UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES HIV/AIDS INTERNADOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO AMAZONAS CLEBER NUNES ALEXANDRE MANAUS 2012 i CLEBER NUNES ALEXANDRE MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES HIV/AIDS INTERNADOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO AMAZONAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical, para obtenção de Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. José Antônio Nunes de Mello MANAUS 2012 Ficha Catalográfica A374m Alexandre, Cleber Nunes. Manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em uma unidade terciária de saúde do Amazonas / Cleber Nunes Alexandre. -- Manaus : Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2012. 68 f. : il. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas – UEA/FMT, 2012. Orientador: Profº. Dr. José Antônio Nunes de Mello. 1. HIV. 2. AIDS. 3. Manifestações bucais. Linfócitos CD4. 5. Terapia antirretroviral. I. Título. 4. CDU: 616.98 Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Suziane Batista Marinho. ii FOLHA DE JULGAMENTO MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES HIV/AIDS ATENDIDOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE NO AMAZONAS CLÉBER NUNES ALEXANDRE “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”. Banca Julgadora: ______________________________________ Prof. José Antônio Nunes de Mello, Dr. Presidente ______________________________________ Prof. Paulo José Benevides dos Santos, Dr. Membro ______________________________________ Prof. João Vicente Braga de Souza, Dr. Membro iii DEDICATÓRIA Aos pacientes Aos colegas de profissão Aos alunos e aos futuros pesquisadores iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela luz e sabedoria que me proporciona e me mantém na perspectivas de continuar aprendendo para servir e ensinar. Obrigado, Senhor! Agradeço a minha família que, apesar de nesse momento estar distante, reconhece o valor da educação em nossas vidas, em especial a minha mãe Maria Morais, que nunca mediu esforços para minha formação, não apenas profissional e sim de Ser Humano. À Belisa Magalhães, Bel minha querida esposa, meus sinceros agradecimentos. Estarmos juntos nessa jornada nos proporcionaram ensinamentos e incentivos mútuos. Ao professor e orientador Dr. José Antônio Nunes de Mello, Dr. Mello, que acreditou na execução desse trabalho, propôs a me orientar e contribuiu com seus ensinamentos. Obrigado. À coordenação do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas e aos Professores. À Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado ( FMT-HVD) por permitir o desenvolvimento desse trabalho, e funcionários que me auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa, sobretudo Nilda Coutinho do setor de odontologia, Dra Carla Silvana do laboratório de micologia e Dr. Jose Ribamar Araujo do laboratório de anatomopatologia. A Michele Valle, aluna do PAIC-UEA, por contribuir no atendimento de pacientes. À Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas – HEMOAM. Agradeço enormemente aos pacientes que perceberam a importância desse projeto e puderam colaborar. Com esses muito aprendi. v LISTAS DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDAS % - Por cento >- maior ≤ - menor igual AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ARC - complexo relacionado à AIDS CD4- Linfócitos CD4+ CDC – Center for Disease Control and Prevention Cel- células DST – doença sexualmente transmissível FMT-HVD – Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado HARTT- Terapia antirretroviral de alta potência HIV – vírus da imunodeficiência humana HSV- Vírus herpes simples HPV- Papiloma vírus humano mm3- milímetro cúbico nm- nanômetro MS- Ministério da Saúde TARV - Terapia antirretroviral WHO- World Health Organization vi RESUMO Introdução: As infecções causadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV podem provocar uma quantidade considerável de sinais e sintomas dentre os quais as manifestações bucais se destacam. Métodos: O objetivo desse trabalho foi identificar a frequência de manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em uma Unidade Terciária de Saúde do Amazonas (Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado - FMT-HVD) por meio de um estudo de corte transversal, e associar a fatores demográficos, contagem de linfócito CD4+, valores de carga viral e a terapia antirretroviral (TARV). O levantamento de dados foi realizado pela aplicação de questionário e de dados extraídos do prontuário eletrônico. O exame clínico odontológico foi realizado por um único examinador sob luz artificial focada, utilizando-se, espátula de madeira, gaze e equipamentos de proteção individual; e consistiu em região de cabeça, pescoço, cadeia ganglionar cérvico-facial, glândulas salivares maiores e cavidade bucal a fim de identificar possíveis anormalidades. Resultados: Foram incluídos e avaliados 83 pacientes HIV/AIDS durante o período do estudo (agosto de 2010 a maio de 2011), sendo que 64 (77,1%) apresentaram manifestações bucais, sendo que a candidiase foi a manifestação bucal mais frequente (49,4%) e teve associação significativa com a contagem de CD4 ≤ 200 cel/mm3. A média de linfócitos T CD4 para os pacientes que apresentavam manifestações bucais foi de 133,1 ( 1 – 632) cel/mm3 de sangue e a de carga viral 49.183,6 (50.000 - 500.00) cópiasm/ml. Estes tinham em media 43,3 ( 1 – 180) meses de diagnóstico da infecção pelo HIV. O tempo médio de uso de TARV foi de 42,9 (1 – 168) meses e o de internação foi de 12,7 (1 – 110) dias para aqueles que tinham manifestação bucal. Conclusão: As manifestação bucais foram frequentes nos pacientes com HIV/AIDS estudados, e não se relacionaram com terapia antirretroviral (TARV) e nem com valores de carga viral. A contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3 de sangue predispuseram os pacientes à candidíase bucal. Palavras Chaves: HIV; AIDS; manifestações bucais, Linfócitos CD4; terapia antirretroviral. vii ABSTRACT Introduction: Infections caused by Human Immunodeficiency Virus - HIV can cause a considerable amount of signs and symptoms among which stand out the oral manifestations. Methods: The aim of this study was to identify the frequency of oral manifestations in HIV / AIDS admitted to a Tertiary Health Unit of Amazonas (Foundation of Tropical Medicine, Dr. Heitor Vieira Dourado - FMT-HVD) through a cross-sectional study , and associate the demographic factors, CD4 + lymphocyte count, viral load and antiretroviral therapy (HAART). The survey was conducted by questionnaire and data extracted from electronic medical records.The dental examination was performed by a single examiner under artificial light focused, using, wooden spatula, gauze and individual protection equipment, and consisted of the head, neck, cervico-facial ganglionic chain, salivary glands and cavity mouth in order to identify possible abnormalities. Results: We included 83 patients and evaluated HIV / AIDS during the study period (from august 2010 to may 2011), and 64 (77.1%) had oral manifestations, and the yeast was the most common oral manifestation ( 49.4%) had significant association with CD4 count ≤ 200 cells/mm 3. The average CD4 T lymphocytes to patients with oral injuries were 133.1 (1-632) cells/mm3 blood viral load and 49183.6 (50,000 – 500,00) copies m/ ml. These were on average 43.3 (1-180) months of diagnosis of HIV infection. The average use of HAART was 42.9 (1-168) months and the hospital stay was 12.7 (1-110) days for those who had oral manifestation. Conclusion: The oral manifestations were common in patients with HIV / AIDS study, and not related to antiretroviral therapy (HAART) and not with viral load values. The CD4 count ≤ 200 cells/mm3 blood predispose patients to oral candidiasis. Keywords: HIV, AIDS, oral injuries, CD4 lymphocytes, antiretroviral therapy. viii SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1 2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................... 2.1 Epidemiologia. .................................................................................................................. 2.2 Estrutura do HIV................................................................................................................ 2.3 Ciclo Viral........................................................................................................................... 2.4 Manifestações Clínicas...................................................................................................... 2.4.1 Infecção aguda............................................................................................................... 2.4.2 Fase assintomática......................................................................................................... 2.4.3 Fase sintomática inicial.................................................................................................. 2.4.4 Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) ........................................................... 2.5 Relação das manifestações bucais e infecção pelo HI................................................... 2.6 Tipos de lesões bucais associadas ao HIV....................................................................... 2.6.1 Candidiase bucal...................................................................................................... 2.6.2 Leucoplasia pilosa.................................................................................................... 2.6.3 Herpes simples......................................................................................................... 2.6.4 Eritema gengival linear............................................................................................. 2.6.5 Sarcoma de Kaposi.................................................................................................. 2.6.6 Linfoma não-Hodgkin................................................................................................ 2.6.7 Xerostomia................................................................................................................ 2.6.8 Úlceras bucais e estomatite aftosas recidivantes.................................................... 2.6.9 Verrugas e papilomas bucais................................................................................... 3 3 5 7 8 8 8 8 10 10 13 13 14 14 15 15 16 17 18 19 3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 20 3.1 Geral................................................................................................................................ 20 3.2 Específicos...................................................................................................................... 20 4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 21 4.1 Modelo de Estudo.......................................................................................................... 21 4.2 Período de Estudo. ......................................................................................................... 21 4.3 Local do Estudo............................................................................................................... 22 4.4 População Alvo............................................................................................................... 22 4.4.1 Critérios de Inclusão............................................................................................... 22 4.4.2 Critérios de Exclusão............................................................................................. 23 4.5 Coleta de Dados.............................................................................................................. 24 4.5.1 Procedimentos de consulta. .................................................................................. 24 4.5.2 Exames complementares e procedimentos laboratoriais....................................... 24 4.6 Análises dos Dados......................................................................................................... 25 4.7 Aspectos Éticos............................................................................................................... 26 5 RESULTADOS.............................................................................................................. 35 6 DISCUSSÃO................................................................................................................... 41 7 CONCLUSÃO................................................................................................................. 48 ix 8 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 54 9 ANEXOS......................................................................................................................... 9.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................................................... 9.2 Modelo de Prontuário Odontológico (Ficha clínica) ................................................ 62 62 65 10 APÊNDICE...................................................................................................................... 10.1 Parecer Consubstanciado CEP FMT-HVD............................................................. 68 68 1 1 INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), doença de origem infecciosa, causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é transmissível por meio do sangue e secreções humanas, atinge o sistema imunológico do portador, deixando-o predisposto às infecções oportunistas. (1) O HIV apresenta afinidade pelo receptor CD4+, presente na superfície de alguns grupos de células humanas, incluindo linfócitos T CD4+, monócitos, macrófagos e células dendríticas. Os linfócitos T CD4+ são os mais comumente afetados pelo HIV. (2) A contagem de linfócitos T CD4+ decresce drasticamente com a progressão da infecção pelo HIV, comprometendo as funções do sistema imunológico, predispondo o paciente ao desenvolvimento de infecções oportunistas e algumas neoplasias. (3) A AIDS corresponde ao estágio mais avançado da infecção pelo HIV e se caracteriza pela falência progressiva do sistema imunológico, uma ação resultante da replicação e disseminação do vírus no organismo infectado. A capacidade de controlar a infecção e retardar a progressão da infecção para AIDS é provavelmente regulada por um equilíbrio entre fatores do hospedeiro, como a resposta imunológica e fator viral. (3) A depleção imune pode alterar a microbiota bucal e a resposta dos tecidos bucais a microrganismos oportunistas. As manifestações bucais em pacientes com sorologia positiva anti HIV têm sido relacionadas à diminuição na contagem de linfócitos T CD4+ indicando uma susceptibilidade para outras infecções oportunistas, sendo importante para o monitoramento do estado imunológico do paciente e da progressão da doença. (4-6) 2 Assim, a maioria das pessoas infectadas pelo HIV irá apresentar alguma manifestação no complexo maxilofacial em algum estágio da doença, pois são muito comuns, e podem apresentar-se como primeiros sinais e sintomas da infecção pelo HIV/AIDS.(7) O conhecimento sobre a infecção pelo HIV e suas manifestações bucais tornaram-se exigências importantes para os profissionais responsáveis pelos cuidados com a saúde bucal, pois o diagnóstico precoce, a prevenção e o controle das manifestações bucais na AIDS podem, sobretudo, colaborar na recuperação do indivíduo infectado melhorando sua qualidade de vida. Nesse sentido, acredita-se que a identificação e caracterização das manifestações bucais, relacionadas ao quadro clínico do paciente HIV/AIDS, possibilitam avaliar o impacto dessas manifestações na evolução da doença, reiterando-se a importância da assistência integral a esses pacientes. Em face do crescente número de pessoas infectadas pelo HIV no Amazonas, bem como a carência de estudos que determinem as condições de saúde bucal nesse grupo de pessoas, no estado e especificamente no município de Manaus, justifica-se a realização de pesquisas científicas acerca do tema proposto. 3 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 EPIDEMIOLOGIA A epidemia de AIDS entrou em 2011 na sua terceira década. O reconhecimento oficial do HIV/AIDS no mundo foi marcado pela publicação pelo Centers for Disease Control de um artigo intitulado "Pneumocystis Pneumonia” no CDC's Morbidity and Mortality Weekly Report-MMWR, escrito pelo médico americano Michael Gottlieb em 1981, e em seguida foi publicada a ocorrência de 5 casos de pneumonia causada pela bactéria Pneumocystis caranii em homossexuais masculinos e 26 casos de Sarcoma de Kaposi.(8-10) Mesmo passados 30 anos, a AIDS ainda é um grade problema de saúde pública mundial, visto que vem sofrendo mutação e atingindo vários seguimentos populacionais, sobremaneira os estratos sociais menos favorecidos. A OMS estimou que em 2009 aproximadamente 33 milhões de pessoas viviam com HIV/AIDS em todo o mundo e pelo menos 2,6 milhões de novas pessoas foram infectadas pelo HIV nesse mesmo ano. (11) Figura 1: Estimativa de indivíduos que viviam com HIV em 2009 no mundo Fonte: OMS, 2009(11) 4 Figura 2: Estimativa do número de novas pessoas infectadas pelo HIV no mundo Fonte: Adaptado de OMS, 2009(11) Já no Brasil, o Ministério da Saúde identificou em 2009, 3.398 casos de AIDS em pessoas jovens de 13-24 anos sendo que mais da metade (1.850) eram do sexo masculino. A razão de homem e mulheres infectados pelo HIV, que era de 37:1 em 1990, caiu para 11:1 em 1998, culminando com a inversão dessa razão no ano 2000 (0,9: 1 – 9 homens para cada 10 mulheres). Entretanto, entre 2007 e 2009, os jovens do sexo masculino voltam a ter maior participação nos casos de AIDS. (12) Ainda segundo dados do Ministério da Saúde (MS), desde a identificação do primeiro caso de AIDS em 1982, até junho de 2010, já foram identificados próximo de 490 mil casos da doença. Estima-se, que no Brasil 630 mil indivíduos vivam com o HIV/AIDS. (12) A distribuição dos casos segundo as regiões brasileiras, em 2009, mostra que 38,2% dos casos encontram-se na região Sudeste, seguida do Nordeste (21,9%), Sul (21,1%), Norte (11,1%) e Centro-Oeste (7,7%). Embora a Região Sudeste apresente maior número de casos em 2009, o Sul destaca-se com a maior taxa de detecção nesse ano, 12,6/100.000 habitantes. (13) 5 Figura 3: Taxa de detecção (por 100.000 hab.) dos casos de AIDS segundo região de residência e ano de diagnóstico. Brasil, 1997-2009 Fonte: Ministério da Saúde, 2010 (12) No Estado do Amazonas, o primeiro caso de AIDS foi diagnosticado no ano de 1996, na capital Manaus, onde é observada maior concentração de casos de AIDS. De acordo com os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde (MS) e de dados da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), foram notificados 571 casos de AIDS no Amazonas no ano de 2009, destes 474 somente na capital Manaus. (13, 14) No Amazonas a epidemia parece estar concentrada em Manaus, mas já alcança os municípios do interior do estado na região próxima a capital e ainda aqueles mais distantes, apresentando características de interiorização da epidemia. (13) 2.2 Estrutura do HIV O Virus da imunodeficiência Humana (HIV) é um retrovírus pertencente ao gênero Lentivírus que tem os linfócitos e monócitos como as células-alvo sendo transmitido pelo contato com fluidos humanos contaminado consistindo no agente etiológico da AIDS. (15, 16) 6 Figura 4: Partícula de HIV esquemática Fonte: Hoffmann, 2007 (17) O HIV é uma partícula viral esférica com um diâmetro de aproximadamente 80 a 100 nanômetros (nm). O genoma completo é formado de nove genes cada ladeado por sequência terminais repetitivos longas (LTRs); cada partícula viral contém duas copias desse genoma. (15) Este genoma é dividido em dois grupos: os que codificam as proteínas estruturais (gag, pol, env) e os que codificam proteínas não estruturais (tat, rev, nef, vif, vpu e vpr). O gene gag codifica a matriz protéica (p17), o capsídeo viral (p24) e as proteínas nucleares (p6 e p7). O gene pol codifica a transcriptase reversa (p51), a protease (p10) e a integrase (p32). O gene env codifica a proteína de superfície, a gp 120.(18) Figura 4: Esquema do genoma do HIV Fonte: Hoffmann, 2007 (17) 7 2.3 Ciclo viral A infecção pelo HIV se inicia com a entrada do vírus na célula, por meio da ligação da proteína de superfície (gp 120) com o receptor da célula (molécula CD4). A entrada ocorre com a fusão do vírus com a membrana da célula, sendo essa reação médiada pela GP 41. (3, 15) A molécula CD4 não é o único receptor do HIV, pois existem outras células susceptíveis a infecção viral que não apresentam a molécula CD4 em sua superfície. As moléculas CXCR4 e CCR5 são co-receptores do HIV e têm a função de auxiliar na estabilização da ligação da gp120 com o receptor CD4. (15) Depois de entrar na célula, o RNA viral é convertido a DNA pela enzima trancriptase reversa. Essa reação ocorre no citoplasma da célula nas primeiras seis horas de infecção. A dupla fita de DNA formada é integrada ao genoma do hospedeiro por meio da enzima integrase, onde passa a replicar-se e posteriormente é liberada para a corrente sanguínea, por mecanismo de brotamento, indo infectar outra célula. (15) Figura 5: Ciclo de vida esquemático do HIV Fonte: Hoffmann, 2007 (17) 8 2.4 Manifestações clínicas 2.4.1 Infecção aguda Esta fase da doença é também chamada de síndrome da infecção retroviral aguda ou infecção primaria, manifestando-se clinicamente em aproximadamente 50% a 90% dos pacientes. A infecção aguda caracteriza-se tanto por viremia elevada quanto por resposta imune intensa com rápida queda na contagem de linfócito T CD4 de caráter transitório. (2) No momento da viremia de pico, os pacientes podem desenvolver sintomas da síndrome retroviral aguda, incluindo doença semelhante à influenza, com febre, garganta inflamada, linfadenopatia e exantema. Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. (1) As manifestações clínicas podem variar desde um quadro gripal até uma síndrome similar a mononucleose. Os indivíduos infectados pelo HIV podem apresentar sintomas de infecção viral como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, ulcerações mucocutâneas, envolvendo mucosa bucal, esôfago e genitália, cefaléia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos.(19) 2.4.2 Fase assintomática A infecção precoce pelo HIV, também conhecida como assintomática, pode durar de alguns meses a alguns anos e seus sintomas clínicos são mínimos ou inexistentes. Os exames sorológicos para o HIV são reagentes e a contagem de linfócitos CD4 pode estar estável ou em declínio. Alguns pacientes podem apresentar linfadenopatia generalizada, persistente e indolor. (18) 2.4.3 Fase sintomática inicial Nessa fase, o portador da infecção pelo HIV pode apresentar sinais e sintomas inespecíficos de intensidade variável, além de processos oportunistas de 9 menor gravidade, que por definição não são definidores de AIDS, conhecidos como ARC (complexo relacionado à AIDS). (1) São indicativos de ARC: candidíase bucal, leucoplasia bucal, presença de mais de um dos seguintes sinais e sintomas, com duração superior a um mês, sem causa definida: linfadenopatia generalizada, diarréia, febre, astenia, sudorese noturna e perda de peso superior a 10%. A elevação da carga viral (CV) e contagem de linfócitos T CD4 já se encontram abaixo de 500 cel/mm3 (1) 2.4.4 Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) Uma vez agravada a imunossupressão, o portador da infecção pelo HIV apresenta infecções oportunistas causadas por microorganismos considerados usualmente não patogênicos, porém, microorganismos normalmente patogênicos também podem ser causadores dessas infecções. Nessa situação para serem consideradas oportunistas, as infecções necessariamente assumem caráter de maior gravidade e agressividade. (3) Antes do advento da combinação potente para a terapia antirretroviral (TARV), as infecções oportunistas foram as principais causas de morbidade e mortalidade nos pacientes com infecção pelo HIV. No entanto, a utilização generalizada de TARV potente, a partir de 1996, teve influência positiva sobre a redução da mortalidade relacionada às infecções oportunistas em pessoas infectadas pelo vírus nos países em que essa terapia é acessível. (20) As doenças oportunistas associadas a AIDS são diversas, podendo ser causada por vírus, fungos, bactérias, protozoários, e algumas neoplasias. Dentre as vírais destacam-se: citomegalovirus (CMV); Herpes simples; Epstein-Barr (HBV); dentre os fungos: pneumocistose, candidíase, criptococose, histoplasmose, entre as bactérias: micobacteriose (tuberculose e complexo Mycobacteium avinun- intracellulare), pneumonias (Streptococcus pneumoniae), e entre os protozoários principalmente a toxoplasmose. (21) 10 Dessa mesma forma, a imunossupressão associada à infecção pelo HIV aumenta o risco para o aparecimento de tipos específicos de neoplasias oportunistas, sendo o sarcoma de kaposi (SK) e o linfoma de não Hodgkin (LNH) de maior destaque. (22, 23) 2.5 Relações das manifestações bucais e a infecção pelo HIV O individuo infectado pelo HIV pode apresentar manifestações na mucosa bucal como manifestações secundárias, as quais podem sinalizar a progressão da doença, ausência e/ou ineficácia no tratamento antirretroviral, como também capaz de preceder as manifestações sistêmicas da AIDS. (24) A classificação mais amplamente aceita sobre as manifestações bucais associadas ao HIV/AIDS foi obtida pelo Encontro Científico e Consenso dos Problemas Relacionados à Infecção pelo HIV e Centro de Colaboração da Organização Mundial de Saúde (OMS) das Manifestações Bucais do Vírus da Imunodeficiência (EC-Clearinghouse on Bucal Problems Related to HIV Infectioting an WHO Colaborating Centre Bucal Manifestation of the Immunodeficiencey Virus) ocorrido em 1993. (25) Essa classificação dividiu as manifestações bucais associadas com a infecção pelo HIV em três grupos, baseados na intensidade com que se apresentam nesta associação: Grupo I - consiste de manifestações bucais que estão fortemente associadas com infecção pelo HIV/AIDS, como por exemplo, candidíase bucal, leucoplasia pilosa, gengivite ulcero necrosaste (GUN), sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin, doenças periodontais: eritema gengival linear; gengivite necrosante, periodontite necrosante; e ainda a xerostomia. Grupo II - integram as manifestações bucais menos comuns representadas por infecções virais tipo: herpes, papiloma vírus e varicela-zoster; hiperpigmentação melânica úlceras inespecíficas, estomatite ulcerativa necrosante; 11 Grupo III - abrange manifestações possivelmente associadas com infecção pelo HIV, como exemplo osteomielite e carcinoma de células escamosas, citomegalovírus (CMV) e molusco contagioso. Contudo em 2009, uma nova classificação foi proposta por Shiboski et al. incluindo a sintomatologia e duração da lesões descritos pelos pacientes:(26) Infecções fúngicas - candidíase pseudomembranosa, eritematosa e queilite angular (sem sintomatologia); Infecções virais – leucoplasia pilosa e verrugas bucais (sem sintomatologia), herpes labial ou intra-bucal (sintomatologia leve a moderada); Condições idiopáticas – ulcerações aftosas recorrentes (sintomatologia moderada) e ulcerações não especificas (sintomatologia severa); Infecções bacterianas - gengivite e periodontite ulcerativa necrotizante (sintomatologia severa); Neoplasias – sarcoma de Kaposi e Linfoma não Hodgkin (sintomatologia moderada) e carcinoma epidermoide (sem sintomatologia a sintomatologia severa). Assim, as manifestações bucais em pessoas vivendo com HIV/AIDS tem sido motivo de diversos estudos e verifica-se que há predominância de alguns tipos de lesões. A candidíase bucal e leucoplasia pilosa bucal têm sido retratadas como as mais prevalentes e ainda como preditivas na evolução da doença, pois estão associadas, em grande parte com, contagem de linfócitos T CD4 menor que 200 células/mm3. (27-29) A utilização da terapia antirretroviral (TARV), desde 1996, tem proporcionado uma diminuição significativa das infecções oportunistas e das manifestações bucais associadas à imunodeficiência humana, tanto na sua frequência como em sua gravidade, melhorando notadamente o prognóstico dessa enfermidade. (30, 31) A persistência ou reaparecimento de doenças bucais em pessoas infectadas pelo HIV podem refletir resistência terapêutica ou progressão da doença. (32) 12 O tempo decorrente da evolução na infecção pelo HIV tem apresentado associação significativa com manifestações bucais; a cada ano da doença aumentase a probabilidade da incidência em sete por cento. Em pacientes HIV positivos em que a saúde bucal foi avaliada, enquanto em leito de internação, tiveram setenta e nove por cento na probabilidade de apresentar algum tipo de lesão bucal.(33) Frequentemente, as manifestações bucais associadas com a infecção pelo HIV, interferem suficientemente com o bem-estar do indivíduo, afetando sua qualidade de vida, por conseguinte esse necessita de atendimento odontológico específico. (34) Dentre os fatores sócio-econômicos, a renda familiar demonstrou uma associação inversa, em que os pobres e os menos assistidos, no que tange aos cuidados em saúde, são mais vulneráveis a desenvolver manifestações bucais decorrentes da evolução da infecção pelo HIV. (33) Por outro lado, há estudo demonstrando que pessoas que revelaram ao cirurgião dentista serem portadores do HIV tiveram 11,7 vezes mais chances de terem dificuldades no atendimento odontológico. Independentemente do gênero do paciente, da sua idade, do seu grau de escolaridade, da sua renda, da data do seu diagnóstico, do tempo decorrido entre o diagnóstico da doença e a procura por tratamento odontológico ou mesmo do gênero do dentista. (35) Por esse motivo, o paciente com HIV/AIDS é um frequentador em potencial dos consultórios odontológicos de serviços públicos ou privados, de modo que a inserção dos cirurgião dentista em equipe multidisciplinar, justifica-se por serem considerados profissionais estratégicos dentro dessa equipe pelo seu papel no diagnóstico e terapêutica das manifestações bucais associadas à infecção pelo HIV.(36) 13 2.6 Tipos de manifestações bucais associadas ao HIV/AIDS 2.6.1 Candidíase Bucal A candidíase bucal é uma das doenças oportunistas mais fortemente associadas à infecção pelo HIV. A candidíase bucal em pacientes com HIV/AIDS é importante como marcador da progressão da doença e preditiva para o aumento da imunodepressão. (6) A candidíase é uma infecção fúngica devido à presença de levedura do gênero Candida, o qual é um membro da família Cryptococcaceae; 81 espécies são admitidas no gênero Candida sendo a Candida albicans a mais conhecida e a mais comum.(37) São observados quatro padrões clínicos da candidíase bucal: pseudomembranosa, eritematosa, hiperplásica e queilite angular. Geralmente são localizadas na língua, mucosas jugal e labial, comissuras labiais, no palato mole e na orofaringe, causando na maioria das vezes, desconforto ao deglutir. O diagnóstico da candidíase bucal geralmente se baseia em critérios clínicos. (38) Clinicamente a forma pseudomembranosa apresenta-se como placas ou manchas brancas cremosas ou amareladas, em mucosa de cor normal ou avermelhada. As placas brancas são compostas por uma massa desordenada de hifas, leveduras, células epiteliais descamadas e fragmento de tecido necrótico, que depois serem removidas, por raspagem, deixam uma superfície vermelha, com ou sem sangramento. (38) A forma eritematosa caracteriza-se por placas avermelhadas, às vezes com pontilhados esbranquiçado, semelhante a pústulas, ou por placas lisas, geralmente acometendo o palato duro e mole. (1) A queilite angular é caracterizada por fissuras nas comissuras lábias, eritema e maceração, por vezes, com placas esbranquiçadas destacáveis. (1) 14 A candidíase hiperplásica é o tipo mais raro da infecção, apresenta placas brancas não removíveis à raspagem. Essa condição pode representar uma candidíase superposta a uma lesão leucoplásica preexistente. O histopatológico é necessário para elucidação do diagnóstico. (38) 2.6.2 Leucoplasia pilosa bucal A leucoplasia pilosa bucal é uma infecção oportunista causada pelo Vírus Epstein-Barr (EBV) encontrada em pacientes infectados pelo HIV. Clinicamente, caracteriza-se por placas esbranquiçadas, corrugadas bem delimitadas, geralmente planas, de dimensões variáveis, não infiltradas, e não removíveis à raspagem, ocorrem nas bordas laterais da língua, comumente, bilateral. (31) A leucoplasia pilosa bucal é considerada um sinal precoce de infecção pelo HIV e um sinal preditivo de imunossupressão grave e doença avançada. Essa condição é bastante comum em indivíduos adultos, em sua grande maioria afeta homens, e raramente acomete pacientes pediátricos infectados pelo HIV. (29, 39) O diagnóstico da leucoplasia pilosa bucal é realizado por meio de exame clínico, citopatológico e biópsia. A demonstração do EBV dentro da lesão pode ser evidenciada pela hibridização in situ, PCR, imunohistoquímica ou microscopia eletrônica. (31) 2.6.3 Herpes simples São as infecções virais bastante comuns nos indivíduos HIV/AIDS. A infecção bucais aparece na forma clássica de úlceras irregulares, rasas e dolorosas que destroem o epitélio pavimentoso estratificado queratinizado, principalmente nos lábios e na região peribucal. Pode se localizar na gengiva, lábios, palato, língua e pele peribucal. (40) As manifestações intra-bucais são incomuns, mas quando presentes afetam a mucosa do palato duro e gengiva. Ao contrário das alterações típicas, nos 15 imunossuprimidos ocorre também em mucosa não queratinizada. O herpes labial pode estender-se para a pele da face e exibir um comprometimento lateral externo.(38) As características clínicas do herpes simples são vesículas de bordas vermelhas que coalescem formando regiões ulceradas, por ocasiões, dolorosas e persistentes, respondendo de forma negativa ao tratamento. (40) 2.6.4 Eritema gengival linear O eritema gengival linear é uma manifestação gengival única de pacientes infectados pelo HIV. (41) Apresenta-se como uma faixa vermelho-fogo ao longo da gengiva marginal, estendendo-se de 2 a 4 mm em direção apical. Pode apresentar um halo eritematoso que se estende da gengiva livre à inserida. O eritema puntiforme da gengiva alveolar também pode ocorrer; papilas interdentárias intumescidas podem estar presentes; bem como, sangramento gengival espontâneo ou à escovação, e também à sondagem durante o exame periodontal. (38) É de evolução rápida, e a ausência de fatores locais é observada. Sendo assim, este eritema não é associado ao acúmulo de placa e não responde ao tratamento convencional de raspagem, alisamento radicular e polimento coronário. (42, 43) 2.6.5 Sarcoma de Kaposi (SK) O sarcoma de kaposi é uma neoplasia vascular multifocal que, na forma epidêmica, revelou-se como um indicador de risco entre homens homo e bissexuais, atingindo muito raramente mulheres e crianças HIV+. (10) 16 É a neoplasia mais comum associada à AIDS. Seu aparecimento revelou-se dependente da infecção pelo Vírus Humano do Herpes tipo 8 (HHV- 8) Esse vírus foi identificado primeiramente em 1994 nas manifestações bucais do Sarcoma de Kaposi em pacientes portadores do HIV. (1) São localizados predominantemente no palato e gengiva, são menos frequentes na mucosa jugal, lábios e língua. Apresenta-se como um tumor maligno proveniente do crescimento de células das paredes dos vasos sanguíneos, sob a forma de máculas, placas, pápulas ou nódulos avermelhados assintomáticos, azulados ou violáceos, solitários ou múltiplos, com ou sem ulcerações. (44) Nos estágios mais avançados, as manifestações podem tornar-se elevadas, frequentemente lobuladas, ulceradas e macias. Se o tumor envolver a gengiva, a lesão pode tornar-se hiperplásica e cobrir a coroa do dente.(45) As manifestações intra-ósseas do Sarcoma de Kaposi podem produzir um aumento de volume coberto por mucosa normal, portanto esta apresentação pode ser confundida com um abscesso periapical. (46) 2.6.6 Linfoma não-Hodgkin (LNH) Os linfomas da cavidade bucal são uma complicação rara do HIV/AIDS avançada. A aparência clínica dessas neoplasias inclui massas ou manifestações ulcerativas que envolvem o tecido mole bucal massas de tecidos moles com ou sem ulceração e necrose do tecido, geralmente envolvendo a mucosa gengival e do palato, mucosa alveolar como manifestação predominante. (47) 17 Uma variante rara do linfoma não-Hodgkin que parece acometer exlcusivamente cavidade bucal em individuos infectados pelo HIV, é chamado de linfoma plasmablástico.(48, 49) A incidência de LNH aumenta 60 a 200 vezes em pacientes infectados pelo HIV. A maioria corresponde a linfoma do tipo B agressivo. Contudo, acredita-se que o prognostico dos pacientes HIV/AIDS que desenvolvem LNH pode melhorar com os atuais esquemas de TARV de alta atividade.(50) 2.6.7 Xerostomia É a condição percebida pelo paciente causada pela redução global da saliva denominada de hipossalivação, condição que, geralmente, desencadeia queimação e a sensibilidade da mucosa. (4) O impacto da hipossalivação crônico é clinicamente significante devido à dificuldade associada na alimentação, dificuldade na fala, na deglutição e alterações do paladar. O resultado desse conjunto é geralmente uma diminuição na importância dada à alimentação; desnutrição e diminuição na interação social. (43) A xerostomia contribui bastante para o aumento de carie dental em pacientes infectados pelo HIV. Mais de 400 medicamentos leva a sintomas de xerostomia e aproximadamente 30 a 40% dos pacientes infectados pelo vírus experimentam uma xerostomia moderada a severa em associação com os efeitos dos medicamentos ou da proliferação de Células CD8 + nas glândulas salivares maiores. (51) A xerostomia leva mudanças na quantidade e qualidade da saliva, implicando diminuição nas propriedades antimicrobianas , contribuindo com progressão de doença periodontal e cárie. (51) 18 2.6.8 Úlceras bucais e estomatite aftosa recidivante (EAR) Úlceras bucais causada pela infecção por citomegalovírus podem acometer a mucosa queratinizada e não queratinizada, principalmente no palato, gengiva, mucosa bucal. A Infecção por citomegalovírus é sugestivo de imunossupressão e é comum entre os indivíduos infectados pelo HIV. O diagnóstico diferencial destas úlceras com outras entidades é às vezes complicado e geralmente requer a demonstração de presença do vírus citomegalovírus.(52) Estomatite aftosa recidivante (EAR) é uma entidade mórbida caracterizada pelo aparecimento de úlceras (aftas) dolorosas, de tamanho e duração variáveis, que são tipicamente encontradas na mucosa bucal não queratinizada. Três formas principais de aftas são encontradas: menor, maior e herpetiforme. Elas se distinguem umas das outras pelo número, tamanho e duração, embora nem sempre seja possível diferenciá-las claramente. (53) Episódios severos de EAR têm sido descritos em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV). As úlceras usualmente são dos três tipos e frequentemente estão localizadas no palato mole, língua e tonsilas palatinas (26) O aparecimento das lesões, principalmente as do tipo maior, está diretamente relacionado ao estado imunitário do paciente infectado pelo HIV acarretando déficits nutricionais e piora na qualidade de vida. (53) As aftas do tipo herpetiforme (1 a 3 mm) são menos frequentes e o número de manifestações pode ser bastante variado. Sua denominação deriva da suposta semelhança com as manifestações bucais provocadas pela gengivoestomatite herpética primária, no entanto, o vírus do herpes simples (HSV) não pode ser isolado dessas manifestações. (54) 19 2.6.9 Verruga e papilomas bucais São diferentes subtipos de virus do papiloma humano (HPV), que aparecem na pele e mucosas, são originários por inoculação ou contato direto com o vírus e apresentam uma maior prevalência entre os pacientes infectados com HIV.(55) Verrugas e papilomas são indistinguíveis e são pápulas ou nódulos firmes e altos, em forma de couve-flor, ou pedunculado. Embora possa regredir espontaneamente, o tratamento mais eficaz é a sua remoção. (26) 20 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Identificar a frequência de manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em uma Unidade Terciária de Saúde do Amazonas, FMT-HVD. 3.2 Específicos Relacionar a frequência de manifestações bucais à contagem de linfócitos T CD4+; Relacionar a frequência de manifestações bucais à terapia antirretroviral de alta atividade (TARV); Associar as frequências das manifestações mais comuns com variáveis como faixa etária, sexo, raça, grau de escolaridade, tempo de diagnóstico, comorbidades, hábitos de higiene bucal, hábitos nocivos (tabagismo e alcoolismo). 21 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Modelo de Estudo Para o desenvolvimento dessa pesquisa optou-se por realizar um estudo corte transversal para avaliar a frequência de manifestações bucais em pacientes HIV /AIDS na Unidade de Internação da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Manaus, Amazonas. 4.2 Período de Estudo O estudo foi realizado no período de agosto de 2010 a maio de 2011. 4.3 Local do Estudo O estudo foi realizado no município de Manaus, Amazonas, na Unidade de Internação, enfermarias masculinas e femininas da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), instituição de atenção terciária à saúde, referência estadual no tratamento de enfermidades tropicais e infecciosas, sendo também um centro de ensino e pesquisa. Figura 6: Localização geográfica do Estado do Amazonas, Manaus e da FMT-HVD. 22 4.4 População Alvo A população alvo foi composta de adultos a partir de dezoitos anos com diagnóstico confirmado de HIV/AIDS que estavam internados nas enfermarias da FMT-HVD. Os objetivos e procedimentos desse estudo foram explicados aos pacientes pelo pesquisador antes da coleta dos dados e do inicio da consulta. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado por todos os pacientes que concordaram em participar do estudo. Foram escolhidos aleatoriamente pacientes com diagnóstico confirmado de HIV/AIDS internados na enfermaria masculina ou feminina da FMT-HVD. Depois da inclusão do paciente como sujeito da pesquisa foi conduzida a entrevista pelo pesquisador com aplicação de questionário (Anexo), composto de dados socioeconômicos, clínicos e epidemiológicos. Foram avaliados os dados laboratoriais mais recentes sobre a evolução clínica do HIV, contagem de linfócitos T CD4+ e valores de carga viral, extraídos do prontuário médico do paciente, válidos até 90 dias anteriores ao exame odontológico. Caso esses dados não estivessem disponíveis no prontuário médico, era solicitada coleta de amostra de sangue a fim de obtê-los, com tolerância de 90 dias. 4.4.1 Critérios de inclusão Foram elegíveis para este estudo adultos, de ambos os sexos, a partir dos dezoito anos internados nas enfermarias da FMT-HVD e que concordaram em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 23 4.4.2 Critérios de exclusão Foram excluídos os pacientes que suas condições sistêmicas não permitiam ser examinados ou que apresentavam comprometimento cognitivo que o incapacitasse na compreensão do estudo ou aos questionamentos feitos pelo pesquisador. 4.5 Coletas de Dados O método de pesquisa utilizado consistiu no levantamento de dados por meio das variáveis colhidas pela aplicação de questionário, a partir dos dados clínicos levantados durante a consulta odontológica e dos dados extraídos do prontuário eletrônico do sujeito da pesquisa e em seguida esses dados foram registrados em prontuário odontológico específico e individual.(Anexo 2) As variáveis dessa pesquisa foram as referentes à pessoa (faixa etária, sexo, escolaridade, raça, procedência e situação conjugal), às variáveis clinico laboratoriais (contagem de linfócitos T CD4,+ valores de carga viral, data do diagnóstico de HIV/AIDS, uso de medicação antirretroviral e presença de comorbidades e/ou co-infecções), às variáveis de hábitos e costumes (uso do fumo, álcool e de higiene bucal). E ainda as variáveis referentes ao lugar (Unidade Terciária de Saúde do Amazonas, municípios de Manaus, FMT-HVD, enfermarias de internação, ala masculina e feminina), ao tempo (série histórica do período de agosto 2010 a maio de 2011) 4.5.1 Procedimentos da consulta O exame odontológico consistiu em região de cabeça, pescoço, cadeia ganglionar cervico-facial, glândulas salivares maiores e cavidade bucal a fim de identificar possíveis anormalidades. O exame clínico foi realizado por um único examinador, na maioria das vezes, sob luz artificial focada, utilizando-se, espátula de madeira, gaze, equipamentos de 24 proteção individual, EPI (óculos de proteção, avental, luvas, máscara e gorro descartáveis), respeitando-se rigorosamente as normas vigentes de biossegurança. A boca foi examinada por meio de inspeção na mucosa labial e jugal, soalho de boca, língua, palato duro, palato mole e gengiva. As manifestações alvos do estudo constituíram em: candidíase bucal, nas diferentes formas clínicas, leucoplasia pilosa bucal, herpes simples, úlceras em mucosa, verruga vulgar, pigmentação de mucosa, papiloma escamoso, eritema gengival linear, aumento glândulas salivares, xerostomia, sarcoma de Kaposi e linfoma não Hodgkin. Uma vez diagnosticado manifestações bucais nos sujeitos da pesquisa, estes receberam atendimentos no próprio leito pelo pesquisador, quando necessário atendimento especializado, foram encaminhados a Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) onde receberam cuidados necessários a promoção e recuperação da saúde bucal. 4.5.2 Exames complementares e procedimentos laboratoriais Foram realizados exames complementares, quando necessário, em alguns casos, como biópsia e citologia esfoliativa. A biópsia foi utilizando-se realizada sob anestesia local em ambiente ambulatorial, lâmina para bisturi. O espécime obtido foi fixado em solução de formalina a 10% com volume vinte vezes o tamanho da peça cirúrgica e enviado ao laboratório de anatomia patológica da própria FMT-HVD para o estudo histopatológico. A citologia esfoliativa foi utilizada em manifestações com diagnóstico clínico de candidíase bucal. Para tanto, foi coletada amostra da lesão por meio de raspado em movimentos circulares sob a superfície da lesão com auxilio de swab estéril. Em seguida a amostra foi semeada em meio de cultura Ágar Sabouraud e levemente friccionada em lâmina de vidro para realizar o exame direto. Depois 25 desses procedimentos, as amostras foram enviadas ao laboratório de micologia da FMT-HVD a fim de serem processadas. Para realizar o exame direto foi usado o método de coloração com Lactofenol Azul Algodão, foram avaliadas em microscópio óptico e consideradas como resultado positivo a presença de células leveduriformes (blastoconídeos) globosos ou ovais de parede lisa e pseudo-hifas. Caso o cultivo em meio Ágar Sabouraud fosse positivo, com crescimento de colônias, uma nova amostra a partir dela era obtida e semeada em meio específico CHROMagar® Candida que identifica as espécies C. albicans, C. tropicalis e C. krusei. As colônias foram incubadas a 37ºC pelo período de 48 horas e posteriormente realizada a leitura, que no meio CHROMagar® Candida se mostram colônias de C. albicans em colônias verde-claro a verde médio, C. tropicalis colônias azuis acinzentadas a azuis esverdeadas ou azuis metalizadas com ou sem halos violetas no meio circundante e C. krusei colônias planas de grande dimensão cor-de-rosa claro a vermelho claro com um rebordo esbranquiçado. 4.6 Análise dos dados Para a análise dos dados coletados, foi criado um banco de dados no programa Epi Info®, versão 3.5.1 Depois dessa etapa realizou-se análise dos dados nesse programa utilizando as ferramentas estatísticas neste disponível. (25) Assim, os dados coletados foram dispostos em tabelas e gráficos de frequência sobre as variáveis que traçaram o perfil da população estudada, de acordo com os objetivos propostos. Além desses recursos foram feitas análises descritivas quanto à prevalência das manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS correlacionando-as com a contagem de linfócitos T CD4+ e valores de carga viral, bem como com as outras variáveis desse estudo. 26 4.7 Aspectos Éticos Os aspectos éticos da pesquisa foram considerados de acordo com a Resolução nº 196 de 10/10/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde, que estipula normas éticas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Este projeto de pesquisa foi submetido à análise pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMT-HVD, tendo sido aprovado (Processo 6532010). 27 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e discussão estão apresentados na forma de artigo a ser submetido à Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical a fim de ser publicado. 28 Artigo Original Manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em uma Unidade Terciária de Saúde do Amazonas Oral Manifestations in HIV / AIDS patients admitted to a Tertiary Health Unit in the Amazon Cleber Nunes Alexandre1,2, Carla Silvana Silva3, Roberto Leyca4 , José Ribamar de Araújo,3 Michele Valle das Chagas1, José Antônio Nunes de Mello1 1 Universidade do Estado do Amazonas, 2 Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, 3Fundaçao de Medicina Tropical do Amazonas Dr. Heitor Vieira Dourado, 4 Universidade de Brasília Endereços: Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Dr. Heitor Vieira Dourado - Av Pedro Teixeira, Nº 25, Dom Pedro I Manaus – AM 29 RESUMO Introdução: As infecções causadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV podem provocar uma quantidade considerável de sinais e sintomas dentre os quais as manifestações bucais se destacam. Métodos: O objetivo desse trabalho foi identificar a frequência de manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em uma Unidade Terciária de Saúde do Amazonas (Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado - FMT-HVD) por meio de um estudo de corte transversal, e associar a fatores demográficos, contagem de linfócito CD4+, valores de carga viral e a terapia antirretroviral (TARV). O levantamento de dados foi realizado pela aplicação de questionário e de dados extraídos do prontuário eletrônico. O exame clínico odontológico foi realizado por um único examinador sob luz artificial focada, utilizando-se, espátula de madeira, gaze e equipamentos de proteção individual; e consistiu em região de cabeça, pescoço, cadeia ganglionar cérvico-facial, glândulas salivares maiores e cavidade bucal a fim de identificar possíveis anormalidades. Resultados: Foram incluídos e avaliados 83 pacientes HIV/AIDS durante o período do estudo (agosto de 2010 a maio de 2011), sendo que 64 (77,1%) apresentaram manifestações bucais, sendo que a candidiase foi a manifestação bucal mais frequente (49,4%) e teve associação significativa com a contagem de CD4 ≤ 200 cel/mm3. A média de linfócitos T CD4 para os pacientes que apresentavam manifestações bucais foi de 133,1 ( 1 – 632) cel/mm3 de sangue e a de carga viral 49.183,6 (50.000 - 500.00) cópiasm/ml. Estes tinham em media 43,3 ( 1 – 180) meses de diagnóstico da infecção pelo HIV. O tempo médio de uso de TARV foi de 42,9 (1 – 168) meses e o de internação foi de 12,7 (1 – 110) dias para aqueles que tinham manifestação bucal. Conclusão: As manifestação bucais foram frequentes nos pacientes com HIV/AIDS estudados, e não se relacionaram com terapia antirretroviral (TARV) e nem com valores de carga viral. A contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3 de sangue predispuseram os pacientes à candidíase bucal. Palavras Chaves: HIV; AIDS; manifestações bucais, Linfócitos CD4; terapia antirretroviral. 30 INTRODUÇÃO Passados 30 anos, a AIDS ainda é um grande problema de saúde publica mundial. As manifestações bucais em pessoas vivendo com HIV/AIDS têm sido retratadas como preditivas na evolução da doença, pois estão associadas, em grande parte à contagem de linfócitos T CD4 ≤ 200 células/mm3 de sangue. (1-6) A depleção imune decorrente da infecção pelo HIV pode alterar a microbiota bucal e a resposta tecidual frente a microrganismos oportunistas aumentando o risco para manifestação bucal em algum estágio da doença (7) A utilização da terapia antirretroviral (TARV), desde 1996, tem proporcionado uma diminuição significativa das infecções oportunistas e das manifestações bucais associadas a imunodeficiência humana, tanto na sua frequência como em sua gravidade, melhorando notadamente o prognóstico dessa enfermidade, entretanto a persistência ou reaparecimento de doenças na boca de pessoas infectadas pelo HIV podem refletir resistência terapêutica ou progressão da doença. (8-10) O conhecimento sobre a infecção pelo HIV e suas manifestações bucais tornaram-se exigências importantes para os profissionais responsáveis pelos cuidados com a saúde bucal, pois o diagnóstico precoce, a prevenção e o controle das manifestações bucais nos indivíduos convivendo com HIV/AIDS podem, sobretudo, colaborar na recuperação desses, melhorando sua qualidade de vida. (11) Nesse sentido, acredita-se que a identificação e caracterização das manifestações bucais, relacionadas ao quadro clínico do paciente HIV/AIDS, possibilitam avaliar o impacto dessas manifestações na evolução da doença, reiterando a importância da assistência integral a esses pacientes. Dessa forma, o objetivo principal dessa pesquisa foi identificar a frequencia de manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS internados em 31 uma Unidade Terciária de Saúde do Amazonas (Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado). 32 MÉTODOS Foi realizado um estudo corte transversal para identificar a frequência de manifestações bucais em pacientes HIV /AIDS internados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), no município de Manaus, Amazonas, instituição de atenção terciária à saúde, referência estadual no tratamento de enfermidades tropicais e infecciosas, no período de agosto de 2010 a maio de 2011. Foram incluídos 83 indivíduos, a partir de 18 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico confirmado de HIV/AIDS, internados na FMT-HVD que concordaram em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os objetivos e procedimentos foram explicados aos pacientes antes da coleta dos dados e do inicio do exame clínico odontológico. Depois a inclusão do paciente como sujeito da pesquisa foi conduzida a entrevista com aplicação de questionário composto de dados sócio-demográficos, clínicos e epidemiológicos. Foram avaliados os dados laboratoriais mais recentes sobre a evolução clínica do HIV, contagem de linfócitos T CD4+ e valores de carga viral, extraídos do prontuário médico do paciente, válidos até 90 dias anteriores ao exame odontológico. Caso esses dados não estivessem disponíveis no prontuário médico, era solicitada a coleta de amostra de sangue a fim de obtê-los. O exame clínico odontológico foi realizado por um único examinador e consistiu em região de cabeça, pescoço, cadeia ganglionar cérvico-facial, glândulas salivares maiores e cavidade bucal a fim de identificar possíveis anormalidades, sob luz artificial focada, utilizando-se, espátula de madeira, gaze e equipamentos de proteção individual. A boca foi examinada por meio de inspeção em mucosa labial e jugal, soalho de boca, língua, palato duro, palato mole e gengiva. 33 A biópsia foi necessária para diagnóstico de algumas lesões, a espécime obtida foi processada no laboratório de anatomia patológica da própria FMT-HVD para o estudo histopatológico. A citologia esfoliativa foi utilizada em caso de manifestações com diagnóstico clínico de candidíase bucal. Para tanto, foi coletada amostra da lesão por meio de raspado em movimentos circulares sob a superfície da lesão com auxilio de swab estéril. Em seguida a amostra foi semeada em meio de cultura Ágar Sabouraud e levemente friccionada em lâmina de vidro para realizar o exame direto, consideradas como resultado positivo a presença de células leveduriformes (blastoconídeos) globosos ou ovais de parede lisa e pseudo-hifas. Caso o cultivo em meio Ágar Sabouraud fosse positivo, com crescimento de colônias, uma nova amostra a partir dela era obtida e semeada em meio específico CHROMagar® Candida que identifica as espécies C. albicans, C. tropicalis e C. krusei. As variáveis dessa pesquisa foram referentes à pessoa (sexo, faixa etária, raça, procedência, escolaridade e situação conjugal), às variáveis clinico - laboratoriais (contagem de linfócitos T CD4,+ valores de carga viral, tempo de diagnóstico de HIV/AIDS, uso de antirretroviral, tempo de internação e presença de co-infecções), às variáveis de hábitos e vícios (higiene bucal, fumo e álcool) Análises dos dados Para a análise dos dados coletados, foi composto um banco de dados no programa Epi Info®, versão 3.5.1 Depois essa etapa realizou-se análise dos dados nesse programa utilizando as ferramentas estatísticas neste disponível. 34 Os aspectos éticos da pesquisa foram considerados de acordo com a Resolução nº 196 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde tendo sido aprovado (Processo 653-2010) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMT-HVD. 35 RESULTADOS Dos 83 pacientes HIV/AIDS avaliados, 64 (77,1%) apresentavam pelo menos um tipo de manifestação bucal. Não foi verificada associação entre o sexo (p = 0,369), cor ou raça (p = 0,811) e estado civil (p = 0,108) com a presença de manifestações bucais. As características da população estudada estão representadas na Tabela 1. Tabela 1. Presença de Manifestações bucais associadas às características demográficas Variáveis N % Manifestações bucais n (%) Sim 64 (77,1) Não 19 (22,9) Sexo Masculino Feminino 54 29 65,1% 34,9% 40 24 14 5 Faixa etária 20 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 61 a 70 31 29 16 5 2 37,3% 34,9% 19,3% 6,0% 2,4% 24 23 12 2 2 7 6 4 3 0 Procedência Manaus Interior Outros Estados Exterior 60 15 6 2 72,3% 18,1% 7,2% 2,4% 45 13 6 0 15 2 0 2 Raça/cor Leucoderma Feoderma Melanoderma 48 25 10 57,8% 30,1% 12,1% 38 19 7 10 6 3 Estado civil Com parceiro Sem parceiro 44 39 53,0% 47,0% 37 27 7 12 Escolaridade Fundamental Médio Superior 50 31 2 60,2% 37,3% 2,4% 41 22 1 9 9 1 P 0,369 0,811 0,108 36 No que se refere à distribuição de manifestações bucais (Tabela 2), a candidíase bucal foi a lesão mais frequente acometendo 41/83 sujeitos (49,4%), sendo a forma pseudomembranosa a mais recorrente. Cinco pessoas (6%) apresentavam as formas pseudomembranosa e queilite angular simultaneamente, enquanto 2 (2,4%) apresentavam as formas pseudomembranosa e eritematosa concomitante. No estudo para identificação das espécies Candida foram coletadas amostra de 40 pacientes de um total de 41 que apresentaram candidíase bucal, os resultados dessas amostras foram: presença de células leveduriformes (blastoconídeos) em 27 (67,5%) das amostras, ao exame de microscopia direto. Já os resultados das amostras semeadas em meio de cultura Agar Sabouraud e depois CHROMagar® Candida foram: 22(55%) de Candida albicans; 8(20%) de Candida tropicalis; 6(15%) de Candida albicans e Candida tropicalis concomitante e em 4 (10%) das amostras não houve crescimento de cultura. Xerostomia foi a segunda manifestação bucal mais frequente com 17 (20,4%), seguidos por úlceras aftosas com 11 (13,2%), pigmentação melânica, 8 (9,6%), herpes simples, 6 (7,2%). As demais manifestações associadas à infecção pelo HIV variaram a frequência de 1 a 2 repetições. Alguns indivíduos apresentaram mais de uma manifestação bucal simultânea (Tabela 2) Quando os pacientes foram avaliados em relação a vícios e hábitos, aqueles que tinham alguma manifestação em boca 8 (9,6%) eram fumantes e 34,3% revelaram usar álcool diariamente. De um total de 64 sujeitos que tinha manifestação em boca 48(75%) responderam praticar higiene bucal, enquanto internados. Dos entrevistados 58 (69,8%) tinham alguma queixa em relação à boca: a dor de dente foi revelada por 20 (24%) sujeitos, seguidas por sensação de boca seca com 19 37 (22,8%), sangramento gengival em 8(9,6%) episódios, ardência bucal com 6 (7,2%) casos. Nove (10,8%) pacientes se queixaram de algum ferimento na boca, e outras 11(13,2%) queixas relacionadas à estética do sorriso. Alguns pacientes tiveram mais de uma queixa simultâneas. Tabela 2. Distribuição da frequência de manifestações bucais diagnosticadas em pacientes HIV/AIDS na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (2010 / 2011) Lesão bucal Candidíase Frequência (n) % 41 49,4 37 6 5 44,5 7,2 6,0 Xerostomia 17 20,4 Úlceras aftosas 11 13,2 Pigmentação melânica 8 9,6 Herpes simples 6 7,2 Leucoplasia pilosa 2 2,4 Aumento das parótidas 2 2,4 Herpes zoster 2 2,4 Eritema gengival linear 2 2,4 Sarcoma de Kaposi 1 1,2 Linfoma plasmablástico 1 1,2 Verruga vulgar 1 1,2 Número de manifestações bucais (simultâneas) 0 1 2 3 >4 19 41 13 9 1 Candidíase pseudomembranosa Queilite angular Candidíase eritematosa 38 A contagem de linfócitos T CD4 e de carga viral nos pacientes que apresentavam manifestações bucais ficou em média 133,1 cel/mm3 e 49.183,6 cópias/mL de sangue, respectivamente. Estes tinham 43,3 meses de diagnóstico da infecção pelo HIV. Dos 53 indivíduos que faziam uso da TARV, em 42 deles manifestaram algum tipo de lesão bucal associada à infecção pelo HIV. O tempo médio de uso de TARV foi de 42,9 meses e o tempo de internação foi de 12,7 dias no momento do exame odontológico, para os sujeitos que apresentavam manifestações bucais. A frequência de manifestações bucais associadas às variáveis clínicas/laboratorias estão apresentadas na tabela 3. Tabela 3: Frequência de manifestações bucais associadas às variáveis clínicas/laboratorias Frequência Presente 64 (77,1) 133,1 48 49.183,6 42 42,9 43,3 12,7 Ausente 19 (22,9) 163,5 15 87.333,3 11 63,5 65,0 11,7 Total 83 (100) 140,1 63 59.112,9 53 44,8 47,3 12,4 0,427 0,721 0,236 0,538 0,248 0,607 0,831 (n) (%) P CD4 CD4 ≤ 200 Manifestações bucais (média) Carga viral (média) TARV Tempo Tempo de Tempo TARV diagnóstico** internação* (média) (média) (média) ** em meses * em dias Dos 83 indivíduos incluídos na pesquisa, 63 (75,9%) apresentava contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3 de sangue. Além disso, dos 64 pacientes com manifestações bucais, em 48 deles a contagem de linfócito CD4 era ≤ 200 cel/mm3 de sangue, enquanto naqueles com contagem de CD4 > 200 cel/mm3, apenas 4 não apresentavam qualquer manifestação bucal, porém sem diferença estatística.( p= 0,72). (Figura 1) 39 Figura 1. Manifestações bucais em associação à contagem linfócito CD4. Contudo, quando a candidíase bucal foi avaliada isoladamente e associada à contagem de linfócitos T CD4, observa-se que há diferença estática significante. Conforme tabela 4. Tabela 4. Candidíase bucal associada à contagem de CD4 Candidíase bucal Presente Ausente Total P Frequência % CD4 (média) CD4 ≤ 200 41 42 83 49,4 50,6 100 99,0 180,1 35 28 0,01 0,04 Por outro lado, nos indivíduos avaliados, 42 (50,6%) apresentavam doenças sistêmicas oportunistas relacionadas ao HIV/AIDS, e desses, 32 sujeitos tinham também, manifestações bucais decorrentes da infecção pelo HIV. As doenças sistêmicas oportunista estavam distribuídas da seguinte forma: neurotoxoplasmose com 14 (16,8%) casos; seguidos por 11(13,2%) casos de diarréia; 10 40 (12%) casos de tuberculose; 7 (8,4%) casos de pnemocistose; 6 casos de pneumonia e 4 casos de neurocriptococose. Dez (12%) pacientes apresentavam outras DST sendo que 7(8,4%) eram herpes genital, destes 4 eram mulheres, já 3 outros indivíduos do sexo masculino apresentavam sífilis. 41 DISCUSSÃO A epidemia de AIDS entrou em 2011 na sua terceira década, mesmo passados 30 anos, a AIDS ainda é um grande problema de saúde publica mundial, visto que vem se transformando continuamente e atingindo vários seguimentos populacionais, sobremaneira os estratos sociais menos favorecidos. 12 A participação de pacientes do sexo masculino foi 54(65,1%), sendo que (37,3%) dos sujeitos da pesquisa estavam na faixa etária entre 20-30 anos. A idade média foi de 35,8 e 35,2 anos para o sexo feminino e masculino, respectivamente, no entanto, não se relacionaram as frequências de manifestações bucais. Noce et al incluíram nos seus estudos 254 indivíduos infectados pelo HIV, 83 (32.7%) mulheres e 171(67,3%) homens, porém a maior parte na faixa etária entre 30 a 39 anos. Já os dados publicados pelo MS (2009) mostra que aproximadamente (54%) das pessoas infectadas pelo HIV naquele ano foram jovens entre 13-24 anos do sexo masculino. (12, 13) Essas faixas etárias correspondem ao maior percentual de pessoas sexualmente ativas. Pode-se, assim, aventar que a forma de transmissão por via sexual do HIV é a mais comum entre os indivíduos que se infectaram. (13) A freqüência de manifestações bucais em pacientes com HIV/AIDS sofre variações entre 21 a 81%, algumas delas em função do acesso aos serviços de saúde, hábitos individuais, fatores sociais, geográfico, ou mesmo pela metodologia utilizada no estudo. (9, 14, 15 -18) Foi observado no presente estudo uma frequência de 77,1% (64/83) de manifestações bucais associadas ao HIV/AIDS, semelhantes aos trabalhos realizados no Brasil(19-22) e na America do Sul (23, 24). 42 As manifestações bucais foram frequentes nos pacientes do sexo masculino, procedente de Manaus, leucoderma, que conviviam com parceiros e ainda naqueles que tinha um grau de escolaridade mais baixo. Os anos de estudo informados sugerem uma aproximação do processo de pauperização da epidemia de AIDS e parece ter relação com risco de contrair HIV e desenvolver manifestações associadas ao seu curso clínico, assim sugerido por outros pesquisadores. (25) Não obstante, quando se verificou o curso clínico da infecção pelo HIV nos sujeito incluídos nessa pesquisa, notou-se o surgimento de manifestações bucais em pacientes com reduzida contagem de linfócitos T CD4, todavia não houve diferença estatisticamente significante. Por conseguinte, aqueles que não apresentavam manifestações bucais tinham maior tempo de diagnóstico de HIV/AIDS (em média 65,0 meses) e consequente mais tempo em uso de antirretroviral, sem, contudo implicar em diferenças estatísticas entre os grupos. Somado a isso, alguns sujeitos tinham doença sistêmica oportunista associada ao HIV/AIDS, alguns deles a presença simultânea de dois ou mais agravos. Sendo que a neurotoxoplasmose estava presente em 14 indivíduos, diarréia em 11, seguido por tuberculose com 10 recorrências, outras doenças oportunistas também foram listadas, incluindo outras DSTs. Esta relação, então, baseia-se no fato de que a depleção imune contínua de células CD4 provoca um quadro importante de imunossupressão, implica emergência de doenças sistêmicas oportunistas e manifestações bucais. Nesse estudo, 42 indivíduos, mesmo usando antirretroviral, tiveram alguma manifestação bucal. Alguns indivíduos infectados pelo HIV apresentavam um variado número de manifestações bucais simultâneas, 23/83 indivíduos apresentavam de 2 a 4 manifestações simultâneas em boca. Os indivíduos que manifestaram pelo menos um tipo lesão bucal tinha 43 contagem média de linfócitos CD4 em 133 cel/mm3, indicando comprometimento imunológico importante. Glick et al. e Sharma et al. associaram a presença de manifestações bucais a valores preditivos positivo de contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3. Além disso, mostraram que a presença de duas ou mais manifestações bucais simultâneas apresentam valores preditivos positivo de 75% a 100% para contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3.(26, 27) A lesão bucal mais frequente nesse trabalho foi a de candidíase bucal 41(49,3%), sendo que candidíase pseudomembranosa foi a mais frequente dentre diversas formas 37 (44,4%). A contagem de CD4 ≤ 200 cel/mm3 predispõe o doente a contrair varias doenças oportunistas, destacando a candidíase bucal, de acordo com outros trabalhos publicados. (5, 9, 23, 28) Somado a isso, os trabalhos de Bravo et al., Bhayat et al., 2010 e Bodhade, 2011 assinalam para a forte associação da candidíase bucal e progressão da infecção pelo HIV culminando com o grave comprometimento imunológico do individuo. (23, 29) Em nossos resultados a candidíase bucal estava presente em 41 pacientes, sendo que 35 desses apresentavam contagem de CD4 ≤ 200 cel/mm3 e média de 99 cel/mm3 de sangue e nos outros que não apresentavam candidíase bucal a contagem média de CD4 foi de 180,1 cel/mm3 de sangue com diferença estatisticamente significante (p= 0,01). Isso reforça outros estudos que a reportam como uma das doenças oportunistas mais fortemente associadas à infecção pelo HIV/AIDS, bem como marcador da progressão da doença, e preditiva para o aumento da imunossupressão. (6, 30) O presente estudo demonstrou que a Candida albicans foi predominante, seguido por Candida tropicalis. Foi verificada presença das duas espécies em mesma amostra, mas não foi identificada outras espécies pela metodologia utilizada. Os nossos resultados são parecidos com de Costa et al. (31) 44 Wingeter et al., em outro trabalho, mostraram que Candida albicans foi a espécie isolada na maioria dos amostras (93%), e Candida tropicalis e Candida glabrata como outras espécies não albicans distribuíram homogeneamente. (32, 33) e Galber et al. a espécie predominante também foi a C. albicans seguida C. glabrata (33, 34). Nossos estudos mostram que em 42/53 (79,9 %) de indivíduos, mesmo fazendo uso regular da TARV, manifestaram algum tipo de lesão bucal. Em contrapartida aqueles sem manifestações tinham um tempo de uso de antirretroviral de 63,5 meses, contra 42,9 meses dos que apresentava manifestação em boca. Mas não pudemos associar o uso do antirretroviral à diminuição da frequencia das manifestações bucais, já que não houve diferença estatística significante. (p=0,53 e 0,24, respectivamente) Entretanto, a literatura aponta significativa redução na frequência de manifestações bucais em usuários da TARV, como por exemplo, a candidíase bucal e a leucoplasia pilosa (9, 35) , e, aumento na frequência de pigmentação melânica e manifestações relacionadas às glândulas salivares, pois o uso da TARV é um fator de risco significativo para a redução do fluxo salivar e xerostomia. (10, 36-38) Assim o aumento na frequência de xerostomia e da pigmentação melânica foram atribuídas à terapia antirretroviral em outros estudos, (39, 40) e nos nossos resultados essas manifestações obtiveram frequências (20,4 % e 9,6%), da mesma forma que não pudermos associar o uso da TARV a diminuição de outras lesões bucais, também não pudemos atribuir o aumento na frequencia de xerostomia e pigmentação melânica. As frequência de leucoplasia pilosa, aumento de glândulas parótidas, herpes zoster, eritema gengival linear e verruga vulgar nesse estudo, variaram de 1(1,2%) a 2(2,4%), assim como as manifestações neoplásicas da cavidade bucal associadas a infecção pelo HIV, Sarcoma de kaposi e linfoma plasmablástico (1,2%) cada. 45 Os resultados de Taiwo et al. são semelhantes aos nossos, quando reportam uma baixa frequência, atribuindo o uso da terapia antirretroviral, de leucoplasia pilosa, herpes simples e sarcoma de kaposi.(41) Entretanto, as manifestações neoplásicas da cavidade bucal têm merecido destaque em pacientes acometidos pelo HIV. 42 As neoplasias malignas têm diminuído gradativamente com a utilização da terapia antirretroviral, mas se mostra associada ao maior risco de morte43. Nos dois casos (sarcoma de kaposi e linfoma plasmablástico) apenas no primeiro, o sujeito fazia uso do antirretroviral ( há 1 mês) e apresentava 3 manifestações em boca concomitante, tinham CD4 em 203 e carga viral 12.857 cópias/mL, enquanto o segundo CD4 em 82 cel/mm3 de sangue e carga viral 8.300 cópias/mL. Os dois sujeitos em questão foram a óbito antes do término desse estudo. Em um estudo realizados por Birman et al., frequente em indivíduos (42) o Sarcoma de Kaposi foi mais homossexuais masculinos, sendo que alguns com lesões exclusivamente na boca, e ainda Chuo et al. apontaram a boca como um sitio anatômico importante para Sarcoma de Kaposi. (43) O linfoma plasmablástico uma variante do linfoma B difuso de grande células foi descrita originalmente como uma lesão da cavidade bucal predominantemente em pacientes HIV/AIDS, geralmente associado ao EBV(44-46), mas no presente caso o EBV foi negativo, no estudo de hibridização in situ. Quarenta e dois (50,6%) indivíduos da pesquisa já tinham confirmação de diagnóstico para doenças sistêmicas oportunistas, em 32 (76,1%) desses foram diagnosticados também manifestações em boca, no momento da inclusão deles na pesquisa. Essa frequencia de doenças sistêmicas pode ser explicada, porque esses agravos provavelmente foram os motivos pelos quais os sujeitos eram encaminhados e ou internados 46 na FMT-HVD, pois esta é Unidade que oferece assistência em saúde de nível terciário no Amazonas sendo referência em enfermidades tropicais e infecciosas. Nos nossos estudos a neurotoxoplasmose foi a doença sistêmica mais frequente, diferente dos trabalhos de Bodhade et al.(28) em que a tuberculose pulmonar (TB) foi a mais frequente, além disso a TB e candidíase bucal teve associação estatística significante nos estudos de Hamza et al. (9) e Ranganathan et al. (47) , no entanto não pudemos demonstrar a mesma associação nos nossos achados. Quando os pacientes foram avaliados em relação a vícios e hábitos, em nosso estudo encontramos uma frequência de 12% (10/83) fumantes, desses 8(9,6%) apresentavam manifestações bucais, em contrapartida, pacientes que tinham manifestações bucais e que usavam álcool diariamente foi de (34,7%). Nos estudos de Lourenço et al. (22) , leucoplasia pilosa foi mais frequente em pessoas fumantes, já as úlceras bucais naqueles não fumantes. Por vez, os usuários que tem desordem por uso do álcool teriam uma maior exposição aos seus efeitos, sobrepondo a fatores deletérios, como baixa adesão aos antirretrovirais e diminuição de higiene bucal. 25 Por outro lado, é discutido que as substâncias do tabaco interfiram no mecanismo de proteção do epitélio bucal pelos danos teciduais locais ou genéticos, além de agirem sobre glândulas salivares e mucosas, com consequente exposição do epitélio, criando uma porta de entrada para microorganismos e aumentado o risco da adesão de diversos agentes nessa superfície, com destaque para espécies do gênero candida. (25, 47) Em relação à higiene bucal um total de 64 sujeitos que tinha manifestação em boca 48(75%) responderam praticar higiene bucal, enquanto internados. A manutenção da higiene bucal é essencial para prevenir doenças periodontais associadas à placa bacteriana ou mesmo atenuar sua progressão. No presente estudo não foram identificados doenças 47 periodontais associadas ao aumento de virulência da placa bacteriana, situação passível de ocorrer em indivíduos imunossuprimidos pelo HIV.(48) Dos entrevistados 58 (69,8%) tinham alguma queixa em relação à boca, isso nos atenta para a necessidade de inserção do cirurgião dentista em equipes multidisciplinares de atenção a saúde do paciente com o HIV, visto as dificuldades enfrentadas por estes em ser atendidos por um cirurgião dentista, decorrentes, ainda, do preconceito e da insegurança por parte de muitos profissionais em prestar atendimento a essa população.(49-51) 48 CONCLUSÃO Diante dos objetivos propostos neste estudo e os resultados alcançados pode-se concluir que: As manifestações bucais foram frequentes nos indivíduos internados com o HIV/AIDS na FMT-HVD; A candidíase foi a manifestação bucal mais frequente, seguido por xerostomia e úlceras aftosas; A contagem de linfócitos CD4 ≤ 200 cel/mm3 de sangue predispôs o paciente HIV/AIDS à candidiase bucal; As manifestações bucais não foram relacionadas ao uso da terapia antirretroviral (TARV); Não foram verificadas associações significativas entre o sexos, cor ou raça e estado civil com a presença de manifestações bucais. 49 AGRADECIMENTOS À Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-HVD) CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver nenhum tipo de conflito de interesse no desenvolvimento da pesquisa. SUPORTE FINANCEIRO Declaramos que não houve suporte financeiro por parte de agências de fomentos à pesquisa para o desenvolvimento deste estudo. 50 REFERÊNCIAS 1. Sroussi H, Villines D, Epstein J, Alves M. The Correlation Between Prevalence of Oral Manifestations of HIV and CD4+ Lymphocyte Counts Weakens With Time. J Acquir Immune Defic Syndr. 2006. 2. Campo J, Del Romero J, Castilla J, Garcia S, Rodriguez C, Bascones A. Oral candidiasis as a clinical marker related to viral load, CD4 lymphocyte count and CD4 lymphocyte percentage in HIV-infected patients. J Oral Pathol Med. 2002 Jan;31(1):5-10. 3. Dias EP, Israel MS, Silva Junior A, Maciel VA, Gagliardi JP, Oliveira RH. Prevalence of oral hairy leukoplakia in 120 pediatric patients infected with HIV- 1. Braz Oral Res. 2006 Apr-Jun;20(2):103-7. 4. Leao JC, Ribeiro CM, Carvalho AA, Frezzini C, Porter S. Oral complications of HIV disease. Clinics (Sao Paulo). 2009 May;64(5):459-70. 5. 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I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA Nome do Paciente: _____________________________________________________ _____________________________________________________________________ Documento de Identidade: ________________________________________________ Data de Nascimento: ______/_____/_____ Sexo M ( ) F( ) Número do Prontuário: __________________________________________________ Endereço: _____________________________________________________________ Telefone: ______________________________________________________________ II – DADOS SOBRE A PESQUISA: As infecções causadas pelo HIV podem provocar uma quantidade considerável de sinais e sintomas entre os quais as manifestações bucais exercem um papel importante, pois a maioria das pessoas infectadas pelo HIV poderá apresentar alguma manifestação (lesão) na boca em qualquer estágio da doença. A presença de manifestações em boca indica uma susceptibilidade de aparecer outras infecções oportunistas, além de ter valor diagnóstico importante no monitoramento do estado imunológico do paciente e da progressão da doença. O presente estudo visa determinar a Prevalência das manifestações bucais em pacientes com HIV/AIDS atendidos em uma Unidade de Terciária de Saúde do Amazonas, visto o crescente número de pessoas infectadas pelo HIV no Amazonas, bem como a carência de estudos que determinem as condições de saúde bucal nesse grupo de pessoas, no município de Manaus, justifica a realização dessa pesquisa científica acerca do tema. 1- Título da pesquisa: 63 Prevalência das manifestações bucais em pacientes HIV/AIDS atendidos em uma Unidade de Terciária de Saúde do Amazonas 2- Avaliação de risco da pesquisa: Risco mínimo, sem desconforto ou com grau leve de desconforto, mesmo em caso que, por ventura, necessite de biópsia, pois será realizada sob anestesia local. Em caso de raspado de lesão o desconforto é considerado mínimo. 3- Procedimento que serão utilizados e propósitos: Os pacientes que concordarem em participar da pesquisa responderão a um questionário sobre sua evolução médica e dados demográficos. Serão avaliados os dados laboratoriais mais recentes sobre a evolução clínica do HIV, contagem de linfócitos T CD4+ e valores de carga viral, extraídos do prontuário médico do paciente, até 90 dias anterior ao exame odontológico. Caso esses dados não estejam disponíveis no prontuário, o paciente será encaminhado para coleta de amostra de sangue a fim de obtê-los, com tolerância de 90 dias. Será realizado um exame clínico odontológico abrangendo região de cabeça, pescoço, cadeia ganglionar, glândulas salivares e cavidade bucal a fim de detectar eventuais manifestações relacionadas à infecção pelo HIV. Uma vez executado o exame clínico e, se necessário, amostras da lesão serão obtidas por meio de procedimentos complementares (biópsia e raspado da lesão) para elucidação e confirmação do diagnóstico. 4- Benefício que poderão ser obtidos: Acredita-se que a identificação e caracterização das manifestações bucais, relacionadas ao quadro clínico do paciente com HIV/AIDS possibilitam avaliar o impacto dessas manifestações na evolução da doença e por outro lado, a prevenção e o controle das manifestações bucais associadas ao HIV/AIDS podem colaborar na recuperação do indivíduo infectado melhorando sua qualidade de vida. III- ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA: 1- Acesso, á quaisquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas; 2- Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência; 3- Salvaguarda da confidência, sigilo e privacidade; 4- Disponibilidade de assistência na FMT/AM, por eventuais danos à saúde, decorrentes da pesquisa; 5- Viabilidade de indenização por eventuais danos à saúde decorrentes da pesquisa 64 IV- OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES Não há previsão de ressarcimento ou pagamento aos pacientes, pois este exame será realizado no dia em que o paciente se encontrar internado na enfermaria ou ainda no ambulatório da FMT/AM Ao participar, concorda em cooperar com a pesquisa durante o procedimento da coleta, com fotos se relevante ao trabalho e permitindo o armazenamento deste material para futuros trabalhos não abrindo mão de seus direitos legais ao assinar o termo de consentimento informado, podendo retirá-lo a qualquer momento se julgar conveniente. V- CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Declaro está de pleno acordo com os termos acima e optar voluntariamente da pesquisa supracitada, depois ter sido esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado. Manaus_____________________________de_____________________de__________ ______________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa ( ) Desejo obter resultados dessa pesquisa e ser informado sobre pesquisas futuras ______________________________________________ Cleber Nunes Alexandre (Pesquisador) Endereços: Fundação de Medicina Tropical, Av Pedro Teixeira, Nº 25 Manaus – AM Av. André Araújo, 1032 Bl B 301 Aleixo Manaus – AM Telefone do responsável 92 9136 4630 Dom Pedro I 65 9.2 Modelo do Prontuário Odontológico PRONTUÁRIO ODONTOLÓGICO DADOS PESSOAIS DO PACIENTE Registro: ______________ Data: ______/_____/_______ Nome: ________________________________________________________________ Data de nasc.: ______/_____/______ Idade: _______________________________ Naturalidade: __________________________ Nacionalidade:____________________ Procedência: ____________________________________________________________ Raça: ( ) Leucoderma ( ) Melanoderma ( ) Feoderma Outras:______________________ Estado civil: ( ) Com Parceiro (a) ( ) Sem Parceiro (a) Profissão/ocupação: _____________________ Escolaridade: ( ) Não alfabetizado ( ( ) pós-graduação ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior INQUÉRITO DE SAÚDE Nome do medico que o acompanha: _________________________________________ Tempo de diagnóstico HIV+ _________/________/_____ Exames Hematológicos: Leucócitos: ______________ Hemoglobina: ______________ Hematócrito: _________ Plaquetas: _______________ Contagem absoluta de neutrófilos: __________________ Linfócitos T CD4: Valor absoluto: ____________________ Data do Exame _____________________ Carga Viral: Cópias/mL: ______________________ Data do Exame: _____________________ História Médica: Doenças relacionadas com a infecção pelo HIV: ( ) Tuberculose ( ) Sífilis ( ) Histoplasmose ( ) Criptococose ( ) Pneumonia ( ) Meningite ( ) Pneumocistose ( ) Toxoplasmose O paciente tem história de alguma das doenças listadas abaixo? * 1. Hipertensão Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 2. Sopro cardíaco Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 3. Prolapso da válvula mitral Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 4. Angina pectoris Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 5. Infarto agudo do miocárdio (recente) Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 66 6. Diabete Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 7. Hepatite Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 8. Discrasia sanguínea Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 9. Anemia Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 10. Doença renal Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 11. Câncer Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 12. DST Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 13. Lipodistrofia Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) 14. Alergia Sim ( ) Não ( ) Não Sabe ( ) *Quando sim especificar, se for o caso. ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Está em uso de Terapia antirretroviral – TARV? Sim ( ) Não ( ) Há quanto tempo? ________________________ Esquema TARV : ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Você fuma? ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo? ( ) 1 a 3 anos ( ) 4 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de dez Quantos cigarros por dia? _______________ ( ) Ex-Fumante? ( ) 1 a 3 anos ( ) 4 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de dez anos Você usa bebida alcoólica? ( ) Sim ( ) Não Qual freqüência? ( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) 2 a 4 vezes por semana ( ) Finais de semana ( ) ocasionalmente Há quanto tempo faz uso de bebida alcoólica? _____________ Você tem alguma queixa relacionada à boca? ( ) sim ( ) Não Tipo: ( ) Dor de dente ( ) Ardência bucal ( ) Boca seca ( ) Sangramento gengival ( ) outras: ____________________________ Essa é primeira vez? ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo? _______________________________ Quantas vezes você escova os dentes por dia?__________ Escoava os dentes após as refeições Usa fio dental? ( ) Sim ( ) não Qual freqüência? ( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Ocasionalmente Costuma fazer higiene bucal quando está/esteve internado? ( ) Sim ( ) não Qual freqüência? ( ) Diariamente ( ) Ocasionalmente ( ) Raramente É portador de aparelho protético? ( ) Sim ( ) não É portador de aparelho ortodôntico? ( ) Sim ( ) não 67 EXAME EXTRA-BUCAL: Linfonodos palpáveis: ( ) Sim ( ) Não Localização e características: ______________________________________________ Outra alteração: ( ) Sim ( ) Não Qual? _________________________________________________________________ EXAME INTRA-BUCAL: Impressões clinicas: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) Leucoplasia pilosa ) Herpes simples ) Verruga vulgar ) Papiloma escamoso ) Eritema gengival linear ) Candidíase Pseudomembranosa ) Candidíase eritematosa ) Queilite angular ) Xerostomia ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) Aumento de glândulas salivares Úlcera Pigmentação em mucosa Sarcoma de Kaposi Linfoma Outras____________________ Características da lesão: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Localização: ( ) Lábio ( ) Gengiva ( ) Língua ( ) Palato duro ( ) Mucosas jugal ( ( ) Palato mole ( ) Assoalho bucal ( ) Orofaringe ) EXAMES COMPLEMENTARES S0LICITADOS E OUTRAS OBSERVAÇÕES: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 68 10 APÊNDICE 10.1 Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa - FMT-HVD