Rev Panam Infectol 2006;8(4):50-51 PUNTO DE VISTA/PONTO DE VISTA Sobre a vacina contra o HPV About the vaccine against HPV Hélio Vasconcellos Lopes* * Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. Chefe da Enfermaria de Doenças Infecciosas do Hospital Mario Covas. Rev Panam Infectol 2006:8(4):50-51 Recibido el 4/12/2006. Aceptado para publicación el 10/12/2006. 50 O vírus do papiloma humano (HPV) é o de mais comum transmissão sexual. Existem cerca de 100 tipos de HPV. Cerca de 20 milhões de indivíduos, nos EUA, estão infectados. A grande maioria das infecções pelo HPV é assintomática; contudo, as lesões verrucosas (verruga genital, condiloma acuminado) são freqüentes e, mais raramente, o sexo feminino pode exteriorizar câncer cervical (CC). A cada ano, nos EUA, cerca de 10.000 mulheres adquirem o CC e, destas, 3.700 vão a óbito. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (InCa) refere 19.000 casos de CC anualmente, com 4.000 óbitos. Em todo o mundo, são estimadas cerca de 290.000 mortes por CC anualmente. É a segunda causa de mortes por câncer em mulheres em todo o mundo. Mais raramente, diversos outros tipos de câncer devidos ao HPV podem ocorrer, em ambos os sexos. Estima-se que mais de 50% dos indivíduos (mulheres e homens) sexualmente ativos estejam infectados em algum momento de suas vidas. A presença do vírus é maior na faixa etária situada entre 14 e 19 anos(5). Não existe tratamento específico para a erradicação do vírus, mas apenas medicação para eliminar os sintomas por ele causados. Neste ano, o ACIP (Advisory Committee on Immunization Practices), órgão responsável pela montagem dos planos de vacinação nos EUA, incluiu a vacina contra o HPV em sua rotina (Gardasil®, Merck Sharp & Dohme). Esta vacina está em fase de liberação pela Anvisa, no Brasil. Esta primeira vacina contra o HPV é inativada e tetravalente recombinante, imunizando contra quatro tipos de HPV: 6, 11, 16 e 18. Seu efeito protetor é válido por cinco anos. Inúmeros trabalhos têm mostrado que os tipos 6 e 11 não são causadores potenciais de CC, mas são responsáveis por 90% das lesões condilomatosas. Já os tipos 16 e 18 são os que respondem por cerca de 70% dos casos de CC. Como exemplo, a presença dos genótipos considerados de alto risco para CC foi avaliada (4): neste trabalho, a detecção de 283 pacientes com CC mostrou a prevalência do HPV-16 em 71,7%, do HPV-18 em 17,2% e de outros genótipos (HPV-31, 33, 35, 45 e 58) em menores percentuais. Estes dados, semelhantes aos de outros autores, indicam uma significativa redução dos CC em pacientes imunizadas. Uma segunda vacina, bivalente, contendo apenas os tipos 16 e 18 (Cervarix®, GlaxoSmithKline) está em fase de licenciamento nos EUA. Lopes HV • Sobre a vacina contra o HPV Indicações da vacina: Nos EUA, o Gardasil® foi incluído este ano no esquema de vacinação para adultos, indicado para todas as mulheres com idade até 26 anos, com a exclusão das grávidas. Contudo, a vacina é recomendada para meninas com 11 a 12 anos de idade, mas pode ser iniciada a partir dos 9 anos de idade. São três doses: a primeira, após dois meses a segunda e após seis meses a terceira, todas contendo 0,5 ml, administrados por via intramuscular; pode, inclusive, ser administrada concomitantemente com outras vacinas. A vacina deve ser administrada idealmente antes de duas situações: antes de qualquer exposição a contato sexual e, conseqüentemente, em meninas não infectadas. É contra-indicada em grávidas. O papel da vacina nos Brasil: Embora se trate de um grande progresso, esta vacina deixa em aberto algumas questões: 1. Devido ao seu alto custo (cerca de 120 dólares/ dose nos EUA) e pela recomendação de três doses (360 dólares/paciente ou cerca de R$ 800,00), esta vacina fica inviabilizada em nível de saúde pública. 2. Mesmo mulheres devidamente vacinadas necessitam ser triadas para CC porque a vacina não protege contra todos os tipos de HPV que causam CC. 3. A vacina deve ser dada a mulheres antes do primeiro contato sexual, porque a quase totalidade delas ainda não foi infectada pelo HPV. Nestas mulheres, a vacina pode alcançar até 100% de eficácia. Entretanto, caso a menina ou mulher já tenha sido infectada com um tipo de HPV, a vacina não irá prevenir CC causado por esse tipo. 4. O sexo masculino, embora em percentuais muito menores, permanece exposto ao risco de contrair câncer de pênis ou de ânus, pelos HPV. 5. O “prazo de validade”, isto é, a proteção vacinal conferida é de cinco anos. E depois? Referências 1. Atualização: Anvisa aprova vacina contra quatro tipos do HPV. Jornal do Cremesp, setembro 2006. 2. CDC. Human Papillomavirus (HPV) Vaccine, www.cdc. gov/std/hpv, em 09/05/06. 3. ACIP Provisional Recommendations for the Use of Quadrivalent HPV Vaccine. MMWR, November 2006. 4. Pretet JL et al. Human Papillomavirus (HPV) genotype distribution in Invasive Cervical Cancers (ICC) in France: Results of the EDITH Study. Abstract, 44th IDSA. 2006 October;195. 5. Datta D et al. Sentinel Surveillance for High-Risk Human Papillomavirus (HR-HPV) Among Women in the USA, 2003-2005: Implications for a Vaccination Strategy. Abstract, 44th IDSA. 2006 October;68. Correspondência: Dr. Hélio Vasconcelos Lopes Av. Brigadeiro Luís Antonio, 4.178 CEP 01402-002 - São Paulo - SP - Brasil. e-mail: [email protected] 51