1 TÍTULO: COMPORTAMENTO SEXUAL DE SUJEITOS QUE VIVEM COM HIV/AIDS Marco de T. Scanavino Mestre e Doutor em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pesquisador e Coordenador Didático do Projeto Sexualidade (ProSex) - Instituto & Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo O funcionamento sexual é freqüentemente ignorado entre os cuidados dos sujeitos que vivem com o HIV/aids. Geralmente a informação sobre a influência dos fatores hormonais, psicológicos, medicamentos, fase da doença no funcionamento sexual dos soropositivos é pouco comentada.1 A sexualidade dos portadores do vírus HIV é influenciada por suas condições físicas ou psicológicas. Podem se deparar com a ausência de parceiros sexuais, particularmente ao revelarem seus “status” sorológicos. Como também podem ser surpreendidos por sentimentos de perda de atratividade sexual. Igualmente, a expressão sexual dos sujeitos soropositivos pode ser influenciada por medo ou culpa em vir a contaminar as parcerias. 1 Em estudo com 50 homens vivendo com HIV/aids, as mudanças na vida sexual dos pacientes geralmente se relacionavam a sintomas psicológicos e níveis séricos alterados de testosterona e 60% deles referiam que o interesse na atividade sexual diminuíra desde que souberam da soropositividade. O grupo de pacientes com sintomas de aids revelou humor mais negativo, piora da imagem corporal e da satisfação sexual, quando comparados ao grupo apenas soropositivo.1 As disfunções sexuais mais comuns em mulheres soropositivas são: desejo sexual hipoativo, anorgasmia e dispareunia. Estão francamente associadas a fatores psicogênicos 2 e a imagem corporal negativa devido a alterações físicas provocadas pelos medicamentos.2 Pesquisando o comportamento sexual dos sujeitos HIV positivos, além das disfunções sexuais, encontramos elevadas taxas de infecção HIV em portadores de transtornos da identidade de gênero.3 nesse sentido, observaram-se a freqüência de 68% de infecção pelo vírus HIV em transexuais profissionais do sexo em Atlanta, numa amostra de 53 sujeitos4, o que foi muito maior que os 27% de soropositividade encontrado numa outra amostra de 152 homens profissionais do sexo na mesma cidade.5 Os aspectos identificados como específicos para maior vulnerabilidade dos portadores de transtornos da identidade sexual com relação à infecção por HIV são: conflitos com a identidade sexual, vergonha e isolamento, clandestinidade, busca de afirmação, comportamento sexual compulsivo, prostituição e compartilhamento de agulhas para injetar hormônios.6 Também os portadores de comportamento sexual compulsivo encontram-se mais vulneráveis à contaminação pelo vírus HIV ao se engajarem freqüentemente em práticas sexuais com múltiplas parcerias7 e, muitas vezes, devido a impulsividade aumentada, sem as devidas precauções. Portanto, torna-se cada vez mais evidente que os transtornos sexuais são subdiagnosticados nos sujeitos que vivem com HIV/aids. Deste modo, recomenda-se revisar a história da vida sexual destes pacientes a cada seis meses. A avaliação deve ser abrangente, para além do questionamento sobre comportamento sexual de risco. Deve envolver uma pesquisa sobre: uso de medicamentos e drogas lícitas e ilícitas, níveis hormonais, presença de sintomas psíquicos, alteração da imagem corporal, fase da evolução da doença, e, principalmente, integridade do ciclo de resposta sexual (disfunções sexuais), presença de impulsividade sexual exacerbada e dificuldades envolvendo aceitação da identidade e orientação sexual. Dessa forma, estaremos não só caminhando para ampliar a qualidade de vida sexual dos portadores como também para implementar o controle da propagação da epidemia. 3 REFERÊNCIAS 1. Newshan G, Taylor B, Gold R. Sexual functioning in ambulatory men with HIV/AIDS. Int J STD AIDS. 1998;9(11):672-6. 2.Hijazi L, Nandwani R, Kell P. Medical management of sexual difficulties in HIVpositive individuals. Int J STD AIDS. 2002;13(9):587-92. 3. Kenagy GP. HIV among transgendered people. AIDS Care. 2002;14(1):127-34. 4. Elifson KW, Boles J, Posey E, Sweat M, Darrow W, Elsea W. Male transvestite prostitutes and HIV risk. Am J Public Health. 1993;83(2):260-2. 5. Elifson KW, Boles J, Sweat M, Darrow WW, Elsea W, Green RM. Seroprevalence of human immunodeficiency virus among male prostitutes. N Engl J Med. 1989;321(12):832-3. 6. Bockting WO, Robinson BE, Rosser BR. Transgender HIV prevention: a qualitative needs assessment. Aids Care. 1998;10(4):505-25. 7. Kafka MP, Hennen J. The paraphilia-related disorders: an empirical investigation of nonparaphilic hypersexuality disorders in outpatient males. J Sex Marital Ther. 1999;25(4):305-19.