A GEOGRAFIA DA MORTALIDADE POR CAUSAS DOS IDOSOS NO BRASIL Neir Antunes Paes Depto. de Estatística da UFPB - Campus I e-mail: [email protected] Introdução Apesar das mais significativas transformações ocorridas nas condições de saúde da população humana neste século, essas mudanças não permitiram diminuir as diferenças existentes entre as regiões pobres e ricas. Nos países em desenvolvimento, ainda são elevadas as taxas de doenças evitáveis e de mortes prematuras. A existência desses diferenciais deve-se fundamentalmente, a determinantes históricos, culturais, econômicos e sociais (Beaglehole, Bonita, 1997), que alteraram tanto a estrutura populacional, como os padrões de morbimortalidade. Autores como Bobadilla et al. (1991), denominaram essa transformações de transição demográfica e epidemiológica. O aumento da expectativa de vida verificado no Brasil nas últimas décadas, passando de 60.0 anos em 1980 (Paes, 1993), para cerca de 67.6 anos em 1996 (FIBGE, 1996), juntamente com o rápido descenso das taxas de fecundidade total da população (4.35 em 1980, e 2.28 em 1996), tem proporcionado um envelhecimento da população brasileira, mostrando que o contingente idoso é o que mais vem crescendo, quando comparado com os demais segmentos etários. O percentual de idosos na população brasileira em 1991 foi de 5.1%, e, em 1996, subiu para 7.3%. Em um contexto de desigualdades regionais e sociais, os idosos surgem como uma camada populacional que exige maior atenção e amparo (Ramos, 1990). O crescente aumento desse contingente populacional não se dá de maneira uniforme no país. Os padrões etários das mortes e a composição das causas de morte são diferenciados nas regiões brasileiras, além do que os estados apresentam diferenças importantes no que diz respeito à qualidade das estatísticas vitais. Elas são mais precárias nos estados das regiões Norte e Nordeste, cujo percentual de causas de óbitos 2 mal-definidos e do sub-registro de óbitos ainda são bastante elevados. A junção desses dois fatores gera o percentual de “óbitos com causas desconhecidos” que a nível nacional, em 1990, foi cerca de 31.1% e 34.4 % para o sexo masculino e feminino respectivamente (Paes, 1999). A limitação das estatísticas de mortalidade pode ser o maior responsável pelo escasso número de estudos regionalizados da mortalidade idosa brasileira. Lessa (1998) chama atenção para que se defina populacionalmente e em todas as regiões o panorama da saúde do idoso no Brasil, uma vez ser escasso o conhecimento nessa área, devido às limitações das estatísticas de mortalidade. E acrescenta, que esses estudos revestem-se de grande importância para o entendimento nas mudanças de morbimortalidade e o estabelecimento de uma política de saúde de redução da incidência de certas doenças e suas conseqüências na população, como também do oferecimento de serviços de modo digno aos mais carentes na hierarquia social. Mesmo considerando a limitação dos dados para alguns estados, não se pode simplesmente descartar essas estatísticas, já que parte do poder explicativo desses óbitos pode ser resgatado. Segundo Preston (1984) e Paes (1993), o conhecimento de cerca de pelo menos dois terços do registro de óbitos é suficiente para fornecer estimativas de mortalidade toleráveis e satisfatórios, requisito este preenchido para a maioria dos estados brasileiros. O problema, pois, reduz-se basicamente na real magnitude dos indicadores de mortalidade construídos, sendo o seu padrão e as tendências que o comportamento da mortalidade sugere, passíveis de satisfatória segurança. As estatísticas de mortalidade por causa básica de óbito têm um papel fundamental na avaliação do processo saúde-doença que contribuem de maneira decisiva no conhecimento dos perfis de saúde de uma população e nas questões ligadas às políticas e programas de saúde. Ruzika e Lopes (1990) destacam a importância de tais dados para um melhor direcionamento dos gastos em saúde pública e que tal estudo deve servir apenas como um ponto de partida já que diversos fatores, inclusive as diferenças regionais influenciam nos resultados. Uma constatação importante é a existência de poucos estudos de mortalidade por causas na América Latina e no terceiro mundo, destacado por Chackiel (1986), o qual concluiu também que tal fato pode estar associado provavelmente a questões ligadas à qualidade dos dados. Esses estudos são ainda mais escassos quando se trata da 3 população idosa. A escassez se acentua quando se busca associar a mortalidade idosa com fatores de natureza social e econômica, cuja discussão é necessária para uma melhor compreensão dos processos envolvidos na morte dos indivíduos. A relação entre mudanças nas atividades econômicas e a evolução das taxas de mortalidade foi investigada por alguns autores. Bravo e Vargas (1991) examinaram a relação entre mudanças de curto e médio prazo na atividade econômica e as taxas de mortalidade e morbidade na Costa Rica, Chile e Guatemala. Gruska (1995), para a Argentina e Rosero-Bixby (1994) para Costa Rica. Chackiel e Plaute (1994) num estudo sobre a situação e as tendências demográficas na América Latina desde a década de 50 com ênfase na mortalidade, lembram que as quedas ocorridas, tanto na mortalidade, como nas taxas de fecundidade, tem ocorrido até certo ponto de forma independente de fatores ligados à sócio-economia. Conclusões semelhantes são observadas em Frenk et ali (1994) que também analisam os principais mecanismos envolvidos na transição epidemiológica na América Latina. Destacam a diminuição do risco de contrair doenças contagiosas, devido à melhoria das condições sanitárias bem como o surgimento de novos tipos de doenças ligadas às mudanças nas condições de vida. Para o Brasil, poucos trabalhos tem enfocado a associação entre a mortalidade idosa e variáveis sócioeconômicas. Um ilustrativo trabalho nesta linha para os adultos pode ser encontrado em Sichieri et ali (1992), cujo foco centrou-se na relação entre a mortalidade adulta por doenças crônico-degenerativas e um conjunto de variáveis sociais e econômicas. Nesse sentido, objetiva-se estimar a mortalidade dos idosos (entendida aqui como aquela de 65 anos e mais) dos estados brasileiros no período de 1980 a 1995 diferenciado por sexo e principais causas de morte e investigar a associação entre as taxas de mortalidade da população idosa por grupos de causas e um conjunto de indicadores de natureza sócioeconômica. O período de 1980 a 1995 tem uma importância especial na mortalidade brasileira, pois se constitui no primeiro período de contabilização oficial sistemática da declaração dos óbitos no país uniformizada para todas as unidades da federação, o qual coincide com importante momento em que se processaram profundas modificações na mortalidade, marcado pela consolidação de uma etapa de transição demográfica e epidemiológica ainda em curso. 4 2. Material No Brasil, a padronização dos instrumentos de coleta de dados de óbitos só foi implantada a partir de 1976, com a instalação do Subsistema de Informação Sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (MS, 1999). Os dados de mortalidade foram extraídos do CD-ROM do Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde no qual estão contidos os dados de declaração de óbito de 1976 a 1996 para todos os estados brasileiros. O estudo foi realizado para os anos censitários de 1980 e 1991 e a contagem populacional em 1996, permitindo, assim, a compatibilização estatística na geração das taxas de mortalidade para os estados, além de oferecem uma maior disponibilidade de indicadores demográficos e sócioeconômicos. Para evitar eventuais flutuações aleatórias dos dados extraíram-se as médias dos triênios 1979/80/81 e 1990/91/92. Para permitir a comparação entre os estados, a padronização das taxas de mortalidade foi executada tomando-se como população padrão a estrutura etária do Brasil do ano de 1991. Devido a sérios problemas de consistência dos dados de óbitos para 1996, o estudo foi feito também para o ano isolado de 1995 e evitou-se utilizar o ano de 1994 em virtude da proximidade com o ano de 1992, utilizado no triênio 1990/91/92. Para a seleção dos grupos e sub-grupos de causas de mortalidade, adotou-se a nona Classificação Internacional de Doenças (CID) e a classificação brasileira (CIDBR) respectivamente. As causas de óbitos selecionadas para a análise obedeceram ao critério de maior representatividade. Face às diferenças na qualidade das estatísticas de óbitos entre as unidades da federação, estas foram classificadas de acordo com o percentual de óbitos com causas desconhecidos em quatro grupos, baseado em sugestões fornecidas por Chackiel (1986) e Paes (1997), conforme ilustrado no Quadro 1. A investigação da associação entre taxas de mortalidade e fatores de natureza sócioeconômica tem sido uma antiga preocupação dos pesquisadores do assunto. Estudos podem ser observados envolvendo aspectos econômicos, com forte influência monetária, utilizando indicadores tais como: Produto Nacional Bruto, Produto Interno Bruto “per capita”, renda média familiar e individual, entre outros. Uma argumentação sobre o uso de fatores econômicos e sua contribuição no declínio da mortalidade é feita 5 por Preston (1976) que sugere a utilização do Produto Nacional Bruto “per capita”, como um importante indicador do padrão de vida de uma população. Posteriormente, verificou-se a utilização de indicadores de natureza social, como é o caso das medidas de qualidade da habitação e qualidade de vida. A maior parte dos pesquisadores do assunto concordam com o uso de variáveis ligadas a aspectos como renda e condições de habitação, como indicadores do nível sócioeconômico de uma população e também como possíveis determinantes associados ao nível de mortalidade. Desse modo, foram definidas como variáveis dependentes as taxas de mortalidade padronizadas para as causas de mortes selecionadas e como variáveis explicativas as indicadas abaixo, juntamente com seus respectivos códigos, entre parênteses, que serão utilizados na modelagem: (1) Produto Interno Bruto per capita (PIB), é a razão entre o somatório da renda pessoal de todos os indivíduos e o número total destes indivíduos na unidade familiar. (2) Número de leitos hospitalares por habitante (Leitos); (3) Relação entre a população urbana e a total (Urbana); (4) Número de benefícios concedidos por habitante idoso (INSS); (5) Número de viúvos por habitante idoso (Viuvo); (6) Coeficiente de Letalidade (Letal), que representa o número de óbitos informados para cada 100 internações; (7) Esperança de vida ao nascer (ESPVIDA), é dada pelo número médio de anos que as pessoas viveriam a partir do nascimento. Da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, extraiu-se o indicador (3), baseado nos dados dos recenseamentos gerais de 1980, volumes de Mãode-Obra, Famílias e Domicílios (1983); recenseamentos gerais de 1991, volume de Mão-de-Obra, Famílias e Domicílios (1995); Anuários Estatístico do Brasil (1996, 1994) de onde foram obtidos os indicadores (2), (4), (5) e (6). Do IPEA, IBGE, PNUD e Fundação João Pinheiro (1998) foram obtidos dados para os indicadores (1) e (7), referentes aos anos de 1980, 1991 e 1995. Para o ano de 1980 não estão disponíveis dados sobre o Coeficiente de Letalidade e para o ano de 1995, dados sobre o número de viúvos. 6 Quadro 1-Classificação dos estados de acordo com o percentual de óbitos com causas desconhecidos para as unidades da federação por sexo MASCULINO 0-15 16-30 31-50 51-75 76e+ RJ, SP, DF MG, PR, SC, RS, MS, RR, AP, ES, MT, GO RO, AC, AM, PA,PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA, MA FEMININO SP, DF MG, RJ, PR, SC, RS, AP, ES, MS, MT, GO, RR RO, AC, AM, PA, MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA, 0-15 16-30 31-50 51-75 76e+ (*) Nota: Por percentual de óbitos com causas desconhecidas se entende como a contribuição dos percentuais do sub-registro de óbitos e das causas maldefinidas. 3. Metodologia Foram geradas taxas de mortalidade, por causa básica de morte e sexo, para todas as unidades da federação. A investigação da associação das taxas de mortalidade com os indicadores e variáveis sócioeconômicas foi feita através do uso de modelos de regressão. Foram abordados, a princípio, os modelos de regressão linear múltipla, ajustados de forma simultânea ao conjunto de indicadores definidos e, posteriormente, através do procedimento “stepwise”. Este método consiste na escolha de uma melhor equação de regressão, aqui usado pelo processo “backward” que, por sua vez, consiste na retirada de variáveis até chegar ao mais adequado modelo final de regressão. Searle (1971), Draper e Smith (1981). Tomando como referência o ano de 1995, foram feitos ajustes retirando os estados de SE, GO, DF, RR e MA para o sexo feminino e SE, GO, DF, AP, MA, AL e RO para o sexo masculino, que apareceram com maior frequência nas causas de morte entre os considerados mal ajustados (outliers). Com a retirada dos referidos estados também para 1980 e 1991, para ambos os sexos, verificou-se uma expressiva melhora no coeficiente de determinação (R²). Assim, os resultados encontrados para os ajustes 7 dos modelos de regressão múltipla dizem respeito apenas aos modelos finais selecionados para o caso de retirada dos estados atípicos. 4. As causas de óbitos Dados da WHO (1995) relativos às principais causas de morte em todo o mundo em 1998, mostram o predomínio das doenças cardiovasculares, e a forte associação com fatores introduzidos pelo estilo de vida adotado nos países industrializados - o estresse, hábitos sedentários e obesidade. Ainda como a décima causa mais importante de óbito, aparece os acidentes de trânsito e com destaque semelhante as causas associadas ao comportamento humano: câncer do aparelho respiratório A tuberculose e as infecções respiratórias agudas, doenças tradicionalmente associadas à pobreza, mantém sua importância, e a presença da AIDS, desconhecida até duas décadas atrás, se encontra como a quarta causa de óbito em todo o globo (Waldman, 1998). No Brasil, para os idosos, o cenário não tem se comportado de forma diferente. Para observar as particularidades de cada grupo de causas, o Gráfico 1 mostra as taxas de mortalidade para cada 100.000 idosos. A hierarquia das quatro principais causas de óbitos para ambos os sexos não se modificou no período 1980-1995 tanto em termos de taxas como em percentuais. O cenário foi dominado pela doenças do aparelho circulatório seguido das causas mal definidas, das neoplasias e do aparelho respiratório. Juntas, a primeira e a terceira causa, em 1980, foram responsáveis por cerca de 55% do total de óbitos, caindo para 50% em 1995, sendo que as doenças do aparelho circulatório diminuíram sua importância relativa no mesmo período enquanto as neoplasias ascenderam. As mal definidas também apresentaram queda de 23% para 20%, sugerindo uma melhoria no diagnóstico e na qualidade da informação sobre causas de óbitos Em relação às causas mal definidas, sua análise é muito útil para questionar os serviços de saúde e diagnóstico, e para avaliar a qualidade dos dados de óbitos. Este grupo de causas ainda está associado basicamente às condições de vida desiguais na nossa sociedade e a qualidade da assistência à saúde, representadas pelo modo e estilo de vida, falta de acesso aos serviços, pela ineficiência das políticas públicas e natureza da estrutura sócio econômica predominante. Este capítulo da CID (Sinais, Sintomas e 8 Gráfico 1: Taxas de mortalidade padronizadas dos grupos de causas de acordo com o CID por sexo. Brasil 1980/91/95 M AS CULINO 1980 1991 3000 1995 Ób ito s /100000 h ab . 2500 2000 1500 1000 500 0 I. D oencas II. III. D oencas IV . D oencas V .Doencas do V I. D oencas V II. S intomas V III.Caus as IX .D emais inf eccios as e N eoplas mas endoc nutr ic do apar elho apar elho do apar elho s inais e exter nas caus as metab e tr ans t cir culator io r es pir ator io diges tiv o af eccoes mal par as itar ias def inidas imunitar C A USA S DE ÓBIT OS FEMININO 1980 1991 1995 3000 Óbitos /100000 hab. 2500 2000 1500 1000 500 0 I. Doencas II. infeccios as e Neoplas mas par as itar ias III. Doencas IV . Doencas V .Doencas V I. Doencas V II. S intomas V III.Caus as IX .Demais endoc nutr ic do apar elho do apar elho do aparelho s inais e exter nas caus as metab e circulator io res pirator io diges tivo afeccoes mal definidas tr ans t imunitar 9 CAUSAS DE ÓBITOS Afecções Mal Definidas (SSAMD) corresponde genericamente, “a diagnósticos imprecisos ou mesmo a falha do atestante que, sem ter realizado um exame das causas ou condições mórbidas que teriam levado ao óbito, lança um diagnóstico dúbio, impreciso”. É preocupante o fato das causas mal definidas persistirem em segunda posição em termos de percentuais para ambos os sexos durante todo o período analisado (Gráfico 1), embora tenha havido um decréscimo das taxas de mortalidade e participação percentual. Seus percentuais praticamente não apresentaram diferenças entre os sexos e sua importância relativa aumentou à medida que se avança nos grupos etários para ambos os sexos (Paes, 1999). Chaimowicz (1997), chama atenção para o fato de que no Brasil, em 1994, 60% de todos os atestados incluídos na categoria SSAMD, referiam-se aos óbitos de idosos, refletindo as deficiências na notificação (ou no atendimento) a esta parcela da população. No entanto, Preston (1984) e Paes (1993) consideram que cerca de 75% de óbitos com causas definidas se constitui em uma magnitude satisfatória para se extrair conclusões sobre as tendências e comportamentos das causas de óbitos no país 5. Panorama regional Estudando a mortalidade adulta no país, Paes (1999), encontrou que os estados apresentaram diversos níveis de mortalidade revelando desigualdades nas condições de vida de sua população. Essas diferenças no quadro das doenças, também chamadas de terceiro mundo, pobreza ou do subdesenvolvimento, não se apresentou uniforme entre os estados, mas sofreu distintas variações para cada região, num peculiar contexto de mudanças no perfil epidemiológico. Monteiro (1997), estudando as diferenças regionais no crescimento da população idosa, observou que a proporção da população com sessenta anos ou mais cresceu em ritmos diferentes nas grande regiões do Brasil, aumentando as diferenças regionais, formando nitidamente dois grupos após a década de 1980: as regiões Nordeste, Sudeste e Sul apresentam, por razões diferentes, as maiores proporções de população idosa. No Sudeste e Sul, a redução da fecundidade foi o principal fator, mas no Nordeste a emigração de população em idade reprodutiva também contribuiu significativamente para este envelhecimento. No entanto nas regiões Norte e Centro-Oeste, que nas últimas décadas receberam significativo contingente de adultos jovens, o crescimento da população idosa não ocorreu num ritmo tão intenso, apresentando proporção menor de 10 idosos em 1991. Deste modo, as características regionais estão refletidas nos diversos grupos de causas de óbitos, cuja discussão é feita para as três causas mais importantes na mortalidade dos idosos conforme ilustrado no Gráfico 1. 5.1. Doenças do Aparelho Circulatório Este grupo representa a principal causa de morte em adultos em vários países do mundo, atingindo grandes contingentes populacionais. A situação não é diferente para os idosos, com as transformações ocorridas nos padrões de morbimortalidade. Estas doenças tem sido principalmente associadas com fatores introduzidos pelo estilo de vida - o estresse, hábitos sedentários e obesidade (Waldman, 1998) As doenças cardiovasculares no Brasil para os idosos despontaram como a principal causa de óbitos para ambos os sexos durante o período de 1980 a 1995, sendo proporcionalmente mais importantes para o sexo feminino, correspondendo a aproximadamente 40% do total dos óbitos. Mas, a despeito de sua importância, foi verificado um decréscimo na mortalidade durante o período analisado (1980-95) para ambos os sexos, particularmente para as mulheres com exceção, para este último, apenas para Roraima, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (Gráfico 2). A diminuição em ambos os sexos ocorreu em todas as regiões brasileiras independente do se grau de desenvolvimento e qualidade dos dados. Deve-se a uma redução efetiva dos níveis de mortalidade possivelmente a programas educativos voltados para mudanças de hábitos alimentares e do diagnóstico e tratamento precoces. Como sub-causa de óbito, para a doença cerebrovascular, ocorreu uma tendência geral de decréscimo na mortalidade para os grupos de estados de melhor qualidade das estatísticas vitais, e um comportamento oposto para os grupos de maior percentual de óbitos desconhecidos. Em relação às doenças da circulação pulmonar, outra importante sub-causa, observou-se uma tendência de queda nas taxas de mortalidade em todos os grupos classificatórios para ambos os sexos, sendo exceção alguns estados da região Nordeste, e poucos estados do Norte e Centro-Oeste. Por outro lado, o comportamento do infarto agudo do miocárdio foi semelhante ao da doença cerebrovascular, ou seja, uma diminuição na mortalidade dos grupos de estados de menor percentual de óbitos desconhecidos e um aumento nos demais grupos classificatórios. A explicação para o decréscimo geral da mortalidade no país para os idosos em relação às Doenças do Aparelho Circulatório tem como maior responsável os 11 estados que compõem os primeiros grupos, onde se encontram as unidades da federação de maior peso populacional. 5.2. Neoplasias Malignas Os dados de mortalidade tornam-se a principal fonte de informação para se conhecer as tendências e os padrões de distribuição do câncer. Para alguns tipos de câncer, a mortalidade é um bom estimador da incidência, como no caso de tumores altamente letais como os de esôfago, fígado e pâncreas (Mendonça e Teixeira, 1995). No Brasil, o câncer é a segunda causa de morte por doença, só superado pelas doenças cardiovasculares. Fatores como a urbanização, a industrialização e o aumento da expectativa de vida, contribuem para o aparecimento de um maior número de casos de doenças, entre elas o câncer. Ele atinge predominantemente indivíduos de faixas etárias mais idosas e torna-se um sério problema de saúde para este estrato da população. Acima dos 50 anos de idade, a incidência de câncer é mais elevada entre as mulheres, ao passo que após os 60 anos ela aumenta entre os homens (Mendonça e Teixeira, 1995). Com as transformações demográficas observadas nos últimos anos e com a estimativa de que o Brasil será o sexto país com o maior contingente de idosos do mundo (Veras, 1994), consequentemente aumentará as taxas brutas e o peso relativo do câncer no perfil de morbimortalidade. No contexto nacional, foi verificado um acréscimo na mortalidade por doenças neoplásicas, traduzindo-se tanto no aumento da participação percentual como no risco de morte por esse grupo de causas, durante o período analisado. As neoplasias (Gráfico 3) foram mais importantes no sexo masculino, diferentemente do verificado para a população em idade ativa (10 a 64 anos), Paes (1999). Entre os homens, os estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amapá, Goiás, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba., Alagoas e Sergipe apresentaram acréscimo na mortalidade. Para as mulheres, um acréscimo ocorreu para Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Acre, Amazonas e para todos os estados do Nordeste, exceto Piauí. Para ambos os sexos, foi verificado que a maioria das unidades da federação apresentou um decréscimo na taxa de mortalidade por câncer de estômago, sendo este mesmo comportamento observado para a população idosa (PAES, 1999). Este descenso nos estados predominou em todas as classificações adotadas, o que sugere que indiferentemente da qualidade dos dados esta tendência ocorreu no país durante o período analisado. Tumores do estômago podem ser benignos e malignos, sendo os últimos os mais prevalentes. Adenocarcinomas são os mais comuns dos tumores 12 malignos (97% ou mais de todos os cânceres gástricos são predominantemente linfomas (Howson, Hiyama e Wynder, 1986). No Brasil, a mortalidade adulta por câncer de estômago entre 1980-1991, apresentou uma menor representatividade e uma diminuição no período. Essa tendência de redução tem sido descrita em diversos países desenvolvidos e investigações epidemiológicas sugerem estar mais relacionados a mudanças de alguns hábitos alimentares e a progressiva substituição de antigos processos de conservação dos alimentos pela refrigeração. A Neoplasia Maligna do Cólon apareceu na população idosa como uma importante causa de óbito, fato não verificado entre os adultos (10 a 64 anos), ocorrendo uma tendência geral de acréscimo na mortalidade por essa categoria de neoplasia para ambos os sexos. Para as Neoplasias de Traquéia, Brônquios e Pulmões, o padrão de mortalidade também foi de aumento, sendo que, para ambos os sexos, todos os estados do eixo Sul-Sudeste apresentaram um acréscimo na mortalidade no período analisado, sugerindo um maior grau de confiabilidade para o comportamento proposto, já que nestas regiões se encontram os estados de melhor qualidade de estatísticas vitais. O câncer de próstata , juntamente com as neoplasias de estômago e do sistema respiratório, despontou como importante causa de óbito na população idosa, apresentando um aumento no risco de morte para todas as unidades da federação, sendo exceção apenas os estados do Amapá e do Acre, que são estados detentores de estatísticas vitais não tão confiáveis, o que poderia refletir uma falsa tendência no comportamento. Assim como verificado para a população adulta, os canceres ginecológicos apresentaram um papel de destaque na mortalidade idosa por doença neoplásica. Em relação ao Neoplasia Maligno de Mama feminina, a maioria das unidades da federação apresentou um acréscimo na mortalidade durante o período analisado, com exceção do Distrito Federal e dos estados do Amapá e da Paraíba. 5.3. Doenças do Aparelho Respiratório. Estudo sobre a mortalidade adulta no Brasil (Paes, 1999), revelou que as doenças respiratórias ainda permanecem como importante causa de óbito. Estas, ocuparam entre os grupos de causas da população adulta, a quinta principal causa de morte para ambos os sexos. O resultado das taxas revelou que o risco de morte por doenças respiratórias foi mais freqüente na população masculina e que as taxas femininas destas doenças, variaram relativamente pouco. 13 Este grupo de causas de morte, vem ganhando importância particularmente entre idosos e portadores de doenças crônicas, naquelas infecções oportunistas, principalmente em portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida-AIDS (Laurenti, 1981). Os resultados encontrados por Paes (1999) não diferiu em comportamento daquele encontrado para os idosos. As doenças do aparelho respiratório apresentaram para ambos os sexos taxas de mortalidade em geral inferiores a 1000/100000 hab para a maioria das unidades da federação, sendo este grupo de causas mais importante nos estados das regiões Sul e Sudeste e as maiores taxas de morte foram observados para os homens. Independentemente da classificação de qualidade dos dados adotada, houve no período 1980-1991 uma elevação das taxas de mortalidade em ambos os sexos para a maioria das unidades da federação, particularmente para os homens (Gráfico 4). As principais sub-causas das Doenças do Aparelho Respiratório foram a pneumonia e bronquite crônica, enfisema e asma. Lessa (1998), considera a bronquite crônica, asma e enfisema pulmonar, doenças crônicas não transmissíveis de importância social e que determinam maior impacto populacional em gravidade e em mortalidade. O conhecimento sobre o comportamento destas doenças ainda são escassos no Brasil. A pneumonia é considerada a mais temida destas infecções, pois varia conforme o nível sócio-econômico das populações afetadas, e assume especial relevância nos países considerados em desenvolvimento (Niobey et al, 1992). Ambas enfermidades apresentaram um padrão de mortalidade antagônico no período analisado, as pneumonias acusaram um acréscimo nas taxas de mortalidade para a maioria das unidades da federação, e a segunda um decréscimo para ambos os sexos. Gráfico 2: Taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório por sexo, segundo o percentual de óbitos desconhecidos para as unidades da federação. Brasil 1980-95. 1980 MASCULINO 6000 1991 1995 Óbitos/100,000 hab 5000 4000 3000 2000 1000 0 SP RJ 0-15% DF MG PR SC 16-30% RS MS MT ES 31-50% RR AP GO PA PI RO AC GRUPOS DOS ESTADOS 6000 AM 51-75% CE RN PB PE AL SE BA MA 76E+ 1980 FEMININO 1991 1995 Óbitos/100000 hab 5000 4000 3000 2000 1000 0 SP 14 DF 0-15% RJ MG PR 16-30% SC RS AP ES MS 31-50% MT GO RR RO GRUPOS DOS ESTADOS AC AM PA PI CE 51-75% RN PB PE AL SE BA MA Gráfico 3: Taxa de mortalidade por neoplasias por sexo, segundo o percentual de óbitos desconhecidos para as unidades da federação. Brasil 1980-95. 1980 MASCULINO 2000 1991 1995 1800 Óbitos/100,000 hab 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 SP RJ 0-15% DF MG PR SC 16-30% RS MS MT ES 31-50% RR AP GO PA PI RO AC GRUPOS DOS ESTADOS 2000 AM 51-75% CE RN PB PE AL SE BA MA 76E+ 1980 FEMININO 1991 1800 1995 Óbitos/100000 hab 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 SP DF 0-15% RJ MG PR 16-30% SC RS AP ES MS 31-50% MT GO RR RO AC GRUPOS DOS ESTADOS AM PA PI CE 51-75% RN PB PE AL SE BA MA Gráfico 4: Taxa de mortalidade por doenças do aparelho respiratório por sexo, segundo o percentual de óbitos desconhecidos para as unidades da federação. B rasil 1980-95. 1980 MASCULINO 2000 1991 1995 1800 Óbitos/100,000 hab 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 SP RJ 0-15% DF MG PR SC 16-30% RS MS MT ES 31-50% RR AP GO PA PI RO AC AM 51-75% CE RN PB PE AL SE BA MA 76E+ GRUPOS DOS ESTADOS 1980 1991 1995 FEMININO 2000 1800 Óbitos/100000 hab 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 SP 15 DF 0-15% RJ MG PR 16-30% SC RS AP ES MS 31-50% MT GO RR RO GRUPOS DOS ESTADOS AC AM PA PI CE 51-75% RN PB PE AL SE BA MA 6. Associação das taxas de mortalidade com indicadores socioeconômicos Os resultados obtidos para a população idosa masculina e feminina, com o uso do procedimento “stepwise”, encontram-se nos Quadros 2 e 3, respectivamente, onde são apresentados, para cada variável selecionada, no modelo final, o coeficiente, t-valor e a probabilidade de significância, além do coeficiente de determinação, R2. 16 Quadro 2. Modelos finais do relacionamento dos grupos de causas de óbitos com variáveis sócioeconômicas da população idosa. Brasil, masculino: 1980 - 1991 - 1995 1980 1991 1995 Variável Valor-t Significância Variável Valor-t Significância Variável Valor-t Significância Doenças do Aparelho Circulatório Circ - M = - 1643 + 846 PIB + 472 Viuvo Circ - M = - 12186 + 62.8 Urbana + 148 Esp vida 2 Circ - M = - 1233 + 364 PIB + 3174 Leitos + 204 Letal 2 R = 93.6% R2 = 89.4% R = 76.3% PIB 12.44 (1) Urbana 4.71 (1) PIB 7.53 (1) Viuvo 2.58 (2) Esp vida 2.54 (2) Leitos 2.81 (2) Letal 2.09 (3) Neoplasmas Malignos Neopla-M = - 397 + 187 PIB + 1125 Leitos Neopla-M = - 818 + 238 PIB + 190 Viuvo R² = 89.4% Neopla-M = - 470 + 157 PIB + 184 Letal R² = 70.2% R² = 86.9% PIB 5.80 (1) PIB 5.01 (1) PIB 6.82 (1) Leitos 3.14 (1) Viuvo 2.15 (2) Letal 4.02 (1) Doenças do Aparelho Respiratório Respir-M = - 310 + 113 PIB + 935 Leitos Respir-M = - 5314 + 22.8 Urbana + 64.3 Esp vida Respir-M = - 591 + 146 PIB + 238 Letal R² = 86.9% R² = 78.1% R² = 81.0% PIB 4.56 (1) Urbana 4.67 (1) PIB 4.83 (1) Leitos 3.41 (1) Esp vida 3.02 (1) Letal 3.97 (1) (1) Significativo ao nível de 1% (2) Significativo ao nível de 5% (3) Significativo ao nível de 10% Quadro 3: Modelos finais do relacionamento dos grupos de causas de óbitos com variáveis sócioeconômicas da população idosa. Brasil, feminino: 1980 - 1991 - 1995 1980 Variável Valor-t 1991 Significância Variável Valor-t 1995 Significância Variável Valor-t Significância Doenças do Aparelho Circulatório Circ-F = 172 + 435 PIB + 3068 Leitos - 133 INSS Circ-F = - 819 + 378 PIB + 2743 Leitos Circ-F = - 86 + 210 PIB + 283 Letal R² = 95.8% R² = 83.2% R² = 82.7% PIB 7.32 (1) PIB 6.96 (1) PIB 6.14 (1) Leitos 3.77 (1) Leitos 3.55 (1) Letal 4.00 (1) INSS -2.61 (2) Neoplasmas Malignos Neopla-F =-173+73.4PIB+ 773Leitos+ 101Viuvo-38.2INSS Neopla-F = - 304 + 124 PIB + 72.6 Viuvo Neopla-F = - 158 + 65.3 PIB + 118 Letal R² = 97.5% R² = 90.5% R² = 93.1% PIB 6.40 (1) PIB 11.82 (1) PIB 9.16 (1) Leitos 5.24 (1) Viuvo 3.71 (1) Letal 7.98 (1) Viuvo 4.02 (1) INSS -3.65 (1) Doenças do Aparelho Respiratório Respir-F = 18.4 + 76.6 PIB Respir-F = - 242 + 103 PIB + 545 Leitos R² = 70.7% PIB 6.77 (1) (2) Respir-F = - 166 + 73.6 PIB + 91.3 Letal R² = 82.9% (1) R² = 78.6% PIB 7.42 (1) PIB 5.53 (1) Leitos 2.77 (2) Letal 3.32 (1) Significativo ao nível de 1% Significativo ao nível de 5%. 2.17 6.1. Doenças do Aparelho Circulatório De acordo com o Quadros 2 e 3, a modelagem das taxas masculinas de mortalidade por doenças do aparelho circulatório, forneceu modelos finais, para os três anos, formado por distintas variáveis, com exceção do PIB que aparece tanto no modelo para 1980, quanto em 1995, sendo que o primeiro teve ainda como variável explicativa VIUVO, e o segundo apresenta LEITOS e LETAL, como componentes do modelo. O ano de 1991 possui como modelo explicativo a equação composta por URBANA e Esp Vida. Em todos os anos as variáveis explicativas apresentaram-se com coeficientes positivos, além de terem sido aceitas com nível de significância inferior a 10%, exceto a variável Letal ao nível de 10% de significância. Estes resultados indicam uma maior mortalidade para estados com maior PIB e uma maior quantidade de viúvos, no ano de 1980, para estados com um maior grau de urbanização e uma maior expectativa de vida, em 1991 e, para estados com um maior quantidade de leitos, maior PIB e maior quantidade de óbitos por internações hospitalares, no ano de 1995. Quanto ao sexo feminino, as variáveis que compuseram o modelo final em 1991 foram PIB e LEITO, e a essas juntou-se INSS no modelo final de 1980, com efeito negativo. Todas elas foram significativas ao nível de 5%. Também com coeficientes positivos, aparecem PIB e LETAL, ambas ao nível de 1% de significância, para 1995. Tais associações indicam, para este ano uma diversidade de variáveis que variaram no tempo e em ambos os sexos. Fica difícil, assim, explicar de forma simples a importância dos fatores sociais e econômicos na mortalidade da população idosa. No entanto, a variável PIB se constituiu no fator com maior influência durante todo o período em ambos os sexos na mortalidade por causas do aparelho circulatório. 6.2. Neoplasmas Malignos Os modelos finais para o sexo masculino em todos os anos apresentaram a variável PIB como significativa. A ela, com o mesmo nível de significância de 1%, juntou-se em 1980, 1991 e 1995, respectivamente, as variáveis LEITO, VIUVO e LETAL. Pode-se concluir que durante todos os períodos, sugere-se uma maior taxa de mortalidade em estados com perfis econômicos mais elevados da população idosa, representado pelo coeficiente positivo da variável PIB nas equações. Sendo que em 1980, uma maior quantidade de óbitos adveio, também, de estados com um maior número de leitos hospitalares, em 1991, estados com uma maior quantidade de idosos viúvos e em 1995, estados com maior número de óbitos por internações. De modo similar, no caso dos idosos do sexo feminino, o ano de 1991 e 1995 teve em seus modelos finais constituídos pelas mesmas variáveis explicativas. Para 1980, este se apresenta como o ano mais rico em variáveis explicativas no modelo final, PIB, Leitos, Viuvo e INSS, tendo este último coeficiente negativo, sugerem uma maior mortalidade por neoplasmas malignos, em estados com maior grau de desenvolvimento, maiores taxas de leitos hospitalares disponíveis, 2.18 além de elevadas taxas de viuvez e pequeno número de beneficiários da previdência social. Do mesmo modo como ocorreu para a morte por doenças do aparelho circulatório, as mortes por neoplasmas tiveram uma forte associação com o rendimento per capita da família durante todo o período. Com graus diferentes de intensidades, as variáveis de cunho social e econômico, como Leitos, Viuvez e Letalidade tiveram seus efeitos significativos com as doenças crônicas e degenerativas em momentos diferentes durante todo o período de 1980-95. 6.3. Doenças do Aparelho Respiratório Esta causa apresentou grande quantidade de variáveis explicativas nos modelos finais. Para 1980, no sexo masculino, PIB e Leitos, ambas a 1% de significância, foram as selecionadas, demonstrando que houve uma maior mortalidade em estados com maior poder econômico e maior acesso a leitos hospitalares. Já em 1991, estados com maior grau de urbanização e um maior índice de expectativa de vida, apresentam-se como detentores de maiores taxas de óbito. E, para 1995, aparecem PIB e Letal como variáveis explicativas selecionadas, referindo a estados com maior nível econômico e com maiores coeficientes de letalidade. Para o sexo feminino, a população idosa quando acometida por tal patologia, teve no ano de 1980 sua variável selecionada no modelo apenas o PIB ao nível de 1% de significância. Porém nos períodos de 1991 e 1995, além da variável econômica, aparecem nos respectivos modelos, a variável Leitos (1991) e Letal (1995), ou seja, em 1991 a associação indica um maior número de óbitos em estados com maior poder econômico e um maior acesso a leitos hospitalares, enquanto que em 1995, afora o fator econômico estados com maior número de óbitos por internações. Para ambos os sexos, o PIB foi a variável com maior poder explicativo durante o período de 1980 e 1995 na mortalidade por doenças respiratórias. De fato, os níveis de mortalidade por esta causa se mostraram nos estados da regiões Sul e Sudeste, mais desenvolvidas economicamente. 7-Conclusões Traçar o panorama regional de mortalidade para o Brasil é uma atividade complexa em virtude do comportamento diferencial entre os estados para uma mesma causa de óbito e a qualidade das estatísticas de óbitos. O envelhecimento da população brasileira também não vem ocorrendo de maneira homogênea no país. Os diferentes resultados para o risco de morte da população idosa permitem demonstrar as profundas desigualdades nos níveis de saúde e nas diferentes regiões do país. 2.19 Apesar do envelhecimento da população brasileira ser irreversível e expressar uma melhoria das condições de saúde da população, o cuidado ou a atenção do sistema de saúde com este estrato populacional, não está preparado para um número cada vez maior de pessoas que tem doença crônica, incapacidade associada, e que certamente demandam consultas, serviços, diagnósticos, remédios e internações. O panorama da mortalidade do idoso no Brasil e das unidades da federação foi distinto e não obedeceu a uma ordem espacial clara para as principais causas de morte. Interessante achado foi o de que a qualidade distinta na magnitude da declaração de causa básica do óbito dos estados brasileiros parece não interferir nas tendência das taxas de mortalidade. O decréscimo ou aumento desse indicador para as causas de morte não estão limitados a espaços físicos ou aspectos como os níveis de desenvolvimento regional. Os resultados dos comportamentos sugerem independência entre estes fatos e a qualidade dos dados. Os resultados, no entanto, não autorizam nenhuma afirmação de crédito aos níveis de mortalidade que são claramente subestimados particularmente para os estados com maiores limitações da qualidade das declarações de óbitos. As peculiaridades de cada lugar e as informações encontradas, fazem crer que muito se tem ainda a estudar nos perfis de saúde dos idosos brasileiros. Na investigação da associação entre indicadores sócio-econômicos e a mortalidade dos idosos por grupos de causas, o ponto central não foi a busca de um melhor modelo, mas sim a identificação de variáveis com contribuição significativa para as variáveis-resposta, representadas pelas taxas de mortalidade padronizadas para os grupos de causas de óbito selecionados. Os modelos finais obtidos pela aplicação do modelo normal propiciaram um conjunto de resultados com associações divergente com relação às variáveis empregadas, dependendo do sexo e do ano investigado. Duas foram as causas de mortes com maior contribuição percentual na mortalidade dos idosos: as doenças do aparelho circulatório e os neoplasmas malignos. Em uma tentativa de sintetizar as investigações realizadas, pode-se dizer que, independente do ano, tanto para os homens como para as mulheres as variáveis com maior força de representação nas associações com o grupo de causa básica de óbitos por doenças do aparelho circulatório foram o PIB, LEITOS e LETAL. Sugere-se, assim, uma maior mortalidade para estados com maior nível de renda, maior oferta de leitos hospitalares e maior índice de mortes por internações, ou seja, foi o poder econômico da população o atendimento à saúde desta população, os fatores diretamente relacionados com as mortes por este tipo de causa. Para os neoplasmas malignos, obteve-se como variáveis mais presentes neste grupo de causa de morte o PIB (com ocorrência em todos os anos) e VIUVO. Este resultado sugere que o risco de morte por esta causa foi maior para os estados com o nível econômico mais elevado e coeficiente de viuvez mais acentuado. 2.20 8. Referências Bibliográficas BEAGLEHOLE, R.; BONITA, R. Public health at the crossroads. Cambridge University Press, 1997. BRAVO, JORGE e VARGAS, NELSON. Tendencias y flutuaciones de la morbilidad y la mortalidad por ciertas causas y la actividad economica: Costa Rica, Chile y Guatemala, 1960-1986. In Notas de Poblacion, Santiago, Chile, n.53, p 117145, ago/1991. CERQUEIRA, C.A. Mortalidade por causas nas capitais brasileiras e suas associações com indicadores Tese de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1998. sócioeconômicos. CHACKIEL, JUAN. Studies of causes of death in Latin America current situation and future perspectives. International Union for the Scientific Study of Population ans Institute of Statistics University of Siena, Siena, Italy, p 1-30, July 1986. CHACKIEL, J.; PLAUTE, R. América Latina; Tendências Demográficas con Enfasis en la Mortalidad. In Notas de Poblaciòn, CELADE. Ano XXII, 12, Nº 60, 1994. DRAPER, N.R. and SMITH , H. Applied Regression Analysis, 2nd ed. New York: J.Wiley & Sons, 1981. FRENK, J., FREJKA, T., BOBADILLA, J.L., STERN, C. et al. La transition epidemiológica en América Latina. Bol. Of. Sanit. v.111, n.6, p. 485-96, 1991. FUNDAÇÃO IBGE. IX Recenseamento Geral do Brasil - 1980 - Censo Demográfico (Brasil e Estados). FIBGE, Rio de Janeiro,1983. -------- X Recenseamento Geral do Brasil - 1991 - Censo Demográfico (Brasil e Estados) - FIBGE, Rio de Janeiro, 1995. -------- Anuário estatístico do Brasil - FIBGE, Rio de Janeiro, 1996. -------- Anuário estatístico do Brasil - FIBGE, Rio de Janeiro, 1994. -------- Resultados da Assistência Médico-sanitária - FIBGE, Rio de Janeiro, 1990. -------- Resultados da Assistência Médico-sanitária - FIBGE, Rio de Janeiro, 1992. GRUSKA, CARLOS O. Mortalidad adulta en Argentina. Tendencias recentes, causas y diferenciales. In Notas de Poblacion, Santiago, Chile, n.61, p 111,145, jun/1995. HOWSON CP. HIYAMA T & WYNDER EL. The decline in gastric cancer: epidemiology of an unplanned triumph. Epidemiologic Reviews. 1986: 1-27. IPEA, IBGE, PNUD, FJP, Atlas do Desenvolvimento Humano, Brasília, 1998. LAURENTI, R. Doenças respiratórias como causa de morte no município de São Paulo, SP (Brasil) Revista de Saúde Pública. São Paulo. Vol 15-353-363, 1981. LESSA, I. Outras doenças crônicas não transmissíveis de importância social. In: Lessa, I. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade - epidemiologia das doenças crônicas não transmissíveis. São Paulo- Rio de Janeiro: HUCITEC/ABRASCO, 1998. 284p. MENDONÇA, GAS. TEIXEIRA, MTB. Câncer: um sério problema para a população idosa. Terceira Idade. Um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Org. Renato Veras. Relume-Dumará. UNATI/UERJ, 1995. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Sistema de Informações de Mortalidade, CD-ROM, 1979-1996. DF, 1999. MONTEIRO, M.F.G., Transição Demográfica e seus efeitos sobre a saúde da população. In: Barata, R.B. (org.) Eqüidade e saúde: contribuições da epidemiologia. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO, 1997. 260p. NICHOLLS, ERIC S. Diferenciales de mortalidad en las enfermidades no transmissibles segun nivel socio-economico. International Union for the scientific study of population, Santiago, Chile, october, p 1-66, 1991. 2.21 NIOBEY, E.M.L. et al. Fatores de risco para mortes por pneumonia em menores de um ano em localidade urbana na região sudeste do Brasil. Um estudo tipo caso-controle. Revista de Saúde Pública. São Paulo, 26: 229-38, 1992. PAES, N.A ., Model Life Representation for Brazilian Mortality. Center for Population Studies, London School of Higyene and Tropical Medicine, University of London, (Tese de Doutorado), Londres, 1993. -------------, O poder explicativo dos registros de óbitos para estimar taxas de mortalidade no Brasil. Relatório de Pesquisa - CNPq. UFPB - CCEN - DE- (Processo No. 523401/96), João Pessoa. Fev. 1997. -------------. Mortalidade adulta no Brasil: tendências, diferenciais e causas. Relatório de Pesquisa - CNPq. UFPB CCEN - DE (Processo Nº 52.34401/96), João Pessoa. Fev. 1999. PNUD-IPEA-FJP-IBGE, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida: Indicadores Brasileiros ,Brasília 1998. PRESTON, S. H. Use of direct and indirect techniques for estimating the completeness of death registration systems, Data Bases for Mortality Measurement. (Bangkok, 20-23), New York: Unites Nations, 1984. PRESTON, SAMUEL H. Mortality Patterns in National Populations -With special reference to recorded causes os death. Academic Press. Inc., London, 195p., 1976. RAMOS, L.R. Envelhecimento populacional: um desafio à saúde pública. In: Pereira. Mª Dulce (Org) Idoso. Encargo ou Patrimônio? O envelhecer em São Paulo. Seminário Diagnóstico. PMSP. Proposta Editorial. São Paulo. 1992. RAMOS, R.L.& SAAD, P.M. Morbidade da população idosa. In: O Idoso na Grande São Paulo, Fundação SEADE, São Paulo, 1990. ROSERO-BIXBY, LUIS. La disminucion de la mortalidad de adultos en Costa Rica. In Notas de Poblacion, Santiago, Chile, n.60, p.103-140, dez.1994. RUZICKA, LADO T. and LOPEZ, ALAN D. Then use of cause-of-death statistics for health situation assesment: national and international experiences, 1990. SEARLE, S.R. Linear Models. New York, John Wiley, 1971. SICHIERI, ROSELY et ali. Geographical Patterns of proportionate mortality fot the most common causes of death in Brazil. In Revista de Saúde Pública, n. 26(6), São Paulo, p 424-430, 1992. VERAS, R.P. País jovem com cabelos brancos. A saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro. Relume Dumará, 1994. WALDMAN, EA. Vigilância em Saúde Pública. Volume 7.São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. Série Saúde e Cidadania. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report 1995: bridging the gaps. Genebra: WHO, 1995. 2.22