com 2% de carneiros. Os carneiros usados foram submetidos a exame dos órgãos genitais externos e exame biológico do sêmen obtido por eletro-ejaculação. Foram usados somente carneiros que apresentaram resultados compatíveis com os de animais férteis em exame realizado antes do encarneiramento. No início do experimento (dia zero do encarneiramento), foram examinados todos os cascos de todos os ovinos. A gravidade das lesões foi estimada usando escala proposta por RIBEIRO (1981), onde zero corresponde à ausência de FR, dois dermatite interdigital sem descolamento do casco, três descolamento da parte posterior do casco e quatro a uma lesão grave, envolvendo descolamento de todo o casco. Ovinos foram considerados como infectados quando um ou mais cascos mostravam graus de 3 ou 4, ou tivessem dois cascos com lesão de grau 2. Os animais considerados como infectados foram mantidos identificados com brincos numerados, até a realização do diagnóstico de gestação. O diagnóstico de gestação foi realizado aos 60 dias após a retirada dos carneiros, sendo as ovelhas examinadas em pé, sem jejum prévio, utilizando um brete próprio para tal exame. O exame foi realizado pelo método de ultrassonografia através da região inguinal direita do animal, utilizando um aparelho modelo Falco, marca Pie Medical, equipado com um transdutor convexo de 3,5 Mhz. Os dados de cada rebanho, referentes ao número de ovelhas vazias e o total de ovelhas examinadas, foram registrados em fichas individuais por propriedade. A percentagem de prenhez (PP) foi calculada conforme a fórmula: PP = número de ovelhas prenhes / número de ovelhas acasaladas x 100. No início do encarneiramento (dia zero), no rebanho 2, foi estimada a Condição Corporal (CC) de todos os animais, usando o método descrito por RUSSEL et al. (1969). A precipitação pluviométrica mensal e temperatura média, nas áreas das duas propriedades, durante o período do encarneiramento (março/abril-2007) foi obtida através do Centro de Meteorologia Aplicada – FEPAGRO/RS. A análise estatística dos dados foi feita pelo teste do Qui-quadrado e análise da variância. RESULTADOS A PP e a prevalência de FR nas ovelhas dos dois rebanhos estudados são mostradas na tabela 1. Conforme mostram os dados, a PP no grupo de ovelhas infectadas foi sempre menor. Especialmente no rebanho 2 essa diferença foi bastante nítida, uma vez que o grupo sadio mostrou PP=81%, contra 44% (P<0,05), no rebanho infectado. Os dados mostram também que a prevalência do FR foi maior no rebanho 2 (27,6%) do que no rebanho 1, cuja prevalência observada foi de 14%. A PP média nos dois grupos de ovinos dos rebanhos estudados mostrou diferença significativa, sendo a prenhez dos grupos infectados e não infectados 77,1 e 87,2% respectivamente (P<0,05). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 137 No rebanho 2, onde foi possível estimar a CC, no momento do encarneiramento, do grupo de ovelhas livres e infectadas com FR, os valores observados foram de 3,32 para o grupo livre de FR e 2,45 para o grupo infectado(P< 0,001). A precipitação pluviométrica média mensal registrada durante o período do encarneiramento foi de 280 e 300mm, na propriedade 1 e 2, respectivamente. A temperatura média nos meses de março e abril variaram de 24,05 e 21,05ºC, em Quaraí e de 25,2 e 22,05ºC para Osório. TABELA 1 – Percentagem de prenhez (PP) em ovelhas infectadas e livres de footrot e prevalência da infecção, em dois rebanhos ovinos do RS, outono/2007. Grupo Rebanho 1 Sadios a-b 2 91a 87ª b Infectados 81 44b Prevalência 14 26,7 Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna apresentam diferença estatística significativa (P<0,05). DISCUSSÃO A ocorrência de surtos de FR tem sido relacionada a umidade do solo e a presença de ovinos cronicamente infectados no rebanho. Na Austrália, em áreas endêmicas, o início de surtos está associado a precipitações continuadas mensais de 50mm por dois a três meses e temperatura ambiental acima de 10ºC (GRAHAM; EGERTON, 1968). No RS, a transmissão da doença é mais frequente no outono e primavera quando condições de umidade e temperatura são favoráveis. O manejo intensivo de ovinos nestas duas estações (outono – encarneiramento; primavera-esquila) também favorecem a transmissão da enfermidade (RIBEIRO, 1978). As condições ambientais observadas nas duas propriedades estudadas, durante o período favoreceu a transmissão do FR, uma vez que a precipitação pluviométrica foi de 280 e 300mm nas propriedades 1 e 2, respectivamente e as temperaturas médias mantiveram-se superior a 10ºC. Estes valores são bem superiores aos encontrados em áreas endêmicas de FR na Austrália. A prevalência do FR no rebanho 2 foi de aproximadamente 27%, superior a prevalência média para essa enfermidade encontrada em rebanhos gaúchos de 18% (RIBEIRO, 1984). Estudos mostram que a taxa de prenhez em um rebanho está relacionada com a taxa de ovulação, concepção e mortalidade embrionária (PLANT, 1981; GUNN et al., 138 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 1984) uma vez que a fertilidade dos carneiros seja garantida. Esses três fatores são, de certa forma, influenciados pelo manejo e, principalmente, pelo nível nutricional. Problemas sanitários, como a verminose gastrointestinal e o FR, podem agravar ainda mais o quadro, por levarem a uma perda do estado nutricional do rebanho, conforme sugerido por Silva (1992). Inúmeros trabalhos têm sugerido a avaliação da CC como um método preciso e prático de estimar o nível nutricional de um rebanho (DUCKER; BOYD, 1977; PLANT, 1981; GUNN et al, 1984). Ribeiro (2003), observando rebanho Corriedale no RS, encontrou correlação positiva entre CC e prenhez. No mesmo estudo, ovelhas com CC entre 3,0 e 4,0 apresentaram a maior taxa de prenhez. No presente trabalho, os valores de CC encontrados nas ovelhas infectadas do rebanho 2 foram significativamente inferiores aos observados no grupo de ovelhas sadias (2,45 e 3,32, respectivamente). O valor médio da CC das ovelhas infectadas foi de 2,45, bem abaixo do escore relacionado com maior fertilidade em rebanhos ovinos (RIBEIRO, et al., 2003). Nesse rebanho, a baixa porcentagem de prenhez no grupo infectado (PP=44%) pode estar relacionada com a baixa CC causada pelo FR, uma vez que os dois grupos foram mantidos no mesmo potreiro e expostos aos mesmos carneiros, pelo mesmo período. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diferenças significativas foram observadas entre as PP do grupo de ovelhas sadias e infectadas do rebanho 1. Seria importante salientar que não foi detectado nenhuma alteração patológica, além do footrot, que levasse a diferentes PP observadas nos dois grupos. Nesse rebanho a prevalência de FR foi de 14%, inferior a prevalência média descrita para rebanhos gaúchos (RIBEIRO, 1984). Finalmente, não seria correto comparar os dados de prevalência do FR, PP nos dois rebanhos estudados. Os rebanhos situam-se em regiões distintas e certamente diferem quanto ao manejo, nutrição, genética entre outras. REFERÊNCIAS BEVERIDGE, W. I. B. Foot-rot in sheep: A trasmisible disease due to infection with Fusiformis nodosus. Bulletin of Council Scientific Industry Research, v.140, p.1-53, 1941. COE, A. Observações da produção ovina na região da fronteira do Rio Grande do Sul. Edigraf – Santana do Livramento, 1991. DUCKER, M. J.; BOYD, J. S. The effect of body size and body condition on the ovulation rate of ewes. Animal Production, v.24, p.377-385, 1977. EGERTON, J. R.; ROBERTS, D. S.; PARSONSON, I. M. 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Neste estudo, utilizando-se amostragem aleatória foram avaliados 3027 rebanhos suídeos de 13 estados brasileiros correspondentes a três tipos de sistema de criação com o intuito de se verificar a frequência de anticorpos para Brucella spp por meio do teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) e 2- mercaptoetanol (2-ME)/ soroaglutinação lenta. Observou-se uma alta ocorrência de granjas reagentes no AAT, porém nenhuma foi reagente para Brucella spp no testes confirmatórios 2-ME/soroaglutinação lenta. Palavras-chave: Brucelose suína. Inquérito. Soroepidemiologia. Pedro Moreira Couto Motta – Médico Veterinário – Msc – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Antônio Augusto Fonseca Jr. – Farmacêutico, Msc, Doutorando – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Anapolino Macedo de Oliveira – Médico Veterinário, Msc – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Kelly Fagundes Nascimento – Médica Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Paulo Martins Soares Filho – Médico Veterinário, Msc – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Cláudia Vieira Serra – Médica Veterinária, Msc – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Aládio Lopes Jesus – Médico Veterinário, Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Anselmo Vasconcelos Rivetti Jr. – Médico Veterinário, Msc., Doutorando – UFMG – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais Alberto Knust Ramalho – Médico Veterinário – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais. Pedro Moacyr Pinto Coelho Mota – Médico Veterinário, Msc., Doutor – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais. Ronnie A. Assis – Médico Veterinário, Msc., Doutor – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais. Marcelo Fernandes Camargos – Médico Veterinário, Msc., Doutor – Veterinária – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais. Endereço para correspondência: Avenida Rômulo Joviano, s/n, Caixa Postal 50, Centro, Pedro Leopoldo, MG, CEP 33600-000. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.141-147 jan./jun. 2010 Surveillance for porcine brucelosis in Brazil ABSTRACT Porcine brucellosis is an infectious disease characterized by abort, infertility and increased mortality of weaned piglets. In this study, using random sampling, 3027 swine herds from three management systems of 13 Brazilian states were evaluated for presence of antibodies for Brucella spp using buffered Brucella antigen tests (BBAT) and 2 mercaptoethanol/slow serum agglutination test. It was observed a high occurrence of reagent farms in the card test, but none were positive for Brucella spp in confirmatory tests (2ME)/slow serum agglutination test. Keywords: Porcine brucellosis. Survey. Seroepidemiology. INTRODUÇÃO A brucelose suína foi diagnosticada pela primeira vez em 1904 por Hutyra como uma doença infecciosa associada a abortos, infertilidade e aumento da taxa de mortalidade de leitões desmamados por ninhada. Esta infecção foi por muitos anos atribuída à Brucella abortus, sendo classificada, em 1929, por Huddleston como Brucella suis. Ainda assim, B. abortus pode infectar suídeos, principalmente aqueles criados concomitamente com bovinos (PAULIN, 2003). Além do impacto econômico, a B. suis é capaz de infectar, em condições naturais, o homem e outras espécies domésticas. A infecção por B. suis tem distribuição mundial. Poucos são os achados de brucelose suína no país, decrescendo sua frequência de 2,19% em um levantamento feito em 1981 (GARCIA-CARRILLO, 1987) para 0,34% nos últimos levantamentos (BRASIL, 2000). Esse decréscimo deve-se à intensificação e integração da produção suína em escala industrial (POESTER et al., 2002). Entretanto, não existem relatos de estudos amplos sobre a presença de anticorpos para brucelose suína no Brasil. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a frequência de anticorpos para Brucella spp. em amostras de soro de suídeos colhidas para realização da vigilância ativa para manutenção da condição de Zona Livre de Peste Suína Clássica (PSC) dos estados envolvidos no ano de 2003. MATERIAL E MÉTODOS O presente inquérito foi realizado na região do país representada pelos estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e pelo Distrito Federal. Dessa forma, para a realização do inquérito soroepidemiológico, especialmente em relação à alocação e distribuição das amostras, fez-se necessário subdividir essa grande região em outras regiões menores. Com base em indicadores apropriados e de características como proximidade, contiguidade e intensidade de 142 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 relacionamento referente ao trânsito e comercialização de animais, buscou-se agrupar a população em subpopulações, envolvendo rebanhos com características estruturais e produtivas semelhantes e relacionadas (maior homogeneidade). Foram colhidas amostras de quatro subpopulações para Granjas de Suínos, Granjas de Javalis e Criatórios de Suídeos, distribuídas da seguinte maneira: • Subpopulação 1 – Rio Grande do Sul • Subpopulação 2 – Santa Catarina • Subpopulação 3 – Paraná • Subpopulação 4 – Demais estados da Zona Livre para PSC (SP, MG, RJ, ES, BA, SE, MS, GO, MT, TO, DF). As granjas de suínos foram agrupadas de acordo com o número de matrizes em granjas de 1 a 5, 6 a 25, 26 a 100, 101 a 500 e com mais de 500 matrizes. Foram amostradas todas as granjas de javalis existentes nos estados envolvidos e para os criatórios de suídeos foi utilizado como referência o cadastro atualizado de propriedades com bovinos, pois na maioria dessas propriedades havia criação de suínos para consumo próprio. O estudo amostral foi realizado em duas etapas: em primeiro lugar foi sorteado, de forma aleatória, um número apropriado de unidades primárias de amostragem (propriedades), e posteriormente buscou-se determinar o status do rebanho (infectado ou não), escolhendo, de forma aleatória, um número apropriado de animais (unidades secundárias). Foram realizados dois testes em série, sendo um para triagem e outro confirmatório para amostras reagentes. Como teste de triagem, foi empregada a prova do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), utilizando suspensão inativada de Brucella abortus amostra 1119-3. As amostras reagentes foram submetidas à prova do 2 mercaptoetanol (2-ME) e soroaglutinação lenta (SAL) (OIE, 2004). No que diz respeito ao critério de interpretação, adotou-se o da OIE (2004), em que se tratando de suídeos, os testes não podem ser correlacionados ao indivíduo e sim ao rebanho, levando-se em conta a situação do mesmo e a área em que se situa, ou seja; um animal positivo no plantel nos testes confirmatórios (2-ME/SAL), considera-se que o plantel é positivo. Os exames laboratoriais foram realizados no Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (LANAGRO/MG). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram amostrados 320 granjas de suínos e 320 criatórios de suídeos (explorações de subsistência, sem característica comercial) em cada uma das subpopulações 1, 2 e 3 e amostradas todas as granjas de javalis nas três subpopulações. Na subpopulação 4 foram amostradas 313 granjas de suínos, 639 criatórios de suídeos e todas as granjas de javalis, perfazendo um total de 3027 granjas (Tabela 1). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 143 TABELA 1 – Caracterização da amostragem. Extrato de produção considerado Granjas de Suínos Granjas de Javalis (GS) (JA) Populações Granja Amostras Granja Amostras TOTAL Criatórios de Suídeos (CS) Granja Amostras Granjas Amostras Subpopulação 1 320 4569 57 744 320 1471 697 6784 320 4955 46 405 321 649 687 6002 320 3968 13 135 320 1335 653 5438 313 5558 34 517 639 3028 986 9076 TOTAL 1.273 19.050 150 1.761 1.600 6.483 3.023 27.300 Subpopulação 2 Subpopulação 3 Subpopulação 4 A Tabela 2 mostra a porcentagem de granjas e criatórios considerados reagentes no AAT, os quais foram considerados negativos nos testes confirmatórios de 2-ME/ SAL. Como observado, houve uma grande frequência de reativos nesse teste. Este fato é esperado uma vez que o método tem por característica a alta sensibilidade e baixa especificidade, sendo portanto, recomendado para triagem dos rebanhos. Em parte, acredita-se que os percentuais observados são resultado da presença de agentes causadores de reações inespecíficas nos rebanhos avaliados, tais como. Yersinia enterocolitica sorotipo 0:9 em que devido à semelhança dos Lipopolissacarídes (LPS) de Y. enterocolitica e Brucella spp, ocorrem reações cruzadas (OIE, 2004). Estima-se em alguns casos que a prevalência de Y. enterocolitica em derivados de suínos seja no país, acima de 40% (ALBUQUERQUE; CARDOSO, 1999). 144 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 TABELA 2 – Porcentagem de granjas de suínos, de javalis e criatórios de suínos reagentes no teste com antígeno acidificado tamponado (AAT) para Brucella spp. nos respectivos estados da Federação. Extrato de produção Unidade federativa GS JA CS BA 28,5 NA 11,7 DF 33,3 NA 100 ES 84,6 NA 7,1 GO 55,5 100 39,4 MG 8,9 0,2 7,7 MS 85,7 25 25,9 MT 100 100 43,1 RJ 100 100 31,5 SE 37,5 NA 23 SP 28,8 23,8 16,6 TO 100 NA 25,7 NA – Grupo não analisado nessas unidades federativas; GS – Granja de suínos; JA – Granja de javalis; CS – Criatório de suínos. A porcentagem apresentada em cada Unidade Federativa representa o quantitativo de propriedades em que pelo menos um animal foi reativo ao AAT. (Exemplo: Rio de Janeiro-100% de GS e JA apresentaram pelo menos um animal reativo ao AAT). O AAT é considerado a melhor alternativa para o diagnóstico massal de rebanhos (ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DE LA SALUD, 1986). O método se baseia na maior atividade de IgG1 em pH ácido, reduzindo a atividade de IgM, bem como as reações inespecíficas. É um método prático e sensível que pode muito bem ser utilizado em campo. Entretanto, notou-se nesse estudo que não é recomendado para áreas de baixa prevalência. É provável que a inibição de IgM não seja suficiente para evitar as diversas reações cruzadas, o que gera o elevado número de falsos positivos. A prova confirmatória por outro lado, tem uma melhor inibição da IgM, diminuindo substancialmente as reações inespecíficas. Portanto, para se ter uma maior especificidade, recomenda-se utilizar os dois testes. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 145 A necessidade de testes confirmatórios pode ser vista por outros trabalhos relacionados à brucelose. Levantamentos no estado da Bahia, relativos à enfermidade bovina, encontraram uma prevalência maior de animais positivos, variando de 4,2% a 8,7%, quando utilizado apenas o método de soroaglutinação lenta (MOURA; PEDREIRA, 1970; DÓRIA et al., 1982 e VIEGAS, 1984). Ribeiro et al. (2003) encontraram prevalências mais baixas e ressaltaram que as mesmas se deveram á melhor precisão dos resultados da combinação de AAT com 2-mercaptoetanol. Com relação aos títulos estabelecidos para o diagnóstico sorológico da brucelose suína no país, a Portaria nº 23 de 20/01/76 (BRASIL, 1976), os descrevia, no entanto, foi revogada. A legislação atual, Instrução Normativa nº 6 de 08/01/2004, que estabeleceu o regulamento técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (BRASIL, 2004), não descreve tais títulos para suínos. Entretanto neste estudo, foram adotados os títulos utilizados para bovinos e bubalinos (BRASIL, 2004), pois até então, são os correntemente empregados para o diagnóstico sorológico da brucelose suína no Brasil. Neste âmbito, sugere-se reavaliar os parâmetros para o diagnóstico da brucelose suína no país, uma vez que, caso por exemplo os títulos sorológicos para o diagnóstico nos testes confirmatórios (ponto de corte) sejam mais baixos que os atuais empregados para bovinos e bubalinos, poderiam ocorrer casos positivos. .Além disso, caso seja utilizado um antígeno mais específico na prova do AAT, poder-se-ia reduzir o grande número de animais reagentes na prova de triagem. Além da investigação da ocorrência de brucelose nos criatórios suídeos do país, a realização de inquéritos sorológicos como o deste estudo é relevante uma vez que poderá sinalizar para aqueles estados em que já se encontram em vias de erradicação da brucelose bovina e bubalina (PNCEBT) como, por exemplo, Santa Catarina, que caso haja algum foco de brucelose suína, deva-se atentar para a possibilidade de infecção dos bovinos criados nas proximidades dos rebanhos suídeos. Este trabalho atende à necessidade citada por diversos autores de um estudo maior sobre a frequência de anticorpos para Brucella spp no Brasil, visto que pesquisas anteriores compreenderam apenas localidades específicas (BRASIL, 2000; FILIPPESEN et al., 2001; MATOS et al., 2004; AGUIAR et al., 2006; MORES et al., 2006). Neste estudo foram avaliados 3027 rebanhos de 13 estados brasileiros. Além disso, corrobora estudos de alguns autores em relação à baixa frequência de anticorpos para Brucella spp. Matos et al. (2004) citaram que a enfermidade não foi considerada um problema sanitário relevante em Goiânia. O mesmo foi relatado por Filippesen et al. (2001) no sudoeste do Paraná que, mesmo assim, insistiam na necessidade de estudos sorológicos contínuos. Soma-se a esses resultados os das amostras testadas pelos laboratórios credenciados pelo MAPA. Foram testados 26.847 soros no decorrer do ano de 2005, 25.503 em 2006 e cerca de 9.000 em 2007 (contagem parcial). Todos foram considerados negativos para brucelose (MAPA, dados não publicados). A partir da alta amostragem, pôde-se colher um indicativo da frequência de soropositivos para Brucella spp nos rebanhos de suídeos no Brasil. Ainda que não se possa concluir sobre a prevalência de rebanhos positivos, infere-se que esta seja baixa. 146 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 REFERÊNCIAS AGUIAR, D. M. et al. Anticorpos contra agentes bacterianos e virais em suínos de agricultura familiar do município de Monte Negro, RO. Arquivos do Instituto Biológico, v.73, n.4, p.415-419, 2006. ALBUQUERQUE, M. C. B.; CARDOSO, M. Pesquisa de Yersinia enterocolitica em linguiças frescas de porco em Porto Alegre, RS. Ciência Rural, v. 29, n.4, p.727-729, 1999. BRASIL, 1976. Portaria brucelose suína de 1976. BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Boletim de Defesa Sanitária Animal, v.30, 2000. p.39-50. BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Instrução Normativa número 6. 08/01/2004. Regulamento Técnico do PNCEBT, 2004. DORIA, J. D. et al. Estudos sorológicos sobre a brucelose em bovinos no estado da Bahia. Arquivos da Escola Medicina Veterinária UFBA, v.7, p.105-113, 1982. FILIPPESEN, L. F. et al. Prevalência de doenças infecciosas em rebanho de suínos criados ao ar livre na região sudoeste do Paraná, Brasil. Ciência Rural, v.31, n.2, p.299-302, 2001. GARCIA-CARRILLO, C. La brucelosis de los animales en la América y su relación con la infección humana. Office International des Epizooties, Paris, v.6, p.43-295, 1987. MATOS, M. P. C. et al. Ocorrência de anticorpos para Brucella sp em soros de matrizes suínas de granjas que abastecem o mercado consumidor de Goiânia, Estado de Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira, v.5, n.2, p.105-108, 2004. MORÉS, N. et al. 2006. Perfil sanitário da suinocultura brasileira. Agrosoft. Disponível em www.agrosoft.org.br/?q=node/18924. Acesso em 18/10/2008. MOURA, J. A. J.; PEDREIRA, P. A. S. Contribuição ao estudo da brucelose na Bahia: incidência em Ruy Barbosa, Itabera e Ibiquera. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 22, 1970. Anais..., Salvador: SBPC, 1970, P. 263. OIE. Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals. 5th Edition, 1178 p, 2004. ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DE LA SALUD. Comité mixto FAO/OMS de expertos en brucelosis. Genebra: OMS, 1986, 149 p (série de informes técnicas, 740). PAULIN, L. M. Brucelose. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, n.2, p.239-249, 2003. POESTER, F. P. et al. Brucellosis in Brazil. Veterinary Microbiology. v.90, n.1-4, p.55-62, 2002. RIBEIRO, A. R. P. et al. Prevalência de tuberculose e brucelose bovina no município de Ilhéus. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n.1, p.120122, 2003. VIEGAS, S. A. R. A. Investigação sorológica para a brucelose em bovinos no estado da Bahia. Arquivos da Escola Medicina Veterinária UFBA, v.9, p.59-67, 1984. Recebido em: jan. 2009 Aceito em: abr. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 147 Amblyomma aureolatum (Pallas, 1772) (Acari: Ixodidae) em Puma concolor: primeiro registro em Santa Catarina, Brasil Sandra Márcia Tietz Marques Rosiléia Marinho de Quadros Marcelo Mazzolli Gino Chaves Rodrigo César Benedet Klaus Guinter Lessmann RESUMO Este trabalho registra o parasitismo por Amblyomma aureolatum em um Puma concolor resgatado pelo Projeto Puma em Lages, Santa Catarina, Brasil. Foram encontrados 55 carrapatos da espécie Amblyomma aureolatum, sendo 37 (67%) fêmeas, 18 (33%) machos e proporção de 2:1. Das fêmeas, 24 eram ninfas e 13 (1/3) adultas e todos os machos eram adultos. Este é o primeiro relato de parasitismo por Amblyomma aureolatum em Puma concolor em Santa Catarina, Brasil. Palavras-chave: Puma concolor. Infestação por carrapato. Amblyomma aureolatum. Santa Catarina, Brasil. Amblyomma aureolatum (Pallas, 1772) (Acari: Ixodidae) in Puma concolor: First report in Santa Catarina, Brazil ABSTRACT This work reports the parasitism by Amblyomma aureolatum in Puma concolor rescued by the Projeto Puma in Lages, Santa Catarina, Brazil. Were found 55 ticks of the Amblyomma aureolatum species, being 37 (67%) female, 18 (33%) male and ratio of 2:1. From the females, Sandra Márcia Tietz Marques é Médica Veterinária, Profa., Dra. – Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS – Porto Alegre/RS. Rosiléia Marinho de Quadros é Médica Veterinária e Bióloga – Profa. MSc. – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – UNIPLAC/Lages/SC. Marcelo Mazzolli é Biólogo, Dr. – Coordenador da ONG PROJETO PUMA e Prof. do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – UNIPLAC/Lages/SC. Gino Chaves é Médico Veterinário, Dr., Prof. do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – UNIPLAC/Lages/ SC. Rodrigo César Benedet é Biólogo, Membro da ONG PROJETO PUMA, Florianópolis, SC. Klaus Guinter Lessmann é Biólogo, Membro da ONG PROJETO PUMA, Florianópolis, SC. Endereço para correspondência: Sandra M. T. Marques, Rua Aneron Corrêa de Oliveira 74, ap. 201, Bairro Jardim do Salso, Porto Alegre/RS. CEP: 91410-070. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.148-152 jan./jun. 2010 24 were nymphs and 13 (1/3) were adults and all the males were adults. This is the first report of parasitism by Amblyomma aureolatum in Puma concolor in Santa Catarina, Brazil. Keywords: Puma concolor. Tick infestation. Amblyomma aureolatum. Santa Catarina state. Brazil. INTRODUÇÃO O gênero Amblyomma (Acari: Ixididae) possui 106 espécies, 59 encontradas na região neotropical. Amblyomma aureolatum parasita carnívoros, ocorrendo na Argentina, Brasil, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai e Suriname (RODRIGUES et al., 2002). Este gênero tem importância em saúde pública, por parasitar humanos e ser agente vetorial de enfermidades patogênicas como a babesiose, borreliose e febre maculosa (ARAGÃO, 1936; BARROS-BATTESTI et al., 2006). No Brasil, registros de literatura evidenciaram A. aureolatum parasitando carnívoros das Famílias Felidae, Canidae and Procyonidae (ARAGÃO, 1936; GUGLIELMONE et al., 2003; LABRUNA et al., 2005). Aragão (1936) relatou que A. aureolatum era frequentemente encontrado infectando cães em áreas rurais brasileiras. Na região sul, A. aureolatum foi encontrado parasitando cães no município de Lages, Santa Catarina (SOUZA et al., 1999; BELLATO et al., 2003). Evans et al. (2000) relataram o parasitismo em cães domésticos por A. aureolatum no estado do Rio Grande do Sul. Labruna et al. (2002) identificaram o gênero Amblyomma em nove espécies de carnívoros silvestres, incluindo Puma concolor, ao longo do rio Paraná, na área da usina hidrelétrica Porto-Primavera, localizada entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Labruna et al. (2005) relataram A. aureolatum parasitando 10% (3/30) dos pumas amostrados na região sudeste de São Paulo. Em Minas Gerais, Rodrigues e Daemon (2004) registraram A. aureolatum parasitando cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) em um fragmento de área rural, na zona da mata mineira. Bechara et al. (2006a) conduziram um estudo com animais silvestres (coati, veado e tamanduá–bandeira), no pantanal do Mato Grosso, no período de 1996-1998, identificando o gênero Amblyomma, porém a espécie A. aureolatum não foi registrada. Bechara et al. (2006b) pesquisaram ectoparasitos em cachorro-do-mato e tamanduábandeira, no Parque Nacional das Emas, na região do serrado, em Goiás, e identificaram carrapatos das espécies A. cajennense, A. triste, A. nodosum e A. pseudoconcolor. O objetivo deste trabalho foi de registrar o parasitismo por Amblyomma aureolatum em um Puma concolor morto por atropelamento no município de Lages, Santa Catarina. MATERIAL E MÉTODOS O município de Lages (27º 48’ S, 50º 20’ W, altitude de 916m) está localizado na região do planalto serrano, estado de Santa Catarina, região sul do Brasil. Tem área Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 149 rural de 2.429 km² e área urbana de 222,4 km². A mata de araucária é a vegetação predominante e frequentemente entrecortada por extensas áreas de pastagens nativas. O seu relevo é constituído de um planalto de superfícies planas, onduladas e montanhosas. O puma foi encontrado pela Polícia Militar Ambiental e resgatado pela organização nãogovernamental (ONG) Projeto Puma, no mês de setembro de 2007, na rodovia SC-431, distante 12 km da região urbana de Lages. A ONG Projeto Puma tem a missão de estudar os grandes felinos, visando sua preservação e recuperação (PROJETO PUMA, 2009). O puma macho foi identificado como Puma concolor. Foi encaminhado para necropsia na Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), em Lages (SC). À necropsia foram encontrados 22 projéteis ocasionados por arma de fogo. Foram recolhidos 55 carrapatos que estavam fixados no pavilhão auricular, região axilar e posição ventral torácica. Os parasitos foram coletados por inspeção visual e tátil com a utilização de pinças e pente fino. Preservados em etanol 70° GL, os carrapatos foram encaminhados para confirmação de identificação taxonômica ao Laboratório de Ixodides, Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ/RJ). Os carrapatos coletados foram depositados na coleção de parasitos da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi identificada a espécie Amblyomma aureolatum (Pallas, 1772) parasitando Puma concolor. Os carrapatos recolhidos foram distribuídos em: 37 (66,7%) fêmeas (24 ninfas e 13 adultas) e 18 (33,3%) machos adultos e alguns exemplares são mostrados na Figura 1. Este é o primeiro registro de Amblyomma aureolatum em puma no estado de Santa Catarina, região sul do Brasil. FIGURA 1 – Vista dorsal de Amblyomma aureolatum: a) adultos; b) adulto macho e fêmea. Este relato é semelhante a outros estudos que apontam carnívoros como hospedeiro primário dos estágios adultos de Amblyomma aureolatum (GUGLIELMONE et al., 2003; RODRIGUES; DAEMON, 2004; LABRUNA et al., 2005; BECHARA et al., 2006a; BECHARA et al., 2006b). 150 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Para os carrapatos, fatores abióticos como latitude, altitude e tipo de vegetação são fundamentais para se determinar a sua sobrevivência e desenvolvimento no meio ambiente, além da habilidade ou oportunidade de parasitar diversos hospedeiros, tanto carnívoros quanto pássaros. Pássaros e roedores são os principais hospedeiros dos estágios de larva e ninfa de A. aureolatum (LABRUNA et al., 2002; ARZUA et al., 2003; GUGLIEMONE et al., 2003). Portanto, a vigilância deste ectoparasito no meio silvestre é importante para detectar qualquer alteração em relação a sua população e aquisição de novos hospedeiros, sendo indicativo de mudanças ambientais. Entre os grandes felinos, o puma enfrenta o problema de estabelecer território sobre centenas de quilômetros quadrados com populações adequadas de espécies-presa, as quais têm escasseado pela caça ilegal e perda de ambiente (MAZZOLLI; HAMMER, 2008). Por esta razão, a dispersão e alterações ambientais podem afetar a população de predadores e presas, concorrendo para uma melhor avaliação da dinâmica populacional, enfatizado no estudo de Labruna et al. (2005). Como o puma foi atropelado em ambiente periurbano e apresentava lesões decorrentes de projéteis de arma de fogo, supõe-se que buscava alimentação longe do ambiente silvestre, estava em corredor de dispersão ou estabelecendo território. Discute-se a possibilidade de sua ocorrência na área ser reflexo do desmatamento na região, que modificou a paisagem das florestas para campos de pastagem, diminuindo as espécies presas, permitindo a ampliação da área de ocorrência desta espécie. Neste cenário, onde a população humana continua a expandir sobre os fragmentos remanescentes, espécies cinegéticas vulneráveis e aquelas com grande demanda de território estão entre as mais propensas à extinção (MAZZOLLI; HAMMER, 2008). Para os felinos silvestres, é necessária a contínua busca por informações nos campos da saúde, manejo, preservação e recuperação, suas causas e consequências. E sob o olhar humano deve ser acrescida uma educação formadora preservacionista, para que esta parcela da fauna brasileira possa permanecer entre nós. CONCLUSÃO Confirma-se a presença do carrapato Amblyomma aureolatum em Puma concolor. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Polícia Ambiental do Estado de Santa Catarina, ao Projeto Puma e em especial à Dra. Marinete Amorim, Dr. Gilberto Salles Gazeta e Dr. Nicolau Maués Serra-Freire, da FIOCRUZ/RJ pela identificação taxonômica dos carrapatos. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 151 REFERÊNCIAS ARAGÃO, H. B. 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Recebido em: fev. 2009 152 Aceito em: maio 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Cirurgia endoscópica transluminal por orifícios naturais: o que é? Beatriz Guilhembernard Kosachenco Fabiana Schiochet Carlos Afonso de Castro Beck Resumo A abordagem cirúrgica denominada Cirurgia Endoscópica Transluminal por Orifícios Naturais (Natural Orifice Translumenal Endoscopic Surgery – NOTES) é uma nova alternativa para o acesso e tratamento de doenças abdominais. Consiste na passagem de um endoscópio através de um orifício natural do corpo, na perfuração intencional de uma víscera para permitir o acesso à cavidade peritoneal, e na realização de um procedimento intra-abdominal sob visualização endoscópica. Inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas para encontrar o melhor acesso transluminal e o melhor método de fechamento da viscerotomia. Para a utilização ampla desses procedimentos na rotina clínica humana, os experimentos realizados ressaltam a necessidade de desenvolver um protocolo operacional padrão que permita a aplicação segura e eficaz das NOTES. O objetivo deste trabalho foi revisar e atualizar as informações sobre este novo método de cirurgia videoendoscópica. Palavras-chave: Endoscopia. Laparoscopia. Cirurgia. NOTES. Orifícios naturais. Natural Orifice Translumenal Endoscopic Surgery (NOTES): What is this? Abstract The surgical approach named natural orifice translumenal endoscopic surgery (NOTES) is a new alternative for the access and treatment of abdominal diseases. It consists of passage of an endoscope through a body’s natural orifice, of the intentional perforation of a hollow viscus allowing Beatriz Guilhembernard Kosachenco – Médica Veterinária, MSc., Professora da Disciplina de Cirurgia Veterinária da ULBRA Canoas. Fabiana Schiochet – Médica Veterinária, MSc., Professora do Curso de Especialização em Cirurgia Minimamente Invasiva do Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre. Carlos Afonso de Castro Beck – Médico Veterinário, Dr., Professor do Departamento de Medicina Animal da UFRGS, Porto Alegre. Endereço para correspondência: Av. Farroupilha 8001, Prédio 60. Bairro São José, Canoas/RS. CEP 92425900. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.153-164 jan./jun. 2010 the access to the peritoneal cavity, and of the development of an intra-abdominal procedure under endoscopic visualization. Countless researches have been developed to find the best transluminal access and the best closure device of the viscerotomy. For the wide use of these procedures in the human clinical routine, the accomplished experiments point out the need to develop a standard protocol that allows a safe and effective use of the NOTES. The objective of this work was to review and to update the information on this new method of videoendoscopic surgery. Keywords: Endoscopy. Laparoscopy. Surgery. NOTES. Natural orifice. Introdução A abordagem cirúrgica denominada natural orifice translumenal endoscopic surgery (NOTES) é uma nova alternativa ao manejo de doenças abdominais (VOSBURGH; ESTÉPAR, 2007), e encontra-se em fase experimental (McGEE et al., 2006). Envolve a perfuração intencional de uma víscera com endoscópio para acesso à cavidade abdominal (PEARL; PONSKY, 2007). O progresso da cirurgia associado à inovação de outras áreas tem reduzido as indicações de laparotomias convencionais. As técnicas de laparoscopia têm sido associadas com menor dor, menor permanência hospitalar e menores complicações que a laparotomia. Considerando estes dados, as técnicas de minilaparoscopia podem reduzir a dor incisional com resultados cosméticos superiores aos da laparoscopia (WILLINGHAM; BRUGGE, 2007). O conceito de cirurgia endoscópica transluminal através de orifícios naturais tem crescido em aceitação desde sua introdução em 2000 (GIDAY et al., 2008). O grupo denominado NOSCAR (Natural Orifice Surgery Consortium for Assessment and Research), composto por líderes da Society of American Gastrointestinal and Endoscopic Surgeons e da American Society of Gastrointestinal Endoscopy, tem estabelecido a taxonomia, delineado as atuais limitações dos NOTES, e motivado a unificação de um plano de pesquisa (McGEE et al., 2006). A NOSCAR tem esboçado os maiores obstáculos às NOTES com o objetivo de obter a certeza de uma transição segura para a prática clínica, sustentando uma estrutura para enfrentar as adversidades e encorajar seu crescimento (GIDAY et al., 2008). A primeira publicação de uma peritoneoscopia transgástrica foi feita no ano de 2004 por Kalloo (PEARL; PONSKY, 2007), e desde então o campo da NOTES tornouse realidade. Em curto período de tempo estes procedimentos tornaram-se viáveis em vários estudos em animais de laboratório. Com certeza, todos os testes renovam interesse em encontrar um meio de minimizar os traumas corporais e melhorar a cosmética, com uma óbvia vantagem psicológica para os pacientes (DALLEMAGNE et al., 2008). O objetivo deste trabalho foi revisar e atualizar as informações sobre este novo método de cirurgia videoendoscópica. 154 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Cirurgia endoscópica transluminal por orifícios naturais O princípio fundamental das NOTES consiste na passagem de um endoscópio flexível através de um orifício natural do corpo (DELLA FLORA et al., 2007). Como uma alternativa à cirurgia convencional, com as NOTES eliminam-se as incisões abdominais e suas possíveis complicações, através da combinação de técnicas endoscópicas e laparoscópicas para o diagnóstico e tratamento de patologias abdominais (McGEE et al., 2006). Para Zorron et al. (2008), a criação e o fechamento de uma viscerotomia são as fundamentais diferenças entre laparoscopia e NOTES. Nestes procedimentos o endoscópio pode ser inserido através da boca, ânus, uretra ou vagina (PEARL; PONSKY, 2007). Após uma incisão transvisceral, os procedimentos cirúrgicos intra-abdominais são realizados (WILLINGHAM; BRUGGE, 2007) utilizando visualização endoscópica (DELLA FLORA et al., 2007). Giday et al. (2008) citaram a possibilidade do uso das NOTES para intervenção em traumas abdominais agudos, cirurgia fetal intra-uterina, e em procedimentos em coluna vertebral. Willingham e Brugge (2007) relataram a peritoneoscopia, biópsia hepática, linfadenectomia, ligadura de tubas uterinas, ooforectomia e histerectomia, gastrojejunostomia, colecistectomia, esplenectomia e pancreatectomia parcial como procedimentos intra-abdominais passíveis de execução através de acessos por NOTES. Vias de acesso As pesquisas têm se voltado em encontrar uma melhor via de acesso à cavidade peritoneal (DALLEMAGNE et al., 2008). Na atualidade as abordagens mais comumente relatadas nos experimentos em animais e em procedimentos em humanos são a transgástrica, transcolônica, transvesical (DELLA FLORA et al., 2007; DRAY et al., 2008) e transvaginal (ISARIYAWONGSE et al., 2008; ZORNIG et al., 2008; ZORRON et al., 2008). Ko et al. (2007), Ryou et al. (2008a) e Simopoulos et al. (2008) citaram que após a incisão visceral, estas são ampliadas em seus diâmetros com auxílio de balão de expansão radial para permitir a passagem do endoscópio. Experimentos com acesso transgástrico em suínos, associados à punção com agulha de Veress na região periumbilical e pneumoperitôneo (Figura 1) foram desenvolvidos por Ko et al. (2007). As abordagens transgástricas foram realizadas na junção do corpo do estômago com o antro pilórico através de punção da parede do estômago, com auxílio de um eletrobisturi, após o estabelecimento do pneumoperitôneo (Figura 2). O local da punção era dilatado com auxílio de balão esofágico (Figura 3) e, então, o endoscópio avançava para cavidade peritoneal. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 155 FIGURA 1 – Vista intraperitoneal da agulha de Veress depois de estabelecido o pneumoperitôneo. Fonte: Ko et al., 2007. FIGURA 2 – Acesso transgástrico: punção da parede do estômago. Fonte: Ko et al., 2007. FIGURA 3 – Dilatação do orifício da punção com balão esofagiano. Fonte: Ko et al., 2007. 156 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Em seus procedimentos de colecistectomia sem cicatriz aparente, Zornig et al. (2008) utilizaram uma combinação das técnicas transvaginal e transumbilical com sucesso em 20 pacientes operados. A abordagem transvaginal tem demonstrado ser de pouco risco e, quando associada à laparoscopia, o controle da introdução transvaginal dos instrumentais torna-se mais seguro. Como a inserção de instrumentais através do fórnix posterior da vagina e a sutura destas feridas são facilmente realizadas, tem-se a vantagem de reduzir-se a necessidade de um grande número de cirurgiões no momento cirúrgico. Zorron et al. (2008) realizaram quatro colecistectomias por via transvaginal em pacientes humanas, e relataram como vantagem, além do fácil acesso, a melhor orientação espacial sem a necessidade de retroflexão do endoscópio e a possibilidade de fechamento sob visão direta. Outra vantagem desta via é a redução dos riscos de infecção quando comparados às técnicas de abordagem transgástrica e transcolônica, nas quais os instrumentais que entram na cavidade abdominal encontram-se contaminados (ZORNIG et al., 2008). Para Dellamagne et al. (2008), a experiência dos ginecologistas desenvolvendo procedimentos transvaginais tem demonstrado segurança com taxa de infecção de 0,001%, lesões retais de 0,002% e sangramento localizado de 0,2%. Como fundamental desvantagem, Zorron et al. (2008) referiram a exclusividade da técnica para pacientes femininos. No experimento de Isariyawongse et al. (2008) em suínos, os acessos NOTES combinados, vaginal e gástrico (Figura 4), resultaram em excelente visualização e em rápida facilidade na troca de uma variedade de equipamentos laparoscópicos e endoscópicos para execução de tarefas cirúrgicas de nefrectomia. FIGURA 4 – Acesso NOTES combinado, transgástrico/transvaginal, para procedimento de nefrectomia. Fonte: Isariyawongse et al., 2008. Ko et al. (2007) não encontraram qualquer dano estomacal ou outra complicação intraperitoneal relacionada ao acesso transgástrico utilizado em suas pesquisas, tanto nos exames endoscópicos realizados duas semanas após os procedimentos, como nas necropsias (Figura 5). Nestes experimentos foram realizadas irrigações intragástricas com um litro de solução antibiótica composta de neomicina e polimixina B antes da punção da parede estomacal. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 157 FIGURA 5 – Completa cicatrização da parede gástrica no sítio da punção. Fonte: Ko et al., 2007. Segundo Della Flora et al. (2007), nas técnicas de colonotomia há a necessidade de extensiva preparação do local de acesso para a remoção e desinfecção fecal, já que as fezes poderiam obstruir o equipamento e apresentar grande risco de infecção. Ryou et al. (2008b) prepararam seus pacientes com múltiplos enemas aquosos até que o cólon distal estivesse limpo de partículas de matéria fecal, o que era confirmado por uso de endoscópio não estéril, atingindo 50 cm de extensão. Então, uma suspensão de um grama de cefazolina diluída em 500 ml de água estéril era instilada através do endoscópio. Após dez minutos, esta solução era aspirada e o cólon era lavado com 60 ml de PVPI a 10%. A anti-sepsia da região anal e glútea era finalmente realizada. Viscerorrafia Dray et al. (2008) citaram que o maior desafio das cirurgias NOTES encontra-se no fechamento dos acessos transluminais. Em virtude das NOTES poderem conduzir a complicações sépticas após incisões em trato digestório, o desenvolvimento de métodos de fechamento seguros (ZORRON et al., 2008), a prova de vazamentos e que minimizem os potenciais riscos relacionados à contaminação (DALLEMAGNE et al., 2008), é o próximo passo na evolução deste tipo de procedimento (ZORRON et al., 2008). Métodos para fechamento de micro perfurações e perfurações de tamanho médio em endoscopia envolvem aposição tecidual com diferentes tipos de clipes (BERGSTRÖM et al., 2008). O fechamento das gastrotomias e colonotomias inclui vários métodos como endoclips, jumbo clips, endoloops (DELLA FLORA et al., 2007), suturas interrompidas simples, suturas em dois planos e sutura em bolsa de fumo (RYOU et al., 2008a), ou ainda protótipos para sutura (RYOU et al., 2007; RYOU et al., 2008b). Para Zorron et al. (2008), nos primeiros experimentos com acesso transgástrico, o fechamento da ferida representou um risco de complicações, o qual ainda persiste. 158 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Nas abordagens transgástrica e transcolônica, Zornig et al. (2008) relataram haver dificuldade no fechamento das feridas e também que cujos fechamentos têm altos riscos de graves complicações. Para Ryou et al. (2008b), os métodos de sutura que incluem a espessura total da víscera têm o risco de ocasionarem perfurações em outros órgãos próximos ao estômago ou intestino visto que são realizadas pela luz do órgão que serviu de acesso à cavidade abdominal. Segundo Zorron et al. (2008), casos de micro abscessos, peritonite e óbito ocorreram em experimentos relatados. Ko et al. (2007) citaram não encontrar complicações em seus experimentos, mesmo quando os locais do acesso transgástrico permaneciam sem aplicação de clipe endoscópico, apenas com a contração da parede da víscera. Em pesquisa com suínos vivos, Ryou et al. (2008b) aplicaram, nos acessos transgástrico e transcolônico, um protótipo de sutura denominado LSI que realiza a incisão e pré-aplica uma sutura em bolsa de fumo que ao final do procedimento é fechada com auxílio de um nó de titânio. Embora os exames histológicos tenham revelado a presença de micro abscessos no local das incisões, os autores consideraram promissor este método de incisão e sutura. Para Bergström et al. (2008), é necessário o desenvolvimento de um instrumento simples e de fácil uso para as suturas das perfurações viscerais. Seu grupo desenvolveu uma técnica de sutura simples, segura e de fácil aplicação que permite o fechamento das perfurações e aproximação tecidual em quase todo trato gastrointestinal com acesso por endoscopia (Figura 6). FIGURA 6 – A) Fio fixado a “T-tag” inserida na luz da agulha. A agulha avança a partir da bainha até a profundidade de penetração desejada. B) A bainha azul atua como um obstáculo à penetração além do desejado. A “T-tag” é forçada para o interior do tecido por uma haste que a empurra e é inclinada para que se mantenha firmemente dentro do tecido. C) A agulha é recarregada com outra “T-tag” e posicionada do outro lado do defeito. D) A segunda “T-tag” é adaptada à parede tecidual. E) Os dois fios são apertados juntos passando através de um cilindro. O tecido é tracionado até a aproximação dos bordos teciduais. F) Um pino é introduzido no cilindro imobilizando os dois fios. Os fios são cortados com uma guilhotina. Fonte: Bergstrom; Swain, 2008. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 159 Endoscópio A capacidade para manipular e intervir no tecido enquanto simultaneamente é mantida a visualização e estabilidade de trabalho são as chaves principais neste tipo de procedimento, conforme citam Malik et al. (2006). Segundo Willingham e Brugge (2007), nos procedimentos NOTES o endoscópio deve ser flexível para que possa ser passado através do orifício natural e possuir duplo canal par evitar a necessidade de outros portais e incisões da parede abdominal (ISARIYAWONGS et al., 2008). Como desvantagem do endoscópio flexível Pearl e Ponsky (2007) relataram que a flexibilidade inerente do endoscópio impede que seja mantido um campo de trabalho estável. Durante procedimentos com acesso transgástrico, uma curvatura acentuada na região pelvínea pode ser requerida para a visualização do quadrante superior direito do abdômen, e o endoscópio pode resistir a este posicionamento. Além disso, a retroflexão inverte a imagem endoscópica, complicando a cirurgia. Simopoulos et al. (2008) utilizaram um gastroduodenoscópio com duplo canal para a realização de colecistectomias, peritoneoscopias, gastrojejunostomias e salpingectomias em suínos através de acesso transgástrico e observaram algum grau de dificuldade na manipulação do instrumental em virtude da curvatura do endoscópio no interior da cavidade abdominal, além de constatarem aumento no tempo cirúrgico. Os autores citaram que a ausência de endoscópios com maior flexibilidade que os atuais e a inabilidade em usar os instrumentais acessórios livremente tornam as cirurgias como as colecistectomias, procedimentos mais difíceis, de maior tempo cirúrgico e extremamente perigosas. Para Zornig et al. (2008), o uso do endoscópio rígido tradicional utilizado pelo acesso transumbilical foi eficiente nas 20 colecistectomias realizadas, e os autores relataram dificuldades associadas à manipulação do endoscópio flexível dentro da cavidade abdominal devido a pouca experiência dos cirurgiões com este tipo de equipamento. Zorron et al. (2008) utilizaram com sucesso um único portal transvaginal para passagem do colonoscópio tradicional e dos instrumentais para a colecistectomia nas quatro pacientes operadas. O uso de instrumentais laparoscópicos tradicionais quando aplicados por trocarte transvaginal, combinando a abordagem transgástrica e transvaginal, é viável para realização de nefrectomia por NOTES conforme demonstraram Isariywongse et al. (2008), em estudos com modelo experimental suíno. Pneumoperitôneo Em colecistectomias via transvaginal em suínos, Zorron et al. (2008) utilizaram 5-6 mmHg de pressão de CO2 para insuflação da cavidade abdominal através do colonoscópio. Ryou et al. (2008b) promoveram o pneumoperitôneo com uma agulha de Veress inserida percutaneamente na linha média do abdômen caudal dos modelos suínos, 160 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 mantendo a pressão de CO2 intraperitoneal de 8 a 10 mmHg para os procedimentos por via transcolônica. Ko et al. (2007) citaram que a promoção prévia do pneumoperitôneo através de agulha de Veress adaptada a insuflador auto-regulável facilitou a incisão gástrica inicial e a entrada na cavidade peritoneal, sem danos aos demais órgãos, adicionando segurança aos procedimentos NOTES. Estes autores mantiveram a pressão de CO2 intra-abdominal em 12 mmHg. Os exames de necropsia realizados duas semanas após as cirurgias não revelaram complicações associadas à punção com a agulha de Veress. Vantagens das NOTES Há um número de benefícios potenciais no uso de NOTES quando comparado com as técnicas cirúrgicas tradicionais como laparotomia e laparoscopia. A maioria das substanciais vantagens está associada com a ausência de qualquer superfície de incisão, incluindo a eliminação de infecções em sítio cirúrgico e de qualquer cicatriz visível (DELLA FLORA et al., 2007). Para Anvari e Marescaux (2008), a utilização dos NOTES permite a redução da necessidade de anestesia e medicação para dor. Giday et al. (2008) relataram que avançados procedimentos endoscópicos podem ser realizados utilizando sedação profunda, o que sugere que procedimentos transluminais poderiam ser desenvolvidos sem anestesia geral e intubação endotraqueal como nas cirurgias laparoscópicas e convencionais. As infecções nos sítios cirúrgicos são complicações comuns que ocorrem em 2 a 25% dos pacientes, dependendo do tipo de cirurgia desenvolvida. Considerando-se que o local mais comum de desenvolvimento bacteriano é a pele, a ausência de incisões cutâneas em NOTES pode eliminar as infecções em sítio cirúrgico nos procedimentos abdominais (McGEE et al., 2006). Os mesmos autores citaram que a hérnia incisional é a segunda complicação mais comum decorrente da cirurgia abdominal, ocorrendo em 4 a 18% das cirurgias abertas e em 0,02 a 3% das incisões laparoscópicas. Por evitar incisões externas que criam um defeito na parede abdominal, o acesso interno oferecido pelos procedimentos NOTES pode erradicar completamente a hérnia incisional como complicação pós-operatória (WILLINGHAM; BRUGGE, 2007). A redução dos riscos de aderências pós-operatórias, que ocorrem em mais de 90% dos pacientes submetidos a cirurgias abdominais, é outra vantagem deste tipo de procedimento (McGEE et al., 2006). A maioria das aderências pós-operatórias têm como sítio a incisão abdominal, inclusive nas laparoscopias (WILLINGHAM; BRUGGE, 2007) Ryou et al. (2008b) observaram aderências salpingocolônica e colovesicular em animais de seus experimentos com NOTES por abordagem transcolônica. Os procedimentos NOTES também tem potencial para serem utilizados no tratamento de pacientes com obesidade mórbida (DELLA FLORA et al., 2007; Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 161 VOSBURGH; ESTÉPAR, 2007), pois evitam o acesso à gordura subcutânea (WILLINGHAM; BRUGGE, 2007). Pacientes com carcinomas obstrutivos nos quais o acesso aos órgãos intra-abdominais via parede abdominal é muito difícil e com riscos de complicações relacionadas à ferida cirúrgica aumentadas, também são indicações para esta nova modalidade cirúrgica (DELLA FLORA et al., 2007). Há relatos da possibilidade da aplicação potencial dos NOTES em crianças (McGEE et al., 2006). Desvantagens das NOTES Como desvantagens os NOTES apresentam um potencial de complicações semelhantes às da cirurgia laparoscópica, e dificuldades como visibilidade reduzida, dificuldade de manobras intra-abdominais e na apreensão tecidual pelo aumento das distâncias, e necessidade de instrumental especializado (DELLA FLORA et al., 2007). Muitos estudos têm sido desenvolvidos a respeito das infecções e impacto imunológico das NOTES, os quais muitas vezes têm apresentado equivalência aos de laparoscopia e cirurgia abdominal convencional (PEARL; PONSKY, 2007). Questões a serem pesquisadas Conforme o Hawes et al. (2008), as principais dificuldades na difusão dos procedimentos NOTES encontram-se na segurança do acesso à cavidade peritoneal, no fechamento gástrico/intestinal, na prevenção da infecção, no desenvolvimento de métodos de suturas, na manutenção da orientação espacial, no desenvolvimento de um protocolo operacional padrão, no manejo das complicações iatrogênicas intraperitoneais e na identificação de eventos fisiológicos desfavoráveis. Della Flora et al. (2007) citaram questões específicas a serem pesquisadas e que deverão ser direcionadas aos seguintes pontos: Estudar em pacientes clínicos as vantagens reais ao evitar incisões na parede abdominal: Há redução clinicamente significativa no tempo de cicatrização após a cirurgia? As taxas de infecção são reduzidas quando as incisões abdominais são evitadas? A taxa de sobrevida dos pacientes de NOTES é comparável às dos pacientes de laparotomias ou laparoscopias? Os benefícios cosméticos das NOTES superam suas desvantagens? Para estudo em animais: Os procedimentos cirúrgicos tradicionais podem ser desenvolvidos com sucesso ao utilizar as NOTES? As infecções da cavidade abdominal podem ser evitadas ou minimizadas? O fechamento das viscerotomias pode ser realizado eficientemente? Os efeitos adversos como lacerações de órgãos e hemorragias podem ser minimizados em nível aceitável? As taxas de sobrevida e tempo de recuperação seguidos aos procedimentos NOTES são comparáveis àqueles dos procedimentos similares realizados através de acessos tradicionais como laparotomia e laparoscopia? 162 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Conclusão As NOTES ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento e novas tecnologias serão necessárias para se obter acessos e fechamentos confiáveis. Estudos bem sucedidos em animais e em pacientes humanos devem ser conduzidos para determinar a segurança e eficácia das NOTES no contexto clínico. Procedimentos NOTES e estudos devem ser desenvolvidos seguindo regras rígidas, como os critérios desenvolvidos pelos membros da NOSCAR através do desenvolvimento de um protocolo operacional padrão. Referências ANVARI, M.; MARESCAUX, J., Natural orifice transluminal endoscopic surgery (NOTES): the dawn of a new era. Disponível em: <http//www.websurg.com/notes> acesso em: maio 2008. BERGSTRÖM, M.; SWAIN, P.; PARK, P. O. Early clinical experience with a new flexible endoscopic suturing method for natural orifice transluminal endoscopic surgery and intraluminal endosurgery. Gastrointestinal Endoscopy. v.67, n.3, p.528533, 2008. DELLA FLORA, E. et al. A systematic review of natural orifice translumenal endoscopic surgery (NOTES) for intra-abdominal surgery – ASERNIP-S report n. 62. Adelaide: ASERNIP-S, 2007. DALLEMAGNE, B. et al. NOTES,TUES,TULA,NOTUS, Disponível em: <http//www. websurg.com/notes> Acesso em: maio 2008. DRAY, X. et al. 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Recebido em: jan. 2009 164 Aceito em: jun. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Sutura extramucosa em pontos separados simples e plano único no esôfago torácico de cães Ana Maria Quessada Lucy Marie Ribeiro Muniz João Macedo de Sousa Karina Oliveira Drumond Resumo Propõe-se nova técnica de esofagorrafia em cães com o objetivo de facilitar as manobras cirúrgicas. Foram utilizados 30 animais divididos em dois grupos, nos quais foram feitas esofagotomias torácicas. Nos cães do primeiro grupo, a incisão foi longitudinal e nos do segundo grupo, transversal. A esofagorrafia, em todos os cães, foi feita em plano único com pontos separados simples e fio de algodão, com exclusão da mucosa. Em todos os cães foram feitas radiografias contrastadas do esôfago no pré-operatório e semanalmente no pós-operatório. Trinta dias após a cirurgia todos os animais foram eutanasiados e foi colhido material para exame histológico. A técnica cirúrgica revelou-se de fácil execução e todos os animais se recuperaram bem. As radiografias após a cirurgia revelaram dilatação esofágica em alguns animais, principalmente os do grupo 2. No entanto, ao tempo de 30 dias, a cicatrização do esôfago foi equivalente aos do grupo 1. Ao exame macroscópico, observaram-se apenas aderências do mediastino e pleura à cicatriz esofágica. O exame histológico revelou cicatrização normal. Concluiu-se que a sutura em questão pode ser utilizada em esofagotomias torácicas no cão, apresentando cicatrização anatômica e diminuindo a possibilidade de complicações. Palavras-chave: Canino. Cirurgia. Esofagorrafia. Esôfago torácico. Single-layer extramucosal interrupted sutures in thoracic esophagus of the dogs ABSTRACT It was proposed a new technique for closure of the thoracic esophagotomy, with the objective to facilitate the surgical procedure. It was used 30 dogs, divided in two groups. All the animals were Ana Maria Quessada é Médica Veterinária, Doutora, Professora do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí (UFPI). Lucy Marie Ribeiro Muniz é Médica Veterinária, Doutora, Professora do Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu. João Macedo de Sousa é Médico Veterinário, Doutor, Professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, UFPI. Karina Oliveira Drumond é Médica Veterinária, Doutoranda em Ciência Animal, UFPI. Endereço para correspondência: Rua Visconde de Parnaíba, 3377, apto. 1301, Horto Florestal, 64.049-570, Teresina, PI. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.165-174 jan./jun. 2010 submitted to thoracic esophagotomy. In group 1, the esophagic incision was longitudinal and in group 2, transversal. The esophagic closure, similar in both groups, was performed with single-layer extramucosal interrupted sutures, using cotton thread. Radiographic examination with contrast was performed in the preoperative period and weekly following the surgery. The dogs were euthanatized 30 days after the surgery, and material was collected for histopathologic examination. The surgical technique was successfull and the dogs recovered normally. Radiographic examination after surgery revealed esophagic dilatation in some animals, especially on the group 2. However, at the time of 30 days, the healing of the esophagus was equivalent to that of group 1.Gross examination revealed only adhesions among esophagic scar to parietal pleura, and mediastine. The surgical scar showed good and anatomic healing. The histopahologic examination revealed normal healing. We can conclude that this surgical technique can be indicated for thoracic esophagotomy closure in the dog, showing anatomic healing, and decreasing complications. Keywords: Canine. Surgery. Esophagorraphy. Thoracic esophagus. INTRODUÇÃO Ao longo da história cirúrgica mundial, as estenoses, fístulas e deiscências resultantes de cirurgias nas vísceras do aparelho digestório justificam o temor de sua presença, pois frequentemente evoluem com excessiva morbidade e não raro para o óbito. A controvérsia sobre o melhor tipo de sutura permanece até os dias atuais (ORRINGER et al., 2007). Entre as operações realizadas no tubo digestivo, as efetuadas no esôfago se revestem de especial interesse, devido à maior frequência de complicações (Glatz; Richardson, 2007). A falta da serosa, que auxilia no desenvolvimento de um selamento, a constante movimentação resultante da deglutição e respiração, a tensão na sutura devido à falta de mobilidade que o esôfago exibe em relação à sua posição e a falta de uma estrutura como o omento para facilitar a proteção da ferida, faz com que o esôfago seja mais propício a deiscência de sutura (Olsen, 2002; KYLES, 2007). Outros fatores sistêmicos como síndrome de resposta inflamatória sistêmica, sepse e instabilidade hemodinâmica intraoperatória também interferem negativamente na cicatrização esofágica (SALUM et al., 1996). Desta forma, complicações pósoperatórias são comuns em cirurgias esofágicas e incluem deiscência, estenose, pneumonia, infecção e regurgitação (HEDLUND; FOSSUM, 2007). Embora seja clássica a utilização de sutura em plano duplo no fechamento do esôfago (HEDLUND; FOSSUM, 2007), estudos em anastomoses esofágicas cervicais de cães demonstraram que a sutura em plano único reduz complicações pós-operatórias (fístulas e estenoses) quando comparada com sutura em plano duplo (Nigro et al., 1997). Em cirurgia experimental, a maioria das pesquisas realizadas sobre esôfago foi realizada a nível cervical. Isto acontece porque as complicações decorrentes de cirurgias esofágicas no segmento torácico são mais graves e, muitas vezes, fatais (Normando Jr. et al., 2006), desencorajando os profissionais a trabalharem neste segmento. No entanto, a maior parte das patologias esofágicas em cães se localiza na porção torácica (Gonzalez; Iwasaki, 2001). Levando-se em consideração estes aspectos, o 166 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 presente trabalho tem o objetivo de avaliar a sutura extramucosa em pontos separados simples, com fio de algodão e plano único no esôfago torácico de cães, por meio de avaliação clínica, estudo radiográfico e histológico. O estudo objetiva aperfeiçoar a técnica cirúrgica das esofagotomias torácicas, na tentativa de diminuir o tempo de transoperatório e as complicações decorrentes da intervenção, bem como contribuir para o tratamento de afecções localizadas neste segmento esofágico. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Botucatu. Foram utilizados 30 cães, sem raça definida, de ambos os sexos, provenientes do Biotério Central da UNESP, escolhidos ao acaso, com peso variando entre 5,5kg e 18,5kg, divididos em dois grupos, por sorteio. No dia anterior à cirurgia, os cães foram submetidos a exame clínico e banho carrapaticida com amitraz. Foram feitas radiografias contrastadas do esôfago com sulfato de bário (30g em 100 ml de água) na dose de 6 ml/kg. Os cães foram internados no canil da pós-graduação da FMVZ. Após jejum sólido de 12 horas e hídrico de seis horas, foi feita tricotomia da região torácica esquerda, entre a quarta e sétima costelas, e lavagem com água e sabão. Como medicação pré-anestésica, foi utilizada levomepromazina na dose de 1 mg/kg por via intravenosa e atropina na dose de 0,0044mg/kg, por via subcutânea. Foi canulada uma veia (cefálica ou safena lateral) e transfundida gota a gota, solução fisiológica. Foi injetado thiopental sódico a 2,5% (utilizando-se como dose padrão, 12,5 mg/kg) na dose suficiente para permitir intubação. A sonda traqueal foi acoplada ao aparelho de anestesia e foi administrada uma mistura de oxigênio e halotano em concentração suficiente para que o animal fosse mantido no III estágio de anestesia. Foi também introduzida uma sonda oro-esofágica. Imediatamente antes da abertura da cavidade torácica, foi administrada succinilcolina, na dose de 0,1mg/kg, via intravenosa e o animal foi mantido sob respiração controlada por pressão positiva intermitente com respirador. Após anti-sepsia de rotina, foi feita toracotomia intercostal lateral (Fossum, 2007), penetrando-se no sexto espaço intercostal. Uma vez aberta a cavidade torácica, o esôfago foi localizado (com o auxílio da sonda oro-esofágica) e exposto por dissecção romba e cortante do mediastino e tecido circundante. O esôfago foi cuidadosamente elevado até a abertura do tórax, onde foi mantido com a ajuda de uma pinça hemostática curva, que foi passada por baixo do esôfago com os ramos fechados. O esôfago foi isolado por meio de compressas e foi feita uma incisão de tamanho médio (de acordo com o porte do animal), atravessando todos os planos da parede esofágica. Nos animais do primeiro grupo foi feita uma incisão longitudinal. Nos animais do segundo grupo foi feita uma incisão transversal. As incisões esofágicas foram fechadas em plano único, com exclusão da mucosa, utilizando-se pontos separados simples feitos com fio de algodão cirúrgico n° 2-0 (Figura 1). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 167 FIGURA 1 – Cão, fêmea, 18 kg, SRD. Adventícia de esôfago torácico ao término da sutura em pontos separados simples com fio de algodão. Ao término da sutura esofágica, o esôfago foi reposto à sua posição anatômica, a cavidade foi inspecionada e foram retirados coágulos e outros materiais estranhos. A cavidade torácica foi irrigada com solução fisiológica, que foi retirada a seguir com o auxílio de compressas. Antes de se fechar a cavidade, os pulmões foram insuflados gradativamente para eliminar áreas atelectásicas. O fechamento da parede torácica foi feito, inicialmente, aproximando-se as costelas com fio de algodão tipo cordonê utilizando-se pontos em Sultan. Os músculos intercostais foram suturados com suturas simples contínuas com fio de algodão cirúrgico n° 2-0. Todos os músculos incisados foram suturados da mesma forma e separadamente, de modo que a mobilidade da parede torácica não ficasse mecanicamente restrita. No momento do fechamento da cavidade torácica, os pulmões foram insuflados para restabelecer a pressão negativa da mesma. A pele foi fechada com pontos separados simples, com fio de algodão n° 2-0. Durante a cirurgia, foi administrada penicilina benzatina por via intramuscular, na dose de 30.000 UI/kg, em todos os animais. A respiração permaneceu controlada até que o animal retornasse a respiração espontânea. Após a cirurgia, os cães foram alimentados com dieta líquida assim que se recuperaram da anestesia. Esta alimentação perdurou por três dias, quando, então, passou-se à ração comercial. A ferida operatória foi examinada diariamente, foi limpa com solução fisiológica e recoberta com pomada à base de nitrofurano. Uma semana após a cirurgia, foram retirados os pontos cutâneos e em todos os animais foram realizadas radiografias contrastadas do esôfago. Este procedimento foi repetido semanalmente até a eutanásia dos cães. Os animais foram eutanasiados e necropsiados 30 dias após a cirurgia. Durante a necropsia, foram anotadas todas as alterações provocadas pela cirurgia e outros dados de interesse. Na oportunidade, o esôfago foi dissecado e foi feita a retirada de um segmento esofágico de aproximadamente 20 cm, incluindo a cicatriz cirúrgica. 168 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Esta peça foi lavada em água corrente e foi aberta. A cicatriz cirúrgica na mucosa foi cuidadosamente examinada para observação de possíveis fístulas. Foi colhido fragmento da região operada para preparação de cortes histológicos a fim de se proceder à análise microscópica. As lâminas foram coradas com hematoxilina-eosina. Os cortes histológicos foram feitos com a espessura média de 4 a 6 micrômetros. RESULTADOS E DISCUSSÃO A execução da sutura foi fácil e rápida nos animais dos dois grupos. Não houve dificuldade na identificação da mucosa, pois, quando se incisou a parede esofágica, ocorreu pequena retração da mucosa, facilitando a sua exclusão da sutura. A exclusão da mucosa na sutura do esôfago é considerada uma vantagem (Medeiros et al., 1975; RANEN et al., 2004), pois sua vascularização é delicada, sofrendo necrose mesmo com pequenos traumatismos. O tempo de regeneração da mucosa esofágica no cão é bastante rápido quando não existe comprometimento de sua vascularização (Medeiros et al., 1975), como aconteceu na pesquisa. Isso ocorreu porque a cicatrização eficiente de uma ferida esofágica deve ocorrer principalmente entre as camadas submucosas (RANEN et al., 2004), pois a submucosa é que dá sustentação à sutura esofágica (Dallman, 1988), por ser rica em colágeno (Otero et al., 1980), essencial na cicatrização (Genzini et al., 1992). Os resultados obtidos corroboram com a não necessidade de se incluir a mucosa nos planos de sutura. Inclusive evitar a passagem do fio de sutura pela mucosa diminui a possibilidade de estenoses relacionadas ao tipo de sutura ou ao fio de sutura (Ranen et al.; 2004), Em relação ao número de planos da sutura esofágica, é clássica a utilização de dois planos de sutura (HEDLUND; FOSSUM, 2007). No entanto, nas suturas em dois planos, o plano interno tem pouco valor, pois o tecido englobado sofre um processo de necrose isquêmica (Medeiros et al., 1975). Por isso, o plano único é muito utilizado em outros segmentos do tubo digestivo (Acosta et al., 1975; Steele, 1993; Nieto et al., 2006) e também no esôfago (RANEN et al., 2004; HEDLUND; FOSSUM, 2007) com vantagens como: menor quantidade de material estranho nos tecidos, aumentando sua resistência e diminuindo o grau de fibrose (Acosta et al., 1975); minimização do risco de protrusão da mucosa e aposição mais precisa das extremidades incisadas (Steele, 1993) e diminuição da possibilidade de estenose esofágica relacionada ao tipo e ao fio de sutura (RANEN et al., 2004). Todas estas vantagens foram confirmadas no estudo realizado, concluindo-se que o plano único deve ser indicado também no esôfago torácico (RANEN et al., 2004; HEDLUND; FOSSUM, 2007). Na realidade, mais importante do que o número de planos são os cuidados técnicos (KYLES, 2007), como sutura em tecido sadio e com boa vascularização e união das extremidades sem tensão (Medeiros et al., 1975; Otero et al., 1980; OLSEN, 2002), pois hipoxemia pós-operatória é a causa mais importante de deiscência em cirurgia esofágica (TAKEDA et al., 2003). Todos estes cuidados técnicos foram tomados neste experimento, o que culminou, junto com a técnica proposta, em ausência de complicações como fístulas, Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 169 estenoses e deiscências, as quais podem ocorrer no pós-operatório de cirurgias esofágicas (HEDLUND; FOSSUM, 2007). A maioria dos autores aponta os pontos interrompidos como os mais adequados para o tecido esofágico (Medeiros et al., 1975; HEDLUND; FOSSUM, 2007). A indicação de pontos separados se deve ao fato de que este tipo de sutura evita disseminação de infecção e dificulta a formação de estenose (RANEN et al., 2004). Estas vantagens se fizeram presentes no estudo em questão, o que leva a concluir que os pontos interrompidos devem ser os de escolha na sutura do esôfago torácico de cães. Além disso, o mais importante na sutura esofágica é a utilização de técnica atraumática, independente do padrão de sutura (OLSEN, 2002; KYLES, 2007). Em relação ao fio de sutura optou-se pelo fio de algodão por ser um fio de baixo custo (Boothe, 2007). Além disso, o fio de algodão foi utilizado em cirurgias esofágicas experimentais em cães (ACOSTA et al., 1975) e em cirurgias em humanos (Fonseca et al., 2002). Uma técnica meticulosa na sutura do esôfago influencia mais no resultado final do que o fio utilizado (OLSEN, 2002; KYLES, 2007). As radiografias contrastadas revelaram discreta dilatação esofágica em alguns animais (principalmente no segundo grupo), mas, após 30 dias, a maioria dos cães estava sem dilatação esofágica. Provavelmente a dilatação esofágica foi relacionada ao trauma vagal no trans-operatório (TWEDT, 1997) a qual pode regredir espontaneamente ao cessar o trauma (O´BRIEN et al., 1980). Ao tempo da eutanásia, nenhum cão apresentou sinais clínicos de patologia esofágica (HEDLUND; FOSSUM, 2007). Nos esofagogramas, observou-se, na maioria dos animais dos dois grupos, passagem do contraste sem problemas. Uma das causas de deiscência esofágica no segmento torácico é a ausência de omento no tórax para tamponar a sutura (OLSEN, 2002). Neste estudo, a ausência de tamponamento não influiu no aparecimento de deiscências que não foram detectadas. Mesmo sem essa estrutura, ocorreram aderências na linha de sutura, evidenciando que pode ocorrer um tamponamento na sutura esofágica no tórax pela pleura mediastinal ou pleura visceral, sendo esta última observada ao exame microscópico, em alguns casos. O esôfago deve ser mantido em repouso após procedimento cirúrgico (BONFADA, 2005). No entanto, o repouso esofágico é praticamente impossível, pois o esôfago está sujeito a constante movimentação devido à deglutição de saliva e respiração (Olsen, 2002), podendo, o animal, receber alimentos logo após a cirurgia (HEDLUND; FOSSUM, 2007). Isto foi feito neste experimento sem que ocorressem problemas relacionados a esta dieta. O esôfago pode cicatrizar durante alimentação oral, mesmo que a incisão esofágica não tenha sido suturada (Stick et al., 1981). Nos resultados encontrados neste trabalho, houve somente um caso de estenose discreta sem sinais clínicos, mostrando que a técnica foi eficaz em prevenir estenose em esofagotomias longitudinais e transversais no cão. A ausência de casos de estenoses graves pode ser atribuída à exclusão da mucosa na sutura já que a lesão da mucosa pode ser um fator crucial no desenvolvimento de estenose (OLSEN, 2002), provavelmente por 170 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 necrose da mucosa, que ocorre sempre na linha de sutura quando a mucosa é incluída (Medeiros et al., 1975). À necropsia, foram observadas aderências em graus variáveis na região operada em todos os animais. A maior ou menor quantidade de aderências não teve relação com o grupo ao qual pertenciam. Aderências são achados comuns em cirurgias esofágicas quando se utiliza fio multifilamentar como algodão, seda e categute (Acosta et al., 1975; Kumar et al., 1990). Na macroscopia, a adventícia, tanto no primeiro grupo como no segundo, apresentou resultados semelhantes, como era de se esperar e estava completamente cicatrizada em todos os animais. Em todos os cães, a mucosa estava completamente cicatrizada e também não foram observadas alterações patológicas como fístulas e infecções. Nos animais do primeiro grupo (incisão longitudinal), a cicatriz tinha um aspecto excelente, fazendose necessária, às vezes, palpação para localizá-la, pois se confundiam com as pregas normais do esôfago (Figura 2). Nos animais do segundo grupo, com incisão transversal, a cicatriz estava mais evidente (Figura 3). Provavelmente, isto se deve ao fato de que as incisões longitudinais são mais anatômicas, acompanhando as pregas esofágicas, mas as transversais não acompanham as pregas e nem a disposição das fibras musculares. Resultados semelhantes foram relatados em esofagotomias torácicas longitudinais e transversais em cães (RANEN et al., 2004). FIGURA 2 – Segmento de esôfago torácico canino no qual foi realizada esofagotomia longitudinal. Aspecto da cicatriz na face mucosa, 30 dias após a cirurgia. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 171 FIGURA 3 – Segmento de esôfago torácico canino, no qual foi realizada esofagotomia transversal. Aspecto da cicatriz na face mucosa, 30 dias após a cirurgia. Microscopicamente, em todos os animais, na região da sutura, que corresponde às camadas submucosa, muscular e adventícia do órgão, observou-se reação granulomatosa do tipo corpo estranho ao redor do fio. Esta reação era composta predominantemente por células mononucleares. Os fragmentos do fio estavam englobados por células gigantes ou envolvidos por macrófagos, que possuíam citoplasma vacuolizado. Em alguns focos de reação, notou-se presença discreta de neutrófilos. Tecido conjuntivo proliferado, no qual entre os fibroblastos, havia presença marcante de feixes colágenos e vasos neoformados, circunscrevia a reação e estendia-se da mucosa à adventícia do órgão. O epitélio da mucosa, na região da sutura, apresentou-se regenerado. Os elementos da reação inflamatória descritos no exame histopatológico foram também observados por outros autores que realizaram trabalhos com as mesmas características (Medeiros et al., 1975), o que representa uma cicatrização normal, que ocorre quando se usa fio de algodão no esôfago (Acosta et al., 1975). Os resultados encontrados, nas condições deste experimento, permitem concluir que a sutura extramucosa em plano único com pontos separados simples pode ser utilizada para suturar incisões transversais e longitudinais no esôfago torácico de cães, permitindo cicatrização anatômica. Os resultados foram melhores em feridas longitudinais do que em feridas transversais, pois a incisão longitudinal acompanha as pregas esofágicas, facilitando a cicatrização. O tipo de sutura utilizado foi fundamental na ausência de complicações pós-cirúrgicas, principalmente estenose e deiscência, as quais não foram observadas nos animais do experimento. 172 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 REFERÊNCIAS ACOSTA, F. O. et al. Observações sobre a anastomose esofágica no cão. Arquivos da Escola Veterinária da Universidade de Minas Gerais, v.27, n.3, p.281-7, 1975. BONFADA, A. T. Cirurgia torácica video assistida sem intubação seletiva com acesso modificado para sutura do esôfago caudal em cães. 2005. 46p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Santa Maria, 2005. BOOTHE, H. W. Fios de sutura, adesivos de tecidos, grampeadores e clips hemostáticos. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 3.ed. São Paulo: Manole, 2007. p.235-244. DALLMAN, M. J. Functional suture-holding layer of the esophagus in the dog. 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O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de hiperadrenocorticismo pituitário-dependente associado com linfossarcoma hepático em uma cadela da raça Poodle de 10 anos de idade, em tratamento para HAC há um ano. Em revisão clínica os proprietários relataram ocorrência de emese, inapetência e prostração. O exame clínico evidenciou icterícia e algia abdominal. Descartou-se ocorrência de leptospirose por exames sorológicos e PCR de amostra de urina, bem como hipoadrenocorticismo por teste de estimulação por ACTH. Ecograficamente ficou evidente a existência de hepatomegalia com presença de massas heterogêneas e bordos irregulares. Uma biópsia aspirativa com agulha fina guiada por ultra-som evidenciou tratar-se de um linfossarcoma, com a paciente indo a óbito dias após realização da biópsia. Palavras–chave: Síndrome de Cushing. Hiperadrenocorticismo. Linfossarcoma. Éverton Eilert Rodrigues, Melina Garcia Guizzo, Eduardo de Freitas Costa e João Pereira Guahyba Bisneto são alunos de graduação do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Félix Hilario Díaz González é Professor Doutor do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Simone Tostes de Oliveira e Alan Gomes Pöppl são Médicos Veterinários Doutorandos pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Endereço para correspondência: Av. Bento Gonçalves, 8824; Porto Alegre/RS. CEP: 91540-000. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.175-184 jan./jun. 2010 Hyperadrenocorticism associated with hepatic lymphosarcoma in a dog – case report ABSTRACT Hyperadrenocorticism or canine Cushing´s syndrome is a hormonal disturbance due to excessive endogenous glucocorticoid production or glucocorticoid excessive administration, resulting in high cortisol plasma levels. In Brazil, criterious mitotane administration is the most available efficient treatment. ACTH stimulation tests must be performed periodically with the aim of avoid hypocortisolism crisis in these patients. The purpose of this work was to report a pituitary-dependent hyperadrenocorticism (PDH) associated to hepatic lymphosarcoma in a 10 years old female Poodle that was being treated for PDH during one year. In a clinical revision owners report sickness, inappetence and prostration. Clinical examination evidenced icterus and abdominal pain. Leptospirosis was excluded by sorologic trial and by urinary PCR, as well as hypoadrenocorticism from ACTH stimulation test. Ultrassonography evidenced hepatomegalia with many heterogenic mass with irregular boards. Fine needle aspirative biopsia ultrassom guided evidenced lymphosarcoma. The patient died few days after biopsia. Keywords: Cushing’s syndrome, hyperadrenocorticism, lymphosarcoma. INTRODUÇÃO O hiperadrenocorticismo (HAC) é uma desordem endócrina que frequentemente acomete os cães estando associado ao excesso de glicocorticoides sistêmicos (FELDMAN; NELSON, 2004). A origem do distúrbio pode ser adreno-dependente (primária ou tumor adrenocortical funcional), pituitário-dependente (secundária) ou iatrogênico (administração prolongada e/ou excessiva de corticoides exógenos), sendo a forma pituitária-dependente a mais comum, afetando cães geralmente com menos de 20 kg e sendo observada em até 85% dos casos de HAC diagnosticados (ZERBE, 1999). Cães com HAC em geral são de meia idade a idosos e as raças mais afetadas são Poodle, Daschund, Yorkshire Terrier, Pastor Alemão, Beagle, Labrador e Boxer (PETERSON, 2007). Independente da origem do HAC, os sinais clínicos mais frequentemente observados incluem poliúria, polidipsia, polifagia, aumento do volume abdominal, fraqueza muscular, obesidade, hepatomegalia, apatia, alopecia, respiração ofegante, letargia, atrofia testicular nos machos e anestro persistente nas fêmeas (FELDMAN; NELSON, 2004; PETERSON, 2007). Além da observação do histórico e sinais clínicos, exames complementares como hemograma, bioquímica sérica e urinálise devem ser solicitados para auxiliar no diagnóstico. São esperadas as seguintes alterações: leucograma de estresse, aumento na atividade sérica das enzimas alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA), hiperlipidemia, hiperglicemia moderada e baixa densidade urinária (GRECO, 2004). O diagnóstico definitivo obtémse através do teste de supressão com baixa dose de dexametasona (FELDMAN et al., 1996; ZERBE, 2000; PETERSON, 2007). A ecografia abdominal é bastante útil no processo diagnóstico, auxilia na diferenciação da origem (pituitária ou adrenal) da 176 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 doença, além de prover uma série de informações sobre os demais órgãos abdominais (BARTHEZ et al., 1995). No Brasil, o fármaco de escolha para o tratamento do HAC pituitário-dependente é o mitotano, que causa necrose progressiva das zonas fasciculada e reticular do córtex da adrenal, diminuindo o nível sérico de cortisol sem afetar a zona glomerulosa (FELDMAN et al., 1992; DeCLUE et al., 2004). Recentemente, outros países estão adotando o trilostano por causar menos efeitos colaterais, a terapêutica ser mais simples e por aumentar a taxa de sobrevida do animal (BRADDOCK et al., 2003; CLEMENTE et al., 2007; REINE, 2007). O monitoramento do paciente com HAC deve ser feito com base na normalização dos sinais clínicos e através da realização periódica de testes de estimulação com ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) para avaliar a reserva funcional da glândula, e desta forma auxiliar na segurança do tratamento, com objetivo de evitar crises de hipocortisolismo (ZERBE, 2000; HILL et al., 2004; FELDMAN; NELSON, 2004). O linfoma (linfossarcoma) é definido como uma neoplasia linfoide que afeta primariamente os linfonodos e outros órgãos parenquimatosos, sendo um dos distúrbios proliferativos mais comuns na clínica de pequenos animais (VAIL; OGILVIE, 2003). Diversos protocolos quimioterápicos são descritos para tratamento, pois o linfossarcoma é a malignidade mais quimiorresponsiva em medicina veterinária. A prednisona, por seus efeitos imunomoduladores, é frequentemente empregada para aumentar a resposta ao tratamento (WITHROW; MacEWEN, 2007). A ocorrência de uma doença linfoproliferativa como o linfoma em um paciente com hipercortisolismo poderia ser pouco provável em decorrência dos efeitos linfolíticos dos corticoides (FELDMAN; NELSON, 2004). Algumas vezes é preconizado o tratamento exclusivamente com prednisona em pacientes cujos proprietários não aceitam protocolos quimioterápicos mais agressivos, promovendo uma resposta de curta duração (VAIL; OGILVIE, 2003). O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de linfossarcoma hepático em uma cadela com HAC pituitário-dependente. RELATO DO CASO Uma cadela da raça Poodle de 10 anos de idade (Figura 1), pesando 8,3 kg e apresentando histórico de HAC de origem pituitária há aproximadamente um ano, estava sendo monitorada através de testes periódicos de estimulação com ACTH mantendo-se com o cortisol dentro da faixa de controle, entre 10 – 50 ng/mL (a meta do tratamento da síndrome de Cushing é manter o cortisol pós-ACTH entre 10 e 50 ng/mL), por administração de mitotano em fase de manutenção (50 mg/kg/semana dividido em dois dias). Durante este período, a paciente apresentou um quadro isolado de hipoadrenocorticismo iatrogênico, facilmente revertido pela administração de prednisona e suspensão temporária do mitotano. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 177 FIGURA 1 – Paciente em acompanhamento de tratamento para hiperadrenocorticismo apresentada com queixa de emese, inapetência e fraqueza. O abdômen da paciente apresenta-se discretamente abaulado e a pelagem não apresenta alopecia ou rarefação pilosa. Numa determinada revisão periódica da paciente, os proprietários relataram sinais clínicos de emese, anorexia, cólicas e fadiga. Ao exame clínico, a paciente apresentava as mucosas, pele da pina e esclera levemente ictéricas, normotermia (38,4°C), boa hidratação, tempo de preenchimento capilar menor que dois segundos, frequência cardíaca de 138 bpm, algia à palpação na região abdominal cranial e uma massa palpável próximo da região esternal, sugerindo alteração no fígado ou baço. Também foi detectada uveíte e pústulas pelo corpo, além de ter sido levantada a possibilidade do cão ter entrado em contato com ratos. Solicitou-se hemograma, exames bioquímicos com determinação da atividade sérica da ALT e FA e urinálise com pesquisa de espiroquetas em campo escuro. Foi realizada sorologia para Leptospira spp, bem como reação em cadeia da polimerase (PCR) para a detecção de DNA de leptospiras patogênicas em amostra de urina. Um teste de estimulação por ACTH foi realizado através da administração de tetracoside (ACTH sintético) na dose de 5 µg/kg por via IV com mensuração de cortisol sérico após uma hora da aplicação da medicação. Até que se tomasse conhecimento dos resultados dos exames, a terapêutica indicada foi composta por metoclopramida (0,5 mg/kg VO TID por 5 dias), ranitidina (1 mg/ kg VO TID por 5 dias), prednisona (0,5 mg/kg VO SID até obter melhora clínica) e enrofloxacina (5 mg/kg VO BID por 21 dias). A pesquisa de espiroquetas em campo escuro obteve resultado negativo, assim como a PCR, apesar do título de 1:100 para Leptospira icterohaemorrhagiae na sorologia. O resultado do teste de estimulação com ACTH foi de 100,8 ng/mL, afastando a possibilidade de hipoadrenocorticismo iatrogênico. Os resultados dos exames complementares demonstraram plasma discretamente ictérico no hemograma (Tabela 1). O perfil bioquímico apontou hipercolesterolemia, hipercalemia, um leve aumento das globulinas e aumento da atividade sérica da ALT e FA (Tabela 2), estas duas últimas sugerindo lesão hepática. Na urinálise foram detectadas bilirrubinúria, proteinúria e densidade urinária baixa (Tabela 3). 178 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 TABELA 1 – Hemograma apresentando os valores obtidos da paciente e os de referência para a espécie canina. Hemograma Paciente Referência Paciente Referência Leucócitos (µL) 8.700 6.000 – 17.000 Eritrócitos (106/µL) Segmentados 6.699 3.000 – 11.500 Hematócrito (%) 6,99 5,5 – 8,5 49 37 – 55 Eosinófilos 261 100 – 1.250 Monócitos 348 150 – 1.350 Hemoglobina (g/dL) 15,8 12 – 18 VCM (fL) 70 60 – 77 Linfócitos 1.392 1.000 – 4.800 CHCM (%) 32,2 32 – 36 Observações 1. Plasma ictérico TABELA 2 – Perfil bioquímico apresentando os valores obtidos da paciente e os de referência para a espécie canina. Perfil Bioquímico Tipo de amostra: soro Hemólise da amostra: ausente Paciente Proteínas totais (g/L) Referência Paciente Referência 68 54 – 71 Ureia (mg/dL) 20 21 – 60 Albumina (g/L) 23,2 26 – 33 Glicose (mg/dL) 64 65 – 118 Globulinas (g/L) 44,8 27 – 44 Fósforo (mg/dL) 3,9 2,6 – 6,2 Creatinina (mg/dL) 0,5 0,5 – 1,5 Potássio (mol/L) 8,44 3,5 – 5,1 Colesterol total (mg/dL) 388 135 – 270 ALT (UI/L) 1330 0 – 102 Frutosamina (mmol/L) 236 170 – 338 FA (UI/L) 1459 0 – 156 TABELA 3 – Urinálise apresentando os valores obtidos da paciente e os de referência para a espécie canina. Urinálise Exame físico Cor Consistência Aspecto Densidade específica (1,015 – 1045) Amarelo Fluida límpido 1,010 pH (5,5 – 7,5) Pigmentos biliares Proteína 7,4 +++ ++++ Exame químico Observações 1. Método de colheita: Micção natural. 2. Presença de gotículas de gordura. 3. Bacteriúria leve. Foi realizada uma ecografia para investigação da origem da massa intra-abdominal (Figura 2). Observou-se hepatomegalia com parênquima heterogêneo, manchas Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 179 hiperecogênicas difusas e de contorno pouco definido, sendo sugerida uma biópsia hepática. Os proprietários não aceitaram inicialmente a realização de BAAF (biópsia aspirativa com agulha fina), sendo acrescentados à terapêutica inicial, ácido ursodesoxicólico (15 mg/kg VO BID por 30 dias), doxiciclina (5 mg/kg VO BID por 15 dias) e silimarina (7 mg/kg VO SID por 30 dias). A prednisona e enrofloxacina foram suspensas. FIGURA 2 – Imagem ecográfica do fígado da paciente evidenciando parênquima heterogêneo e a presença de um nódulo hiperecogênico com cerca de 1,2 cm de diâmetro (seta). Após cerca de 30 dias, observou-se na ecografia uma redução na definição das áreas hiperecogênicas que passaram a apresentar-se de forma mais difusa pelo parênquima hepático, sendo então autorizada a realização do exame citológico do fígado (biópsia), o qual foi realizado a partir de um aspirado com agulha fina guiado por ultra-som. O resultado evidenciou um material constituído de linfoblastos alterados e em grande quantidade, compatível com linfossarcoma hepático (Figura 3). Após o diagnóstico de linfossarcoma, a paciente sobreviveu por mais cinco dias e veio a óbito. A necropsia da paciente não foi autorizada pelos proprietários. FIGURA 3 – Citologia de material aspirado do fígado da paciente por meio de BAAF guiada por ultra-som evidenciando a presença de grande quantidade de linfócitos com volume nuclear aumentado, cromatina em padrão granular e redução do volume citoplasmático (seta), recebendo o diagnóstico citológico de linfossarcoma hepático. Coloração Wrigth-Giemsa, aumento de 400 x. 180 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 DISCUSSÃO Através do histórico e dos sinais clínicos apresentados pela paciente, inicialmente suspeitou-se de hipoadrenocorticismo iatrogênico causado pela administração contínua de mitotano (FELDMAN; NELSON, 2004). Essa hipótese foi descartada baseada no teste de estimulação de ACTH e no achado clínico de plasma ictérico, este não é esperado no hipocortisolismo. Outra suspeita foi de hepatite causada por leptospirose, devido ao relato de possível contato com ratos e a sintomatologia desta enfermidade ser a mesma descrita na anamnese (NELSON; COUTO, 2006). O resultado da sorologia com titulação mínima indicava que a paciente poderia ter entrado em contato com o sorovar em algum momento da vida e que mantinha uma taxa baixa de anticorpos ou indicava um título vacinal. A PCR de amostra urinária foi negativa, indicando que não estava ocorrendo eliminação ambiental de leptospira pela urina. A literatura não suporta a leptospirose como uma condição indutora de linfossarcoma, não sendo provável qualquer relação entre estas afecções no presente relato. Até o momento tornava-se evidente uma possível hepatopatia. Os testes bioquímicos apontaram a atividade sérica da ALT aumentada, caracterizando lesão dos hepatócitos (LASSEN, 2004). A atividade da FA também esteve aumentada em decorrência da colestase e do cortisol acima da faixa considerada de controle para cães com Cushing, demonstrando a existência de hipercortisolismo (LASSEN, 2004; FELDMAN; NELSON, 2004). Apesar da faixa de referência de cortisol para cães saudáveis estar entre 60 e 170 ng/mL, o objetivo do tratamento da síndrome de Cushing é manter o paciente com cortisol pós-ACTH entre 10 e 50 ng/mL, faixa onde considera-se o paciente com um controle excelente e observa-se a total remissão dos sinais clínicos e alterações laboratoriais. O valor de cortisol da paciente em 100,8 ng/mL configura descontrole da doença, mesmo estando dentro da faixa de referência para cães normais, e indicaria a necessidade de retomada do tratamento com mitotano em fase de indução (25 mg/kg BID) caso a paciente não estivesse inapetente e com episódios de emese (FELDMAN; NELSON, 2004). Valores acima de 220 ng/mL são compatíveis com o diagnóstico de hiperadrenocorticismo (ZERBE, 2000). De acordo com González & Silva (2006), a hipercolesterolemia na presença de icterícia, poderia ser associada à colestase, uma vez que a obstrução dos canalículos biliares impede a exportação da bile e, consequentemente, do colesterol. Contudo, hipercolesterolemia é um achado comum no HAC não compensado (FELDMAN; NELSON, 2004). A albumina e ureia com níveis abaixo do normal podem ser explicadas pela inapetência crônica, mas principalmente por insuficiência hepática, já que são sintetizadas no fígado. O nível da glicose apresentado justifica-se pelos mesmos motivos acima, pois sua manutenção é baseada na gliconeogênese hepática. (LASSEN, 2004). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 181 Segundo Fighera et al., (2002) e Morris & Dobson (2007), a hipercalemia explica-se pela ocorrência de síndrome paraneoplásica característica de linfossarcoma. Na urinálise, a detecção de bilirrubinúria grave corrobora com o diagnóstico de alteração hepática, descartando a hipótese de hemólise excessiva devido aos níveis normais do eritrograma (LASSEN, 2004). Para Shaw & Ihle (1999), a densidade urinária diminuída ocorre pelo excesso de cortisol, causando a inibição da secreção de vasopressina (ADH). A isostenúria observada na paciente poderia ser decorrente do próprio linfossarcoma, uma vez que a presença de isostenúria é um indicativo da existência de poliúria/polidipsia (WATSON, 2005). Cardoso et al. (2004), relataram a poliúria/polidipsia como um sinal clínico do linfoma canino. Apesar disso, na opinião dos proprietários a ingestão de água estava sob controle em valores inferiores a 100 mL/kg/dia. A proteinúria pode ser explicada por uma glomeruloesclerose, patologia que causa fibrose nos glomérulos e é decorrente da hipertensão sanguínea comumente observada em cães com HAC (HURLEY; VADEN, 1998). A bacteriúria leve não parece ser significativa tendo em vista que a forma de colheita foi por micção natural podendo ter ocorrido contaminação e por não haver evidência de cistite no sedimento urinário (piúria, hematúria, bacteriúria). A realização de cultura e antibiograma é sempre recomendada em amostras de urina de cães com baixa densidade urinária, tendo em vista que a diluição da urina pode mascarar as evidências citológicas de infecção urinária (FELDMAN; NELSON, 2004, WATSON, 2005). A partir do resultado da biópsia do fígado, com linfoblastos alterados e em excessiva quantidade ficou evidente tratar-se de linfossarcoma hepático (MORRIS; DOBSON, 2007). O linfossarcoma é uma neoplasia de caráter maligno e evolução rápida, frequentemente relatado em cães e que se origina em órgãos linfoides sólidos como linfonodos, baço ou fígado (FIGHERA et al., 2002). É a neoplasia hematopoiética mais comumente relatada em cães, totalizando aproximadamente 90% dos casos de neoplasias hematopoiéticas (MOULTON; HARVEY, 1990) e 5 a 10% de todas as neoplasias de cães (CARDOSO et al., 2004). O histórico e os achados físicos dependem da localização anatômica e dos órgãos acometidos (FIGHERA et al., 2002; CARDOSO et al., 2004). Sinais como emese, inapetência e perda de peso estiveram presentes nesta paciente e foram identificados em vários cães no estudo de Cardoso et al. (2004). Sinais menos comumente associados ao linfossarcoma como icterícia e hepatomegalia estiveram presentes nesta paciente. A existência de hipercortisolismo concomitante ao linfossarcoma pode ter sido a razão pela qual algumas anormalidades comumente associadas ao linfossarcoma não foram observadas, como por exemplo, linfadenomegalia/linfadenopatia, observada em 87% dos casos de linfossarcoma (CARDOSO et al., 2004). O cortisol em excesso provavelmente mascarou alguns destes sinais, já que é um hormônio que promove linfólise quando em excesso (GRECO, 2004). O óbito da paciente poucos dias após a realização do BAAF, não permitiu a realização de qualquer tentativa de tratamento quimioterápico. 182 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 CONCLUSÃO A descrição simultânea de HAC e linfossarcoma trata-se de um caso incomum, pois as duas doenças foram encontradas associadas na paciente. Como o linfossarcoma é altamente maligno e na maioria dos casos leva a morte rapidamente, talvez tenha sido possível diagnosticar a tempo as duas enfermidades em função do hipercortisolismo, pois pode ter controlado, em parte, a evolução do linfossarcoma pelos seus efeitos imunossupressores. REFERÊNCIAS BARTHEZ, P. Y.; NYLAND, T. G.; FELDMAN, E. C. Ultrasonographic evaluation of the adrenal glands in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.207, n.9, p.1180-1183, 1995. BRADDOCK, J. A. et al. Trilostane treatment in dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism. Australian Veterinary Journal, v.81, n.10, p.600-607, 2003. CARDOSO, M. J. L. et al. Sinais clínicos do linfoma canino. Archives of Veterinary Science, v.9, n.2, p.19­24, 2004. CLEMENTE, M. et al. Comparison of non-selective adrenocorticolysis with mitotane or trilostane for the treatment of dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism. Veterinary Record, v.161, n.24, p.805-809, 2007. 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O diagnóstico diferencial deve ser feito de esclerose da lente. Nos últimos anos, o sucesso da remoção da catarata tem aumentado, principalmente após o desenvolvimento da técnica de facoemulsificação. Este trabalho é uma revisão de literatura sobre catarata em cães, incluindo etiologia, patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, tratamento e prognóstico desta afecção. Palavras-chave: Catarata. Cães. Cirurgia. Cataract in dogs – a review ABSTRACT Cataract is a leading cause of treatable blindness in dogs. Surgery is the only method of restoring vision in a patient blinded by cataracts. Its origins may be due to hereditary, metabolic, senile changes, trauma, nutritional deficiencies, toxins, drugs, radiation therapy, and inflammation. Diagnosis of cataracts is made after mydriasis using slit-lamp biomicroscopy. The differential diagnostic for cataracts is nuclear sclerosis. Surgery is the only method of restoring vision in a Luciane de Albuquerque é acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ana Carolina da Veiga Rodarte de Almeida é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Paula Stieven Hünning é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fabiana Quartiero Pereira é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cláudia Skilhan Faganello é acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). João Antonio Tadeu Pigatto é Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereço para correspondência: Prof. João A. T. Pigatto – Av. Bento Gonçalves, 9090. Bairro Agronomia. Porto Alegre, RS. 91540-000. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.185-197 jan./jun. 2010 patient blinded by cataracts. The success rate of cataract surgery has risen significantly during last years, especially after introduction of phacoemulsification. This paper is a study based in literature review, about cataract in dogs, including etiology, pathogenesis, diagnostic, options of treatment and prognosis of this affection. Keywords: Cataract. Dogs. Surgery. INTRODUÇÃO A catarata é a opacidade das fibras ou da cápsula do cristalino, sendo a principal causa de cegueira tratável em cães (ADKINS; HENDRIX, 2005). O diagnóstico é baseado no exame com biomicroscopia com lâmpada de fenda realizado após obtenção de midríase. O exame da lente é fundamental para se detectar a presença, localização e extensão da opacidade do cristalino (BARNETT, 1985; ORÉFICE; BORATTO, 1989). O tratamento da catarata é cirúrgico. As técnicas de remoção da catarata evoluíram nas últimas décadas. Inicialmente, houve uma mudança da extração intra para a extracapsular convencional do cristalino e para a facoemulsificação (BARROS, 1990; DZIEZYC, 1990; GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997; KEIL; DAVIDSON, 2001). Os principais avanços técnicos da cirurgia de catarata estão ligados à consolidação e ao aprimoramento da facoemulsificação que atualmente é a técnica de eleição para o tratamento de pacientes com catarata, quer em Medicina quer em Veterinária (ADKINS; HENDRIX, 2005; BARROS, 1990; BOLDY, 1988). Atualmente a taxa de sucesso para a extração da catarata varia de 80 a 95%, dependendo da seleção criteriosa do paciente e da técnica utilizada (GILGER, 1997). Objetiva-se, com este trabalho, auxiliar para a abordagem da catarata permitindo identificação precoce, diagnóstico preciso e tratamento eficaz. CRISTALINO O cristalino ou lente é uma estrutura biconvexa, transparente, avascular que está sustentado atrás da íris pelas fibras zonulares (Figura 1). Anterior à lente está o humor aquoso e posteriormente o humor vítreo (ORÉFICE; BORATTO, 1989; SLATTER, 2005). As fibras zonulares se originam no corpo ciliar, alterações na tensão dessas fibras, devido às contrações do músculo ciliar, alteram a curvatura do cristalino e consequentemente a sua dioptria. O bulbo do olho possui a capacidade de ajuste do seu foco devido à capacidade do cristalino de alterar sua forma de acordo com a distância dos objetos. Esse fenômeno denomina-se acomodação. Os cães possuem a musculatura do corpo ciliar menos desenvolvida do que os humanos, resultando em uma dioptria de 40 em comparação com o homem que possui uma dioptria de 20 e um alto poder de acomodação visual. Com o avanço da idade o poder de acomodação diminui devido à redução da elasticidade do cristalino (SLATTER, 2005; TEIXEIRA, 2003). 186 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 FIGURA 1 – Cristalino de cão. Observa-se lente sem opacidade e ligamentos zonulares. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS. A lente é composta por um núcleo e um córtex que são envolvidos por uma cápsula anterior e posterior. Seu volume em cães é de aproximadamente 0,5 ml, seu eixo ânteroposterior é de 7 mm e seu diâmetro equatorial pode variar de 9 a 11,5 mm (TEIXEIRA, 2003). A cápsula possui na sua face anterior, uma camada epitelial unicelular, que ao nível do equador, se diferencia em fibras lenticulares que vão se dispondo, em forma concêntrica, ao redor do núcleo, assim formando a camada cortical. Ela é composta por fibras de colágeno e carboidratos complexos, possuindo propriedades elásticas que regulam o formato da lente. É impermeável a moléculas grandes como albuminas e globulinas, mas permite a passagem de água e eletrólitos. Sua espessura é de 8 a 12 μm na região equatorial, 50 a 70 μm na porção anterior e apenas 2 a 4 μm na porção posterior (GELLAT; GELLAT, 2001; ORÉFICE; BORATTO, 1989; PLAYTER, 1977; SLATTER, 2005). O córtex é composto por células jovens, lenticulares dispostas em camadas interdigitadas ao redor do núcleo que é formado por células mais velhas, de maior densidade e menos transparentes que as do córtex (PLAYTER, 1977). O cristalino consiste basicamente de água, proteínas, minerais, carboidratos e lipídeos (GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997). A proporção de proteínas varia de acordo com a espécie, idade e dimensão da lente. Devido ao seu caráter avascular, o metabolismo da lente depende basicamente dos nutrientes e do oxigênio proveniente do humor aquoso. Distúrbios nessa composição afetam o metabolismo e a transparência lenticular (SLATTER, 2005). A principal função do cristalino é a refração dos raios luminosos em direção a retina e a acomodação visual (ADKINS; HENDRIX, 2003; GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997; SLATTER, 2005). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 187 CATARATA A catarata é a opacidade da lente ou de sua cápsula e é considerada uma das causas mais frequentes de cegueiras em cães (DAVIDSON; NELMS, 1999; KEIL; DAVIDSON, 2001; PARK et al., 2009; PLAYTER, 1977; ). A opacificação do cristalino impede que os feixes luminosos incidam sobre a retina e com isso não ocorre formação da visão (ADKINS; HENDRIX, 2003, SLATTER, 2005). Embora os caninos sejam na medicina veterinária, a espécie mais acometida pela opacificação da lente, estudos demonstram a ocorrência dessa afecção em outras espécies, incluindo os felinos (DAVID; HEATH, 2006; WILLIAMS; HEALTH, 2006), equinos (DZIEZYC, 1990), coelhos (ASHTON et al., 1976), avestruz (GONÇALVES et al., 2006), lhamas (GIONFRIDDO; BLAIR, 2002), roedores (MUNGER et al., 2002), leopardos (COOLEY, 2001), entre outras. O mecanismo de formação da catarata não está totalmente elucidado. Acredita-se que qualquer interferência que ocorra na nutrição da lente, metabolismo energético e/ou proteico e no equilíbrio osmótico podem resultar na opacificação lenticular (SLATTER, 2005). Estudos apontam que a catarata resulta da combinação de uma série de eventos onde ocorre agregação de proteínas lenticulares, aumento das proteínas insolúveis, estresse osmótico, disfunções no metabolismo energético, alterações no metabolismo nutricional, mudanças na concentração de oxigênio, exposição a toxinas e alterações de concentrações iônicas. Essas alterações acarretam a vacuolização ou precipitação das proteínas do cristalino que produzem perda da sua transparência (GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997). A catarata é comumente classificada de acordo com a sua etiologia, idade de aparecimento, grau de desenvolvimento e localização. Com relação à etiologia, a catarata pode ser hereditária ou adquirida. A hereditariedade da catarata foi descrita em várias raças de diferentes espécies como cães, gatos e cavalos (SLATTER, 2005). Estudo prévio, demonstrou que qualquer raça de cães pode ser acometida por catarata, contudo a incidência em cães da América do Norte é maior nas raças como Boston Terrier (11,11%), Poodle miniatura (10,79%), American Cocker Spaniel (8,77%), Standard Poodle (7,00%), e Schnauzer Miniatura (4,98 %) (GELLAT; MACKAY, 2005). Adkin e Hendrix (2005), também verificaram que as raças Cocker Spaniel, Schnauzer em miniatura, Boston Terrier, Poodle em miniatura e Bichon Frise foram as raças mais acometidas pela opacificação da lente. Entre as causas mais comuns das cataratas adquiridas, encontram-se as doenças metabólicas, trauma ocular, a inflamação intraocular, as deficiências nutricionais, o choque elétrico e a radioterapia (SLATTER, 2005). A idade dos cães no início da formação da catarata, bem como seu histórico completo, pode ajudar a determinar a causa (BAUMWORCEL et al., 2009; DAVIDSON; NELMS, 1999). A incidência de catarata em cães diabéticos chega a 68%, sendo considerada a manifestação ocular mais comum nos caninos com diabetes mellitus (BASHER; 188 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 ROBERTS, 1995). As enzimas responsáveis pelo metabolismo normal da glicose tornam-se saturadas, ocasionando excesso de sorbitol que se acumula na lente, aumentando assim o estado osmótico da lente o que resulta em posterior estado de intumescência da lente. A catarata diabética geralmente cursa com surgimento agudo e é bilateral (BEAM et al., 1999; RICTHER et al., 2002). Com relação à idade de aparecimento, a catarata pode ser classificada como congênita, juvenil ou senil (SLATTER, 2005). Cataratas congênitas são frequentemente observadas em raças como Schnauzer miniatura e Labrador (DAVIDSON; NELMS, 1999). Em outras espécies, como equinos e bovinos, as cataratas congênitas podem ser observadas antes de duas semanas de idade. Geralmente são observadas de forma secundária ou em associação a outras alterações, como membrana pupilar persistente, persistência da artéria hialoide, microftalmia e anormalidades diversas (SLATTER, 2005). A catarata juvenil geralmente acomete cães até seis anos de idade e a catarata senil é aquela que atinge cães com idade superior a sete anos, afetando com maior frequência o núcleo do cristalino, sendo geralmente precedida de esclerose nuclear (GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997; SLATTER, 2005). Quanto à localização anatômica, a catarata pode ser capsular, subcapsular, zonular, cortical, nuclear, polar, axial ou equatorial (DAVIDSON; NELMS, 1999; SLATTER, 2005). A classificação pelo estágio de desenvolvimento inclui incipiente, imatura, madura e hipermadura (BARNETT, 1985; BAUMWORCE et al., 2009; DAVIDSON et al., 1991, l). Na catarata incipiente ocorre opacidade em até 15 % do cristalino o que não acarreta perda da visão. Ela pode aparecer apenas como áreas focais enbranquecidas na lente. O estágio imaturo (Figura 2-A) envolve a opacidade entre o estágio incipiente e a catarata madura. Neste estágio ainda é possível visualizar o reflexo do fundo de olho. No estágio de catarata madura (Figura 2-B) o cristalino está totalmente opacificado e o reflexo de fundo de olho e a visão estão ausentes, o que conduz ao déficit visual. Na catarata hipermadura as proteínas corticais se tornam líquidas, normalmente deixando a cápsuIa enrugada. O córtex se liquefaz devido à proteólise, sendo possível visibilizar o reflexo do fundo de olho (BARROS, 1990; DAVIDSON; NELMS, 1999; TEIXEIRA, 2003). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 189 FIGURA 2 – Catarata em cães. (A) Catarata imatura e (B) catarata madura. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA CATARATA O principal sinal clínico da catarata é a opacificação da lente e a diminuição da acuidade visual do animal relatada pelo proprietário. O diagnóstico da catarata é estabelecido com base na anamnese e no exame oftálmico (BARNETT, 1985; BAUMWORCEL et al., 2009; DAVIDSON; NELMS, 1999; TEIXEIRA, 2003). A opacificação pode estar presente em um ou em ambos os olhos. A maioria dos sinais clínicos relacionados à catarata tem evolução lenta, exceto nos casos relacionados a doenças sistêmicas, como o diabetes mellitus, onde a opacificação progride rapidamente. Nas cataratas maduras ou hipermaduras bilaterais ocorre a perda da visão (BEAM et al., 1999; RICHTER et al., 2002). Normalmente no exame oftálmico, utiliza-se biomicroscopia com lâmpada de fenda ou oftalmoscopia direta para confirmar o diagnóstico da opacificação lenticular, o exame é melhor realizado com a pupila dilatada (BARNETT, 1985; ORÉFICE; BORATTO, 1989). É importante diferenciar a catarata da esclerose (SLATTER, 2005). A esclerose nuclear consiste num processo fisiológico, que acomete cães geralmente com idade superior a sete anos e sua ocorrência é sempre bilateral (BARNETT, 1985). A esclerose ocorre devido ao aumento da densidade do núcleo ocasionado pela formação de novas células lenticulares no equador da lente que forçam a migração das células velhas em direção a zona nuclear (SLATTER, 2005). Clinicamente, o cristalino com esclerose não interfere na observação do reflexo do fundo de olho (Figura 3). Porém, quando associada à catarata, a visualização do reflexo do fundo de olho fica prejudicada ou impossível de ser identificada (PLAYTER, 1977). A esclerose não acarreta na perda da visão, não sendo necessária a intervenção cirúrgica. A perda da visão ocorre somente em casos em que a esclerose esteja associada à catarata madura ou hipermadura (BARNETT, 1985; PLAYTER, 1977). 190 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 FIGURA 3 – Cão com esclerose da lente. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS. O tratamento para catarata é cirúrgico e as técnicas incluem a remoção intracapsular, a extracapsular manual e a facoemulsificação (GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997; KEIL; DAVIDSON, 2001; MAGRANE, 1989). Na extração intracapsular da catarata, o cristalino é removido por inteiro sendo utilizada apenas nos casos de luxação do cristalino (Figura 4). Nesta técnica, a incidência de descolamento de retina é mais elevada do que nas técnicas extracapsulares (DAVIDSON et al., 1990; GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997). Quando a remoção da catarata era rotineiramente conduzida empregando-se o procedimento intracapsular, obtinham-se bons resultados em apenas 29% dos cães operados (MAGRANE, 1989). FIGURA 4 – Cão com luxação da lente. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 191 Na remoção extracapsular manual, após ampla incisão de córnea de aproximadamente 12 mm, a porção central da cápsula anterior é removida para acessar a catarata. Nessa técnica a cápsula posterior do cristalino é preservada, evitando com isso prolapso do corpo vítreo e descolamento de retina (DAVIDSON et al., 1999; PIGATTO, 2004). Valendo-se da técnica extracapsular convencional em cães obtinha-se retorno da função visual em entre 79% e 85,7% dos casos operados (BARROS, 1990; ROOKS et al., 1985). Nos últimos anos, os principais avanços da cirurgia de catarata estão ligados à consolidação e ao aprimoramento da facoemulsificação. Surgida no final da década de 60, quando o cirurgião norte-americano Charles Kelman a apresentou em um encontro da Academia Americana de Oftalmologia, a facoemulsificação passou por inúmeros aperfeiçoamentos incluindo, novos aparelhos, lentes intraoculares dobráveis, desenvolvimento de substâncias viscoelásticas e formas diferenciadas de fragmentação do cristalino, entre outras (ARSHINOFF, 1999; BAGLEY; LAVACH, 1994; GILGER, 1997; MILLER et al., 1987). A facoemulsificação consiste na fragmentação ultra-sônica do cristalino, que é aspirado do bulbo do olho por uma incisão corneana de cerca de 3 mm (Figura 5). Comparada às demais técnicas de remoção da catarata, a facoemulsificação proporciona os melhores resultados (BOLDY, 1988; DZIEZYC, 1990; PIGATTO, 2004; WHITLEY et al., 1993; WILKIE; COLITZ, 2009). Dentre as principais vantagens da facoemulsificação, comparativamente às demais técnicas, estão a pequena incisão, a manutenção da pressão intraocular intraoperatória e a pouca manipulação das estruturas internas ao globo ocular (CHEE et al., 1999; GILGER, 1990; PIGATTO, 2004; TEIXEIRA, 2003; WARREN, 2004). Incluem-se ainda como vantagens da facoemulsificação sobre as técnicas manuais, menor contaminação, menor inflamação intraocular pós-operatória, menor tempo operatório e a reabilitação precoce da visão (BOLDY, 1988; GLOVER; CONSTANTINESCU, 1997; KOCH et al., 1993; MILLER et al.,1997; MURPHY, 1980). O sucesso da cirurgia de catarata em cães tem aumentado acentuadamente nos últimos 15 anos, especialmente devido ao desenvolvimento da facoemulsificação, alcançando o índice de 80 a 95% de resultados satisfatórios (GILGER, 1997; ÖZGENCIL, 2005, TAYLOR et al., 1995; WILKIE; COLITZ, 2009). 192 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 FIGURA 5 – Técnica de facoemulsificação em cães. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS. O implante de lente intraocular em cães após a remoção da catarata é tecnicamente possível (NASISSE et al., 1991; TEIXEIRA, 2003). Em virtude das diferenças de tamanho e de poder refrativo, as lentes intraoculares de uso humano devem ser evitadas e somente devem ser empregadas lentes específicas para a espécie canina (DAVIDSON et al., 1991; NASISSE et al., 1991). Em humanos após a remoção da carata são utilizadas lentes de 18 dioptrias. Em cães existem diferenças anatômicas e no mecanismo de acomodação visual, em relação ao homem, fazendo-se necessário uma lente de poder dióptrico mais elevado com 40 dioptrias (TEIXEIRA, 2003; KOPALA, 2008). A implantação da lente intraocular melhora o poder óptico do afácico e ajuda a diminuir a opacidade da cápsula posterior pós-operatória. Porém, complicações como luxação da lente implantada e inflamação intraocular transitória, são possíveis de acontecerem (DAVIDSON; NELMS, 1999). A lente mais utilizada em cães é constituida por material polimerizável, no entanto, existem lentes intraoculares produzidas com outros materiais, como silicone e hidroxietilmetacrilato (GILGER, 1997). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 193 Em casos onde a remoção da catarata não seja realizada, poderá ocorrer uveíte lente induzida devido à perda de proteínas da lente acarretando uma resposta autoimune (BARROS, 1990; CURTIS et al, 1991; DAVIDSON, et al, 1990). Essa condição precisa necessariamente ser tratada. As complicações mais comuns da uveíte lente induzida são glaucoma e phthisis bulbi. Além disso, cataratas hipermaduras acarretam risco maior de subluxação ou luxação da lente, o que pode levar a complicações secundárias (DAVIDSON; NELMS, 1999; SLATTER, 2005). CONCLUSÕES A catarata é a principal causa de cegueira tratável em cães. O tratamento é unicamente cirúrgico e tem sido demonstrado que o diagnóstico precoce aliado à remoção da catarata utilizando a facoemulsificação permite a obtenção de resultados satisfatórios. REFERÊNCIAS ADKINS, E. A.; HENDRIX, D. V. Outcomes of dogs presented for cataract evaluation: A retrospective study. Journal American Hospital Association. v.41, n.4, p.235-240, 2005. ARSHINOFF, S. A. Dispersive-cohesive viscoelastic soft shell technique. Journal of Cataract and Refractive Surgery. v.24, p.167-173, 1999. ASHTON, N.; COOK, C.; CLEGG, F. Encephalitozoonosis (nosematosis) causing bilateral cataract in a rabbit. British Journal of Ophthalmology. v.60, p.618-631, 1976. BAGLEY, L. H.; LAVACH, J. D. Comparison of postoperative phacoemulsification results in dogs with and without diabetes mellitus: 153 cases (1991-1992). Journal of the American Veterinary Medical Association. v.205, n.8, p.1165-1169, 1994. BARNETT, K. C. The diagnosis and differential diagnosis of cataracts in the dog. 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Recebido em: jan. 2009 Aceito em: abr. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 197 Hematoma auricular em gato: relato de caso Fabiana Schiochet Eloete Teixeira Paulo Ricardo Centeno Rodrigues Andréia Weber Gimosk Carlos Afonso de Castro Beck Emerson Antonio Contesini Marcelo Meller Alievi Letícia Mendes Fratini RESUMO O hematoma auricular ou oto-hematoma é um acúmulo de sangue dentro das camadas de cartilagem do pavilhão auricular e é frequentemente observado nos cães e raramente nos gatos. A causa dos oto-hematomas ainda não é bem compreendida, no entanto, em muitos casos, parece que a agitação da cabeça ou coçadura das orelhas causada por dor ou irritação associadas com otite externa (geralmente otite bacteriana em cães e otite parasitária por Otodectes cynotis em gatos) são os responsáveis. O objetivo terapêutico para o hematoma auricular consiste na identificação da origem da irritação, drenagem do hematoma, manutenção da aposição dos tecidos, redução da deposição de fibrina e impedimento da recidiva. O caso relatado é de um felino, Siamês, fêmea, 16 anos de idade, 4 kg de peso. A queixa do proprietário era prurido intenso nos ouvidos e aumento de volume no pavilhão auricular direito. No exame clínico foi diagnosticado hematoma auricular direito e observado presença de secreção otológica bilateralmente de coloração escura, aspecto seco e com grande quantidade de ácaros (visualizados macroscopicamente). Foi prescrito para o tratamento da otocaríase diazinon solução otológica e selamectina. O paciente foi encaminhado para cirurgia para a correção do oto-hematoma, apresentando bom resultado. Conclui-se que o procedimento cirúrgico foi adequado. Palavras-chave: Oto-hematoma. Cirurgia. Gato. Fabiana Schiochet – Médica Veterinária, MSc., Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Eloete Teixeira – Médica Veterinária Autônoma, Especialista, Porto Alegre. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues – Médico Veterinário, Especialista, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil, Canoas. Andréia Weber Gimosk – Médica Veterinária Autônoma, Porto Alegre. Carlos Afonso de Castro Beck – Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Emerson Antonio Contesini – Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Marcelo Meller Alievi – Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Letícia Mendes Fratini – Aluna de Graduação, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Endereço para correspondência: Rua das Acácias, 107. Bairro Cantegrill, Viamão/RS. CEP 94450-902. E-mail: [email protected] Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.198-205 jan./jun. 2010 Aural hematoma in cat: Case Report ABSTRACT Aural hematoma is a blood accumulation within the cartilage layers of the ear pinna. It is frequently observed in dogs and rarely in cats. The exact cause of aural hematoma is still poorly understood, however, in many cases, the reason seems to be the head shaking or ear scratching, from pain or irritation associated with external otitis (usually bacterial otitis in dogs and parasitary otitis for Otodectes cynotis in cats) are responsible. The therapy objective for aural hematoma consists on identification of the main reason of the irritation, the draining of hematoma, the maintaining of the tissue supply, the reduction the fibrin storage and to avoid recurrence of the hematoma. The reported case is about a 16-year-old female siamese cat, weighing 4 kg. The owner’s complaint was severe itching in both ears and an increase in volume on right aural pinna. Aural hematoma on right ear, presence of dry and dark secretion and a lot of mites in both ears (seen macroscopically), were diagnosticated on clinical examination. The prescripted treatment for ear infestation was diazinon aural solution and selamectine. The patient was taken to surgery to correct the aural hematoma. The result was really good, so the surgical procedure was appropriated. Keywords: Aural hematoma. Surgery. Cat. INTRODUÇÃO Hematoma auricular ou oto-hematoma é o acúmulo de sangue dentro da placa cartilaginosa auricular (FOSSUM, 2005). Henderson e Horne (1998) citam que os ramos da grande artéria auricular que penetram na cartilagem são a origem da hemorragia e o sangramento entre as cartilagens continua até que a pressão interna se iguale à pressão das artérias nutrizes. Fossum (2005) acrescenta que o rompimento vascular ocorre em consequência da fratura cartilaginosa provocada por movimentos de ondas sinusoides, geralmente decorrentes da agitação da cabeça. Fibrina é depositada nas paredes do hematoma, produzindo um seroma sanguinolento. Com a cronificação, a fibrose e a contração promovem o espessamento e a deformação da orelha. Segundo Henderson e Horne (1998) a causa dos oto-hematomas ainda não é bem compreendida, no entanto, em muitos casos, é autoinfligido pelo ato de coçar e pela agitação da cabeça. As causas subjacentes compreendem as afecções inflamatórias que afetam o pavilhão auricular ou o canal auditivo externo, como as associadas a corpos estranhos, atopia, alergia alimentar, infecção bacteriana (geralmente em cães), infecção levedural, ácaros óticos (geralmente em gatos), entre outros (SMEAK, 1998). Alguns animais, porém, não apresentam evidências de otopatias intercorrentes e a formação de hematoma pode estar associada com aumento na fragilidade capilar, como por exemplo, na doença de Cushing (FOSSUM, 2005). Smeak (1998) relata que o hematoma auricular é mais frequentemente observado nos cães e menos frequentemente nos gatos. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 199 O diagnóstico é realizado durante o exame físico, no entanto, deve-se diagnosticar e tratar a otopatia subjacente para diminuir a probabilidade de recorrência (FOSSUM, 2005). Com relação ao tratamento ele pode ser clínico ou cirúrgico e tem como objetivo drenar a lesão e evitar a recorrência tanto imediata quanto a longo prazo (HARVEY et al., 2004b). Henderson e Horne (1998) citam que no tratamento conservador a aspiração com agulha pode drenar o hematoma e restaurar a posição dos tecidos, caso seja utilizada logo após a sua formação, e se o hematoma tornar a se formar, a repetição da aspiração raramente é bem sucedida. Harvey et al. (2004b) acrescentam como tratamentos conservadores a drenagem com dreno de Penrose, drenagem e instilação de glicocorticoide e drenagem por vácuo. A instilação de glicocorticoide dentro da ferida é criticada por alguns autores, pois pode retardar a cicatrização, além de separar os tecidos (HENDERSON; HORNE, 1998). De acordo com Harvey et al. (2005) o tratamento mais solidamente bem sucedido nos casos de hematomas auriculares é o tratamento cirúrgico através da drenagem incisional e sutura. Para Fossum (2005) o tratamento cirúrgico além de evitar sua recorrência, mantém a aparência natural da orelha. Relato do Caso O caso relatado é de um felino, Siamês, fêmea, 16 anos de idade, 4 kg de peso. A queixa do proprietário era prurido intenso nos ouvidos e “inchaço” no pavilhão auricular direito. No exame clínico observou-se aumento de volume flutuante na superfície côncava do pavilhão auricular direito, compatível com hematoma auricular (Figura 1) e presença abundante de secreção otológica bilateral de coloração escura e aspecto seco (Figura 2). Figura 1 – Hematoma auricular presente na orelha direita. 200 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Figura 2 – Visualização de cerume escuro e ressecado na orelha com hematoma auricular. Junto a esta secreção foi visualizado, com auxílio de um otoscópio, uma grande quantidade de ácaros compatíveis com Otodectes cynotis. O exame otoscópico no canal auditivo externo não foi possível, pois o mesmo encontrava-se edemaciado. Foi prescrito para o tratamento da otocaríase diazinon solução otológica a cada 12 horas após limpeza prévia do canal auditivo e selamectina tópica a cada 30 dias. Esta foi prescrita também para todos os contactantes. Para correção do oto-hematoma o paciente foi encaminhado para cirurgia. Foram solicitados hemograma, creatinina, ureia, ALT e fosfatase alcalina como exames pré-cirúrgicos e todos se encontravam dentro dos valores fisiológicos para espécie. O paciente foi pré-medicado com diazepam 0,4mg/kg IM, acepromazina 0,05mg/kg IM e butorfanol 0,2mg/kg IM. Foi administrado profilaticamente ampicilina sódica 20mg/kg IV. A indução constou da utilização de propofol 4mg/ kg IV. Na manutenção anestésica utilizou-se isofluorano ao efeito, vaporizado em oxigênio a 100%, através do sistema anestésico Baraka (aberto) com respiração espontânea. Durante o procedimento, foi administrado solução de ringer lactato de sódio intravenoso na dose de 10ml/kg/h. Com a tricotomia já realizada posicionou-se o animal em decúbito lateral. Foi realizada a anti-sepsia na sequência álcool – álcool iodado – álcool. O conduto auditivo externo foi protegido com gaze estéril. Foi dado início ao procedimento cirúrgico incisando em forma de “S” a superfície côncava da orelha direita, expondo dessa forma o hematoma e seu conteúdo (Figura 3). Os coágulos e a fibrina foram removidos e a cavidade foi lavada com solução de cloreto de sódio a 0,9%. Utilizou-se fio mononylon 3-0 para sutura, o padrão foi isolado simples verticalmente à incisão, abrangendo cartilagem e pele da superfície convexa e côncava da orelha (Figura 4). A incisão não foi incorporada na sutura. Após o término da cirurgia foi colocada uma atadura protetora sobre a orelha apoiada na cabeça. Recomendou-se a continuação do tratamento clínico para otocaríase, além de cetoprofeno (1mg/kg), SID, por três dias, tramadol (1mg/kg), TID, por dois dias, limpeza diária da ferida cirúrgica com solução Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 201 de cloreto de sódio a 0,9% e uso de colar elisabetano. A sutura foi removida com 14 dias de pós-operatório com bom estado de cicatrização. Figura 3 – Visibilização de fibrina e coágulos presentes no oto-hematoma. Figura 4 – Sutura utilizada no reparo do hematoma auricular. Resultados e Discussão Conforme Harvey et al. (2004a) a causa subjacente do hematoma auricular é desconhecida e vários estudos têm sido propostos para explicar a patogenia da lesão e da sua causa. Num dos estudos, encontrou-se 59% dos cães e 76% dos gatos com hematoma auricular parasitados por Otodectes cynotis. Nesse mesmo estudo foi sugerido que os antígenos liberados pelos ácaros do ouvido, em processo de alimentação, poderiam estar envolvidos em uma ação imunomediada que terminaria em hematoma auricular. Para Leite (2002) a otocaríase por Otodectes cynotis é a causa mais comum de otite externa em gatos. 202 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 A felina do caso relatado apresentava uma quantidade significativa de ácaro, conferindo com a associação de ácaro com oto-hematoma em gatos encontrado na literatura. De acordo com Fossum (2005), o hematoma auricular apresenta aspecto patognomônico e um dos objetivos terapêuticos consiste na identificação da origem da irritação (HENDERSON; HORNE, 1998). Clinicamente são achados altamente sugestivos de otocaríase, a presença de secreção provenientes do ouvido de coloração acastanhada (GRACE, 2004) com aspecto de borra de café (LUCAS et al., 2004) e presença de ácaros superficiais de coloração branca (MATTOS; HOFFMANN, 2008), vistos frequentemente movimentando-se em resposta ao calor do otoscópio (GRACE, 2004). Estes fatos foram também observados no caso relatado. Alguns gatos com otocaríase apresentam quantidades maciças de cerúmen e não apresentam sintomas clínicos, ao passo que outros apresentam prurido intenso (LUCAS et al., 2004). Harvey (2004a) acrescenta que três ácaros já é o suficiente para causar patologia e o aparecimento dos sinais clínicos. No caso relatado um dos sinais clínicos era o prurido intenso, e provavelmente, este prurido provocou a agitação da cabeça e consequente autotraumatismo, originando o hematoma. Com relação ao tratamento cirúrgico do oto-hematoma o procedimento mais comumente usado envolve incisão dos tecidos sobrejacentes ao hematoma, evacuação dos coágulos sanguíneos e da fibrina e manutenção da cartilagem em aproximação com suturas até que se consiga formar o tecido cicatricial (FOSSUM, 2005). Essas incisões podem ser retas, cruzadas, ou em forma de S. No caso descrito utilizou-se a incisão em forma de S por acreditar que atinge melhor as dimensões do hematoma, além de evitar deformidade por contratura. Um número amplo de pontos foi utilizado devido ao tamanho extenso da cavidade e para evitar a formação de bolsa e consequentemente acúmulo de fluído e recidiva do hematoma, como citado por Henderson e Horne (1998). Para tratamento da otocaríase produtos antiparasitários são indicados. Topicamente Larsson et al (2002) citam preparações a base de piretrinas, tiabendazol, amitraz e ivermectina otologicamente. O fipronil a 9,7% também se mostrou eficaz no uso otológico num estudo com 25 gatos (UINJCENZI; GENCHI, 2000). Em outro estudo realizado por Souza et al. (2006) com 10 cães o diazinom contido em solução otológica foi eficaz no tratamento de infecções por Otodectes, com 100% de eficácia. No relato de caso optou-se pelo diazinon (e associações) pela eficácia obtida em experiências anteriores e pela facilidade de aplicação. Sistemicamente, alguns autores citam a ivermectina, a milbemicina, a selacectina e a moxidectina (LUCAS et al., 2004). Esses tratamentos são indicados porque o ácaro pode ser encontrado em outras partes do corpo (NASCENTE et al., 2006). A selamectina foi o fármaco escolhido no caso relatado, devido à sua praticidade e segurança. Esse tratamento foi indicado também para os contactantes, devido ao ácaro ser contagioso, podendo os demais animais, mesmo sem sinais clínicos, estarem contaminados (LUTTGEN, P.; ROSYCHUK, 1997). Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 203 CONCLUSÃO Nenhuma complicação pós-operatória a curto ou a longo prazo (período de três anos) foi observada, concluindo-se que o procedimento cirúrgico foi adequado. O sucesso do tratamento cirúrgico deveu-se também ao tratamento da etiologia do otohematoma. REFERÊNCIAS FOSSUM, T. W. Cirurgia ótica. In: ______. Cirurgia de pequenos animais. 2.ed. São Paulo:Roca, cap.19, 2005, p.231-255. GRACE, S. F. Ácaros da orelha. In: NORSWORTHY, G. D. et al. O paciente felino: tópicos essenciais de diagnóstico e tratamento. 2.ed. São Paulo: Manole, cap.53, 2004, p.229-231. HARVEY, R. G.; HARARI, J.; DELAUCHE, A. J. Etiologia e classificação da otite externa. In: ______. Doenças do ouvido em cães e gatos. Rio de Janeiro: Revinter, cap.3, 2004b, p.81-122. HARVEY, R. G.; HARARI, J.; DELAUCHE, A. J. Hematoma auricular e outras cirurgias da orelha. In: ______. Doenças do ouvido em cães e gatos. Rio de Janeiro: Revinter, cap.10, 2004a, p.225-232. 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Recebido em: jan. 2009 Aceito em: abr. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 205 Anestesia para procedimento ortopédico em avestruz (Struthio camelus) Viviane Machado Pinto Maria Eugênia Menezes de Oliveira Jussara Zani Maia Maria Inês Witz Mariane Feser Mariangela da Costa Allgayer RESUMO O objetivo deste trabalho é descrever a anestesia para procedimento ortopédico (amputação de asa), em avestruz. Após jejum sólido de 12 horas, foi realizada contenção física e aplicação de midazolam e butorfanol e indução anestésica com cetamina. A ave foi intubada e a anestesia mantida com halotano, em sistema anestésico inalatório circular com reinalação. Durante os períodos pré, trans e pós-anestésico não foram observadas complicações e uma hora após o fim do procedimento a ave estava em estação. De acordo com os parâmetros cardíacos e respiratórios avaliados e pressão arterial média, o protocolo anestésico estabelecido para o procedimento ortopédico em avestruz foi efetivo proporcionando uma anestesia com bom relaxamento muscular, livre de complicações, além de uma recuperação anestésica tranquila. Palavras-chave: Avestruz. Anestesia. Cirurgia ortopédica. Anesthesia for orthopedic surgery in African ostrich (Struthio camelus) ABSTRACT This summary aims to describe the anesthesia for orthopedic surgery (wing amputation) in African ostrich. After a 12-hour-fasting period a physical restraint and premedication of midazolam and butorfanol were carried out and later the anesthesia induction by ketamine. The ratite was intubated and the anesthesia kept by inhalation of an anesthetic agent (halothane). During presurgery, transurgery and postsurgery, any complications were observed and one hour after the anesthetic procedure, the bird was recovered. According to the parameters of cardiac and respiratory Viviane Machado Pinto, Jussara Zani Maia, Maria Inês Witz e Mariangela da Costa Allgayer – Professores Adjuntos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas/RS. Maria Eugênia Menezes de Oliveira e Mariane Feser – Médicas Veterinárias Autônomas. Veterinária em Foco Canoas v.7 n.2 p.206-214 jan./jun. 2010 frequencies as well as the arterial pressure observed, the anesthetic protocol was effective for the wing amputation surgery in the African ostrich. Keywords: African ostrich. Anesthesia. Orthopedic surgery. INTRODUÇÃO As aves apresentam particularidades anatômicas, fisiológicas e comportamentais que devem ser consideradas e há poucos estudos relatando os efeitos dos anestésicos na grande diversidade de espécies que existe nesta classe animal (NATALINI, 2007). O avestruz (Struthio camelus) vem sendo criado para fins comerciais há aproximadamente 100 anos. No Brasil só em 2004, o rebanho de avestruzes era de 170.000 animais e, em 2005, o número aumentou para 335.425, representando uma taxa de crescimento de 97% (MUNIZ, 2006). Na rotina dos criatórios, são realizados diversos procedimentos para a manutenção da sanidade das aves, assim o uso de agentes anestésicos injetáveis possibilita a imobilização e manipulação dos animais, diminuindo a ocorrência de estresse e o risco de acidentes. Entretanto, ainda há poucos relatos de protocolos anestésicos para a contenção desta espécie e particularidades que possam interferir na administração dos fármacos (CARVALHO et al. 2007). Nas aves, a anestesia geral pode ser mantida com um agente anestésico inalatório, sendo que o primeiro obstáculo ocorre durante a indução ou recuperação anestésica, na qual as aves devem ser contidas para prevenir acidentes. O capuz é um tipo de contenção física utilizado para deixar a ave mais tranquila, reduzindo risco de hipertermia por estresse (UOV, 2008). A medicação pré-anestésica tem como objetivo minimizar traumas físicos, diminuir estresse e agitação (GUIMARÃES; MORAES, 2000), além de reduzir a concentração do anestésico inalatório durante a manutenção anestésica (NATALINI, 2007). A indução anestésica pode ser com fármacos injetáveis ou anetésicos inalatórios. A indução direta na máscara, deverá ter uma atenção especial relacionada com padrão respiratório, pois nesta espécie pode ocorrer rápida depressão. Após indução, um tubo endotraqueal pode ser facilmente colocado e a anestesia pode ser mantida por tempo indeterminado (BRUNING; DOLENSEK, 1986). Todas as espécies de aves irão apresentar rápida diminuição na temperatura corporal, sendo recomendado manter o animal aquecido para auxiliar a manutenção da temperatura. Aferições cloacais de 34,5°C a 35°C têm sido observadas em procedimentos com 2-3 horas de duração, sem que o animal tenha desenvolvido complicações anestésicas (BRUNING; DOLENSEK, 1986). O padrão respiratório e a frequência cardíaca variam inversamente com o tamanho da ave. O maior indicador de profundidade anestésica é a avaliação do padrão respiratório. A respiração se torna menos frequente e mais curta com o aprofundamento da anestesia. Como a apneia pode rapidamente levar à morte, mensurações constantes devem ser realizadas durante a anestesia e a ventilação deve ser instituída logo que a ave não apresente respiração espontânea. Além disso, a frequência cardíaca também deve ser monitorada com estetoscópio ou com monitor cardíaco. Os eletrodos do monitor cardíaco podem ser colocados na região caudal e esterno ou nas posições convencionais. O complexo Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 207 rs na derivação II, que nos mamíferos é positivo, nas aves é normalmente negativo (BENNETT, 1999). Ludders e Mathews (1996) apresentam um demonstrativo destes parâmentros em anestesias realizadas, utilizando vários tranquilizantes e sedativos em diferentes procedimentos cirúrgicos em nove avestruzes e dez emas no Colégio de Medicina Veterinária no Texas, em 1992. Para o controle do plano anestésico são utilizados alguns reflexos. O reflexo palpebral está presente somente em planos muito superficiais, assim como o movimento reflexo em resposta a estímulo. O reflexo corneal (manifestado com o movimento da terceira pálpebra através do olho em resposta ao estímulo corneal) e o reflexo de pedalada permanecem por bastante tempo e são geralmente lentos, mas presentes em um plano cirúrgico de anestesia (LINN; GLEED, 1987). Quando possível, o avestruz deve se ambientar com a clínica ou hospital antes do procedimento anestésico para reduzir o estresse. Após a adaptação da ave ao novo local, é comum aparecerem outros sinais clínicos que não haviam sido observados anteriormente (LUDDERS, 2001). O comportamento do paciente é importante, mas não é o suficiente para avaliar seu estado de saúde. É importante se obter o peso correto, porque as penas podem fazer com que se estime um peso maior para uma ave magra. A preparação para a anestesia deverá levar em conta o temperamento, o procedimento cirúrgico e a equipe disponível para auxiliar. Avestruzes jovens (+/- 30 kg peso) podem ser tratadas da mesma forma que outras espécies de aves, podendo apresentar hipoglicemia, hipotermia, hipotensão e hipoventilação quando anestesiadas (LUDDERS; MATTHEWS, 1996). RELATO DE CASO Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil um avestruz (Struthio camelus), fêmea, de 8 meses e 36,7kg, que apresentava dificuldade de deambulação. A ave apresentava fratura de úmero e por isso mantinha a asa caída, frequentemente pisoteada durante a locomoção, sendo indicado amputação do membro. Após jejum sólido de 12 horas, foi colocado um capuz sobre a cabeça da ave (Figura 1), e esta foi encaminhada ao bloco cirúrgico. 208 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 FIGURA 1 – Contenção física de avestruz com capuz facilitando a pesagem da ave. Como medicação pré-anestésica (MPA) foi utilizado midazolam e butorfanol, ambos na mesma seringa, e na dose de 0,5mg/kg, por via IM. A indução anestésica foi realizada após 15 min da MPA, com cetamina na dose de 4mg/kg administrada na veia jugular direita. Após indução, o paciente levou em torno de 20 segundos para ficar em decúbito esternal, foi encaminhado à mesa operatória e intubado com sonda orotraqueal n°16, até cerca de 1/3 da traqueia (Figura 2) e conectado ao sistema anestésico circular com absorvedor de CO2. FIGURA 2 – Avestruz após indução anestésica, intubado com sonda orotraqueal n° 16. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 209 A manutenção anestésica foi realizada com halotano em vaporizador calibrado, e o fluxo de oxigênio foi mantido em 4 litros/min. A veia tibial caudal foi acessada no membro posterior direito, com catéter de polietileno rígido n°20 e a fluidoterapia foi mantida com uma taxa de infusão de 5ml/kg/hora. Foram conectados: o manguito do monitor de pressão no membro posterior direito e os eletrodos do monitor cardíaco no membro anterior direito, membro posterior esquerdo e pescoço. Os parâmetros como frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), pressão sistólica (PS), pressão diastólica (PD) e pressão média (PM) foram observados e anotados a cada 5 min. A temperatura cloacal (TC) foi aferida a cada 10 min. Logo após intubação, o fluxo de halotano foi mantido em 3,5%, sendo modificado de acordo com alterações do plano anestésico, conforme demonstra a Tabela 1. O procedimento cirúrgico durou 40 min, mas o paciente continuou anestesiado com a concentração de halotado mantida 1%, para realização de curativo. Ao término da anestesia a ave permaneceu intubada até que apresentasse reflexo palpebral e de deglutição. Passados 20min, foi observado elevação da cabeça e presença de consciência. Foi necessário mais 40 minutos para que a ave ficasse em estação. TABELA 1 – Parâmetros mensurados na ave e fluxo de halotano utilizado, durante anestesia. Tempo (min) FC (bpm) FR (mpm) 5 PS PD PM TC (°C) Fluxo Halotano (%) 84 8 ----- ----- ----- 40,6 3,5 10 91 8 209 172 185 40,4 3,5 c 85 12 209 171 183 40,3 3,5 a 80 16 197 161 175 ------ 3,0 75 16 203 152 172 40,2 2,5 73 16 196 130 158 ------ 2,5 35 72 16 197 126 154 40,3 2,5 40 71 16 193 142 159 ------ 2,5 45 64 16 197 139 162 40,2 2,0 50 66 16 198 134 161 ------ 2,0 d 65 16 198 134 161 40,3 2,0 60 65 16 199 140 160 ------ 2,0 65e 65 16 197 144 156 40,4 1,0 15 20 25 30 55 b OBS.: a presença de reflexo corneal, b ausência de reflexo corneal, c início da cirurgia, d final da cirurgia, e final da anestesia. 210 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 DISCUSSÃO Para a realização da anestesia e cirurgia, o avestruz foi mantido em jejum sólido durante 12 horas, o que, de acordo com Ludders (2001), é uma recomendação controversa. Em geral, aves não devem fazer jejum, mas em alguns casos é recomendado jejum por não mais do que 2 a 3 horas antes da anestesia, devido a sua alta taxa metabólica, pobre reserva de glicogênio hepático e pela possibilidade de desenvolver hipoglicemia durante a anestesia. Entretanto, a regurgitação e subsequente obstrução aérea podem ocorrer nas aves que não passaram por jejum. Alguns veterinários recomendam que aves com baixo peso recebam alimentação durante toda à noite. Na experiência do autor, o jejum durante toda à noite reduz a incidência de problemas associados à regurgitação, não sendo deletério para o animal quando este não se encontra em um balanço metabólico negativo, que pode predispor ao desenvolvimento de hipoglicemia. Para a contenção da ave antes da anestesia, foi utilizado um capuz para bloquear a visão. Conforme UOV (2008), os avestruzes jovens podem ser apanhados segurando as pernas firmemente acima do chão. No caso de animais adultos, a cabeça é apanhada e imediatamente é colocado um capuz, para que a visão do animal seja bloqueada. Uma vez bloqueada a visão, o animal sente-se completamente dominado, sendo possível conduzi-lo facilmente, através de uma pressão no corpo para baixo, para impedir que pule. Como medicação pré-anestésica, o avestruz recebeu midazolam e butorfanol ambos na dose de 0,5mg/kg IM, na mesma seringa. Guimarães e Morais (2000) relatam que a medicação pré-anestésica pode ser indicada para aves com pescoço longo para minimizar os traumas físicos, e antes da indução da anestesia com máscara para reduzir o estresse e agitação. Ludders (2001) comenta que pré-medicações como tranquilizantes, sedativos e analgésicos, são frequentemente utilizadas para a anestesia em aves, pois é reduzida a quantidade de anestésico inalado, necessário para manter a anestesia. O midazolam é frequentemente utilizado como tranquilizante e facilita a contenção e indução anestésica. Embora não exista nenhum estudo investigando seu efeito na concentração alveolar mínima (CAM), o que se sabe é que com o seu uso ocorre uma redução na quantidade requerida de anestésico inalatório, diminuindo a depressão cardiovascular, tipicamente associada a estes anestésicos. O butorfanol (1mg/kg IM) além de analgésico também possui efeitos na redução da CAM. Ludders e Matthews (1996) recomendam o midazolam, na dose de 0,4mg/kg por via IM e citam que este parece ser efetivo como MPA. Concordando com os autores acima o protocolo utilizado como MPA na contenção química do avestruz se mostrou satisfatório produzindo efeito analgésico, sedativo e relaxante muscular. A indução anestésica foi realizada com cetamina, na dose de 4mg/kg, administrada na veia jugular direita, concordando com Ludders e Mathews (1996) e Linn e Gleed (1987), que acreditam que a cetamina seja uma droga confiável, sendo que a dose da droga a ser administrada, varia de espécie a espécie, mas geralmente é inversalmente proporcional ao peso. Murphy e Fialkowski (2001) descrevem que injeção intravenosa Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 211 de cetamina induz rapidamente anestesia, sendo que quando se administra um benzodiazepínico previamente, a recuperação tende a ser tranquila, porém, mais lenta. Já a tiletamina-zolazepam, por via IM ou IV, produz indução satisfatória, mas a recuperação pode ser brusca e prolongada. Carroll (2001) indica a utilização de diazepam, no dose de 0,2 a 0,3mg/kg e a cetamina, na dose de 2,2mg/kg por via IV para a anestesia de avestruzes. A anestesia da ave foi mantida com anestésico inalatório, conforme sugestão de Linn e Gleed (1987) que descrevem esta técnica como método de escolha para procedimentos demorados, porque pode ser mantida por longo período de tempo, sendo que a profundidade da anestesia pode ser controlada. O anestésico inalatório utilizado foi o halotano, que de acordo com Bruning e Dolensek (1986) é um agente anestésico satisfatório para produzir anestesia geral em avestruzes. Já Bennett (1999) discorda, e considera o isoflurano o anestésico de escolha para as aves, sendo este totalmente excretado pelo sistema respiratório, e desencadeando mínimos efeitos nos sistemas e órgãos. Ludders et al. (1988), descrevem que a anestesia inalatória com halotano em oxigênio tem sido utilizada em várias espécies, porém causa alta incidência de arritmias e várias mortes em psitacídeos. Bennett (1999) cita que a indução anestésica utilizando halotano com concentração entre 2,5-3% em aves de grande porte ocorre em 2-4 minutos. Na manutenção anestésica é recomendada uma concentração de 0,5-1,5%, sendo que a recuperação anestésica se dá em 3-5 min após o fechamento do vaporizador. Bradicardia, hipotensão e hipotermia podem ocorrer com o uso do halotano, mas os problemas podem ser rapidamente solucionados, quando se finaliza a anestesia. Apesar de Ludders et al. (1988) e Goelz et al. (1990) comentarem que a anestesia inalatória com halotano tem sido utilizada em várias espécies de aves, porém causa alta incidência de arritmias (GREENLEES et al., 1990). Não foi observada nenhuma arritmia neste caso. Entre os parâmetros mensurados durante a anestesia do avestruz, foi observado FC entre 64-91 bpm, FR 8-16 mpm, PS 193-209, PD 126-172 e PM 154-185, conforme dados demonstrados na Tabela 1. Os valores coletados discordam dos valores encontrados por Ludders e Mathews, (1996). Utilizando midazolam (0,67mg/kg) e cetamina (6,8 mg/kg) para realização de imobilização, os autores observaram que a FC e FR, assim como a PS, PD e PM se mantiveram em valores menores do que os observados no avestruz do caso relatado. Isso pode ter relação com a idade das aves e com o procedimento realizado, já que a amputação é um procedimento mais invasivo. É importante ressaltar que as doses utilizadas para a anestesia não foram as mesmas e que o paciente era de menor tamanho. O avestruz se recuperou da anestesia, mantendo-se em estação1 hora ap do final do procedimento anestésico. Conforme Ludders e Matthews (1996) a recuperação anestésica, proveniente de uma anestesia inalatória é geralmente prolongada, mesmo quando todos os cuidados foram tomados para manter um plano anestésico superficial, ou quando se diminui a concentração do gás no final da cirurgia. Entretando, segundo 212 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Bennett (1992) o tempo de recuperação pode variar de três a cinco minutos, 9,8 ± 3,55 minutos (GUIMARÃES, 1999) e cinco e 15 minutos (SKARDA et al., 1995). CONCLUSÃO Os parâmetros mensurados de FC, FR, PS, PD, PM, presença ou ausência de reflexo corneal e temperatura cloacal, apresentaram-se dentro da média esperada para a espécie, não demonstrando alterações dignas de nota durante os períodos pré, trans e pós-anestésicos. Conclui-se que o protocolo anestésico estabelecido para o procedimento ortopédico em avestruz foi efetivo proporcionando uma anestesia com bom relaxamento muscular, livre de complicações, além de uma recuperação anestésica tranquila. REFERÊNCIAS BENNETT, R. A. Current Methods in Avian Anesthesia. In: ______. Anesthesia and Surgery Procedures in Birds, Reptiles and Small Mammals. Sorocaba, 1999. BENNETT, R. A. Current methods in avian anesthesia. In: ACVS VETERINARY SYMPOSIUM, 20, 1992, Miami. 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Recebido em: nov. 2008 214 Aceito em: abr. 2009 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 Normas editoriais Políticas e regras gerais A revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científica da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas técnicas referentes à área de Ciências Veterinárias, que a ela deverão ser destinados com exclusividade. É editada sob responsabilidade do Curso de Medicina Veterinária da Ulbra. Os artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas devem ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times New Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita 2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores. Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores. 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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO Título Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, em português e inglês. Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010 215 Autores Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido de informação sobre atividade profissional, maior titulação e lugar/ano de obtenção, Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail. Resumo e abstract O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panorama adequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após, indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação. Citações e referências Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exemplo: um único autor (SILVA, 1993); dois autores (SOARES; SILVA, 1994); mais de três autores (SOARES et al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES; SILVA, 1994; SILVA et al., 1998). Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023). Tabelas e figuras As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do texto, mas em tamanho menor. As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas. Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto. Endereço para correspondência Revista VETERINÁRIA EM FOCO Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 60 - Sala 01 São José / RS - Brasil CEP: 92425-900 E-mail: [email protected] Disponível eletronicamente www.ulbra.br/medicina-veterinaria/rfoco.htm 216 Veterinária em Foco, v.7, n.2, jan./jun. 2010