Teatro na Pré-Escola: a imitação da vida Rosângela Delage Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Formada em Orientação Educacional pela Universidade de Nice/França. Pedagoga pela UNIMONTE/Santos. Atua com formação de professores ministrando cursos e palestras. A criança tem inata a tendência de teatralizar. Em suas brincadeiras, a criança está freqüentemente dramatizando, fazendo teatro, imitando em seu mundo-miniatura. Drama é uma palavra grega que significa ação. A criança tem necessidade de ação, tem curiosidade própria e isto deve ser aproveitado na dramatização, bem como na educação de um modo geral. O objetivo do teatro na Pré-Escola não é de formar artistas, é proporcionar à criança uma oportunidade de se expressar livremente; vivenciar o conteúdo que aprende, treinar sua postura diante das mais diversas situações; controlar movimentos, timbre de voz, expandir suas vontades e desejos; desenvolver o aparelho fonético; desinibir os mais tímidos; incorporar na criança comportamentos desejáveis; assimilar conceitos. O teatro, na qualidade de recurso didático, é um dos mais ricos existentes, infelizmente não tão usado quanto deveria. Você pode usar o teatro como uma eficiente técnica de ensino, recurso motivador de inúmeras atividades, para qualquer faixa-etária. O maior problema encontrado, na maioria das vezes, consiste na maneira de introduzir o teatro na sala de aula sem comprometer o seu tempo, sem fugir do assunto que deve ser ensinado, sem anarquias. Precisamos nos conscientizar, como professores, que representar é uma arte, 1 que deve ser trabalhada meticulosamente, passo a passo, para não causar nenhum bloqueio em seus alunos, levando em conta as características pessoais e os limites de cada indivíduo. A criança antes de representar outras coisas, deve primeiro saber ser ela, como pessoa. Seu autoconhecimento é vital. Antes de você usar o teatro como arte ou recurso didático, ensine seus alunos a usar a si mesmos. Os exercícios que se seguem, não servem apenas como atividades preparatórias para esse tipo de trabalho, mas também como exercícios de relaxamento, desenvolvimento da lateralidade e coordenação motora. 1. Exercício do olhar O olhar é um meio de comunicação valioso, não só no teatro mas na comunicação diária também. Cabe ao educador desenvolver nos seus alunos qualidades desejáveis, que ajudem a transforma-los em crianças comunicativas e desembaraçadas. a) Olhar fixo: – O que eu estou vendo? Posição estática. – Eu vejo ......... anda, pára, anda. b) Olhar móvel: – Acompanhar com o olhar andando. – Acompanhar com o olhar andando e apontando. Utilizar diferentes posições e diferentes pontos de partida: reto, partindo dos cantos, mudando de objeto, andando, correndo, saltitando. 2. Exercício de voz O controle da voz é fundamental. Ela deve saber transmitir as emoções com naturalidade, num timbre adequado e numa intensidade agradável. Além de tornar uma qualidade, o controle da voz evita problemas com a saúde das cordas vocais. 2 Andar fixando o olhar e emitir algum som ao se deparar com um colega. Andar -parar-olhar-gritar-andar. Andar olhando um ponto fixamente e emitindo algum som. 3. Exercício do corpo A expressão corporal é muito trabalhada na maioria das escolas. É importante aproveitar em cada trabalho, o que já foi aprendido anteriormente (exercício do robô, pirâmide humana, exercício do espelho, desenhar o corpo do colega, no chão, com giz). Criação: criar uma criatura, um andar. Seguir a seqüência. Andar – parar – olhar – emitir o som – andar. Encontro das criaturas. 4. Teatro de sucatas Para o início da dramatização, é aconselhável usar bonecos fantoches, de preferência fabricados pelos alunos. Essa técnica tem como objetivo desinibir o aluno, que não terá medo da sua criação, e assim poderá expressar livremente seus desejos e ansiedades. Peça a seus alunos que, com material de sucata, construam algum ser, não especifique se bicho, gente, mostro ou qualquer ser. Estipule um tempo e deixe-os criar, utilizando qualquer tipo de material. É importante o professor também construir seu ser. É brincando com seus alunos que você se torna mais próximo deles. Depois de feitas as criaturas, peça às crianças que inventem também um andar, uma voz para elas, e promova um desfile de criaturas. Não comece a dramatizar ainda, deixe que as crianças se habituem com suas criações. Depois de realizadas essas atividades, a criança está pronta para representar. É bom lembrar que o trabalho não é uma coisa de outro mundo para a criança, ela está freqüentemente fazendo isso, só não sabe que esse é o nome 3 de suas brincadeiras de escolinha, mamãe e filhinha, etc. O problema, que nós educadores enfrentamos, são com as maiores, que tendo passado da idade PréEscolar inibem essas brincadeiras. Estamos num mundo informatizado, onde as crianças dão preferência ao vídeogame e aos filmes da tv, do que às brincadeiras. A escola deve ressuscitar passatempos que desenvolvam a imaginação das crianças. Quando se está lidando com alunos de Pré-Escola, é bem mais fácil, pois a criança está acostumada a brincar de faz-de-conta, você apenas vai se aproveitar disso que ela já sabe para lhe ensinar algo mais. Pra as crianças maiores, os exercícios mostrados anteriormente, irão desinibir bastante a sua classe. Uma faceta muito importante do teatro é a integração do grupo: quanto mais unida a sua classe, mais fácil será trabalhar. Todo mundo conhece o teatro apresentado freqüentemente nas escolas, seja com enredo ou a partir de uma história contada. Às vezes, os professores usam técnicas como a mímica, o jogral, ou o teatro de fantoches. Vamos aqui explorar uma técnica vanguardista, apelidada de “transformismo”, originalmente usada para exercícios de profissionais, que tem se estendido para a educação com excelentes resultados. Como o próprio nome diz, a base, ou a idéia fundamental é transformar tudo o que está a nossa volta para alcançar nosso objetivo. E a criança é fera nisso. Ela faz de vassouras, cavalos; de panos, bonecas. Você só precisa conduzir a brincadeira para o que você realmente pretende. O teatro ou a utilização de brincadeiras no aprendizado é eficiente, pois como define Freud, você está lidando diretamente com o pensamento mágico da criança, que apesar de se estruturar após os primeiros anos de vida, pode ser amplamente explorado, conduzindo a mente infantil por um aprendizado relaxado e treinando-a para uma alta potencialidade imaginativa. Não há nada mais vanguardista no teatro atual, do que conseguir desenvolver a imaginação do público com a peça. Nada vem pronto, porque por mais bonito que seja, nada chega perto da beleza da imaginação de cada um. 4 5. Idéias para a utilização do teatro como técnica de ensino Dia do Índio – vivenciar um dia numa tribo, pintar o rosto das crianças, mesas com as pernas para cima podem ser canoas ou ocas, se estiverem de pé, o resto deixe a cargo da imaginação das crianças. Conte uma história e peça que as crianças recontem de uma outra maneira, fazendo gênero romântico, terror, em câmera lenta, com gestos, imitando diversas vozes do diálogo etc. Encenação de uma cena cotidiana, utilizando a linguagem coloquial, os diferentes sotaques ou vícios de linguagem, por exemplo: um ônibus, o motorista, a estudante, a criança etc A dramatização é um valioso recurso audiovisual na formação e desenvolvimento da expressão pessoal e emocional do aluno, Trata-se de um ótimo instrumento para a educação social, moral, cívica, lingüística e literária, ajudando assim o desenvolvimento da personalidade da criança e, portanto, deve ser um trabalho integrado com o currículo escolar. Referências Bibliográficas Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil – volume 3 ZÓBOLI, Graziela. Práticas de ensino. São Paulo: Ática,1993 MACHADO, Marieta Lúcia. A Educação pré- escolar. São Paulo: Ática,1986 voltar 5