Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir

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TRABALHO DE PESQUISA
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares
Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em
Pacientes na Faixa Etária de 8-10 Anos Naturais
de Teresina-PI
Cephalometric Analysis of the Probability of Lower Third Molar
Eruption in Patients 8 to 10 Years of Age from Teresina - PI
Ary dos Santos-Pinto*
Marina de Deus Moura**
Wagner Leal de Moura***
Paulo Vasconcelos de Carvalho****
Barbara Lorenzon Bohrer*****
Santos-Pinto A dos, Moura M de D, Moura WL de, Carvalho PV de, Bohrer BL. Probabilidade de erupção dos terceiros molares inferiores a partir
da distância Xi-D7 em pacientes na faixa etária de 8-10 anos naturais de Teresina-PI. J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9.
Os terceiros molares constituem-se em uma das grandes preocupações do Cirurgião-dentista. Tendo em
vista a alta prevalência desses dentes impactados ou inclusos, cabe, principalmente aos Ortodontistas,
a decisão sobre extrações, enucleações, bem como a idade ideal para tais procedimentos. O propósito
deste trabalho foi avaliar a freqüência de cada uma das três situações propostas por Turley, para a
previsão de erupção dos terceiros molares inferiores, a partir da distância Xi-Distal dos segundos
molares (D7), em pacientes naturais de Teresina, PI, na faixa etária de 8-10 anos, bem como associar
essa probabilidade de erupção ao padrão facial. Foram utilizadas telerradiografias cefalométricas de
113 pacientes, sendo 51 do sexo masculino e 62 do sexo feminino, e os traçados e mensurações foram
obtidos através do método computadorizado Radiocef 1.0. Os resultados mostraram que 95,58%
dos pacientes apresentaram a distância Xi-D7 menor que 20mm, indicando a impossibilidade de
erupção; 4,42% apresentaram Xi-D7 maior que 20 e menor que 30, o que significa possibilidade
parcial de erupção e nenhum paciente mostrou previsão de erupção normal dos terceiros molares
(Xi-D7 maior que 30). Observou-se, ainda, a ausência de associação entre os espaços medidos para
os terceiros molares e o padrão facial.
PALAVRAS-CHAVE: Impacção; Terceiros molares; Probabilidade de erupção; Padrão facial.
INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA
Os terceiros molares, como resultado do processo evolutivo da espécie humana, constituem-se
em uma das grandes preocupações do Cirurgião- grande número desses dentes impactados e, quandentista e notadamente dos Ortodontistas, que do é chegada a idade na qual o processo eruptivo
mais freqüentemente são postos diante da decisão se inicia, não resta alternativa que não seja a sua
sobre extrações, enucleações ou manutenção dos eliminação, quase sempre traumática, pois embora
mesmos. Nos dias atuais, deparamo-nos com um exista a controvérsia sobre possíveis apinhamentos
que esses dentes poderiam provocar, outros moti*Professor Adjunto do Departamento de Clínica Infantil – Disciplina de Ortodontia – Faculdade de Odontologia de
Araraquara – UNESP; Rua Humaitá, 1680 – CEP 14801-903, Araraquara-SP; e-mail: [email protected]
**Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP
– Araraquara; Estagiária do Departamento de Clínica Infantil – Disciplina de Ortodontia – Faculdade de Odontologia de
Araraquara – UNESP
***Professor Adjunto IV do Departamento de Patologia e Clínica Odontológica – Disciplinas de Ortodontia e Clínica
Integrada Infantil – Universidade Federal do Piauí – UFPI
****Professor Adjunto IV do Departamento de Patologia e Clínica Odontológica – Disciplina de Radiologia –
Universidade Federal do Piauí – UFPI
*****Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia – Associação Paulista de Cirurgiões-dentistas – Araraquara;
Estagiária do Departamento de Clínica Infantil – Disciplina de Ortodontia – Faculdade de Odontologia de Araraquara
– UNESP
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa Etária
de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
vos profiláticos, como infecção, dor, cáries, reabsorção
radicular, apinhamento dentário, processos císticos e
tumores odontogênicos benignos ou malignos justificam
a não-manutenção de terceiros molares inclusos ou
malposicionados nas arcadas dentárias.
Punwutikorn et al. (1999), através de um estudo
retrospectivo, avaliaram os principais sinais e sintomas
associados aos terceiros molares completa ou parcialmente impactados. Concluíram que dor e pericoronarite
foram os problemas mais comumente relacionados a
esses dentes.
Dentre os pesquisadores que isentam os terceiros
molares de provocarem apinhamentos, destaca-se Broadbent (1943). Baseado nas evidências cefalométricas
do estudo de Bolton, este afirmou que a impacção
dos terceiros molares não ocasiona apinhamento nos
incisivos inferiores, mas deve-se ao crescimento mandibular tardio. Essas afirmativas são corroboradas por
Hixon (1972) e Bjork, Srieller (1972), que, estudando o
desenvolvimento facial e a irrupção dos dentes no período circumpuberal, não relacionaram o apinhamento
dos incisivos inferiores com a irrupção dos terceiros
molares.
Contrariando as afirmações acima, Vego (1962),
utilizando registros seriados de casos sem tratamento
da Fundação Bolton, verificou que a perda do perímetro do arco aconteceu por volta de 0,8mm, mais
nos casos com terceiros molares do que naqueles
com agenesia desses dentes. Segundo o autor, esse
valor demonstrou ser estatisticamente significativo. O
trabalho mostrou ainda que a probabilidade de uma
perda de mais de 3mm acontecia em 8% dos casos
sem terceiros molares, essa probabilidade era de 33%,
ou seja, quatro vezes maior.
Independentemente de provocarem ou não apinhamento, é fato notório que há alta incidência de
terceiros molares impactados. Bjork (1969) considera
que, dentre os pacientes que apresentam os terceiros
molares, cerca de 45% ficam impactados. Mesmo entre
os que chegam a irromper, são comuns complicações
periodontais, interferências oclusais e pericoronarites,
restando uma pequena parcela da população com os
terceiros molares em condições favoráveis, sem necessidade de extração.
Parece não haver dúvida sobre a necessidade de
extração dos terceiros molares na grande maioria dos
pacientes. Existem, porém, duas importantes questões
pertinentes: a primeira é qual a melhor época para a
extração, e a segunda é se é possível prever precocemente, dos 8-9 aos de idade, a futura impacção desses
dentes. A resposta para a primeira questão pode ser
dada pela experiência de Ricketts (1983), que considera
a enucleação dos germes dos terceiros molares entre
os 8 e 9 anos de idade muito menos traumática do que
se aguardasse o desenvolvimento total do dente e sua
impacção. Ganss (1993) afirma ainda que a remoção
264
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
precoce desses dentes apresenta muitas vantagens,
como: desenvolvimento radicular incompleto, espaço
pericoronário amplo, grande distância do dente ao
nervo alveolar inferior ou seio maxilar e menor chance
de complicações pós-operatórias, como infecções e
problemas sistêmicos.
Quanto ao segundo questionamento, vários autores apresentaram métodos para a previsão de espaço
para os terceiros molares, porém o que tem sido mais
utilizado é o método de Ricketts (1983), apresentado
por Turley (1974) apud Olive, Basford (1981), que utilizou a distância entre o centro do ramo mandibular,
representado pelo ponto Xi, e a superfície distal do 2º
molar inferior. Em seu trabalho, o autor concluiu que
as distâncias médias foram: 21mm para dentes que
ficariam retidos; 25mm para dentes que irromperiam
parcialmente ou malposicionados; e 30mm para os
irrompidos em boa oclusão. O autor ainda pôde comprovar uma boa relação entre as retenções previstas e
as realmente observadas.
Mollaoglu et al. (2002), através da utilização de
radiografias panorâmicas estandardizadas, compararam
diferentes parâmetros de pacientes com terceiros molares erupcionados e não-erupcionados. Foram avaliados:
angulação do dente, nível de erupção, desenvolvimento
da raiz, profundidade mésio-distal da coroa, espaço
retromolar e ângulo goníaco. Concluíram que a angulação mésio-distal dos terceiros molares foi significativamente maior, enquanto que o espaço retromolar foi
significativamente menor no grupo impactado. O valor
médio do espaço retromolar para o grupo impactado foi
de 9,4mm (DP±2,8mm) e, para o grupo erupcionado,
foi de 15,3mm (DP±2,4mm), sendo que a diferença de
5,9mm foi considerada estatisticamente significante
(p<0,05).
Outro aspecto que pode reforçar as tentativas
de previsão é a análise do padrão facial do paciente.
Sabe-se que os pacientes com padrão vertical – ou
dolicofaciais – apresentam maiores probabilidades de
impacção dos terceiros molares. Essas afirmações foram
confirmadas por Forsberg (1988).
Ledyard (1953), estudando radiografias cefalométricas laterais, concluiu que, após os 14 anos, pode ser
esperado um aumento menor que 2mm no espaço entre
o segundo molar e o ramo e que, após os 16 anos, esse
aumento é insignificante.
Em um estudo com 134 pessoas, Hattab et al.
(1999) investigaram variáveis nos terceiros molares e
nas dimensões dos arcos, relacionadas com a impacção dos terceiros molares. Foram avaliados: inclinação
mésio-distal dos terceiros molares, nível de erupção,
profundidade mésio-distal da coroa, quantidade de
formação radicular, espaço retromolar, proporção de
profundidade espaço/coroa, ângulo goníaco. Esses autores concluíram que espaço insuficiente é a variável
mais associada com a impacção desses dentes.
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa
Etária de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
O efeito da extração de pré-molares no espaço
assim como a distância Xi-D7. Para a classificação do
para os terceiros molares inferiores também foi amplapadrão facial (dolico, meso ou braqui), foram utilizados
mente estudado. Herzberg (1960) apud Freitas (1989)
os ângulos basal superior, basal inferior, plano palatal.
escreveu que, mesmo com a extração dos pré-molares,
SN, SN.Ba, SN-GoGn (Tabela 1). Os dados foram
muitas vezes falta espaço para os terceiros molares,
submetidos a tratamento estatístico para: 1) verificar a
porém eles erupcionam com mais freqüência que nos
distribuição da distância Xi-D7; 2) verificar a associação
casos sem extração. Perlow (1964) argumentou que,
entre distâncias Xi-D7 e tipos craniais por meio de teste
com a extração de pré-molares, o segmento lateral do
qui-quadrado; 3) verificar a associação entre a distância
arco se movimenta para frente durante o tratamento e,
Xi-D7 e eixo Y por meio de teste qui-quadrado
dessa forma, permite maior espaço para os terceiros
molares inferiores. Por outro lado, McCoy, em 1965,
RESULTADOS
relatou que, na maioria dos casos observados, os
Situação 1 – Distribuição da distância XiD7
terceiros molares permaneceram impactados mesmo
com a extração dos terceiros molares. Em sua opinião,
Conforme resumido na Tabela 2 e Gráfico 1,
os terceiros molares inferiores deveriam ser extraídos
não se encontrou na amostra nenhum caso em que a
assim como os superiores, já que estes últimos não
distância Xi-D7 fosse maior que 30mm. Dos pacientes,
teriam com que ocluir.
95,58% apresentaram a distância Xi-D7 menor que
Esta breve revisão de literatura deixa claro
TABELA 1: Ângulos utilizados para a classificação do padrão facial.
que os terceiros molares são, no mínimo, uma
Ângulo
Pontos
Braqui
Meso
Dolico
preocupação; que o grande número de pacientes
o
o
Ângulo
basal
superior
Cls
Cli.
Ena
Enp
<60
60
a
71
>71o
com esses dentes impactados ou apresentando
Ângulo basal inferior
GoMe. Enp Ena
<15o
15 a 31o
>31o
qualquer outra irregularidade justifica as tentatiPlano palatal. SN
Ena – Enp.SN
<4,5o
4,5 a 11,5o >11,5o
vas de previsão do espaço disponível, para que,
SN.Ba
SN.Ba
<122o 122 a 136o >136o
o
SN.GoGn
SN.GoGn
<24
24 a 38o
>38o
pelo menos naqueles casos de extrema falta de
espaço, possam ser realizadas as enucleações,
que, sem dúvida, são muito menos traumáticas,
já que os germes se posicionam bem mais su20mm e, quando distribuído por sexo, o percentual fiperficialmente em relação ao mesmo dente totalmente
cou em 94,12% para o sexo masculino e 96,77% para o
calcificado, o qual, muitas vezes, pode já ter causado
feminino. O resultado mostrou que, na distribuição por
danos ao paciente.
idade, os pacientes de 8 anos representaram 96,67%;
os de 9 anos, 97,50%; e os de 10 anos, 93,02%, com
a distância Xi-D7 igual ou menor que 20mm.
PROPOSIÇÃO
Os pacientes cuja distância Xi-D7 está compreendi1. Avaliar a incidência de cada uma das três
da entre 20 e 30mm representam 4,42% da amostra. Nesse
situações propostas por Turley, para a previsão de
mesmo grupo, quando distribuído por sexo, o resultado
erupção dos terceiros molares inferiores, a partir da
foi 5,88% para o masculino e 3,23% para o feminino. Na
distância Xi-D7 em pacientes naturais de Teresina-PI,
distribuição por idade, encontraram-se 3,33% nos de 8
na faixa etária de 8-10 anos.
anos, 2,5% nos de 9 anos e 6,98% nos de 10 anos.
2. Associar a probabilidade de erupção dos
terceiros molares ao padrão facial, representado pelo
Situação 2 – Distância Xi-D7 associada aos
eixo Y (NS-Gn), bem como pela classificação emitida
tipos
craniais
pelo programa Radiocef 1.0, em dolico, meso ou
A Tabela 3 e o Gráfico 2 mostram que 14,16%
braquifacial.
dos casos têm o tipo dolicofacial; 80,53%, mesofacial; e 5,3%, braquifacial. Quando esses valores se
confrontaram com as distâncias Xi-D7 encontradas
MATERIAL E MÉTODO
através do chi-square-test, não foi encontrada a referida
Foram utilizadas telerradiografias cefalométricas
associação.
em norma lateral de 113 pacientes, na faixa etária de
Situação 3 – Distância Xi-D7 associada ao
8 a 10 anos, naturais de Teresina, Piauí. A imagem
eixo
Y
(NS-Gn)
radiográfica foi escaneada utilizando-se o escaner Agfa
O exame da Tabela 4 e do Gráfico 3 mostrou a
Snap Scan 12361 e o programa Radiocef 1.0. Os pontos
seguinte distribuição para o eixo Y (NS-Gn): 26,55%
necessários para obtenção dos dados foram digitalizados pacientes com Y maior que 69°; 46,9% com Y=67
dos diretamente na tela do computador, com auxílio do
mais ou menos 2; e 26,55% com esse ângulo medindo
mouse e seguindo as definições contidas no programa
valor inferior a 65°. A associação desses valores com
Radiocef 1.0. Os dados referentes ao eixo Y e classifias medidas encontradas para a distância Xi-D7 não
cação dos tipos craniais foram obtidos pelo programa,
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
265
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa Etária
de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
existiu, segundo o método estatístico utilizado, o chisquare-test.
DISCUSSÃO
Os terceiros molares inferiores são os dentes
que mais freqüentemente permanecem impactados.
A incidência de impacção desses dentes varia consideravelmente entre as diferentes populações (de 9,5 a
39%). O desenvolvimento dos terceiros molares e sua
influência no arco dentário representam preocupação
na clínica ortodôntica. Terceiros molares impactados ou
TABELA 2: Previsão de erupção de 3os molares pelo método de Ricketts (Xi-D7), segundo o sexo e faixa etária. Teresina (PI), 1991PROBABILIDADE DE ERUPÇÃO
SEXO
Total
IDADE
Xi-D7 < 20
%
nº
48
94,12
60
96,77
108
95,58
29
96,67
39
97,50
40
93,02
108
95,58
Masculino
Feminino
8 anos
9 anos
10 anos
Total
20<Xi-D7<30
nº
%
3
5,88
2
3,23
5
4,42
1
3,33
1
2,50
3
6,98
5
4,42
Total
nº
51
62
113
30
40
43
113
%
100
100
100
100
100
100
100
TABELA 3: Tipo cranial segundo o sexo e faixa etária. Teresina(PI), 1991-2001.
TIPO CRANIAL
Dolico
SEXO
Total
IDADE
Masculino
Feminino
8 anos
9 anos
10 anos
Total
nº
6
10
16
4
6
6
16
Meso
%
11,76
16,13
14,16
13,33
15,00
13,95
14,16
nº
44
47
91
26
31
34
91
%
86,27
75,81
80,53
86,67
77,50
79,07
80,53
Braqui
nº
%
1
1,96
5
86,06
6
5,31
0
0
3
7,50
3
6,98
6
5,31
Total
nº
%
51
62
113
30
40
43
113
Y<65º
nº
%
7
13,73
23
37,10
30
26,55
10
33,33
10
25,00
10
23,26
30
26,55
Total
nº
%
51
100
62
100
113
100
30
100
40
100
43
100
113
100
100
100
100
100
100
100
100
TABELA 4: Eixo Y (NS-Gn), segundo o sexo e faixa etária. Teresina (PI), 1991-2001.
EIXO Y
Y>69°
SEXO
Masculino
Feminino
Total
IDADE
Total
266
8 anos
9 anos
10 anos
nº
14
16
30
9
10
11
30
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
%
27,45
25,81
26,55
30,00
25,00
25,58
26,55
Y=67º ± 2
nº
%
30
58,82
23
37,10
53
46,90
11
36,67
20
50,00
22
51,16
53
46,90
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa
Etária de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
100%
100%
90%
90%
80%
80%
70%
70%
Braqui
60%
60%
20 mm < Xi-D7 < 30 mm
Xi-D7 < 20 mm
50%
Meso
50%
40%
40%
30%
30%
20%
Dolico
20%
10%
10%
0%
Masculino
Feminino
0%
8 anos
GRÁFICO 1: Previsão de erupção de terceiros molares – método
de Ricketts (Xi – D7), segundo o sexo. Teresina (PI), 1991-2001.
9 anos
10 anos
GRÁFICO 4: Tipo cranial, segundo a faixa etária. Teresina (PI),
1991-2001.
100%
90%
100%
80%
90%
80%
70%
70%
60%
20 mm < Xi-D7 < 30 mm
60%
Xi-D7 menor ou igual a 20
mm
50%
Y < 65°
Y = 65° a 69°
Y > 69°
50%
40%
40%
30%
30%
20%
20%
10%
10%
0%
0%
8
anos
9
anos
Masculino
10
anos
GRÁFICO 2: Previsão de erupção de terceiros molares – método
de Ricketts (Xi – D7), segundo a faixa etária. Teresina (PI),
1991-2001.
Feminino
GRÁFICO 5: Eixo Y (NS-Gn), segundo o sexo. Teresina (PI),
1991-2001.
100%
100%
90%
90%
80%
80%
70%
70%
Y < 65°
60%
60%
Braqui
Y = 67°± 2
50%
Y > 69°
Meso
50%
Dolico
40%
40%
30%
30%
20%
20%
10%
10%
0%
0%
8 anos
Masculino
9 anos
10 anos
Feminino
GRÁFICO 3: Tipo de crânio, segundo sexo. Teresina (PI),
1991-2001.
semi-impactados são associados a patologias, incluindo:
pericoronarite, lesão cística, tumores, cáries dentais,
periodontites, infecções periapicais e reabsorção de
dentes adjacentes. Alguns autores acreditam, ainda, que
os terceiros molares podem interferir no alinhamento dos
incisivos e na estabilidade do tratamento ortodôntico. Por
outro lado, a manutenção desses dentes no arco pode
GRÁFICO 6: Eixo Y (NS-Gn), segundo a faixa etária. Teresina
(PI), 1991-2001.
ser benéfica como elemento adicional de ancoragem
ortodôntica ou dente de apoio para próteses, e ainda ser
utilizado para transplantação em áreas desdentadas.
Os Cirurgiões-dentistas geralmente têm dificuldade em decidir quando um terceiro molar assintomáJ Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
267
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa Etária
de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
tico deve ser removido. O entendimento do processo
eruptivo desses dentes e dos fatores que o influenciam
torna-se essencial na decisão sobre a manutenção ou
a extração desses dentes.
Segundo Hattab (1997), o espaço para o terceiro molar deve-se ao movimento distal da dentição e à reabsorção
da borda anterior do ramo mandibular. Entretanto, mesmo
que o espaço presente seja suficiente, a erupção não
pode ser garantida, pois outros fatores estão envolvidos.
Entre estes, podem ser citados o padrão de crescimento
esquelético, a direção de erupção da dentição, extrações
dentárias efetuadas, a configuração radicular e o estágio
de maturação dos terceiros molares. Entretanto, o fator
mais importante parece ser o espaço existente na região
retromolar (distal ao segundo molar).
O processo de desenvolvimento dos terceiros
molares, o estágio de impacção, as mudanças no seu
posicionamento e formas de predição de erupção têm
sido amplamente estudados. Henry, Morant, em 1936
(apud Murtomaa, Ylipaavalniemi, 1997), foram os
primeiros a estudar a probabilidade de erupção dos terceiros molares. Os estudos posteriores, na sua maioria,
utilizaram dados obtidos de telerradiografias cefalométricas laterais, porém radiografias interproximais, anteroposteriores e periapicais também têm sido utilizadas.
Ricketts (1983) defende que a probabilidade de
impacção deve-se, basicamente, ao espaço existente
na região retromolar. Estudando 74 casos tratados ortodonticamente, mostrou que deveria haver uma distância
mínima do ponto Xi (ponto central do ramo mandibular)
até a superfície distal do segundo molar inferior (D7),
para que ocorresse a erupção dos terceiros molares.
O valor crítico encontrado pelo autor foi de 25mm,
valores acima de 30mm indicavam que os terceiros
molares teriam chance de erupção em posição favorável e valores abaixo de 20mm significariam alto grau
de probabilidade de que estes dentes permaneceriam
impactados.
Os estudos de Ricketts (1983) e Schulhof (2003)
mostraram ser possível predizer o crescimento mandibular e o espaço disponível na região retromolar numa
idade precoce, aos oito anos, e sua remoção profilática
(germectomia) deveria ser realizada se a impacção fosse
provável. Eles afirmavam, ainda, que a remoção dos
terceiros molares numa idade precoce causava menos
complicações cirúrgicas e pós-operatórias.
Numa análise dos principais resultados encontrados
no presente estudo, pode-se observar que, na totalidade
dos casos, inexiste, segundo o método estudado, possibilidade de erupção normal dos terceiros molares inferiores, sendo que para 95,58% dos pacientes esses dentes
tendem a permanecerem totalmente inclusos (Tabela 2
e Gráficos 1 e 2). Esses resultados, embora representem
apenas previsões em pacientes que continuarão a crescer, reforçam as preocupações de diversos estudiosos do
assunto, desde Bjork (1969), que já afirmara existirem
pelo menos 50% dos pacientes cujos terceiros molares
resultariam impactados. Na literatura pesquisada, não
encontramos estudos de percentuais semelhantes aos do
presente trabalho, porém os resultados mostram valores
que justificam as preocupações diárias dos Ortodontistas,
indicando necessidade de extrações de terceiros molares
na grande maioria dos seus pacientes.
Apesar de nossos resultados não haverem demonstrado associação entre a probabilidade de erupção e o padrão facial, como afirmou Capelli Jr. (1991),
acreditamos que o assunto merece um estudo mais
aprofundado e específico.
CONCLUSÕES
1. Dentre os casos estudados, quase a totalidade
(95,58%) apresentou valores medidos para Xi-D7, que
demonstram total impossibilidade de erupção. Apenas
4,42% apresentaram possibilidade parcial de erupção.
Nenhum caso mostrou possibilidade de erupção com
bom posicionamento.
2. Pelo método estudado, não houve associação
entre os espaços medidos para os terceiros molares e
o padrão facial.
Santos-Pinto A dos, Moura M de D, Moura WL de, Carvalho PV de, Bohrer
BL. Cephalometric analysis of the probability of lower third molar eruption
in patients 8 to 10 years of age from Teresina – PI. J Bras Ortodon Ortop
Facial 2004; 9(51):263-9.
The third molars represent one of the greatest
concerns of the Dentist. Considering the
high prevalence of these teeth impaction or
inclusion, the Orthodontist should decide
about extraction, enucleation, as well as the
ideal age for these procedures. The purpose of this research was to evaluate the frequency of the three situations
proposed by Turley, for the prediction of lower third molar eruption using Xi-D7 (distal of the second molars)
distance, as well as the association of this prediction of eruption with the facial pattern. It was used lateral
cephalometric radiograph of 113 patients (51 male and 62 female), 8 to 10 years of age, from Teresina, PI. The
data were obtained through a computerized method (Radiocef 1.0 program), using scanned image and screen
point determination. The results showed that 95,58% of the patients presented the distance Xi-D7 smaller than
20mm, which indicates no probability of eruption; 4,42% presented Xi-D7 between 20 and 30mm, showing
small probability of eruption, and no patient showed favorable prevision of lower third molar eruption (Xi-D7
greater than 30mm). The results did not showed association between the Xi-D7 measurement and the facial
pattern, neither.
KEYWORDS: Impaction; Third molars; Eruption probability; Facial pattern.
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J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(51):263-9
Probabilidade de Erupção dos Terceiros Molares Inferiores a Partir da Distância Xi-D7 em Pacientes na Faixa
Etária de 8-10 Anos Naturais de Teresina-PI
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Recebido para publicação em: 22/11/02
Enviado para análise em: 05/12/02
Aceito para publicação em: 22/07/03
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