Edson Lucchini Jr5

Propaganda
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
104
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
O edifício Ibaté representa uma exceção na obra
de Franz Heep no que diz respeito aos caixilhos. Em todas
as demais obras estudadas, eles foram desenhados pelo
próprio arquiteto, porém neste caso, Heep optou por um
caixilho disponível no mercado da época: a “Janela Ideal”,
amplamente utilizada em projetos de apartamentos
residenciais nos anos 1940, 1950 e 1960. A “Janela Ideal”
é um painel de madeira pré-fabricado que, na maioria
dos casos, ocupa todo o vão estrutural, praticamente
eliminando os fechamentos em alvenaria nas fachadas.
“Essa condição encerra vantagens formativas
excepcionais para as fachadas dos edifícios,
pois iludem a figura da janela e a conseqüente
perfuração da parede e oferecem elementos
fabricados como painéis que definem planos
quadriláteros regulares completados com
alvenarias íntegras [...]”. (ESPALLARGAS GIMENEZ, 2009.)
Propaganda da Janela “Ideal”
Fonte: Revista Acrópole nº236, janeiro de 1958
A “janela Ideal” é composta por bandeira e peitoril
fixos de ripas de madeira que fazem o papel de venezianas
ou brises. As duas folhas móveis, também ripadas de
madeira, abrem como “guilhotina”. Duas folhas em vidro
correm por trás das venezianas.
105
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
A fachada da rua Augusta pode ser dividida em
quatro faixas verticais que compõe seu todo. A primeira
faixa, da esquerda, para quem vê o edifício de frente pela
rua Augusta, é uma empena cega branca, que extrapola
a altura do edifício. Este é um recurso de marcação de
esquina já utilizado por Heep no edifício Ouro Verde, de
1952. Logo acima do térreo, surge na empena um volume
sobressaliente que caracteriza uma janela de banheiro
do tipo “indevassável”, que também será utilizada por
Heep no edifício Araraúnas (p.183), de 1953. Ladeando a
empena cega, surge uma faixa de terraços sobressalentes,
que projetam-se sobre o passeio da Augusta; a leveza e
o jogo de volumes e sombras promovido pelos terraços,
contrapõe a austeridade e opacidade da empena ao lado,
que marca a esquina. O desenho dos guarda-corpos dos
terraços, com sua parte frontal em alvenaria e as laterais
vazadas e protegidas por grades tubulares, viria mais tarde
a ser utilizado por Heep em outros edifícios, como por
exemplo o Ouro Preto, de 1954. Ao lado dos terraços,
há uma faixa de caixilhos (Janela Ideal) e por fim, uma
última empena cega, bem mais estreita que a da esquina,
deixando clara uma noção de hierarquia entre elas.
Ed. Ouro Verde - Adolf Franz Heep - 1952
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ouro Preto - Adolf Franz Heep - 1954
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ibaté - fachada da rua Augusta atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
O coroamento do Ibaté ocorre nos dois últimos
pavimentos, que sofrem o escalonamento obrigatório.
Os recuos geraram terraços descobertos, separados entre
si por muros de 2,00m de altura que individualizam as
unidades residenciais. Não há mais o uso da “Janela Ideal”
e sim, portas balcão de abrir com bandeira superior de
ventilação permanente. O 7º pavimento ainda conta com
a floreira da grelha dos andares inferiores, porém, no
8º, ela dá lugar a um guarda-corpo de concreto e tubos
metálicos.
No coroamento do edifício Ibaté, como em quase
todos os demais estudados, o escalonamento obrigatório
surge como uma forte condicionante de projeto, que
desafia a capacidade do arquiteto em obter uma solução
harmoniosa. Só o escalonamento em si já representa uma
ruptura com a unidade do corpo principal da fachada, mas
aqui neste caso, e em quase todos os projetos de Heep,
esta ruptura se reforça com a adoção de caixilhos, guardacorpos e floreiras diferentes dos utilizados no restante da
torre.
Edson Lucchini Jr.
Considerações e hipóteses acerca da postura de
Heep em relação aos escalonamentos e coroamentos dos
edifícios serão comentadas de forma mais detalhada nas
conclusões deste trabalho (p.271).
Situação Atual
Atualmente, o edifício Ibaté encontra-se num
estado satisfatório de conservação e num nível baixo de
descaracterização em relação ao projeto original. Como
em quase todos os edifícios estudados, os fatores que mais
agridem as fachadas são os fechamentos de terraços com
caixilhos variados e de péssima qualidade, que empobrecem
a volumetria original do edifício e comprometem a unidade
da fachada. Os andares escalonados estão com seus
terraços quase todos cobertos com materiais diversos,
atribuindo um aspecto negativo ao edifício.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
planta do pav. térreo
esc. 1:250
1 - hall de social - portaria
2 - hall de elevadores sociais
3 - depósito de lixo
4 - áreas descobertas
5 - banheiros
6 - lojas
planta do 1º ao 6º pav.
esc. 1:250
1
1
2
2
3
3
kitchenette - 30,75 m²
apto. 1 dorm. - 62 m²
apto. 2 dorm. - 90,20 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório casal
6 - dormitório solteiro
7 - terraço
8 - serviço
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
planta do 7º pav.
esc. 1:250
planta do 8º pav.
esc. 1:250
2
1
1
2
apto. 1 dorm. - 54 m²
apto. 1 dorm. - 73 m²
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraços
1
2
1
2
apto. 1 dorm. - 54 m²
apto. 1 dorm. - 73 m²
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraços
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corte BB
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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fachada rua augusta
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corte AA
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fachada rua antonio carlos
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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detalhe de fachada - térreo
Ritmo das portas das lojas é rompido pela
imponência do acesso social.
detalhe de fachada
Grelha cujas unidades retangulares
correspondem a um apartamento. Seus
elementos horizontais são floreiras que
iludem a transição entre os pavimentos.
detalhe de fachada - coroamento.
Os dois últimos pavimentos são escalonados
e rompem com a tipologia predominante;
presença dos terraços descobertos.
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Edson Lucchini Jr.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
6.5
Edifício Lausanne
1953-58
gie
r. m
ara
nhã
o
nóp
olis
r. d.
veri
d
av.
hi
iana
r. s
a
ba
rá
endereço e localização
Av. Higienópolis 101/111 - Higienópolis
mackenzie
construção
Construtora Auxiliar S.A.
(Engº resp. Elias e Aizik Helcer)
terreno
Retangular - 1635,00 m²
unidades
Térreo: 2 ap. de 165 m²
1 ap. zelador de 80 m²
1º ao 13º pav.: 4 ap. de 175 m²
14º pav.: 4 ap. de 152 m²
15º pav.: 1 ap. de 263 m²
2 ap. de 133 m²
Total - 62 unidades
publicações
Acrópole 239, 1958, p. 504 a 509
c o e f. d e a p ro ve i ta m e nto
8,50 - Área total = 13.960m²
taxa de ocupação
49,5 %
conservação
Ótima
Perspectiva original do Edifício Lausanne
Fonte: Fotografia de Fernando Martinelli do quadro que contém o desenho original, desenhado
por Franz Heep, encontrado no escritório do engenheiro Aizik Helcer em São Paulo.
descaracterização
Baixa
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Higienópolis e o edifício Prudência
Avenida Angélica no começo do século XX
Fonte: www.verbeat.org/blogs/donizetti/2009/03/avenida-angelica.
html - Acesso em março de 2009
Edifício Prudência- 1944- Rino Levi
Fonte: www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/imagens/311_08.
jpg - Acesso em abril de 2009
O edifício Lausanne está situado na avenida
Higienópolis, no bairro de mesmo nome, que sempre
foi marcado pela elegância de suas construções desde
a sua primeira ocupação, no início do século XX, pelos
luxuosos casarões, até a sua verticalização, iniciada de
maneira tímida no final dos anos 1930 e com seu apogeu
nos anos 1950. Higienópolis se tornou uma referência
na substituição de casas por edifícios residenciais dentro
de novas exigências legais que garantiam uma ocupação
de qualidade, favorecendo a inovação arquitetônica e
associando prestígio à construção vertical, que fora num
primeiro momento alvo de preconceito por parte das
classes mais abastadas. Sem dúvida, o edifício que simboliza
esta transformação do bairro de Higienópolis, tornando-se
um marco, é o Edifício Prudência (1944-1948), projetado
por Rino Levi. (GAGGETTI, 2000, p.100)
“O Prudência (...) era considerado um artigo de
luxo e seus aluguéis eram caríssimos. O projeto
levava para o edifício todo o luxo e conforto
das antigas residências, seja nas dimensões
generosas ou nos acabamentos requintados”..
(GAGGETTI, 2000, p.102)
O edifício Lausanne, cujos projetos datam de 1953,
e a entrega em 1958, também foi muito importante para
a consolidação do modelo vertical de moradia de luxo. O
terreno onde ele foi erguido é o resultado da incorporação
de dois lotes, sendo que cada um deles possuia um grande
sobrado; foi adquirido por Nachman Helcer, dono da
Construtora Auxiliar S.A. e pai dos engenheiros Elias e Aizik
Helcer, que assinaram o projeto de Heep.
“No auge de sua maturidade profissional e de
produção de seu escritório, Heep desenvolve (...)
esse prédio de apartamentos, onde resume seu
ideário racionalista”. (BARBOSA, 2002, p.139)
Construção do Edifício Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Carimbo dos Irmãos Helcer
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
115
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Terreno, implantação, volumetria e entorno
O terreno onde situa-se o edifício Lausanne possui
topografia plana, conseguida por terraplanagem, já que
o seu perfil natural era caracterizado por um desnível de
aproximadamente 5,00m no sentido da rua Maranhão
para a avenida Higienópolis. A geometria retangular do
lote conta com 50,00m de frente, voltados para a avenida
Higienópolis, por 32,70m de fundo, totalizando 1635,00
m² de área. A ocupação dos lotes lindeiros laterais também
é dada por edifícios verticais residenciais; o lote lindeiro
ao fundo, separado do lote em questão por um muro de
arrimo, possui cota 5m acima do nível do térreo do edifício
Lausanne e é ocupado pelo edifício da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo38.
circ. vertical
circ. vertical
bloco 1
bloco 2
av. higienópolis
O partido de implantação do edifício acompanhou
a geometria do lote e definiu um bloco cuja face principal
está voltada para a avenida Higienópolis e orientada a
nordeste. Além disso, este bloco está, em todas as suas
faces, recuado dos limites do terreno. O recuo frontal, que
separa o volume 9,30m do alinhamento com a avenida
Higienópolis, permitiu o ganho em altura e a minimização
dos escalonamentos obrigatórios, que no caso do edifício
Lausanne ocorre somente nos dois últimos pavimentos.
O volume ainda recua-se 3m das duas divisas laterais do
lote e 4,50m da divisa de fundo, resultando numa relação
proporcional no corpo elevado de 44,00m de largura por
32,70m de profundidade, além dos 51,55m de altura,
divididos em térreo mais 15 pavimentos, porém, os
dois últimos sofrem o escalonamento, que diminui as
suas profundidades em 2,15m no 14º e 3,60m no 15º
pavimento. O volume é composto por dois blocos unidos
e espelhados entre si, com acessos e circulações verticais
independentes. A existência desses dois blocos distintos
é percebida apenas na fachada dos fundos; na fachada
principal a sensação é de um volume monolítico, suspenso
do chão por pilotis
O edifícios do entorno do Lausanne, por terem
sido construídos sob as mesmas premissas da legislação,
possuem gabarito semelhante, sem grandes distorções,
porém, o edifício que o ladeia à esquerda, de quem da
avenida Higienópolis o vê de frente, possui um gabarito
muito mais elevado que conta com 25 pavimentos, fato
possível por ele ter sido construído sob as premissas atuais
da lei, onde a altura da edificação não é mais relacionada à
largura da via.
(38) - O edifício da rua Maranhão abrigou o curso de arquitetura e urbanismo da USP até 1968, quando este se mudou para a Cidade Universitária; de 1973 até hoje funcionam no edifício
os cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) além da biblioteca.
116
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Térreo e subsolo
ap. zel.
80 m²
165 m²
av. higienópolis
Esquema de distribuição do pavimento térreo
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
165 m²
O pavimento térreo encontra-se 1,60m acima do
nível da avenida Higienópolis, o que permitiu a decisão
por um subsolo semi-enterrado, 1,60m abaixo da cota
da mesma avenida. Esta solução reduziu as escavações e
minimizou o comprimento de rampas de acesso aos níveis
do subsolo e do térreo, cuja elevação em relação à rua,
trouxe mais visibilidade e imponência ao edifício.
Duas rampas curvas vencem o desnível entre a cota
da avenida Higienópolis e a do térreo, caracterizando um
percurso de entrada, desembarque e saída de automóveis.
Há também escadas que possibilitam o acesso de pedestres,
separando-os dos veículos. Outras duas rampas, situadas
em ambas as extremidades do terreno, acessam o subsolo,
vencendo outros 1,60m de desnível em relação à avenida
Higienópolis. A existência dessas duas rampas caracteriza
um percurso de entrada e saída de veículos no subsolo,
destinado às garagens, que contempla 61 vagas, porém,
este número só é conseguido com o auxílio de manobristas;
o número de vagas condiz com o de apartamentos, fato
corrente na época apenas em edifícios de alto padrão.
Os moradores do Lausanne que possuiam
automóvel, o deixavam com manobristas na área de
desembarque do térreo, defronte aos acessos sociais
principais do edifício. Os manobristas conduziam o veículo
para o subsolo e retornavam à área de desembarque
pelas próprias rampas de veículos; os nichos de circulação
vertical do edifício não chegavam ao subsolo e não havia
escadas independentes para acessá-lo, tornando clara a
intenção de fazer com que as garagens fossem acessadas
apenas pelos manobristas. Posteriormente, foi construída
uma escada que liga o térreo ao subsolo, facilitando o
acesso dos moradores a este pavimento, já que não há
mais manobristas trabalhando no Lausanne.
Capa da revista Acrópole nº 239 - 1958
No nível do térreo, antes de adentrar ao edifício, o
observador depara-se com a linha de pilotis que compõe
uma colunata permeada por jardins, que suspende o
volume e enquadra cheios e vazios. Dois destes vazios, são
os acessos principais, espelhados entre si e levemente
deslocados da porção central da planta. O nível térreo, assim
como quase todos os demais, organiza-se em simetria,
cujo eixo encontra-se no ponto médio da face frontal do
terreno, lindeira à avenida Higienópolis. Os dois blocos que
compõe o edifício, espelhados entre si, possuem acessos
117
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edifício Lausanne em 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Edson Lucchini Jr.
independentes, separados pela casa do zelador, situada
na porção central do térreo, cuja planta conforma um
trapézio; a base menor está voltada para a parte frontal
do edifício, desta forma, os lados inclinados deste trapézio,
que seguem no sentido da frente para os fundos do lote,
induzem o fluxo para o hall dos elevadores e de acesso aos
dois apartamentos térreos. Além disso, pode-se dizer que
os acessos principais do térreo ocorrem nos espaços vazios
entre a casa do zelador e os apartamentos, cujas paredes
curvas que os separam das áreas sociais, junto às paredes
inclinadas da casa do zelador, conformam um percurso de
acesso ao edifício, que possui momentos distintos, afinal,
a conformação geométrica descrita promove, ora um
estreitamento, ora uma abertura do percurso causando
diferentes percepções e sensações de espaço. A casa
do zelador tem em sua porção frontal, na base menor
do trapézio, uma sala de estar com um grande caixilho
que também atribui ao ambiente a função de guarita; o
espaço destinado à casa do zelador ainda conta com dois
dormitórios, cozinha, banheiro e um quintal descoberto,
que é conformado pelo vazio entre os dois blocos do
edifício.
As áreas não ocupadas do térreo, resultantes dos
recuos, são caracterizadas em sua maioria por canteiros.
Além deles, há um passeio em mosaico português que
circunda toda a edificação.
Circulação Vertical
Edifício Lausanne em 2009
Foto: Edson Lucchini Jr
Edifício Lausanne em 2009 - Cobogós - Casa do Zelador
Foto: Edson Lucchini Jr
Como descrito anteriormente, o edifício Lausanne
possui dois blocos distintos. Cada um deles conta com
uma caixa de circulação vertical contida dentro do volume
principal; elas são espelhadas entre si e compostas por dois
elevadores sociais, dispostos lado a lado, e um de serviço,
ladeado por uma escada em formato de “U”, sem patamar
intermediário, que se torna linear na transição do 1º andar
para o térreo, devido à existência de uma laje de transição
entre estes dois pavimentos, que obriga o aumento do
número de espelhos. Além disso, somente entre o térreo
e o 1º pavimento, a escada se encontra em um volume
sobressaliente em relação à fachada posterior.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Pavimento tipo e unidades
175 m²
175 m²
175 m²
av. higienópolis
Esquema de distribuição do 1º ao 13º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
175 m²
A distribuição das unidades no edifício Lausanne
ocorre segundo quatro conformações. O térreo conta com
duas unidades idênticas, ambas com dois dormitórios e
165m², espelhadas entre si e situadas nas extremidades
laterais da planta. Do 1º ao 13ª pavimento, são quatro
unidades por andar, todas com 175m² e três dormitórios.
As duas situadas nas extremidades são idênticas, diferindo
das duas centrais apenas na disposição e tamanho dos
banheiros e dormitórios de empregada. No 14º pavimento,
a necessidade de um recuo obrigatório de 2,15m com
relação ao alinhamento dos pavimentos inferiores,
trouxe uma diminuição da área das unidades para 152m²,
com dois dormitórios, porém, com o arranjo espacial
semelhante ao dos apartamentos dos andares inferiores. O
15º pavimento sofre o segundo recuo obrigatório, de mais
2,15m em relação ao alinhamento do 14º andar, trazendo
a necessidade de um arranjo espacial diferente; o 15º
andar possui três unidades, sendo que uma delas ocupa
todo o bloco esquerdo do edifício e conta com 264m² de
área e três dormitórios. O bloco direito é divido em duas
unidades de 133m², com arranjos espaciais diferentes,
porém, com dois dormitórios cada. O edifício totaliza 61
unidades, sendo duas no térreo, 52 do 1º ao 13º andar,
quatro no 14º e três no 15º.
As unidades que mais se repetem no Lausanne são
as de 175m², presentes do 1º ao 13º andar. Junto à entrada
social do apartamento, há um biombo que induz o percurso
às áreas íntimas, sem que haja necessidade da passagem
Planta da unidade de 175m² - 1º ao 13º pavimento.
Sala de Jantar e estar do apartamento de 175m²
Foto: Edson Lucchini Jr
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
119
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edifício Lausanne em 1958 - Dormitório de solteiro
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Edifício Lausanne em 1958 - Banheiro - Janela com cantos arredondados
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
circ. vertical
circ. vertical
Esquema de disposição das áreas molhadas, estar e repouso e circulação vertical
áreas molhadas
Edson Lucchini Jr.
pelas áreas sociais; além disso, o biombo conforma um hall
de entrada. As áreas sociais são definidas por um espaço
de 40m² sem compartimentações, cuja geometria em “L”
invertido, permite dois ambientes de estar e um de jantar.
Um caixilho de ferro e vidro, que vai do piso ao teto, separa
o terraço da sala de estar localizada na extremidade inferior
do “L” invertido. Este terraço, de geometria retangular e
área de 6,50m², é fechado pelos brises móveis coloridos
que compõe a fachada e serão descritos detalhadamente
mais adiante. Uma estante de concreto e madeira, solta
do piso e do teto, separa a sala de jantar de um corredor
íntimo, que confere privacidade à circulação entre os
dormitórios e os banheiros. Dois dos três dormitórios,
sendo um de solteiro e um de casal, estão voltados para
a face principal do edifício, orientada a nordeste; ambos
possuem as mesmas dimensões, com 16m² e a mesma
geometria retangular O terceiro dormitório, destinado à
um solteiro e com dimensões menores, está voltado para
a face lateral do edifício; ele conta com 12,5m² e separa-se
do dormitório de casal apenas pelos armários embutidos
de ambos, sem o uso de parede de alvenaria. A copa e a
cozinha dividem um mesmo espaço retangular de 18m²,
separando-se apenas por armários. O acesso de serviço
do apartamento é feito pela cozinha, numa área próxima
à área de serviço, que conta com 6,70m² e funciona como
hall de distribuição para o dormitório e o banheiro de
empregada.
As plantas dos apartamentos do edifício Lausanne,
independentemente de suas dimensões e arranjos
espaciais, possuem uma clara divisão entre as áreas que
concentram as instalações sanitárias, das áreas de estar e
repouso. Isto, mais uma vez, reforça a postura racionalista
de Heep, que, na maioria dos casos, prioriza a economia
com elementos hidráulicos e a facilidade de manutenção
dos mesmos, deixando em segundo plano alguns confortos,
como por exemplo, o emprego de suítes. Desta forma, essa
racionalização hidráulica proposta por Heep acarreta em
arranjos espaciais em que os banheiros de casal e social
ladeiam-se e são acessados pelo corredor39. No caso do
edifício Lausanne, esta postura de racionalização hidráulica,
em detrimento do conforto é muito evidente, já que os
usuários do dormitório de casal tem que atravesar todo o
corredor íntimo para acessar o seu banheiro.
áreas de estar e repouso
(39) -Este tipo de diposição, em que se prioriza a proximidade entre banheiros, é recorrente nos apartamentos de Heep. Os edifícios Ouro Preto (p.142) e Lugano e Locarno (p.226) que
são do mesmo porte do Lausanne, contam com arranjos espaciais semelhantes.
120
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Os dois apartamentos do térreo contam com uma
conformação espacial concebida sob as mesmas premissas
das utilizadas nos apartamentos dos andares superiores;
eles possuem 165m², o que não simboliza uma redução tão
significativa de área com relação aos demais apartamentos,
porém, eles possuem apenas dois dormitórios e uma sala
de estar maior, definida pelas paredes curvas que a separa
das áreas sociais do térreo.
Os apartamentos do 14º andar possuem um arranjo
espacial muito semelhante aos dos pavimentos inferiores,
porém, o escalonamento que o edifício sofre a partir deste
andar, reduz a área interna do apartamento, acarretando
num grande terraço descoberto que se estende por toda a
porção da planta que abriga o dormitório de casal e a sala de
estar, ambos voltados para a avenida higienópolis. Os dois
apartamentos das extremidades do 14º andar constituem
uma exceção na questão descrita na página anterior acerca
da racionalização hidráulica; nestes apartamentos, Heep
situa os banheiros entre os domitórios de solteiro e de
casal, criando uma suíte para este. Não foram idenficadas
limitações espaciais ou construtivas capazes de justificar
esta mudança na locação dos banheiros do 14º andar
em relação aos dos andares inferiores; ela pode ser fruto
de uma intenção de se criar plantas variadas, capazes de
atender a diferentes demandas.
Planta da unidade de 165m² - pavimento térreo
152 m²
terraço
152 m²
152 m²
152 m²
terraço
terraço
terraço
av. higienópolis
Esquema de distribuição do 14º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
Planta da unidade de 152m² - 14º pavimento.
121
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
263 m²
152 m²
133 m²
133 m²
terraço
terraço
terraço
av. higienópolis
Esquema de distribuição do 15º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
setor de serviço
acesso
setor íntimo
distribuição
setor social
Setorização do apartamento de 263m² do 15º andar.
Planta da unidade de 263m² - 15º pavimento.
Edson Lucchini Jr.
O 15º pavimento, devido ao escalonamento do
edifício, recua-se mais uma vez em relação ao andar
inferior, o que acarreta em um novo arranjo das plantas dos
apartamentos. Em todo edifício há dois apartamentos por
bloco, porém, no 15º andar, o bloco da esquerda, de quem
da avenida Higienópolis vê o edifício de frente, é ocupado
por apenas um apartamento de 263m² de área, o maior
do Lausanne. O bloco da direita continua dividido em duas
unidades, porém diferentes entre si; ambas contam com
133m², as menores do edifício.
O apartamento de 263m² é o maior, não só do
Lausanne, como de todos os edifícios projetados por Heep
em São Paulo; junto ao seu acesso social, há um hall de
11,00m² que, além de ser um espaço de recepção, também
desempenha um importante papel de distribuição dos
fluxos, de maneira independente, para todos os setores
do apartamento, como mostra o esquema ao lado; o hall
de entrada ainda conta com um lavabo (ambiente que
aparece somente neste apartamento em todo o edifício).
O setor social, definido por um retângulo de 12m de
comprimento por 5m de profundidade, totaliza 62m² de
área e contempla uma sala de estar com dois ambientes e
uma sala da jantar. Há uma lareira, definida por um volume
deslocado de paredes, que separa os ambientes de estar
da sala de jantar sem segregá-los visualmente, conferindo
uma considerável amplitude ao espaço. Caixilhos de correr
e blocos de vidro separam as salas do terraço, cuja extensão
é equivalente ao comprimento do apartamento. Em toda a
sua extensão, o terraço é coberto por dômus, que além do
papel de iluminação natural, desenham um interessante
coroamento ao edifício. Porém, o espaço destinado ao
terraço foi, logo após a inauguração do edifício, fechado
por caixilhos de vidro, ampliando as salas de estar e jantar
e minimizando a percepção do escalonamento do volume,
porém, empobrecendo o desenho original do coroamento;
com isso, os dômus de iluminação natural ficaram dentro
das salas, como mostram as fotos da próxima página.
Acredita-se que essa decisão de se fechar os terraços tenha
sido tomada após o deferimento do “habite-se” do edifício,
já que os projetos de prefeitura e executivo contam com os
terraços abertos.
O setor íntimo é composto por três dormitórios,
sendo que um de solteiro e o de casal são voltados para a
face principal do edifício e abrem-se para o terraço; o outro
dormitório de solteiro está localizado na porção superior
esquerda da planta e possui a sua abertura na fachada
lateral esquerda, orientada a sudeste; este dormitório
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
Edson Lucchini Jr.
Edifício Lausanne em construção - 1956 - Vista do 15º andar
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Edifício Lausanne em 1958 - Sala do apartamento de 263m² do 15º andar
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
possui um banheiro privativo. No dormitório de casal
surge, pela primeira vez, neste projeto, um closet; é por ele
que se acessa o banheiro do casal e o ambiente de dormir.
Pode-se dizer que o dormitório de casal é uma suíte, pois
possui um banheiro privativo, porém, este banheiro se
abre para o corredor, de onde se deduz que ele também
possa ser usado socialmente, caracterizando uma situação
um tanto quanto inusitada. Na porção superior direita da
planta do apartamento, está localizada a copa e a cozinha
com despensa, além da área de serviço, com dormitório e
banheiro de empregada.
Planta da unidade
de 133m²
15º pavimento.
O 15º pavimento ainda conta com duas unidades de
133,00m² e dois dormitórios cada; seus arranjos espaciais
diferem entre si não conceitualmente, mas na disposição
de alguns ambientes, como mostram os desenhos abaixo.
Planta da unidade
de 133m²
15º pavimento.
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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Perspectiva do Edifício Lausanne - Av. Higienópolis
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Fachadas
Edifício Lausanne em 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
O edifício Lausanne caracteriza-se por um bloco
isolado, portanto, possui quatro fachadas passíveis de
tratamento arquitetônico. Na fachada voltada para a
avenida Higienópolis, identificam-se três momentos
distintos, que definem claramente o térreo, o corpo principal
e o coroamento do edifício. O térreo é caracterizado pela
sequência de pilotis, que revela o ritmo estrutural do
edifício, oculto nas demais partes superiores da fachada.
Os pilotis enquadram situações distintas, já que por trás
deles intercalam-se situações de cheios e vazios; as partes
que, em planta, correspondem aos apartamentos térreos
e à casa do zelador, recebem na fachada superfícies de
cobogós octogonais, rasgados esporadicamente por
aberturas retangulares que correspondem às janelas dos
apartamentos. Há momentos em que os pilotis enquadram
vazios; estes correspondem aos dois acessos do edifício,
separados pela casa do zelador, que também utiliza os
cobogós no fechamento de sua parte frontal.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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Suspenso do chão pelos pilotis do térreo, o corpo
principal do edifício, que corresponde a 13 pavimentos,
é dominado pela presença das venezianas coloridas,
separadas ao longo dos andares por linhas brancas
horizontais de 30 cm de altura, que correspondem às
lajes. Entre o térreo e o primeiro pavimento, há uma laje
de transição estrutural, que possui 60 cm de altura. Podese dizer que não há fechamentos em alvenaria na fachada
principal do edifício Lausanne. As venezianas, ou brises
de alumínio que predominam na fachada, são de correr;
as aletas que compõe os brises também são móveis,
permitindo um controle muito significativo de iluminação
e ventilação. Atrás das venezianas, ainda existem caixilhos
de madeira e vidro, que correm sobre uma barra, também
de madeira, que separa o caixilho de correr de um peitoril
de vidro que vai até o chão e também se abre como um
maxi-ar invertido. Os caixilhos do edifício Lausanne são
fruto de projetos exaustivamente detalhados, com muitos
elementos em escala 1:1. Aizik Helcer, um dos engenheiros
responsáveis da obra, relata em entrevista concedida em
janeiro de 2010, algumas experiências vividas por ele
durante o projeto e a execução do Lausanne:
“Meu pai (Nachman Helcer, dono da construtora
Auxiliar) e meu irmão (Elias Helcer) achavam o Heep um
louco e diziam para eu não ir atrás das idéias dele, mas eu
sou um engenheiro que deveria ter estudado arquitetura,
pois adoro, e por isso, queria ver onde as loucuras do Heep
iriam dar. Eu acreditava nas idéias do Heep, pois sabia que
ele era um grande arquiteto, um obstinado, e por isso eu
vivia brigando com meu pai e meu irmão. Segundo eles, a
idéia de uma fachada inteira com venezianas de alumínio
coloridas, sem nenhuma alvenaria, nem terraços e
reentrâncias, tornaria o edifício caro pra executar, além de
siginifcar um fracasso de vendas. Porém, definitivamente,
não foi isso que aconteceu. Tivemos muito lucro com o
Lausanne. Claro que os caixilhos ficaram caros, porém,
meu bom relacionamento com a Ajax (empresa de caixilhos
de alumínio) fez com que o preço fosse mais baixo que os
de mercado. Além disso, o que gastamos nos caixilhos,
economizamos no resto, pois o projeto era tão racional
e foi tão bem detalhado, com mais de 250 pranchas, que
não tínhamos perdas na execução. O Heep não ligava pra
dinheiro. Ele cobrava os seus honorários pra 50 pranchas; se
dessem 250 pranchas, o preço do projeto era o mesmo”.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
A idéia de Heep era que cada ambiente voltado
para a fachada principal tivesse suas venezianas pintadas
com cores diferentes. As cores propostas eram: creme,
azul-claro, vermelho e verde, dispostas de maneira
aleatória. A simetria do edifício, claramente percebida
em planta, seria fatalmente transposta à fachada. Porém,
esta simetria é quebrada pela aleatoriedade das cores
das venezianas e pelas inúmeras posições diferentes que
elas se encontram a todo momento, ora abertas, ora
fechadas, conferindo um forte dinamismo à fachada. Além
disto, as venezianas fazem com que se perca a noção das
compartimentações internas do edifício, conferindo uma
absoluta uniformidade à sua principal face. As linhas
brancas que se sobressaem na fachada, correspondem
às lajes, assumindo um importante papel na atribuição
de horizontalidade ao conjunto. Hoje, as venezianas estão
pintadas em apenas três cores: vermelho, verde e branco.
Apesar da descaracterização, o conceito da aleatoriedade,
desejada por Heep, não se perdeu totalmente.
Edson Lucchini Jr.
O coroamento do Lausanne tem como elemento
marcante uma laje perfurada por elementos trapezoidais
de cantos arredondados, que caracterizam dômus; no
início eles eram externos, cobrindo os terraços do 15º
andar como uma espécie de pergolado, porém, com o
fechamento dos terraços, os dômus passaram a fazer
parte do interior dos apartamentos, perdendo uma de
suas atribuições originais, que era a de coroar o edifício,
resultando no empobrecimento da fachada.
Nas duas fachadas laterais, que se diferem apenas
pela disposição de algumas aberturas nos 14º e 15º
pavimentos, predominam superfícies cegas em alvenaria,
sempre revestidas com pastilhas cerâmicas brancas, porém,
destacam-se uma faixa de caixilhos similares aos da fachada
principal, que representam as aberturas dos dormitórios de
solteiro dos apartamentos, além das janelas dos banheiros
com cantos arredondados, que simbolizavam um elemento
corrente na obra de Franz Heep.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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A fachada dos fundos obviamente recebeu um
tratamento arquitetônico mais simples, porém, o fato dela
ser facilmente notada por quem trafega pela rua Maranhão
fez com que ela tenha sido concebida sob premissas de
ordem e ritmo; simétrica e predominantemente feita
em alvenaria revestida por pastilhas brancas, a fachada
dos fundos é bem organizada e composta por aberturas
generosas, que correspondem aos ambientes de serviço e
banheiros. Na porção central, há aberturas de domitórios
prejudicadas pelo fato de estarem voltadas para a face
sul e pelo sombreamento causado por se situarem numa
reentrância do volume. Ao contrário da fachada principal,
na face em questão é possível notar a presença dos dois
blocos distintos que compõe o edifício.
Detalhes construtivos
Heep desenvolveu para o Lausanne uma série de
elementos únicos e personalizados. Um deles é uma grade
contínua protetora da escada, que atravessa os pavimentos
e substitui os corrimãos.
Fachada dos fundos do Lausanne e a FAU-Maranhão - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Detalhe da grade protetora da escada
Fontes: Desenho - Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Martinelli
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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No entanto, os itens mais exaustivamente
detalhados e que mais se destacam no edifício são os
caixilhos, com seus brises móveis que compõe a fachada
principal. Além destes, todos os demais foram desenhados
e detalhados, já que foram criados exclusivamente para o
Lausanne.
Caixilho dos dormitórios - Foto: Edson Lucchini Jr
Caixilhos dos terraços - Foto: Edson Lucchini Jr
Detalhe dos caixilhos dos dormitórios
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Martinelli
Detalhe da alavanca do brise - Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Martinelli
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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Há também desenhos detalhados de elementos como
móveis e cobogós, além de itens mais incomuns, como
luminárias e arandelas.
“(...) 257 folhas, entre plantas, cortes, elevações
e detalhamento, demonstrando a intenção de ter
um controle total da obra (...) assegurando uma
perfeita execução da edificação”. (BARBOSA,
2002, p.141)
Hall social dos apartamentos
Foto: Edson Lucchini Jr
Croqui de Adolf Franz Heep - Detalhe das arandelas do hall dos aptos.
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Martinelli
Croqui de Adolf Franz Heep - Arandelas e bancos
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Martinelli
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950
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Elementos artísticos
Conceitos de integração entre arquitetura e artes
plásticas, provenientes da Bauhaus, eram correntes na
época em São Paulo, através da adoção de painéis ou
esculturas localizados preferencialmente nos térreos dos
edifícios modernos. No edifício do jornal O Estado de São
Paulo (p.17) projetado por Heep quando ele trabalhava
com Jacques Pilon em 1948, um painel de Di Cavalcanti40
nomeado “A imprensa” destaca-se na porção térrea da
fachada principal. No térreo do Lausanne, nas paredes
que separam a casa do zelador dos acessos e halls dos
elevadores, há um painel pintado com tinta a óleo, de
autoria de Clovis Graciano41 e restaurado recentemente.
Painel de Di Cavalcanti “A Imprensa” no Ed. do jornal O Estado de
São Paulo-1948
Foto: Edson Lucchini Jr.
Painel de Clovis Graciano no térreo do Ed. Lausanne - 1958
Foto: Edson Lucchini Jr.
Situação Atual
Pode-se afirmar que existem apenas três mudanças
principais, ocorridas no Lausanne ao longo dos anos, que o
descaracterizam com relação ao projeto original. A primeira,
ocorrida logo após a entrega do edifício, foi o fechamento
dos terraços do 15º andar, influindo diretamente no
desenho do coroamento. A segunda foi a diminuição do
número de cores das venezianas da fachada principal;
originalmente, eram cinco cores: Verde, branco, vermelho,
creme e azul. Agora são apenas três: Verde, vermelho e
branco. A terceira mudança é fruto da insegurança dos
dias atuais; foram colocadas grades e uma guarita, no
alinhamento com a avenida Higienópolis.
Apesar destas poucas mudanças, o edifício Lausanne
conserva até hoje os principais elementos de seu projeto
original, graças à boa manutenção e principalmente, ao
conhecimento, por parte dos moradores e síndicos, da
importância e relevância arquitetônica do edifício.
Painel de Clovis Graciano no térreo do Ed. Lausanne - 1958
Foto: Edson Lucchini Jr.
(40) - Di Cavalcanti (1897-1976) foi pintor, desenhista, ilustrador e caricaturista brasileiro.
(41) - Clóvis Graciano (1907-1988) foi pintor, desenhista, cenógrafo, figurinista, gravador e ilustrador brasileiro.
fontes: http://pt.wikipedia.org acessado em maio de 2010
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