PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE LÍQUIDOS E AQUECIMENTO DIELÉTRICO Curso de Pós-Graduação em Química Universidade Federal do Mato Grosso Curso de Pós-Graduação em Física Universidade Federal de Santa Catarina Carlos Alberto Kuhnen Fevereiro de 2017 1 PROPRIEDADES DIELÉTRICAS E AQUECIMENTO DIELÉTRICO 1. Introdução O conhecimento das propriedades dielétricas dos materiais é essencial para o desenvolvimento apropriado de suas aplicações científicas, médicas e industriais. Assim o estudo de propriedades dielétricas abrange tanto interesses práticos envolvendo dielétricos em dispositivos de modo geral e o interesse do ponto de vista físico e químico na estrutura e dinâmica molecular da matéria condensada. O comportamento das propriedades dielétricas de uma solução eletrolítica, tal como a mistura reacional sob condições ácidas, é muito complexo. A presença de íons, com seus fortes campos elétricos, afeta as interações moleculares entre os solventes e o soluto e suas interações com campos elétricos aplicados. Além disso, para misturas reacionais, muitos parâmetros, tais como a densidade, volume, temperatura, concentração de reagentes e produtos, bem como intermediários (se houver), mudam à medida que a reação prossegue. Por conseguinte, qualquer tentativa de calcular analiticamente as propriedades dielétricas das misturas reacionais torna-se complexa, sendo na verdade, inviável, uma vez que muitos parâmetros devem ser levados em consideração. Citando apenas dois exemplos, vemos, por exemplo, que as propriedades dielétricas de líquidos e sua dependência com a temperatura é de importância considerável no estudo eletroquímico de eletrólitos. Também é de interesse o estudo das propriedades dielétricas de líquidos reagentes em processos nos quais as reações químicas são induzidas por aplicação de micro-ondas. Além do interesse prático no conhecimento das propriedades dielétricas de alimentos, materiais biológicos e fármacos com vasta aplicação na indústria e na pesquisa. Naturalmente quando nos referimos a propriedades dielétricas de um meio estamos nos reportando às respostas que este meio apresenta à aplicação de diferentes campos (campos elétricos e magnéticos estáticos, ondas eletromagnéticas). A propagação de uma onda eletromagnética em um meio é determinada pela permissividade e condutividade do meio. Assim estamos tratando da interação da radiação coma matéria e cuja descrição clássica adequada está assentada nas equações de Maxwell para meios macroscópicos. Assim o entendimento é de que tratamos de 2 meios lineares, cuja resposta (polarização e/ou magnetização) é linear no campo e o deslocamento elétrico D e a intensidade magnética são proporcionais aos campos elétrico e magnético respectivamente. Isto quer dizer que escrevemos D E e B H , com , (permissividade e permeabilidade) constantes (meio homogêneo e isotrópico) e independentes dos campos D e . A descrição adequada é agora feita por meio das equações de Maxwell na presença de fontes externas de carga ( ) e de corrente J : D B 0 (1) E B t H D J t Nosso interesse está na situação em que temos ausência de fontes e quando a densidade de corrente J é devida a resposta linear do meio à aplicação do campo (lei de Ohm) isto é, quando J E . Neste caso as equações de Maxwell fornecem a equação de onda para as componentes E e H do campo eletromagnético. Para a componente elétrica vem: (2) A solução geral da equação (2) é encontrada em qualquer livro texto de eletromagnetismo [1,2], sendo dada por: (r , t ) ˆ e k / c ei ( n / c t ) (3) Solução que representa uma onda com decaimento exponencial da amplitude à medida que se propaga no meio. A propagação da onda é descrita, portanto, em termos dos parâmetros óticos n e k. Para meios transparentes onde não ocorre absorção de energia eletromagnética, k=0 e a amplitude da onda permanece constante. Iremos tratar de meios em que 0 e onde a relaxação dielétrica é importante, isto é, ˆ ' i " (notar que são quantidades adimensionais, isto é, permissividade 3 relativa à do vácuo, 0 ). Em muitos líquidos a contribuição oriunda de uma condutividade do meio pode ser desprezível, mas por exemplo, ácidos fortes apresentam uma contribuição considerável, predominando em baixas frequências. Nesta situação define-se o índice de refração complexo, n̂ n ik e a permissividade complexa, a qual inclui a contribuição de condutividade, ou seja, ˆ ' i ( " ). 0 Desde que n̂ ˆ , vem: n2 k 2 ' e 2nk ( " ) 0 Que permite escrevermos as constantes óticas por meio da permissividade e condutividade: n 1 2 [ ' '2 ( " ) ] 2 0 k 1 2 [ '2 ( " ) '] 2 0 (5) A profundidade de atenuação da onda no meio corresponde à distância em que sua amplitude decai a 1/e de seu valor inicial, logo, Dp c / k , sendo uma característica do meio e que depende essencialmente da permissividade (para condutividades baixas e altas frequências). Normalmente expressamos as constantes óticas por meio da tangente de perda: tg ef / ' ; ef '' / 0 (6) E denominamos '' de perda dielétrica do meio, ou fator de perda do meio. Assim, n ' 2 [ 1 tg 2 1] k ' 2 [ 1 tg 2 1] (7) De modo que a profundidade de penetração da onda eletromagnética no material D p c / k fica expressa por: 4 c Dp ' 2 (8) [ 1 tg 1] 2 Ficando assim evidente que a penetração da onda eletromagnética em um meio depende essencialmente das propriedades dielétricas desse meio. A partir da equação 8 podemos ver dois limites, quando a tangente de perda é pequena temos Dp (2c / ) ' / '' ou seja, a profundidade de penetração é grande e D p quando '' 0 . Quando a tangente de perda é grande a equação 8 se reduz à Dp (c / ) 2 / '' ou seja, a profundidade de penetração é pequena e tende a zero à medida que '' cresce. A potência média de energia eletromagnética absorvida pelo meio pode ser obtida a partir das equações de Maxwell, considerando a propagação de uma onda em tal meio. A média temporal da energia eletromagnética absorvida é [2,3] : 2 2 1 1 P 0 ef E dv ' tg E dv Q / t 2 2 V V (9) Adiantamos que a permissividade e a condutividade em geral são dependentes da frequência do campo aplicado e diferentes processos ocorrem quando consideramos um amplo espectro de frequências. Excluindo-se processos não-lineares, como quando a permissividade (ou permeabilidade) são dependentes do campo aplicado, ou decorrentes de campos aplicados extremamente elevados, podemos distinguir três processos físicos associados a absorção de energia eletromagnética por um meio: condução iônica, relaxação dielétrica e ressonância dielétrica. A condução iônica prepondera em baixas e muito baixas frequências e não a levaremos em conta. Como o interesse é conhecermos a resposta de meio líquidos na faixa de micro-ondas (300 MHz a 300 GHZ ) devemos abordar a relaxação e ressonância dielétrica. 2. Modelos de relaxação dielétrica A relaxação dielétrica é a resposta de um meio que possui dipolos elétricos em seus constituintes básicos, à aplicação de um campo eletromagnético. Nesse caso os dipolos do meio tentam se alinhar com campo aplicado. Primeiramente devemos analisar o que ocorre com uma molécula perante um campo estático, onde as moléculas, 5 na ausência de campo, assumem um comportamento plenamente aleatório não tendo uma direção preferencial. No entanto quando o campo estático é aplicado elas se alinham completamente assumindo uma direção de orientação que vai de acordo com o sentido do campo. No caso de um campo oscilante os dipolos tentam seguir a mudança dele e então a molécula gira (figura 1) e devido a sua proximidade com outras moléculas acaba ocorrendo ainda um efeito de polarização adicional, pois, cada dipolo formado induz um momento dipolar em sua vizinhança e assim sucessivamente, essa polarização por indução é característica de moléculas que não possuem uma diferença muito grande na eletronegatividade de seus átomos constituintes. Quando a molécula está em movimento de rotação ela acabam se chocando com a sua vizinha e assim ocasiona um fenômeno chamado de fricção molecular. Figura 1. Moléculas na presença de um campo elétrico oscilante. A capacidade da molécula de alinhar com o campo depende da temperatura, massa molecular, viscosidade, grupos ligados, estrutura etc. Uma das grandezas que é utilizada para fazer essa medida é o tempo de relaxação (𝜏𝑟 ), que é o tempo necessário para o estabelecimento e decaimento das polarizações dos grupos/estruturas moleculares do interior do material quando o campo elétrico é aplicado ou desligado. Assim que o campo é desligado a molécula tende a voltar para sua posição original e o tempo que ela demora para realizar esse retorno é denominado como tempo de relaxação. O tempo de 1 relaxação está relacionado com a frequência de relaxação (𝑓𝑟 ) por meio de 𝑓𝑟 = 2пτ . A 𝑟 frequência de relaxação em um espectro dielétrico, corresponde ao ponto onde o fator 6 ′′ de perda (𝜀𝑒𝑓 ) é máximo como exemplificado na figura 2, onde mostra-se o espectro para um líquido com a água em várias temperaturas. Figura 2. Espectro dielétrico da água ultrapura e água solução aquosa 0,5 N de NaCl. Para se observar como a contribuição iônica pode se sobressair em relação a relaxação dielétrica ( ef '' / 0 ) na figura 2 mostra-se também a permissividade 7 da água com a adição de sal (0,5 N de NaCl). A presença de íons leva a um aumento considerável no fator de perda em baixas frequências devido a grande mobilidade desses íons. Veremos mais a frente outros líquidos e misturas onde a presença de íons afeta apreciavelmente as suas propriedades dielétricas. A frequência de relaxação ou o tempo de relaxação são utilizados em modelos teóricos que fornecem uma descrição do comportamento do sistema sob incidência de ondas eletromagnéticas em um determinado intervalo de frequência. Sendo que moléculas simples que apresentam somente uma frequência de relaxação (como a da água) podem ser descritas pelo modelo de Debye. Para construirmos um modelo para a permissividade de um meio, que é uma quantidade macroscópica, a partir de um modelo microscópico da constituição da matéria devemos empregar algumas simplificações que, de início, permitem uma solução analítica para o problema. Solução a partir da qual se podem buscar generalizações. Uma abordagem consiste em se empregar o modelo de Drude-Lorentz e outra diretamente a abordagem de Debye. È importante uma abordagem via modelo de Drude-Lorentz porque se explicita a relaxação dielétrica como um caso do modelo que é capaz de incluir a ressonância dielétrica, motivo pelo qual é apresentado em livros textos de eletromagnetismo. No modelo de Drude-Lorentz os elementos constituintes da matéria são entendidos como um conjunto de osciladores harmônicos amortecidos, isto é, cargas ligadas por forças restauradoras e forças dissipativas proporcionais à velocidade e submetidas a campos externos de frequência : Em Eˆmei (t r ) Em Eˆmeit Onde desprezamos a variação espacial do campo face às dimensões microscópicas do sistema comparado a comprimentos de onda entre um metro e um milímetro. A equação de movimento é : m d 2x dx G K0 x eEm ou 2 dt dt eE d 2x dx 02 x m 2 dt dt m (10) Com 0 sendo a frequência característica de oscilações do sistema e o coeficiente ˆ it com de amortecimento. Buscando a solução na forma complexa vem: x(t ) xê amplitude 8 xˆ eEm / m 2 i 2 0 (11) Portanto, temos um sistema de as cargas oscilantes, que na presença do campo geram uma polarização, P Nex no meio. Sendo a polarização uma resposta linear do meio à aplicação do campo, isto é, P ˆ E e usando a relação entre susceptibilidade elétrica ̂ e a permissividade, ˆ 0 (ˆ 1) obtemos a permissividade, p Ne 2 / m 0 (ˆ 1) 2 2 2 0 i 0 2 i 2 (12) Numa situação mais geral temos diferentes parâmetros 0 , , p e, portanto, (ˆ 1) i pi2 02i 2 i i (13) A ressonância dielétrica ocorre quando a frequência do campo é igual às frequências características 0i que o meio pode apresentar. As frequências características correspondem às oscilações decorrentes de interações entre átomos (em moléculas) e entre elétrons e átomos (átomos em moléculas) que são de alta energia, assim as faixas de frequências correspondentes abrangem a faixa de TeraHertz, o infravermelho, o visível, o ultravioleta e por último a faixa de raios X. Não iremos considerar a ressonância dielétrica desde que o interesse está na faixa de micro-ondas. Está claro acima que o modelo de Drude-Lorentz leva à ressonância dielétrica, mas não é aplicável para meios com alta absorção de energia eletromagnética na faixa de micro-ondas. Debye considerou corretamente que para uma grande variedade de materiais, em geral líquidos, se estabelece um mecanismo de absorção denominado de perda dielétrica e que surge quando as forças restauradoras e de amortecimento são importantes, mas os efeitos inerciais podem ser desprezados. Isto significa que desprezamos o termo de aceleração na equação de movimento, isto é, m d 2x dx G Cx eEm 2 dt dt 9 G dx Cx eEm dt (ˆ 1) Fornecendo como solução para a permissividade: C , o qual significa o tempo r G para o retorno ao equilíbrio após a remoção do campo, assim: Que colocamos em termos do tempo de relaxação, (ˆ 1) 1 Ne2 / 0 C iG (0) 1 1 i r (14) Que é a aproximação de Debye para a permissividade. Sendo (0) o valor estático da permissividade ( 0 ). A separação na parte real e imaginária fornece as equações de Debye: ( ' 1) (0) 1 1 ( r )2 '' ( (0) 1) r (15) 1 ( r ) 2 Resultados que podem ser expressos em termos da frequência f / 2 . Neste ponto lembramos que devemos tratar explicitamente a situação de meios em que seus elementos constituintes apresentam um momento de dipolo permanente e, portanto meios cuja polarização decorre do alinhamento destes dipolos com o campo aplicado. Isto se reflete num valor superior para a permissividade a muito altas frequências (reflexo de que os dipolos individuais não conseguem mais acompanhar o campo). Isto significa meramente trocar 1 por na equação de debye dada acima, que colocando em termos da frequência de relaxação fr fica escrita como: ˆ s 1 if / f r (16) A permissividade estática (para frequências muito baixas ou nula) é designada por s . É importante observar que para muitos líquidos os dados experimentais são muito bem 10 ajustados com esse modelo para a faixa de frequências entre 0.3 GHz a 300 GHz. Um caso exemplar típico é o da água. É fácil de perceber que o modelo de Debye é uma aproximação bastante simplificada de um problema real complexo. Medidas dielétricas em uma grande quantidade de líquidos deixaram clara a existência de diferentes comportamentos na perda dielétrica, mas que, entretanto, podiam ser ajustados a generalizações do modelo de Debye. Abaixo resumimos as generalizações propostas para o modelo de Debye: ˆ s h 1 if / f r1 ˆ h 1 if / f r 2 s h 1 if / f r ˆ ˆ if s 1 (if / f r )1 s (1 if / f r )1 ˆ s (1 (if / f r )1 )1 Debye duplo Debye Gama Cole-Cole Cole-Davidson Havriliak-Negami Como temos como objetivo fazer o ajuste de dados experimentais aos diversos modelos devemos obter as expressões para a parte real ( ' ) e imaginária ( '' ) para os diferentes modelos que podem ser empregados para descrever o comportamento da permissividade do meio como função da frequência no intervalo de 0.30 a 13 GHz, compreendido na faixa de micro-ondas. Adotamos a convenção onde: ˆ ' i '' (ou seja i j , sendo que os engenheiros adotam ˆ ' j '' ) a) Modelo de debye 11 ˆ y A B 1 ( x / f r )2 A1 x 1 ( x / f r )2 Neste caso : y ' s 1 if / f r B s A1 ( s ) / f r s 1 ( f / fr ) '' 2 Para Debye duplo temos: ˆ s h 1 if / f r1 ( s ) f / f r 1 ( f / f r )2 h 1 if / f r 2 Logo ' '' s h 1 ( f / f r1 ) 2 s 1 ( f / fr 2 )2 ( s h ) f / f r1 ( h ) f / f r 2 1 ( f / f r1 ) 2 1 ( f / fr 2 )2 b) Cole-Cole ˆ s 1 (if / f r )1 Agora escrevemos na forma polar e em seguida na trigonométrica, assim, 12 s ˆ 1 1 ( f / fr ) e i (1 ) 2 1 1 ( f / fr ) [e s {1 ( f / f r )1 [cos {1 ( f / f r )1 [cos ˆ s 2 (1 ) i s en s {1 ( f 2 2 2 ] (1 ) i s en 2 (1 )]}{1 ( f / f r )1 [cos / f r )1 [cos [1 ( f / f r )1 cos i (1 ) 2 2 (1 ) i s en 2 (1 )]} 2 (1 ) i s en (1 )]} (1 )]2 ( f / f r ) 2(1 ) s en 2 2 (1 ) Portanto: ' '' s [1 ( f 1 2( f / f r )1 cos s [( f / f r )1 cos 2 2 2 (1 )] (1 ) ( f / f r ) 2(1 ) / f r )1 sen 1 2( f / f r )1 cos 2 (1 )] (1 ) ( f / f r ) 2(1 ) Resultados que se reduzem aos de Debye para α=0. c) Cole-Davidson ˆ Neste caso é melhor fazer s (1 if / f r )1 z 1 if / f r e i assim arctg ( f / f r ) , logo, 13 [1 ( f / f r ) 2 ]1/2 e 2 (1 )]} ˆ s 1 z s i e ei Ou ˆ s i (1 ) e s 1 [cos(1 ) isen(1 ) ] 1 Consequentemente: s ' 1 2 cos[(1 )arctg ( f / f r )] [1 ( f / f r ) ] 2 s '' 1 2 sen[(1 )arctg ( f / f r )] [1 ( f / f r ) ] 2 Resultados que se reduzem aos do modelo de Debye para β=0. d) Havriliak-Negami ˆ s (1 (if / f r )1 )1 Agora efetuamos os mesmos passos dados nos modelos acima, z 1 (if / f r )1 1 ( f / f r )1 e i 2 (1 ) ei Isto é, 1 ( f / f r )1 e i 2 (1 ) 1 ( f / f r )1 [cos 2 (1 ) isen 2 (1 )] ei Logo 14 2 [1 ( f / f r )1 cos 2 (1 )]2 [( f / f r )1 sen 2 (1 )]2 1/2 1 2( f / f r )1 cos 2 (1 ) ( f / f r ) 2(1 ) e, ( f / f r )1 sen 2 (1 ) ] 1 ( f / f r )1 cos 2 (1 ) arctg[ Reescrevemos agora a expressão de Havriliak-Negami em termos de ρ e θ ˆ ˆ s s 1 ei (1 ) i 1 (e ) s [cos(1 ) isen(1 ) ] 1 Logo em termos da frequência vem: ' '' ( s ) cos{(1 )arctg[ ( f / f r )1 sen 2 (1 ) ]} 1 ( f / f r )1 cos 2 (1 ) 1 2( f / f r )1 cos 2 (1 ) ( f / f r ) 2(1 ) ( s ) sen{(1 )arctg[ 1 2 ( f / f r )1 sen 2 (1 ) ]} 1 ( f / f r )1 cos 2 (1 ) 1 2( f / f r )1 cos 2 (1 ) ( f / f r ) 2(1 ) 1 2 Os resultados acima se reduzem aos de Cole-Davidson para α=0 e aos de Cole –Cole para β=0. 15 3. Determinação experimental dos parâmetros dielétricos ′′ Para a determinação das propriedades dielétricas dos materiais (𝜀𝑒𝑓 e 𝜀 ′ ) como função da frequência do campo aplicado e da temperatura, existe diversos tipos de métodos e cada um deles tem suas técnicas específicas. Então deve-se ter em mente que para avaliar a melhor técnica de medida à ser utilizada devemos avaliar muitos fatores, tais como: estado físico do material, intervalo de frequência, temperatura de trabalho, composição etc. No presente caso estamos interessados em propriedades dielétricas de líquidos e misturas reacionais numa faixa de frequência entre 300 MHz e 13 GHz e temperaturas entre 10 a 90 0C. Faremos uma breve descrição de alguns métodos. Naturalmente um ponto importante nestas medidas diz respeito ao tamanho das amostras em relação ao comprimento de onda, o que permite distinguir três situações distintas. Em baixas frequências o tamanho da amostra em geral é pequeno comparado ao comprimento de onda. Na figura 3 mostramos os casos. Figura 3. Tamanho das amostras relativas ao comprimento de onda. Na segunda situação temos amostras comparáveis aos comprimentos de onda, faixa de micro-ondas e por fim na faixa dos Terahertz e infravermelho os comprimentos de onda são bem menores que o tamanho da cela. Neste último caso estamos tratando de ressonância e não relaxação dielétrica. Com base nestas observações temos alguns métodos consolidados para medidas dielétricas. 16 3.1 Métodos de Circuitos Agrupados (Lumped-Impedance) Métodos de circuitos agrupados tratam o dielétrico como um meio continuo, considerando que ele seja um circuito equivalente em série contendo componentes discretos: indutores, capacitores e resistores. Isso é aceitável tanto quanto suas dimensões físicas forem muito pequenas em relação ao comprimento de onda (𝜆) da radiação. E isso logicamente limita sua utilidade de acordo com a faixa do espectro eletromagnético empregada, limitando essa técnica até no máximo 1 GHz. Exemplos de tais métodos são os de cela resistiva e de placas paralelas conforme ilustra-se nas figuras 4 e 5. Figura 4. Cela resistiva para medidas até 1GHz. Figura 5. Placa paralelas. Até 1GHz (em celas muito pequenas). 17 3.2 Métodos de Onda-Itinerante (Travelling-Wave) Tais métodos podem ser de ondas-itinerantes ou ondas-estacionárias (ressonantes), podendo ainda ser considerada a propagação da onda como sendo guiada ou no espaço livre. Guias de onda dielétrico, metálico, coaxial, coplanar e fibra-ótica são exemplos de propagação guiada. A propagação de uma onda entre duas antenas pode ser considerada como uma propagação no espaço livre. Nos métodos de ondas ressonantes utilizam-se cavidades onde as ondas ressoam em seu interior estabelecendo um regime de propagação que pode ser considerado como se a onda estivesse estacionária dentro da cavidade, isso é particularmente útil na medida de materiais que possuem baixa dissipação dielétrica (fraca absorção), pois, quantifica-se a propagação da onda em uma cavidade vazia (quando a onda está no regime estacionário) e depois se insere o material em seu interior e faz-se outra aferição. Mais precisamente mede-se o fator de qualidade da cavidade com e sem a amostra. Considera-se que a presença do material apenas “perturbará” o regime estacionário de propagação da onda, sendo este o princípio básico de uma de técnica conhecida como, Técnica de Perturbação da Cavidade, que assim como qualquer outra técnica tem suas vantagens e limitações. Já nos métodos de onda-itinerante-guiada as propriedades da célula de medida são definidas em termos dos parâmetros de espalhamento, parâmetros-S, (scattering) nos quais o coeficiente de transmissão e reflexão da célula, são definidos em relação à uma impedância característica especificada, Z0. Cabe ressaltar que os parâmetros-S são coeficientes que se referem à tensões ou correntes das ondas-itinerantes e não da potência. Dentre estes métodos temos o da sonda coaxial, linha de transmissão, cavidades ressonantes e espaço livre. A tabela 1 traz um resumo dos métodos mais utilizados em medidas dielétricas. Método Parâmetro Frequência Observação Cela resistiva resistividade DC Amostras tipo disco Placas Paralelas permissividade <30MHz Filmes finos 18 Sonda Coaxial permissividade 200MHz a Ideal p/ Líquidos 20GHz Linha Transmissão de Permissividade e 500 MHz a Amostras simetria 110 GHz cúbica ou toroidal 500 MHz a Forma precisa da 110 GHz amostra 2 a 110 GHz Faces Permeabilidade Cavidades Idem ressonantes Espaço Livre Idem lisas paralelas Tabela 1. Métodos empregados em medidas dielétricas. Na figura 6 apresentamos um esquema geral do método de sonda coaxial, que consiste no melhor método para medidas em líquidos. O banho térmico mantém a amostra na temperatura desejada. Figura 6. Esquema para medidas com sonda coaxial. 19 Na figura 7 apresenta-se um sistema para medidas com linha de transmissão. Figura 7. Sistema para medidas dielétricas via linha de transmissão. Medidas com a sonda coaxial envolvem os parâmetros S os quais podem ser melhor visualizados na figura 8. Figura 8: Parâmetros de espalhamento de uma onda eletromagnética em uma linha de transmissão coaxial. Onde os sinais S11 e S22 correspondem ao coeficiente de reflexão (Γ) da amostra, referente as ondas incidente e reversa respectivamente. E os sinais S21 e S12 20 correspondem aos de transmissão. Uma técnica muito comum que se utiliza esses princípios, é a do sensor coaxial onde existe um truncamento da linha de transmissão (figura 9) pelo qual é medido o sinal S11 e por meio de equações matemáticas convertese o sinal refletido em permissividade, pois considera-se que o coeficiente de reflexão complexo seja equivalente à permissividade relativa complexa, Γ*→𝜀*. Figura 9. Linha coaxial de terminal aberto No método da sonda coaxial de terminal aberto utiliza-se um sistema de calibração com 3 padrões diferentes, à saber: um circuito aberto, normalmente ar, um curtocircuito e um líquido de referência conhecido. Sendo esses últimos de baixa à alta permissividade pois, quanto mais próxima for a permissividade do líquido de referência em relação à amostra, menor o erro introduzido na medida. Já existem muitas tabelas de valores para líquidos de referências para serem usados na calibração do sensor coaxial, com destaque para água que é um dos líquidos que tem suas propriedades dielétricas bem conhecidas além de ser relativamente fácil obtê-la em alta pureza e disponível na maioria dos laboratórios (deionizada e tri-destilada). 3.3 Método da sonda coaxial. A sonda coaxial combinada com um analisador de impedância é extremamente útil nas medidas de permissividade complexa de líquidos na faixa de 300 MHz a 20 GHz e numa ampla faixa de temperaturas. Na figura 10 mostra-se um sistema para medidas com sonda coaxial. Deve ser notado que a sonda está abaixo da calibração eletrônica. 21 Figura 10. Sistema de medidas dielétricas e constituição básica do curto-circuito e a sonda para altas temperaturas. A geometria da abertura coaxial é mostrada na figura 11. 22 b r=0 a z< 0 z> 0 z=0 Figura 11. Geometria para a sonda coaxial de terminal aberto. A sonda coaxial é modelada como uma abertura coaxial sobre um plano infinito aterrado. A solução desse problema é alcançada satisfazendo-se as condições de contorno para a componente magnética do campo na abertura. Assumindo-se simetria radial na região coaxial (z < 0 ) e com o condutor interno de raio a e o externo de raio b e sendo εc a permissividade relativa na região entre os condutores as condições de contorno fornecem a componente magnética em termos de funções de Bessel, H (r , z ) A0 ikc z [e eikc z ] An Fn (r )e n z r n 1 (17) onde n n2 kc2 kc c 0 0 Fn (r ) n J 0 (nb) 2( J 02 (n a) J 02 (n b) [ J1 (n r )Y0 (n a) Y1 (n r) J 0 (n a)] (18) b A0 c 0 Er (r , 0)dr a kc (1 ) ln(b / a) 23 (19) An n0 i c 0 b E (r,0) R n r n (r )dr (20) a Sendo a componente elétrica obtida por: Er Onde J0 i H c 0 z (21) e J1 são funções de Bessel de primeira espécie de ordem zero e um respectivamente e Y0 e Y1 são funções de Neumann de ordem zero e um (funções de Bessel de segunda espécie). Os autovalores λn das autofunções Fn são soluções da equação transcendental, J 0 (n a)Y0 (n b) Y0 (n a) J 0 (n b) . (22) Na região externa (z > 0 ) onde a permissividade relativa é εL a componente magnética do campo é relacionada ao campo elétrico tangencial na abertura Er (r,0) por meio de, H (r , z ) 2 ikL2 eikL R E ( r ´,0) r´cos( ' ) d ' dr´ . r 20 a R 0 b (23) Na equação acima, kL L 0 0 e, R r 2 r '2 2rr´cos( ' ) z 2 A solução do problema direto fornece o coeficiente de reflexão (Γ) para uma dada permissividade εL. A solução do problema inverso fornece a permissividade do líquido εL para uma dada reflexão. A solução do problema direto e do inverso são necessárias 24 para a medida da permissividade. Uma solução completa do problema envolve técnicas variacionais sendo computacionalmente intensivas especialmente quando da solução do problema inverso o qual se baseia em técnicas iterativas. Quando se usa técnicas iterativas a velocidade da solução direta torna-se o fator limitante para medidas em sistemas práticos. Em geral se assume presente apenas o modo principal quando se faz o ajuste dos campos elétricos tangencias na abertura, isto é, Er (r,0) = E0 / r, o que acelera o cálculo computacional. Uma expressão para a admitância (inverso da impedância) da abertura pode ser obtida. A admitância (Ya) pode ser expressa em termos do coeficiente de reflexão ( Γ), 1 Y a Y0 ( ), 1 (24) onde Y0 é a admitância característica da linha. Igualando-se os campos dados nas equações 17 e 23 em z = 0, e multiplicando-se a expressão por rEr(r,0) e integrando de r = a até r = b e efetuando-se a aproximação Er (r,0) = E0 / r, obtemos a expressão: b b 2 ikL2Y0 eikL R ' ' Y cos( ) d drdr ' kc ln(/b / a) a a 0 R a (25) Uma expansão em série de Taylor da exponencial na equação 25 fornece, Ya ikL2Y0 I k2 I k4 I k3 I k5 {[I2 kL 4 L 6 L ...] i[ I1 3 L 5 L ...]} kc ln(/b / a) 6 120 2 24 (26) onde In, são as integrais b b 2 I n R n2 cos 'd 'drdr ' n 1, 2,3... (27) a a 0 e que são independentes das propriedades dielétricas do liquido (εL). Uma vez que estas integrais são avaliadas para uma determinada geometria a equação 26 fornece uma 25 computação rápida da admitância normalizada da abertura. Entretanto a admitância dada pela equação 27 não inclui os modos mais altos do campo elétrico na abertura e portanto apresenta um erro em relação ao valor real da admitância o que nos leva a um erro na medida da permissividade da amostra. Uma maneira de melhorar os resultados consiste numa modificação empírica das constantes da sonda (as integrais In) por meio de valores baseados em medidas (desde 200MHz a 20GHz) para vários materiais de permissividade conhecida (com valores entre a do ar e da água). Assim o procedimento de calibração do equipamento se faz usando padrões de calibração com ar, curtocircuito e água como líquido de referência. Entretanto quando a amostra apresenta baixa permissividade (baixo fator de perda) como no caso de líquido apolares, a calibração deve ser feita usando-se um líquido padrão apolar, e em geral se utiliza o ciclohexano. Deve ser observado que a equação 26 fornece a admitância para muito baixas frequências, sendo que basta omitir os termos de alta ordem na expansão em Taylor, e o resultado se reduz a Ya = ωεLC onde C é uma constante que independe da frequência, dependendo das dimensões da sonda apenas. Uma outra maneira de avaliarmos a admitância dada pela equação 25 é usarmos a representação integral, J ( R) d eikR , 02 R ( k 2 )1/2 0 (28) e como a integral em φ’ pode ser expressa em termos de funções de Bessel de primeira espécie e de ordem zero, a admitância pode ser escrita como, ikL2Y0 [ J 0 ( a) J 0 (b)]2 Y d kc ln(/b / a) 0 ( 2 kL2 )1/2 a Sendo que 26 (29) 0 arg( k ) / 2 2 2 L 2 k L2 2 k L2 A integral é tomada separadamente na regiões 0 < η < kL e kL < η < ∞ sendo que o integrando muda de imaginário para real em η = kL . Assim a integração sobre estas duas regiões fornece a condutância G e a susceptância B da abertura respectivamente, isto é Ya = G + iB. Para 0 < η < kL trocamos a variável de integração para η = kLsenθ, enquanto que para kL < η < ∞ a representação integral para o produto de duas funções de Bessel transforma a integral de limite infinito em integrais seno, isto é, G B Y0 kL kc ln(/b / a) Y0 kL kc ln(/b / a) /2 [ J (k asen ) J (k bsen )] 2 0 L 0 L 0 /2 [2Si(k L d sen (30) | u |) Si(2a kL | sen 12 ) |) Si(2bkL | sen 12 ) |)]d (31) 0 Na equação (31) u = a2 + b2 – 2abcosφ e as integrais seno são definidas como: x Si( x) sen 0 d As expressões acima foram obtidas originalmente por Marcuvitz em 1951 (Marcuvitz N. Waveguide Handbook – New York: McGraw-Hill). Como na expansão dada na equação 26, as equações 30 e 31 também podem ser escritas como expansões em série que as tornam convenientes para o cálculo numérico. Como exemplo de que a otimização das constantes da sonda (as integrais In na equação 27) deve ser feita está ilustrado na figura 12, onde se mostra os resultados (Blackhan and Pollard) com e sem os coeficientes otimizados. 27 Figure 12. Comparação entre medidas da permissividade real da água (25 0C) usando coeficientes da sonda com e sem otimização. Observamos que esta otimização inicial fornece medidas que ainda diferem dos resultados alcançados ajustando-se os dados conhecidos (com precisão) da água ao modelo de Cole-Cole como mostra a figura 12. Além disso observamos oscilações em altas frequências (>9GHz) o que mostra a necessidade de mais termos nesta região. A otimização do procedimento é verificada na figura 13 onde estão os resultados para o fator de perda do metanol a 25 0C mostrando boa concordância com Cole-Cole. Figure 13. Comparação entre medidas do fator de perda do metanol (25 0C) usando coeficientes da sonda otimizados e o ajuste com o modelo de Cole-Cole. 28 3.4 Resultados obtidos usando sonda coaxial Efetuaremos agora uma análise dos resultados alcançados com o sistema de medidas dielétricas via sonda coaxial após uma busca do melhor procedimento operacional na tentativa de minimizar os erros das medidas. Em particular a cela que contém a amostra é o ponto nevrálgico desde que qualquer contaminação do líquido leva a resultados errôneos, pois suas propriedades dielétricas foram alteradas com a contaminação. Analisamos aqui os resultados para a água, etanol, metanol, glicerina, ácidos fortes e misturas reacionais. 3.4.1 Resultados para a Água. Na figura 14 estão os resultados das medidas para a água a diversas temperaturas na faixa de frequências de 0.3 a 13 GHZ. Água Ultra-Pura à Várias temperaturas Água Ultra-Pura à Várias temperaturas 90 80 ' 70 60 40 35 30 25 '' 10°C 20°C 25°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 20 10°C 20°C 25°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 15 10 50 5 0 40 0 10 0 1 10 10 1 10 Log f (GHz) Log f (GHz) Figura 14. Permissividade real e fator de perda da água como função da frequência entre 0.3 e 13 GHz . Na figura 15 apresentamos os resultados para a água a 250C onde constam as curvas de Debye obtidas usando-se a frequência de relaxação, a permissividade estática e a de altas frequências conhecidas para a água. Observe-se a excelente concordância dos 29 resultados obtidos com a curva de Debye para a água. Isto se reflete nos valores obtidos para fr, εs e ε∞ (19,24GHz, 78,39 e 5,1) ao se ajustar os dados experimentais à uma curva de Debye. Água ultra pura 80 70 o 60 ' , '' 50 40 T=25 C fr=19.24GHz s=78.36 s=78.39 30 20 10 0 0.1 1 10 100 Log f (GHz) Figura 15. Resultados para a água a 250C e a curva de Debye com os resultados da literatura para fr, εs e ε∞ . Na tabela 2 apresentamos os parâmetros para a água a várias temperaturas ajustandose os resultados ao modelo de Debye. A frequência está em Giga Hertz e o tempo de relaxação em pico-segundos. T (0C) fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ εs e’ ε∞ e’ r2(SD) e’’ r2 (SD) e’ 10 12,54 12,70 83,97 5,437 0,9999 0,9999 20 16,82 9,46 80,21 5,118 0,9999 0,9999 25 19,24 8,27 78,39 5,034 0,9999 0,9999 30 21,87 7,28 76,59 4,802 0,9999 0,9999 40 27,69 5,75 73,10 4,304 0,9999 0,9999 50 33,30 4,78 70,01 3,583 0,9999 0,9999 60 39,90 3,99 66,91 3,494 0,9999 0,9999 70 46,82 3,40 63,75 4,668 0,9999 0,9999 Tabela 2. Parâmetros para a água a diversas temperaturas usando o modelo de Debye. 30 Na tabela 2 e’ e e’’ referem-se aos ajustes usando-se as equações para ε’ e ε’’ respectivamente, sendo que r2(SD) refere-se ao desvio padrão para o ajuste. A mesma nomenclatura será adotada nas demais tabelas. Podemos comparar os resultados obtidos com os da literatura via o emprego da equação de Eyring que relaciona o tempo de relaxação com a energia livre de ativação do processo de relaxação dielétrica: A RTF r e T (32) Sendo ∆F a energia livre para o processo de relaxação , R a constante dos gases e a temperatura é dada em kelvin (K). Tomando-se o logaritmo: log(T r ) log A a log A b F 1 (log e) R T F (log e) 1000 R E obtemos uma relação linear: log(T r ) a b 1000 T (33) Com a energia livre de ativação sendo: F 4,574b (kcal / mol ) Na figura 16 mostra-se a dependência do tempo de relaxação com a temperatura com os dados obtidos para a água e também os resultados obtidos por Udo Kaatze [4]. A concordância dos resultados é excelente, mostrando que as medidas foram realizadas dentro de um padrão internacionalmente aceitável. 31 Tempo de relaxação -8,4 Água ultra pura log(rT) -8,6 -8,8 Kaatze Deib -9,0 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 1000/T Figura 16. Tempo de relaxação para a água como função da temperatura. Na tabela 3 resumimos os resultados para a água (inclinação da reta, desvio padrão e energia de ativação) comparados aos obtidos pelos experimentos de Udo kaatze. Lab Kaatze b 0,7866 0,8085 r2(SD) 0,99456 0,99651 F (kcal / mol ) 3, 598 3, 696 Tabela 3. Energia livre de ativação para o processo de relaxação dielétrica na água. Observamos que a diferença nas energias de ativação é de 2,5% e assim as incertezas nas medidas efetuadas para a água estão dentro dos limites de precisão do equipamento. Outra forma de verificarmos a confiabilidade dos resultados alcançados consiste em usarmos a aproximação de Kirkwood que correlaciona a permissividade estática à temperatura via o fator de correlação de Kirkwood, cuja base física está na existência de momentos de dipolo permanentes moleculares, assim para substâncias polares usamos a equação de Kirkwood: 32 s gn D2 2 0 k BT n N A / M (34) Sendo g o fator de correlação de Kirkwood, NA o número de Avogrado, ρ a densidade do líquido e M seu peso molecular. O momento de dipolo molecular é μD, kB é a constante de Boltzmann e ε0 a permissividade do vácuo. Podemos escrever a equação para a permissividade estática como: s b T (35) Agora usamos os valores numéricos: 0 8,854x1012C2 / Nm 2 k B 1,3806x1023J / K 1Debye=3,33x1030Cm Para a água NAρ/M = 3,34x1028/m3 e portanto: s 3, 027 g D2 1000 T (36) Ou seja, g D2 b (Debye2 ) 3, 027 (37) Na figura 17 apresentamos os resultados obtidos para εs-ε∞ da água juntamente com os dados de Kaatze. Água ultra pura s- 80 s gn D2 2 0 k BT s 70 b T 60 Deib Kaatze 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 A (1000/T) Figura 17. Diferença εs-ε∞ como função da temperatura para a água. 33 Novamente vemos uma excelente concordância entre os resultados obtidos e os reportados na literatura. A tabela 4 mostra os valores obtidos para com um ajuste linear. Os valores do fator de correlação de Kirkwood foram obtidos com base no valor do momento de dipolo experimental para a água, 1,85 Debye. Lab Kaatze 30,07 28,99 r2(SD) 0,99048 0,99314 g D2 9,93 9,82 g 2,90 2,79 b Sengwa 2,87 Tabela 4. Fator de correlação de Kirkwood para a água Os resultados obtidos para g diferem de 3,6% (Udo) e 1,1% (Sengwa), sendo, portanto plenamente acetáveis mostrando que as medidas realizadas foram realizadas dentro de um padrão igual ao realizados em outros laboratórios, usando diferentes técnicas de medidas. 3.4.2 Resultados para o Etanol O etanol tem também suas propriedades dielétricas bem estudadas servindo também como teste de confiabilidade das medidas realizadas no analisador de impedância. Na figura 18 mostra-se respectivamente os resultados para a permissividade real e para a perda dielétrica do etanol. Como pode ser visto na Fig. 18a a constante dielétrica (permissividade real) para o etanol mostra uma diminuição à medida que a frequência aumenta e a taxa de diminuição é mais rápida em temperaturas mais baixas. Como consequência, para frequências acima de 1 GHz é observado um aumento na constante dielétrica com o aumento da temperatura. A temperaturas mais elevadas a energia cinética das moléculas é elevada e consequentemente estão mais afastadas, diminuindo a viscosidade. Portanto, isto permite uma resposta mais rápida a 34 mudanças no campo elétrico e melhora o processo de realinhamento, levando a um aumento na constante dielétrica do líquido em comparação com temperaturas mais baixas. Assim, a temperaturas mais elevadas, a perda dielétrica do álcool deve diminuir e a absorção máxima ocorrerá em frequências cada vez mais elevadas à medida que a temperatura aumenta. De fato, o fator de perda para o etanol (Figura 18b) mostra que a frequência de relaxação é deslocada para valores de frequência mais elevada à medida que a temperatura aumenta. No caso de substâncias puras, a dependência de frequência da permissividade complexa pode ser ajustada pelas equações de Debye e Cole-Cole como fizemos para a água. A frequência de relaxação calculada a várias temperaturas para etanol, metanol e glicerina usando os modelos Debye-Gama e Cole-Davidson está em bom acordo com os valores relatados na literatura como veremos a seguir. Como no caso da água acima, a energia livre de ativação para o processo de relaxação dielétrica dos líquidos puros etanol, metanol e glicerina pode ser avaliada usando a equação de Erying. 12 25 Etanol 15 10°C 20°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C Etanol 10 8 10 '' ' 20 10°C 20°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 6 20 30 10 (a) 4 40 50 2 60 70 5 1 10 (b) 1 Logf (GHz) 10 Logf (GHz) Figura 18. Permissividade real do etanol e fator de perda como função da frequência entre 0.3 e 13 GHz. 35 No caso do etanol efetuamos ajustes com os modelos de Debye, Debye Gama e ColeDavidson. Não foi possível se ajustar os resultados do etanol aos modelos de Cole-Cole e Havriliak-Negami. Na tabela 5 apresentamos os parâmetros do etanol para várias temperaturas efetuando-se um ajuste com o modelo de Debye. T (0C) fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ εs e’ ε∞ e’ r2 (SD) e’’ r2(SD) e’ 10 0,920 173,0 25,63 4,445 0,95372 0,99374 20 1,090 146,1 25,02 4,295 0,96218 0,99434 30 1,374 115,9 23,79 4,327 0,96459 0,99599 40 1,798 88,5 22,96 3,693 0,98454 0,99728 50 2,268 72,0 21,93 3,475 0,98356 0,99761 60 3,010 52,9 20,56 3,931 0,9845 0,9989 70 3,720 42,8 19,71 3,332 0,97832 0,98283 Tabela 5. Parâmetros para o etanol a diversas temperaturas usando o modelo de Debye. Na tabela 6 mostramos os resultados quando efetuamos um ajuste via modelo de Debye mas usando apenas a expressão para ε’ para obtermos os três parâmetros εs, ε∞ e fr simultaneamente. Este não é um procedimento adequado, pois além de estarmos obtendo os três parâmetros via uma única equação, as partes real e imaginária (ε’ e ε’’) da função complexa que é a permissividade do meio estão conectadas via as relações de Kramers-Kronig, as quais resultam da resposta linear do meio à aplicação de campos e à casualidade (a resposta do meio não pode ser anterior á aplicação do campo). Como resultado desta interdependência, se conhecemos a parte imaginária como função da frequência (ε’’(ω)) em um amplo intervalo de frequências determinamos a parte real (ε’(ω)) usando uma das relações de Kramers-Kronig, isto é: '( ) 2 ' ''( ') d ' 0 '2 2 36 (38) Similarmente se conhecemos ε’(ω) em uma ampla faixa de frequências podemos determinar ε’’(ω). fr(GHz)e’ τr(ps)e’ εs e’ ε∞ e’ r2(SD) e’ 10 0,874 182,2 26,35 4,45 0,994 20 1,047 152,0 25,53 4,34 0,994 30 1,306 122,0 24,34 4,40 0,996 40 1,802 88,3 22,94 3,68 0,997 50 2,307 69,0 21,79 3,42 0,997 60 2,971 53,6 20,64 3,97 0,999 70 3,936 40,4 19,42 3,06 0,999 T (0C) Tabela 6. Parâmetros para o etanol a diversas temperaturas usando o modelo de Debye. Nas tabelas 7 e 8 estão os resultados para o etanol aplicando-se os modelos de Debye gama e Cole-Davidson respectivamente. T (0C) fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ εs e’ ε∞ e’ r2 (SD) e’’ r2(SD) e’ 10 0,811 196,3 27,47 4,568 0,99383 0,99317 20 0,975 163,2 26,48 4,430 0,99184 0,99366 30 1,233 129,1 24,99 4,493 0,99276 0,99582 40 1,725 92,3 23,35 3,783 0,98819 0,99688 50 2,211 72,0 22,13 3,546 0,98477 0,99729 60 2,894 55,0 20,80 4,071 0,98775 0,99879 70 3,983 40,0 20,90 4,275 0,9856 0,98283 Tabela 7. Parâmetros para o etanol a diversas temperaturas usando o modelo de Debye gama. 37 T (0C) fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ 10 0,590 269,9 20 0,739 215,4 30 0,963 165,3 40 1,504 105,8 50 1,988 80,0 60 2,609 61,0 70 4,203 37,9 εs e’ 28,17 27,03 25,34 23,63 22,35 20,90 19,44 ε∞ e’ r2(SD) e’’ r2(SD) e’ β e’’ 3,322 0,9978 0,9991 0,228 3,223 0,9987 0,9996 0,211 3,244 0,9991 0,9998 0,206 3,067 0,9950 0,9989 0,119 2,952 0,9916 0,9985 0,096 3,265 0,9946 0,9993 0,116 3,887 0,9884 0,9987 -0,117 Tabela 8. Parâmetros para o etanol a diversas temperaturas usando o modelo de Cole-Davidson. Para o etanol a dependência do tempo de relaxação com a temperatura foi obtida para os modelos de Debye, Debye gama e Cole-Davidson. Os resultados estão mostrados na figura 19. Tempo de relaxação -7,0 Etanol -7,2 log(rT) -7,4 -7,6 Debye Mingo DebyeG NPL Coledavi Debyee1 -7,8 -8,0 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 1000/T Figura 19. Tempo de relaxação para o etanol como função da temperatura. Na figura 19 estão incluídos os resultados encontrados na literatura (Mingo e NPL). Os resultados encontrados com um ajuste linear para as energias de ativação estão resumidos na tabela 9. Lembramos que a energia de ativação se relaciona a inclinação da reta por, F 4,574b (kcal / mol ) . 38 Debye e’ Debye Debye Cole- gama Davidson Mingo NPL b 0,875 0,93973 0,995 1,232 1,106 1,066 r2(SD) 0,97959 0,98059 0,97766 0,97178 0,99302 0,9992 F (kcal / mol ) 4,00 4,30 4,55 5,63 5,06 4,87 Tabela 9. Energia livre de ativação para o processo de relaxação dielétrica no etanol. É fácil observar que o modelo de Debye gama se ajusta melhor aos resultados para o etanol fornecendo resultado para a energia de ativação mais próxima do valor reportado pelo laboratório NPL, cujas medidas são padrão internacional. Para o fator de correlação de Kirkwod de lembramos que para o etanol temos uma densidade, ρ= 0,789 g/cm3, M= 46,06 g/mol e assim NAρ/M = 1,03 x 1028/m3. Desta maneira, para o etanol vem que, s 0,934 g D2 1000 T Logo, g D2 b 0,934 Na figura 20 apresentamos os resultados para a diferença εs-ε∞ no etanol empregando-se os diferentes modelos e os resultados da literatura. ETANOL 26 s 24 gn 2 2 0 kT 22 s- 20 18 16 Debye Debyeg NPL Coledavi debyee1 14 12 10 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 1000/T Figura 20. Diferença εs-ε∞ como função da temperatura para o etanol. 39 O ajuste linear para a dependência de εs-ε∞ com a temperatura permite estimar o fator de correlação de Kirkwood para o etanol, que resumimos na tabela 10. Os valores do fator de correlação de Kirkwood foram obtidos com base no valor do momento de dipolo experimental para a etanol, 1,69 Debye. Debye Debye e’ Debye Cole- gama Davidson NPL b 8,13672 9,40944 10,87846 14,79235 13,08054 r2(SD) 0,94045 0,97506 0,97855 0,9792 0,99893 g D2 8,7 10,0 11,6 15,8 14,0 g 3,0 3,5 4,0 5,5 4,9 Tabela 10. Fator de correlação de Kirkwood para o etanol Neste caso observamos uma discrepância maior entre os resultados obtidos e os reportados na literatura. Isto decorre da maior sensibilidade das medidas em temperaturas mais altas onde encontramos uma discrepância maior entre os resultados obtidos e os da literatura. Naturalmente o erro é maior no caso do fator de correlação de Kirkwood quando comparado aos resultados para a energia livre de ativação. Isto decorre dos baixos valores de ε’ e ε’’ em altas frequências, valores estes que estão dentro da ordem de grandeza da sensibilidade do analisador de impedância. Em outras palavras a determinação de ε∞ fica limitada pela própria sensibilidade do equipamento. Portanto podemos encontrar um maior erro na determinação do fator de correlação de Kirkwood do que na energia de ativação como acabamos de comprovar para a água e o etanol. 3.4.3 Resultados para o Metanol Para o metanol foram realizadas medidas de 10 a 60 0C, e os resultados para a permissividade real e para a perda dielétrica na faixa de 0.3 a 13 GHz estão mostrados na figura 21. 40 Metanol à várias temperaturas 16 10°C 20°C 25°C 30°C 40°C 50°C 60°C 35 30 12 metanol 10 '' ' 25 14 20 8 10°C 20°C 25°C 30°C 40°C 50°C 60°C 6 15 4 10 2 0 5 0 0 1 10 1 10 10 10 Logf (GHz) Logf (GHz) Figura 21. Permissividade real e fator de perda do metanol como função da frequência ( 0.3 e 13GHz) Nas tabela 11 apresentamos os parâmetros obtidos usando-se o modelo de Debye. T (0C) 10 20 25 30 40 50 60 fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ εs e’ ε∞ e’ r2(SD) e’’ r2 (SD) e’ 2,72 58,5 35,99 4,593 0,9984 0,9998 3,00 53,0 34,67 4,344 0,9906 0,99933 3,367 47,3 33,41 4,849 0,99759 0,9998 3,752 42,4 32,39 4,944 0,99812 0,9998 4,510 35,3 30,82 4,943 0,99732 0,9997 5,576 28,9 29,197 3,146 0,99944 0,99941 6,285 25,3 27,852 4,333 0,99044 0,99862 Tabela 11. Parâmetros para o metanol a diversas temperaturas usando o modelo de Debye. Os resultados para o tempo de relaxação permitem obter a dependência com a temperatura, que estão apresentados na figura 22. 41 Tempo de relaxação -7,7 Metanol -7,8 Log(rT) -7,9 -8,0 Mingo Debye NPL DebyeG ColeDavi -8,1 -8,2 3,0 3,2 3,4 3,6 A (1000/T) Figura 22. Tempo de relaxação para o metanol como função da temperatura. A figura 22 mostra que para altas temperaturas o modelo de Cole-Davidson não se ajusta bem aos resultados obtidos para a permissividade do metanol como função da frequência. Isto naturalmente deve se refletir em um resultado com maior erro em relação aos obtidos pelo laboratório NPL. Na tabela 13 apresentamos os resultados para a energia de ativação efetuando-se um ajuste linear para o comportamento do tempo de relaxação como função da temperatura. Debye b r2(SD) F (kcal / mol ) Debye Cole- gama Davidson 0,6401 0,6757 0,9390 2,93 Mingo NPL 0,7950 0,6052 0,6842 0,9729 0,9454 0,9819 0,9994 3,09 3,63 2,77 3,12 Tabela 12. Energia livre de ativação para o processo de relaxação dielétrica no metanol. A energia livre de ativação, obtidas com os modelos de Debye e Debye gama estão em ótima concordância com o valor obtidos a partir das medidas realizadas pelo laboratório NPL, apresentando menor diferença que o valor reportando na literatura por Mingos et al. Para o metanol é fácil constatar que as medidas feitas a 50 graus devem ser refeitas 42 pois na figura 22 podemos ver que nesta temperatura temos um ponto fora da reta no modelo de Debye. Para o fator de correlação de Kirkwood usamos para o metanol ρ=0,79 g/cm3, M = 32,04 g/mol e NAρ/M = 1,48x1028/m3 e logo s 1,34 g D2 1000 T Logo, g D2 b 1,34 Os resultados permitem obter o comportamento da permissividade estática como função da temperatura para o metanol. Os resultados estão apresentados na figura 23. METANOL 32 s gn 2 2 0 kT s- 28 24 20 Debye DebyeG NPL ColeDavi 16 3,0 3,2 3,4 3,6 Temp (1000/T) Figura 23. Diferença εs-ε∞ como função da temperatura para o metanol. . Agora podemos observar que os resultados obtidos com o modelo de Cole-Davidson para altas temperaturas se afastam mais dos demais modelos antecipando um alto desvio para o fator de correlação de Kirkwood. Os ajustes lineares dos resultados da figura 23 estão na tabela 13 . Os valores para o fator de correlação, g, foram obtidos usando-se o momento de dipolo experimental do metanol, 1,69 Debye. 43 Debye Debye Cole- gama Davidson NPL b 14,4042 12,23268 14,46591 20,88798 r2(SD) 0,94201 0,91375 0,95502 0,98849 g D2 10,7 9,1 15,6 10,8 g 3,74 3,18 5,46 3,78 Tabela 13. Fator de correlação de Kirkwood para o metanol Portanto as medidas realizadas para o metanol se ajustam bem ao modelo de Debye e estão em plena concordância com os resultados reportados pelo laboratório NPL. 3.4.4 Resultados para a Glicerina. Os resultados para as medidas da permissividade da glicerina para várias temperaturas estão na figura 24. Os resultados mostram que os valores da perda dielétrica da glicerina estão na mesma faixa do etanol e metanol, entretanto em relação ao etanol e metanol, a glicerina apresenta frequências de relaxação bem menores, isto é tempos de relaxação bem maiores que advém de um maior número de ligações de hidrogênio que são possíveis de serem formadas na glicerina. Podemos traduzir isto como um maior número de interações intermoleculares acarreta em maior tempo para volta ao equilíbrio. Glicerina P.A Glicerina P.A 36 18 10°C 20°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 32 28 24 10°C 20°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 14 12 10 ' '' 20 16 8 16 6 12 4 8 2 4 0 0 10 1 0 10 10 Log f (GHz) 1 10 Log f (GHz) Figura 24. Permissividade real e perda dielétrica da glicerina como função da frequência (0.3 e 13 GHz) 44 Os ajustes dos resultados das medidas de permissividade da glicerina foram efetuados com os modelos de Debye, Debye Gama e Cole-Davidson. Os ajustes usando ColeCole e Havriliak-Negami não convergiram. Isso se deve ao fato de que as frequências de relaxação estão abaixo de 300 MHz, o que impossibilita um ajuste razoável. Os resultados para os parâmetros da glicerina com o modelo de Debye estão nas tabela 14. T (0C) 10 20 30 40 50 60 70 fr(GHz)e’’ τr(ps)e’’ εs e’ ε∞ e’ r2(SD) e’’ r2 (SD) e’ 0,338 470,7 23,56 4,687 0,97005 0,93985 0,476 334,5 32,9 5,802 0,96758 0,96635 0,524 303,8 28,13 5,755 0,82121 0,92828 0,716 223,4 33,43 0,89708 0,97241 0,873 182,2 34,42 5,725 0,92722 0,97926 0,941 169,2 34,62 5,043 0,98211 0,99234 1,393 114,3 33,12 5,237 0,98879 0,9975 5,995 Tabela 14. Parâmetros para a glicerina à diversas temperaturas usando o modelo de Debye. Os resultados obtidos com os ajustes permite uma estimativa da energia livre de ativação do processo de relaxação dielétrica. Na figura 25 estão os resultados para o tempo de relaxação com função da temperatura. Para 20 0C tomou-se o tempo de relaxação de 720 ps. A figura 25 deixa claro que a ajuste com Cole-Davidson apresenta uma maior dispersão dos resultados e uma reta com inclinação mais elevada. 45 Tempo de relaxação -6,6 Glicerina(P.A.) Log(rT) -6,8 -7,0 -7,2 Debye DebyeGama ColeDavidson -7,4 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 A (1000/T) Figura 25. Tempo de relaxação para a glicerina como função da temperatura. Na tabela 15 apresentamos os resultados para a energia de ativação para a glicerina efetuando-se um ajuste linear para o comportamento do tempo de relaxação como função da temperatura. Debye b r2(SD) F (kcal / mol ) Debye Cole- gama Davidson 0,79842 0,8777 1,27622 0,95569 0,94971 0,89531 4,01 5,83 3,65 Tabela 15. Energia livre de ativação para o processo de relaxação dielétrica na glicerina. No caso da glicerina medidas nas temperaturas de 80, 90 e 100 0C deveriam ser feitas para um melhor ajuste do dados na faixa de 300MHz a 13 GHz. Com os dados atuais o modelo de Cole-Davidson fornece o melhor valor para a energia de ativação, comparável ao reportado por Lunkenheimer et al. (5.77 kcal/mol). Não iremos abordar o fator de Kirkwood pois os ajustes nas temperaturas entre 10 e 40 0C não ficaram adequados. 46 3.4.5 Ácidos fortes e misturas reacionais Os resultados para a permissividade de ácidos fortes como o ácido sulfúrico (H2SO4) está apresentado na figura 26a e 26b. No tocante a constante dielétrica (permissividade real) podemos constatar o comportamento de líquidos polares, entretanto no que diz respeito a perda dielétrica é fácil perceber seu crescimento notável para baixas frequências o que denota seu caráter iônico. No líquido ácido sulfúrico, como em outros ácidos fortes, tais como o metanosulfonico (CH3SO3H), o clorosulfúrico (ClSO3H) ou o ácido fosfórico (H3PO4) existe uma grande quantidade de íons em solução. Estes ácidos têm um fator de perda muito elevado devido à elevada concentração de íons e contra -íons na sua fase líquida. Por exemplo, para o ácido sulfúrico, as espécies iônicas responsáveis pela alta condutividade do ácido sulfúrico no estado líquido são principalmente H3SO4+ e HSO4-por autoprotólise, com uma pequena contribuição de pequenas quantidades de H3O+ e HS2O7- através de um mecanismo de auto-desidratação iónica. O alto fator de perda do ácido sulfúrico líquido está principalmente associado com a alta mobilidade dos íons e contra-íons (condutividade iônica) e o processo de relaxamento dielétrico tem um efeito negligenciável na absorção de energia eletromagnética pelo líquido. Claramente, o mesmo tipo de mecanismos ocorre no caso dos ácidos líquidos como H3PO4, ClSO3H e CH3SO3H e, consequentemente, à medida que a temperatura aumenta a mobilidade dos íons aumenta o que aumenta a condutividade conduzindo a um aumento na perda dielétrica de tais substâncias, em particular H3PO4 , onde há uma maior concentração de espécies iónicas devido à presença de água (15%). A figura 26c mostra a tangente de perda destes ácidos fortes. 47 50 H2SO4 40 ' 35 30 10C 20C 30C 40C 50C 60C 70C 75C 1800 10°C 20°C 30°C 40°C 50°C 60°C 70°C 75°C H2SO4 1500 1200 ef'' 45 900 (b) 25 600 20 300 (a) 15 0 10 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,80,9 1 2 3 4 5 1 6 7 8 9 10 10 Log f (GHz) Log f (GHz) 0 70 C loss tangent (tg ) 40 H3PO4 ClSO3H CH3SO3H H2SO4 30 (c) 20 10 0 1 10 Log f (GHz) Figure 26. (a) Constante dielétrica ε’ e (b) perda dielétrica, εef’’ para o ácido sulfúrico. (c) Tangente de perda para os ácidos fortes. Na figura 27 apresenta-se a profundidade de penetração e a tangente de perda para algumas substâncias puras e para a mistura reacional óleo vegetal+etanol+ácido com diferentes concentrações de ácido sulfúrico. 48 Chestnut oil Ethanol HPLC Glycerin P.A Reaction (1% H2SO4 V/Vt (26') 3 9 0 Reaction 3% H2SO4 V/Vt Reaction 5% H2SO4 V/Vt (9'30'') H2SO4 (98%) 2 6:1 ; 3% H2SO4 6:1 ; 5% H2SO4 T= 60°C 6 90:1 ; 3% H2SO4 tan loss tangent (tg ) 70 C 90:1 ; 5% H2SO4 1 Ethanol HPLC Glycerol P.A. Methanol* HPLC Brazil Nut oil 3 0 0 1 0 10 1 10 10 Logf (GHz) Log f (GHz) 80 Chestnut oil Ethanol HPLC Glycerin P.A Reaction (1% H2SO4 V/Vt (26') 70 Reaction 3% H2SO4 V/Vt Reaction 5% H2SO4 V/Vt (9'30'') Penetration Depth (cm) 60 H2SO4 (98%) 50 T= 60°C 40 30 20 10 0 1 10 Logf (GHz) Figure 27. Tangente de perda e profundidade de atenuação para diversos líquidos e misturas reacionais. Misturas reacionais com etanol+óleo de castanha+ácido (razões molares de 90:1 e 6:1) usando 3% e 5% (V/VT) de ácido. É fácil perceber a drástica mudança nos valores da tangente de perda para estes líquidos quando comparamos com os resultados para os ácidos fortes. É bom lembrar que no caso destes líquidos e misturas reacionais a maior contribuição provem da relaxação dielétrica ao passo que para os ácidos provem da condução iônica. 49 Na figura 28 apresentamos a perda dielétrica de uma mistura reacional durante a reação de transesterificação ácido-catalisada de óleo vegetal usando etanol na razão molar muito elevada de 90:1 (etanol/óleo). 1:90 molar ratio 1:90 molar ratio 120 28 min 51 min 73 min 91 min 123 min 153 min 181 min 194 min 0 T=70 C 28 min 51 min 73 min 91 min 123 min 153 min 181 min 194 min T=70 0C 80 ' 15 100 ef'' 20 60 10 40 (b) 20 5 H2SO4 5% V/VT H2SO4 5% V/VT (a) 0 0 0 1 10 1 10 10 Logf (GHz) 10 Logf (GHz) 1:90 molar ratio 21 100 20 5% H2SO4 80 ''ef 18 60 T=70 0C 17 40 16 2.45 GHz (c) Conversion (%) 19 20 15 14 0 0 40 80 120 160 200 240 Time (minutes) Figura 28. (a) Constante dielétrica relativa, ε 'e (b) perda dielétrica relativa, ε ef' durante a reação de transesterificação do óleo de castanha do Brasil; (c) perda dielétrica relativa e conversão (%) durante a transesterificação do óleo de castanha do Brasil a 2450 MHz. Relação molar etanol/óleo 90:1. Concentração de ácido: 5% (V / VT). Temperatura de reação: 70 ° C. Uma diminuição nos valores para a constante dielétrica da mistura em relação ao etanol puro pode ser observada durante a fase inicial da reação, concomitantemente com uma baixa conversão. Após a conversão atingir cerca de 50%, a constante dielétrica permanece quase constante à medida que a reação prossegue e as curvas se sobrepõem (figura 28a). Com uma concentração de ácido sulfúrico de 5%, a influência dos íons sobre o fator de perda aumenta significativamente levando a um crescimento acentuado para baixas frequências (figura 28b). O comportamento do fator de perda durante a 50 reação de transesterificação é mais pronunciado como pode ser visto na figura 38c onde são mostrados os valores a 2450 MHz juntamente com o percentual de conversão em ésteres etílicos. A perda dielétrica diminui de 20 na fase inicial da reação (conversão insignificante) para um valor de cerca de 15 quando a conversão atinge 90%. A perda de etanol durante a formação de diglicerídeos e monoglicerideos conduz a uma redução na perda dielétrica da mistura, mas à medida que a reação prossegue, cada vez mais glicerina é formada, o que aumenta o fator de perda e, como consequência, permanece quase constante após uma conversão elevada. A mistura reacional também apresenta pequenas profundidades de penetração, por exemplo, a profundidade de penetração atinge um valor máximo de 1,2 cm (a 2450 MHz) para a mistura reacional a 70 ° C com uma concentração de ácido de 1% enquanto o etanol tem uma profundidade de penetração a 70 ° C de 2,1 cm. Pequenas profundidades de penetração indicam a forte influência da concentração de catalisador nas propriedades dielétricas da mistura de óleo com uma concentração elevada de álcool verificando que não existe uma contribuição líquida do óleo para as propriedades dielétricas a esta concentração. Estes resultados indicam a forte influência do ácido sulfúrico sobre as propriedades dielétricas da mistura reacional quando se utiliza uma relação molar de etanol para óleo elevada (90:1), o que se explica pela elevada mobilidade de contra-íons num ambiente compreendido principalmente por moléculas de álcool e algumas moléculas de óleo. Para se verificar a grande influência do álcool e ácido nas propriedades da mistura reacional na figura 29 se mostra os dados para uma mistura reacional com razão molar de 6:1 (etanol/óleo) e 5% de ácido. Uma redução de ε' é observada porque os momentos dipolares efetivos não podem ser gerados por moléculas de etanol ligadas a íons, o que leva a uma diminuição na polarização. Além disso, à medida que a reação prossegue, os valores de ε' diminuem continuamente uma vez que se perde o etanol durante a reação e os intermediários e produtos geram contribuições insignificantes para a polarização. 51 1:6 molar ratio 0 70 C ' 9 1:6 molar ratio 3,5 2h 3h 5h 15min 6h 25min 7h 8h 9h 10h 3,0 2,5 ''ef 12 5% H2SO4 0 70 C 2,0 2h 3h 5h 15min 6h 25min 7h 8h 9h 10h 6 1,5 1,0 3 5% H2SO4 0,5 (a) (b) 0,0 1 10 1 10 Log f (GHz) Log f (GHz) Figura 29. (a) Constante dielétrica relativa, ε' e (b) perda dielétrica relativa, εef durante a transesterificação do óleo de castanha do Brasil. Relação molar etanol /óleo de 6: 1. Concentração de ácido: 5% (V / VT). A perda dielétrica comporta-se de forma bastante diferente da mistura reacional com uma razão molar de 90:1, como observado na Fig. 29b em comparação com os resultados mostrados na Fig. 28b. O baixo teor de moléculas de etanol e o seu número continuamente decrescente à medida que a reação prossegue, bem como o tamanho e o elevado peso molecular de moléculas tais como tri, di e monoglicerideos, ésteres etílicos e glicerina, que podem atuar como moléculas da primeira camada de solvatação, inibem completamente a mobilidade dos íons na solução. Isto reduz acentuadamente o fator de perda da mistura reacional durante a reação de transesterificação. Portanto, no presente caso (razão molar de 6: 1) a perda dielétrica é ditada pelo processo de relaxação em vez da condutividade iónica. Isto pode ser compreendido considerando que os ésteres de etilícos são moléculas marginalmente polares de forma semelhante aos triglicéridos (constituintes do óleo). O ligeiro aumento (para tempos mais longos) nos valores com frequência observada na Fig. 29b é devida ao aparecimento de glicerina (frequência de relaxação 1,39 GHz a 70 ° C) e à presença de etanol (frequência de relaxação 3,72 GHz a 70 ° C) na mistura final constituída por estes compostos juntamente com ésteres etílicos e ácido sulfúrico. Os comportamentos dos fatores de perda para as misturas reacionais durante a reação de transesterificação a três frequências diferentes estão ilustrados nas figuras 30a e 30b em conjunto com a conversão em cada caso, utilizando 3% e 5% de H2SO4 (V / VT). Para ambas as concentrações de ácido é evidente que a diminuição dos valores à medida que a reação prossegue é devida ao álcool perdido da mistura com a formação de intermediários e produtos. Uma comparação entre os resultados mostrados nas 52 figuras 30a e 30b revela que os valores mais elevados, atingidos a 5% de ácido (figura 30b), podem ser atribuídos à maior concentração de ácido que aumenta a condutividade iónica na mesma concentração de etanol. 1:6 molar ratio 1:6 molar ratio 100 3,0 0.915GHz 2.45GHz 5.8GHz Conversion (%) 3,0 0 70 C 0 70 C 50 1,5 1,0 75 2,0 5% H2SO4 1,5 50 1,0 Conversion (%) 75 ''ef 2,0 ''ef 2,5 0.915GHz 2.45GHz 5.8GHz Conversion (%) Conversion (%) 2,5 100 25 0,5 0,5 3% H2SO4 (b) (a) 0,0 0 0 2 4 6 8 10 12 25 0,0 14 2 3 4 5 Time (Hours) 6 7 8 9 10 Time (Hours) 1:6 molar ratio 100 0.915GHz 2.45GHz 5.8GHz Conversion (%) Penetration depth (cm) 30 80 25 0 70 C 60 3% H2SO4 20 (c) 15 40 10 Conversion(%) 35 20 5 0 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Time (Hours) Figura 30. Perda dielétrica relativa, εef '' e conversão (%) durante a transesterificação do óleo de castanha do Brasil em três frequências diferentes (a) Concentração de ácido: 3% (V / VT). (b) Concentração de ácido: 5% (V / VT). (c) Profundidade de atenuação (cm) e conversão. Relação molar óleo: etanol de 1: 6. Temperatura de reação: 70 ° C. Como se observou anteriormente, a profundidade de penetração é pequena quando a razão molar etanol/óleo é de 90:1, enquanto que numa razão molar de 6:1 existe um aumento considerável neste valor, como mostrado na figura 30c. A 2450 MHz, a profundidade de penetração da mistura reacional tem um valor inicial de 5,6 cm, atingindo 11,6 cm ao final da reação. O aumento da profundidade de penetração à medida que a reação prossegue é mais proeminente a baixas frequências e este aumento 53 é explicado pela perda de etanol e por moléculas menos polares que se formam durante a reação. Devemos lembrar aqui que as medidas foram efetuadas em reações realizadas com aquecimento convencional e observa-se uma forte dependência do tempo reacional com a razão molar e concentração de ácido. Para a reação na figura 28 (razão molar de 90:1 e 5% de ácido) o tempo reacional é da ordem de 2 horas ao passo que para uma razão molar de 6:1 e 3% de ácido o tempo reacional é maior que 12 horas (figura 30c). Mais adiante iremos confrontar tais tempos reacionais com os obtidos em reações induzidas por micro-ondas, ou seja, via aquecimento dielétrico. Naturalmente para induzirmos as reações com micro-ondas em escala de laboratório podemos usar fornos que atuam como cavidades multimodo ou tentar otimizar o sistema construindo reatores cilíndricos que atuam como cavidades monomodo. Na próxima seção iremos abordar as condições para reatores monomodo e veremos que é fundamental o conhecimento das propriedades dielétricas da mistura reacional que será processada no reator. 4. Reatores cilíndricos Nas figuras 31 e 32 apresentamos esquemas de reatores elípticos e cilíndricos do tipo monomodo para indução de reações químicas. Figura 31. Esquema de um reator monomodo de geometria elíptica operando em 915 MHz 54 (E) (G) (H) (H´)(G´) (C) (A) (D) (C) (I) (A) (E´) (J) (I) Figura 32. Desenho de reatores monomodo de geometria cilíndrica operando em 2450 MHz. É importante ressaltar que na maioria dos casos se utiliza um separador fonte-carga de material transparente ás micro-ondas como o teflon conforme se ilustra na figura 33. Figura 33: Separador Fonte-Carga de teflon. Vista horizontal e vertical respectivamente. 55 Nosso interesse agora é estabelecer as condições para que a cavidade preenchida com a mistura reacional atue como uma cavidade ressonante monomodo. Para tanto devemos atender as condições de contorno nas interfaces que constituem a superfície de inox do reator, do teflon e da amostra reacional. A figura 34 ilustra a presente situação. Figura 34. Ilustração das superfícies para aplicação das condições de contorno. Entre 0 e RA está a amostra reacional, entre RA e Rt está o separador fonte-carga (teflon) e entre Rt e RC temos ar ou vácuo. A seguir obtemos as condições ressonantes para cavidades cilíndricas nos modos TM010 e TE111. 4.1 Condições para a Ressonância dos modos TM010 e TE111 Iremos abordar os modos ressonantes em cavidades cilíndricas onde se insere um dielétrico que deve ficar submetido ao padrão de campo nos modos TM010 e TE111. As soluções para o problema da cavidade cilíndrica são conhecidas e usamos inicialmente os dados da literatura. Para os modos TMmnl as frequências ressonantes são (Jackson): mnl 2 mn c R2 2l 2 h2 (39) Onde R é o raio do cilindro e h sua altura e xmn são as raízes das funções de Bessel de ordem m. O modo TM mais baixo tem frequência: 010 c 2.405 R 56 (40) Aqui ε e μ são a permissividade e a permeabilidade relativa do meio. Portanto para a cavidade vazia (ar ou vácuo, onde ε =1 e μ =1) na frequência de 2.45GHz o raio da cavidade é R0 = 4.689 cm ou diâmetro de 93.78 mm. Na frequência de 0,915 GHz o raio será de R0 =12.5 cm ou um diâmetro de 25 cm. Os campos correspondentes são: Ez E0 J 0 ( H i Onde J0 2.405r ) R0 2.405r E0 J1 ( ) R0 (41) (42) e J1 são funções de Bessel de primeira espécie de ordem zero e um respectivamente. É fácil notar que o modo TM010 independe da altura h do cilindro. Por outro lado as frequências ressonantes para os modos TEmnl são dadas por (Jackson): mnl c '2 mn R2 2l 2 h2 (43) Onde agora x’mnl são as raízes da derivada primeira das funções de Bessel de ordem m. Aqui, m=0,1,2,... mas n,l = 1,2,3,... O modo mais baixo é TE111 sendo a frequência dada por 111 1.841c R2 1 2.912 2 h R (44) É fácil mostrar que para h>2.03R a frequência do modo TE111 é menor que a do modo TM010 e portanto o modo TE111 será o fundamental. Por exemplo, para h=50 cm com 2.45GHz o raio da cavidade vazia para o modo TE111 será de 3.6 cm enquanto que para 0.915GHZ o raio será de 10.17 cm. Os campos para o modo TE111 são: 57 1.841r z H z H 0 J1 ( ) cos sin( ) R h (45) 1.841r J1 ( ) z R Er H0 sin sin( ) 1.841r / R h (46) 1.841r J1 ( ) 1.841r z R E H0[ J0 ( ) ]cos sin( ) R 1.841r / R h (47) Com estas informações podemos agora determinar as condições para a ressonância quando inserimos uma amostra de forma cilíndrica ao longo do eixo da cavidade. Sendo RA o raio da amostra e RT o raio do teflon, que inicialmente tomamos como sendo igual ao raio da cavidade, RT =RC , já que uma alternativa é preenchermos a cavidade com um cilindro oco deste material devido a sua transparência às micro-ondas. Agora devemos observar que se a cavidade é completamente preenchida com um dielétrico como o Teflon, o modo TM mais baixo tem frequência: 010 c 2.405 T R (48) Onde εT é a permissividade relativa do Teflon, εT=2.1. Portanto para a cavidade preenchida com Teflon na frequência de 2.45GHz o raio da cavidade é RC = 4.689/1.45 =3.23 cm ou diâmetro de 6.46 cm. Na frequência de 0.915 GHz o raio será de 12.5/1.45=8.62 cm. Assim cavidades preenchidas com um dielétrico apresentam raios menores que as cavidades vazias (ou vácuo). 4.2 Condições ressonantes para TM010 4.2.1 Reator com raio interno da cavidade e raio do teflon iguais Abordamos primeiro a situação em que a cavidade é completamente preenchida com um cilindro oco de Teflon, ou seja, RT =RC e inicialmente vamos considerar o modo TM010 que é o modo fundamental quando h<2.03R. Neste caso no interior 58 cilindro oco de Teflon temos a amostra, ou seja, o dielétrico que se pretende aquecer via absorção de energia do campo. Na amostra os campos são: E1z E0 J 0 (k1r ) 0 r RA (49) H1 i 1 E J (k r ) 1 0 1 1 0 r RA (50) Sendo que o raio da amostra, RA, corresponde ao raio interno do cilindro oco de teflon. Na região externa ao dielétrico, região onde temos o teflon, a solução geral para o campo é uma combinação de funções de Bessel de primeira espécie e funções de Neumann. Assim para os campos temos: E2 z A1 J 0 (k2 r ) A2Y0 (k2 r ) RA r RC (51) H 2 i T [ A J (k r ) A2Y1 (k2 r )] T 1 1 2 RA r RC (52) Onde J0 e J1 funções de Bessel de ordem zero e ordem um e Y0 e Y1 são funções de Neumann de ordem zero e ordem um respectivamente. Sendo, RC o raio da cavidade, neste caso igual ao raio externo do cilindro oco de teflon, RT =RC. A princípio não conhecemos os raios do cilindro de Teflon (RC) nem o raio da amostra que definem a cavidade com dielétrico que desejamos que opere nas frequências de 0.915 e 2.45 GHz. Nas equações acima, para ε’’/ε’ < 0.25 (materiais com baixo fator de perda) as expressões para k1 e k2 são (permeabilidade magnética relativa igual a 1): k1 k2 c c 1 (53) T (54) Sendo ε1 a permissividade da amostra. Para materiais com perda dielétrica com 0.25< ε’’/ ε’< 1 temos para k1 : 59 1/2 2 1'' 1 k1 1 1 c 2 1 (55) Note-se que escrevemos a permissividade complexa da amostra como: * 1 i1'' Sendo que, naturalmente, k2 não se altera. A situação em que ε’’/ ε’> 1 ou ε’’/ ε’> >1 será abordada mais a frente. Nas expressões, ω =2πf, com os valores alocados para a frequência, 0.915 e 2.45 GHz. Para determinarmos o raio da amostra e o raio da cavidade com os campos no modo TM010 observamos que como o campo deve se anular nas paredes da cavidade, isto é, E2z = 0 em r=RC, o que fornece: A2 A1 J 0 (k2 RC ) Y0 (k2 RC ) (56) A relação entre RA e RT é obtida impondo-se a condição de contorno na interface dos dielétricos, r = RA, isto é, as componentes tangenciais dos campos devem se igualar na interface, assim: E1z ( RA ) E2 z ( RA ) (57) H1 ( RA ) H 2 ( RA ) As equações (56) e (57) fornecem a seguinte equação transcendental que governa a ressonância: 1 J1 (k1RA ) J1 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y1 (k2 RA ) T J 0 (k1RA ) J 0 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y0 (k2 RA ) Onde k1 e k2 (58) são dados pelas equações (53) e (54) e não conhecemos RA e RC as quais determinamos via a solução da equação (58). 60 Devem ser conhecidas as propriedades dielétricas da amostra, isto é, a permissividade como função da frequência e da temperatura o que permite resolver esta equação numericamente para diferentes valores de frequência para cada temperatura. A permissividade pode ser medida com um analisador de rede em diferentes temperaturas. Considerando as frequências utilizadas, que são 0.915 GHz e 2.45 GHz, podemos resolver a equação (58) para diferentes temperaturas efetuando variações no raio da cavidade (valores de RC) em torno dos valores para a cavidade vazia. Isto irá fornecer o raio (RA ) (ou um raio médio, considerando diferentes temperaturas) da amostra que queremos processar como também o raio RC da cavidade . Para materiais onde a perda dielétrica está na faixa 0.25< ε’’/ ε’< 1, usamos k1 na equação que governa a ressonância, como definido acima na equação (55) e a raiz no primeiro termo da equação 58 é modificado pela relação entre as componentes magnética e elétrica do campo eletromagnético via índice de refração complexo (ReitzMilford, Cap.17, págs. 356-357; Jackson Cap. 7, págs. 296-297) o que conduz à: 1 T 2 '' 1 1 2 T (59) Ou seja, a equação transcendental (58) torna-se: 2 1 '' 1 2 T J1 (k1 RA ) J1 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y1 (k2 RA ) J 0 (k1 RA ) J 0 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y0 (k2 RA ) (60) Quando o fator de perda do material é grande, ou seja, para ε’’/ ε’> 1 observamos que o argumento da função de Bessel para r < RA torna-se imaginário, e as soluções nesta região são as funções de Bessel modificadas de primeira espécie de ordem zero, I0(k1r), e ordem um, I1(k1r). Neste caso a equação que governa a ressonância é: 2 1 T '' 1 2 I1 (k1 RA ) J1 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y1 (k2 RA ) I 0 (k1 RA ) J 0 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y0 (k 2 RA ) 61 (61) Com k1 sendo dado pela equação (55) e k2 pela equação (54). Devemos observar que se a amostra tem alto fator de perda, isto é, ε’’/ ε’> >1, a equação transcendental (61) pode ser escrita como, 1'' I1 (k1RA ) J1 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y1 (k2 RA ) T I 0 (k1RA ) J 0 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k2 RC )Y0 (k2 RA ) (62) Sendo k2 dado pela equação (54) e a partir da equação (55) vemos que k1 na condição ε’’/ ε’>> 1, é dado por: k1 '' 1 1 c 2 (63) 4.2.2 Reator com raios da cavidade e do Teflon diferentes Iremos considerar a situação em que o cilindro oco de teflon inserido na cavidade tenha um raio menor que o raio da cavidade (RT < RC). Temos assim a região da amostra, a região do teflon e a região onde temos ar. Os campos para o modo TM 010 nas três regiões são expressos mediante o conjunto de equações (67): E1z E0 J 0 (k1r ) H1 i 0 r RA 1 E J (k r ) 1 0 1 1 E2 z A1 J 0 (k2 r ) A2Y0 (k2 r ) 0 r RA 4 RA r RT (64) H 2 i T [ A J (k r ) A2Y1 (k2 r )] T 1 1 2 RA r RT E3 z A3 J 0 (k0 r ) A4Y0 (k0 r ) RT r RC H 3 i[ A3 J1 (k0 r ) A4Y1 (k0 r )] RT r RC 62 Nas expressões acima, k1 é dado pela relação (53) ou (55), k2 é dado por (54) e k0 =ω/c, já que na região RT r RC temos vácuo ou ar (ε=1). Como o campo deve se anular nas paredes da cavidade, isto é, E3z = 0 em r=RC, obtemos: A4 A3 J 0 (k0 RC ) Y0 (k0 RC ) (65) Para obtermos a condição ressonante impomos as condições de contorno nas interfaces amostra/teflon e teflon/ar aos campos dados em (64): E1z ( RA ) E2 z ( RA ) (66) H1 ( RA ) H 2 ( RA ) E2 z ( RT ) E3 z ( RT ) (67) H 2 ( RT ) H 3 ( RT ) A solução do conjunto de equações acima fornece a equação transcendental que governa a ressonância, que expressamos de forma mais compacta escrevendo a diferença de produtos como determinantes: T J 0 (k1RA ) J1 (k2 RA ) J1 (k2 RT ) Y1 (k2 RA ) Y1 (k2 RT ) Y0 (k2 RT ) Y1 (k2 RA ) 1 J1 (k1RA ) Y0 (k2 RA ) Y1 (k2 RT ) Y0 (k0 RC ) Y1 (k0 RT ) J 0 (k2 RA ) J1 (k2 RT ) 1 J 0 (k0 RC ) J1 (k0 RT ) Y0 (k2 RA ) Y0 (k2 RT ) T J 0 (k0 RT ) J 0 (k0 RC ) T J 0 (k1RA ) 1 J1 (k1RA ) J 0 (k2 RT ) J1 (k2 RA ) J 0 (k2 RA ) J 0 (k2 RT ) Y0 (k0 RT ) Y0 (k0 RC ) (68) Aqui temos um problema adicional, pois não conhecemos, além de RA e RC , o valor de RT também é desconhecido. Portanto, na solução numérica efetuamos variações no raio da cavidade e para cada valor efetuamos variações no raio do teflon sendo que para cada raio de teflon efetuamos variações no raio da amostra. 4.3. Condições Ressoantes para TE111. 4.3.1 Reator com raio interno da cavidade e raio do teflon iguais 63 Vamos considerar agora a construção de reatores onde h>2.03R e, portanto, o modo fundamental é TE111. Agora no interior da amostra dielétrica os campos são dados por: H1z H 0 J1 (k1r ) cos sin( E1r E1 z h 0 r RA ) (69) 1 J (k r ) z H 0 1 1 sin sin( ) 1 k1r h 1 J (k r ) z H 0 [ J 0 (k1r ) 1 1 ]cos sin( ) 1 k1r h 0 r RA (70) 0 r RA (71) Na região RA < r < RC, ou seja, onde inserimos o teflon, as soluções são expressas mediante uma combinação de funções de Bessel e Neumann de ordem um. Ou seja, H 2 z [ B1 J1 (k2 r ) B2Y1 (k2 r )]cos sin( E2 r E2 z h T J (k r ) Y (k r ) z [ B1 1 2 B2 1 2 ]sin sin( ) T k2 r k2 r h ) RA r RC (72) RA r RC (73) T J (k r ) Y (k r ) z {B1[ J 0 (k2 r ) 1 2 ] B2 [Y0 (k2 r ) 1 2 ]}cos sin( ) R A r RC T k2 r k2 r h (74) Com a condição de contorno em que o campo H2z se anula na parede da cavidade, ou seja, em r = RC, vem que: B2 B1 J1 (k2 RC ) Y1 (k2 RC ) (75) Impondo-se a continuidade da componente tangencial do campo elétrico e magnético na interface, isto é, em r = RA, e considerando meios com permeabilidade relativa igual a um, obtemos a equação transcendental que governa a ressonância e relaciona RA com RC: 64 J1 (k2 RA )Y1 (k2 RC ) J1 (k2 RC )Y1 (k2 RA ) 1 J1 (k1RA ) T J (k R ) J1 (k1RA ) [ J (k R ) J1 (k2 RA ) ]Y (k R ) J (k R )[Y (k R ) Y1 (k2 RA ) ] 0 1 A 0 2 A 1 2 C 1 2 C 0 2 A k1RA k2 RA k 2 RA (76) As mesmas considerações que levam às equações (60) e (61) devem ser feitas também neste caso, dependendo do fator de perda do material e não iremos repeti-las aqui. No modo TM o campo elétrico é paralelo ao eixo e no TE é perpendicular ao eixo razões que motivam a construção de reatores cujo modo fundamental seja TM010. Para que possamos determinar de forma mais precisa a geometria de um reator cilíndrico que opere no modo TM010 devemos necessariamente resolver numericamente as equações (58), (60) e (61) dependendo do tipo de material que se deseja processar em tal reator. Da mesma maneira para a otimização de um reator que opere no modo TE111 deve-se necessariamente resolver a equação (76) e as correspondentes dela, dependendo do material que vai ser processado. 4.3.2 Reator com raios da cavidade e do teflon diferentes Temos agora três regiões e no interior da amostra dielétrica os campos são dados por: H1z H 0 J1 (k1r ) cos sin( E1r E1 z h 0 r RA ) (77) 1 J (k r ) z H 0 1 1 sin sin( ) 1 k1r h 1 J (k r ) z H 0 [ J 0 (k1r ) 1 1 ]cos sin( ) 1 k1r h 0 r RA (78) 0 r RA (79) Na região RA < r < RT, ou seja, onde inserimos o teflon, as soluções são expressas mediante uma combinação de funções de Bessel e Neumann de ordem um. Ou seja, H 2 z [ B1 J1 (k2 r ) B2Y1 (k2 r )]cos sin( z 65 h ) RA r RT (80) T J (k r ) Y (k r ) z [ B1 1 2 B2 1 2 ]sin sin( ) T k2 r k2 r h E2 r E2 RA r RT (81) T J (k r ) Y (k r ) z {B1[ J 0 (k2 r ) 1 2 ] B2 [Y0 (k2 r ) 1 2 ]}cos sin( ) R A r RT T k2 r k2 r h (82) E na região onde temos ar, RT < r < RC, os campos são: H 3 z [ B3 J1 (k0 r ) B4Y1 (k0 r )]cos sin( z h J (k r ) Y (k r ) T z [ B3 1 0 B4 1 0 ]sin sin( ) T k0 r k0 r h E3r RT r RC ) (83) RT r RC (84) J (k r ) Y (k r ) T z {B3[ J 0 (k0 r ) 1 0 ] B4 [Y0 (k0 r ) 1 0 ]}cos sin( ) R T r RC T k0 r k0 r h E3 (85) Como o campo deve se anular nas paredes da cavidade, isto é, H3z = 0 em r=RC, obtemos: B4 B3 J1 (k0 RC ) Y1 (k0 RC ) (86) Para obtermos a condição ressonante impomos as condições de contorno nas interfaces amostra/teflon e teflon/ar o que permite obter a equação transcendental que governa a ressonância nessa situação (na forma determinantal): 1 J1 ( k1R A ) J1 ( k 2 RT ) ( J 0 ( k 2 RT ) 1 T J1 ( k 2 RT ) k 2 RT J 0 ( k1 R A ) J1 ( k1 R A ) k1 R A 1 J1 ( k1 R A ) ) J 0 ( k1 R A ) J1 ( k1 R A ) k1 R A T Y1 ( k 2 R A ) Y0 ( k 2 R A ) Y1 ( k 2 R A Y1 ( k 2 RT ) k2 R A T Y1 ( k 2 R A ) Y0 ( k 2 R A ) 1 J1 ( k1 R A ) J 0 ( k1 R A ) Y1 ( k 2 R A (Y0 ( k 2 RT ) k2 R A J1 ( k 0 RT ) Y1 ( k 0 RT ) J1 ( k 0 RC ) Y1 ( k 0 RC ) Y1 ( k 0 RC ) J1 ( k 0 RC ) Y1 ( k 0 RT ) J1 ( k 0 RT ) Y0 ( k 0 RT ) J 0 ( k 0 RT ) k 0 RT k 0 RT 66 Y1 ( k 2 RT ) k 2 RT J1 ( k1 R A ) k1 R A T J1 ( k 2 R A ) J1 ( k 2 R A J 0 ( k2 R A ) k2 R A 1 J1 ( k1R A ) ) J 0 ( k1 R A ) J1 ( k1 R A ) k1 R A T J1 ( k 2 R A ) J1 ( k 2 R A J 0 ( k2 R A ) k2 R A (87) Onde utilizamos a notação de determinantes para tornar a expressão mais compacta, e k1, k2 e k0 são definidos como na seção anterior. As mesmas observações anteriores para materiais onde a perda dielétrica está na faixa 0.25< ε’’/ ε’< 1, ou ε’’/ ε’> 1 e para ε’’/ ε’> >1 são aplicáveis à equação (87). 4.4 Funções de Bessel e Neumann para solução numérica das equações transcendentais Considerando-se os modos TM010 e TE111 e as situações em que o raio do teflon é igual ao raio da cavidade e quando é diferente temos 16 equações transcendentais as quais devem ser solucionadas dependendo das características dielétricas da amostra. Ou seja, temos os quatro casos: ε’’/ ε’< 0.25; 0.25< ε’’/ ε’< 1; ε’’/ ε’> 1 e ε’’/ ε’> >1. Para cada caso temos nos modos TM010 TE111 as possibilidades, RT =RC e RT < RC. As funções de Bessel e Neumann contidas nas equações transcendentais podem ser expressas em termos de séries infinitas do argumento, e abaixo mostramos estas funções bem conhecidas (Morse e Feshbach vol.1 págs 619-631, vol.2 págs. 1323, 1924) a serem usadas na busca da solução numérica das equações tratadas. Funções de Bessel de ordem n: (1)k x 2 k n k 0 k !(n k 1) J n ( x) Sendo que as funções de ordem zero e um são: (1)k x 2 k 2k 2 k 0 2 ( k !) J 0 ( x) (1)k x 2 k 1 k 0 k !( k 1)! J1 ( x) Funções de Neumann de ordem n: Yn ( x) 1 1 n 1 (n m 1)! 2 ln( x / 2) (n 1) J n ( x) m !( x / 2) n 2 m m 0 1 n2m (1) m 1 m ( x / 2) 1 1 m !(n m)! s 1 s s n m 67 Sendo que: 1 1 r 0 r 1 n r (n ) Com γ sendo a constante de Euler, γ=0.57721. Para efeitos de cálculos numéricos as somas acima são consideradas com até 50 termos. Este número de termos se mostra suficiente como ilustram os resultados mostrados na figura 35 abaixo onde se têm as funções de ordem zero e um, obtidas numericamente. 1 1,0 f=2,45 GHz 0 J0 e J1 Y0 e Y1 0,5 -1 0,0 f=2,45 GHz -2 -0,5 0 5 10 15 20 25 0 30 5 10 k1ra 15 20 25 30 k1ra Figura 35. Funções de Bessel e Neumann Os valores numéricos das funções concordam com grande precisão com os dados tabelados na literatura (Morse e Fesbach, pág 1926). Para amostras com ε’’/ ε’ < 0.25 a equação mais simples a ser resolvida é a equação (58), que reescrevemos como: 1 J (k R )[ J (k R )Y (k R ) J 0 (k 2 RC )Y0 (k 2 RA )] T 1 1 A 0 2 A 0 2 C J 0 (k1 RA )[ J1 (k2 RA )Y0 (k2 RC ) J 0 (k 2 RC )Y1 (k 2 RA )] Assim para cada valor de RC temos uma equação do tipo: 1 f (k , k , R ) f 2 (k1 , k2 , RA ) 0 T 1 1 2 A Cuja solução podemos obter gráfica ou numericamente. Como o teflon tem permissividade conhecida εT=2.1, os valores de k2 para as frequências de 0.915 e 2.45 GHz são: 68 k2 k2 T 0.19154 T 0.2777 cm 1 c T 0.51286 T 0.74364 cm 1 c Enquanto que para k1 temos: k1 k1 c c 1 0.19154 1 cm 1 1 0.51286 1 cm 1 Se a amostra for água com um raio de 3 cm teremos k1RA = 5.17 para 0.915 GHz e k1RA = 13.84. Portanto temos uma larga faixa de valores dos argumentos das funções de Bessel, e assim 50 termos da série são o suficiente para cálculos precisos. A partir destas considerações podemos iniciar o processo numérico de solução das equações que governam a ressonância em cavidades cilíndricas para modos TM010 e TE111 obtidas nas seções acima deste documento. O procedimento numérico permite a solução para várias amostras sendo que para cada amostra considera-se a variação da permissividade com a temperatura, ou seja, tomamos os valores da permissividade para uma ampla faixa de temperaturas, caso se tenha estes dados experimentais. Um código Fortran permite a solução para alguns dielétricos considerando sempre que a relação ε’’/ ε’ < 0,25 seja satisfeita por todos, e assim escolhemos para a constante dielétrica os valores 80, 74, 52, 25, 4 e inicialmente consideramos a cavidade com ar, situação analisada por Metaxas (Metaxas e Meredith, pág.189, fig 7.23 a e b). Nas figuras 36 e 37 estão as soluções encontradas para os diâmetros da cavidade em termos dos raios dos dielétricos (amostras). 69 Cavidade dielétrico/ar 280 240 Dc (mm) 200 160 f=0,915GHz 120 80 40 0 0 5 10 15 20 Da (mm) Figura 36. Diâmetro interno da cavidade TM010 como função do diâmetro da amostra para 0,915 GHz (Interface dielétrico/ar) Cavidade dielétrico/ar 100 80 Dc (mm) 60 f=2,45GHz 40 20 0 0 4 8 12 Da (mm) Figura 37. Diâmetro interno da cavidade TM010 como função do diâmetro da amostra para 2,45 GHz (Interface dielétrico/ar) Os resultados das figuras 36 e 37 concordam plenamente com os obtidos por Metaxas (pág.189, fig.7.23) o que mostra a precisão dos cálculos numéricos efetuados com o código Fortran desenvolvido até aqui. Ademais como sabido desde Metaxas, na situação 70 considerada os diâmetros das amostras depende fortemente da permissividade. Por exemplo, no caso da água (ε1=80) para 0,915 GHz e uma cavidade de 160 mm o diâmetro da amostra é de 8 mm, enquanto que para 2,45GHz para um diâmetro da cavidade de 60 mm teremos uma amostra com diâmetro de 3 mm. Devemos observar que os resultados acima podem ser aplicados apenas a amostras sólidas contidas no interior da cavidade a qual é oca (contém ar). Assim estes resultados não podem do ponto de vista prático, serem aplicados a líquidos já que um líquido por si só não constitui uma coluna. Para processar amostra líquidas devemos inserir na cavidade um cilindro oco de um material como o teflon. Neste caso consideramos o raio externo do cilindro oco de teflon igual ao raio interno da cavidade. A solução numérica fornece as figuras 38 e 39 mostradas a seguir. Cavidade dielétrico/teflon 280 240 Dc (mm) 200 160 120 80 40 10 20 f=0,915GHz 0 0 30 40 50 60 70 80 90 100 Da (mm) Figura 38. Diâmetro interno da cavidade TM010 como função do diâmetro da amostra para 0,915 GHz (Interface dielétrico/teflon) 71 Cavidade dielétrico/teflon 140 f=2,45GHz 120 Dc (mm) 100 80 60 40 20 0 0 5 10 15 20 25 Da (mm) Figura 39. Diâmetro interno da cavidade TM010 como função do diâmetro da amostra para 2,45 GHz (Interface dielétrico/teflon) Pode ser observado facilmente que em ambas as frequências a existência do teflon leva ao surgimento de uma descontinuidade na função solução do problema. Para ilustrar a importância deste fato basta notar que para a água, antes, em 0,915 GHz, para um diâmetro de cavidade de 200 mm a solução é uma amostra de apenas 6,8 mm de diâmetro e com teflon o diâmetro da amostra passa a ser 44,2 mm. Da mesma maneira para 2,45GHz no caso de uma cavidade de 80 mm de diâmetro o diâmetro da amostra será de 2,3 mm na cavidade de ar e será de 16,2 mm na cavidade de teflon. Portanto a inclusão do teflon permite um aumento considerável do diâmetro da amostra quanto comparado com a cavidade vazia (ar). Dos resultados alcançados até aqui fica claro que só podemos resolver o problema de reatores cilíndricos com o conhecimento das propriedades dielétricas do material a ser processado. Na figura 40 mostramos a solução do problema para misturas reacionais de óleo, etanol e ácido usando as medidas da propriedades dielétricas da mistura reacional no início da reação. 72 240 T=60C T=70C òleo+etanol+H2SO41% T=60C T=70C òleo+etanol+H2SO41% 240 180 Dc (mm) 160 Dc (mm) f=0,915GHz 120 80 f=0,915GHz 60 TM mode TE mode 0 0 0 10 20 24 30 36 48 60 Da (mm) Da (mm) T=60C T=70C òleo+etanol+H2SO41% òleo+etanol+H2SO41% 120 120 Dc (mm) Dc (mm) T=60C T=70C 60 80 f=2,45GHz 40 f=2,45GHz TE mode TM mode 0 0 8 16 24 8 32 16 24 32 Da (mm) Da (mm) Figura 40. Diâmetro interno da cavidade nos modos TM010 e TE111 como função do diâmetro da amostra para 0,915GHz e 2,45 GHz (Interface dielétrico/teflon) Estes resultados permitem a construção de reatores com as dimensões apropriadas para o tipo de reação que se deseja induzir com micro-ondas. Experimentos foram realizados com reatores operando nos modos TM010 e TE111 e também em reatores multimodo com capacidade nominal elevada (100 L). Em todos os casos se observou uma redução enorme nos tempos reacionais quando comparados aos tempos reacionais sob aquecimento convencional. A redução dos tempos reacionais quando as reações ocorrem sob aquecimento dielétrico tem sido amplamente reportado na literatura. Na próxima seção se apresenta algumas considerações acerca desse tema. 73 5. Aquecimento dielétrico e tempos reacionais Atualmente, a maioria dos pesquisadores concorda que a diminuição dos tempos reacionais observados na química de micro-ondas são devidos exclusivamente ao efeito térmico, pois temperaturas muito altas podem ser atingidas em tempos muito curtos dependendo das propriedades dielétricas das substâncias. No entanto, como foi demonstrado em trabalhos anteriores, para reações catalisadas por ácido foram obtidos valores na faixa 0,13 a 0,40 para a tangente de perda de misturas reacionais e em reações assistidas por micro-ondas foram medidas temperaturas de reação de 80-84 e 66-70 ° C para a etanólise e metanólise respectivamente. De fato, com tais dados a abordagem clássica não explica adequadamente a grande diferença observada nos tempos de reação de aquecimento por micro-ondas em relação aos tempos de reação com aquecimento convencional como descritos na literatura. Por exemplo, as reações de transesterificação catalisadas com ácido com aquecimento convencional utilizando diferentes ácidos e óleos proporcionaram boas conversões (> 80%) apenas após longos tempos de reação (> 12 h). De acordo com a literatura, os tempos de reação variam entre 12 e 60 h, quando se utilizam ácidos sulfúrico, clorídrico, ou fosfórico como catalisadores com aquecimento convencional. Os tempos reacionais são consideravelmente reduzidos com aquecimento por microondas, tal como relatado na literatura, utilizando-se a mesma relação molar álcool / óleo e a mesma concentração de ácido sulfúrico. Por exemplo, num reator de micro-ondas de escala piloto com uma capacidade de processamento de 100 L, um tempo de reação de 2 h proporcionou uma conversão de 98% de óleo de soja em biodiesel utilizando ácido sulfúrico como catalisador, enquanto que um tempo de reação de 20 min proporcionou uma conversão > 80% de óleo de milho em ésteres etílicos utilizando H2SO4, ClSO3H e CH3SO3H como catalisadores num reator monomodo de micro-ondas com um volume de amostra de 90 mL. Claramente, há uma notável redução nos tempos de reação mesmo quando se compara o aquecimento por micro-ondas de um grande volume de amostra (100 L, 2 h) com aquecimento convencional de um pequeno volume de amostra (250 a 400 mL, 12h). Para explicar as diferenças notáveis entre o aquecimento convencional e de microondas, tem sido proposto a existência de efeitos específicos das micro-ondas (térmico / cinético), bem como alguns autores sugeriram a possível existência de efeitos atérmicos (não térmicos). Por exemplo, mudanças no fator pré-exponencial na expressão de 74 Arrhenius ou na ativação da energia livre de Gibbs (termo entrópico). De qualquer forma, deve-se ressaltar que a reação sob irradiação de micro-ondas pode ocorrer em condições de não equilíbrio e, portanto, as expressões de taxas convencionais, bem como os pressupostos da teoria do estado de transição podem não ser aplicáveis. Tanto a energia de ativação de Arrhenius como a constante de velocidade (= constante cinética = velocidade da reação) são determinadas experimentalmente e representam parâmetros macroscópicos específicos da reação e que não estão relacionados de forma simples com o limiar de energias e o sucesso de colisões individuais no nível molecular. Considere uma colisão particular (uma reação elementar) entre as moléculas A e B. O ângulo de colisão, a energia translacional relativa, a energia interna (particularmente vibracional) determinarão a chance de que a colisão produza uma molécula de produto AB. Medições macroscópicas da energia de ativação e da constante cinética são o resultado de muitas colisões individuais com diferentes parâmetros de colisão. Para sondar as taxas de reação a nível molecular, as experiências são conduzidas sob condições de quase colisão e este assunto é muitas vezes chamado de dinâmica de reação molecular. A primeira evidência microscópica relativa aos efeitos atérmicos foi relatada por Jobic et al. em nanoporos em zeólitas empregando dispersão quasi-elástica de nêutrons (QENS), onde as temperaturas rotacionais QENS excederam significativamente as de translação em alta potência de micro-ondas. Em relação às energias de ativação, recentemente nosso grupo calculou as reações de transesterificação catalisadas por base e ácido usando a teoria funcional da densidade (DFT) em fase gasosa e incluindo efeitos de solvente com micro-solvatação. As energias de ativação teórica encontradas concordam bem com valores experimentais obtidos por medidas cinéticas. Verificou-se que nas reações catalisadas por ácido, os estados de transição ocorrem parcialmente através da transferência de prótons entre o oxigénio do grupo nucleófilo de entrada e o oxigênio do grupo de saída. É sabido que em uma grande classe de reações químicas, incluindo um vasto número de reações bioquímicas como reações catalisadas por enzimas, onde a troca de prótons e a transferência de carga desempenham papel crucial, os efeitos de tunelamento quântico para a troca de prótons é proeminente e pode, em princípio, diminuir a energia de ativação. Claramente, numa investigação sobre a eficiência do aquecimento por micro-ondas com vista a verificar se existem ou não efeitos atérmicos, as experiências necessitam de ser realizadas a uma temperatura fixa, onde o calor deve ser removido em vez de aplicar 75 a exposição intermitente da mistura reacional às micro-ondas para controlar a temperatura, como relatado recentemente. A este respeito, está atualmente disponível tecnologia de aquecimento/resfriamento simultânea, em que a potência de micro-ondas aplicada à mistura reacional é acompanhada por resfriamento do exterior com ar comprimido ou nitrogênio, evitando assim o sobreaquecimento por remoção contínua do calor latente. Artigos publicados sobre estudos que aplicam esta tecnologia têm contribuído para o desenvolvimento do conceito de que o resfriamento simultâneo e o aquecimento dielétrico das misturas de reação levam a um aumento do processo global, embora ainda haja alguma controvérsia a este respeito. Aplicando-se uma emissão intermitente de irradiação de micro-ondas para controlar a temperatura conduz a uma configuração de equilíbrio que provém principalmente da transferência de calor e não da absorção de energia eletromagnética e, por conseguinte, não serão verificadas diferenças apreciáveis entre o aquecimento por micro-ondas e o aquecimento convencional, como de fato foi relatado. Não só o tipo de exposição a micro-ondas (contínua ou intermitente), mas também o tempo de irradiação total é um fator importante e limitante nas reações químicas assistidas por micro-ondas. Como demonstrado em trabalhos anteriores, e mencionados no início desta seção, as misturas de reação apresentam tangentes de perda entre pequenas e apreciáveis, significando altas taxas de aquecimento levando a um aumento mais rápido na temperatura local e, portanto, os reagentes atingem estado de alta energia mais rapidamente, permitindo que o primeiro passo na barreira de energia seja superado. Como os passos finais para alcançar o estado de transição (TS) vêm da transferência de prótons e com base no fato de que a probabilidade de tunelamento aumenta com o aumento da energia, foi apontado anteriormente por nós que na presença de uma densidade de energia eletromagnética, o próton (próximo e em TS) pode absorver energia continuamente aumentando marcadamente os efeitos de tunelamento. Esta absorção contínua de energia é possível porque, estritamente falando, próximo e em TS, o próton permutável não está fortemente ligado a qualquer átomo específico. Neste documento apresenta-se uma abordagem fenomenológica como uma tentativa de introduzir o efeito de campo em reações químicas sob irradiação de micro-ondas e, consequentemente, sugere-se uma mudança na teoria para levar em conta o aumento na taxa de reação devido à presença de uma densidade de energia eletromagnética no meio reacional devido a irradiação de micro-ondas nele aplicada. Nesta abordagem, a mudança na expressão de Arrhenius vem de uma contribuição indireta de efeitos de 76 tunelamento via a energia de interação do próton (ou átomo) que está sendo transferido com o campo eletromagnético durante o tunelamento. 5.1 Uma abordagem fenomenológica O que podemos observar até aqui são grandes diferenças nos tempos reacionais e que alguns dados de temperaturas reacionais em reações induzidas por micro-ondas são mais uma evidência da possibilidade de efeitos atérmicos, ou seja, devidos especificamente ao campo. Os dados experimentais existentes apontam contra e a favor da existência de efeitos atérmicos25-35 mas infelizmente não temos até agora estudos cinéticos experimentais detalhados considerando o aquecimento convencional e o aquecimento via micro-ondas (aquecimento dielétrico). Por experimentos detalhados queremos dizer que inicialmente deve-se fazer o estudo cinético determinando-se a velocidade da reação com aquecimento convencional. Pela equação de Arrhenius o resultado é um comportamento linear de ln K com o inverso da temperatura, como na figura 1 abaixo. Figura 1. Linear plot of Ln K versus 1/T. Naturalmente a etapa seguinte é realizar a mesma reação mas agora induzida por microondas e para a mesma temperatura aplicar diferentes intensidade de campo (variando-se a potência aplicada). Em não havendo existência de efeitos atérmicos os experimentos devem mostrar que lnK sem mantem constante com o campo aplicado. Entretanto os resultados encontrados na literatura mostram enormes diferenças nos tempos reacionais, de modo que podemos a princípio, inferir um comportamento linear ou parabólico de ln K com o campo aplicado como indicamos na figura 2. 77 T1 parabolic behavior with ? ln k T1 linear funcion of T2 ou ? (Field) P (Power) Figure 2. Expected behavior of lnK with applied field. A realização dos experimentos indicados na figura 2 apresentam duas grandes dificuldades. A é primeira o controle da temperatura da amostra e a segunda é a medida da potência absorvida pelo meio reacional, pois a potência emitida pelo magnetron não é igual a potência absorvida pela amostra. Motivo pelo qual não encontramos na literatura estudos cinéticos dessa natureza. Antes de considerar uma possível dependência linear de lnK com o campo, via a energia de interação da partícula que está tunelando com o campo eletromagnético a que a reação está submetida vamos introduzir o problema observando inicialmente o modelo de Wigner. Para tanto começamos por escrever a velocidade de reação de forma mais apropriada como (equação 2.1 em Benderskii et al)36: K Z 01 dE ( E ) P( E ) exp( E ) (1) 0 Onde, 1/ kBT , e ( E ) é a densidade de estados no estado inicial sendo P ( E ) a probabilidade de transmissão, ou de tunelamento. Esta quantidade também é chamada de permeabilidade da barreira ou de transparência da barreira de energia. Esta quantidade é obtida via solução da equação de Schroedinger para o problema. Para o potencial parabólico a solução pode ser encontrada usando a aproximação WKB, como feito em Landau e Lifshitz, ou seja (em uma dimensão), P( E ) 1 1 2 pdx / Barrier 78 . (2) Sendo p o momento linear da partícula, p 2m(V ( x) - E) . Integrando a equação 2 para o potencial parabólico invertido, que podemos escrever como V ( x) ( x 2 b 2 )V0 / b 2 vem, P( E ) Sendo 02 0 a 2 1 0 {1 e 2 frequência do (V0 E ) }1 . oscilador (3) invertido, isto é: 1 2 d V ( x) / dx 2 |x x0 2V0 / mb 2 . Aqui m é a massa da partícula em questão, o m próton por exemplo. Desta maneira vê-se que a frequência 0 é imaginária, isto é: 0 2V0 / mb2 i 2V0 / mb2 . E assim escrevemos a velocidade da reação: Z 01 K 2 0 e E 2 1 e (V0 E ) dE . (4) Equação que pode ser reescrita como: e V0 K Z 2 1 0 e E ' 1 e0 E ' dE ' , V0 (5) sendo 0 2 / uma quantidade complexa, a integração fornece36BENDERSKII: Z01 ( | | /2) V0 K e . 2 sen( | | /2) (6) Benderskii et al36 efetuaram o cálculo da integral (equação 5) tomando os limites como infinito de modo que o resultado dado pela equação 6 é válido para valores pequenos de | | /2 . O cálculo desta integral (equação 5) sem qualquer aproximação está delineado no apêndice C do livro do Bell.37 No final deste texto iremos ver uma generalização da equação 4 incluindo a energia de interação que veremos adiante. A equação 6 é conhecida como expressão de Wigner.36-38 Aqui | | é o módulo da frequência imaginária correspondendo ao estado de transição da reação. A equação 6 se reduz a equação de Arrehnius para | | /2 1 , ou seja, Z 01kBT Ea K e A0e Ea . 2 79 (7) Onde substituímos a barreira V0 pela energia de ativação Ea .A expressão de Wigner, equação 6 fornece a temperatura de ‘cross-over’, pois observamos que o seno de π é zero assim, c | | /2 , ou, | | 2 . k BTc (8) Como já é sabido esta divergência denota o fato de que a aproximação parabólica (oscilador invertido) ser válida para as energias próximas ao topo da barreira, e quando T<Tc as energias estão próximas a base do poço parabólico (não tem ativação térmica) a aproximação feita, ou seja a aproximação parabólica para a barreira de potencial, não é válida. O resultado aproximado de Wigner é obtido a partir da equação 6 quando | | /2 1 e expandimos a função seno, ou seja, com x | | / 2 temos senx x x3 / 6 e x / senx 1 x 2 / 6 , logo segue que a equação 6 fica: 1 | | 2 Ea K A0 [1 ( ) ]e . 24 kBT (9) O resultado acima é a conhecida a aproximação de Wigner para a correção na velocidade da reação devido a existência do tunelamento quântico. A correção de Wigner para a energia de ativação tiramos da equação 9, e que podemos escrever como, Ea' Ea k BT ln[1 1 | | 2 1 ( ) ] Ea ( | |) 2 ] . 24 kBT 24kBT (10) Vamos considerar agora o aumento na velocidade da reação com aplicação de campo sendo que esta abordagem se baseia numa série de evidências experimentais acerca do aumento por vezes realmente espetacular da velocidade da reação quando do aquecimento dielétrico conforme já salientamos. A partir do modelo de Wigner podemos inferir que qualquer modelo que inclua o efeito do campo na velocidade da reação deve depender de um parâmetro fundamental que caracteriza o sistema reagente que podemos pensar como sendo a frequência imaginária ( ) correspondente ao estado de transição do sistema. Assim a cinética fica alterada por uma função que deve depender de | | e do campo elétrico , como na equação 11: K Z 01{ dE ( E ) P( E ) exp( E )}Fmw ( ,| |, T ) . 0 80 (11) Portanto, estamos admitindo que podemos expressar a alteração na velocidade da reação devido a presença de uma densidade de energia eletromagnética, que em um a primeira aproximação permite que se escreva a equação de Arrhenius na forma: K A0 Fmw ( ,| |, T )e Ea . 12 A função Fmw deve, certamente, envolver alguma energia característica do sistema reacional na presença do campo eletromagnético, via sua componente elétrica. Mas qual energia do sistema (duas moléculas interagindo) deve entrar na definição da função Fmw ? O ponto de partida aqui é que se o campo tem uma influência explícita na velocidade das reações ela tem natureza quântica, pois durante a reação nenhuma energia associada ao campo e definida com bases na física clássica pode ser introduzida na expressão para Fmw pois classicamente entendemos a interação do campo com o meio reacional do ponto de vista macroscópico e que se traduz no aquecimento dielétrico. Entretanto sabemos que o complexo reagente deve ultrapassar uma barreira de energia o que é alcançado via ativação térmica. E como vimos a existência do efeito túnel modifica a equação de Arrhenius via permeabilidade da barreira da energia. Assim, a partir da extensa verificação experimental da contribuição do efeito túnel para a velocidade das reações, principalmente em baixas temperaturas onde certas reações ocorrem não por ativação térmica mas por tunelamento, a proposta apresentada aqui tenta explicar a aceleração das reações induzidas por micro ondas baseando-se na interação do próton com o campo eletromagnético durante o tunelamento. Como sabemos, esta energia tem natureza puramente quântica pois durante o tunelamento o próton está em uma região classicamente inacessível. Tal energia de interação, sendo linear no campo, certamente nos leva a um comportamento linear de ln K com o campo aplicado, como indicam as evidências experimentais e que cujo comportamento sugerimos na figura 2. Em situações nas quais os estados de transição envolvem a quebra e a formação de ligação entre átomos, como carbono, oxigênio, cujas massas são muitos maiores que a do próton, os efeitos esperados devem ser menores. Para detalhar melhor esta aproximação consideramos que o próton esteja incialmente ligado ao átomo A por meio de um potencial parabólico e cuja ligação se quebra mediante a passagem por uma barreira de energia que traduzimos por um potencial parabólico invertido (o oscilador invertido) como esquematizado na figura 3. Ao completar o tunelamento o 81 próton faz a ligação com outro átomo (B) por meio de um novo potencial parabólico. A barreira de energia (oscilador invertido) é definida pelo sistema molecular reagente como um todo e assim é possível assumir que durante o tunelamento o próton não se encontra ligado ao átomo A ou ao átomo B. h TS x2 x1 E hpB hpA x1 e x2 E' Classical turning points Figura 3. Tunelamento por oscilador invertido. Desta maneira estamos propondo que para reações induzidas por micro-ondas a velocidade da reação, que é o resultado macroscópico de colisões moleculares que permitem o acesso ao estado de transição via ativação térmica, seja incrementada por um evento microscópico de natureza quântica, o efeito túnel, por meio da energia de interação do próton, durante o tunelamento, com a componente espacial do campo existente no meio reacional. Entretanto a função Fmw não pode depender apenas da energia de interação do próton com o campo durante o tunelamento, pois o mesmo não é um evento isolado, pelo contrário está ocorrendo num sistema molecular complexo, que está passando (ou tende a passar) por um estado de transição, onde se configura a transferência do próton. Assim entendemos Fmw como decorrente de um fenômeno coletivo. Desta forma entendemos este efeito de aumento na velocidade da reação, que surge devido a existência do tunelamento quântico (esta é nossa premissa), como sendo oriundo de interações coletivas a uma temperatura T. Para tanto lembramos que todo o sistema molecular reagente se constitui, em certa aproximação, de um conjunto de osciladores acoplados cujas oscilações se traduzem nos modos normais de vibração 82 molecular. Iremos considerar agora que o termo de correção surge como um efeito coletivo dos N osciladores, que constituem o sistema molecular que está reagindo, devido a interação destes osciladores, que contem carga, com o campo eletromagnético macroscópico aplicado e definido em cada ponto do espaço via seu valor rms. Podemos admitir inicialmente que os N osciladores acoplados reforcem a termo da energia de interação na função Fmw , significando isto que contribuem para a ruptura do oscilador pA / 2 , contribuindo assim para que o próton definido pela energia do ponto zero, possa realizar o tunelamento, ligando-se subsequentemente ao oscilador definido pela energia do ponto zero, pB / 2 , conforme a figura 3 ilustra, sem que o sistema molecular como um todo passe pelo estado de transição. Desta forma propomos uma função tal que leve em conta a energia de interação do próton com o campo durante o tunelamento (que é uma parcela da Hamiltoniana total do sistema molecular) ponderada pela energia média dos N osciladores que compõem o sistema no estado de transição, isto é: Fmw exp | 1 U I A p | k BT (13) Sendo U é a energia média dos N osciladores que compõem o sistema molecular no estado de transição, N U e ( s 1/2) j j U j s /2 N j e j (1 e j /2 ) (14) Com U j sendo a energia média do oscilador quântico de frequência j : Uj 1 k BT (s 1/ 2) s e je ( s 1/2) j ( s 1/2) j (15) s e a energia de interação do próton com o campo durante o tunelamento é definida por : 83 I A p Re * inB (r ) Barrier i qA(r , t ) inB (r )d 3r . m Onde usamos o fato de que o Hamiltoniano H (16) ( P qA)2 V (r) é Hermitiano e 2m assim: 1 * ( A p p A) dv Re * ( A p) dv . 2 (17) Na equação 16 a função de onda inB é a função de onda molecular no interior da barreira. O campo eletromagnético é descrito pelo potencial vetor A , e p i é o momentum linear do próton de massa m e carga q . De fato num sistema real a massa é a massa efetiva da partícula que está tunelando e se traduz nos valores da frequência imaginaria no estado de transição, ou seja, ( ) 2 1 2 d V ( x) / dx 2 |x x0 . Ademais, em m reações envolvendo átomos pesados a carga será a carga efetiva (carga líquida do átomo), em geral, menor que a carga eletrônica, que, em geral é o valor da carga quando o próton é a massa que está tunelando. Deve ser lembrado que enquanto o próton tunela entre x1 e x2 na figura 3, o sistema molecular reagente passa do estado quântico molecular definido em x1 para o estado quântico molecular no estado x2, e podemos dizer que de certa forma o sistema molecular como um todo realiza o tunelamento quântico o que concorda com as ideias apresentadas na literatura. Deve ser notado que consideramos o valor absoluto do argumento na exponencial da equação 13, pois esperamos que ln K cresça com o campo. Ademais se admitirmos que K K (T , ) temos então K T K K 0 , e assim como, T T (evidência experimental via equação de Arrehnius) e T 0 (a temperatura sempre cresce com o campo, também uma evidência experimental) obtemos K 0 , ou seja cresce com o campo. Além do mais se admitirmos que variações em K devido ao campo sejam proporcionais a K , isto é, K (T , ) K (T , ) (T ) K (T , ) , vem que K (T , ) K0 (T )e (T ) , onde admitimos que (T ) é positivo. 84 Antes de considerarmos o cálculo da energia de interação, equação 16, observamos que após se efetuar a soma indicada na equação 15 podemos escrever o fator de correção Fmw , que fornece o aumento na velocidade de reação, por meio de, | | Fmw exp 2kBT N j j j cotgh( ) cossech( j / 2) 2 2 N cossech( j / 2) j 2 I | | A p . (18) Desta maneira vemos que a energia média dos N osciladores serve como um peso estatístico para a energia de interação durante o tunelamento. A equação 18 fornece o aumento na velocidade da reação como decorrente da energia de interação do próton com o campo durante o tunelamento, mediada pela energia média dos osciladores que caracterizam os modos normais de oscilação do sistema no estado de transição. Podemos também dizer que tal situação ocorre pelo efeito coletivo do campo eletromagnético aplicado nos N osciladores quânticos que passam a atuar como um banho térmico à temperatura T, para que a energia de interação durante o tunelamento resulte num efeito macroscópico que é aumento da velocidade de reação. É extremamente importante ressaltar que tal efeito é de natureza quântica sendo decorrente da existência do tunelamento quântico e estamos admitindo em primeira aproximação que a probabilidade de transmissão pela barreira não seja afetada diretamente pelo campo eletromagnético macroscópico, probabilidade que está relacionada a barreira de energia na coordenada da reação formada pela interações entre as moléculas reagentes na ausência do campo. Como dissemos, na equação 18 a soma sobre os N osciladores refere-se aos modos normais de oscilação do estado de transição, e assim na presente abordagem dizemos que na presença do campo externo, todo o sistema molecular, visto como um conjunto de osciladores quânticos, participa do evento de tunelamento sendo decisivos para o surgimento do termo que acelera a reação na presença do campo. Da equação 18, vemos que nesta aproximação devemos conhecer os modos normais do estado de transição de cada sistema reagente. Assim, admitimos que o efeito só existe se está definido um estado de transição para o sistema molecular em questão e quando este sistema está submetido a um campo. Como uma primeira Fmw iremos admitir que a contribuição aproximação para que possamos avaliar 85 predominante na soma da equação 18 venha exatamente do oscilador correspondente a vibração da ligação que vai ser rompida (ou seja, ligada a coordenada da reação) conforme ilustrado na figura 3. Isto é, a contribuição vem do oscilador invertido e que se constitui na barreira pela qual o próton realiza o tunelamento. Quer dizer que avaliamos Fmw considerando apenas o peso deste oscilador cuja frequência corresponde à do estado de transição, ou seja, a equação 18 fica expressa como: Fmw | | 2 exp | cotgh( ) I . 2 2 | | A p 2kBT (19) Como a frequência é imaginária, e como cotgh(i ) i cotg vem que, Fmw | | 2 | | 2 exp cotg( ) I 2kBT | | A p 2kBT (20) A primeira observação a se fazer a respeito do resultado dado na equação 20 é que o primeiro ramo da cotangente está definido entre zero e , e como podemos notar, o argumento na exponencial na equação 20 diverge em , ou seja na temperatura dada por, | | 2k BTc | | 2 . k BTc ou (21) Que é exatamente a condição que define a temperatura de ‘cross-over’ obtida no modelo de Wigner, equação 8. Como no caso de Wigner, a divergência em T=Tc também ocorre no presente modelo, e como na aproximação de Wigner, a aproximação que leva a equação 20 é válida para estados ativados, já próximos ao topo da barreira na coordenada da reação. Para se ter alguma ideia a respeito de valores assumidos por Tc , usamos o fato de que para reações na fase gasosa podemos encontrar 1000cm 1 , enquanto que na fase líquida temos valores entre 50 cm1 500 cm1 (mais adiante veremos alguns valores calculados, via DFT). Abaixo damos alguns valores de Tc para algumas frequências: (cm-1) Tc (K) 1500 343 1000 229 86 Para 500 114 200 46 100 23 x2 | | /2k BT 1 , expandimos x cotg x x(1 ) , assim obtemos, 3 2 Fmw | | 1 | | 2 2 exp | (1 ( ) | I 12 kBT | | A p 2kBT (22) A etapa seguinte para obtermos Fmw consiste no cálculo da energia de interação durante o tunelamento, equação 16, pois a função de onda no interior da barreira, inB leva em conta as interações de muitos corpos e sua amplitude é especificada pelos coeficientes de reflexão e transmissão. Para um sistema molecular em particular a função inB é uma função molecular desconhecida e é necessário o conhecimento da barreira de energia na coordenada da reação incluindo-se o estado de transição. Este problema pode ser tratado com os modernos métodos de química quântica computacional onde cálculos DFT propiciam o conhecimento detalhado do perfil de energia na coordenada da reação. Isto quer dizer que admitimos uma aproximação de ordem zero para a função de onda no interior da barreira, ou seja usamos a função de onda do sistema não perturbado pelo campo eletromagnético para se efetuar o cálculo da energia de interação, equação 16. Assim devido as dificuldades inerentes em se calcular a energia de interação começamos a efetuar algumas aproximações com o intento de verificar se o modelo apresentado fornece resultados aproximados que nos levem a julgar sua capacidade de explicar o aumento da velocidade das reações químicas quando submetidas ao aquecimento por micro-ondas. A análise de resultados aproximados irá permitir que se julgue a viabilidade ou não de se efetuar cálculos precisos da energia de interação. Como o interior da barreira é uma região classicamente inacessível, a energia de interação só pode ser entendida do ponto de vista quantomecânico, ou pelo menos em uma abordagem semi-clássica. Assim como primeira aproximação consideramos um cálculo semi-clássico para a integral na equação 16, 87 2 | | I A p 2 | | Re * inB (r ) Barrier i qA(r , t ) q dt inB (r )d 3r | | 2 A p | m m Barrier (23) Ou seja, admitimos que a energia de interação, por quantum de ação, possa ser expressa por 2 | | I A p | 2 q dt dr A p | | 2 qA | m Barrier Barrier (24) Clearly with such approximation the results will be independent of the energy of the particle and the height of the barrier but it is our belief that it can be used to provide an empirical standard to judge whether the more refined theory affords better results than the simplest possible approximation. Considering harmonic time varying fields with frequency , A(r , t ) A(r )e it and reducing the problem to a one dimension, 2 | | I A p 2qAdx / (25) barrier The integral extends between the two classical turning points. For protons the width of the barriers is around one Angstrom (Å) and for heavy atoms the width is around 0.30.6 Å and therefore the spatial variation of the field is quite negligible and it is assumed that the proton interacts with the root mean square (rms) of the field, which is given by, rms Arms . Therefore, the interaction energy becomes, 2 | | I A p 2qArms dx / 2qa rms / , (26) barrier confirming that in this semi classical approach the interaction energy do not depends on particle’s energy neither the height of the barrier. In the expression (26) a is the average barrier width and the product qa rms can be viewed as the interaction energy of a dipole of moment qa with the electrical field specified by rms . Therefore the interaction energy by unit of action can be viewed as the ratio between the interaction energy of a dipole defined by the particle that tunnels with the applied macroscopic electrical field, 2qa rms , and the quantum of energy, , of the field. De fato, a largura da barreira para o problema real depende da energia da partícula, mas em uma 88 primeira aproximação usamos um valor médio para a largura da barreira, que associamos a valores experimentais (por exemplo, para prótons a largura média é de 1 Å), mais a frente, no caso quântico, iremos focar novamente a largura da barreira. Outro ponto a salientar aqui diz respeito ao fato de admitirmos um pressuposto forte no que diz respeito a considerarmos a interação do próton apenas com a componente espacial do campo, ignorando portanto a dependência temporal desde que tempos de tunelamento são extremamente pequenos. Assim a argumentação aqui é de que a energia de interação (de natureza quântica) deve ser calculada apenas levando-se em conta a componente espacial do campo sendo esta parcela da Hamiltoniana do sistema que influência a velocidade da reação. Usando a equações 22 e 26 escrevemos a equação de Arrhenius (equação 12) como, K A0e | | 1 | | 2 qa rms |(1 ( ) | k BT 12 k BT e Ea k BT . (27) Sendo que para, 1 ( | | )2 1 podemos escrever de forma mais aproximada, 12 kBT K A0 e ( Ea | | qa rms ) k BT k BT (28) E portanto temos um comportamento linear para ln K como função do campo elétrico especificado pelo seu valor rms e uma correspondente redução na energia de ativação do sistema o qual agora apresenta uma energia de ativação efetiva dada por: 1 | | 2 qa rms E Ea | | (1 ( ) 12 kBT ' a Ea' Ea | | /2 qa rms /2 (29) (30) Aqui observamos que a energia efetiva de ativação depende da razão entre a energia do ponto zero dos osciladores invertidos, definidos no meio reacional, e a energia do ponto zero do campo eletromagnético presente no meio reacional Portanto nesta abordagem semi-clássica, onde a energia de interação não depende nem da energia da partícula nem da altura da barreira, a energia de ativação efetiva depende das características do sistema molecular as quais definem em última análise a frequência do estado de 89 transição, bem como depende da largura média da barreira pela qual o próton realiza o tunelamento. Devemos salientar que enquanto o logarítmico da velocidade de reação cresce linearmente com o campo a energia efetiva de ativação decresce linearmente com o campo cujo valor local é determinado pelas propriedades dielétricas do meio reacional ( ', ef , tg ), as quais por sua vez dependem da frequência do campo aplicado e da '' temperatura. Podemos verificar este fato observando que o valor do campo é determinado pelas propriedades dielétricas do meio reacional e que seu valor rms pode ser avaliado pela medida da potência média absorvida pelo meio reagente. Lembrando 2 P 0 ef'' rms V e assumindo que o volume V da que a potência absorvida e´ amostra onde o campo é apreciável, e pode ser especificado pelo seu valor rms, seja dado dp pela profundidade de atenuação do campo, isto é, V d 3p onde 1/2 2 1 tg 2 1 implica em que podemos escrever: ' c qa rms sendo '( 1 tg 2 1)3/2 1/2 qa [377 P ] }, c tg (31) 0 377 a impedância do espaço livre. Neste caso podemos escrever a 0 energia de ativação efetiva, equação 30, como: . Ea' Ea | | '( 1 tg 2 1)3/2 1/2 qa [377 P ] } c tg (32) Como podemos ver pela equações 29 e 31 a determinação da energia de ativação efetiva, para sistema em particular, requer o conhecimento da potência absorvida pelo meio e de suas propriedades dielétricas na temperatura T em que ocorre a reação e na frequência do campo elétrico aplicado, pois ', ef'' , tg dependem de e da temperatura. Concerning the barrier width, contrary to electrons, which can tunnel across barriers width up to 20 Å, protons, due to its mass, during the breaking and bond formation, can tunnel only narrow barriers around 1 Å or less. This means that the dependence of Fmw (or the effective activation energy) on particle effective mass is defined by the width of the barrier, heavy particles, for example as carbon or oxygen 90 atoms tunnel very narrow barrier whilst light particles as protons or electrons can tunnel more large barriers. Further, atoms in molecules carry an effective charge q that can be one-tenth of the proton charge, and thus for atoms, the correction term in equation 29 can be at least one-tenth smaller than for protons. Ademais, em virtude da potência absorvida a temperatura do meio aumenta, o que altera as propriedades dielétricas do meio o que por sua vez altera o valor local do campo. Deste modo devemos controlar a temperatura do meio reacional com resfriamento simultâneo ao aquecimento dielétrico para que a reação ocorra a uma temperatura fixa T , ou seja, controlar a temperatura estando o meio reacional absorvendo continuamente uma potência média P devida a emissão continua de microondas pela fonte. A etapa seguinte seria considerarmos valores numéricos para as correções na energia de ativação dadas nas equações 29, 30 para alguns sistemas onde conhecemos, via cálculos DFT, a energia de ativação e o estado de transição19-22 além do conhecimento das propriedades dielétricas do meio reacional.7,8 Mas é nosso entendimento que antes devemos voltar ao fato de que até agora tratamos apenas a aproximação dita semi-clássica para a energia de interação. Portanto, antes, devemos tentar extrair o máximo de informação via alguma aproximação para o cálculo quantomecânico da energia de interação. Isto significa que ao invés de seguirmos o caminho definido pela equação 23, voltamos à equação 22, e reescrevemos o fator de correção como: Fmw 1 1 | | 2 exp | (1 ( ) | I A p . 12 kBT kBT (33) Sendo I A p dado pela equação 16. Admitindo como antes, que a interação ocorre com a componente espacial do campo, sendo independente do tempo, sendo o campo local especificado pelo seu valor rms, podemos reescrever a equação 16 como: I A p Re q * rms inB (r ) inB (r )d 3r im Barrier (34) As a zero order approximation the wave function in equation 34 can be taken as the wave function of the unperturbed molecular system (without the application of electrical field). Therefore, the calculation of equation 34 for a molecular system is a very difficult task requiring the knowledge of the molecular wave function inside the barrier as well as information about the potential-energy surface and the result will 91 depend on the width, height and shape of the effective barrier as well as the nature of the tunneling paths. Modern computational quantum chemistry methods must be employed to perform a rigorous calculation of equation 34. Until now it is not known whether a quantum calculation of equation 34, will decreases more or less the effective activation energies comparing with the results found by the semi-classical approach (equation 29). Desta maneira fica claro que alguma aproximação deve ser feita para avaliarmos de forma simplificada a energia de interação dada pela equação 34. Naturalmente o cálculo mais simples possível corresponde ao caso clássico do tunelamento em uma barreira retangular de altura V0 entre x a e x a , conforme ilustrado abaixo na figura 4. V0 x=-a x=+a Figura 4. Tunelamento em barreira retangular. Neste problema, como usualmente se faz, definimos 2 2m 2 (V0 E ) e k 2 2mE 2 de modo que o cálculo da energia de interação (equação 34) com o campo especificado por rms fornece: 2 I A p (1 2 )(senh2 a/2 a) 2 2qa rms k | A1 |2 a 2 2 . 2 Nm 2 2 (1 2 )( a) (senh2 a/2 a) k2 k (35) Na equação 35, | A1 |2 é a amplitude da onda incidente e N é a norma da função de onda no interior da barreira: N * inB (r ) inB (r )d 3r . Aqui não detalhamos N pois Barrier estamos interessados no comportamento da energia de interação para energias da 92 partícula próximas ao topo da barreira, isto é, para E V0 ou 0 . Neste limite N 2a | A1 |2 e consequentemente a energia de interação se reduz à: I A p q rms 1 /22 2 qa rms m a 2 m a (36) Neste exemplo simples a energia de interação é igual a uma fração da energia de um dipolo de momento qa em um campo rms , sendo a fração igual a razão entre a energia do ponto zero do campo eletromagnético de frequência e a energia potencial de um oscilador de massa m frequência e de amplitude a . A energia de interação neste exemplo se reduz a um valor finito (diferente de zero) devido ao fato de que para uma partícula com energia igual ao topo da barreira E V0 , a partícula ainda percorre uma distância 2a . Este é o fato principal pelo qual a barreira retangular não serve como exemplo para o cálculo da energia de interação quando estamos tratando de reações químicas. Analisando a equação 36 à luz do princípio da incerteza, vemos que quanto menor o valor de a , mais confinado estará o próton e tanto maior será seu momentum e como a energia de interação é A p então maior será esta energia de interação e assim o resultado expresso na equação 36, do ponto de vista da mecânica quântica, faz sentido. Em reações, o estado de transição corresponde a um ponto de cela na superfície de energia potencial que podemos aproximar por um barreira parabólica, ou aproximar pelo potencial proposto por Carl Eckart40, por exemplo. Para qualquer perfil da superfície de energia potencial sempre vamos encontrar apenas um ponto da coordenada de reação em que ocorre a igualdade E V0 pois o estado de transição é único e, em assim sendo, para esta energia que corresponde ao estado de transição, o tunelamento é nulo e logo a energia de interação também deve ser nula. Isto é, devemos ter I A p 0 quando E V0 ou, de forma equivalente, quando 2m 2 ( E V0 ) 0 . De início, podemos ainda tratar de forma simplificada o problema tratando a barreira como parabólica e fazendo a hipótese de que podemos considerar o próton como uma onda incidindo na barreira sendo na região oposta tratado como um onda transmitida. Com isto estamos considerando que o próton encontra-se momentaneamente livre pois rompeu-se a ligação com átomo A para que ele possa 93 realizar o tunelamento penetrando na região classicamente proibida e ao emergir, após tunelar, ele encontra-se também momentaneamente livre, exatamente antes de ligar-se ao átomo B. Na figura 5 ilustramos a situação proposta. x1 e x2 Ligado: Átomo A Classical turning points h Ligado: Átomo B E E' x1 Quebra da ligação x2 Formação da ligação inside trans inc+ref Figura 5. Tunelamento em barreira parabólica. Dentro desta aproximação para o problema real, consideramos o problema em uma dimensão de modo que descrevemos a função de onda à esquerda como uma onda plana incidindo e outra refletida, enquanto que à direita a função de onda é descrita como uma onda plana (onda plana transmitida). No interior da barreira a solução é encontrada resolvendo-se a equação de Schroedinger: d 2 inB 2m 2 (V ( x) E ) inB 0 dx 2 (37) e escrevemos a barreira parabólica como antes, V ( x) (b 2 x 2 )V0 / b 2 de modo que classicamente os pontos de retorno são, x b 1 E , e a frequência imaginária V0 correspondente é 2V0 / mb2 i 2V0 / mb2 . Assim podemos escrever a equação 37 como, d 2 inB m | | 2 2 2 ( ( ) x ) inB 0 dx 2 Onde 2 2m 2 (38) (V0 E ) . Assim a solução no interior da barreira deve satisfazer a equação 38 e as condições de contorno nos pontos de retorno clássicos. Ao invés de 94 resolvermos diretamente o problema podemos em primeira mão argumentar que a solução inB da equação 38 vai depender do parâmetro e do mesmo modo também a energia de interação, equação 34. Com esta barreira parabólica unidimensional escrevemos a equação 34 como: x (E) I A p 2 q * Re rms inB ( x, , k ) x inB ( x, , k )dx im x1 ( E ) (39) . Onde k 2 2mE 2 com x1 ( E ) e x2 ( E ) sendo os pontos de retorno clássicos. E agora consideramos que a energia de interação, equação 39, possa ser escrita como, I A p Re q rms F ( , k , a) , im (40) com a sendo a largura média da barreira. Por exemplo, para uma energia E, considerando-se a barreira parabólica acima, a largura é função da energia, a( E ) 2b 1 E . Note-se que a largura da barreira é nula para E=V0. A largura média V0 V 1 0 E 2 é a 2b 1 dE (2b) . A função F ( , k , a ) deve ser nula para E=V0 e para V0 0 V0 3 0 esperamos que a energia de interação varie linearmente com V0 E de modo que o comportamento de F ( , k , a ) nesta região seja, F ( , k , a) a 2 , (41) sendo uma constante (adimensional), que depende do potencial adotado (parabólico, Eckart, etc.), e portanto a energia de interação fica aproximadamente dada por: I A p q rms aq 2 q rms a 2m2 (V0 E ) , m m 95 (42) ou, I A p 2 qa rms (V0 E ) . (43) Portanto, diferentemente do resultado obtido com a aproximação semi-clássica, equação 26, agora a energia de interação depende não só da largura média da barreira, como também da energia do próton e da altura da barreira. Ao invés da energia dada na equação 43, consideramos todas as energias entre zero e V0 como sendo acessíveis (o que é discutível e deve ser tomada como uma aproximação simplificadora no presente momento), e tomamos a média da energia de interação considerando todos os valores possíveis de energia, ou seja, 2 qa rms 1 0 (V E )dE , V0 0 0 V I A p (44) ou, qa rms V0 (45) 1 1 | | 2 qa rms exp | (1 ( ) | V0 12 kBT kBT (46) I A p E obtemos para Fmw , equação 33, Fmw Como a altura da barreira V0 corresponde a energia de ativação Ea, a equação de Arrhenius, equação 12, fica, KQM A0e Ea kBT e 1 1 | | 2 qa rms [(1 ( ) ] Ea k BT 12 kBT (47) ou, KQM A0e {1[1 1 | | 2 qa rms Ea ( ) ] } 12 kBT kBT Nesta aproximação a energia de ativação efetiva é portanto: 96 (48) ' aQM E 1 | | 2 qa rms {1 [1 ( ) ] }Ea . 12 k BT (49) Onde usou-se a subscrito QM nas equações 47-49 para diferenciar dos resultados anteriores dados nas equações 27-29 da abordagem semi-clássica. Com os resultados aproximados para a velocidade da reação e energia efetiva de ativação, equações 48 e 49, e os da abordagem semi-clássica, equações 27 e 29, podemos comparar os resultados numéricos obtidos em cada abordagem para algumas situações particulares. Iremos portanto analisar os resultados da abordagem semi-clássica: K SC A0e | | 1 | | 2 qa rms |(1 ( ) | k BT 12 kBT e Ea kBT (50) e, ' EaSC Ea | | [(1 1 | | 2 qa rms ( ) ] , 12 kBT (51) juntamente com os resultados obtidos quanticamente, equações 48 e 49. A primeira observação a fazer, é que em ambas as abordagens temos valores de campo que podem anular a barreira, os quais são dados respectivamente por: rms SC qa Ea 1 | | 2 | | [(1 ( ) ] 12 kBT (52) na abordagem semi-clássica, e, rms QM 1 / qa 1 | | 12 ( k BT (53) ) 2 na abordagem quântica. Os valores mínimos de campo para se anular a barreira são qa Ea no caso semi-clássico e no caso quântico, os quais podem diferir em | | qa muito como veremos a seguir. Para avaliarmos as equações 52 e 53 precisamos conhecer a carga da massa que está tunelando e a largura a da barreira. Como é conhecido, prótons em geral tunelam barreiras com largura de 1 Å e no que segue os resultados numéricos são obtidos com este valor para a largura da barreira. Na figura 6 97 ilustramos um perfil da energia de uma reação típica com transferência de próton (etanólise do monoglicerídeo do ácido butírico via rota ácida 22 ). DFT 15 Micro solvation TS2 Energy (Kcal/mol) 10 TS1 5 INT 0 RC -5 PC Reaction Path Figura 6. Perfil de energia da etanólise de um monoglicerídio via rota ácida em solução incluindo micro solvatação. De modo que podemos considerar energias de ativação com valores entre 5 e 10 kCal/mol para se avaliar os resultados alcançados nas duas abordagens consideradas aqui. E vamos considerar a frequência do campo como / 2 2, 45GHz , a qual é usada normalmente para a indução de reações químicas. Como ainda não temos o valor da constante iremos considerar por simplicidade como sendo igual a unidade ( 1 / qa , vale / qa 101, 46 kV / m e para ). Neste caso a unidade básica de campo, avaliarmos as equações 52 e 53 podemos utilizar os estados de transição da figura 5 obtidos previamente.22 O estado de transição TS1 apresenta uma frequência imaginária | |TS 1 165, 46 cm1 4,93 x103 GHz enquanto que TS2 tem | |TS 2 174, 27 cm 1 . Vamos admitir uma energia de ativação de 5 kcal/mol e temperatura de 70 0C de modo que kBT 0,681kcal / mol e temos usaremos o valor médio | |TS 170 cm 1 5,10 x103 GHz para a frequência imaginária para fins de cálculo e assim rms QM | |TS 0, 487 kcal / mol . Com esses valores obtemos 1, 044 qa rms SC 10, 72 qa e . Resultados que mostram uma diferença enorme nos valores do 98 campo entre as abordagens utilizadas até aqui. Diferença esta, que pode crescer se admitirmos que o valor de possa ser maior que 1 ( 1 ). Portanto para se anular a energia de ativação necessitamos de valores de campo elevados. De qualquer maneira campos de menor intensidade (no caso QM) podem reduzir de forma significativa a energia de ativação, por exemplo, para uma redução de 40% na energia de ativação, considerando os dados acima, com 1 , os campos se reduzem à rms QM 0, 41 qa 42, 4kV / m . rms SC 4, 28 qa e Obviamente para se alcançar campos elevados devemos aplicar potências elevadas na amostra reacional. Sabemos que o valor do campo no meio racional depende das propriedades dielétricas do meio e podemos avalia-lo por meio da potência média absorvida pelo meio como expresso na equação 31, onde admitiu-se que o volume da amostra submetido ao campo é definido pela profundidade de atenuação, isto é, rms [377 P c '( 1 tg 2 1)3/2 1/2 ] } . tg (54) Usamos agora a equação 54 para calcularmos o campo em alguns meios cujas propriedades dielétricas são conhecidas, para obtermos a energia de ativação efetiva usando as equações 48 e 50. Na tabela 1 são apresentados alguns resultados numéricos para o campo e para a energia de ativação efetiva (relativa a energia de ativação) admitindo-se uma potência absorvida de 1 kW pelos meios, sendo a frequência igual 2,45 GHz. A tabela 1 deixa claro a dependência do campo com as propriedades dielétricas do meio, as quais por sua vez dependem da frequência e da temperatura. Em não havendo controle da temperatura fica evidente que, decorrente da absorção de energia eletromagnética, a temperatura cresce e consequentemente mudam as propriedades dielétricas alterando o valor do campo no meio. Deve ser notado a forte dependência do valor rms do campo com a tangente de perda, acarretando em campos bastante elevados no caso dos líquidos ácido sulfúrico e glicerina. Apenas para estes dois líquidos a tangente de perda ( tg ) aumenta com a temperatura e consequentemente o campo. Para os diversos meios líquidos apresentados na tabela 1 as energias de ativação efetiva foram calculadas considerando-se processos de transferência de próton com existência de uma barreira de energia. 99 Água 25 0C Água 70 0C Etanol 300C Etanol 70 0C 0 Metanol 30 C Metanol 600C 0 Glicerina 30 C Glicerina 70 0C 0 H2SO4 30 C H2SO4 70 0C Òleo castanha 70 ' EaQM / Ea ' EaQM / Ea ' ef' tg rms (kV / m) ' EaSC / Ea 1 2 78,0 11,7 0,15 8,31 0,992 0,922 0,845 63,6 3,12 0,049 2,59 0,997 0,975 0,951 8,91 8,00 0,897 25,76 0,976 0,759 0,519 14,68 7,31 0,498 17,49 0,983 0,834 0,669 24,02 12,53 0,52 20,58 0,981 0,808 0,616 24,65 7,64 0,31 12,71 0,988 0,880 0,760 7,88 5,51 0,70 20,27 0,981 0,811 0,622 12,34 11,64 0,943 54,53 0,949 0,485 -0,029 29,10 112,2 3,85 84,50 0,923 0,212 -0,574 29,50 192,2 6,91 106,78 0,901 -0,007 -1,015 2,95 0,25 0,085 2,08 0,998 0,980 0,960 3,51 0,5 0,142 4,96 0,995 0,953 0,906 4,91 1,63 0,33 9,02 0,991 0,914 0,829 4,41 0,59 0,13 3,51 0,996 0,966 0,933 4,48 1,79 0,40 10,59 0,998 0,970 0,941 3,48 0,51 0,146 3,71 0,999 0,989 0,979 0 C Òleo+5%H2SO4 700C Etanólise: início fim Metanólise: início fim Tabela 1. Campo elétrico e energias de ativação efetivas para processos transferência de proton em diferentes meios absorvendo 1Kw. Dielectric parameters taken from references (24, 37, …) at 2.45 GHz and T=70 0C. Methanol at 600C. Barrier width a = 1 Å. Etanólise a 70 0C e metanólise a 600C: vide texto. Ou seja, estamos admitindo que os reagentes, no caso da água, etanol, metanol, glicerina, estejam diluídos o suficiente de modo a não alterar as propriedades dielétricas desses meios que atuam como solventes. Já no caso do ácido sulfúrico, óleo e óleo+ácido sulfúrico (5% V/VT), estamos considerando processos que envolvem a transferência de próton com barreira, mas não sendo necessariamente uma reação química, pois o ácido é um catalisador e o óleo um reagente. Na tabela 1, para calcularmos as energias de ativação efetivas usou-se | |TS 170 cm1 como sendo o ' valor da frequência imaginária e para a razão EaSC / Ea , consideramos Ea 5 kcal / mol , pois essa razão é dependente da energia de ativação (equação 51), enquanto que a razão ' EaQM / Ea é independente da energia de ativação (equação 49). Para esta última razão usamos dois valores para a constante . Uma inspeção da tabela 1 mostra que as 100 ' energias efetivas semi-clássicas EaSC pouco diferem das energias de ativação, pois os valores de campo nestes meios estão muito aquém do valor necessário para se anular a barreira de Ea 5 kcal / mol ou seja, rms SC 10, 72 qa 1087 kV / m (a 70 C). 0 Somente no caso da glicerina e do ácido sulfúrico as correções se mostram apreciáveis chegando a uma redução em torno de 10% em 70 0C para o ácido. Ademais, se considerarmos energias de ativação maiores, as correções na energia de ativação com os campos da tabela 1 se tornam progressivamente mais irrisórias. Portanto, pela tabela 1 vê-se que, mesmo para uma potência absorvida apreciável (1kW), a abordagem semiclássica leva a reduções desprezíveis na energia de ativação de modo que não seria possível a observação experimental de redução apreciável na velocidade das reações induzidas por micro-ondas. Por outro lado, como vimos, na abordagem quântica o menor valor de campo para anular a barreira de energia, a 70 rms QM 1, 044 qa C, é 0 105,9 kV / m (com 1 ) e os resultados mostrados na tabela 1, obtidos com o cálculo quântico da energia de interação revelam reduções importantes nas energias de ativação. Para o caso extremos do ácido sulfúrico vemos que a 70 0C o campo já tem valor suficiente para anular a barreira de energia. Se considerarmos 2 , as correções na energia se tornam mais apreciáveis, pois agora o campo mínimo para se anular a barreira é reduzido para 52,9 kV / m . Podemos ver na tabela 1 que na glicerina e no H2SO4 os campos são mais do que suficientes para anular a barreira, sendo que no H2SO4 a 70 0C o valor do campo é o dobro do necessário para anular a barreira. Estas reduções apreciáveis para as energias de ativação para o caso 2 podem explicar as grandes diferenças observadas nos tempos reacionais quando comparamos reações induzidas por aquecimento convencional e por micro-ondas. Assim fica claro a importância de se calcular a energia de interação, equação 39, de forma a se obter pelo menos aproximadamente o valor de . É importante lembrar que o valor de depende da forma (perfil da) energia potencial (ou seja, do perfil da barreira) e assim vai assumir diferentes valores dependendo da reação química. Entretanto qualquer barreira real pode sempre ser aproximada mediante uma expansão em Taylor o que nos remete a aproximação parabólica para a energia potencial. Desta maneira vê-se a importância de se avaliar o valor de para uma barreira em particular, 101 como o caso da barreira parabólica, ou mesmo considerando-se o potencial de Eckart por exemplo. Podemos pensar nos resultados da tabela 1 como promissores no tocante a uma possível explanação acerca das grandes diferenças observadas nos tempos reacionais quando comparamos reações induzidas por micro-ondas e induzidas com aquecimento convencional. Isto pode servir de estímulo para um cálculo mais detalhado da energia de interação com o campo durante o tunelamento do próton e que possivelmente nos leve a resultados mais contundentes para a cinética e energias de ativação efetivas. Entretanto, é nosso entendimento que se faz mister a realização de experimentos específicos de cinética visando observar ou não a influência do campo nas velocidades de inúmeras reações químicas. Um estudo experimental amplo exige a realização inicialmente da cinética com aquecimento convencional para a determinação da energia de ativação do sistema. Subsequentemente deve-se realizar a cinética, para o mesmo sistema, com a reações induzidas por micro-ondas, sendo que a cada temperatura escolhida, deve-se variar a potência aplicada de modo a se estabelecer uma relação entre lnK e a potência (ou campo), ou entre K e campo. Até o momento não encontramos na literatura experimentos realizados dessa maneira e aqui salientamos a extrema dificuldade em se controlar, com bastante precisão (ideal 0,1 0C ) a temperatura em cada potência aplicada, além da imprecisão inerente na medida da potência absorvida pelo meio reacional, que vai sempre ser diferente da potência emitida pela fonte, a qual é conhecida. Além disso, vimos que a velocidade da reação na presença do campo não pode se manter constante, dado que o campo se altera devido as mudanças das propriedades dielétricas do meio reacional. Isto torna mais complexa a situação, pois entendo que talvez o que vai ser medido seja a velocidade média da reação. Mas estas questões do ponto de vista experimental deverão ser mais cuidadosamente detalhadas. Para finalizar vamos nos ater agora duas críticas construtivas que considero importantes para se estabelecer um debate acerca do que aqui apresentamos. Críticas C1 – Sobre a definição do fator de correção e energia de interação no caso semiclássico. Não é difícil perceber uma certa arbitrariedade na definição do fator de correção Fmw a ser inserido na equação de Arrehinius, equação 12, devido a inclusão do termo 102 | | 2 , na equação 18 e a respectiva definição da energia de interação no caso 2 | | semi-clássico, equação 23, que nos remete aos resultados expressos nas equações 27 e 29 para a velocidade da reação e energia de ativação efetiva. A inclusão do termo | | 2 pode soar como artificial e sem um embasamento claro, pois na 2 | | abordagem quântica ele não é utilizado. Aqui vamos remover tal termo e analisar que influência tem sobre o resultado para a energia de ativação efetiva. A remoção de tal termo significa que no caso semi-clássico, escrevemos Fmw ao invés da equação 13, escrevemos agora: Fmw exp | U I A p | , (C1.1) e, como antes, N U e ( s 1/2) j j U j s N /2 j e j (1 e j /2 ) . (C1.2) Com U j definido na equação 15, mas porém agora a energia de interação fica definida por: I A p | q dt dr A p | | qA | m Barrier Barrier (C1.3) Com estas definições e usando o mesmo procedimento anterior obtemos, |(1 K A0 e 1 | | 2 qa rms ( ) | 12 k BT Ea' Ea k BT (1 e Ea k BT 1 | | 2 qa rms ( ) 12 kBT 103 (C1.4) (C1.5) Mas nesta situação, quando 1 | | 2 ( ) 1 a velocidade da reação, equação C1.4, 12 k BT fica, K A0e qa rms e Ea k BT (C1.6) o que significa um crescimento com o campo sem a influência da temperatura, contrariamente ao que diz a equação 28, onde o termo de campo é balanceado pela temperatura. Fica em aberto a questão de ser a equação C1.6 inválida ou não, pela ausência da temperatura no termo envolvendo o campo. Ademais, com respeito a energia de ativação efetiva, equação C1.5, a diferença em relação ao resultado expresso na equação 29, consiste na diferença entre os valores de kBT e | | . Por exemplo para os dados da tabela 1 com T=70 0C e | |TS 170 cm1 essas energias são: kBT 0,681kcal / mol e | |TS 0, 487 kcal / mol . Logo podemos antever diferenças pequenas para os valores das energias de ativação efetivas quando calculadas usando-se a equação 27 ou a equação C1.5. Vamos exemplificar com o ácido sulfúrico a T=70 0C. Aqui observamos a maior redução na energia de ativação ou, conforme a tabela 1, ' ' EaSC / Ea =0,901. Se utilizarmos a equação C1.5 temos EaSC / Ea =0,862. Esta diferença diminui muito nos outros casos, por exemplo para o etanol (T=70 0C ) a equação C1.5 ' ' fornece EaSC / Ea =0,977 enquanto que a tabela 1 mostra EaSC / Ea =0,983. Portanto do ponto de vista da magnitude da correção alcançada esta definição da energia de interação semi-clássica em pouco difere da anterior mas permanecendo em aberto a questão apontada devido ao comportamento de K especificado na equação C.16. Deve ficar claro que na abordagem quântica, não existe nenhuma dubiedade com relação a definição do fator Fmw , ou à energia de interação. Mas para a abordagem QM também existe outra possibilidade mas no tocante à maneira de se incorporar Fmw na constante cinética, equação 11. C2 – Sobre a incorporação do fator de correção na constante cinética no caso quantomecânico. A proposta de inclusão do efeito do campo na constante cinética se baseia na equação 11, que reproduzimos aqui: 104 K Z { dE ( E ) P( E ) exp( E )}Fmw ( ,| |, T ) 1 0 (C2.1) 0 Sendo Fmw definido pela equação 13, Fmw exp | 1 U I A p | k BT (C2.2) Uma aproximação para a energia de interação nos levou ao resultado (equação 43): I A p 2 qa rms (V0 E ) (C2.3) Explicitando o fato de que a energia de interação depende da energia da partícula, da largura média e da altura da barreira. Mas na abordagem QM tomamos o valor médio da energia de interação, equação 45, ou seja, I A p qa rms V0 , e, portanto Fmw fica independente da energia do próton e usamos a equação 12 para inserir a energia de interação na equação de Arrehnius. Por outro lado se não efetuarmos a média, a energia de interação depende da energia da partícula e na realidade o fator Fmw deveria ser inserido na integral da energia, ou seja em uma primeira aproximação reescrevendo a equação C2.1 como, K Z { dE ( E ) P( E ) exp( E ) exp( I A p } 1 0 (C2.4) 0 Com I A p sendo dado de forma aproximada pela equação C2.3 e onde não levamos em U , desde que é independente da energia da partícula. Ademais conta o termo vamos usar a aproximação parabólica para a barreira, de modo que aparentemente não é necessário a inclusão do termo U . Nesta aproximação usamos as equações 2, 3 e 4, e escrevendo a equação C2.3 como, I A p 2 qa rms (V0 E ) 2 (V0 E ) , (C2.5) podemos escrever a equação C2.4 para K, como sendo: Z 01 0 K [ 2 0 V e E 2 1 e (V0 E ) e 2 (V0 E ) dE V0 105 e E 2 1 e (V0 E ) dE ] (C2.6) Pois a energia de interação com o campo durante o tunelamento só está definida para energias entre zero e V0 ( 0 E V0 ). O cálculo agora é mais difícil, pois sem energia de interação a integral não é simples de se calcular (ver Bell) e agora temos uma dificuldade maior. Sem a energia de interação temos que calcular a segunda integral, na equação C2.6, entre zero e infinito. Efetuando-se a substituição de variável, z e0 (V0 E ) , com 0 2 / podemos escrever esta integral como: (não esquecer que é complexo e portanto z é uma variável complexa) 0 e E 2 1 e (V0 E ) dE e V0 0 V0 0V0 / 0 z dz e 1 z z 0 0 0V0 0 1 0 z dz 1 z (C2.7) É possível (Benderskii et al36 ) obter um resultado aproximado para a integral acima substituindo-se o limite superior na última integral por infinito, daí, 1 0 z dz 0 1 z sen . (C2.8) 0 Com o resultado acima chega-se então a resultado de Wigner, equação 6. O cálculo detalhado da integral (equação C2.7) encontra-se no livro do Bell37 onde a análise feita mostra que o resultado dado pela equação C2.8 pode ser usado em muitas situações. No presente caso usando a variável complexa z, reescrevemos a equação C2.6 como: K 1 0 V0 1 1 0 Z e z [ dz 2 0 0 1 z 0V0 1 z (1 2 ) 1 0 1 z dz ] (C2.9) Portanto temos um pepino pela frente pra resolver, para que possamos, dentro desta abordagem, obter o comportamento de K com o campo, que está embutido na constante qa rms . A equação C2.9 pode nos levar a uma fraca dependência de K com o campo, ou a uma forte dependência, não é possível antever o comportamento de K sem avaliar as integrais em C2.9. Ademais temos preliminarmente um outro problema complexo que é a determinação precisa da energia de interação para um sistema molecular real, ou mesmo idealizando a situação, para um potencial parabólico (ou de 106 Eckart), por exemplo, para que tenhamos uma ideia do valor da constante . Quanto maior for o valor desta constante maior será o efeito do campo na velocidade da reação. Portanto, até aqui temos alguns resultados aproximados que são promissores, mas avançar neste sentido requer um esforço maior, e acredito que as ideias simples aqui apresentadas possam servir de base para ideias mais avançadas e cálculos mais elaborados afim de obtermos resultados que reproduzam dados experimentais com grande precisão e com um maior respaldo teórico. Apêndice Energia de Interação em Barreira Retangular. V0 I inB x=-a Com 2 2m 2 (V0 E ) e II x=+a k2 2mE 2 temos : II Feikx Ge ikx I A1eikx B1e ikx inB C cosh x Dsenh x Boundary conditions at : x a A1e ika B1e ika C cosh a - Dsenh a A1eika B1e ika i [Csenh a - D cosh a] k 107 and x a Feika Geika C cosh a Dsenh a Feika Geika i [Csenh a D cosh a] k Resolvemos e impomos G=0 (onda incidindo da esquerda) o que fornece: i cotgh a)senh a k C D i (1 tgh a) cosh a k (1 Usamos agora as condições de contorno em x a , o que permite encontrar, C, D e F em termos de A1: C eika A1 (1 i tgh a) cosh a k | C 2 | A1 1 (1 2 k2 tgh 2 a) cosh 2 a D eika i A1 (1 cotgh a) senh a k | D 2 | A1 F A1 1 (1 2 k2 cotgh 2 a)senh 2 a e 2ika 2 k2 cosh 2 a i ( )senh 2 a 2 k Sendo que F fornece o coeficiente de transmissão e o resultado acima concorda com o que encontramos em qualquer livro texto (Eugene Merzbacher, Quantum Mechanics). Nos interessa aqui os coeficientes C e D que fornecem a função de onda no interior da barreira. A normalização da função de onda no interior da barreira fornece: 108 N senh2 a [| C |2 | D |2 ]a a[| C |2 | D |2 ] 2 a E é fácil de verificar que quando 0 temos N 2a | C |2 2a | A1 |2 . Calculamos a energia de interação a I Ap I Ap 1 qA d * inB ( ) inB dx N a m i dx 1 q rms N m i 2 I Ap a d [C cosh x D senh x] dx [Ccosh x Dsenh x]dx * * a 1 q rms senh2 a (C * D CD* ) (C * D CD* )a N m 2 Calculando explicitamente I pA , vem 1 q rms senh2 a (C * D CD* ) (C * D CD* )a N m 2 I pA Ou seja, quando somamos 1 ( I Ap I pA ) as partes imaginárias se cancelam, de modo que 2 a energia de interação é: I Ap 1 q rms senh2 a (C * D CD* ) N m 2 Calculamos C * D CD* C * D CD* (1+ 2 k2 2 k2 (1+ )senh2 a 2 k2 )2 senh 2 2 a 4 De modo que a energia de interação fica: I Ap 2 q rms N m senh2 a 2 ) 2 2 2 k 2 a a | A1 | 2 2 2 senh2 a 2 (1+ ) ( a) 2 ( ) 2 2 k k 2 a (1+ 109 2 2 )( senh2 a 2 1 e logo, desprezando 2 , vem, Quando 0 , temos 2 a k I Ap 2 q rms 2 2 1 a | A1 |2 2 2 N m a ou, como para 0 , N 2a | C |2 2a | A1 |2 , obtemos: I A p q rms 1 /22 2 qa rms , m a 2 m a que é a equação 36. Referências 1. J. D. Jackson – Classical Electrodynamics John Wiley & Sons Inc. 2. John R. Reitz, F. J. 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