Guia para Eco-inovação em PME - Ecoprodutin

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GUIA PARA A ECO-INOVAÇÃO
EM PME
FICHA TÉCNICA
Título
Guia para a Eco-inovação em PME
Projeto
Ecoprodutin – Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
Entidade Promotora
AEP – Associação Empresarial de Portugal
Equipa
Maria da Conceição Vieira
Paulo Amorim
Manuela Roque
Depósito Legal
394588/15
Junho 2015
ÍNDICE GERAL
1.
INTRODUÇÃO
9
2.
ECO-INOVAÇÃO
10
2.1.
Conceito de Eco-inovação
10
2.2.
Eco-inovação nas Empresas
18
2.3.
Medidas Eco-Inovadoras Simples
30
3.
IMPLEMENTAÇÃO DE UM MODELO DE ECO-INOVAÇÃO EM
7 ETAPAS
35
3.1.
Enquadramento
35
3.2.
Identificação de Oportunidades
37
3.3.
Análise
42
3.4.
Conceção de Alternativas
67
3.5.
Seleção de Alternativas
76
3.6.
Implementação das Soluções
82
3.7.
Política de Comunicação
86
3.8.
Capitalização das Soluções Encontradas
97
4.
INTEGRAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO NA GESTÃO EMPRESARIAL
99
4.1.
Fases de Implementação da Eco-inovação
99
4.2.
Formação dos Colaboradores
103
4.3.
Indicadores de Avaliação
104
5.
FERRAMENTA FUNDAMENTAL: ANÁLISE DO CICLO-DE-VIDA
(ACV)
105
5.1.
Enquadramento
105
5.2.
Etapas do Ciclo-de-Vida do Produto
107
5.3.
Aspetos Práticos
116
5.4.
A ACV ao Serviço da Estratégia da Empresa
119
6.
CONCLUSÃO
120
7.
BIBLIOGRAFIA
121
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
5
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.
Abordagem de análise do ciclo-de-vida do produto
11
Figura 2.
Abrangência da Eco-inovação
12
Figura 3.
Relação entre as diversas vertentes da Eco-inovação
15
Figura 4.
Roda da Eco-inovação
18
Figura 5.
Custos escondidos da deposição de resíduos
20
Figura 6.
Estrutura do método de Eco-inovação Opengreen
35
Figura 7.
Identificação de oportunidades
37
Figura 8.
Análise 360º
38
Figura 9.
Identificação de oportunidades - Exemplo prático
41
Figura 10.
Análise
42
Figura 11.
Prospeção de Eco-inovação: variáveis
43
Figura 12.
Prospeção de Eco-inovação: critérios
43
Figura 13.
Colocação do problema - Exemplo prático
47
Figura 14.
Diagrama de identificação de funções - Exemplo prático
49
Figura 15.
Balizagem dos impactes pertinentes - BIP
53
Figura 16.
Balanço do produto
54
Figura 17.
Análise do uso
55
Figura 18.
Diagnóstico de eco-valor - Exemplo prático
58
Figura 19.
Documentação do problema - Exemplo prático
59
Figura 20.
Síntese da documentação do problema para reformulação - Exemplo prático
60
Figura 21.
Definição das condições - Exemplo prático
64
Figura 22.
Análise - Exemplo prático
66
Figura 23.
Conceção de alternativas
67
Figura 24.
Ficha de ideias
70
Figura 25.
Processo da criatividade: separar a geração da avaliação de ideias
71
Figura 26.
Mapa de eco-soluções
74
Figura 27.
Mapa de eco-soluções - Exemplo prático
75
6
Guia para a Eco-inovação em PME
Figura 28.
Seleção de alternativas
76
Figura 29.
Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo
prático
79
Figura 30.
Métodos de seleção de ideias
80
Figura 31.
Implementação das soluções
82
Figura 32.
Política de comunicação
86
Figura 33.
Rotulagem ambiental
88
Figura 34.
Evolução do marketing mix responsável num contexto de Eco-inovação
90
Figura 35.
Capitalização das soluções encontradas
97
Figura 36.
Fases de implementação da Eco-inovação na gestão da empresa
99
Figura 37.
Processo de desenvolvimento de novos produtos "stage-gate"
102
Figura 38.
Formação para a Eco-inovação
103
Figura 39.
Etapas do ciclo-de-vida de um produto
105
Figura 40.
Definição da ACV
106
Figura 41.
Etapas para a realização de uma ACV
107
Figura 42.
Diagrama de árvore para delimitação das fronteiras do sistema em estudo
108
Figura 43.
Coprodutos e alocação de critérios
110
Figura 44.
Reciclagem: método dos stocks
111
Figura 45.
Reciclagem: método dos impactes evitados
111
Figura 46.
Margem de progresso para a redução de impactes ambientais
115
Figura 47.
ACV e a triple bottom line
119
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
7
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1.
Tipos de Eco-inovação
16
Quadro 2.
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação no contexto
da empresa
39
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de
valor
39
Quadro 4.
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na empresa
40
Quadro 5.
Matriz «ciclo e sistemas»
46
Quadro 6.
Caracterização das funções - Exemplo prático
49
Quadro 7.
Hierarquização das funções - Exemplo prático
50
Quadro 8.
Matriz MIME
51
Quadro 9.
Matriz MIME - Exemplo prático
52
Quadro 10.
Informações sobre o problema
56
Quadro 11.
Tabela "componentes-funções" - Exemplo prático
57
Quadro 12.
Definição do resultado ideal - Exemplo prático
62
Quadro 13.
Recursos substanciais e de campo
63
Quadro 14.
Ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva
68
Quadro 15.
Princípios criativos
73
Quadro 16.
Grelha de avaliação semi-quantitativa
79
Quadro 17.
Organização na implementação de soluções eco-inovadoras
83
Quadro 18.
Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação de soluções
eco-inovadoras
84
Quadro 19.
Tendências na comunicação de eco-inovações
93
Quadro 20.
Suportes da comunicação eco-inovadora
94
Quadro 21.
Inventário do ciclo-de-vida de um material de construção (extração)
112
Quadro 22.
Questionário de recolha de dados para ACV
116
Quadro 23.
Bases de dados e software para ACV
118
Quadro 3.
8
Guia para a Eco-inovação em PME
1. INTRODUÇÃO
A perceção de que a economia portuguesa só conseguirá crescer de uma forma sustentada por via de um
aumento da competitividade das nossas empresas é porventura hoje um dos fatores de maior consenso na
sociedade portuguesa.
Num mundo em que o preço dos materiais e da energia é cada vez mais elevado, e sem mostrar sinais de
abrandamento, particularmente devido à emergência de potências altamente consumidoras de recursos,
sendo a China o maior exemplo, a produtividade dos recursos afigura-se como um fator fundamental para a
competitividade das empresas a curto/médio prazo.
Paralelamente, a única forma de caminharmos rumo a uma economia mais sustentável, com maior qualidade
de vida para os cidadãos e respeito pelo ambiente é precisamente uma crescente racionalização dos recursos
utilizados no processo produtivo, bem como ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto.
Assim, a implementação de soluções inovadoras e ambientalmente responsáveis nas empresas é hoje um
imperativo para a competitividade das empresas, bem como para a sustentabilidade do nosso planeta,
configurando-se como uma forma das empresas anteciparem desafios vindouros.
Neste contexto, a AEP – Associação Empresarial de Portugal, propôs-se a implementar o projeto
«ECOPRODUTIN – Produtividade na Indústria pela Eco-inovação», que assenta no conceito da eco-inovação e
tem como foco o setor industrial português, particularmente as PME, passando os seus objetivos primordiais
pelo aumento da competitividade do tecido nacional português, pela redução de custos e desperdícios e por
um incremento da eficiência produtiva.
Eco-inovar é precisamente ser capaz de conceber e desenvolver processos produtivos que evitem o desperdício
de matérias-primas e de energia, proporcionando às empresas os tão desejados ganhos de produtividade e
acrescida competitividade. É este o desafio que o projeto «ECOPRODUTIN – Produtividade na Indústria pela
Eco-inovação» vem colocar ao tecido industrial português.
Nesse sentido, o projeto incorpora diferentes ferramentas, que adereçam diferentes propósitos da
eco-inovação nas empresas.
A presente publicação, intitulada "Guia para a Eco-inovação em PME", fornece um conjunto de informações
necessárias à implementação de uma estratégia coletiva, tendo em vista a incorporação da vertente
eco-inovação na gestão empresarial, evidenciando como a sustentabilidade se pode transformar numa
vantagem competitiva e um fator de diferenciação no mercado. O foco deste trabalho é precisamente a
incorporação da eco-inovação na gestão de empresas.
Nesse sentido, o estudo estabelece um método de implementação da eco-inovação de 7 etapas, detalhado,
simples e prático, a ser utilizado por qualquer empresa. É ainda dado particular destaque a uma ferramenta
essencial à implementação da eco-inovação em contexto empresarial: a análise de ciclo-de-vida (ACV).
A AEP – Associação Empresarial de Portugal pretende que este estudo constitua uma importante ferramenta
de apoio à implementação da eco-inovação no universo empresarial, de fácil consulta, ideal para guiar os
primeiros passos da implementação de políticas eco-inovadoras quer ao nível operacional, quer ao nível da
gestão empresarial.
"Não podemos resolver os problemas utilizando o mesmo tipo de pensamento que
utilizámos quando foram criados"
Albert Einstein
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
9
2. ECO-INOVAÇÃO
2.1. CONCEITO DE ECO-INOVAÇÃO
A eco-inovação é um conceito de grande abrangência, que alia as componentes de
inovação e ecologia.
O conceito de inovação é definido pela OCDE como "a implementação de um novo ou
significativamente melhorado produto (bem ou serviço), processo, método de
marketing, modelo de negócio, método organizacional ou de relações externas".
Esta definição aplica-se geralmente também ao conceito de eco-inovação. No entanto, o conceito de
eco-inovação distingue-se do de inovação por estar relacionado com a redução dos encargos ambientais. Ou
seja, é uma inovação que consiste em mudanças e melhorias no desempenho ambiental, dentro de uma
dinâmica de "ecologização" de produtos, processos, estratégias de negócios, mercados, tecnologias e sistemas
de inovação. Neste contexto, a eco-inovação é definida pela sua contribuição para a redução dos impactes
ambientais de produtos e processos.
O Observatório da Eco-inovação, entidade europeia encarregue do estudo da eco-inovação na Europa, fornecenos uma definição simples e precisa sobre o que é a eco-inovação:
"Eco-inovação é a introdução de qualquer novo ou significativamente melhorado
produto (bem ou serviço), processo, mudança organizacional ou solução de
marketing, que reduza o uso de recursos naturais (incluindo materiais, energia, água
e solo) e diminua a libertação de substâncias nocivas, ao longo de todo o ciclo-devida".
A eco-inovação pode ser considerada em relação a todos os tipos de inovações que levem a menor intensidade
de recursos e energia na fase de extração de material, fabrico, distribuição, reutilização e reciclagem e
eliminação. Isso, porém, caso conduza à diminuição da intensidade dos recursos a partir da perspetiva do ciclode-vida do produto ou serviço.
O termo “ciclo-de-vida” refere-se à maioria das atividades no decurso da vida do produto desde a sua
fabricação, utilização, manutenção e deposição final, incluindo a aquisição de matéria-prima necessária à
fabricação do produto. A Análise de Ciclo-de-Vida (ACV) é a compilação e avaliação das entradas e saídas de
materiais e dos potenciais impactes ambientais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo-de-vida.
Num estudo ACV de um produto ou serviço, todas as extrações de recursos e emissões para o ambiente são
determinadas, quando possível, numa forma quantitativa ao longo de todo o ciclo-de-vida, desde que "nasce"
até que "morre" – “from cradle to grave” (do berço ao túmulo) – sendo com base nestes dados que são
avaliados os potenciais impactes nos recursos naturais, no ambiente e na saúde humana.
A eco-inovação tem em conta todo o ciclo-de-vida do produto, em vez de se focalizar apenas em aspetos
ambientais de etapas individuais do ciclo-de-vida. Pode assumir diversas formas, podendo traduzir-se numa
ideia para uma nova start-up ou produto, bem como numa forma de melhoria nas operações já existentes na
empresa. Seja através de produtos novos ou já existentes, este é um conceito que promove a redução de
impactes ambientais nos momentos da conceção, produção, uso, reuso e reciclagem.
A figura seguinte ilustra uma abordagem possível de análise do ciclo-de-vida do produto.
10
Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: Greenovate! Europe
Figura 1 – Abordagem de análise do ciclo-de-vida do produto
Em suma, a eco-inovação é caracterizada pela chamada ecologização do ciclo de inovação, que é o foco no
desenvolvimento de inovações, estruturas organizacionais, instituições e práticas adequadas à redução das
emissões de carbono e de impactos ambientais.
Esse processo é mais do que a substituição para tecnologias de baixo carbono, e sim a evidência de novas
aprendizagens envolvendo a criação de novos conhecimentos, valores, procura de regras e capacidades, assim
como a destruição criativa de antigas práticas e capacidades.
Fundamentalmente, a eco-inovação é algo que faz sentido não só do ponto de vista ambiental, uma vez que
contribui para a preservação do meio ambiente, mas também de um ponto de vista económico, uma vez que
uma maior eficiência nas organizações se traduz invariavelmente em redução de custos e aumento da
competitividade.
A eco-inovação faz sentido numa perspetiva económica, bem como numa
perspetiva ambiental. A sua implementação é sinónimo de competitividade
económica, respeitando o ambiente.
O conceito de eco-inovação é altamente abrangente, envolvendo fatores económicos, ambientais, sociais e
políticos. Implica um compromisso de longo prazo com a sustentabilidade da atividade das empresas. O seu
caráter abrangente é explicitado na figura seguinte.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
11

Redução de custos com materiais e energia

Novos produtos e serviços: novos mercados

Novos modelos de negócios

Gestão sustentável de recursos naturais

Combate ao desafio das alterações climáticas

Melhoria da biodiversidade e ecossistemas

Melhoria da qualidade de vida

Criação de empregos novos e sustentáveis

Segurança de materiais

Justiça na distribuição de recursos
ECONOMIA
AMBIENTE
SOCIEDADE
POLÍTICA
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 2 – Abrangência da Eco-inovação
Assim, a eco-inovação contribui não só para a "limpeza" ambiental, como também para a desmaterialização da
sociedade. Ultimamente, contribui para uma economia mais competitiva, um meio ambiente mais saudável e
uma melhoria da qualidade de vida das populações.
A eco-inovação interage com estas quatro vertentes de uma forma tecnológica, bem como de uma forma
não-tecnológica. Ou seja, a eco-inovação não se esgota no aperfeiçoamento e introdução de novas tecnologias,
mas assume também um caráter cultural, de influência na sociedade.
A eco-inovação pode manifestar-se das seguintes maneiras:

Eco-inovação tecnológica;

Eco-inovação organizacional;

Eco-inovação social;

Eco-inovação institucional;

Eco-inovação no sistema.
Cada uma destas formas de eco-inovação reflete uma abordagem distinta ao problema da sustentabilidade
ambiental e das empresas, sendo, no entanto, indissociáveis e parte integrante de um todo. Assim, nenhuma
destas vertentes tem primazia sobre as outras.
De seguida descrevem-se resumidamente estes quatro tipos de eco-inovação.
12
Guia para a Eco-inovação em PME
Eco-inovação Tecnológica
A eco-inovação tecnológica traduz-se na implementação de tecnologias preventivas e corretivas. As tecnologias
corretivas reparam danos (por exemplo, solos contaminados), enquanto as tecnologias preventivas tentam
evitá-los.
As tecnologias preventivas são necessariamente preferíveis, havendo diversas tipologias destas tecnologias
disponíveis. As mais usuais são as tecnologias de fim-de-linha e as tecnologias integradas.
As tecnologias de fim-de-linha consistem, por exemplo, em métodos de deposição de resíduos e tecnologias de
reciclagem, e que ocorrem após o processo produtivo e/ou do próprio consumo de produto.
Contrariamente, as tecnologias integradas ou mais limpas, focalizam-se na causa direta do problema, durante o
processo produtivo ou ao nível do produto. Compreendem todas as medidas direcionadas à redução dos inputs
de materiais e energia, bem como de emissões, durante a produção e o consumo (e.g. substituição de vernizes
tradicionais por vernizes isentos de solventes). Estas soluções são preferíveis às tecnologias de fim-de-linha e
são vistas como o futuro, no caminho para a sustentabilidade empresarial.
Eco-inovação Organizacional
A eco-inovação organizacional compreende instrumentos de gestão que levem a mudanças na organização da
empresa, como por exemplo, a realização de eco-auditorias. A eco-inovação no setor dos serviços torna-se
cada vez mais relevante à medida que os produtos materiais são substituídos por serviços menos intensivos em
materiais.
A eco-inovação organizacional proporciona uma mudança na cultura da empresa, ao nível da eficiência de
materiais, uso da água, consumo energético, produção e deposição de resíduos e ao nível das emissões, numa
amplitude que não é possível apenas com a eco-inovação tecnológica.
Eco-inovação Social
Alterações no estilo de vida e comportamentos dos consumidores são usualmente definidos como inovação
social. No âmbito da eco-inovação, este conceito traduz-se numa maior sustentabilidade dos padrões de
consumo. Qualquer inovação bem-sucedida, seja ela tecnológica, organizacional ou institucional na sua
natureza, tem forçosamente que se misturar com os valores e estilo de vida das populações.
Computadores, televisões e automóveis tornam a vida das pessoas mais confortável. No entanto, as empresas
continuam a investir verbas avultadas em campanhas promocionais para vender estes produtos e influenciar as
preferências pessoais.
É expectável que o esforço promocional para a promoção de estilos de vida sustentáveis tenha que ser ainda
mais forte. A título de exemplo, para que se altere a matriz de transportes de uma sociedade, são necessárias
alterações comportamentais que levem a uma maior utilização de comboios, metros, autocarros ou bicicletas.
Para que a eco-inovação social funcione, é necessário estar predisposto a pagar um pouco mais e abdicar de
algo (pelo menos numa fase inicial), bem como a introdução de novas instituições e instrumentos (como por
exemplo, rótulos ecológicos). Assim, é fundamental identificar os principais obstáculos para a difusão de
processos e produtos já existentes, como barreiras institucionais, ausência de infraestruturas, marketing
profissional, conhecimento, qualidade, conforto ou sistemas de distribuição, fatores que podem levar a rácios
custo/benefício desfavoráveis para o consumidor.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
13
Eco-inovação Institucional
Por vezes, o progresso é percebido apenas como resultado de inovação ao nível empresarial, com especial foco
no progresso tecnológico. Uma vez que muitos dos problemas associados à sustentabilidade do planeta não
são no essencial questões tecnológicas, esta situação cria um vazio. De facto, pode até dizer-se que a ausência
de sustentabilidade está relacionada com o progresso tecnológico.
Para que um paradigma de desenvolvimento sustentável nos sistemas económico e ambiental seja viável, é
necessário que os incentivos e regulamentação institucional acompanhem o progresso tecnológico. Os recursos
naturais estão fundamentalmente sujeitos a um regime de acesso livre e o seu uso insustentável deriva
também da ausência de arranjos institucionais adequados.
A resposta a esta nova realidade pode vir de redes e agências locais (e.g. para recursos hídricos com relevância
local) ou através de novos regimes de governance global (e.g. instituições responsáveis por assuntos
relacionados com o clima global e a biodiversidade, como é o caso do IPCC – Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas).
Assim, a eco-inovação institucional é a fundação para uma política de sustentabilidade.
Eco-inovação no Sistema
A eco-inovação no sistema corresponde a uma série de inovações relacionadas entre si que melhoram ou criam
sistemas totalmente novos, proporcionando funções específicas com um reduzido impacte ambiental global.
Uma caraterística chave da inovação no sistema é ser um conjunto de alterações implementadas por desenho.
Por exemplo, a eco-inovação no sistema em relação a uma habitação, não consiste apenas na existência de
janelas isolantes ou de utilização de um melhor sistema de aquecimento - consiste na inovação na conceção
global para melhorar a sua funcionalidade.
As “cidades verdes” são outro exemplo de inovações no sistema no qual os esforços de inovação e de
planificação conduzem a uma combinação de alterações permitindo que o funcionamento da cidade e a vida
nela seja mais “verde”. Inclui, por exemplo, novos conceitos de mobilidade que fazem frente não só aos
serviços tradicionais de transporte público (por exemplo, autocarros) mas também aos sistemas de bicicletas
partilhadas (e a infraestrutura relacionada com o estacionamento de bicicletas) e ainda com a planificação que
visa reduzir a necessidade de viajar (implica que supermercados, centros de dia, etc. se instalem nas novas
zonas residenciais).
A distinção entre os diferentes tipos de eco-inovação não é, no entanto, algo claro. Os diferentes tipos de
inovação andam lado a lado, evoluindo em simultâneo. Ações coletivas de moradores em defesa da
sustentabilidade dos padrões de consumo poderiam ser catalogadas como eco-inovação institucional,
enquanto a sensibilização para as questões ambientais numa empresa se poderia enquadrar no conceito de
eco-inovação social.
O sucesso da eco-inovação depende de uma combinação de avanços científicos, políticos, reformas sociais e
outras alterações institucionais, bem como da escala e direção de novos investimentos. A eco-inovação
organizacional e social terá sempre de ser acompanhada por eco-inovação tecnológica e alguma delas terá que
surgir primeiro.
A figura seguinte ilustra a interligação existente entre as diferentes vertentes da eco-inovação.
14
Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 3 – Relação entre as diversas vertentes da Eco-inovação
Como se pode ver, há diversas formas de introduzir
eco-inovação e esta pode ser meramente incremental ou de
rotura. Envolvendo a eco-inovação um compromisso de longo
prazo, a introdução de medidas incrementais é geralmente um
primeiro passo para as empresas, uma vez que geram
rapidamente resultados, normalmente com baixo ou nenhum
investimento. No entanto, a eco-inovação incremental não
permite as alterações sistémicas necessárias aos objetivos de
sustentabilidade das economias modernas, algo que só pode
ser atingido recorrendo a medidas de eco-inovação radicais,
de rotura.
Inovação incremental
Qualquer tipo de melhoria num produto,
processo ou organização da produção,
sem alteração da estrutura industrial
Inovação radical
Um novo produto, processo ou forma de
organização da produção inteiramente
nova
A eco-inovação pode ir desde o simples controlo da poluição até uma política de ecologia industrial.
A eco-inovação radical, capaz de alterar substancialmente o estado-da-arte é, como se vê na figura, a
eco-inovação não tecnológica, particularmente ao nível institucional e da organização das empresas.
No entanto, a eco-inovação incremental, essencialmente de cariz tecnológico, não deve ser esquecida.
A eco-inovação na sua vertente mais operacional é fundamental para orientar a empresa rumo à
sustentabilidade.
Em termos operacionais, o principal foco da eco-inovação é a melhoria da eficiência de materiais, uma vez que
repensar os consumos de matérias-primas, bem como de água e energia, é a forma mais direta de obter
resultados com impacto considerável nas organizações. No entanto, geralmente considera-se que o conceito
de eco-inovação, em temos operacionais, é composto pelas seguintes vertentes:

Eco-inovação no fluxo de materiais;

Eco-inovação nos processos;

Eco-inovação no produto;

Eco-inovação na organização;

Eco-inovação no marketing.
O quadro seguinte apresenta as implicações associadas a cada um destes tipos de eco-inovação.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
15
Quadro 1 – Tipos de Eco-inovação
Tipo
Descrição
A melhoria da eficiência de materiais (matérias-primas, água,
energia e resíduos) é a forma mais direta de obter resultados
visíveis numa organização, com impacto sobre a bottom line.
O objetivo é a introdução de inovação ao longo da cadeia de
materiais de produtos e processos, de modo a reduzir a intensidade
do uso de materiais, simultaneamente aumentando a qualidade
de vida das populações.
Almeja a afastar a sociedade dos atuais processos de extração, consumo e deposição de
materiais, para uma sociedade baseada num sistema mais circular de uso e reuso de
materiais, diminuindo as necessidades totais de recursos.
Assim, algumas atividades neste âmbito incluem:
Materiais

Desenvolvimento de novos materiais, com melhor performance ambiental;

Substituição de materiais e produtos de alta intensidade ambiental por novos
materiais, novos produtos com novas funcionalidade e novos serviços com novas
funcionalidades;

Estabelecimento de processos de melhoria da eficiência de recursos ao longo de
todo o ciclo-de-vida, nomeadamente, extração sustentável, produção e aplicação
de materiais mais eficiente, otimização dos sistemas de logística, fomento da
reutilização e reciclagem, recaptura de materiais preciosos de sistemas de ciclo
aberto (metais críticos, fósforo), integrar módulos e materiais em bens complexos
(por exemplo, painéis solares integrados em telhados), aumento do tempo de vida
e durabilidade de bens e serviços, aumento da informação dos consumidores sobre
eficiência de recursos, etc;

Transformação de infraestruturas, através da melhoria dos sistemas de manutenção
de estradas e edifícios, desenvolvimento de novos conceitos de edifícios, transporte
e outras redes (por exemplo, rede de abastecimento de água e saneamento)
"leves" em recursos, etc.
A eco-inovação ao nível do produto contempla bens e serviços. Os
bens eco-inovadores são concebidos de modo a minimizar o
impacte ambiental, sendo o ecodesign uma ferramenta chave
neste processo.
Produto
A curto prazo, as restrições relacionadas com os recursos assumirão
um caráter mais prioritário do que aquele que assumem hoje, no
momento da conceção do produto, especialmente se o preço das
commodities continuar a aumentar.
A conceção de produtos que minimizem os impactes ambientais, diminuam a intensidade de
recursos no processo produtivo e ofereçam opções de recuperação como a reparação,
refabrico ou a reciclagem, deve tornar-se uma estratégia de negócios fundamental para
empresas que queiram reduzir custos, bem como aumentar a segurança dos seus
fornecimentos e a resiliência face aos mercados.
Alguns exemplos de serviços eco-inovadores são os produtos financeiros "verdes" (como o
eco-aluguer), serviços ambientais (como a gestão de resíduos) e serviços com uma menor
intensidade de recursos (por exemplo, o car sharing).
Processo
A eco-inovação nos processos visa a redução do uso de materiais, a
minimização dos riscos e a obtenção da redução dos custos. Alguns
exemplos simples são a substituição de inputs nocivos durante o
processo produtivo (por exemplo, substituindo substâncias tóxicas), a
otimização dos processos produtivos (melhorando a eficiência
energética, por exemplo) ou a redução dos impactes negativos dos
outputs da produção (como as emissões).
Adicionalmente, a redução das entradas de materiais, a chamada "mochila ecológica", nos
processos produtivos e de consumo, pode também ser atingida por via da eco-inovação de
processo. Conceitos normalmente associados à eco-inovação de processos são a produção
+ limpa, zero emissões, zero resíduos e eficiência de materiais.
16
Guia para a Eco-inovação em PME
Quadro 1 – Tipos de Eco-inovação (conclusão)
Tipo
Descrição
A eco-inovação organizacional consiste na introdução de métodos
de organização e sistemas de gestão para superar as questões
ambientais ao nível da produção e dos produtos. Estas mudanças
organizacionais correspondem à dimensão socioeconómica da
inovação de processo.
Organização
Inclui sistemas de prevenção da poluição, sistemas de gestão e
auditoria ambiental e gestão da cadeia de valor (cooperação entre
empresas para fechar os ciclos de materiais e evitar danos
ambientais ao longo de toda a cadeia de valor).
Assim, a eco-inovação ao nível da organização pode incluir um esforço de colaboração
com entidades externas à empresa, que pode ir desde simples redes de negócios e clusters
até soluções avançadas de simbiose industrial.
A eco-inovação no marketing envolve alterações durante a
conceção ou embalagem, product placement, promoção do
produto ou política de preços. Consiste em avaliar quais as técnicas
de marketing que podem ser usadas de modo a fomentar as
pessoas a comprar, usar ou implementar eco-inovações.
Marketing
Em termos de marketing, a marca (um conjunto de símbolos,
experiências e associações relacionadas com um produto ou serviço
pelos potenciais consumidores) é um fator-chave para perceber o
processo de comercialização de bens e serviços.
Sendo o branding "verde" importante, na prática não é a única ou até a melhor forma de
vender eco-inovações. A rotulagem é também um aspeto fundamental da eco-inovação no
marketing (por exemplo, rótulo ecológico).
Fonte: Observatório da Eco-inovação
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
17
2.2. ECO-INOVAÇÃO NAS EMPRESAS
Entendido em que consiste a eco-inovação e qual a racionalidade económica subjacente à sua aplicação no
mundo empresarial, é importante perceber de que forma se aplica nas empresas e quais os principais desafios
que se põem à sua bem-sucedida implementação.
De uma forma genérica, a eco-inovação faz-se sentir nas empresas em três vertentes distintas: no modelo de
negócios, nos processos produtivos e nos produtos e serviços oferecidos.
Eco-inovação no Modelo de Negócios
A eco-inovação de maior rotura nas organizações tende a acontecer no âmbito do modelo de negócios, uma
vez que força as empresas a reconsiderarem a sua forma de fazer negócios até então e adaptar as suas práticas
e cultura empresarial de toda a organização aos princípios da eco-inovação. É necessário perceber qual a
melhor forma de oferecer valor ao cliente e como satisfazer as suas necessidades, o que pode levar a uma
alteração substancial nos produtos oferecidos, bem como nos processos produtivos.
Eco-inovação nos Processos Produtivos
A eco-inovação atua sobre todas as grandes etapas da vida do produto, enquanto este se encontra ainda no
seio da organização. Assim, envolve a implementação de medidas com vista a uma melhor gestão da cadeia de
aprovisionamentos e da política de compras e a incrementar a produtividade de materiais e energia, bem como
a uma melhor gestão da produção de resíduos e de emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
Eco-inovação nos Produtos e Serviços Oferecidos
A ação recai sobre a forma de conceção de novos e existentes produtos da empresa, de que forma são
vendidos e em que consistirá a política de marketing. Simultaneamente, exige também uma grande aposta na
investigação e desenvolvimento que, inevitavelmente, terá impacto nos produtos e serviços oferecidos, bem
como nos processos produtivos utilizados e no modelo de negócios escolhido.
Cadeia de
aprovisionamentos
Produtividade de
materiais e energia
Resíduos
e
emissões
Modelo
Negócios
Qual é a
oferta de
valor da
empresa
ao
cliente?
Marketing
Design
Investigação e
Desenvolvimento
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 4 – Roda da Eco-inovação
18
Guia para a Eco-inovação em PME
Repensar o Modelo de Negócios
Frequentemente, as empresas são forçadas a repensar e recriar o seu
modelo de negócios, de forma a reduzir custos e melhorar a satisfação dos
clientes. Muitas empresas são também impulsionadas por preocupações
ambientais e sociais.
Principais Desafios

Repensar a oferta de valor da empresa
Os clientes não têm uma necessidade absoluta de ser os donos dos produtos. Os serviços podem
igualmente cumprir as suas necessidades, por vezes de forma melhor. É importante considerar
conceitos como o aluguer ou a partilha no modelo de negócios da empresa.

Analisar o horizonte dos negócios
É importante perceber quais as tendências emergentes e que podem afetar a oferta de valor da
empresa e o modelo de negócios a curto e a longo prazo.

Prevenir riscos
Alterar um modelo de negócios é um processo contínuo, sendo por isso importante realizar avaliações
periódicas ao modelo de negócios, de forma a tornar a empresa mais resiliente.

Acrescentar valor
Uma questão fundamental para uma empresa interessada na introdução de medidas de eco-inovação
é saber como criar valor ao cliente, de uma forma que seja não só mais rentável para a empresa, mas
também que consuma uma menor quantidade de recursos.
A necessidade de mobilidade, por exemplo, não implica necessariamente a posse de um carro. A função
desempenhada por um carro pode ser conseguida de muitas outras formas e meios de transporte, ou
simplesmente limitando a necessidade de mobilidade por si só. De forma similar, a forma mais eficiente de
gerir os resíduos da empresa é evitar a sua produção, em vez de desenvolver até os métodos mais sofisticados
de reciclagem.
Ou seja, é fundamental um pensamento outside-the-box, no sentido de tentar resolver as questões da forma
mais direta e eficiente, mesmo que isso implique alterações significativas no modelo de negócios. Todas as
opções devem ser consideradas.
Principais Questões

Que valor criamos para o nosso cliente?

Que necessidades dos clientes estão a ser satisfeitas com o produto?

Quais são as atividades e recursos que ajudam a empresa a desenvolver e criar valor para os clientes
(know-how, recursos, parcerias estratégicas, propriedade intelectual, etc.)?

Em que medida está o modelo de negócios da empresa dependente do acesso, uso de materiais e
energia por parte da empresa e dos clientes?

É possível conceber uma forma diferente de satisfazer as necessidades dos clientes (por exemplo,
sistemas produto/serviço)?
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
19
Eco-inovação nos Processos Produtivos
A eco-inovação nos processos produtivos passa fundamentalmente por
três vertentes distintas: gestão de resíduos e emissões, produtividade de
materiais e energia e gestão da cadeia de aprovisionamentos.
Gestão de Resíduos e Emissões
A gestão de resíduos é uma área em que o paradigma
mudou completamente nos últimos anos. Em vez das
empresas se preocuparem fundamentalmente com o
tratamento de resíduos e com o desenvolvimento de
soluções de fim-de-linha, as atenções centram-se agora em
evitar ou minimizar a sua produção e na valorização desses
mesmos resíduos.
Os resíduos e as emissões apresentam-se
de diferentes formas (águas residuais,
resíduos sólidos e orgânicos, resíduos
químicos, emissões atmosféricas, etc.)
As emissões e os resíduos diretos têm
origem em fontes que pertencem ou são
controladas pela empresa, como a
produção, processos, transporte, etc.
Os resíduos e as emissões assumem várias formas distintas
(águas residuais, resíduos sólidos e biológicos, resíduos
químicos, emissões atmosféricas, etc.).
As emissões e resíduos indiretos integram
os inputs de materiais e energia utilizados
na extração, tratamento, produção e
fornecimento de produtos e serviços.
Principais Desafios

Gestão dos resíduos
Os custos de eliminação atingem montantes na ordem de 15% dos custos de gestão de resíduos.
Os custos escondidos associados aos resíduos podem estar a destruir as margens de lucro da
empresa. A poupança pode também advir de um melhor cumprimento da regulamentação ambiental.
Custos de Deposição
Efeito dos resíduos na capacidade,
reduzindo a produtividade
Tempo de gestão gasto
Custo de matérias-primas
Custo de processamento
Transporte
Armazenagem
Custos energéticos
Custo da água
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 5 – Custos escondidos da deposição de resíduos
20
Guia para a Eco-inovação em PME

Monitorizar e avaliar a produção de resíduos
A minimização de resíduos não se esgota na redução do uso de materiais, envolvendo uma avaliação
de consumos energéticos, emissões e do esforço necessário à reciclagem e reutilização dos resíduos.
Quando o custo total dos resíduos é compreendido, projetos de redução da produção de resíduos nas
empresas têm normalmente períodos de retorno do investimento inferiores a um ano. À medida que
o custo das matérias-primas sobe e o processo de reciclagem se torna mais abrangente, a separação
de materiais nos resíduos pode tornar-se economicamente viável e representar uma importante fonte
de receita adicional para a empresa.
Principais Questões

Que tipo de resíduos e emissões produz a empresa?

Quais são as fontes diretas de produção de resíduos e emissões?

Quais são as fontes indiretas de produção de resíduos e emissões?

Podem os resíduos tornar-se materiais auxiliares para a empresa ou para outras empresas?

Podem os resíduos de empresas da região servir de material para o processo produtivo da empresa?
Vantagens da Eco-inovação

Diminui os custos de cumprimento de legislação ambiental;

Reduz os custos de matérias-primas, transporte, armazenagem, gestão, etc., em períodos de tempo
muito curtos;

Permite à empresa identificar os custos escondidos associados à gestão de resíduos, que vão muito
para além dos custos de deposição;

A realização de auditorias sobre o uso de materiais e fluxos de resíduos permite à empresa reduzir
ineficiências e a quantidade de resíduos produzida, gerando poupanças para a organização (é uma
prática crescente nas empresas e muitas vezes cofinanciada por entidades governamentais);

Potencia a seleção de materiais facilmente recicláveis, o que contribui para a redução dos custos de
deposição de resíduos;

Promove um manuseamento e armazenagem adequados, evitando quebras e perdas, o que se reflete
numa redução dos custos de produção;

Recorrer a esquemas de devolução ao fornecedor é uma forma de utilizar materiais reciclados no
processo de fabrico;

Cria uma imagem de responsabilidade social da empresa.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
21
Produtividade de Materiais e Energia
A eco-inovação direcionada à melhoria da eficiência dos materiais e ao aumento da produtividade energética
pode reduzir custos na empresa e diminuir os riscos associados ao negócio, tornando as empresas menos
dependentes de importações.
Principais Desafios



A extração e utilização global de recursos praticamente dobrou
nas últimas duas décadas. Esta tendência não se pode manter
sem que surjam graves consequências para o meio ambiente.
A volatilidade do preço das commodities, particularmente
metais, alimentos e produtos agrícolas não-alimentares é maior
a partir do ano de 2000 do que em qualquer década do
século XX. O fórum Económico Mundial classifica a volatilidade
das commodities como o quinto maior risco em termos de
impactes negativos. Simultaneamente, a Europa é uma das
regiões do mundo mais dependentes de importações,
particularmente de combustíveis fósseis, colocando uma
enorme pressão nas empresas do velho continente.
A produtividade de materiais
exprime o valor económico
gerado pela entrada ou
consumo de uma unidade de
material.
A produtividade energética
exprime o valor económico
gerado pela entrada de uma
unidade ou consumo de
energia.
Diversas empresas estão expostas a riscos de falhas no abastecimento de matérias-primas,
volatilidade de preços e elevados preços dos materiais. Para que as empresas identifiquem "pontos
quentes" para a aplicação de práticas eco-inovadoras, é fundamental um conhecimento profundo das
suas necessidades de materiais e energia para o processo produtivo.
Principais Questões

Que tipo e que quantidade de materiais são consumidos ao longo do ciclo-de-vida dos produtos e
serviços oferecidos?

Que medidas podem ser adotadas para reduzir o uso de materiais, energia, água e outros recursos?

Estão a ser considerados materiais e fontes energéticas alternativas para os processos e produtos?
Medidas Rápidas
22

Investir na eficiência de materiais. Há inúmeros case studies de empresas que adotaram medidas de
melhoria de eficiência de materiais com bons resultados;

Substituir materiais e produtos intensivos em recursos por novos materiais, produtos e serviços menos
intensivos e que melhorem também as funcionalidades do produto final;

Investir na eficiência energética. Está bem documentado o potencial de redução de custos nas
empresas através da implementação de medidas simples de melhoria da eficiência energética.
Guia para a Eco-inovação em PME
Gestão da Cadeia de Aprovisionamentos
A gestão da cadeia de aprovisionamentos inclui ações de coordenação e cooperação com fornecedores,
intermediários, subcontratados e clientes. Uma gestão sustentável da cadeia de aprovisionamentos requer a
gestão dos impactes ambientais, sociais e económicos, bem como o fomento de boas práticas de governança
ao longo do ciclo-de-vida de bens e serviços.
Principais Desafios

Capacidade de fazer face à volatilidade do preço das commodities e à incerteza no abastecimento de
materiais e satisfação das exigências dos clientes em termos de uma maior transparência na cadeia de
aprovisionamentos;

A informação mais importante a recolher concerne à origem dos recursos usados na produção e
evidência do seu impacte ambiental e social ao longo da cadeia de aprovisionamentos.
Principais Questões

Qual a posição da empresa na cadeia de aprovisionamentos?

Quais são os aspetos de maior valor acrescentado na cadeia de aprovisionamentos?

De que forma pode ser melhorada a colaboração com os parceiros?

Onde podem ser aplicadas práticas sustentáveis, desde a conceção à compra, da produção à
embalagem, da armazenagem ao transporte e, finalmente, na reciclagem?

Quais os riscos e oportunidades de uma gestão sustentável da cadeia de aprovisionamentos?
Vantagens da Eco-inovação

A gestão da cadeia de aprovisionamentos pode contribuir para a eco-inovação através da coordenação
e integração de tarefas. No caso de cadeias de aprovisionamento de circuito fechado, envolve
conceitos como a logística inversa, recondicionamento e remarketing;

Redução de custos pela racionalização dos processos ao longo de toda a cadeia de aprovisionamentos;

Redução de custos pela aquisição prioritária de produtos e serviços ecoeficientes;

Criação de uma "história de sustentabilidade", que permita uma maior fidelização dos clientes à
empresa e aos produtos e serviços oferecidos.
Medidas Rápidas

Avaliar a forma como é gerida a cadeia de aprovisionamentos na empresa;

Mapear e medir os fluxos de entrada e saída de recursos na empresa;

Identificar a dimensão dos fluxos e os papeis e responsabilidades dos intervenientes dentro e fora da
empresa;

Definir papeis e responsabilidades internamente (gestor da cadeia de aprovisionamentos, comités, ao
nível executivo, etc.);

Avaliar riscos e oportunidades através de uma abordagem de gestão de risco/oportunidades;

Realizar benchmarking e analisar o que é feito externamente nesta área;

Estabelecer metas de sustentabilidade e critérios de procurement na cadeia de aprovisionamentos;

Desenvolver indicadores para medir a performance e o progresso;

Incrementar a comunicação externa e interna da empresa;

Encorajar a cooperação entre clientes e fornecedores: esta prática é fundamental para as PME que
consideram a dependência dos clientes uma das grandes barreiras à eco-inovação;

Considerar recorrer a clusters regionais para estruturar a cadeia de aprovisionamento;

Fomentar o uso de tecnologias e sistemas de informação na gestão da cadeia de aprovisionamentos.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
23
Eco-inovação nos Produtos e Serviços
A eco-inovação nos produtos e serviços passa fundamentalmente por três
vertentes distintas: investigação e desenvolvimento (I&D), conceção e
marketing.
Investigação e Desenvolvimento (I&D)
Atribuir funções de promoção da eco-inovação no seio da organização ao departamento de I&D permite a
identificação de novas oportunidades de negócio.
Principais Desafios

Desenvolver produtos, serviços e tecnologias eco-inovadoras pode ser sinónimo de alterações
fundamentais nos produtos existentes, o que pode ser custoso a curto prazo mas benéfico a longo
prazo;

Avaliar o risco, particularmente custos/benefícios a longo prazo pode ser difícil;

Perceber os impactes ambientais ao longo de todo o ciclo-de-vida é crucial e um processo complexo;

O know-how e a informação relevante para I&D eco-inovadora podem não estar disponíveis
internamente. Pode ser necessário o recurso a especialistas externos ou ao estabelecimento de
parcerias.
Principais Questões

A empresa tem o know-how, tempo e recursos financeiros para investir em I&D de relevo?

Quem possui as competências necessárias para implementar as atividades de I&D interna ou
externamente?

A equipa de I&D precisa de formação sobre eco-inovação?

De que forma pode o departamento de I&D identificar oportunidades?

A empresa dispõe de sistemas implementados de monitorização de tendências eco-inovadoras
relacionadas com o seu core-business?
Medidas Rápidas
24

Integrar considerações ambientais na estratégia de I&D;

Alocar uma percentagem do orçamento de I&D à eco-inovação;

Desenvolver um prémio interno anual, destinado a premiar as melhores ideias;

Realizar ações de sensibilização sobre impactes ambientais na empresa, de forma a assinalar
oportunidades e prioridades relacionadas com a eco-inovação;

Analisar necessidades de mercado e tendências que fomentem a eco-inovação e disseminar os
resultados por gestores-chave e designers;

Identificar os impactes ambientais de produtos ao longo de todo o seu ciclo-de-vida, pontos cruciais
de consumo de materiais e energia e formas de melhorar a produtividade dos recursos;

Fomentar a comunicação sobre novas tenologias, materiais e processos direcionada a partes
interessadas cruciais de I&D;

Subscrever fontes de informação sobre tecnologias emergentes, que possam ser aplicadas com
benefício ambiental;

Envolver parceiros-chave e stakeholders pode produzir novas oportunidades para soluções de
eco-inovação ou formas de reduzir os impactes ambientais dos produtos existentes.
Guia para a Eco-inovação em PME
Ecodesign
O ecodesign é uma ferramenta fundamental para um processo de conceção de produto assente na
eco-inovação. O ecodesign consiste na integração dos impactes ambientais na conceção e desenvolvimento de
produtos e visa melhorar a performance ao longo de todo o ciclo-de-vida do produto.
A maioria dos impactes ambientais podem ser evitados aquando da conceção do produto. Abordar
proativamente os aspetos ligados à sustentabilidade no "início-da-linha" potencia proveitos superiores para a
empresa. A conceção deve especificar, por exemplo, que materiais e, em certa medida, que processos
produtivos serão utilizados na fabricação do produto. Afeta também o potencial de reutilização, reciclagem e
deposição do produto, bem como impactos indiretos da distribuição de novos produtos.
Principais Desafios

A conceção do produto pode ser realizada por um grande número de intervenientes, como designers
de produto, engenheiros de design ou consultores, ou pode ser completada por outras áreas técnicas
e de negócios, como parte das suas responsabilidades;

Nas empresas de menor dimensão, a conceção, pesquisa de mercado, investigação e desenvolvimento
podem estar estreitamente ligadas. Quando não é o caso, deve estabelecer-se uma ligação estreita
entre atividades como a avaliação de tecnologias alternativas, produtos concorrentes e protótipos,
bem como a avaliação da performance ambiental, de modo a que se possa fundamentar o processo de
tomada de decisão;

Abordar atributos individuais do produto como a reciclagem, biodegradabilidade ou eficiência
energética de forma independente não significa necessariamente uma redução do impacte ambiental
do produto na sua globalidade. É necessária uma abordagem mais ampla, que englobe todo o
ciclo-de-vida do produto, para que se estabeleçam compromissos, em que um atributo do produto,
como a utilização de materiais de forte intensidade energética, seja contrabalançado por outro, que
pode criar uma maior ou menor eficiência de recursos. Um desafio comum a todas as empresas é
calcular os impactes de produtos que não têm ainda todas as suas especificações delineadas, de forma
eficiente em termos de custos e decidir entre diversos compromissos de diferentes impactes
ambientais. Por exemplo, emissões de CO2 vs escassez de materiais vs utilização de materiais com
compostos tóxicos, etc.;

A implementação de soluções radicais novas pode implicar um grau de criatividade ao longo do
ciclo-de-vida do produto com que a empresa se encontre pouco familiarizada, sendo difícil de executar
internamente;

Os processos de desenvolvimento e recursos produtivos existentes na empresa podem limitar aquilo
que pode ser feito interna e externamente;

A comunicação de informação sobre os impactes ambientais de um produto não é sempre bem aceite
pelo cliente, por vezes não influenciando o seu comportamento (por exemplo, redução do consumo
energético na fase de uso). O ecodesigner pode optar por adotar uma conceção de produto que ajude
o cliente a reduzir os seus impactes ambientais.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
25
Principais Questões

Quais são as alternativas disponíveis para melhorar o desempenho ambiental do produto no momento
de conceção?

Qual o potencial para ampliar o tempo de vida útil, potencial de reutilização, refabrico, reparação,
upgrade ou reciclagem de parte/todo o produto? É possível separar as partes?

Pode utilizar-se menos material e menos tipos de materiais, ou materiais substituídos por alternativas
com menor impacte ambiental (por exemplo, materiais recicláveis/reciclados)?

É possível reduzir a energia, água e consumíveis utilizados no processo produtivo ou substitui-los por
outros de menor impacte ambiental?

Que ferramentas estão disponíveis para efetuar uma avaliação dos impactes ambientais associados a
cada uma das fases do ciclo-de-vida do produto no momento de conceção? A utilização dessas
ferramentas requer formação ou especialistas externos para assegurar resultados fidedignos e
compreensíveis?

Que funcionalidades do produto ou informação ao utilizador podem provocar um comportamento de
baixo impacte ambiental? Os materiais também possuem informação sobre reciclagem?

A conceção pode permitir uma produção com menor impacte ambiental?

Que experiência é necessária para o ecodesign? Pode ser feito internamente ou subcontratando?
Que fases de desenvolvimento do produto beneficiariam em ser realizadas externamente?
Medidas Rápidas
26

Identificar os domínios prioritários de ecodesign de produtos e serviços (por exemplo, redução de
peso, aumento da eficiência energética, redução da embalagem, aumento da reciclabilidade,
substituição de materiais perigosos, aumento do tempo de vida útil, etc.);

Selecionar e aplicar medidas de ecodesign nas áreas consideradas prioritárias (por exemplo, energia,
água, embalagem, etc.);

Adicionar critérios ambientais à conceção do produto e apresentar protótipos funcionais a
representantes dos consumidores, de forma a confirmar os benefícios na utilização para o consumidor
final;

Formar o pessoal interno, contratar uma entidade externa, efetuar parcerias com universidades ou
centros de investigação, se não houver know-how para o ecodesign na empresa;

Escolher ferramentas adequadas à avaliação (preferencialmente quantitativa) dos impactes previstos
e permitir aos designers comparar alternativas durante o processo de conceção.
Guia para a Eco-inovação em PME
Marketing
O consumidor atual compra produtos, serviços ou tecnologias mais "verdes" porque funcionam melhor,
poupam dinheiro ou são benéficas para a saúde. As marcas ecológicas integram benefícios ambientais
relevantes nos produtos, oferecendo um produto de qualidade a um custo competitivo e comunicam a sua
mensagem baseando-se em factos e evitando o chamado greenwashing ("eco-branqueamento" fictício de um
produto ou serviço).
Principais Desafios

Os clientes - sejam consumidores finais (B2C), empresas (B2B) ou entidades governamentais consideram cada vez mais as questões ambientais e sociais no momento de aquisição;

Estudos de mercado podem identificar áreas importantes de interesse ambiental ou social, de
melhoria ou preocupação relativa a produtos, serviços e tecnologias eco-inovadoras, sendo por isso
uma ferramenta que não deve ser subestimada;

O fomento de novos modelos de negócio ou produtos, em função de predicados ambientais, requer
uma abordagem diferente da abordagem quotidiana por parte do departamento de I&D, com dialogo
constante entre várias partes interessadas, incluindo consumidores, parceiros e fornecedores;

As considerações em termos do ciclo-de-vida do produto são cada vez mais importantes para os
consumidores (as empresas devem conhecer a origem das suas matérias-primas, como são fabricadas,
embaladas e depostas);

Compreender o comportamento de consumidores e utilizadores é importante. O comportamento dos
utilizadores do produto é fundamental para o impacte ambiental de um produto. Por exemplo, a
redução do consumo energético na fase de uso do ciclo-de-vida do produto é crucial para a diminuição
dos impactes ambientais em produtos de eletrónica de consumo ou produtos "brancos"
(produto/equipamento destinado ao cumprimento de tarefas domésticas);

As empresas devem abordar os aspetos ambientais em todas as fases do consumo:
o
Sensibilização – Como sensibilizar o público sobre produtos e serviços?
o
Avaliação – Como auxiliar o público na avaliação dos predicados "verdes" de um produto?
o
Compra – De que forma os clientes compram os produtos e serviços?
o
Entrega – Como é possível entregar um produto mais ecológico ao cliente?
o
Pós-venda – Como é possível fornecer um serviço de apoio pós-venda mais ecológico?

Clientes mais ecológicos são influenciados por recomendações de pessoas de confiança e terceiros. Há
repercussões negativas muito fortes sobre produtos percebidos como greenwashing, devendo as
empresas ser claras acerca das características ambientais dos seus produtos;

Empresas proativas constroem uma relação de confiança com os consumidores em matérias
ambientais através de uma aproximação pelos vários tipos de media, particularmente websites e redes
sociais, em vez de utilizarem apenas os media "tradicionais".
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
27
Principais Questões

Foram realizados estudos de mercado junto de grupos de consumidores para determinação do grau
de sensibilização ambiental, compreensão, oportunidades potenciais e preocupações?

Quem é o público-alvo – consumidor final, empresas, retalho ou administração pública? Quais as
características do público-alvo (massa, nicho, segmento)? Que tipo de relacionamento esperam os
clientes ter com a empresa? Como estabelecer e manter um relacionamento forte com os clientes? De
que forma podem as considerações ambientais ser integradas no relacionamento com os clientes e no
modelo de negócios?

Que necessidades do cliente estão a ser satisfeitas pelos produtos da empresa (por exemplo,
novidade, capacidade de customização, funcionalidade, design, reputação, preço, redução de custo,
redução de risco, acessibilidade, conveniência e/ou usabilidade)?

De que forma pode a melhoria da performance ambiental (por exemplo, redução do consumo
energético e dos custos) incrementar o valor da oferta da empresa? De que forma pode a informação
da performance ambiental da empresa ser incorporada na política de comunicação?

Qual é o argumento-chave de venda face à concorrência? Foi efetuado benchmarking ambiental sobre
produtos concorrentes?

Podem as características e benefícios ambientais do produto aumentar o valor do argumento-chave
de venda do produto?

Qual o preço que o mercado está disponível para pagar? De que forma serão afetados o preço, custo e
comunicação da empresa em função do valor acrescentado percebido das características ambientais
do produto?

Que valor acrescentado proveniente das características ambientais do produto pode ser integrado no
conceito-base do produto? De que forma podem as partes interessadas ser recompensadas pela
adoção e promoção das características ambientais do produto?
Vantagens da Eco-inovação
28

O feedback dos estudos de mercado e o processo contínuo de comunicação da empresa com os
clientes e outras partes interessadas podem auxiliar na identificação de novas oportunidades de
eco-inovação;

Uma promoção assente em provas claras sobre as qualidades ambientais do produto incrementa a
reputação interna e externamente;

Determinação do grau de sensibilização e aceitação dos consumidores e outras partes interessadas
sobre as questões ambientais pode auxiliar na identificação de novas oportunidades e ameaças;

Identificação das características ecológicas do produto pode ajudar a encontrar áreas para
diferenciação do produto;

O estudo dos produtos concorrentes pode identificar forças do produto da empresa face à
concorrência que podem ser exploradas no momento de promoção do mesmo;

O estabelecimento de uma reputação assente no conhecimento ambiental pode atrair novos negócios
e gerar novos consumidores.
Guia para a Eco-inovação em PME
Medidas Rápidas

Testar as atitudes das partes interessadas sobre os aspetos ambientais. Abordar clientes atuais, bem
como outras partes interessadas, através de diversas formas de media. Utilizar o feedback positivo e
negativo para melhorar o desenvolvimento do produto/negócio e a estratégia promocional;

Realizar benchmarking dos produtos da empresa a produtos concorrentes, sobre aspetos ambientais,
funcionalidade, custo, preço, etc;

Identificar os benefícios ambientais do produto face à concorrência;

Determinar se a performance ambiental do produto acrescenta algo ao argumento-chave de venda e
integrar os benefícios ambientais na política de comunicação dirigida aos consumidores;

Assegurar-se que as alegações sobre a performance ambiental são exatas antes de as incorporar na
política de comunicação;

Recorrer a redes sociais (Facebook, Linkedin, Twitter, etc.) como forma de promover a mensagem
ambiental da empresa;

Desenvolver um relacionamento com elementos dos media associados às questões ambientais.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
29
2.3. MEDIDAS ECO-INOVADORAS SIMPLES
Para que melhor se perceba em que consiste a aplicação da
eco-inovação nas empresas, agregamos uma série de práticas
eco-inovadoras simples, de aplicação transversal à economia, que
envolvem baixos ou nenhuns custos para a empresa. São as
chamadas oportunidades de eco-inovação do estilo "low hanging
fruits", ou seja, praticamente sem custos e com período de payback
muito reduzido (inferior a um ano).
Para tal, identificamos as áreas das empresas em que essas medidas podem ter um impacto mais forte e direto,
gerando poupanças económicas e ambientais quase imediatas.
As medidas apresentadas, pelo seu caráter generalista e transversal, devem ser entendidas como um ponto de
partida para iniciar uma abordagem eco-inovadora na empresa. Medidas de eco-inovação de fundo, que
impliquem transformações radicais na organização, são mais custosas e carecem de uma avaliação casuística e
pensada sobre quais as melhores opções a tomar em cada empresa.
Estas medidas permitem benefícios económicos e ambientais de curto prazo às empresas, sendo que só um
compromisso de longo prazo com a eco-inovação pode levar à construção de um modelo de negócios
sustentável numa organização.
Organização da Empresa
 A elaboração e publicação de um plano para a sustentabilidade na
empresa é a melhor forma de começar. Pode-se então programar as
medidas que se considerem necessárias à mudança, bem como
estabelecer critérios claros e mensuráveis para aferir o progresso
relativamente aos objetivos traçados;
Mais do que ações
pontuais, trata-se de
uma mudança
substancial na
organização da
empresa.
 A realização de uma auditoria ambiental ajuda a identificar
oportunidades de melhoria da eficiência da performance ambiental e
a adotar um Plano de Ação Ambiental;
É importante informar e
envolver, desde o início,
o pessoal neste
processo, com
particular atenção para
os quadros dirigentes.
Os colaboradores mais
entusiastas deverão
agir como agentes
mobilizadores e
mediadores das
preocupações e das
medidas.
 Pode recorrer-se à formação do pessoal nas questões ambientais,
sociais e culturais, recorrendo a especialistas externos,
preferencialmente oriundos de organizações locais. Poderá
introduzir-se no ambiente de trabalho sugestões e outras indicações
que contribuam para a concretização das intenções do plano;
 A utilização de uma check-list contribui para a “materialização” da
noção de sustentabilidade;
 Finalmente, pode comunicar-se a estratégia de sustentabilidade
empreendida pela empresa. A imagem da empresa sairá reforçada
juntos dos seus clientes.
Envolva o pessoal da
empresa e torne claro
aquilo que pretende.
O esforço necessário para que uma empresa seja sustentável requer um
compromisso a longo prazo. Isto significa incorporar na organização interna da
empresa e na sua relação com o exterior, os processos e comportamentos
conducentes a esse compromisso.
30
Guia para a Eco-inovação em PME
Política de Compras
A implementação de um processo de compras sustentáveis poderá
envolver as seguintes ações:
 Enumerar as necessidades de aquisições;
 Estabelecer objetivos realistas. Podem não ser cumpridos no
imediato mas são orientadores das opções a tomar;
 Fazer escolhas, ou seja, impor critérios no relacionamento com o
fornecedor, tendo por base os objetivos de sustentabilidade
estabelecidos;
 Limitar o que se compra a produtos/matérias-primas que
incorporem preocupações ambientais e que:
 Tenham uma proveniência local ou regional;
 Sejam duráveis;
 Não contenham químicos prejudiciais ao ambiente;
 Sejam reciclados e/ou reutilizáveis;
 Emitam GEE (gases com efeito de estufa) mínimos;
 Sirvam mais do que uma função;
 Venham em grandes quantidades;
 Venham em embalagens mínimas;
 Tenham um certificado de eficiência energética (A ou A+).
 Limitar o que se compra a produtos/matérias-primas que
incorporem preocupações sociais e éticas e que:
 Representem um valor acrescentado para a comunidade
(por exemplo a compra a organizações sociais);
 Provenham do comércio justo;
 Provenham do meio local;
A aquisição de produtos
de forma responsável
significa ter em conta um
conjunto de critérios de
escolha. Poderá significar,
por exemplo, a preferência
por produtos com
determinadas
características, como por
exemplo produtos “verdes”
e produtos com
preocupações sociais. A
compra de lâmpadas LED,
a aquisição de veículos
híbridos e a preferência
por produtos do Comércio
Justo são exemplos de
características que
poderão compor compras
responsáveis.
A maior parte dos produtos
“verdes” e socialmente
responsáveis têm um preço
aproximado dos restantes
produtos quando se leva
em consideração o seu
ciclo-de-vida.
Experimente estabelecer
parcerias com outras
empresas no sentido de
possibilitar a compra em
grandes quantidades,
baixando assim o preço.
 Provenham da agricultura biológica;
 Provenham de empresas fornecedoras com políticas e
práticas sustentáveis.
A empresa está no centro de uma rede composta por clientes, fornecedores e
empresas subcontratadas, por onde circulam produtos, serviços e outros recursos. Ao
preferir a compra de produtos e serviços com base unicamente no preço, a empresa
está a favorecer a oferta de produtos baratos, de mínima qualidade e sem
consideração pelo impacte ambiental e social do processo de fabrico. A aplicação
de princípios de sustentabilidade no eixo desta rede terá uma influência importante
na diversidade de entidades no círculo de relações da empresa.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
31
Transportes
 Planear os trajetos a realizar pela frota para diminuir distâncias
percorridas e consumo de combustíveis;
 Procurar efetuar entregas durante a noite, de modo a evitar as
horas-de-ponta do início da manhã e final de tarde;
 Optar por esquemas de acesso a frotas de veículos em vez de
compra;
 Escolher os automóveis com maior economia de combustível;
 Procurar partilhar fretes com outras empresas e assim reduzir os
custos de transporte, sempre que necessitar de proceder ao
transporte de mercadorias;
 Introduzir alterações nos transportes de mercadorias. As áreas de
atuação com maior potencial de geração de poupanças para a
empresa e redução do impacte ambiental encontram-se ao nível
dos pneumáticos (introdução de pneus de baixa resistência ao
rolamento e recauchutados), reduções de peso, aerodinâmica,
introdução de híbridos e tecnologia disponível (stop-start,
indicadores de mudança de velocidades, etc.);
 Organizar ações de formação em técnicas de eco-condução;
 Procurar alternativas à necessidade de viajar (práticas de trabalho
que reduzam a necessidade de viajar, como o teletrabalho,
videoconferência, etc.);
 Evitar o uso dos transportes aéreos. Nas viagens de curta
distância viajar de comboio;
 Optar por alojamento em hotéis a curta distância dos locais de
reunião/conferência e, se possível, naqueles que sigam uma
política de redução do seu impacte no ambiente. No transporte
de mercadorias transatlântico, é preferível o uso de transportes
marítimos;

Os automóveis híbridos já
apresentam alguma
fiabilidade o que,
juntamente com o
consumo, proporcionam
poupanças consideráveis
nos custos de transporte.
O transporte aéreo é
altamente intensivo em
emissões de carbono. É
preferível a escolha de
outros meios de
transporte.
A instalação da unidade
produtiva perto dos
centros de distribuição
reduz drasticamente o uso
dos transportes de entrega
de mercadorias.
A alteração de sistemas
de logística ineficientes,
bem como o aumento da
capacidade de carga e
do rácio
capacidade/carga,
permitem diminuir o
número de viagens feitas.
Uma melhor manutenção
dos veículos pode levar a
uma redução significativa
dos consumos de
combustível.
Optar pela compensação das emissões de GEE que causar.
O setor dos transportes é responsável por cerca de um terço do consumo de energia
e por mais de um quinto das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Também
é responsável pela poluição atmosférica e sonora e pela emissão de partículas
causadoras de problemas respiratórios. As empresas podem contribuir para a
mitigação desses efeitos através da redução das viagens de negócios e através da
racionalização das deslocações casa-trabalho e, principalmente, do transporte de
mercadorias.
32
Guia para a Eco-inovação em PME
Processo Produtivo
 Implementar um sistema de gestão ambiental, em que estarão
definidas as responsabilidades pelos aspetos ambientais durante
o processo produtivo;
 Utilizar técnicas de produção mais limpas;
 Reduzir as entradas de materiais;
 Instalar equipamentos de elevada eficiência e mantê-los em
perfeitas condições operacionais;
 Implementar um número menor de etapas produtivas;
 Maximizar as oportunidades de reciclagem e reutilização de
materiais;
 Reduzir e reaproveitar aparas e desperdícios gerados no processo
produtivo;
 Reduzir o consumo de fluidos e água no processo;
 Optar por fontes energéticas mais limpas e de menor consumo;
 Diminuir o número de consumíveis no processo produtivo,
substituindo-os por materiais mais limpos;
 Incrementar a eficiência dos processos de limpeza de máquinas e
instalações;
 Fazer uma melhor gestão dos sistemas de armazenagem e
logística;
 Implementar processos produtivos o mais próximo possível da
produção de resíduos "zero"; reciclar e reutilizar os resíduos
produzidos;
 Minimizar o desgaste de ferramentas, utilizando ferramentas
especializadas e de alta qualidade;
 Implementar práticas de controlo de processos e sistemas de
verificação em cada etapa da produção, de forma a evitar
desperdícios;
 Realizar periodicamente ações de formação e esclarecimento aos
trabalhadores sobre os processos de fabrico e correto
manuseamento dos equipamentos.
Pequenas alterações no
processo produtivo
podem assumir um
impacto grande na
eficiência global da
organização.
Os low-hanging fruits
(medidas de baixo custo
que reduzem impactes
ambientais e custos)
criam situações win-win
para as empresas.
A realização de controlos
de qualidade regulares
às matérias-primas, para
que sejam utilizadas com
um grau de pureza
bastante elevado, reduz
a quantidade de
impurezas que sairão do
processo na forma de
resíduo.
A instalação de novos
equipamentos
produtivos, mais
eficientes, conduz à
evolução tecnológica
da empresa e a uma
gestão mais eficaz do
consumo de
matérias-primas,
reduzindo os
desperdícios.
Há diversas metodologias
focalizadas na
eliminação de perdas no
processo produtivo,
como a Gestão da
Qualidade Total,
ISO 9000, produção
otimizada (lean
manufacturing) ou Seis
Sigma.
Uma maior eficiência no processo produtivo implica uma diminuição dos
desperdícios e, consequentemente, um menor investimento para solucionar
problemas ambientais. Reduzir a poluição através do uso racional de
matérias-primas significa uma opção ambiental e económica definitiva.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
33
Marketing e Responsabilidade Social
 Apostar no branding "verde";
 Promover as características ecológicas do seu produto, fazendo
desta atividade uma parte central da comunicação da empresa,
quer interna quer externa;
 Desenvolver novos produtos e serviços conjuntamente com as
partes interessadas, particularmente com os consumidores;
 Utilizar o marketing ecológico como fator diferenciador face à
concorrência e como meio para abrir novos mercados e atrair
novos clientes;
 Priorizar a oferta de serviços associados a um produto em vez do
produto propriamente dito, oferecendo ao cliente o direito de
usufruto em vez da posse. A empresa reduz custos, fica em posse
do produto e reduz o seu impacte ambiental;
 Apostar na certificação ambiental;
 Tirar partido de redes sociais como o Facebook, Twitter ou
Linkedin;
 Não recorrer a práticas de greenwashing;
 Na relação com a comunidade, analisar o impacte no meio local,
tanto do ponto de vista negativo como positivo. No primeiro caso,
trata-se de promover o princípio da precaução no tocante à
poluição e contaminação do meio local, mas também nos efeitos
provocados pelas decisões empresariais, como a decisão de
deslocalização. No segundo caso, trata-se de impactos positivos
como a criação de emprego;
 Procurar ir mais longe e desenvolver iniciativas benéficas para a
comunidade;
 Organizar ações de voluntariado de temática ambiental, com a
participação das chefias e dos colaboradores ou em parceria com
outras empresas;
O greenwashing traduzse numa apropriação
injustificada de virtudes
ambientais por parte de
organizações, mediante
o uso de técnicas de
marketing e relações
públicas. Tal prática tem
como objetivo criar uma
imagem positiva, diante
da opinião pública,
acerca do grau de
responsabilidade
ambiental da
organização, ocultando
ou desviando a atenção
de impactes ambientais
negativos por ela
gerados.
As práticas empresariais
sustentáveis referem-se
à relação que a
empresa estabelece
com a comunidade
local. A consideração
destes princípios na
estratégia empresarial
vai para além das
preocupações
puramente filantrópicas
e altruístas.
Corresponde à forma
de atuação de uma
empresa no século XXI,
preocupada com a sua
imagem, com o meio
ambiente e com o
desenvolvimento
equilibrado da
comunidade onde se
insere.
 Oferecer um tratamento preferencial a empresas locais.
O marketing ambiental é uma estratégia de marketing voltada para um processo de
venda de produtos e serviços assente nos seus benefícios ambientais. É uma
estratégia de vinculação da marca, produto ou serviço a uma imagem
ecologicamente consciente.
Ser ético e transparente é conhecer e considerar as partes interessadas na tomada
de decisão, construindo um canal de diálogo entre as partes.
34
Guia para a Eco-inovação em PME
3. IMPLEMENTAÇÃO DE UM MODELO DE
ECO-INOVAÇÃO EM 7 ETAPAS
3.1. ENQUADRAMENTO
De forma a auxiliar as empresas na introdução de medidas eco-inovadoras nas suas organizações, decidimos
apresentar neste manual um modelo de integração da eco-inovação na realidade empresarial. O modelo
selecionado foi o método OpenGreen, em virtude da simplicidade da sua aplicação e da sua capacidade para a
geração de resultados positivos de forma rápida.
O método em questão consiste em 7 etapas distintas, que são elencadas de seguida.
Fonte: Gingko 21 e Auki
Figura 6 – Estrutura do método de Eco-inovação Opengreen
Identificação de Oportunidades
Esta etapa tem por objetivo identificar oportunidades de eco-inovação em produtos e serviços oferecidos pela
empresa. As etapas seguintes da implementação do método OpenGreen são levadas a cabo por uma equipa de
projeto que contempla representantes das mais variadas áreas da empresa, como o departamento de compras,
logística, vendas, design, etc.
Análise
Esta etapa consiste em documentar todas as dimensões do produto/serviço e contextualizá-las, definir
objetivos e preparar meios para procurar soluções inovadoras, tendo em consideração as limitações da
empresa.
Conceção de Alternativas
Trata-se de chegar ao maior número de ideias possível, em múltiplas direções, de modo a conduzir a soluções
verdadeiramente inovadoras.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
35
Seleção de Alternativas
Entre as ideias surgidas do brainstorming, selecionar as mais pertinentes para a empresa, em função de
critérios previamente definidos.
Implementação das Soluções
A partir das ideias selecionadas, levar a cabo o desenvolvimento, aperfeiçoamento industrial e lançamento do
produto no mercado.
Política de Comunicação
Preparar a comunicação sobre o produto, destacando a sua performance ambiental.
Capitalização das Soluções Encontradas
Garantir o registo e transferência do conhecimento resultante de todo o processo de eco-inovação na empresa
para projetos futuros, de modo a garantir um desenvolvimento efetivo das práticas ambientais e do modelo de
negócios da empresa.
Ao longo deste capítulo, abordaremos em maior detalhe cada uma das 7 etapas do modelo de eco-inovação
OpenGreen.
36
Guia para a Eco-inovação em PME
3.2. IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES
As empresas podem ter múltiplas motivações para iniciar ou aprofundar um
processo de eco-inovação. No entanto, a importância relativa dessas mesmas
motivações difere de uma empresa para outra e condiciona a orientação de todo o
processo.
Assim, é fulcral que a empresa analise o seu contexto, de modo a identificar e hierarquizar os sinais favoráveis
à eco-inovação. É necessária uma análise estratégica orientada ao produto e ao ambiente. É este o objeto
deste capítulo.
Esta etapa é crucial e não deve ser negligenciada. Por um lado, permite legitimar a iniciativa de eco-inovação e
fornecer argumentos que convençam o interior da organização. Por outro lado, fornecerá as linhas-mestras
que orientarão o processo de eco-inovação na empresa, assegurando a sua coerência nos vários domínios da
empresa (estratégia, mercado, etc.), fator-chave para o sucesso da operação. Permite igualmente identificar
em que segmento de mercado, gama de produtos, etc., se deve focalizar a eco-inovação.
Como uma análise estratégica clássica, esta exploração visa todos os elementos de contexto da empresa.
A figura seguinte apresenta as variáveis envolvidas nesta etapa do modelo de eco-inovação apresentado.
IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES
Decisão de explorar
a eco-inovação
Oportunidade de
eco-inovação
CONTEXTO
CADEIA DE VALOR
EMPRESA
Fonte: ADEME
Figura 7 – Identificação de oportunidades
Tal como uma análise estratégica clássica, este processo de análise visa todos os elementos do contexto da
o
empresa. Desta forma, podemos apelidar esta análise como "Análise 360 ".
o
A análise 360 tem em conta as variáveis identificadas na figura anterior (contexto, cadeia de valor e empresa)
relativas a esta etapa do modelo de eco-inovação.
Dentro de cada variável, a análise considera diversas questões (como os impactes ambientais, os distribuidores
ou a concorrência). A resposta a essas questões permite uma melhor compreensão do contexto e assegurar um
melhor processo de tomada de decisão, no âmbito do projeto de eco-inovação. Auxilia a empresa a encontrar
um ou mais projetos de eco-inovação pertinentes.
o
A figura seguinte esquematiza a análise 360 num processo de eco-inovação.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
37
o
A análise 360 está organizada em nove domínios de exploração, estruturados em três áreas de influência, ou
seja:

Contexto da empresa: tecnologias, regulamentação e concorrência (a verde na figura);

Cadeia de valor: fornecedores, distribuidores e clientes, envolvendo também outras partes
interessadas como acionistas, opinion makers, etc. (a laranja na figura);

Empresa propriamente dita: seus impactes ambientais, sua estratégia e margem de manobra (a
vermelho na figura).
EMPRESA
ESTRATÉGIA DA
EMPRESA
MARGEM DE
MANOBRA
IMPACTES
AMBIENTAIS
DISTRIBUIDORES
FORNECEDORES
CADEIA DE
VALOR
CLIENTES
EVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA
CONCORRENTES
REGULAMENTAÇÃO
CONTEXTO
Fonte: ADEME
Figura 8 – Análise 360
o
o
A análise 360 é uma forma de identificar as oportunidades de eco-inovação no desenvolvimento de
produtos/segmentos de mercado relevantes para a empresa, em função do contexto de mercado, das
oportunidades tecnológicas ou do posicionamento estratégico da empresa. Uma análise correta é o maior
garante de sucesso comercial ou industrial.
A análise deve ser efetuada previamente ao início do processo de desenvolvimento de um novo produto e
enquadrar-se na realidade momentânea ao nível da regulamentação e evolução tecnológica, recolhendo
informação atual e pertinente para as equipas responsáveis.
No mínimo, devem ser envolvidos no processo de análise os departamentos de marketing, investigação e
desenvolvimento e ambiente.
o
A análise 360 tem a vantagem de, uma vez utilizada, poder ser replicada, com alguns ajustes, em outros
projetos, auxiliando na identificação de novas oportunidades de eco-inovação.
De seguida, abordam-se cada uma das vertentes previamente elencadas para a identificação de oportunidades
o
de eco-inovação e que fazem também parte da análise 360 (contexto, cadeia de valor e empresa).
38
Guia para a Eco-inovação em PME
Contexto da Empresa
Em cada uma das dimensões identificadas nesta vertente (concorrentes, regulamentação e evolução
tecnológica), há uma série de questões relevantes que a empresa deve colocar a si mesma no momento da
identificação de oportunidades de eco-inovação no contexto da empresa.
O quadro seguinte apresenta algumas dessas mesmas questões.
Quadro 2 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação no contexto da empresa
Concorrentes

Quais os principais fatores de vantagem concorrencial?

De que forma é que o ambiente tem impacto nesses fatores de vantagem concorrencial?

Qual o grau de atividade ambiental dos concorrentes?

Quais as políticas de comunicação dos concorrentes em matéria ambiental?
Regulamentação

A que legislação ambiental está sujeito o tipo de produto oferecido pela empresa?

Há nova legislação ou normativos ambientais em elaboração?
Evolução Tecnológica

Há soluções tecnológicas emergentes com capacidade para minorar os impactes ambientais da
empresa?

Quais as principias tendências a considerar?

Qual o efeito da evolução tecnológica nos impactes ambientais?
Fonte: ADEME
Cadeia de Valor
De igual forma ao verificado face ao contexto da empresa, em cada uma das dimensões identificadas nesta
vertente (distribuidores, clientes e fornecedores), há uma série de questões relevantes que a empresa deve
colocar a si mesma no momento da identificação de oportunidades de eco-inovação na cadeia de valor da
empresa. Trata-se de identificar todos os atores com os quais a empresa interage, para satisfazer as
necessidades dos clientes.
O quadro seguinte apresenta algumas dessas mesmas questões.
Quadro 3 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de valor
Distribuidores e Outras Partes Interessadas

Qual a posição da empresa na cadeia de valor?

Como identificar as partes interessadas na cadeia de valor?

Quais os intermediários-chave?

Há novos intermediários a identificar?

A que dimensões específicas são sensíveis os líderes de opinião?

Quais as expectativas dos distribuidores face à performance ambiental da empresa?

Quem são as entidades responsáveis pela gestão de produtos em fim de vida?
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
39
Quadro 3 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de valor (conclusão)
Clientes

A que dimensões específicas são sensíveis os clientes?

Que funções da empresa aportam maior valor para o cliente?
Fornecedores

Quem são os fornecedores-chave da empresa?

Quais os impactes ambientais causados pelos fornecedores?

Há outros fornecedores com menores impactes ambientais?
Fonte: ADEME
Empresa
Finalmente, o quadro seguinte apresenta as principais questões no âmbito da empresa, nos domínios impactes
ambientais, estratégia da empresa e margem de manobra.
Quadro 4 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na empresa
Impactes Ambientais

Quais os principais impactes ambientais associados ao tipo de produto oferecido pela empresa?

Quais os impactes ambientais causados pela empresa em comparação com aqueles causados pela
concorrência?

Que medidas foram já implementadas para minimizar os impactes ambientais dos produtos?
Estratégia da Empresa

Qual a estratégia ambiental da empresa?

A empresa tem prioridades fortes?

A empresa divulga os seus aspetos e impacte ambientais (GEE, biodiversidade, etc.) aos stakeholders?
Margem de Manobra

O que pode ser mudado a curto prazo? A médio prazo? A longo prazo?

Quais as imposições resultantes de legislação e normas ambientais?

Quais as imposições provenientes do marketing ou dos mercados? Porquê?
Fonte: ADEME
40
Guia para a Eco-inovação em PME
Conclusão: Identificação de Oportunidades
o
A análise 360 conduz a empresa a uma análise estratégica orientada à oferta e ao ambiente, identificando
oportunidades de inovação relevantes, muito para além das questões ambientais.
Ao analisar as respostas dadas às questões colocadas anteriormente, a empresa identificará de forma clara as
suas alavancas de impulsão da eco-inovação e os segmentos de mercado mais pertinentes para serem o objeto
dessa ação de inovação.
Toda esta informação será importante para:

Definir um primeiro projeto-piloto de eco-inovação;

Convencer a organização interna sobre os méritos da iniciativa eco-inovadora;

Guiar a eco-inovação ao longo do processo.
Exemplo Prático: Identificação de Oportunidades
De seguida, apresenta-se um exemplo prático da fase de identificação de oportunidades, por via de uma
o
análise 360 . O exemplo utilizado refere-se à indústria das bebidas, mais particularmente, ao setor cervejeiro.
EMPRESA
Diferenciação pela
qualidade tradicional e
produção local e sustentável
Impactes agrícolas
(água, eutrofização,
utilização de solos,
ecotoxicidade,
biodiversidade),
energia (efeito de
estufa, recursos),
resíduos,
matérias-primas
Garrafas mais leves,
cereais provenientes
de agricultura
biológica, pouca
inovação nos
fornecedores
ESTRATÉGIA DA
EMPRESA
Procura dos distribuidores
por produtos "verdes" e
embalagens com menor
impacte ambiental
MARGEM DE
MANOBRA
IMPACTES
AMBIENTAIS
DISTRIBUIDORES
FORNECEDORES
Surgimento de uma
solução inovadora para
o fabrico de cerveja
Evolução ao nível da embalagem, do
processo, das matérias-primas e da
distribuição, mantendo a qualidade e
imagem de marca tradicional
CLIENTES
EVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA
CADEIA DE
VALOR
Crescente
consciencialização dos
consumidores para as
questões ambientais e da
saúde
CONCORRENTES
REGULAMENTAÇÃO
Diretiva Europeia sobre
embalagens: eco-inovação e
valorização de resíduos
Esforços de
eco-inovação nos
grandes fabricantes,
surgimento de
microcervejeiras e
vendas à consignação
CONTEXTO
Fonte: ADEME
Figura 9 – Identificação de oportunidades - Exemplo prático
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
41
3.3. ANÁLISE
A identificação e boa colocação de um problema é meio caminho andado para a sua
resolução. No entanto, por muito que este princípio seja universalmente válido, nem
sempre é aplicado de forma sistematizada numa organização, incluindo ao nível da
eco-inovação.
De facto, frequentemente as empresas falham na etapa da análise das soluções, gerando as chamas "falsas
boas ideias": aparentemente resolvem um problema, sendo que estão potencialmente a criar um ainda maior.
Assim, as equipas de eco-inovação da empresa devem orientar-se e ser orientadas no sentido de, antes de
iniciar qualquer tipo de solução, procurar colocar de forma correta os problemas a resolver. É esta fase de
"prospeção" que pode levar ao surgimento de autênticas "pepitas" de eco-inovação.
No capítulo anterior foi abordada uma análise estratégica orientada para a oferta e para o ambiente, com vista
a identificar oportunidades de eco-inovação. Esta é já uma primeira fase na colocação de um problema. Na
presente etapa, o objetivo passa por afinar e aprofundar a análise.
ANÁLISE
Problema de
eco-inovação
bem colocado e
pronto a ser
resolvido
Oportunidade de
eco-inovação
COLOCAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E REFORMULAÇÃO DO PROBLEMA,
DEFINIÇÃO DE RESULTADO IDEAL E DAS CONDIÇÕES
Fonte: ADEME
Figura 10 – Análise
Esta fase de prospeção consiste em diversas variáveis a considerar, com o objetivo de bem explorar um
problema, no sentido de encontrar a solução mais acertada para o mesmo. É importante porque aprofunda a
o
análise 360 previamente discutida, analisando todas as dimensões do problema.
A fase de análise, ou de prospeção, deve ser conduzida no início do projeto, a partir dos dados resultantes da
o
análise 360 , por uma equipa que integre, no mínimo, representantes dos departamentos de marketing,
investigação e desenvolvimento e ambiente. No entanto, é bem vinda a integração de representantes dos
departamentos de compras, qualidade, industrialização, logística, pós-venda, etc.
No final do projeto, os resultados encontrados nesta fase podem ser capitalizados em projetos subsequentes.
As figuras seguintes esquematizam as variáveis a considerar na prospeção da eco-inovação, bem como a
interligação existente entre cada uma delas.
42
Guia para a Eco-inovação em PME
Funções
Impactes
Uso
Informação
Reformular o
Problema
Ciclo e Sistemas
Idealizar
Perímetro
Ciclo de Vida
Recursos
Breve Descrição do
Problema
Critérios
Fonte: ADEME
Figura 11 – Prospeção de Eco-inovação: variáveis
DOCUMENTAR O
PROBLEMA
REFORMULAR O
PROBLEMA
COLOCAR O
PROBLEMA
DEFINIR O
RESULTADO IDEAL
DEFINIR AS
CONDIÇÕES
Iterações possíveis
Fonte: ADEME
Figura 12 – Prospeção de Eco-inovação: critérios
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
43
Como se pode ver pela análise das figuras anteriores, a etapa de prospeção de eco-inovação e de análise
engloba 5 etapas distintas:

Colocar o problema;

Documentar o problema;

Reformular o problema;

Definir o resultado ideal;

Definir as condições.
Estas etapas não acontecem necessariamente de forma cronológica, podendo inclusivamente serem revistas
ao longo do desenrolar do processo. Adicionalmente, cada uma destas etapas compreende diversas variáveis
que devem ser analisadas e que foram também identificadas nas figuras anteriores. Essas variáveis e a forma
como se integram em cada uma das etapas mencionadas é apresentada de seguida:

Colocar o problema (breve descrição do problema, ciclo-de-vida, ciclo e sistemas);

Documentar o problema (análise funcional, análise aos impactes ambientais, análise de utilização e
informação sobre o problema);

Reformular o problema;

Definir o resultado ideal (idealizar);

Definir as condições (perímetro de intervenção, recursos disponíveis e critérios de avaliação e seleção
de soluções).
De seguida, apresentam-se em maior detalhe todas as etapas e as variáveis identificadas previamente.
Colocar o Problema
Breve Descrição do Problema
Esta etapa consiste tão simplesmente em identificar de forma clara a situação que se pretende resolver.
o
A análise 360 fornece informação preciosa para descrever corretamente o problema. A bem da simplicidade,
deve procurar-se definir o problema numa frase apenas, de forma assertiva e de fácil compreensão para todos.
Ciclo-de-Vida
Trata-se de descrever o produto e o seu ciclo-de-vida, desde a extração ou produção de matérias-primas até ao
fim-de-vida do produto, passando por todas as etapas de produção, distribuição e consumo.
Este é um elemento essencial a qualquer processo de eco-inovação, geralmente após a realização da análise
o
360 . É aqui que se começa a enraizar um pensamento de ciclo-de-vida no seio da organização.
Para além de se identificarem todas as etapas que compõem o ciclo-de-vida do produto, identificam-se
também os fluxos entre essas etapas e os impactes ambientais causados em cada uma delas.
44
Guia para a Eco-inovação em PME
Na análise do ciclo-de-vida de um produto, devem colocar-se questões como as apresentadas de seguida:

Nome do produto/sistema;

Estrutura do produto/sistema (análise estática): componentes, arquitetura, ligações entre
componentes, etc.;

Funcionamento do produto/sistema (análise dinâmica): em contraponto à análise estática, aqui
analisa-se o produto de forma dinâmica, no momento da utilização;

Ambiente do produto/sistema: qual a envolvente do produto e em que contexto é utilizado;

Ciclo-de-vida do produto: principais etapas do ciclo-de-vida do produto.
A análise de ciclo-de-vida aplica-se não só aos produtos, mas também aos serviços, pese embora com algumas
diferenças de abordagem, uma vez que a sua modelização é algo mais complexa. A própria noção de ciclo-devida pode ser questionável, uma vez que o serviço tende a desaparecer no momento de prestação.
No entanto, se observarmos um qualquer serviço, a realidade é que ele agrega diversos ciclos-de-vida em si só,
desde os equipamentos utilizados na prestação de um serviço (automóvel, máquinas, etc.), aos alimentos
consumidos por funcionários, uso de climatização no local de trabalho, etc.
Assim, podem considerar-se 4 dimensões distintas na análise do ciclo-de-vida de um serviço, a saber:

Uso;

Organização;

Infraestrutura;

Material.
Ciclo e Sistemas
A abordagem ao ciclo e sistemas obriga as equipas responsáveis pela eco-inovação e conceção do produto a
uma "ginástica intelectual" ao abordar os "sobresistemas" e "subsistemas" do produto em análise e as
diferentes etapas do ciclo-de-vida.
A abordagem permite explorar de forma sistemática os diferentes níveis do sistema, de modo a reduzir os
impactes ambientais. Esta ferramenta deve ser utilizada no início do projeto, para definir a margem de
manobra, durante o projeto, para efetuar correções nas áreas identificadas e no final do projeto, para que se
possa capitalizar sobre os sucessos atingidos em projetos futuros.
Para a sua utilização, é necessário que se definam as etapas de ciclo-de-vida e os níveis de sistema adequados a
cada projeto de eco-inovação. O sistema é o produto em análise; os subsistemas são as componentes do
produto; o sobresistema é o sistema em que o produto opera. Há portanto uma análise a nível micro (sistema e
subsistema) e a nível macro, global (sobresistema).
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
45
Esta abordagem ao nível do sistema é muito importante, uma vez que permite, no processo de conceção, ter
uma noção da forma como o produto se integra na sua envolvente. Assim, a equipa de conceção pode ter em
consideração os impactes ambientais de um produto/serviço à escala global, ao longo de todo o seu
ciclo-de-vida, podendo efetivamente conceber produtos que reduzam os impactes ambientais a um nível global
e não só na oferta da própria empresa.
O princípio desta abordagem é simples: constrói-se uma matriz, em que o eixo horizontal identifica as
principais etapas do ciclo-de-vida e o eixo vertical os diferentes níveis do sistema.
O quadro seguinte apresenta um modelo desta ferramenta.
Quadro 5 – Matriz «ciclo e sistemas»
CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO
NÍVEL DO SISTEMA
Produção
Sobresistema
Sistema
Subsistema
Fonte: ADEME
46
Guia para a Eco-inovação em PME
Distribuição
Utilização
Fim-de-Vida
Exemplo Prático: Cerveja Engarrafada
O exemplo dado de seguida socorre-se uma vez mais da experiência da indústria da cerveja.
Descrição
O produto em causa é uma cerveja servida em
garrafa ou lata. Os objetivos são:
Malteria
 Responder às necessidades do mercado;
 Reduzir os custos de produção a médio
Fornecedores de
Embalagens
prazo;
 Concorrer com os grandes players e
diferenciar-se face aos players locais;
Cooperativa
Agrícola
 Educar o consumidor.
Em função disto, o problema pode ser descrito
da seguinte forma:
"Desenvolver uma boa cerveja, com menores
impactes ambientais ao longo do seu
ciclo-de-vida, educando o consumidor no
processo"
Ciclo-deVida
Fabricantes
Distribuidor
Fim-de-Vida
Utilizador
Ciclo-de-Vida da Cerveja
 Nome do produto/sistema: cerveja destinada ao mercado da grande
distribuição.
 Estrutura do produto/sistema: uma garrafa, cerveja no interior, uma
cápsula metálica.
 Funcionamento do produto/sistema: o consumidor remove a cápsula,
serve a bebida num copo e consome a cerveja. Depois descarta a
garrafa vazia e os seus componentes.
 Ambiente do produto/sistema:

Armazenagem refrigerada: alimentos armazenados conjuntamente
com a cerveja no frigorífico;

Consumo: na cozinha, sala-de-estar, sala-de-jantar, terraço, jardim,
etc.
Ciclo e Sistemas
Sobressistema
Sistema
Perímetro
Subsistemas
Agricultura
Malteria
Fabrico
Distribuição
Utilização
Fim-de-Vida
Cereais, arroz,
campo
agrícola
Forno, sala de
germinação,
malteria
Produção
(cuba), forno,
embalagem
Armazém,
camião,
paletes
Frigorífico,
mesa, sala,
jardim
Reciclagem,
incineração,
deposição
Cevada,
cereais
Malte
Cerveja
Cerveja
embalada
Cerveja
Garrafa vazia
Cereais no
campo
Grãos
Fermentação
Garrafa
Copo
Garrafa
Sementes,
amidos, razies
Cascas,
amidos, grãos
Mosto, borras,
água, gás,
levedura, odor
Garrafa,
cerveja, gás,
cápsula
Espuma,
líquido, gás,
copo
Garrafa, cápsula,
etiqueta
Fonte: ADEME
Figura 13 – Colocação do problema - Exemplo prático
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
47
Documentar o Problema
Contrariamente ao capítulo anterior referente à colocação do problema, em que as diversas etapas (breve
descrição do problema, ciclo-de-vida, ciclo e sistemas) se sucediam de forma cronológica, na fase referente à
documentação do problema, as diversas etapas podem ser implementadas a qualquer momento e até em
simultâneo.
O objetivo passa por recolher toda a informação necessária a uma boa documentação sobre o problema, de
modo a que se possa proceder à sua reformulação, tendo a nova informação em atenção. Para isso, são
levados em conta aspetos essenciais do processo de eco-inovação, como as funções do produto, a sua
utilização e o seu impacte ambiental. São estas questões que serão apresentadas de seguida.
Análise Funcional
A análise funcional destina-se a garantir que o produto vai de encontro às necessidades dos consumidores, não
considerando ainda as limitações enfrentadas pela equipa de conceção.
O método proposto desenrola-se a três tempos, a saber:

Identificação das funções - com recurso a diagrama;

Caracterização das funções - definindo-se um ou mais critérios para cada função e um nível para cada
critério;

Hierarquização das funções - tendo em conta a realidade económica da empresa.
Um produto fruto da eco-inovação é acima de tudo um produto funcional que responde às necessidades do
cliente ou utilizador. A análise funcional assume-se como uma ferramenta essencial para qualquer processo de
eco-inovação, pela relevância que assume na perceção das reais necessidades desse mesmo consumidor ou
utilizador.
De seguida, descrevem-se cada uma das etapas que constituem a análise funcional.
Identificação das Funções
Uma forma simples para a identificação de funções de um produto é através do recurso a um diagrama.
Para a realização deste diagrama, o produto em análise é colocado no centro do diagrama. Seguidamente,
elencam-se características do produto ou pontos importantes a referir sobre o mesmo à volta do centro.
Finalmente, é necessário criar ligações entre o produto e as características/pontos-chave identificados.
Esta primeira análise é algo vaga, servindo como um ponto de partida, até que na fase de caracterização de
funções se elabora um pouco mais sobre as temáticas previamente analisadas.
A título de exemplo, a figura seguinte apresenta um diagrama possível para a indústria da cerveja num
mercado típico.
48
Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: ADEME
Figura 14 – Diagrama de identificação de funções - Exemplo prático
Caracterização das Funções
Para a caracterização das funções é conveniente definir critérios, meios de quantificação ou validação,
objetivos ou níveis de desempenho a atingir. É igualmente útil selecionar um grau de flexibilidade para os
objetivos.
Continuando com o exemplo da cerveja, chegaríamos a um quadro deste tipo:
Quadro 6 – Caracterização das funções - Exemplo prático
Funções
Critérios
Nível
Medição
Flexibilidade
Equilíbrio
Nota > 6/10
Painel de degustação
Apenas notas superiores
Amargura
Nota = 4/10
Painel de degustação
Resistência ao
choque
Nível definido por
norma
Teste
Apenas notas superiores
Estanquicidade ao
ar
Estanque a 1,5 atm
Teste
Apenas notas superiores
Gosto
Resistência
ao ambiente
externo
+ ou -1
3 < Nota < 5/10
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
49
Hierarquização das Funções
A hierarquização das funções é importante para permitir à equipa responsável pela conceção do produto, ao
longo do seu desenvolvimento, efetuar escolhas e saber que funções deve privilegiar. Isto faz-se simplesmente
catalogando as funções em três categorias: fundamental, importante e útil. Todas as funções que se
enquadrem em alguma destas categorias devem ser eliminadas.
Podem ainda ser utilizados modos mais complexos de hierarquização, como por exemplo, a atribuição de um
grau a cada uma das funções.
O quadro seguinte apresenta um exemplo de hierarquização de funções, uma vez mais aplicado à indústria da
cerveja.
Quadro 7 – Hierarquização das funções - Exemplo prático
Funções
Hierarquização
Fundamental
Importante
Útil
X
Gosto
Aspeto
X
Apreço
X
Frescura
X
Convívio
X
Armazenagem
X
Resistência ao choque
X
Armazenagem em prateleira
X
Atratividade ao redor
X
Ambiente
X
Informações legais
X
Fonte: ADEME
Análise dos Impactes Ambientais
De uma forma genérica, aqui pretende-se identificar as etapas e elementos com maior impacte ambiental, de
modo a poder direcionar os esforços da empresa para essas áreas críticas.
Como já foi dito, a avaliação ambiental envolve múltiplos critérios e consideração por todo o ciclo-de-vida de
um produto. A análise do ciclo-de-vida (ACV) é a ferramenta de referência para avaliar o impacte ambiental de
produtos e serviços. Uma cobertura global do ciclo-de-vida recorrendo a uma abordagem multicritério permite
captar os impactes ambientais causados por um produto de forma objetiva, evitando a transferência da
poluição para uma fase diferente do ciclo-de-vida.
No entanto, nesta fase do projeto não é viável o recurso a uma análise do ciclo-de-vida, senão vejamos:
50

Como avaliar o impacte ambiental de um produto que ainda não existe?

Como difundir informação assertiva e de fácil compreensão a equipas de conceção pouco
familiarizadas com a análise de ciclo-de-vida?

Como conciliar os tempos do projeto com a realização de um estudo de ciclo-de-vida?
Guia para a Eco-inovação em PME
Uma primeira abordagem passa por procurar similaridades com um produto já existente, para encontrar
prováveis impactes ambientais e pistas de eco-inovação. Pode recorrer-se à ACV de uma geração precedente
do produto ou de um produto da concorrência.
Uma segunda recomendação vai no sentido de fomentar o uso de uma ferramenta chamada "Matriz
Multi-impactes Multi-etapas" (MIME). Esta é uma forma sintética e visual de apresentar resultados à equipa de
conceção.
Esta ferramenta permite clarificar os impactes ambientais de grande escala, uma vez que se constitui como
uma visão sintética dos desafios ambientais, permitindo direcionar o foco das equipas para os problemas mais
prementes. Situam-se os principais impactes ambientais ao longo do ciclo-de-vida de um produto em fase de
conceção.
Deve ser utilizada logo no início do processo de conceção, de modo a que se possam enquadrar as prioridades
ambientais e consultada ao longo de todo o processo, como forma de lembrete dos objetivos e prioridades
identificadas.
O quadro seguinte apresenta um exemplo possível de uma matriz MIME.
Quadro 8 – Matriz MIME
Multiimpactes/
Multietapas
Produção de
Materiais
Fabrico
Distribuição
Uso
Fim-de-Vida
Energia
Substâncias Tóxicas
Recursos não Energéticos
Emissões Atmosféricas
Emissões para a Água
Emissões para o Solo
Produção de Resíduos
Outros (Ruído, Radiações,
etc.)
Fonte: ADEME
Como se pode ver, é efetuada uma análise ao longo do ciclo-de-vida e considerados os principais impactes
ambientais causados pelo produto.
Naturalmente, há impactes ambientais que são relativamente fáceis de observar e de levar em consideração,
como é o caso dos resultantes da produção de matérias-primas ou dos consumos energéticos. No entanto, a
MIME permite incluir outros fatores menos óbvios, como por exemplo, a forma como o consumidor utiliza o
produto ou a quantidade de clientes que o utilizam, que podem ter um peso significativo no impacte ambiental
causado pelo produto.
O preenchimento do quadro anterior envolve uma gradação dos impactes causados, que pode assumir diversas
formas.
A título de exemplo, apresentamos de seguida uma matriz MIME aplicada à indústria da cerveja, em
congruência com o exemplo que tem vindo a ser sistematicamente apresentado. Consideramos três graus com
códigos de cor: a vermelho, o impacte ambiental mais negativo; a amarelo, um impacte ambiental já bastante
significativo; e finalmente, a verde, um impacte ambiental correspondente a aproximadamente zero.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
51
Quadro 9 – Matriz MIME - Exemplo prático
Multiimpactes/
Multietapas
MatériasPrimas
Fabrico
Embalagem
Distribuição
Uso
Fim-deVida
+
+
0
0
+++
0
Emissões Atmosféricas
+++
+++
0
+
+
+
Emissões para a Água
+++
0
0
0
+
0
Consumo de Água
+++
+
0
0
+
0
Energia / Efeito de
Estufa
Recursos Naturais
+
0
Utilização de Solos
+
0
Produção de Resíduos
0
0
Substâncias Tóxicas
+
0
0
+
Fonte: ADEME
Uma outra ferramenta de que as empresas se podem socorrer é a ferramenta de "Balizagem dos Impactes
Pertinentes", ou BIP. A ferramenta indica as questões a colocar, bem como os impactes ambientais mais
prováveis associados ao produto.
A ferramenta permite hierarquizar rapidamente os principais impactes ambientais de um produto a ser alvo de
eco-inovação, orientando as escolhas da equipa de conceção no sentido de procurar as eco-soluções mais
pertinentes à diminuição dos impactes ambientais associados ao produto/serviço. Esta ferramenta é
particularmente importante quando os conhecimentos sobre a eco-inovação num determinado produto são
ainda pouco desenvolvidos e na ausência de ACV para produtos similares.
É utilizada nas primeiras fases do processo de conceção, para identificar as direções de inovação a privilegiar
ou para hierarquizar as pistas da matriz MIME e na fase de avaliação de ideias, para estimar os
riscos/benefícios associados a cada solução idealizada.
52
Guia para a Eco-inovação em PME
Abordar
imediatamente essas
exigências
Se sim
Exigências
ambientais?
Boas práticas
agrícolas, redução
de perdas
Se sim
Inputs
agrícolas?
Reduzir o consumo
de energia ou seus
impactes
Se sim
Consumo de
energia e
emissões de GEE?
Limitar o impacte
de substâncias
tóxicas
Se sim
Uso de
substâncias
tóxicas?
Reduzir o
consumo de
consumíveis
Consumo de
consumíveis
no uso?
Se sim
Reduzir impactes
na produção e
fim-de-vida
Se sim
Duração de
vida curta?
Fonte: ADEME
Figura 15 – Balizagem dos impactes pertinentes - BIP
O "Balanço do Produto" é outra ferramenta útil na documentação do problema, uma vez que permite ao
utilizador perceber quais são os componentes, matérias-primas, processos ou etapas do ciclo-de-vida
responsáveis pelos principais impactes ambientais provocados, no âmbito do sistema idealizado, e identificar
assim elementos sobre os quais agir prioritariamente. Uma função de comparação permite ao utilizador testar
as soluções de melhoria identificadas.
Os resultados surgem sob a forma gráfica, como se pode ver de seguida.
Esta ferramenta pode ser utilizada gratuitamente e está disponível no seguinte endereço:
http://www.base-impacts.ademe.fr.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
53
Formação fotoquímica de ozono
Exaustão dos recursos minerais, fósseis e renováveis
Eutrofização aquática (marinha)
Alterações climáticas
-10%
Fabrico
0%
10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Distribuição/Embalagem
Uso
Fim-de-Vida
Fonte: ADEME
Figura 16 – Balanço do produto
Análise do Uso
Esta análise deve ter em consideração o comportamento real dos utilizadores, o contexto da utilização e
eventuais problemas, permitindo assim obter ganhos ambientais significativos, oriundos de um profundo
conhecimento adquirido. Nesta análise, é importante apreender todos os pontos positivos e negativos da
experiência do utilizador recorrendo-se, sempre que possível, a análise in situ.
A análise de uso deve ser conduzida na fase de análise discutida neste capítulo, antes ou depois das restantes
fases de análise ambiental e funcional. A análise do uso é aliás complementar à análise funcional, podendo
servir como fonte de informação para esta.
A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta no setor da cerveja.
As condicionantes analisadas são as seguintes:
54

Compra da cerveja;

Trajeto de regresso a casa;

Armazenagem;

Conservação;

Dia de consumo;

Abertura da cerveja;

Serviço;

Degustação;

Fim;

Resíduos;

Limpeza.
Guia para a Eco-inovação em PME
O consumidor desloca-se ao local
de venda.
Compra da
cerveja
Abertura
Remove-se a cápsula.
Procura até encontrar a zona das
bebidas alcoólicas.
A cerveja pode transbordar
garrafa, gerando perdas.
da
Questiona-se sobre que cerveja
escolher, efetua o seu benchmark
ou escolhe a primeira que veja.
Coloca a garrafa de cerveja
escolhida no cesto e desloca-se à
caixa.
Serviço
Retira a garrafa de cerveja do cesto
e coloca-a na passadeira.
A cerveja é servida num copo ou
consumida diretamente da garrafa.
Pode gerar-se maior ou menor nível de
espuma.
Paga-a e coloca-a num saco.
Trajeto de
regresso
Transporta a garrafa de cerveja e a
sua embalagem até casa.
A cerveja é bebida, originando prazer
ao utilizador.
Degustação
O trajeto até casa é mais ou menos
longo e mais ou menos agradável
(garrafa de cerveja no carro, ou
pack de 24 em moto).
Uma vez em casa, armazena-a:
Armazenagem
Utilizar o mesmo copo para várias
cervejas tende a diminuir a sua
qualidade.
Fim
Num armário, caso preveja
bebe-la mais tarde;
A garrafa de cerveja pode ter uma
utilização direta.

No frigorífico, caso
bebe-la de imediato.
A garrafa vazia pode ser armazenada
durante alguns momentos, horas,
dias...
odor
de
fermentação
desagradável.
planei
Resíduos
Deita fora a embalagem ou
coloca-a no frigorífico com a
garrafa de cerveja.
Dia de
consumo
A degustação terminou, restando
apenas um pouco de líquido no fundo
da garrafa.

Armazena a garrafa de cerveja
nestes locais ou onde haja espaço
(não necessariamente em boa
posição e/ou a boa temperatura).
Conservação
O copo é muito grande, as pessoas
consomem-na a ritmos diferentes,
podendo acontecer que o final esteja
morna e sem gás.
A
garrafa
de
cerveja
e
eventualmente a sua embalagem
ficam sujeitas a variações de
temperatura e posicionamento.
A garrafa vazia é descartada:

Em caixotes do lixo genéricos;

Em vidrões;

No local de recolha do lixo;

No local de aquisição;
Limpeza
No dia da degustação, a garrafa
de cerveja sai do seu local de
conservação.
O copo é limpo e armazenado. É
consumida água para efetuar a
lavagem.
Poderá ainda ficar uns minutos no
congelador, de modo a que fique
fresca.
Fonte: ADEME
Figura 17 – Análise do uso
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
55
Informações sobre o Problema
É importante explorar os pontos seguintes:

O problema a ser resolvido;

As causas do problema;

As consequências negativas da não resolução do problema;

O histórico do problema;

Problemas similares encontrados em outros setores;

Outros problemas.
O quadro seguinte apresenta um modelo possível a utilizar.
Quadro 10 – Informações sobre o problema
Ponto
Descrição
Problema a ser resolvido
O problema a resolver deve ser descrito de uma forma sintética.
Descrição das causas do
problema
(passado,
presente e futuro do
sistema,
entradas
e
saídas)
A equipa interroga-se sobre as causas do problema e sobre a evolução do sistema
ao longo do tempo. De onde vem o problema? Qual a causa do problema?
Como é que o sistema se portou no passado? E de que forma se comportará no
futuro?
Caso o problema persista, quais as consequências para a empresa? E para as
diferentes partes interessadas?
Consequências
indesejáveis de uma não
resolução do problema
À partida, em qualquer problema de eco-inovação, é possível antecipar as
consequências ambientais e sociais para as gerações atuais e vindouras. Essas
consequências devem ser identificadas nesta fase.
Outras questões podem ser antecipadas, como riscos de imagem para a empresa
ou perda de quota de mercado.
Histórico do problema
O problema já foi tratado na empresa? Ou apenas explorado?
Outros sistemas em que
existe um problema similar
Pode tratar-se um outro domínio da atividade da empresa ou procurar soluções em
sistemas mais distantes.
Outros
resolver
Esta é uma questão aberta, com o objetivo de levar as equipas responsáveis a
aprofundar a reflexão sobre o problema atual e outros que possam surgir.
problemas
a
Fonte: ADEME
Conclusão: Documentar o Problema
Uma forma de condensar as principais variáveis abordadas na fase de documentação do problema (análise
funcional, análise dos impactes ambientais, análise do uso e informações sobre o problema) é através de um
diagnóstico de eco-valor.
O diagnóstico de eco-valor sintetiza as análises funcional, ambiental e de uso, permitindo pôr em perspetiva a
repartição de custos, do valor e dos diferentes impactes ambientais inerentes ao produto ou serviço. A
interpretação deste diagnóstico permite estabelecer os eixos da inovação.
Realiza-se após as etapas de análise ambiental e funcional e antes da reformulação do problema. Uma vez
terminadas as análises ambiental e funcional, é possível cruzar as duas para uma análise de valor.
56
Guia para a Eco-inovação em PME
Efetivamente, para a realização de uma análise de valor a um produto, a empresa compara a distribuição do
valor do produto entre as suas diferentes funções, em função dos custos. Esta comparação permite identificar
áreas de progresso para pôr em funcionamento as quatro dimensões da análise de valor, a saber:

Eliminar o "não-valor" acrescentado;

Reduzir o supérfluo;

Melhorar o útil e o essencial;

Criar novo valor.
A primeira etapa para a realização de um diagnóstico de eco-valor é conceber uma tabela de "componentesfunções", que indica como cada componente contribui para cada uma das diferentes funções.
O quadro seguinte apresenta um exemplo de uma tabela deste tipo, uma vez mais aplicado à indústria da
cerveja. O somatório de cada linha deve corresponder a 100.
Processo
40
Informações
legais
70
Ambiente
Lúpulo
Atratividade ao
redor
10
Armazenagem
em prateleira
60
Resistência ao
choque
Cevada/Malte
Armazenagem
15
Convívio
10
Frescura
Aspeto
Água
Apreço
Gosto
Quadro 11 – Tabela "componentes-funções" - Exemplo prático
75
10
10
10
10
10
10
30
10
20
Garrafa
30
10
10
10
30
Rótulo
30
Armação
30
30
40
Cápsula
30
30
40
10
60
10
Fonte: ADEME
Para alimentar este diagnóstico de eco-valor, deve proceder-se à realização de uma análise funcional e de valor
(para atribuir um valor a cada função, classificando-as por ordem de importância decrescente, de acordo com o
ponto de vista do consumidor), uma análise de custos (para enquadrar a discussão) e uma análise ambiental
(ou ACV).
Ao combinar estas análises com a tabela "componentes-funções", é possível chegar a um diagnóstico de
eco-valor. Esta etapa é relativamente complexa e fulcral para se atingir a tripple bottom line: o sucesso
económico, social e ambiental.
A figura seguinte apresenta um exemplo de um diagnóstico de eco-valor para a indústria da cerveja.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
57
Custo
ACV: Impactes
Água
Cevada
3
15
Água
CO2
3
Recursos
5
Lúpulo
8
Cevada
15
32
...
...
...
Análise de Custos
Análise Ambiental
Valor (nível)
F1
1
F2
6
...
Tabela
ComponentesFunções
Análise
Funcional/Valor
F1
F2
Água
10%
15%
Cevada
60%
10%
...
Diagnóstico de Eco-Valor
Valor
Custos
Impacte
F1
6
15
7
F2
1
5
3
...
...
...
...
Fonte: ADEME
Figura 18 – Diagnóstico de eco-valor - Exemplo prático
58
Guia para a Eco-inovação em PME
...
Exemplo Prático: Documentar o Problema
O exemplo dado de seguida socorre-se uma vez mais da experiência da indústria da cerveja.
FUNÇÕES








ANÁLISE DE USO
Gosto agradável;
Sensação de frescura;
Favorece o convívio;
Consumo simples (armazenar e abrir);
Resistente ao choque;
Atrativa ao redor;
Armazenável em prateleiras;
Respeita o ambiente.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROBLEMA
O problema a ser resolvido

Como desenvolver uma boa cerveja
com impactes ambientais reduzidos e
educando o consumidor.
Descrição da causa
(passado/presente/futuro
entradas e saídas)
do problema
do
sistema,

Passado: Falta de sensibilização sobre
consumos energéticos e de água;

Presente: Legislação, mercado e
consumidores mais
consciencializados - domínio de
mercado dos grandes produtores atração por bebidas alcoólicas fortes
e frutadas;

Futuro: Transparência para com
clientes e consumidores - ecologia
industrial, parcerias locais sustentáveis
- sensibilização e pedagogia - difusão
rápida de informação, era digital.
Consequências indesejáveis
resolução do problema

da
1. Compra da bebida

O consumidor desloca-se ao local de venda.

Procura até encontrar a zona das bebidas alcoólicas.

Questiona-se sobre que cerveja escolher, efetua o seu
benchmark ou escolhe a primeira que veja.

Coloca a garrafa de cerveja escolhida no cesto e
desloca-se à caixa.

Retira a garrafa de cerveja do cesto e coloca-a na
passadeira.

Paga-a e coloca-a num saco.
2. Trajeto de regresso

...
ANÁLISE AMBIENTAL
não
Aumento da regulamentação; atraso
para a concorrência, ataques de
associações
de
consumidores,
poluição, etc.
Histórico do problema

Sem histórico
empresa.
do
problema
na
Outros sistemas nos quais um problema
similar existe

Agroalimentar (vinhos);

Construção (cimento, ...).
Fonte: ADEME
Figura 19 – Documentação do problema - Exemplo prático
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
59
Reformular o Problema
Uma vez exploradas as diferentes dimensões do problema, é possível reformular a questão de eco-inovação
colocada, para a precisar e especificar. Este trabalho parte da etapa anterior da documentação do problema,
particularmente ao nível das funções e impactes ambientais associados ao produto/serviço.
Exemplo Prático: Reformular o Problema
A figura seguinte apresenta um exemplo de um modo de reformulação de um problema, aplicado à indústria
da cerveja.
Análise
Constatações
Melhorias possíveis em dois
eixos.
Funcional
Problema
potencial
na
degustação (cerveja morna),
em função da dimensão
grande da garrafa.
Uso
Alavancas
Síntese
Eixos:
Melhoria no fabrico em
termos de:

Respeito pelo ambiente;

Valorização do consumidor
e fomento do consumo
responsável.
Como manter a cerveja fresca
enquanto é consumida, após
abertura da garrafa?

Fortes impactes em:
Ambiental
Pouca
margem
de
manobra nas matériasprimas
(essenciais
ao
gosto);

Perdas (efeito indireto
no impacte das
matérias-primas);

Consumo de energia.
Comunicação aos clientes
para:

Valorizar mercado;

Fomentar uma
armazenagem
otimizada e a
valorização da garrafa.
Preparar um sistema de
deposição das garrafas:

Matérias-primas;

Fabrico;

Bom controlo do fabrico;


Refrigeração;

Convencer parceiros
locais;

Fim-de-vida da garrafa.
Informação
consumidor;


Deposição a avaliar.
Melhoria da
participação local.
possível
do
Reformulação do Problema
Melhoria da performance no fabrico:

Redução das perdas;

Redução do consumo energético.
Comunicação com os clientes para:

Valorizar iniciativa de eco-inovação;

Promover uma armazenagem e conservação otimizadas e à valorização da garrafa.
Fonte: ADEME
Figura 20 – Síntese da documentação do problema para reformulação - Exemplo prático
60
Guia para a Eco-inovação em PME
Definir o Resultado Ideal
Esta ferramenta permite à equipa de conceção um exercício de abstração: focar-se num mundo ideal,
identificando exatamente quais os resultados que pretende, sem levar em conta constrangimentos como
soluções preexistentes e produtos já disponíveis. Liberta a criatividade do "design dominante", em busca de um
resultado final ideal.
Esta ferramenta apresenta uma dupla utilidade: por um lado, permite um pensamento outside the box, que é o
grande desafio da eco-inovação; por outro lado, permite à equipa de conceção identificar todas as divergências
potenciais na definição do objetivo, no sentido de se realinhar por um objetivo comum.
A noção de "ideal" é primeiramente definida de forma absoluta, de forma a permitir à equipa de conceção
ancorar-se na realidade sem qualquer tipo de constrangimento na busca de soluções. Numa segunda fase,
procura-se uma noção de "ideal" mais específica e adaptada à realidade da empresa, que permite encontrar
soluções ideais mas realistas para o contexto da empresa.
Esta ferramenta é utilizada após a exploração e reformulação do problema.
A metodologia empregue consiste na colocação de 7 questões propostas para resolver um determinado
problema. O resultado a essas questões consistirá no resultado ideal.
As 7 questões a colocar são as seguintes:

Qual a finalidade do sistema?

Qual é o resultado ideal?

O que nos impede de chegar a esse resultado?

Porque estamos impedidos?

Como podemos superar os obstáculos?

Que recursos estão disponíveis para contribuir para a criação de condições favoráveis?

Alguém já resolveu um problema similar?
Exemplo Prático: Definir o Resultado Ideal
A título de exemplo, recorremos novamente ao caso da indústria da cerveja, com o seguinte problema: como
reduzir o consumo energético na fase de fervedura do mosto?
A aplicação da ferramenta de definição do resultado ideal é apresentada no quadro seguinte.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
61
Quadro 12 – Definição do resultado ideal - Exemplo prático
Qual a finalidade do sistema?

Estabilizar e esterilizar o mosto;

Coagular as proteínas do malte para aumentar a
pureza do mosto;

Solubilizar as resinas amargas do lúpulo. Aromatizar
o mosto (açúcar, condimentos...).
Qual é o resultado ideal?

As bactérias e germes indesejáveis são extraídos
(removidos ou mortos) do mosto, sem utilizar
energia.
O que nos impede de chegar a esse resultado?

Utiliza-se a esterilização por ebulição com recurso
a energia térmica proveniente de combustíveis
fósseis (arquitetura da instalação fabril).
Porque estamos impedidos?

Os outros modos de esterilização não
satisfatórios (energia, qualidade, higiene...);

São mais dispendiosos;

Sempre se fez assim.
Como podemos superar os obstáculos?

Alterar o modo de esterilização.
Que recursos estão disponíveis para contribuir
para a criação de condições favoráveis?

Microfiltração;

Floculação;

Esterilização a baixas temperaturas;

Recurso a fontes de energia renováveis (solar,
geotérmica, resíduos, biomassa...).
Alguém já resolveu um problema similar?

Sim. Na água e no leite fresco.
Fonte: ADEME
Definir as Condições
No momento de definir as condições, há três fatores a ter em conta, a saber:

Perímetro (ou margem de manobra);

Recursos disponíveis;

Critérios de avaliação e de seleção de soluções.
Seguidamente, aborda-se em maior detalhe cada um destes três fatores.
62
Guia para a Eco-inovação em PME
são
Perímetro
Trata-se aqui de precisar o terreno de jogo e de definir margens de manobra da equipa ou da empresa para o
problema em consideração. A definição do perímetro assenta em três questões, a saber:

Nível de sistema considerado: consultando a matriz de ciclo e sistemas definida no início do processo,
é possível precisar o sistema em que se opera para resolver o problema na sua nova formulação;

Limitações face a alterações no sistema considerado: o que é que não pode ser mudado, em função de
constrangimentos da empresa, do projeto, etc.?

Alterações autorizadas no sistema: é tudo o que pode evoluir, é a margem de manobra.
Recursos Disponíveis
A exploração dos recursos disponíveis é um dos grandes trunfos da eco-inovação, permitindo evitar a
mobilização de recursos exteriores ao sistema e limitar o seu impacte ambiental.
Esta etapa consiste em fazer um inventário de todos os recursos disponíveis dentro, ou nas proximidades do
sistema, a fim de identificar se um desses recursos pode responder ao nosso problema.
Tudo o que se encontra no sistema ou ao seu redor e que não é utilizado no seu máximo potencial é
considerado um recurso. Vulgarmente, distinguem-se os recursos "substancias" (matérias em todas as suas
formas) dos recursos de "campo" (interações entre as diferentes substâncias, energia e informação, como a luz,
o calor do ar ambiente, a gravitação, uma força de fricção, etc).
O quadro seguinte apresenta exemplos de recursos substanciais e de campo.
Quadro 13 – Recursos substanciais e de campo
Recursos-Substâncias
Sólidos
Pedra, rocha, areia, terra, argila, madeira, biomassa, fibras naturais, sal.
Líquidos
Água, sumos, vinhos, gases liquefeitos, petróleo, sabão líquido.
Gás
Ar, azoto, oxigénio, árgon, hélio, vapores, fumos, aerossóis, temperatura, pressão,
viscosidade, condutividade térmica, humidade relativa.
Plasma
Ar, gás para soldadura, hélio para reatores de fusão, etc.
Recursos-Campo
Mecânicos
Gravitacionais, fricção, inércia, centrifugação, elasticidade, vibração, reação.
Hidráulicos
Hidrostáticos, hidrodinâmicos, aerodinâmicos, tensão de superfície.
Térmicos
Expansão, isolamento, condutividade, gradiente de temperatura total.
Pressão
Pressão estática e total, ondas de choque supersónicas.
Elétricos
Eletroestática, eletrodinâmica, eletromagnética, capacitiva, piezoelétrica.
Químicos
Oxidação, dissolução, combustão, endotérmica, exotérmica.
Biológicos
Enzimas, fotossíntese, fermentação, osmótica, reprodução.
Acústicos
Sons, ultrassons.
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
63
Critérios de Avaliação e de Seleção de Soluções
Definir os critérios de seleção de soluções previamente ao processo de geração de ideias simplifica o processo
de seleção, evitando discussões potencialmente conflituais dentro da equipa. Se os critérios forem definidos à
partida, todos já sabem com que contar, e haverá menor probabilidade de enviesamento de resultados.
Numa lógica de eco-inovação, conceitos como a performance ambiental, a criação de valor para o cliente e a
redução de custos são naturalmente importantes. No entanto, a ponderação desses critérios pode variar de
projeto para projeto e de empresa para empresa.
Assim, é necessário especificar e hierarquizar os critérios de seleção de soluções.
Exemplo Prático: Definir as Condições
A figura seguinte apresenta um exemplo de um modo de definição das condições, aplicado à indústria da
cerveja.
PERÍMETRO
O objetivo desta zona é de recentrar o problema e as
soluções no mundo real e contexto da empresa.
Nível de sistema considerado
Unidade produtiva e eventualmente
a unidade de produção energética.

Uma vez ultrapassada esta fase, a equipa pode
começar a procurar soluções.
Limitações a alterações

Degradação da cerveja (gosto,
qualidade...);

Deslocalização;

Alteração de principais inputs (malte
e lúpulo).
RECURSOS DISPONÍVEIS
Substâncias
Alterações permitidas
Alterações de processos e máquinas
autorizados.

Esta ancoragem no mundo real face ao ideal
enquadra-se nos três eixos previamente definidos:
perímetro, recursos disponíveis e critérios de seleção de
soluções.

Malte, borras, água,
mosto, gás de
fermentação, bolhas,
espuma;

Cubas, pás de mistura,
tampas de cubas;

Sondas de temperatura;

Ar...
Campo

Mecânicas:
gravitação,
fricção,
centrifugação;

Térmicas: gradiente de
temperatura;

Pressão dos gases de
fermentação;

Biológicas: enzimas;

Olfativas: odores
fermentação.
de
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE SOLUÇÕES
Valor para o cliente
 Gosto
 Apreço
1
5
 Atratividade ao redor
Ambiente
Custo
 Consumo de energia
3
 Eficiência de recursos
4
 Redução de resíduos
6
 Preço de venda
Outros
2
Os números correspondem às prioridades de ação
Fonte: ADEME
Figura 21 – Definição das condições - Exemplo prático
64
Guia para a Eco-inovação em PME
 Possível replicação
em outros campo
7
Conclusão: Análise
Assim termina o capítulo referente à análise ou prospeção da eco-inovação. Esta fase de prospeção é
absolutamente crucial para uma boa colocação do problema a resolver, sendo que o tempo investido na
documentação do problema será extremamente valioso nas etapas seguintes do processo de eco-inovação,
assegurando que a criatividade está convenientemente focada em questões pertinentes.
O essencial nesta etapa é mais o colocar das questões do que propriamente a procura de soluções para as
questões propostas.
Este é um processo complexo e algo demorado e, como se viu, em que se podem utilizar inúmeras
ferramentas. Esta situação é muitas vezes um problema em empresas de menor dimensão, com maiores
constrangimentos ao nível dos recursos e com equipas mais atarefadas com o dia-a-dia da organização.
Para facilitar o processo às PME, podem utilizar-se ferramentas mais qualitativas ou semi-quantitativas para
orientar o processo de eco-inovação, tal como as que foram sendo apresentadas anteriormente,
nomeadamente:

Balizagem dos Impactes Pertinentes (BIP);

Matriz Multi-impactes Multi-etapas (MIME);

Identificação das funções através de diagramas;

Análise de uso apenas em cenário de utilização por parte de cliente tipo.
Finalmente, a regra dos 4R é também uma boa forma de facilitar o processo de análise de um problema.
A regra dos 4R é usualmente definida como «REDUZIR - REUTILIZAR - RECICLAR - RECUPERAR». No entanto, na
nossa abordagem preferimos substituir o termo "Recuperar" por "Reinventar", uma vez que a recuperação está
de certa forma implícita na reutilização.
Assim, entendem-se os 4R da seguinte forma:

Reduzir: reduzir a quantidade de materiais utilizados e, por fim, dos resíduos produzidos;

Reutilizar: reutilizar um objeto em fim-de-vida para o mesmo uso ou um uso diferente;

Reciclar: transformar o material em fim-de-vida em matéria-prima secundária para produzir um novo
produto. Contrariamente à redução e à reutilização, a reciclagem necessita de um transporte para
recolha e de energia para a transformação;

Reinventar: encontrar soluções inovadoras para reduzir os impactes ambientais.
A utilização da regra dos 4R na análise de um problema é importante, uma vez que permite retirar uma
conclusão simples: se a abordagem a ser considerada para a análise de um problema é menos apurada do que
os predicados da regra dos 4R, a equipa responsável deve seguir a regra para encontrar o caminho mais
indicado para uma boa análise do problema.
Seguidamente, apresenta-se um exemplo prático do funcionamento da etapa de análise, tendo o segmento da
pintura decorativa de interior como pano de fundo.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
65
Exemplo Prático: Análise
De seguida, apresenta-se um exemplo prático da fase de análise, por via de uma prospeção de eco-inovação
realizada sobre o setor da pintura decorativa de interior, seguindo a metodologia apresentada ao longo deste
capítulo.
Análise
Funcional
Idealizar
Análise de Uso
 Cor;
 Ausência de
odor;
 Lavável;
 Resistência a
UV;
 Compra;
 Aplicação;
 Limpeza /
secagem;
 Armazenagem;
 ...
...
Informações do
problema
Avaliação
Ambiental
 Matriz MIME.
Reformular o Problema
Para limitar o consumo de matériasprimas - onde há maiores impactes na
produção - diminuir as perdas de tinta
nas fases de aplicação, limpeza e
armazenagem.
 Verniz - forte
impacto;
 Aglutinante
acrílico solventes;
 Peso (transp.).
Ciclo e
Sistemas
Extração e
transporte de
matérias-primas
Perímetro
Produção da
tinta
Demolição da
parede pintada,
reciclagem
Armazenagem,
transporte e
distribuição
Ciclo de Vida
Limpeza e
manutenção
da parede
pintada
Aplicação da
tinta
Breve Descrição do Problema
Criar uma tinta fácil de aplicar
para colorir e proteger paredes
interiores, a preço competitivo e
com baixo impacte ambiental.
 Objetivo: pintar paredes;
 Resultado ideal: a parede tem a
coloração desejada sem o
recurso a tinta;
 Obstáculo: os pigmentos são
necessários à coloração, um
aglutinante para os ligar e o
solvente para oferecer fluidez;
 Porquê: a superfície bruta da
parede não apresenta a
coloração desejada e o
consumidor pode pretender
trocar a cor no futuro;
 Como: materiais de construção
coloridos, fotossensíveis, brancos
para projetar...
 Problema similar: camaleão,
pele bronzeada, oxidação do
cobre...
Armazenagem
de restos de
tinta
 Tinta (mas não a parede);
 Alterar a composição e o
modo de aplicação da tinta;
 Lavável;
 Não alterar a qualidade ou o
local de produção.
Recursos
Componentes da tinta:
aglutinantes, pigmentos,
solventes, aditivos, lata,
superfície a pintar, pincel, rolo,
balde de tinta, ar,
temperatura, humidade,
gravidade, luminosidade...
Critérios
 Redução do preço atual
em 10%;
 Redução mínima de 15%
no consumo de recursos;
 Aplicação mais
simplificada.
Fonte: ADEME
Figura 22 – Análise - Exemplo prático
66
Guia para a Eco-inovação em PME
3.4. CONCEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Uma vez bem colocado o problema, é altura de abrir campo à criatividade para
imaginar possíveis soluções. Este processo visa garantir dois aspetos fundamentais, a
saber:

Por um lado, focalização da investigação numa oportunidade real de eco-inovação, sustentada por
argumentos detalhados e convincentes;

Por outro lado, ter em consideração todos os elementos suscetíveis de orientarem a investigação no
sentido correto, para soluções pertinentes e melhor alinhadas com a estratégia da empresa.
O objetivo da fase de geração de ideias é chegar a um grande número de ideias, tão diversas quanto possível, a
fim de encontrar uma boa, senão a melhor solução.
CONCEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Grande número
de ideias
eco-inovadoras
Problema bem colocado:
eixos da eco-inovação
EQUIPA TRANSVERSAL E MOTIVADA
Fonte: ADEME
Figura 23 – Conceção de alternativas
A fase de conceção de alternativas deve iniciar-se imediatamente após a colocação do problema. Para tal, é
necessário uma equipa transversal, que agregue perfis o mais variados possível, envolvendo departamentos
como o marketing, investigação e desenvolvimento ou ambiente, mas também a produção, o serviço
pós-venda, etc.
Uma questão recorrente nas equipas de investigação de soluções eco-inovadoras é saber se é necessário
apoiar os trabalhos num método específico de ecodesign, ou se os métodos clássicos são suficientes.
A resposta pragmática a esta questão é que os métodos tradicionais podem ser utilizados. No entanto, acabam
por tornar o trabalho das equipas mais complicado, uma vez que não estão preparados para o problema
específico e as equipas não têm por vezes formação na área. Assim, é mais útil recorrer a ferramentas de
ecodesign, na procura pelas soluções mais indicadas.
De seguida, apresentam-se algumas ferramentas e métodos para facilitar a geração de ideias eco-concebidas.
Mas antes, apresentam-se alguns princípios e boas práticas genéricas, associadas à investigação criativa.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
67
Princípios e Boas Práticas da Investigação Criativa
Ingredientes Necessários
O quadro seguinte apresenta os ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva.
Quadro 14 – Ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva
Um problema bem colocado
Os elementos do contexto são conhecidos, o objetivo é preciso e os eixos de eco-inovação estão definidos.
Uma equipa disponível e motivada
A equipa deve, se possível, ser integrada por pessoas com perfis distintos e ser composta por 8 a 10 elementos. É
possível trabalhar com grupos mais pequenos mas a dinâmica é mais difícil de manter e há menor probabilidade
de existirem perfis distintos. É também possível trabalhar em grupos maiores.
A equipa deve ser transversal e mobilizar, no mínimo, os departamentos de marketing, investigação e
desenvolvimento e ambiente. Recomenda-se, no entanto, a participação de outros departamentos, como os
departamentos de compras, logística, produção, equipas de vendas, serviço pós-venda, etc.
É também interessante incluir na equipa alguém que esteja por fora do assunto e não tenha medo de colocar
questões aparentemente "estúpidas".
Para o restante da equipa, é fundamental a existência de um conhecimento profundo sobre o produto ou
serviço em análise, baseado em experiência prática. Caso não seja possível, a primeira tarefa do grupo deve
consistir em adquirir o conhecimento necessário sobre a matéria.
Um clima de confiança e relaxamento
O sucesso de um processo criativo repousa numa alquimia delicada. O orientador do grupo tem que "jogar" com
a sensibilidade de cada um dos membros e garantir que cada um deles se sente integrado e à vontade, de
modo a que as ideias fluam de forma natural, sem constrangimentos.
Um orientador experiente
O orientador do grupo deve controlar a forma da reunião, não se intrometendo nas discussões, procurando
estimular e dinamizar o intercâmbio. Deve favorecer a existência de um clima de confiança e relaxamento. É o
orientador que garante o respeito pelos processos e a produtividade da reunião.
Recurso à criatividade, bem como à experiência acumulada
Será necessário iniciar um processo de eco-inovação para a resolução de um problema que outras empresas ou
outros setores de atividade já abordaram e resolveram? Na verdade, o ideal é uma conjugação de abordagens:
iniciando-se um processo de eco-inovação interno, absorvendo informação externa disponível.
Na verdade, nada impede que o processo criativo seja alimentado pela experiência acumulada. Aliás, é até
recomendável, a bem da criatividade.
Fonte: ADEME
68
Guia para a Eco-inovação em PME
Processo: Incubação - Iluminação - Implementação
Este processo põe em funcionamento os três tempos da inovação, a saber:

Incubação: definição do problema, tendo em consideração o objetivo e todos os elementos do
contexto;

Iluminação: geração de ideias em grande número;

Implementação: seleção das ideias mais pertinentes para construir uma ou mais soluções.
Qualquer sessão de investigação criativa deve iniciar-se pela apresentação e explicitação dos eixos de
eco-inovação a tratar. O grupo encarregue da tarefa poderá sentir que o objeto de estudo é demasiado vasto,
sendo esta a altura de o delimitar - é uma primeira fase de convergência - um princípio fundamental da
criatividade é alterar entre fases de divergência e convergência, distinguindo-as claramente.
Seguidamente, entramos na fase de divergência, em que se procuram ideias. Inicia-se esta fase com uma
sessão de "descongestionamento". Nesta sessão de descongestionamento, todos os participantes são livres de
exprimirem as suas ideias sem qualquer reserva, independentemente da sua relevância para o objeto em
estudo: é uma forma de abrir os fluxos criativos. Essas ideias são então anotadas num quadro que fica visível ao
longo de toda a reunião, podendo ser utilizadas por qualquer interveniente ao longo das discussões.
Após a fase de descongestionamento, podemos entrar numa fase de jogo. Frequentemente, criam-se várias
equipas entre a equipa presente na sessão, com o objetivo de forçar alguma competitividade na resolução de
problemas. Esta fase permite focar um pouco mais a equipa, aumentar os níveis de competitividade salutar e
orientá-la para problem solving. Esta metodologia auxilia na criação de um sentimento de urgência e na
solidariedade entre membros de equipa.
A seguir, é a fase da geração de ideias, usualmente através de ferramentas como o brainstorming. Algumas
regras inerentes ao brainstorming são:

Não há censura: não há ideias estúpidas ou sem sentido;

Não há autocensura: liberdade para intervir;

Ouvir os outros;

Ser breve para que os outros nos escutem;

Construir sobre as ideias dos outros;

Envolver-se.
Construir sobre as ideias dos outros é a chave do brainstorming, uma vez que a criatividade coletiva da equipa
é superior à criatividade individual dos participantes.
Para que seja produtiva, uma sessão de geração de ideias deve estar bem estruturada, com etapas bem
delineadas e orientada para manter e fomentar a dinâmica e criatividade dentro do grupo. Deve também ser
escrupulosamente orientada, com um registo sistemático de todas as ideias que vão sendo apresentadas, para
uma máxima eficácia da sessão. Esta fase de divergência gera muitas ideias, às vezes mais de 100 e que devem
ser bem geridas.
Ultrapassada esta fase divergente, voltamos a uma fase de convergência, em que o grupo organiza as ideias
produzidas e escolhe quais as que devem ser aprofundadas. Estas ideias devem ser transcritas numa "ficha de
ideias", que será distribuída pelos participantes para que a aprofundem e detalhem.
A figura seguinte apresenta um modelo possível de ficha de ideias.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
69
Projeto:
Ficha de ideias n.º:
Eixo:
Data:
Estado:
Nome da ideia
Descrição da ideia
Valor para o cliente
Ambiente
Custo
Pontos positivos da
ideia:
Dificuldades e
obstáculos
Opção
Plano de ação
Horizonte
Longo prazo
Curto prazo
Fonte: ADEME
Figura 24 – Ficha de ideias
De acordo com a amplitude do problema em estudo e do número de eixos de eco-inovação a explorar, a
duração da fase de investigação criativa será variável, podendo ocupar umas horas do dia, ou dois ou três dias
nos projetos mais importantes.
Após algum tempo da realização da sessão, idealmente cerca de duas semanas, o grupo reencontra-se para
uma nova fase de avaliação e seleção de ideias.
Alguns pontos-chave sobre a criatividade:

Gerar um grande número de ideias;

Libertar-se dos constrangimentos imaginados;

Não ter medo de ideias sem sentido;

Dar lugar à criança, ao poeta, ao louco;

Separar a geração da avaliação de ideias;

Alimentar as ideias: documentá-las, aprofundá-las...
A figura seguinte apresenta um processo típico de geração e avaliação de ideias.
70
Guia para a Eco-inovação em PME
Procurar ideias nos eixos de eco-inovação
definidos e enriquece-los
Divergência:
jogo/descongestionamento/idealização
Convergência: organização das ideias
Ser
criativo
Procurar elementos
complementares para finalizar
a escolha dos eixos da
eco-inovação
ILUMINAÇÃO
Aprofundar:
Documentar fichas de ideias
Geração de ideias
Estar
atento
Ser
perseverante
INCUBAÇÃO
IMPLEMENTAÇÃO
Preparação do terreno
Desenvolvimento de ideias
Compreender as necessidades dos
clientes, desafios concorrenciais e
desafios ambientais, para identificar
eixos de eco-inovação
Elaborar, avaliar, selecionar e
implementar as ideias
Fonte: Créargie
Figura 25 – Processo da criatividade: separar a geração da avaliação de ideias
De seguida, apresentam-se três ferramentas possíveis de suporte à criatividade num contexto de eco-inovação,
a saber:

Recursos disponíveis e autoabastecimento;

Princípios criativos;

Eco-soluções OpenGreen.
Para cada uma das ferramentas apresentadas, são indicados alguns casos reais em que podem ser aplicadas, de
modo a suportar o processo criativo em contexto de eco-inovação.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
71
Ferramentas de Suporte à Criatividade num Contexto de Eco-inovação
Recursos Disponíveis e Autoabastecimento
A exploração dos recursos disponíveis é um dos pilares da eco-inovação, uma vez que evita a mobilização de
recursos adicionais e diminui os impactes ambientais causados.
Os recursos são identificados na fase de análise (abordada anteriormente) e posteriormente aproveitados de
forma eco-inovadora, no momento da conceção de alternativas.
Cada um dos recursos disponíveis deve ser considerado individualmente e como uma solução potencial ao
problema em questão. Deve colocar-se sistematicamente a seguinte pergunta: "De que forma pode este
recurso contribuir para a resolução do problema?".
O autoabastecimento é apenas uma forma da empresa utilizar os seus próprios recursos em prol de si própria,
para alimentar outras áreas de processo. Um exemplo clássico desta situação é a utilização de recursos
produzidos como matéria-prima ou fonte de energia.
A combinação destas duas ferramentas permite encontrar soluções para o problema colocado, sem recorrer a
elementos externos ao sistema. Conduz a soluções eficazes e respeitadoras do ambiente, desde que nenhum
material adicional seja introduzido no sistema.
Para que se perceba o funcionamento desta ferramenta, recorremos a um exemplo. O exemplo de aplicação da
ferramenta tem como pano de fundo uma empresa transportadora aérea. Vamos supor que a empresa
pretende eco-conceber os bancos de uma das suas aeronaves: o ponto de partida óbvio seria diminuir o peso
dos bancos, o que levaria o consumo de combustível do avião a diminuir.
No momento da inventariação dos recursos disponíveis no avião, a equipa enumera todos os objetos nas
proximidades dos bancos. Ao apontar os espaços para colocar as bagagens dos passageiros, geralmente acima
das suas cabeças, alguém teve a ideia de remover esses equipamentos e colocar as bagagens por baixo dos
bancos do avião. Isto leva a que os bancos se tornem mais pesados - contra o propósito inicialmente proposto mas tornando o avião, na sua globalidade, mais leve. Poderão também existir vantagens em termos da
acessibilidade dos passageiros às suas bagagens.
Princípios Criativos
Os princípios criativos são um conjunto de fatores que fomentam a criatividade e podem ser de natureza
variada. Neste manual identificamos 8 princípios criativos que nos parecem importantes, de modo a simplificar
a análise. O recurso a estes princípios é uma forma de fomentar a geração de ideias.
Os 8 princípios criativos são os seguintes:
72

Extração;

Segmentação;

Qualidade local;

Assimetria;

Combinação;

Universalidade;

Inversão;

Autoabastecimento.
Guia para a Eco-inovação em PME
Estes e outros princípios devem ser utilizados na etapa de conceção de alternativas, particularmente para a
resolução de problemas difíceis em que as restantes abordagens não foram bem-sucedidas. É uma forma de
minimizar o risco de passar ao lado de uma solução excecional para o problema.
O recurso a estes princípios pode também ser útil mais à frente, na etapa de implementação de soluções, na
resolução de problemas secundários.
A forma para a implementação dos princípios passa por lançá-los na discussão e propor formas de aplicação de
cada um deles no problema em causa. O seu objetivo é menos o de encontrar uma solução definitiva e mais
uma forma de gerar ideias para estimular a criatividade e induzir soluções alternativas.
O quadro seguinte apresenta os 8 princípios criativos identificados, acompanhados de exemplos práticos para
facilitar a sua compreensão.
Quadro 15 – Princípios criativos
Princípio
Descrição
Exemplos
Extração
Extrair do objeto uma propriedade perturbadora
ou uma propriedade necessária.
Agrafador sem agrafos.
Segmentação
Dividir um objeto em partes independentes,
torná-lo desmontável ou aumentar o seu grau de
segmentação.
A etiqueta separa-se facilmente da
embalagem
para
facilitar
a
reciclagem.
Qualidade local
Transformar a estrutura homogénea do objeto (ou
do ambiente ou ação exterior) numa estrutura
heterogénea. As diferentes partes do objeto
devem cumprir funções diferentes. Cada parte do
objeto cumpre apenas as condições necessárias
ao seu correto funcionamento.
Verniz apenas na face visível de
uma mesa.
Assimetria
Substituir a forma assimétrica de um objeto por
uma forma simétrica.
Lâminas assimétricas para facilitar a
moagem.
Combinação
Reagrupar objetos idênticos (ou similares) ou com
operações contíguas.
Caneta de 4 cores.
Universalidade
Fazer com que um objeto cumpra com mais do
que uma função, eliminando a necessidade de
outros objetos.
Inversão
Em vez de efetuar uma ação necessária, fazer o
seu oposto. Imobilizar uma parte do objeto (ou do
seu ambiente) e tonar móvel a parte imóvel. Utilizar
um objeto no sentido contrário da sua utilização.
Inverter as cores de um logotipo
para gastar menos tinta na
impressão.
Autoabastecimento
O objeto em causa serve para abastecer funções
de manutenção e/ou auxiliares. Utilização de
resíduos (matéria-prima, energia...).
Rato de computador sem pilha,
carrega através do movimento da
mão.
Fonte de texto mais fina.
Cartão bancário multiconta.
Escova de dentes com dentífrico
incluído.
Caixa de sapatos serve de mala de
viagem.
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
73
Eco-Soluções OpenGreen
As eco-soluções OpenGreen auxiliam uma equipa transversal a encontrar soluções de ecodesign. Este método
consiste em organizar as potenciais soluções de acordo com as diferentes etapas do ciclo-de-vida (materiais,
produção, energia, transporte, etc.) e das características funcionais (durabilidade, informação ao consumidor,
etc.).
A estruturação das ideias num mapa é uma forma de acelerar a geração de novas ideias.
As equipas podem e devem recorrer a experiências prévias de eco-inovação na empresa e fora dela para
começarem a mapear ideias. Basicamente, as eco-soluções funcionam como um suporte para a criatividade do
grupo.
As eco-soluções devem ser utilizadas após a etapa de conceção de alternativas mas também na etapa de
capitalização, com a empresa a poder recorrer ao mapeamento efetuado para o utilizar em outros
produtos/serviços.
A figura seguinte apresenta um modelo possível de mapa de eco-soluções.
Fonte: ADEME
Figura 26 – Mapa de eco-soluções
A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta, contextualizado no setor das
tintas.
74
Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: ADEME
Figura 27 – Mapa de eco-soluções - Exemplo prático
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
75
3.5. SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Após a fase divergente e eufórica da conceção de alternativas, segue-se uma fase
mais convergente e racional de seleção de alternativas. É uma etapa delicada, uma
vez que confronta a equipa com um paradoxo inerente a qualquer processo de
eco-inovação: fazer escolhas e eliminar potenciais soluções, ainda antes de conhecer
todas as suas características.
A esta situação costuma-se chamar "uma escolha em situação de informação imperfeita". Para gerir esta
situação, a equipa procurará maximizar o seu conhecimento sobre as diferentes soluções apresentadas,
consultando as fichas de ideias e recorrendo a um processo de avaliação racional.
A metodologia proposta é a seguinte:

No final da sessão de criatividade, cada participante deve analisar um pequeno número de fichas de
ideias;

Devem trabalhar sozinhos ou com mais uma pessoa no sentido de aprofundar cada ideia, explorar
oportunidades tecnológicas, procurar soluções similares em outros setores, recolher elementos sobre
os custos associados à implementação da solução, sobre os impactes ambientais prováveis, avaliar
potenciais benefícios para os clientes, etc.;

Uma vez regressados para avaliar e selecionar ideias, cada um dos participantes deve partilhar os
resultados da sua investigação com o grupo que, num processo de escolha coletiva, determinará as
ideias a conservar para o projeto de eco-inovação.
A fase de seleção de alternativas ocorre após a geração de um grande número de ideias eco-inovadoras e é
implementada por uma equipa multidisciplinar.
SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Solução
eco-inovadora
mais pertinente
Grande número de
ideias
eco-inovadoras
Fonte: ADEME
Figura 28 – Seleção de alternativas
76
Guia para a Eco-inovação em PME
A avaliação das ideias eco-inovadoras articula-se com os critérios de avaliação e seleção de soluções
previamente identificados neste estudo, a saber:

Criação de valor para o cliente;

Impacte ambiental;

Custo.
Na realidade, esta fase do processo de procura de uma solução eco-inovadora consiste numa análise
custo/benefício.
Ao longo deste capítulo, descrevemos em maior detalhe cada um destes critérios de avaliação de ideias.
Avaliação do Valor para o Cliente
Todos os processos descritos anteriormente partilham um mesmo objetivo: desenvolver um produto ou serviço
atrativo para os clientes. Nesta fase do processo, o que interessa é mesmo medir o valor acrescentado para o
cliente pela solução em causa.
Este não é propriamente um processo novo. Aliás, o departamento de marketing de qualquer empresa procede
a uma análise deste tipo antes do lançamento de qualquer produto/serviço.
Podem ser utilizados inúmeros métodos distintos, de acordo com o mercado em questão, a cultura da
empresa, a natureza do seu relacionamento com os clientes, etc. Pode reunir-se um focus group, com um
pequeno número de potenciais clientes, recorrer a painéis de internet, a questionários enviados aos clientes ou
a protótipos. Em suma, as possibilidades são imensas.
Este tipo de iniciativa permite às empresas hierarquizar as soluções em vista e atribuir-lhes um valor de
mercado.
A análise efetuada deve tentar pôr as questões ambientais o mais à margem possível, uma vez que serão
tratadas em outra etapa. Aqui, o importante é avaliar as questões de funcionalidade e utilização do produto e o
valor que o cliente dá por esse mesmo produto.
Avaliação do Impacte Ambiental
Como não poderia deixar de ser, a ferramenta de referência para uma avaliação de impacte ambiental é a
análise de ciclo-de-vida (ACV).
Sendo recomendável que se recorra aos princípios da ACV para a avaliação ambiental das ideias, é
notoriamente difícil realizar análises detalhadas para cada uma das ideias propostas. De facto, é tecnicamente
impossível recolher dados precisos para o que são ainda soluções vagas e pouco trabalhadas. Adicionalmente,
seria um processo extremamente demorado, que travaria completamente o processo de eco-inovação em
curso.
Assim, é necessário recorrer-se a soluções mais pragmáticas e simplificadas. No entanto, é importante reter
que se devem realizar avaliações de performance ambiental quer de carater quantitativo, quer de caráter
qualitativo.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
77
Em termos qualitativos, a equipa deve procurar colocar diversas questões, como por exemplo: Há consumo de
energia? São utilizadas substâncias tóxicas? A solução requer consumíveis? A equipa pode também apoiar-se
em ferramentas como a Balizagem dos Impactes Pertinentes (BIP), já descrita anteriormente neste manual.
Um segundo método, mais consistente com os princípios da ACV, consiste numa avaliação quantitativa de
grande alcance mas de rápida execução. Este processo apelida-se de screening ACV.
Não se recorre aqui a uma ACV em sentido estrito - o quadro metodológico não é respeitado, a modelização é
simplificada e não há recolha de dados primários - trata-se de procurar indicadores abrangentes que permitam
comparar as soluções propostas.
Os resultados desta abordagem são altamente incertos, uma vez que estão muito dependentes de uma correta
diferenciação das soluções. No entanto, em função do grau generalista da abordagem, é por vezes difícil
distinguir entre soluções similares, particularmente ao nível da sua performance ambiental.
Ao longo deste manual, foi já apresentada uma ferramenta que pode auxiliar na resolução desta situação, sob
a forma do Balanço do Produto, mas há muita outras ferramentas disponíveis, diversas delas gratuitamente, e
que permitem a realização de um screening ACV.
Avaliação de Custos
A avaliação económica de uma ideia eco-inovadora não é substancialmente diferente da avaliação económica
de qualquer outra ideia, consistindo basicamente num exercício de avaliação de custos.
Naturalmente, esta análise de custos é de caráter global, tendo em linha de conta os custos suportados pela
empresa ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto/serviço. Este é um critério de análise fundamental
para garantir que a empresa não encontra uma solução com melhor performance ambiental e menores custos
ao nível de uma etapa do ciclo-de-vida mas que na generalidade está a aumentar os custos da empresa quando
considerado o ciclo-de-vida na sua integralidade.
Conclusão: Avaliação de Alternativas
Não há uma métrica comum a estas três dimensões: custo global, valor para o cliente e impacte ambiental.
Aos custos, é facilmente atribuído um valor económico. Quantificar economicamente o valor para o cliente é
um exercício que poderá também ser realizado. No entanto, este exercício torna-se extremamente perigoso no
domínio da avaliação ambiental.
É certo que existem métodos para quantificar economicamente os impactes ambientais mas essas abordagens
tendem a ser muito fragmentadas e heterogéneas: diferentes modos de valorização monetária são propostos
para tratar diferentes impactes ambientais. Assim, é aconselhável seguir-se uma análise multicritério, que
considere individualmente as três dimensões em estudo.
A figura seguinte apresenta um caso prático, no setor das telecomunicações, de um processo de avaliação de
alternativas, tendo em conta estas três dimensões.
78
Guia para a Eco-inovação em PME
Promover as funcionalidades da
oferta, permitindo evitar erros
Permitir teletrabalho
subcontratado
3
2
Otimizar as operações de
logotipagem dos telefones
Permitir teletrabalho
no domicilio
1
0
Desenvolver a
autoinstalação e
autoconfiguração de
telefones
Otimizar a organização
das entregas
Reduzir o consumo elétrico de
equipamentos e servidores
Alargar o serviço pós-venda
por telegestão
Eco-design dos telefones
Económico
Cliente
Ambiente
Fonte: ADEME
Figura 29 – Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo prático
Para as equipas com tempo ou recursos limitados, uma abordagem alternativa pode ser a avaliação das ideias
de forma qualitativa ou semi-quantitativa, utilizando uma tabela como a apresentada de seguida.
As ideias podem ser avaliadas de acordo com subcritérios provenientes das suas características: por exemplo,
para um pequeno aparelho elétrico, a avaliação na vertente ambiental resulta da tripla estimativa da duração
de vida, consumo energético durante a utilização e capacidade para reciclagem em fim-de-vida. Para evitar
erros é preferível trabalhar em equipa e atribuir notas após debate com direito a contraditório.
Quadro 16 – Grelha de avaliação semi-quantitativa
Soluções
Duração de vida
Consumo Energético
Marketing
-
++
Fabrico
--
+
-
Custo
++
-
--
+
++
Ambiente
Reciclagem
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
79
Seleção de Ideias
Uma vez avaliadas todas as ideias, é altura de selecionar a mais pertinente. Cabe à equipa responsável fazê-lo,
de acordo com os critérios definidos na fase de análise do problema.
É precisamente essa metodologia de definição de critérios previamente à seleção de ideias que impede o
enviesamento de resultados, numa tentativa de adaptar os critérios à solução pretendida. Desta forma,
garante-se um alinhamento entre as soluções encontradas e os objetivos do projeto, simultaneamente
evitando-se potenciais conflitos.
Nesta etapa, há inúmeros métodos que podem ser utilizados para a seleção de ideias, nomeadamente:

Atribuição de pontos, por critério e por solução, por parte de cada um dos participantes;

Matriz de 9 quadrados, com dois eixos - por exemplo, interesse da solução (benefícios para o cliente e
benefícios ambientais) e facilidade de implementação;

Gráfico com as três dimensões consideradas em análise (custo, ambiente e valor para o cliente) - duas
das dimensões representadas nos eixos do gráfico e a restante variando em dimensão, de acordo com
as características de cada solução estudada;

Triagem cruzada: as soluções são comparadas duas a duas, em rondas sucessivas, votando os
participantes na sua solução preferida em cada grupo de duas.
Não há métodos de seleção de ideias melhores do que outros; há apenas métodos mais ou menos apropriados
a uma determinada realidade, situação, cultura empresarial, etc.
A figura seguinte ilustra alguns exemplos relativamente aos métodos de seleção de ideias identificados.
ANÁLISE MULTICRITÉRIO
Uma vez geradas as soluções, a equipa valida os
critérios de escolha e ajusta-os se necessário,
com cada participante a avaliar de 1 a 3 cada
ideia, em cada critério.
Os pontos são então somados e as soluções
hierarquizadas.
Facilidade
A equipa do projeto de eco-inovação define os
critérios de seleção antes da procura de
soluções.
AVALIAÇÃO E PRIORIZAÇÃO:
MATRIZ DE 9 QUADRADOS
Refletir
Não
Prioridade
1
Refletir
O processo de seleção está terminado.
AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE IDEIAS ATRAVÉS DAS 3 DIMENSÕES
Fonte: ADEME
Figura 30 – Métodos de seleção de ideias
80
Guia para a Eco-inovação em PME
Vantagens
Conclusão: Seleção de Ideias
Para concluir este capítulo sobre a seleção de ideias, ficam alguns conselhos:

Considerar demasiados critérios torna o exercício difícil;

Avaliar um grande número de ideias (mais de 40) torna-se uma tarefa hercúlea;

Para melhor compreensão, um gráfico é melhor solução do que uma tabela repleta de valores;

É possível que o primeiro resultado, fruto de avaliação minuciosa dos critérios e intensa ponderação,
não corresponda às verdadeiras convicções/perceções dos participantes. No entanto, nada os impede
de modificar as suas notas e/ou a ponderação dada a cada critério. Uma outra forma de lidar com este
desvio é permitir a cada participante três intervenções para exprimirem separadamente as suas
escolhas da "cabeça", "coração" e "instinto".
Finalmente, cabe apenas salientar que o processo aqui descrito, nomeadamente o de divergência criativa,
documentação e avaliação de ideias e posterior seleção de uma solução, pode beneficiar da existência de um
(ou mais) ciclos de divergência/convergência suplementares. De facto, a experiência mostra que num grande
número de situações, não é possível que todos convirjam para uma única solução, criando-se ao invés uma
shortlist de ideias com, por exemplo, três soluções. Estas potenciais soluções podem depois amadurecer por
meio de investigação adicional, cálculos complementares, prototipagem rápida, simulações, etc.
Concluída a etapa de seleção de alternativas, segue-se a etapa de implementação das soluções.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
81
3.6. IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES
Este capítulo trata de uma fase crucial da eco-inovação: a implementação das ideias.
Esta etapa é tendencialmente longa, podendo durar de uns meses a uns anos de
acordo com o segmento de mercado e o produto/serviço, bem como a própria visão
da empresa face à eco-inovação. Esta fase abrange a maior parte do processo de
desenvolvimento de novos produtos, a saber:

Construção do business case: definição e justificação do produto e pré-planeamento;

Desenvolvimento e conceção detalhada do produto, bem como elaboração de planos de produção e
marketing;

Testes e validação em laboratório e na unidade produtiva, bem como abordagem aos clientes para
preparar a política de comunicação;

Produção, controlo de qualidade e preparação do lançamento comercial.
Uma vez selecionadas as ideias e antes de lançar o produto/serviço no mercado, é altura de começar a
implementar as soluções eco-inovadoras identificadas pelo grupo de trabalho. Esta tarefa deve ser levada a
cabo pela equipa do projeto, sob a responsabilidade do chefe do projeto e em colaboração com um
trabalhador especialista na área dos impactes ambientais associados ao produto.
IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES
Uma solução
eco-inovadora "no papel"
Um produto
eco-inovador no
mercado
Fonte: ADEME
Figura 31 – Implementação das soluções
Esta é uma fase crítica em qualquer projeto, uma vez que incorre no risco de atrasos, disparo de custos,
problemas de qualidade ou resistência ao processo por parte de múltiplos atores.
Todo o trabalho preparatório efetuado na fase anterior à geração de ideias visa maximizar as hipóteses de
sucesso mas a aposta não será ganha pelo mero lançamento do produto no mercado. Por vezes inicia-se um
processo de eco-inovação cheio de boas intenções, seguem-se todos os passos de acordo com a metodologia
proposta e selecionam-se soluções eco-inovadoras, apenas para se chegar ao final do projeto e perceber que a
performance ambiental do produto/serviço da empresa é medíocre.
Ou seja, o objetivo não é meramente teórico: o que interessa é passar de uma solução eco-inovadora no papel
para um produto eco-inovador lançado ao mercado.
Ao longo deste capítulo elencam-se algumas opções disponíveis para as empresas assegurarem ou, pelo
menos, melhorarem as hipóteses de sucesso de um projeto de eco-inovação.
82
Guia para a Eco-inovação em PME
Organização
Em todas as suas etapas, um projeto de eco-inovação não é particularmente diferente de um projeto clássico
de conceção de produto. No entanto, ao nível da organização, é dado particular destaque à vertente ambiental,
integrada como uma variável da qualidade.
O quadro seguinte apresenta alguns pontos-chave a ter em consideração na forma como se organiza um
processo de eco-inovação, particularmente, a implementação de soluções eco-inovadoras.
Quadro 17 – Organização na implementação de soluções eco-inovadoras
Critério ambiental para as etapas
Durante o período de transição em que as equipas não estão completamente familiarizadas com o projeto
eco-inovador, recomenda-se a inclusão de um critério de medição da performance ambiental nos pontos de
mudança de etapa.
Este critério, de acordo com as ambições do projeto, poderá ou não bloquear a continuidade do mesmo. Em
todo o caso, contribui para a sensibilização das equipas e integração de uma cultura eco-inovadora na
empresa.
Construção do Business Case / análise de rentabilidade
Os elementos recolhidos anteriormente, quer na análise 360º, quer através de estudos de mercado ou da análise
das funções e uso, serão úteis a uma análise de rentabilidade, em virtude do conhecimento sobre o mercado e
potenciais clientes que aportam.
Plano de ação
Na etapa de avaliação e seleção de ideias, são identificadas possibilidades de melhoria que são organizadas
num plano de ação construído de uma forma clássica: quê, quando, quem, etapas, recursos...
A execução deste plano não tem grandes particularidades, consistindo na monitorização do cumprimento de
restrições e calendário.
Nas empresas, os planos de ação assumem múltiplas formas, desde simples listas de ações planos altamente
complexos que envolvem toda a organização.
Teste e validação
Ao longo do processo, é vital validar a performance ambiental, de modo a garantir que se encontra ao nível
proposto. Esta validação sustenta a comunicação ambiental em dados quantitativos, essenciais para a
credibilidade de todo o processo eco-inovador. Completa a validação clássica de custos e qualidade.
Indicadores
Há dois grandes tipos de indicadores que podem acompanhar a realização do projeto: indicadores de
realização e indicadores de resultados.
Os indicadores de realização são uma forma de medir os avanços conseguidos em cada etapa, por exemplo,
através de uma taxa de realização.
Os indicadores de resultados destinam-se a definir o eco-valor do produto a ser concebido, usualmente por meio
do rácio valor para o cliente/impacte ambiental.
A construção de uma metodologia de cálculo genérica para o eco-valor é uma tarefa praticamente impossível.
No entanto, é possível definir critérios quantitativos para segmentos de mercado específicos.
De facto, os impactes ambientais de maior dimensão, bem como os eixos de criação de valor para o cliente,
podem ser identificados e traduzidos em valores numéricos. O valor do cliente dependerá dos níveis atingidos
em cada uma das funções do produto (apreço pelo produto, consumidor responsável, etc.).
O eco-valor será uma relação entre o valor para o cliente, a performance ambiental e o custo do produto.
Pode ainda recorrer-se a outros indicadores de realização, como por exemplo, a quantificação percentual da
realização do projeto face às metas propostas.
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
83
Obstáculos Clássicos e Soluções Possíveis
Há diversas barreiras que são partilhadas pela maioria dos projetos, particularmente pelos projetos de
eco-inovação, sendo de destacar:

Incumprimento de prazos;

Derrapagem de custos;

Perda de qualidade;

Falta de motivação no departamento de compras;

Falta de motivação de vários atores da empresa;

Falta de entusiasmo dos clientes;

Problemas técnicos na implementação.
O quadro seguinte descreve abreviadamente as principais considerações a tecer sobre cada uma destas
dificuldades, bem como possíveis formas de resposta.
Quadro 18 – Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação de soluções eco-inovadoras
Incumprimento de prazos
Como todos os processos de rutura, a eco-inovação requer um período de aprendizagem, particularmente nos
primeiros projetos realizados. Este é obviamente um fator desfavorável, que pode levar a atrasos. Uma forma de
contornar esta situação é através da criação de soluções parciais, a serem "montadas" e implementadas em
timings específicos do projeto.
Derrapagem de custos
As soluções eco-inovadoras não são mais dispendiosas do que as soluções tradicionais. Aliás, são menos
dispendiosas por inerência (redução das matérias-primas utilizadas, diminuição do consumo de energia, redução
do peso da embalagem...).
No entanto, há diversos fatores que podem levar a um aumento dos custos de produção, como a produção de
pequenas séries, falta de experiência, alteração tecnológica, etc.
Na maioria dos casos, o benefício económico é, mesmo assim, evidente, se alargarmos a análise a todo o ciclode-vida do produto, comparando custos globais. Como já foi referido anteriormente, mesmo que por vezes o
custo de uma determinada etapa possa aumentar (matérias-primas mais caras, tecnologia mais cara, etc.), o
que interessa é que os custos globais desçam.
Se os custos de utilização do produto diminuírem, o cliente terá esse acréscimo de valor em atenção e
considerá-lo-á no preço que está disposto a pagar. O aumento da qualidade e duração de vida, por exemplo,
podem ser justificativos de um preço de venda superior, cobrindo assim os custos adicionais de uma qualquer
etapa específica do processo de eco-inovação.
Perda de qualidade
Um novo produto implica alterações no processo produtivo, sendo que a sua implementação pode tornar-se
complexa. Podem surgir problemas associados à qualidade que, se não forem rapidamente resolvidos, podem
pôr em causa todo o projeto.
A solução passa essencialmente por testar o mais a montante do processo de eco-inovação possível, a
passagem do produto à produção e validar os processos de produção em simultâneo com o processo de
desenvolvimento do produto.
Falta de motivação no departamento de compras
Quando se fala em novos produtos, fala-se também em novas matérias-primas e novos componentes e, assim,
em novos fornecedores. Caberá ao departamento de compras efetuar nova prospeção de fornecedores, sendo
que há um risco forte de ausência de relacionamento com os objetivos da empresa e de recurso aos
fornecedores habituais.
Uma possível solução é a implementação de um programa de sensibilização e formação para integrar estes
trabalhadores no processo de eco-inovação da empresa.
84
Guia para a Eco-inovação em PME
Quadro 18 – Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação de soluções eco-inovadoras
(conclusão)
Falta de motivação de vários atores da empresa
A resistência interna pode vir de todos os departamentos da empresa: produção, qualidade, vendas, etc. Como
no caso do departamento de compras, a solução pode passar por programas de sensibilização e formação.
Falta de entusiasmo dos clientes
É possível que o interesse inicial dos clientes em produtos eco-inovadores seja desapontante. De facto, as
estatísticas mostram que a maioria dos intervenientes não estão dispostos a pagar muito mais por eco-inovação.
Nesse sentido, a empresa deve antecipar esta reação e oferecer produtos que, para além dos seus predicados
ambientais, oferecem também funcionalidade, atratividade e qualidade.
Problemas técnicos na implementação
Desenvolver um novo produto acarreta necessariamente novos problemas a resolver ao longo de todo o
processo de desenvolvimento e a montante da produção. Estes problemas não são acidentes, mas antes fator
inerente à inovação. Estes problemas deverão ser considerados secundários, uma vez que surgem após o
problema inicial e podem ser resolvidos através de ferramentas e eco-inovação ou simplesmente da criatividade
de grupo. Efetivamente, são uma segunda ronda de eco-Inovação.
Fonte: ADEME
Conclusão: Implementação das Soluções
Ao longo deste capítulo, foram apresentadas as principais dificuldades que podem surgir em qualquer projeto
de eco-inovação, no momento de passar as soluções validadas para o mercado. Entre as soluções propostas, as
que mais garantias oferecem na resolução das dificuldades são uma aposta numa atuação o mais a montante
do processo possível e manter a motivação das equipas responsáveis pelo ecodesign do produto/serviço.
Quando os problemas são descobertos tardiamente, a solução escolhida é usualmente a menos inovadora e
selecionada numa lógica de "apagar o fogo". Assim, é possível aprofundar o contexto do projeto desde cedo e
procurar soluções para potenciais problemas nas fases iniciais de implementação.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
85
3.7. POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO
Um processo de eco-inovação não poderá ser bem sucedido sem uma correta
política de comunicação ao cliente. Esta etapa deve ser preparada no final do
desenvolvimento do produto, previamente ao lançamento no mercado.
Nesse esforço devem participar as equipas de marketing, vendas e comunicação,
com o apoio do responsável ambiental da empresa.
POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO
Performance ambiental
reconhecida e
apreciada por
potenciais clientes
Produto/serviço
eco-inovador pronto
a lançar no mercado
Fonte: ADEME
Figura 32 – Política de comunicação
De certo modo, simultaneamente incentivar ao consumo, condição necessária para o sucesso da empresa, e
promover a reutilização dos produtos e prolongamento da sua vida útil pode parecer paradoxal para uma
empresa interessada em vender o máximo possível e maximizar o lucro. No entanto, como já se viu
anteriormente, estas situações nem sempre são "preto e branco", sendo que a empresa deve considerar o
ciclo-de-vida do produto na sua globalidade, só assim podendo concluir sobre a melhor forma de vender o seu
produto/serviço.
Para a compreensão da política de comunicação de uma empresa é importante conhecer dois conceitos
importantes: comunicação responsável e comunicação de eco-inovações.
Uma comunicação responsável é um estilo comunicacional que visa educar o consumidor sobre as questões
ambientais e sociais. A comunicação de eco-inovações refere-se à aplicação prática dos princípios da
comunicação responsável em contexto de eco-inovação e as formas de estabelecer essa mesma comunicação
entre a empresa e as suas partes interessadas.
Estes dois conceitos são aprofundados de seguida.
86
Guia para a Eco-inovação em PME
Comunicação Responsável
Os consumidores não estão ainda tão educados quanto as empresas eco-inovadoras gostariam relativamente
às questões ambientais. Uma comunicação responsável é assim uma comunicação que forma e educa o
consumidor. O grande público é capaz de assimilar as noções de ciclo-de-vida ou abordagem multicritério,
desde que devidamente informado sobre as mesmas.
Este processo formativo permitirá, a prazo, diminuir o gap entre os impactes ambientais medidos e aqueles
que são percecionados pelo público.
Normas e Legislação
Antes de analisarem os princípios inerentes a uma comunicação responsável, é importante referir algumas
normas e legislação em vigor sobre a matéria. Mais importante do que a legislação propriamente dita neste
contexto, são as normas. As normas, contrariamente à legislação, são de caráter voluntário mas são muito mais
exigentes e podem ser um fator motivacional para a implementação da eco-inovação numa empresa. São
também uma ótima forma da empresa comunicar com os seus clientes (os ganhos de imagem são
substanciais).
Algumas normas associadas è eco-inovação são:

ISO 14024 - Ecolabels;

ISO 14025 - Declarações Ambientais do Produto;

ISO 14021 - Autodeclarações.
As ecolabels dirigem-se fundamentalmente a produtos business to consumer (B2C) e são atribuídas por um
organismo oficial. Os critérios são definidos a partir de uma ACV sobre a categoria de produtos em
consideração e o produto em causa passa a ser obrigatoriamente controlado por terceiros.
As declarações ambientais de produto destinam-se a departamentos de compras profissionais, assumindo a
forma de uma "fotografia" quantitativa do impacte ambiental do produto ao longo do ciclo-de-vida, por meio
de uma análise ACV. Para fácil comparação, obedecem a um formato comum por categoria de produtos
(Product Category Rules, ou PCR), podendo ou não ser verificados por terceira parte.
Contrariamente às duas tipologias anteriores, as autodeclarações são da inteira responsabilidade do
declarante, que pode por vezes abusar dessa mesma posição. Por outro lado, não existe qualquer
obrigatoriedade desta declaração, sendo por isso um primeiro passo importante no sentido de uma maior
transparência ambiental.
Como foi dito, as ecolabels tendem a ser mais utilizadas em mercados B2C, enquanto as declarações
ambientais de produto são preferencialmente utilizados em mercados B2B (business to business). É também
sempre possível recorrer às autodeclarações ou à certificação do processo de ecodesign, através da norma
ISO 14006.
A figura seguinte apresenta os três tipos de rotulagem ambiental existentes.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
87
Tipo I: Ecolabel
Tipo II: Autodeclaração
(ISO 14024)
(ISO 14021)
Exemplo:
Exemplo:
«Comprova-se que o nosso
produto é dos menos poluentes
da sua categoria»
«Comprovamos que o nosso
produto é...»
Tipo III: Declarações Ambientais
do Produto
(ISO 14025)
Exemplo:
«Estes são os nossos resultados,
cabe-vos julgar...»
Volvo S80
60%
CO2
HC + NOX
Hidrocarbonetos
Produto contém 60% de
materiais recicláveis
CO2
0%
50%
100%
Fonte: ADEME
Figura 33 – Rotulagem ambiental
As normas ambientais disponibilizam informações sobre a performance ambiental do produto ao público,
aumentando a transparência, com duas consequências fundamentais:

As empresas são encorajadas a conceber os produtos com preocupações ambientais, na expectativa
de obterem melhores classificações do que os concorrentes;

Com a disponibilização da performance ambiental de forma transparente, a empresa fica de certa
forma liberta desta responsabilidade, podendo focalizar a sua política de comunicação nos aspetos
mais relevantes para o cliente.
É extremamente importante que o departamento de marketing se envolva na comunicação ambiental,
procurando apontar as vertentes de maior interesse para o cliente. Esta é a diferença entre “informar” apresentação de dados - e “comunicar” – divulgação dos dados que interessam ao cliente.
o
A decisão de como comunicar deve assentar em ferramentas como a análise 360 e a prospeção de
eco-inovação.
Princípios da Comunicação Responsável
A comunicação ambiental de uma empresa deve ser verdadeira, precisa, sustentada e pertinente. Desta forma,
há alguns princípios básicos que devem ser respeitados, nomeadamente:
88

Avaliar corretamente a qualidade ambiental do produto/serviço;

Comunicar informação suficiente;

Verificar que o departamento de comunicação (da empresa ou subcontratado) cumpre com a
mensagem original da empresa;

Não incentivar ao desperdício ou sobreconsumo;

Não banalizar ou minimizar a crise ambiental nem denegrir uma prática ou um produto ecológico.
Guia para a Eco-inovação em PME
Para além destes princípios, há toda uma série de orientações que podem/devem ser seguidas por empresas
responsáveis no momento da comunicação da performance ambiental, como por exemplo:

Coerência, consciência e bom senso na comunicação;

Basear-se em critérios reais e mensuráveis;

Impulsionar a marca e defender predicados ecológicos como motor da mudança em outros setores da
sociedade;

Realizar campanhas de sensibilização;

Não promover práticas não sustentáveis;

Promover produtos com valor ambiental e social acrescidos.
Uma política de comunicação responsável é uma parte fundamental de uma política de marketing responsável.
O marketing não se limita a conduzir a política de comunicação da empresa, antes personificando toda a
estratégia de uma empresa.
O marketing pode ser definido como a ciência que concebe uma oferta em função de uma análise das
necessidades dos consumidores, tendo em conta as capacidades da empresa e as restrições da sua envolvente
(ambientais, sociodemográficas, concorrenciais, legais, culturais...).
Não entrando em grande detalhe, uma vez que não é o foco deste manual, o marketing mix de uma empresa
assenta nos 4P, tal como descritos por McCarthy, a saber:

Product (produto);

Place (praça ou local);

Price (preço);

Promotion (promoção).
Estes 4P interagem com as necessidades dos clientes através dos denominados 4E, tal como descritos por
Graves, a saber:

Experience (experiência);

Exchange (troca);

Everyplace (todos os locais);

Evangelism (evangelização).
A figura seguinte ilustra a forma como estas duas dimensões do marketing (4P e 4E) intersetam a eco-inovação
numa empresa. A metodologia utilizada para a eco-inovação é a mesma a que se recorreu no capítulo 2, em
que se identificaram 4 níveis distintos para a eco-inovação, nomeadamente:

Materiais e componentes;

Arquitetura do produto;

Salto tecnológico;

Alteração do modelo de negócios.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
89
Eco Valor
Ganho nos impactes x Ganho nos serviços prestados
Produto: linear
Preço: mais barato
Local: o melhor
Promoção: muita
Circular
Custo global
Otimização logística
Superior
Ecoeficência
Eco-design
incremental
Eco-inovação
Economia da
funcionalidade
Alteração do
modelo de
negócios
"Economia da
Funcionalidade"
Conceção do
produto
Materiais e
componentes
Experiência
Troca
Todos os locais
Evangelização
Salto
tecnológico,
novas funções e
novos usos
Tempo e amplitude da mudança
Fonte: Rathenau Instituut
Figura 34 – Evolução do marketing mix responsável num contexto de Eco-inovação
Este modelo faz a metodologia dos 4P evoluir para um novo modelo que leva em consideração o ciclo-de-vida
do produto, permitindo novas abordagens e modelos de marketing e negócios alternativos. Tendo em
consideração todos os fatores chave ao sucesso de uma oferta inovadora dos pontos de vista ambiental e
social, o marketing mix responsável pode facilitar o lançamento de um produto e a política de comunicação da
empresa.
A comunicação responsável não deve ter como único objetivo o aumento do consumo dos produtos da
empresa, mas antes procurar criar laços entre a própria empresa e o consumidor, de modo a construir um
relacionamento longo entre as partes.
Para que tal suceda, a empresa deve garantir que a sua comunicação é factual e exata, refletindo corretamente
as características dos seus produtos e serviços. Deste ponto de vista, um conceito importante a focar é o de
greenwashing.
O greenwashing é uma prática que tem por objetivo passar uma imagem mais ecológica de um produto, marca
ou empresa ao público, quando não há factos que a sustentem.
90
Guia para a Eco-inovação em PME
Alguns indícios de que uma empresa poderá estar a incorrer em greenwashing ao efetuar afirmações de
caráter ambiental sobre si própria ou um dos seus produtos/serviços são:

Informação escondida/oculta;

Ausência de provas que sustentem as afirmações;

Imprecisões;

Falta de pertinência;

Falsidade.
Este tipo de práticas deve ser evitado a todo o custo. A comunicação responsável é aqui uma ferramenta eficaz
no combate a situações deste tipo.
A comunicação responsável é uma questão de conteúdo e mensagem: com coerência e bom senso é possível
criar uma política de comunicação eficaz, capaz de oferecer um produto ou serviço mais forte ao mercado.
A comunicação responsável, no âmbito de um processo de eco-inovação, é a parte visível de um trabalho de
aprofundamento de uma oferta responsável.
Comunicação de Eco-inovações
Uma vez percebidos os fundamentos de uma comunicação responsável, é necessário aplicá-los às
eco-inovações. O importante é transformar uma vantagem ambiental do produto num verdadeiro benefício
para o cliente e comunicá-lo de forma correta. É necessário aplicar os predicados da eco-inovação ao próprio
processo de comunicação.
Antes de mais, é necessário colocar algumas questões fundamentais quanto ao processo de comunicação,
nomeadamente:

Promover ou não produtos eco-inovadores?

Promover o processo ou o produto?

Recorrer a argumentação "ecológica" ou não?
Promover ou não produtos eco-inovadores?
Em teoria, esta questão não deveria sequer ser colocada. Promover um produto que se constitua como uma
verdadeira solução, por exemplo, consumindo menos energia do que a geração anterior do produto, mais do
que uma opção, é um dever.
No entanto, há outros fatores que devem ser considerados nesta análise, nomeadamente a coerência de uma
ação deste tipo com os valores da marca e a gama de produtos atualmente oferecida pela empresa.
Evidenciar os predicados "verdes" da nova geração de produtos pode tornar de imediato obsoleta a geração
anterior. Esta é uma situação que deve ser antecipada e gerida, uma vez que pode levar à criação de stocks de
difícil venda.
Por outro lado, a comunicação de eco-inovação não é um processo estático: de nada vale desenvolver um
produto eco-inovador se os clientes não tiverem interesse em utilizá-lo. Assim, são necessárias campanhas de
sensibilização e outro tipo de iniciativas.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
91
Fundamentalmente, a empresa não deve subvalorizar nem sobrevalorizar o esforço necessário a alterar o
comportamento dos consumidores e deve ter isso em consideração no momento em que decide promover o
seu produto/serviço eco-inovador.
Promover o processo ou o produto?
A certificação de um processo de eco-inovação será tão valiosa quanto a credibilidade do órgão emissor. Assim,
de pouco valerão afirmações soltas sobre os méritos ecológicos do processo, que aos olhos do consumidor
soarão a greenwashing. A promoção da vertente ambiental de um produto é uma outra forma de abordar o
assunto e que incorre nos mesmos riscos.
Uma forma de minimizar estes efeitos é a criação de uma iniciativa bem estruturada, que ofereça maior
confiabilidade ao cliente. Um bom exemplo disto mesmo é a iniciativa ECO2 da Renault, que procura
estabelecer um relacionamento entre a marca e o cliente sobre a performance ambiental dos seus veículos.
Alguns exemplos da comunicação da Renault neste âmbito incluem afirmações como:

Fabricado numa unidade produtiva certificada pela ISO 14001;

Emissões de CO2 inferiores a 120g por km;

Integra pelo menos 7% de plásticos reciclados e 95% valorizáveis em fim-de-vida.
O nome da iniciativa, bem como as afirmações sustentadas suscitam no cliente um duplo interesse: económico
e ecológico.
Recorrer a argumentação "ecológica" ou não?
o
Ao iniciar-se uma iniciativa de eco-inovação, a análise 360 tem por objetivo selecionar um segmento ou nicho
de mercado em que os clientes são sensíveis à performance ambiental. Nesse sentido, a comunicação do
produto deve focalizar-se nesse aspeto?
Em teoria, há uma procura "verde", ainda que limitada, entre os clientes profissionais e consumidores.
Também em teoria, poderia pensar-se que bastaria "acenar" os predicados verdes de um produto ao cliente
para que este o comprasse. Na prática, isto raramente se verifica.
De facto, mesmo que um consumidor exija informação ecológica sobre um produto (certificações, emissões,
etc.), este não está particularmente interessado em "comunicação verde", que muitas vezes se assemelha a
greenwashing.
Na realidade, um cliente não compra um produto porque este é "verde", mas sim porque lhe reconhece
qualidade, sendo a vertente ecológica mais uma entre as características do produto.
Definir a comunicação a desenvolver para um produto eco-inovador consiste não em comunicar os aspetos
ecológicos deste, mas antes em identificar as verdadeiras vantagens ecológicas para o cliente final, exprimindo
os seus argumentos sobre essa base, independentemente da natureza desses mesmos argumentos (de cariz
ambiental ou não).
Em conclusão, comunicar exige adequar a mensagem ao seu destinatário e ao meio em que é difundida. Definir
estes aspetos é uma questão de fundo do marketing, uma vez que a segmentação do mercado é o que permite
à marca posicionar-se e criar produtos e mensagens adaptados a cada tipologia de clientes.
Há diversas formas de traçar um perfil de cliente, seja através de estudos de mercado, painéis de teste,
campanhas específicas, etc. É importante que se estabeleça esse perfil, tanto em mercados B2C como em
mercados B2B.
92
Guia para a Eco-inovação em PME
Tendências na Comunicação de Eco-inovação
Ao longo dos últimos anos, têm-se vindo a registar alguns padrões na forma das empresas comunicarem as
suas eco-inovações. Gostaríamos de destacar os seguintes:

Foco na transparência e poupança para o cliente;

Boa imagem dos produtos reciclados;

Fabrico local;

Consumo (e comunicação) colaborativa;

Moderação do consumismo.
O quadro seguinte descreve em maior detalhe cada uma destas tendências a serem levadas em conta na
comunicação de eco-inovações.
Quadro 19 – Tendências na comunicação de eco-inovações
Foco na transparência e poupança para o cliente
São cada vez mais as empresas que publicam anualmente dados sobre a sua performance ambiental e social,
para além dos dados de natureza económica e financeira. Quando se atingem resultados "verdes" que
melhoram a performance económica da empresa, é seguro que esses resultados terão um impacto nos
mercados B2B e B2C.
Boa imagem dos produtos reciclados
Nos casos em que o maior impacte ambiental associado a um determinado produto é a matéria-prima principal
utilizada, a sua substituição por materiais reciclados e publicitação do facto é um argumento "verde" de peso.
A crescente sensibilização das populações para estas matérias, bem como o claro aumento da qualidade dos
materiais reciclados ao longo dos últimos anos, tornaram os produtos reciclados uma tendência atual e de
futuro.
Fabrico local
O produto fabricado localmente é cada vez mais preferido face a um produto global e mais desumanizado.
Embora a marca "made in Portugal" tenha ainda alguns problemas associados, fundamentalmente de imagem,
essa perceção está a mudar e a produção local é cada vez mais uma vantagem competitiva. Adicionalmente,
a melhoria ambiental é evidente, particularmente ao nível dos impactes ambientais associados ao transporte de
matérias-primas e produtos.
O fabrico local é assim uma questão de imagem mas também uma forma de otimizar a cadeia logística.
Consumo (e comunicação) colaborativa
Uma outra tendência de fundo, a comunicação colaborativa, transforma a relação do consumidor com o
produto. A multiutilização de um produto, face à sua posse, é uma solução verdadeiramente eco-inovadora,
uma vez que intensifica o tempo de vida útil do produto.
Por outro lado, do ponto de vista comunicacional, ajuda a criar uma comunidade de utilizadores.
A transformação dos produtos em serviços e a sua partilha é inquestionavelmente uma das maiores tendências
atuais no universo da eco-inovação.
A explosão das redes sociais e da internet veio facilitar em muito este processo. Sempre partilhámos com
familiares, amigos e vizinhos. Agora, podemos partilhar com o mundo inteiro.
Por vezes, não é sequer necessário criar uma nova oferta, mas tão simplesmente calibrar a comunicação.
Uma marca pode promover, através das redes sociais por exemplo, a venda dos seus artigos em segunda mão
em vez do seu descarte, prolongando assim o seu tempo de vida útil. Este tipo de iniciativas, para além de
reduzirem os impactes ambientais, ajudam a construir uma imagem e a fidelizar os clientes.
Moderação do consumismo
A crise económica e financeira que atingiu a maioria do mundo nos últimos anos produziu impactos ao nível dos
padrões de consumo. Longe do consumismo desenfreado que caracterizou épocas de prosperidade
económica como os anos 80 e 90, as prioridades mudaram hoje mais para a procura do bem-estar do que
propriamente para a aquisição da última moda.
Assim, qualquer eco-inovação e política de comunicação que a suporte, deve ter esse facto em atenção, para
além de procurar promover o último salto tecnológico.
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
93
Em conclusão, o que importa reter é que a realidade do benefício ambiental é o fator que traz força a uma
comunicação de eco-inovações responsável. A mensagem de comunicação/promoção de um produto
eco-inovador deve ser simples, acessível, claro e coerente com os valores da marca e da empresa.
O argumento pertinente não é a qualidade ambiental do produto, mas sim se esse produto constitui uma
verdadeira solução a um problema largamente reconhecido.
Eco-Inovar na Forma e Suportes da Comunicação
Após se perceber como trabalhar a mensagem e a adaptar aos objetivos da empresa, não se devem descurar
alguns elementos de suporte à comunicação e formalismos.
A adoção da eco-inovação implica uma mudança na atitude dos clientes e essa mudança requer um enorme
esforço de sensibilização por parte das empresas. Alguns pontos importantes a reter nesse sentido são os
seguintes:

Pensar primeiro no cliente e só depois no modo de comunicação;

Recolher informação numerosa e variada;

Efetuar campanhas multicanal;

Comunicação direta e curta;

Envolver o cliente e partes interessadas;

Não descurar os meios de comunicação tradicionais.
O quadro seguinte aborda cada um destes pontos.
Quadro 20 – Suportes da comunicação eco-inovadora
Pensar primeiro no cliente e só depois no modo de comunicação
Na comunicação, publicidade ou promoção de vendas de uma eco-inovação, o importante é que sejam
eficazes, de modo a que a solução melhor venha a substituir a solução antiga no mercado... e na mente do
cliente.
Assim a comunicação deve ser direcionada ao cliente, antes de se pensar sequer sobre canais comunicacionais
preferenciais.
Recolher informação numerosa e variada
No atual ecossistema económico, todo o consumidor, tal como qualquer decisor numa empresa, está em
estado de solicitação perpétuo, tanto do ponto de vista mediático, como do ponto de vista da aquisição e
utilização de um produto ou serviço. Em simultâneo, estamos cada vez mais "ligados" e a quantidade de dados
disponíveis sobre os clientes é cada vez maior em termos quantitativos e qualitativos. É possível, através de
variadíssimas ferramentas, recolher e analisar dados de clientes de forma regular, o que permite segmentar os
mercados e identificar soluções de comunicação adequadas.
Efetuar campanhas multicanal
Os consumidores procuram cada vez mais informação, sendo que as novas formas de comunicação, como a
internet ou as redes sociais, gozam de uma via de comunicação muito mais direta e direcionada face aos meios
de comunicação tradicionais. Os próprios meios de comunicação tradicionais estão a abordar novas formas de
comunicação, desde os programas de tv com possibilidade de replay, aos jornais com edição online.
É importante compreender todo este contexto e perceber que todas as formas de comunicação têm os seus
méritos, sendo recomendável que se efetue uma abordagem multicanal. Caberá a cada empresa perceber
qual a melhor forma de fazer passar a sua mensagem.
94
Guia para a Eco-inovação em PME
Quadro 20 – Suportes da comunicação eco-inovadora (conclusão)
Comunicação direta e curta
Numa altura de comunicação quase instantânea, virtual e em rede, o regresso a uma dimensão mais direta e
humana parece ser uma solução comunicacional que resulta bem.
A forma adapta-se bem a todos os suportes utilizados mas o "coração" da comunicação assenta na força da
mensagem. Neste aspeto, há diversos fatores a ter em conta na comunicação, como o uso de certas buzz words
(reciclável, biológico, etc.), o próprio nome do produto ou iniciativa (como a iniciativa ECO2 da Renault citada
previamente) ou a criatividade e capacidade agregadora das ações de comunicação.
Não se fala do ambiente com paisagens floridas como pano de fundo. Antes, faz-se através da construção de
uma narrativa e de bom storytelling, que "fale" com o cliente.
Envolver o cliente e partes interessadas
Mesmo com a forma comunicacional mais adaptada aos seus objetivos, de nada serve à empresa isolar-se.
De facto, é vital envolver os trabalhadores, os clientes, os fornecedores, associações e outras partes interessadas.
É particularmente importante envolver os clientes no momento da conceção dos produtos e da mensagem a
transmitir, fazendo-os interagir com todo o processo, para que se sintam mais ligados ao produto, à marca e à
empresa.
O recurso às redes sociais é a forma mais direta de conseguir isto, pelo efeito de partilha e criação de buzz.
Implicar os fornecedores da empresa é também um objetivo a seguir. Muitas vezes, os esforços das empresas
cedem neste mesmo ponto: por muito que uma empresa se esforce por ter uma imagem "verde", de nada lhe
valerá se existirem problemas com os fornecedores (veja-se o exemplo da Nike com a subcontratação de
serviços no sudeste asiático ou o esforço da McDonalds em garantir a origem dos seus produtos).
O envolvimento de ONG, associações ou organismos oficiais que possam certificar os produtos da empresa
pode também ser um fator que dá força a uma campanha promocional. A força de uma marca como a WWF
(World Wide Fund for Nature), por exemplo, vale mais do que mil palavras e substitui quase toda a comunicação
que uma empresa possa fazer para convencer o público do estatuto "verde" dos seus produtos. A associação a
entidades deste tipo pode ser altamente vantajosa.
Não descurar os meios de comunicação tradicionais
Pese embora o crescimento dos meios de comunicação online, a verdade é que a comunicação tradicional
continua a ser a que mais hipóteses tem de ser vista pelo cliente. O colapso nas vendas de jornais e revistas em
papel, bem como de outlets físicos parece já ter ultrapassado o seu pico, com estes meios de comunicação a
apresentarem alguns sinais de recuperação.
A verdade é que há ainda muito espaço para eco-inovar na comunicação via meios tradicionais. Métodos
tradicionais como a disponibilização de amostras ou cupões em revistas continuam a ter elevadas taxas de
sucesso. Por outro lado, muitas marcas estão a criar boutiques físicas com novos serviços para chegar a clientes
a que acedem apenas online.
Fonte: ADEME
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
95
Conclusão: Política de Comunicação
Neste capítulo dedicado à comunicação, destacámos as principais tendências aplicáveis a todo o tipo de
produtos, quer nos mercados B2C, quer nos mercados B2B. O objetivo foi demonstrar que a comunicação de
eco-inovações pode ser um processo simples se for efetuado num espírito colaborativo.
As eco-inovações estão ao serviço de um mundo em constante mutação e a comunicação que as suporta deve
procurar ligar as empresas a esse processo de mutação, ao zeitgeist.
Alguns princípios fundamentais a reter:
96

Comunicar uma ideia "verde" (ou responsável, em sentido amplo);

Prestar atenção ao mercado e à envolvente para identificar argumentos pertinentes a
mencionar, meios de comunicação mais adequados e pontos de encontro;

Apostar em abordagens colaborativas, quer na conceção de campanhas de comunicação
como na difusão;

Envolva-se! Divirta-se!
Guia para a Eco-inovação em PME
3.8. CAPITALIZAÇÃO DAS SOLUÇÕES ENCONTRADAS
A eco-inovação é uma disciplina relativamente nova, sendo essencial que as
empresas tenham a capacidade de capitalizar a experiência adquirida durante os
projetos desenvolvidos. De facto, é no desenvolvimento de projetos eco-inovadores
que as empresas acumulam a experiência e know-how necessários para projetos
futuros, podendo afinar e replicar os projetos, conforme as suas necessidades.
As oportunidades identificadas, as análises efetuadas na procura de soluções ou as ideias geradas num projeto
são reutilizáveis num projeto futuro de eco-inovação. Assim, as avaliações ambientais rápidas (screening ACV)
realizadas num projeto, são reutilizáveis nos projetos seguintes. De igual forma, uma equipa integrante de um
projeto eco-inovador pode facilmente passar para outro projeto eco-inovador, sem perdas de tempo, sem
investimentos adicionais, sem necessidade de adquirir experiência.
CAPITALIZAÇÃO DAS SOLUÇÕES ENCONTRADAS
Recursos
(análise 360º,
prospeção de
eco-inovação, ideias) e
boas práticas para
projetos futuros
Projeto de
eco-inovação bem
sucedido
Fonte: ADEME
Figura 35 – Capitalização das soluções encontradas
O papel da empresa nesta fase é conceber metodologias adequadas, que garantam uma capitalização do
conhecimento de forma simples e rápida, de modo a assegurar uma boa transferência de experiência
eco-inovadora de projeto para projeto e de equipa para equipa.
Uma forma de agilizar este processo é recorrer às ferramentas utilizadas durante um projeto de eco-inovação
aquando da elaboração e implementação de um novo projeto. Ao longo deste manual, fomos exemplificando
inúmeras ferramentas pertinentes, a serem utilizadas em diferentes etapas do projeto, nomeadamente:

Identificação de oportunidades: a análise 360 por setor de atividade pode ser reutilizada
regularmente pelos departamentos de marketing, I&D e ambiente da empresa. As diferentes
oportunidades identificadas podem dar origem a projetos simultâneos ou sucessivos;

Exploração do ciclo-de-vida: pode ser reutilizada na implementação de um novo projeto;

Identificação dos níveis do sistema: idem;

Impactes ambientais: a análise de estudos ACV, bem como a modelização para avaliação ambiental
rápida do ciclo-de-vida do produto (screening ACV) e a matriz MIME, podem ser reutilizadas;

Análise funcional: idem;

Análise de uso: idem;

Geração de ideias: as ideias geradas devem ser registadas, de modo a facilitar a procura de soluções
em projetos futuros. As soluções efetivamente implementadas devem ser capitalizadas sob a forma de
uma "árvore de soluções".
o
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
97
O registo de ideias numa árvore de soluções é uma forma simples e prática de conservar a memória das
soluções eco-inovadoras desenvolvidas e de as tornar acessíveis às equipas que trabalham em projetos de
eco-inovação.
Cada solução registada deve ser ilustrada e detalhada num texto curto. Desta forma, uma equipa a trabalhar
num projeto de eco-inovação pode chegar facilmente a soluções previamente encontradas e que se possam
integrar no projeto em curso.
As equipas responsáveis pela conceção e implementação de cada uma das soluções devem também ter as
formas de contacto dos seus integrantes registadas na árvore, o que permite um intercâmbio quase imediato
entre os responsáveis do projeto atual e do projeto anterior para troca de ideias.
Este tipo de capitalização das soluções encontradas é muito mais prático do que o recurso a métodos mais
tradicionais, como a elaboração de um relatório extenso, que a equipa encarregue do novo projeto raramente
terá tempo de explorar.
Este método enceta um benefício adicional: quando as equipas exploram um determinado ramo da árvore,
podem encontrar uma solução que se aplica em outro ramo, criando novas ramificações na árvore. Por
exemplo, uma equipa pode explorar a variável "consumo de energia" nos ramos "energia" e "resíduos".
As diferentes ramificações deverão ser registadas de forma diferente. Assim, nas ocorrências principais deve
encontrar-se:

O nome da ideia e do produto;

Uma descrição simples da eco-inovação em causa;

O nome do projeto e da entidade que o realizou;

O nome das pessoas que trabalham no projeto, bem como formas de as contactar;

Uma ilustração.
Nas ocorrências secundárias deve encontrar-se:

O nome da ideia e do produto;

O posicionamento da ocorrência principal, sob a forma de um "caminho", como acontece com a
localização de um ficheiro informático na sua subpasta.
Conclusão: Capitalização das Soluções Encontradas
A etapa de capitalização das soluções encontradas é a sétima e última etapa do modelo de eco-inovação
proposto, concluindo-se assim a apresentação de uma metodologia para implementação de um modelo de
eco-inovação.
Seguidamente, analisa-se a forma como a eco-inovação e o modelo proposto se integram na gestão
empresarial.
98
Guia para a Eco-inovação em PME
4. INTEGRAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO NA GESTÃO
EMPRESARIAL
4.1. FASES DE IMPLEMENTAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO
Ao longo dos capítulos precedentes, foram apresentadas formas de conduzir um processo de eco-inovação,
desde a identificação de oportunidades de eco-inovação até ao lançamento do produto no mercado e a
consequente capitalização da experiência adquirida.
A questão que se coloca neste capítulo não é como implementar o processo ao nível do projeto, mas antes ao
nível da empresa. O que importa aqui são os elementos mais ligados à gestão da empresa.
Após se propor um quadro geral de divulgação de uma política de eco-inovação na empresa e da análise das
alterações que tal política acarreta, a empresa tem que focar-se em alguns pontos essenciais como quais as
competências necessárias, que tipo de organização, que tipo de processo, cronologia das operações, etc.
De um modo geral, pode falar-se em três fases distintas de implementação da eco-inovação, ao nível da gestão
da empresa, a saber: INÍCIO - ACELERAÇÃO - MATURIDADE.
Competência de desenvolvimento
sustentável da empresa
A figura seguinte ilustra as diferentes fases identificadas.
Objetivo
Ações
Benefícios
FASE 1
FASE 2
FASE 3
INÍCIO
ACELERAÇÃO
MATURIDADE
Tempo
Conceber uma visão clara e
convincente
Cultivar a sensibilidade das
equipas de desenvolvimento
sustentável
Implementar a visão
Antecipar
Integrar o desenvolvimento
sustentável nas atividades
Integrar o desenvolvimento
sustentável na reflexão
estratégica
Construir a argumentação
Transferir a responsabilidade
ao nível operacional
Identificar as oportunidades
de criação de valor a
médio/longo prazo
Redução de custos/riscos
Vantagem concorrencial
Capital imaterial
Fonte: ADEME
Figura 36 – Fases de implementação da Eco-inovação na gestão da empresa
De seguida, descrevem-se cada uma destas fases.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
99
Fase 1: Início
A primeira questão que se levanta é como iniciar a implementação da eco-inovação ao nível da gestão da
empresa.
A resposta mais imediata a esta questão é recorrer a exemplos para convencer todos do mérito do projeto.
A empresa pode lançar um ou mais projetos-piloto, de forma a testar o método, ajustá-lo às suas necessidades,
identificar ferramentas pertinentes, desenvolver práticas, etc. Fundamentalmente, a empresa estará a criar um
caso de sucesso que servirá para convencer a organização internamente.
Uma outra resposta simples vai no sentido de a empresa colher os "low hanging fruits", ou seja, implementar
medidas de baixo custo que reduzem impactes ambientais e custos. Preferencialmente, a empresa deve, nesta
fase inicial, optar por selecionar projetos que ofereçam ganhos ao nível do ambiente, dos custos e do valor
para o cliente.
Seguidamente, a empresa deve iniciar a implementação do seu projeto de eco-inovação de forma progressiva.
Deve procurar fazê-lo da forma mais inclusiva possível, chamando a si os responsáveis de todos os
departamentos da empresa, procurando que estes se questionem, no lançamento de qualquer projeto, sobre
as vantagens de o fazer de uma perspetiva eco-inovadora.
Fase 2: Aceleração
Antes de mais, é preciso perceber que o ato de integrar a dimensão ambiental na conceção de produtos e
serviços constitui uma mudança radical que, como qualquer processo de mudança, deve ser acompanhada.
Entre outros aspetos, deve ter-se em consideração que:

A mudança envolve, em maior ou menor dimensão, todas as funções da empresa, pois toca no centro
de toda a atividade da empresa, ou seja, na sua oferta;

As competências, estrutura organizacional, processos e estratégia devem evoluir para acompanhar a
mudança;

A transição pode começar de forma local e estender-se progressivamente ao resto da empresa, a um
ritmo adequado.
Trata-se de uma mudança significativa mas que se pode implementar de forma progressiva, sendo necessário
sensibilizar, formar e informar um elevado número de pessoas, convencer a organização interna mas também
as partes interessadas da empresa, fornecedores, clientes, acionistas, etc.
Nesta fase, é fundamental que as equipas diretamente ligadas ao projeto, nomeadamente, os departamentos
de marketing, I&D e ambiente, disponham das competências necessárias.
A diversidade de conhecimento necessário fomenta a mobilização de vários departamentos rumo a um
objetivo comum e convida à inclusão das partes interessadas externas no processo. Mais do que uma
competência específica, procura-se aqui mudar uma cultura, uma atitude.
A implementação de um projeto de eco-inovação introduz nas organizações um objetivo novo: a definição de
objetivos ambientais e a medição da performance da empresa nesta vertente.
Na fase de aceleração da eco-inovação, mais do que procurar saber quais os impactes ambientais associados a
um produto ou serviço, é importante identificar os impactes associados a um local ou a uma etapa específica
do processo produtivo.
100
Guia para a Eco-inovação em PME
É certo que existe um fio condutor entre estas duas variáveis, com os impactes ambientais de um
produto/serviço a assumirem-se como o somatório dos impactes gerados nos diversos locais. Por esta razão, a
avaliação da performance ambiental é uma competência específica a adquirir para a implementação de um
processo de eco-inovação.
Uma vez mais, fala-se aqui de um conceito que tem vindo a ser repetidamente referido ao longo deste manual:
o conceito de análise de ciclo-de-vida (ACV). Este é, de resto, um conceito que, pela sua importância para a
matéria em estudo, abordaremos de forma mais detalhada, em capítulo próprio, mais à frente.
Mas o que é relevante nesta etapa de aceleração do processo de eco-inovação é organizar as competências de
ACV. Neste aspeto há diversas questões que se colocam: faz sentido internalizar esta competência? Deve ser
subcontratada? Caso seja internalizada, deve ser levada a cabo por um pequeno número de especialistas que
intervêm pontualmente em todos os projetos ou deve ser disseminada em larga medida pelas equipas de
conceção?
A verdade é que não há respostas simples a estas questões. A resposta será diferente de empresa para
empresa, em função da sua dimensão, da sua atividade, do seu grau de inovação (o que fazer e ao longo de
quanto tempo?), da sua cultura, da sua organização, etc.
Na implementação de uma política de eco-inovação é imprescindível que a empresa possua um mínimo de
conhecimento sobre os impactes ambientais associados aos produtos/serviços. Mas para além desse nível de
conhecimento mínimo, a empresa será capaz de realizar uma ACV internamente? E screenings ACV?
Para a realização de uma ACV detalhada, devem ter-se em consideração dois elementos distintos: a variedade
dos projetos e o objetivo da empresa.
Se os projetos são relativamente homogéneos, um estudo ACV realizado externamente, de forma pontual, e
que abranja pontos fulcrais e parâmetros críticos é suficiente. No entanto, caso os projetos sejam
heterogéneos e se trate de um exercício a conduzir de forma periódica, poderá fazer sentido internalizar o
processo.
De igual forma, se a empresa procura objetivos ambientais de larga escala, a internalização é recomendável,
mesmo tratando-se de projetos homogéneos. Será mais rápido e menos custoso para a empresa formar ou
recrutar um especialista e adquirir software específico do que recorrer permanentemente a serviços externos.
No caso do screening ACV, a questão é mais simples: se a empresa pretende realizar simulações rápidas e
altamente reativas ao longo dos projetos, o recurso a serviços externos, aceitável num quadro de exploração
de projeto-piloto, tornar-se-á pouco prático, uma vez que, por inerência, atrasa o processo e aumenta os
custos. Adicionalmente, as ferramentas necessárias para a internalização deste processo são leves e acessíveis,
tornando recomendável que o processo siga esta via.
No entanto, a sua simplicidade de acesso e uso não lhes retira riqueza: deve recorrer-se a equipas
especializadas, internas ou externas, de acordo com a dimensão da empresa e do número de projetos em
curso, para o desenvolvimento de um screening ACV. O contributo de especialista(s) é fundamental nesta
matéria.
A empresa pode depois recorrer a dois tipos de esquema de screening ACV, nomeadamente:

Esquema repartido: em que existe um perito no centro do processo e utilizadores da ferramenta de
screening ACV repartidos pelo projeto;

Esquema centralizado: em que um perito de ACV intervém em todos os projetos e realiza as
simulações ambientais para a equipa.
A escolha por um ou por outro dependerá largamente do nível de conhecimento, da dimensão da empresa e
do número de projetos a decorrer. Numa fase de transição, a empresa pode optar pelo modelo centralizado e
evoluir para um modelo repartido, à medida que a prática se vai disseminando.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 101
Em suma, esta fase de aceleração é progressiva, levando em média entre 5 a 10 anos, variando entre empresas
e setores de atividade.
A empresa pode apoiar-se em outras experiências que tenha tido com a mudança, como por exemplo, a
adoção de políticas de qualidade total.
Fase 3: Maturidade
A fase de maturidade de um processo de eco-inovação visa antecipar os problemas, criando uma cultura de
eco-inovação na organização, proativa, em vez de uma atitude reativa, na tentativa de solucionar problemas
pontuais.
Para tal, é necessário integrar a noção de desenvolvimento sustentável na reflexão estratégica da empresa e
identificar as oportunidades de criação de valor, numa perspetiva de médio e longo prazo. No final do
processo, o capital imaterial da empresa será altamente valioso.
Naturalmente, este é um processo que demora anos a concluir-se, mas que as empresas devem procurar desde
cedo. Mas há várias questões que se colocam neste ponto. Antes de mais, como constituir equipas e procurar
soluções, se não há um problema identificado para resolver?
Uma vez mais, não se trata aqui de endereçar questões pontuais, mas sim de construir uma verdadeira cultura
eco-inovadora na empresa. Nesse sentido, os departamentos mais ligados à eco-inovação (ambiente, I&D,
marketing), devem possuir a autoridade para implementar um projeto deste tipo quando acharem necessário.
Deve procurar-se criar um clima de flexibilidade, que permita à eco-inovação crescer de forma sustentada nas
organizações, tornando-se intuitiva.
A maioria das grandes empresas recorrem ao processo de eco-inovação "Stage-Gate" para o desenvolvimento
de novos produtos. Este método divide o processo em etapas, ou "gates" (portões). O essencial do esforço de
eco-inovação acontece logo no primeiro "gate".
A figura seguinte apresenta o modelo de eco-inovação "Stage-Gate".
Enquadramento
G1
Viabilidade
e business
case
G2
Desenvolvimento
G3
Testes e
validação
G4
Lançamento
Fonte: ADEME
Figura 37 – Processo de desenvolvimento de novos produtos "Stage-Gate"
102
Guia para a Eco-inovação em PME
G5
4.2. FORMAÇÃO DOS COLABORADORES
A implementação de um projeto de eco-inovação requer, como já se viu, um grande esforço de sensibilização e
formação. Há diversos fatores importantes que convém destacar e em que as ações de sensibilização/formação
se devem focar, nomeadamente:

Benefícios da iniciativa: porque é importante para a empresa?

Noções de ciclo-de-vida e análise multicritério e multietapa;

Eixos de eco-inovação pertinentes para a empresa, sucessos anteriores (caso existam) e estratégia de
eco-inovação da empresa.
A empresa pode optar por formação específica ou genérica, direcionadas às funções da empresa diretamente
relacionadas com o processo de eco-inovação, como o marketing, a investigação e desenvolvimento ou o
departamento de compras. São possíveis duas abordagens distintas, de acordo com a cultura e a organização
da empresa, a saber:

Formação que mistura perfis - tem a vantagem de veicular um dos fatores-chave do sucesso de um
processo de eco-inovação: trabalho em equipa;

Formação por tipo de perfil - permite ajustar mais facilmente o discurso aos públicos específicos,
trazendo questões específicas a diferentes públicos.
Um ponto fulcral que não deve ser negligenciado é a sensibilização/formação da gestão de topo. De nada serve
mobilizar e formar equipas se os decisores não percebem o processo e não procuram impulsioná-lo.
Algumas questões essenciais a ter em conta, em matéria de formação para a eco-inovação:

A avaliação das competências e necessidades de formação em ambiente inclui as pessoas
responsáveis pelo desenvolvimento do produto?

A empresa assegura que as pessoas envolvidas no desenvolvimento do produto são competentes em
ecodesign?

A empresa assegura que as pessoas com cargos relevantes (como o responsável do ambiente) têm
competência para entender e/ou aplicar as metodologias e ferramentas para a identificação e
avaliação dos aspetos ambientais dos produtos ao longo do ciclo-de-vida?

As atividades de consciencialização ambiental da empresa incluem os aspetos e os impactes
ambientais dos produtos e a perspetiva de ciclo-de-vida?
Diagnóstico e Implementação
Formação e Sensibilização
Fonte: ASEIC
Figura 38 – Formação para a Eco-inovação
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 103
4.3. INDICADORES DE AVALIAÇÃO
Neste capítulo, aborda-se a questão dos indicadores a utilizar para medir o progresso de um processo de
eco-inovação. Este é um campo ainda pouco explorado, sendo raro encontrar indicadores de medição desta
dimensão nos relatórios de responsabilidade social das empresas.
A utilização de indicadores deste tipo cumpre três funções distintas, a saber:

Orientar a estratégia e definir os objetivos;

Conduzir o processo e assegurar o progresso rumo ao sucesso;

Comunicar, interna e externamente.
De acordo com a utilização prevista, os indicadores podem ser definidos de formas muito distintas. Na
generalidade, é possível distinguir entre dois tipos de indicadores distintos, a saber:

Indicadores de realização;

Indicadores de resultados.
Os indicadores de realização têm em linha de conta os esforços desenvolvidos para atingir um determinado
objetivo, enquanto os indicadores de resultados focalizam-se na performance obtida.
Nos indicadores de realização, é possível contabilizar, entre outros fatores:

O número de pessoas sensibilizadas e formadas, bem como o número de horas de formação
ministradas;

O número ou proporção de novos projetos que integram a dimensão da eco-inovação;

A percentagem de projetos eco-inovadores terminados, atrasados, etc.
Os resultados podem ser avaliados de diferentes formas, considerando-se um projeto ou toda a empresa.
Nos indicadores de resultados, é possível contabilizar, entre outros fatores:

A consecução do objetivo triplo "valor para o cliente/custo/performance ambiental", o desvio face ao
proposto ou progresso realizado em cada um destes eixos em termos do produto/serviço de
referência;

Proporção de produtos passíveis de obter ecolabel ou já com ecolabel (ISO 14024);

O segmento de mercado relacionado com o produto eco-inovador;

Os ganhos ambientais atingidos, consolidando todos os benefícios advindos de projetos
eco-inovadores, em função das vendas;

Etc.
Os indicadores de realização tendem a ser utilizados mais para consumo interno, para orientação do processo
ou comunicação interna. Neste último caso, permitem incentivar as equipas e manter uma dinâmica de
realização na ausência de resultados tangíveis que, naturalmente, levam o seu tempo a surgir.
Para a comunicação externa da empresa, os indicadores de resultados são muito mais convincentes para
investidores, clientes e outras partes interessadas, uma vez que fornecem informação quantificada e
verificável.
104
Guia para a Eco-inovação em PME
5. FERRAMENTA FUNDAMENTAL: ANÁLISE DO
CICLO-DE-VIDA (ACV)
5.1. ENQUADRAMENTO
Será melhor utilizar copos de plástico ou canecas de cerâmica? Fraldas descartáveis ou reutilizáveis? Reciclar
ou incinerar os óleos usados?
Quer se trate de um mercado de consumo final ou de um mercado industrial, é necessário avaliar e comparar
impactes ambientais associados a produtos e serviços de diferentes atividades, de modo a responder
fundamentadamente a questões deste tipo.
A análise do ciclo-de-vida é a ferramenta de referência para a avaliação ambiental de produtos, tecnologias, e
até mesmo das organizações. O objetivo deste capítulo é identificar princípios, apontar aspetos metodológicos
chave e assinalar conselhos práticos para a implementação de uma análise de ciclo-de-vida numa empresa.
Antes de mais, é necessário perceber que o ciclo-de-vida de um produto é composto por diversas etapas. De
uma forma geral, podem apontar-se 8 etapas distintas, que são apresentadas na figura seguinte.
Distribuição
Fabrico do
produto
Fabrico de
componentes
Utilização
CICLO DE
VIDA
Produção de
materiais
Fim de vida
Reciclagem e
valorização
Extração de
matérias-primas
Fonte: ADEME
Figura 39 – Etapas do ciclo-de-vida de um produto
O ciclo-de-vida de um produto/serviço contempla uma série de inputs, ou entradas, em cada uma das suas
etapas (como matérias-primas, água, energia...), bem como de outputs, ou saídas, que assumem a forma dos
impactes ambientais (na atmosfera, no ar, nos solos...).
A análise de ciclo-de-vida de um produto consiste na elaboração de um balanço dos materiais que entram e
saem num sistema, obtendo-se através desse balanço uma série de impactes ambientais potenciais que
servirão de base para o projeto de eco-inovação, no momento de conceção de objetivos e hipóteses para o
projeto. Esta análise aplica-se aos produtos, processos e organizações.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 105
Matérias
primas
Energia
Emissões
atmosféricas
CICLO DE
VIDA
Água
Descarga de águas
residuais
Descarga
para o solo
Outputs
Inputs
Fonte: ADEME
Figura 40 – Definição da ACV
Genericamente, as empresas podem recorrer a dois tipos de abordagem numa análise de ciclo-de-vida: uma
abordagem multicritério ou uma abordagem global.
No caso da abordagem multicritério, consideremos o seguinte exemplo: uma atividade de combustão provoca
múltiplos impactes ambientais, desde o efeito de estufa proveniente das emissões de CO 2 à acidificação
atmosférica através das emissões de HCL ou SO 2, mas também à poluição local (poeiras) ou ecotoxicidade
(dioxinas, metais pesados...).
Esta grande diversidade de impactes ambientais desmultiplica-se ainda pelas diversas vertentes ambientais (ar,
solos, água...), tornando difícil fazer escolhas fundamentadas assentes num só critério. Assim, não é possível
levar em consideração apenas um critério (efeito de estufa ou consumo de água, por exemplo), mas antes
recorrer a uma abordagem multicritério.
Há que ter em conta que estas variáveis são relativamente independentes, não havendo nenhuma razão para
que evoluam de forma proporcional.
No caso da abordagem global, consideram-se adicionalmente as etapas a montante e a jusante do objeto de
análise. Recorrendo novamente ao exemplo da combustão, teria que se ter em consideração também a
extração e fabrico do combustível, tratamento dos resíduos da combustão, etc.
De igual forma, ao analisar um produto, a análise não se pode restringir à fase de produção, devendo incluir
também as fases intermediárias de transporte.
Certos produtos são mais poluidores na fase de utilização (como os automóveis), enquanto outros (como as
pilhas), poluem mais na fase de fim-de-vida. Desenvolver uma abordagem multicritério e ter em consideração
todo o ciclo-de-vida são duas condições essenciais para uma avaliação ambiental de um produto, uma vez que
permitem soluções que não se limitam a transferir os impactes ambientais de uma etapa da vida do produto
para outra mantendo, ou até agravando, o impacte ambiental global.
106
Guia para a Eco-inovação em PME
5.2. ETAPAS DO CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO
A técnica de análise de ciclo-de-vida obedece a uma metodologia própria, assente na série de normas ISO, mais
precisamente, na norma ISO 14040. Esta norma indica que uma análise de ciclo-de-vida deve compreender
quatro etapas distintas, a saber:

Definição dos objetivos e do âmbito do estudo;

Inventário de ciclo-de-vida, considerando os fluxos de entrada e saída do sistema;

Análise de impactes, que traduz estes fluxos em impactes ambientais potenciais sobre o ambiente;

Interpretação de resultados.
A figura seguinte apresenta a forma como se relacionam estas quatro etapas de uma análise de ciclo-de-vida
de um produto.
1
Objetivos e
âmbito do
estudo
2
Inventário
3
Avaliação
dos impactes
Interpretação
4
Fonte: ADEME
Figura 41 – Etapas para a realização de uma ACV
De seguida, descreve-se cada uma das etapas de uma análise de ciclo-de-vida.
Objetivos e Âmbito do Estudo
Os objetivos de um estudo ACV numa empresa podem ser de diferentes naturezas: conhecer os impactes
ambientais associados aos seus produtos para conceber uma estratégia eco-inovadora, comparar a
performance ambiental de dois produtos para orientar um processo de aquisição responsável, comparar
diferentes esquemas logísticos, preparar uma declaração ambiental de produto, etc.
Com a ACV, é possível não só comparar produtos distintos como várias versões do mesmo produto.
De modo a que se possam comparar dois produtos, é necessário definir uma base de comparação equitativa,
normalmente assente na função cumprida pelo mesmo.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 107
Essa função cumprida tem que ser quantificável, de modo a que se possam efetivamente comparar produtos.
Recorrendo a um exemplo simples, é possível calcular o impacte ambiental associado à produção e uso de rolos
de papel para secar as mãos. No entanto, é necessário levar em linha de conta outras soluções, como o secador
automático. Uma vez que estes dois produtos não são diretamente comparáveis, é necessário criar uma forma
de medição - uma unidade de serviço.
Assim, ambos os produtos necessitam de "x" unidades de serviço para cumprir uma mesma função.
Consequentemente, são estas as quantidades a registar no inventário a realizar (etapa seguinte do estudo ACV)
e não as quantidades "físicas" de cada produto.
É este o fluxo de referência que permite identificar as quantidades necessárias de cada produto para cumprir
idêntica função.
Relativamente ao âmbito do estudo, particularmente ao nível de sistema a ter em conta para a elaboração do
inventário, este situa-se após a etapa de extração de matérias-primas e antes do tratamento de resíduos.
Naturalmente, esta representação linear do ciclo-de-vida é uma simplificação: de facto, em cada etapa do
ciclo-de-vida há não só inputs e um produto principal, como outros inputs e produtos, como coprodutos,
subprodutos, resíduos, etc.
Para efetivamente se identificar o nível de sistema, é necessário recorrer a um diagrama de árvore que parte
de cada etapa do ciclo-de-vida "linear", selecionado à partida, e que identifique etapas adicionais necessárias
ao lançamento do produto no mercado.
O sistema é alargado à produção de todos os inputs e ao tratamento de todos os produtos/resíduos de cada
etapa. A figura seguinte detalha um diagrama de árvore apenas para a etapa de fabrico.
Input C
Input AB
Input B
Input AA
Input A
Extração de
matérias
primas
Produção
de
materiais
Fabrico
Distribuição
Uso
Fim de Vida
Tratamento
de resíduos
Fonte: ADEME
Figura 42 – Diagrama de árvore para delimitação das fronteiras do sistema em estudo
É importante perceber que, pese embora a dimensão global que um estudo deste tipo acarreta, é necessário
alargar o seu âmbito de forma progressiva e controlada, de modo a não se correr o risco de estar perante uma
análise de ciclo-de-vida ao mundo inteiro.
108
Guia para a Eco-inovação em PME
Para evitar esta situação, são necessárias regras claras, como por exemplo:

Critério de materiais (em percentagem);

Critério de energia (em percentagem);

Critério de toxicidade (booleano).
Basicamente, fixam-se limites para cada um dos critérios que, ao serem cumpridos, delimitam o âmbito do
estudo. Recorrendo a um exemplo: se são fixados limites mínimos de 2% nos critérios de materiais e energia,
todas as etapas que não correspondam a uma entrada mínima de 2% dos materiais utilizados ao longo do
ciclo-de-vida e 2% da energia consumida, e que não impliquem substâncias consideradas perigosas, podem ser
desconsideradas para o estudo em curso. Adicionalmente, será também útil, por precaução, somar os materiais
utilizados e os consumos de energia de todas as etapas descartadas, de modo a garantir que, no seu conjunto,
se mantêm pouco significativas.
Uma dificuldade acrescida na limitação do âmbito do estudo prende-se com o facto de, em muitos setores
industriais, a produção de coprodutos ser extensa, tornando difícil identificar os respetivos impactes associados
a cada um dos produtos. Neste caso, a norma ISO 14040 recomenda:

Redefinir de forma mais detalhada o sistema e verificar se o problema resulta de uma agregação de
várias funções desconexas;

Caso não seja possível, agregar os impactes ambientais de uma fileira comum a dois coprodutos,
baseando-se num critério físico: materiais, energia...;

Caso não seja ainda satisfatório, recorrer a outros critérios, nomeadamente económicos.
Para que se perceba melhor, recorremos a um exemplo: a produção de queijo. A produção de queijo, para
além do produto principal, gera também soro de leite, utilizado na alimentação animal.
Se tivermos em consideração os impactes ambientais associados à criação das vacas, ao tratamento e
transformação do queijo, em função dos materiais, é o soro de leite que suporta a maioria dos impactes, uma
vez que se constitui quase como um resíduo e a que a criação de vacas leiteiras visa prioritariamente a
produção de queijo. No entanto, de um ponto de vista económico, é o queijo o maior responsável pelos
impactes ambientais produzidos.
Neste caso em particular, em que a produção de queijo é o foco principal, o recurso a uma análise baseada no
critério económico parece fazer mais sentido. No entanto, surge aqui mais um problema: a variação dos preços
da alimentação animal a nível mundial. Esta variação pode enviesar a análise. Assim, é necessário incluir mais
uma variável: a perspetiva histórica, e considerar uma análise ao longo do tempo.
O que se pode concluir é que diferentes formas de análise podem levar a resultados completamente dispares.
A figura seguinte ilustra isso mesmo, recorrendo ao exemplo da produção de queijo.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 109
Critério: Materiais
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Queijo
Leite
Soro de leite
Fabrico de
Queijo
Critério: Económico
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Queijo
Soro de leite
Fonte: ADEME
Figura 43 – Coprodutos e alocação de critérios
Finalmente, é importante referir mais uma questão que torna difícil a delimitação do âmbito de um estudo
ACV: a reciclagem de materiais.
Este é um problema clássico numa ACV uma vez que, na maioria dos casos, a reciclagem não é efetuada em
ciclo fechado, ou seja, no seio de uma mesma fileira, antes fazendo parte de um ciclo aberto. O produto
reciclado, por exemplo, uma garrafa de plástico, pode ser utilizada para o isolamento de edifícios ou em
vestuário - as duas fileiras estão ligadas pelo processo de reciclagem, sendo difícil a qual das fileiras atribuir os
benefícios ambientais da reciclagem da garrafa de plástico.
Ponto prévio: todas as operações de reciclagem oferecem benefício ambiental. Trata-se aqui de identificar a
que fileira esse benefício deve ser atribuído ou de que forma reparti-lo pelas fileiras. Para tal, há dois métodos
distintos, que podem levar a resultados díspares, a saber:

O método dos stocks, que consiste em identificar os sistemas ao nível do stock de materiais
homogéneos e prontos a reciclar. Ou seja, todas as operações que ocorram a montante desse stock
são atribuídas à fileira que gera o material a reciclar e todas as operações que ocorram a jusante são
atribuídas à fileira responsável pelo seu consumo. Este método tem a tendência de aligeirar o balanço
ambiental da fileira que consome o material a reciclar, uma vez que o material é fornecido com uma
"carga ambiental" nula.

O método dos impactes evitados, que consiste em alocar a totalidade dos custos e benefícios da
reciclagem à fileira que gera o material a reciclar. Este método tem a tendência contrária ao anterior,
aligeirando o balanço ambiental da fileira a montante e agravando o da fileira a jusante.
A título de exemplo, vamos considerar o caso de uma viatura em fim-de-vida, em que o aço será reciclado para
o varão do betão armado a ser utilizado em edifícios.
Recorrendo ao método dos stocks, a ACV do automóvel incluirá a fresagem e triagem dos materiais. Não há
aqui contabilização de recursos de aço, uma vez que o material é considerado como uma matéria-prima
secundária. Por sua vez, a ACV do edifício inclui o transporte da sucata resultante para os fornos elétricos e a
transformação em betão armado. Aqui não há consumo de aço ou de carvão, apenas de uma matéria-prima
secundária. A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos stocks.
110
Guia para a Eco-inovação em PME
Fundição
de aço
Aço
Utilizador
primário do aço
Stock de
sucata
Siderurgia
(elétrica)
Utilizador
secundário do aço
Fonte: ADEME
Figura 44 – Reciclagem: método dos stocks
Com o método dos impactes evitados, a situação é bastante diferente. As operações secundárias de produção
de aço integram a ACV do automóvel mas o seu impacte ambiental é contabilizado de uma forma ficticiamente
baixa no balanço ambiental.
Este processo existe porque se considera o aço reciclado a partir da sucata como equivalente ao aço "virgem"
utilizado no início do processo - isto leva a um balanço ambiental muito favorável ao automóvel, já que o
consumo elétrico do aço produzido de forma elétrica em siderurgia é muito menor do que o da fileira integrada
(fornos de aço). Esta solução será mais pertinente quando a qualidade dos materiais reciclados é similar à
qualidade das matérias virgens e menos pertinente no caso oposto.
A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos impactes evitados.
Aço
Fundição
de aço
Utilizador
primário
do aço
Stock de
sucata
Siderurgia
(elétrica)
Menos
Aço
reciclado
Aço
Fundição
de aço
Aço
reciclado
Utilizador
secundário
de aço
Considerado
como equivalente
Procedimento fictício,
acrescentado para
equilibrar o balanço
Aço
Fundição
de aço
Aço
reciclado
Fonte: ADEME
Figura 45 – Reciclagem: método dos impactes evitados
Na realidade, não há uma solução objetiva para este problema: tal como na alocação de custo na gestão da
empresa, também a alocação dos impactes ambientais é uma questão de convenção e compromisso.
Neste aspeto, uma solução possível é a combinação dos dois métodos, utilizando uma ponderação dos
resultados de 50% para cada um dos métodos.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 111
Inventário
O inventário é a tabela onde se regista os fluxos de entrada e saída do sistema. O inventário deve conter, entre
outros, os seguintes aspetos:

Consumo de recursos naturais (input);

Consumo de água (input);

Emissões atmosféricas (output);

Emissões para o solo (output);

Produção de resíduos (output).
O quadro seguinte apresenta um exemplo de inventário para o ciclo-de-vida de um material de construção
(extração).
Quadro 21 – Inventário do ciclo-de-vida de um material de construção (extração)
Transporte
Implementação
Utilização
Fim de
vida
TOTAL
2,06E-04
0,002
0,001
0,002
0
0,039
0,001
1,10E-05
0,009
0,021
0
0,055
0,014
0,001
1,22E-04
0,006
0,008
0
0,036
3,64E-05
1,49E-06
9,29E-07
4,19E-09
6,45E-06
1,39E-05
0
5,45E-05
2,67E-04
1,28E-05
0
1,23E-06
0
0
0
8,94E-05
Kg
0,096
2,19E-05
3,83E-07
1,83E-08
2,66E-06
1,29E-05
0
0,096
Água
subterrânea
Kg
0,912
0,537
0,023
0,005
0,160
0,571
0
1,580
Água
superficial
Kg
1,020
0,697
0
0
0
0
0
1,020
CO2
Kg
0,742
0,079
0,009
0,005
0,064
0,164
0,013
0,987
CO2 biogénico
Kg
0,007
0,003
0,001
2,51E-04
0,007
0,027
0,039
0,081
NOX
Kg
0,001
1,08E-04
1,58E-05
1,25E-06
1,10E-04
1,80E-04
0
0,001
Metano
Kg
1,01E-07
5,10E-09
1,61E-09
3,88E-11
1,12E-08
1,49E-08
0
1,24E-07
Partículas
(PM2,5-10)
Kg
1,41E-04
8,84E-07
2,15E-07
5,56E-08
1,50E-06
1,46E-06
0
1,44E-04
Arsénico
Kg
1,33E-08
4,05E-09
3,29E-10
2,71E-10
2,29E-09
8,41E-09
0
2,34E-08
Chumbo
Kg
4,46E-08
1,39E-08
2,37E-09
4,07E-10
1,65E-08
2,77E-09
0
8,30E-08
Emissões para
água salgada
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
Emissões no
solo
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
Perigosos
Kg
4,47E-05
1,36E-05
0
0
0
0
6,70E-04
7,15E-04
Industriais
Kg
0,033
2,26E-04
7,41E-05
0
0
0
-5,47E-05
0,035
Inertes
Kg
2,93E-05
0
0
0
0
0
0
Categoria
Consumos
Emissões
atmosféricas
Emissões para
água doce
Resíduos
Fluxo
Un.
Produção
Produção
(fábrica)
Produção
(eletricidade)
Petróleo
MJ
0,035
0,018
Carvão
MJ
0,029
0,002
Gás natural
MJ
0,035
Crómio
Kg
Ferro
Kg
Bauxite
Fonte: ADEME
112
Guia para a Eco-inovação em PME
2,93E-05
Avaliação dos Impactes Ambientais
A partir do inventário, é possível calcular os potenciais impactes ambientais, que resultam geralmente da
combinação de diversos fluxos. A título de exemplo, podemos proceder ao cálculo de um indicador do efeito de
estufa, construído a partir da combinação dos fatores emissões de dióxido de carbono, metano, HCFC, etc., ou
de um indicador de poluição da água, que combina essencialmente as emissões de azoto e fósforo na água.
Os impactes tradicionalmente avaliados são os seguintes:

Efeito de estufa;

Acidificação atmosférica;

Criação de ozono fotoquímico;

Degradação da camada do ozono;

Poluição da água;

Esgotamento de recursos naturais não renováveis.
Os indicadores de impacte referentes à toxicidade e à ecotoxicidade (terrestre, aquática e marinha) são
igualmente avaliados. Mesmo que a fiabilidade destes indicadores não seja tão elevada quando comparada
com a dos indicadores mencionados acima, devem igualmente ser levados em conta na avaliação.
Há ainda diversos outros indicadores, como por exemplo, indicadores referentes ao uso do solo ou às emissões
radioativas. O espectro dos impactes a avaliar varia de acordo com o objeto do estudo.
Interpretação dos Resultados
A fase de interpretação consiste em analisar os resultados do inventário e dos indicadores de impacte
ambiental. Para cada fluxo e cada impacte, podem ser identificadas as contribuições referentes a cada etapa e
cada componente. É igualmente possível identificar quais os fluxos que mais contribuem para um particular
impacte ambiental.
Por outro lado, são realizadas análises de sensibilidade para verificar a robustez dos resultados em cenário de
alteração de hipóteses. De igual forma, são realizadas análises de incerteza para verificar o efeito dos dados
menos precisos que integram o cálculo.
Em suma, comparam-se cenários alternativos sobre a conceção do produto ou qualquer outra fase do
ciclo-de-vida, com o cenário de referência.
Após esta análise, os resultados podem ser apresentados de diferentes maneiras, podendo facilitar ou não a
sua interpretação. Alguns pontos a ter em atenção nesta matéria são:

Multicritério ou valor único;

Hierarquização subjetiva dos impactes ambientais;

Normalização dos impactes ambientais;

Valores absolutos e margem de progresso.
De seguida, aborda-se cada um destes pontos, de forma breve.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 113
Multicritério ou Valor Único
A abordagem multicritério torna a interpretação de resultados num processo delicado, uma vez que os
gestores tendem a preferir um resultado agregado para fundamentar as suas decisões. De facto, os chamados
sistemas de "ponderação" são desenvolvidos para se poderem combinar os resultados de diferentes fluxos ou
diferentes impactes num pequeno número de indicadores agregados, observados sob a forma de um valor
único.
É certo que este tipo de indicador é imensamente prático; no entanto, a sua fundamentação científica é
escassa, uma vez que a agregação de indicadores de diferentes grandezas numa mesma modelização não leva
em conta as compensações ou acréscimos que podem ocorrer.
No caso dos impactes ambientais, esta situação não pode ocorrer, uma vez que estes são, em grande medida,
independentes, não havendo mecanismos de compensação possível entre impactes. De facto, um pouco
menos de acidificação atmosférica não pode ser compensado por um pouco mais de efeito de estufa.
Em suma, estes indicadores agregados, mais do que resultado da investigação científica, são uma construção
social.
Hierarquização Subjetiva dos Impactes Ambientais
Mesmo considerando que a hierarquização dos impactes ambientais é um processo altamente subjetivo e
dificilmente comprovável, pode ser útil para enquadrar um pouco os resultados encontrados. Alguns dos
critérios que podem ser considerados num exercício deste tipo são:

Reversibilidade ou irreversibilidade do impacte;

Alcance local, regional ou global do impacte;

Consequências para a humanidade, desde simples perda económica à degradação da qualidade de
vida.
Normalização dos Impactes Ambientais
Uma outra forma de facilitar a interpretação dos resultados passa pela sua inclusão na poluição total numa
dada zona geográfica ( um país, um continente, o mundo). Este método permite perceber o contributo de um
determinado produto para a poluição de uma dada zona geográfica.
A lógica desta análise é focalizar a atenção, para cada produto, nos impactes em que o contributo do produto é
superior ao da maioria dos produtos no mercado.
De referir que esta abordagem não prejudica em nada as diferenças relativas entre a gravidade de cada
impacte ambiental. De facto, mais do que substituta, esta abordagem é complementar com a apresentada
anteriormente. É apenas mais uma forma de apresentar os resultados.
Como consideramos os resultados parciais da poluição total numa dada zona geográfica, torna-se simples
exprimir os resultados normalizados em " habitantes equivalentes ", facilitando a compreensão.
114
Guia para a Eco-inovação em PME
Valores Absolutos e Margem de Progresso
Aquando da interpretação de resultados, particularmente num processo de eco-inovação, é interessante
identificar os materiais, etapas, componentes, atividade, etc., que mais contribuem para a criação de impactes
ambientais. No entanto, é também interessante e útil estabelecer a margem de progresso disponível.
A figura seguinte apresenta uma forma de ilustrar a margem de progresso da empresa em diversas vertentes,
face aos impactes ambientais que geram.
IMPACTE AMBIENTAL
Margem de Progresso
Impacte Ambiental
Matérias
Primas
Produção
Distribuição
Uso
Fim de
Vida
Fonte: ADEME
Figura 46 – Margem de progresso para a redução de impactes ambientais
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 115
5.3. ASPETOS PRÁTICOS
De seguida, apresentam-se diversos aspetos a ter em atenção aquando da realização de uma análise de
ciclo-de-vida na empresa. Alguns destes aspetos foram sendo referidos ao longo deste manual, mas optámos
por apresentá-los aqui em maior destaque, pela natureza prática que assumem num estudo ACV.
Assim, alguns aspetos práticos a ter em consideração são:

Recolha e qualidade dos dados;

Nível de precisão da análise;

Bases de dados e software;

Campo de intervenção.
Recolha e Qualidade dos Dados
Os dados que alimentam uma análise de ciclo-de-vida devem ser recolhidos in situ, podendo-se recorrer a um
questionário como o apresentado no quadro seguinte.
Quadro 22 – Questionário de recolha de dados para ACV
Data:
Pessoa de contacto:
Local:
Processo:
Dados relativos ao período de ___________ a ____________
Descrição do processo:
Entradas de materiais
Unidade
Quantidade
Consumo de água por tipo
(rede, fonte...)
Unidade
Quantidade
Comentário, origem dos dados
Origem
Entradas de energia
(fuelóleo, eletricidade...)
Unidade
Quantidade
Comentário, origem dos dados
Origem
Saídas de materiais
(produtos)
Unidade
Quantidade
Comentário, origem dos dados
Destino
Fonte: ADEME
116
Guia para a Eco-inovação em PME
Comentário, origem dos dados
Em termos das exigências em matéria de qualidade dos dados, as normas da série ISO 14040 sublinham a
importância de selecionar dados de qualidade antes de se proceder a qualquer cálculo. De facto, se os dados a
que se recorre forem de baixa qualidade, o resultado não será necessariamente o melhor.
Esta qualidade é expressa em termos da pertinência dos dados, da sua representatividade geográfica,
tecnológica e temporal.
Um erro comum é recorrer a informação já presente na base de dados da empresa, mesmo que não
corresponda exatamente ao objeto de estudo, em vez de recolher novos dados. A título de exemplo, os
impactes associados à produção de arroz serão muito diferentes de acordo com o tipo de cultura e o número
de colheitas anuais.
Nível de Precisão da Análise
O nível de precisão da análise varia consoante a utilização prevista para essa mesma análise. A norma
ISO 14040 coloca as escolhas metodológicas para qualquer estudo ACV dependentes do seu objetivo.
Em traços gerais, podem apontar-se algumas considerações básicas sobre este assunto:

Nos casos de comunicação de declaração ambiental de produto, é necessário recorrer a um estudo
ACV detalhado, com dados representativos e coerentes entre si;

Para orientar as escolhas de conceção, ainda muito a montante do processo, basta uma modelização
de caráter genérico;

Para documentar uma escolha tecnológica, recomenda-se uma ACV comparativa com dados primários
sobre as etapas que diferem em cada tecnologia.
Bases de Dados e Software
Os cálculos inerentes a um estudo ACV requerem software específico. A quantidade de dados a manipular
pode ser de tal forma grande, que o recurso a uma folha de cálculo é claramente insuficiente, correndo-se o
risco de incorrer em erros grosseiros.
Nesse sentido, há inúmeras ferramentas informáticas disponíveis, com maior ou menor complexidade e mais
ou menos custosas. No entanto, a escolha por uma ferramenta particular deve estar mais relacionada com a
qualidade dos dados disponíveis do que propriamente com estes ou outros fatores.
Há ferramentas informáticas para a análise de ciclo-de-vida de caráter genérico, aplicáveis a todas as
empresas/cenários, bem como ferramentas de caráter setorial, orientadas para um ou mais segmentos de
mercado específicos. Alguns exemplos de ferramentas setoriais são a Spin'it, desenvolvida pela Cycleco para os
produtos têxteis ou a EIME – Environmental Improvement Made Easy, desenvolvida pela francesa Codde e
direcionada aos produtos elétricos e eletrónicos.
Estes softwares de apoio à análise de ciclo-de-vida, sejam eles de caráter genérico ou setorial, são então
suportados por bases de dados próprias ou públicas.
O quadro seguinte apresenta algumas ferramentas informáticas de apoio à ACV, bem como as bases de dados
em que se apoiam.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 117
Quadro 23 – Bases de dados e software para ACV
Softwares ACV profissionais
Base de dados
GaBi (PE INTERNATIONAL)
GaBi
SimaPro (PRé Consultants)
Ecoinvent
TEAM (Ecobilan)
DEAM
Softwares ACV gratuitos
Base de dados
Open LCA (GreenDelta)
ELCD
Softwares de screening ACV
Base de dados
Bilan Produit (ADEME)
Base Impacts
Biloba Web (Gingko 21)
e-DEA (Evea)
Compatível com todas as bases de dados
ELCD na versão gratuita
Ecoinvent
Fonte: ADEME
Campo de Intervenção
A análise de ciclo-de-vida não é solução para todos os problemas de avaliação ambiental: é particularmente
adequada para a avaliação de impactes globais, como o efeito de estufa. Por outro lado, os indicadores de
toxicidade são muito superficiais. Assim, a ACV, somando os fluxos emitidos ao longo do ciclo-de-vida, não
representa de forma precisa os impactes ambientais de cariz local.
É certo que têm sido feitos esforços de geolocalização de impactes mas a verdade é que, sendo interessante de
um ponto de vista teórico, na prática a pouca disponibilidade de dados locais tem limitado em muito esse
esforço.
No entanto, é relevante conservar os dados de emissões de substâncias tóxicas em contexto de ACV, uma vez
que podem servir de sinal de alarme para lançar uma investigação complementar, como por exemplo, uma
análise toxicológica.
Adicionalmente, uma análise de ciclo-de-vida considera apenas os fluxos quantificáveis e passíveis de soma. Na
maioria das vezes, ficam de parte fatores como a emissão de ruido, ondas eletromagnéticas, alterações na
paisagem, etc.
Em suma, todos estes limites são campos passíveis de investigação e progresso. Assim, a ACV pode cobrir uma
grande variedade de domínios distintos.
A análise de ciclo-de-vida é uma ferramenta reconhecida por empresas e poder público e que está em
constante mutação, sendo sistematicamente estudada e melhorada.
Um dos desafios futuros é levar esta ferramenta imprescindível a um nível de notoriedade ainda maior, entre
profissionais e a própria sociedade civil.
118
Guia para a Eco-inovação em PME
5.4. A ACV AO SERVIÇO DA ESTRATÉGIA DA EMPRESA
Em função das necessidades das mais variadas partes interessadas, a integração da dimensão ambiental na
gestão de empresas é um fator de sobrevivência no mundo do século XXI.
Desde clientes a colaboradores, passando por fornecedores, parceiros, poder público, comunidades locais,
acionistas ou investidores, todos reclamam maior transparência das empresas na assunção dos impactes
ambientais causados pela sua atividade, bem como um esforço de melhoria da performance ambiental.
É esta junção de fatores que torna a análise do ciclo-de-vida uma ferramenta indispensável.
O estudo ACV permite às empresas percecionar melhor as escolhas de investimento, orientar a investigação e
desenvolvimento internas, conduzir o desenvolvimento de novos produtos, valorizar os produtos nos
mercados, negociar a elaboração de nova regulamentação com o poder político, etc. Em suma, é uma forma de
orientar a estratégia da empresa.
Cabe a cada empresa utilizar esta ferramenta da forma mais apropriada ao seu contexto de mercado, às suas
ambições, cadeia-de-valor, contexto tecnológico, enquadramento legal...
A análise de ciclo-de-vida é a ferramenta mais relevante ao dispor das empresas para maximizarem a triple
bottom line, metodologia que mede o sucesso de uma organização não pela definição tradicional que vê a
maximização de lucro como fim único, mas antes pela ponderação de três vertentes distintas: económica,
social e ambiental.
Económico
CUSTO
LUCRO
Subemprego
Filantropia
Consumo
de Recursos
Comércio
Justo
Uso
da Terra
Gestão
de
Resíduos
Social
Segurança dos
Trabalhadores
Ambiente
Fonte: Wikipedia
Figura 47 – ACV e a triple bottom line
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 119
6. CONCLUSÃO
Ao longo deste guia procurámos estabelecer um roteiro para a implementação de um modelo de eco-inovação
em 7 etapas. Para cada uma das etapas, foram analisadas as questões mais prementes relacionadas com a
aplicação do modelo e apontadas soluções possíveis. Paralelamente, analisamos a forma como esse modelo de
eco-inovação se integra na gestão empresarial, caracterizando todas as fases necessárias à sua plena
implementação, desde a conceção à maturidade.
Foi destacada uma ferramenta que nos parece constituir a base de qualquer processo de eco-inovação, a
análise do ciclo-de-vida (ACV). Este destaque visou elencar os aspetos fundamentais do funcionamento desta
ferramenta e enaltecer a sua importância, com o objetivo de potenciar a sua utilização mais frequente no
universo empresarial português.
Adicionalmente, foram apresentadas inúmeras medidas eco-inovadoras simples, com o objetivo de aproveitar
os chamados low hanging fruits, ou seja, medidas que permitem resultados rápidos e com baixos custos para a
empresa.
Com este "Guia para a Eco-inovação em PME" procurámos dotar as empresas nacionais, particularmente as de
menor dimensão, de uma ferramenta simples e de caráter inerentemente prático, de auxílio à implementação
da eco-inovação nas suas organizações.
120
Guia para a Eco-inovação em PME
7. BIBLIOGRAFIA
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BIS, Practical Resource Efficiency Savings – Case Studies, 2009;
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CIMPIN, Guia de Boas Práticas Empresas e Sustentabilidade, 2010;
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Eco-Innovera, Resource Efficiency Workshop towards System Innovation, 2014;
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EIO, A Guide to Eco-Innovation for SMEs and Business Coaches, 2013;
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EIO, Europe in transition - Paving the way to a green economy through eco-innovation, 2013;
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Ferreira, José Vicente Rodrigues, Análise de Ciclo-de-Vida dos Produtos, 2004;
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Pôle Eco-conception/IDP, La Profitabilité de l’Écoconception : une Analyse Économique, 2014;
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SEBRAE, Requisitos Ambientais para o Desenvolvimento de Produtos, 2005;
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USP, Ecoinovação para a melhoria ambiental de produtos e serviços, 2012;
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http://www.eco-innovation.eu;

http://pt.wikipedia.org.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação 121
2015
GUIA PARA A ECO-INOVAÇÃO EM PME
AEP – Associação Empresarial de Portugal
EcoProdutin – Produtividade na indústria pela Eco-inovação
4450-617 Leça da Palmeira | Tel: 229 981 500 | Fax: 229 981 771
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