ARQ. SAúDE MENTAL - ESTADO DE SAO PAULO, Vols, IMPOTENCIA SEXUAL NOS JOVENS: XLVII a LH, (154 - 1~7) 1988(93 UM DRAMA SOCIAL Fuad AI Assal* A impotência sexual atinge no Brasil, presumivelmente, mais de 9.000.000 de pessoas segundo pesquisa do Centro de Estudos e Terapia da Impotência de São Paulo, sob nossa direção, Há uma crença popular, e mesmo no meio médico, de que a impotência sexual seja própria dos idosos, Puro engano, Para surpresa geral, sua frequência é grande entre os jovens, que representam 40% dos casos, segundo o professor RONALDVIRAG,de Paris, e 44%, segundo estudos da nossa equipe, Numa amostragem de 300 casos, 132 eram jovens entre 20 e 40 anos, Desses, alguns jamais haviam conseguido a realização do ato sexual. Dados os preconceitos sociais reinantes, os jovens em questão não revelam seu problema aos pais, irmãos ou amigos, Daí serem dominados por uma grande tensão emocional e uma crise existencial, que os tornam marginalizados, tanto na vida social, como no trabalho, Em consequência desse drama íntimo muitos são levados ao suicídio e alguns descambam para o homossexualísmo . Centenas de cartas, que vimos recebendo de todos os quadrantes brasileiros, revelam a gravidade desse problema médico-social, Quantas vidas conjugais abaladas, quantos lares destruídos, quantos destinos de jovens amputados pela impotência sexual. O manto do pudor que envolve esse assunto e o tabu que representa devem ser banidos, Urge considerar-se esse distúrbio sexual como uma doença qualquer, passível de tratamento, A maioria dos médicos (*) O Prof. FUAD AL ASSAL é docente de Cirurgia da USP, Prof. Titular de Angiologia da PUC, Presidente da Sociedade Brasileira de Microcirurgia e fundador do Centro de Estudos e Terapia de Impotência de S, Paulo. Tem cursos de especialização em mícrocírurgía em Nova York, Londres e tratamento cirurgico da impotência em Paris e Rochester (E, U,A,) Este trabalho foi publicado originalmente no jornal o Estado de São Paulo, em 01- 11- 1988, p. 35. -154- IMPoreNCIA SEXUAL NOS JOVENS; UM DRAMA SOCIAL considerava, até há pouco, a impotência dos jovens como de origem psíco-emocionaí em 90% dos casos, quando, na verdade esse fator representa apenas 1 a 15%. Por isso, tais pacientes eram encaminhados aos psicólogos e psicanalistas onde se submetiam ao competente tratamento Deitavam-se nos divãs dos especialistas meses e anos, sem sucesso, sem ao menos um fio de esperança de cura. Ao contrário, sua impotência era agravada e suas perspectivas tornavam-se sombrias. Porém, modernas pesquisas sobre a matéria propiciaram o aparecimento de novos métodos de terapia de impotência, que estão proporcionando excelentes resultados nos jovens. Dessas pesquisas, podemos destacar as que permitem a correção das malformações congênitas (de nascimento) das veias e artérias que são, dentre outras, as causas mais frequentes da impotência nos jovens. Vale lembrar que o pênis é formado por três cilindros, dois superiores, unidos entre si, que são os corpos.cavernosos do órgão, e um inferior, que é o corpo esponjoso que envolve a uretra e se continua na glande. Nos jovens as veias do pênis podem apresentar fraqueza desde o nascimento e se tornar varicosas conforme temos observado à mesa operatória. Além disso, podem ocorrer comunicações anormais (também chamadas fístulas) entre os corpos cavernosos e o corpo esponjoso, através de veias dilatadas e varicosas, conforme nossa pesquisa apresentada no Congresso Mundial de Impotência, recentemente realizado em Boston (6-9 Out. 88l. Sabe-se que, durante a ereção, as veias penianas normais permanecem fechadas até o momento do orgasmo e ejaculação. Outrossim, a pressão sanguínea dentro dos corpos cavernosos pode, nesse momento, tornar-se mais alta que a pressão arterial, atingindo a cifra de 200mm de mercúrio. Ora, a pressão sanguínea dentro do corpo esponjoso sendo mais baixa propicia a drenagem do sangue dos corpos cavernosos para essa estrutura através das referidas fístulas, fato esse que se denomina escape ou fuga venosa. O mesmo pode ocorrer através de outras veias varicosas do pênis, que não retém o sangue, drenando-o para as veias da bacia. Como consequêncía a ereção passará ao estado de flacidez, surgindo a Impotência Venosa. -155- As enfermidades das artérias que causam impotência podem ser congênitas ou adquiridas. As congênitas, de rara frequêncía, são artérias pouco desenvolvidas, de fino calibre (hipoplásícas). As adquiridas, em geral, são decorrentes de acidentes de trânsito principalmente com motociclistas, que provocam fratura da bacia e, como consequêncía, lesões e entupimentos das artérias (pudendas) que nutrem o pênis. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da impotência faz-se através da história clínica e de uma bateria de testes e sofisticados exames. A históriaclínica, além de espelhar o estado psico-emocional do paciente, revela uma diminuição progressiva da ereção através de um espaço de tempo variável de pessoa para pessoa. Assim um paciente, ao casar-se, pode apresentar uma função sexual normal e, ao final de 3 a 10 anos, tornar-se impotente. Dos exames delicados (não-invasivos) destacaremos o aparelho Doppler, que mede o fluxo sanguíneo, e a ultra-sonogratía, que mostra a elasticidade dos corpos cavernosos e a velocidade do fluxo sanguíneo nas artérias. Dos métodos invasivos apontaremos a cavernosometría e a cavernosografia isto é, radiografia contrastada do pênis e de suas veias, e a arteriografia, isto é, radiografia contrastada das artérias penianas. A cavernosografia, de maior importância díagnóstíca, identifica as veias enfermas que devem ser tratadas cirurgicamente. TRATAMENTO: A terapia clínica consiste no emprego de drogas vasoativas através de injeções nos corpos cavernosos, como papaverina, fentolamina, VIP, e prostaglandina. O tratamento cirúrgico das veias doentes consiste em laqueá-Ias com um delicado fio de naylon ou resseca-Ias parcialmente. A terapia das fístulas já referidas vem sendo realizada por uma técnica de nossa autoria, considerada original num recente Congresso Internacional de Hamburgo (Alemanha/junho 88), e na Universidade de Coppenhagen pelo prof. GORM WAGNER, atual presidente da Sociedade Internacional de Impotência, reconhecida no recente Congresso Mundial de Impotência, realizado em Boston (EUA-6-9out. 88). Essa técnica consiste num pequeno corte na base do pênis e, em seguida, dissecção das fístulas ou veias varicosas que ligam os corpos cavernosos ao cilindro esponjoso. Feito isto, interrompem-se cirurgicamente referi- -156- IMPOTÊNCIA SEXUAL NoS JOVENS: uM DRAMA SOCIAL das fístulas no limite entre os corpos cavernosos e o esponjoso. Vale acentuar que certos ínsucessos cirúrgicos devem-se ao desconhecimento dessas fístulas. PONTE DE SAFENA : Paralelamente, realiza-se uma ponte de safena como se faz no coração, e consiste em ligar-se uma veia retirada da perna ou do pé, de um lado, com uma artéria da virilha (artéria femural) e de outro, com a veia dorsal profunda do pênis. Como conseqüência haverá aumento de pressão no interior dos corpos cavernosos do gão, o que pode garantir uma boa ereção a longo prazo. Estamos empregando uma codificação técnica pessoal dessa ponte, apresentada no congresso de Boston, já referido. ó, Quando houver artéria lesada e entupida por acidente de moto e outros, ou artérias muito finas de nascença, procede-se também à ponte de safena entre a artéria da virilha (artéria fernural) e uma artéria do pênis. MICROCIRURGIA: Como os vasos penianos são de pequeno calibre (0,5 a 2,5mm de diâmetro), o ideal é empregar-se uma nova tecnologia - microcirurgia - çue consiste no manuseio e costura (sutura) dos vasos do pênis sob microscópio cirúrgico, que aumenta de 6 a 40 vezes as estruturas. A operação envolve o uso de instrumentos delicados como os de um relojoeiro, e vasos finos como fios de cabelo. Assim o fazemos baseado em nossa longa experiência de Microcirurgia, iniciada há 15 anos em Nova York, com o prof. JULIUS JACOBSON o criador dessa nova técnica. RESULTADOS: Em casos rigorosamente selecionados por uma equipe isto é, de vários especialistas, e com a Nova Codificação técnica, que vimos realizando, a incidência de sucesso é de 85% ou mais, conforme o caso. multípisciplinar, Em mãos hábeis e competentes não há praticamente riscos círúrgícos . Os pacientes recebem alta no 2° ou 30 dia pós-operatório, podendo apresentar sreções após uma semana e manter relações sexuais normais 30 dias após a cirurgia. -157-