Revista da Faculdade de Medicina de Jundiaí - São Paulo - Brasil ISSN 0100-2929 Volume 18(1) - janeiro / junho 2007. ÍNDICE..............................................................................................................................................................01 Editorial.................................................................................................................................................................02 Normas de publicação...........................................................................................................................................03 Artigos Originais Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias: experiência do ambulatório de cirurgia torácica do município de Piracicaba..........................................................05 Importance of bronchofibroscopies in diagnosis of lung diseases: experience of thoracic surgery outpatient care in the municipality of Piracicaba. Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis..............................................................................................................09 Reproducibility within-day of the electromyographic activity of the iliocostalis lumborum muscle in healthy people. Avaliação anatômica de fístula na região mentual...................................................................................................16 Anatomical Evaluate of Fistula in the Mentalis Region. Avaliação do grau de dependência à nicotina em acadêmicos de enfermagem.........................................................19 Evaluation of the dependence degree to the nicotine on nursing students. Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas........................................................22 Delirium and cognitive dysfunction in seniors submitted to orthopedical surgeries. Artigos de Revisão Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa................................................................33 Vulvovaginitis in the children and adolescents: a qualitative review. Gestação prolongada: um texto atualizado.............................................................................................................39 Prolonged pregnancy: an actualized text. Relatos de Caso Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial..................................................................................................................................43 Pyonephrosis associated with stenosis of the ureteropelvic junction in patient with pyelocalicial duplicity. Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia...................................................47 Cor Pulmonale from obstructive ethiology: compensation post tonsillectomy with adenoidectomy. ISSN 0100-2929 PERPECTIVAS MÉDICAS Órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, - Estado de São Paulo, Brasil. Periodicidade semestral. ÍNDICE.......................................................................................................................................................................01 Editorial..........................................................................................................................................................................02 Normas de publicação.....................................................................................................................................................03 Artigos Originais Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias: experiência do ambulatório de cirurgia torácica do município de Piracicaba.....................................................................05 Importance of bronchofibroscopies in diagnosis of lung diseases: experience of thoracic surgery outpatient care in the municipality of Piracicaba. Eduardo Baldassari Rebeis, Álvaro Pereira Pinto, Luís Gustavo Abdalla, Carlos Tadeu dos Santos Dias, Liliana Rensi, Ludmila Marie Weiss Aloisi, Fernando Ernesto Cárdenas Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis........................................................................................................................09 Reproducibility within-day of the electromyographic activity of the iliocostalis lumborum muscle in healthy people. Evanisi Teresa Palomari, Lilian Calili Camargo, Camila Adalgisa Oliveira, Flávia Daré Guerra, Ivan Luis de Souza Pires, Fabiano Politti Avaliação anatômica de fístula na região mentual.............................................................................................................16 Anatomical Evaluate of Fistula in the Mentalis Region. Eduardo José Caldeira, Juliana Mandato Ferragut, Marcelo Rodrigues Cunha, Progresso José Garcia Avaliação do grau de dependência à nicotina em acadêmicos de enfermagem...................................................................19 Evaluation of the dependence degree to the nicotine on nursing students. Eduardo José Caldeira, Anne Pavlowa Alves Ruela, Cesar Alexandre Fabrega Carvalho Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas..................................................................22 Delirium and cognitive dysfunction in seniors submitted to orthopedical surgeries. José Fernando Amaral Meletti, Reinaldo Vargas Bastos Miranda, Fernanda Cristina Simões, Camila de Souza Hagui, Carolina Ramos Farrajota Artigos de Revisão Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa................................................................................33 Vulvovaginitis in the children and adolescents: a qualitative review. Andréa Marta Ferrian, Fernanda Cristina Simões, Paula Catarina Caruso, Edna Marina Cappi Maia Gestação prolongada: um texto atualizado........................................................................................................................39 Prolonged pregnancy: an actualized text. Nelson Lourenço Maia Filho, Lenir Mathias, Carlos Eduardo Saraiva Suzano Relatos de Caso Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial...........................................................................................................................................43 Pyonephrosis associated with stenosis of the ureteropelvic junction in patient with pyelocalicial duplicity. Marco Túlio Alves Cruvinel, Leandro Ferro de Moraes Bezerra, Nalisson Marques Pereira, Domingos Nery Junior, Eline Corrêa Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia...........................................................47 Cor Pulmonale from obstructive ethiology: compensation post tonsillectomy with adenoidectomy. Simone Naomi Isuka, Adriana Umemura, Ana Laura Vargas, Davi Sandes Sobral, Ricardo Pompês Bueno de Godoy, Osvaldo Vinícius Biill Primo, Edmir Américo Lourenço Volume 18(1) jan/jun 2007 PERSPECTIVAS MÉDICAS EDITORIAL Prezados Professores, Funcionários, Alunos e leitores em geral: Editor-Chefe Edmir Américo Lourenço É com grande satisfação que comunicamos a NOVA FASE do nosso Periódico, Co-Editor Eduardo José Caldeira publicado ininterruptamente desde 1995, com vistas à sua REINDEXAÇÃO para breve. O Corpo Editorial Editor-Chefe comemora concomitantemente 30 anos de docência ininterrupta na Faculdade de Paulo Vitor Atsushi Takemoto Ivan Senis Cardoso Macedo Bruno Azevedo Randi Juliana Mandato Ferragutt Juliana Nery de Souza Talarico Leandro Pompermayer Olivo Conselho Editorial Medicina de Jundiaí e o 13° ano de reedição deste periódico. Para este 13° ano, reformulamos ampliando nosso Corpo Editorial, com pessoas interessadas e envolvidas com este novo projeto. Criamos um Conselho Editorial composto por experts de várias Universidades Alcione Vendramin Parasitologia FMJ - Jundiaí - SP. Antonio de Castro Rodrigues Biologia Muscular - USP - Bauru - SP. Arnaldo Rodrigues Santos Júnior Biologia Aplicada UNESP - Jaboticabal - SP. Camila Contim Diniz de Almeida Francia Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. César Alexandre Fabrega Carvalho Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edmir Américo Lourenço Otorrinolaringologia - FMJ - Jundiaí - SP. Eduardo José Caldeira Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edson Aparecido Liberti Anatomia - ICB - USP - São Paulo - SP. Elaine Minatel Anatomia - IB - UNICAMP - Campinas - SP. Evanisi Teresa Palomari Eletromiografia - UNICAMP - Campinas - SP. Francisco Eduardo Martinez Biologia da Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. Jesus Carlos Andreo Morfologia - USP - Bauru - SP. João Bosco Ramos Borges Toginecologia - FMJ- Jundiaí - SP. Juliana Nery de Souza Talarico Enfermagem - FMJ- Jundiaí - SP. Leonardo dos Reis Silveira Fisiologia Humana e Cultura Celular - USP - SP. Marcelo Martinez Anatomia UFSCar, São Carlos - SP. Marcelo Rodrigues da Cunha Anatomia FMJ, Jundiaí - SP. Maria Cristina Traldi Enfermagem - FMJ - Jundiaí - SP. Nelson Lourenço Maia Filho Obstetrícia - FMJ - Jundiaí - SP. Progresso José Garcia Biologia Geral - UNESP - Botucatu - SP. Rodolfo Jorge Boeck Neto Cirurgia Oral - UNESP - Araraquara - SP. Suzana G. Moraes Embriologia - FMJ - Jundiaí - SP. Telma Guarisi Toginecologia - FMJ - Jundiaí - SP. Wandir Antonio Schiozer Cirurgia Plástica - FMJ - Jundiaí - SP. Wilson de Mello Júnior Morfologia - UNESP - Botucatu - SP. paulistas que se uniram a nós para alavancar cientificamente a referida publicação na qualidade Conselho Científico v.18(1), jan. / jun. 2007 São Paulo, Faculdade de Medicina de Jundiaí. 21x28 cm Periódico médico-científico da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil. ISSN 0100-2929 1. Medicina - Periódicos Álvaro da Cunha Bastos, FMJ, Jundiaí - SP. Anuar Ibraim Mitre, FMJ, Jundiaí - SP. Armando Ântico Filho, FMJ, Jundiaí - SP. Ary Domingos do Amaral, FMJ, Jundiaí - SP. Augusto Dutra Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Ayrton Cássio Fratezi, FMJ, Jundiaí - SP. Célia Martins Campanaro, FMJ, Jundiaí - SP. Dagoberto Telles Coimbra, FMJ, Jundiaí - SP. Edna M. Cappi Maia, FMJ, Jundiaí - SP. Emilio Telesi Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Evaldo Marchi, FMJ, Jundiaí - SP. Fernando Claret Alcadipani, FMJ, Jundiaí - SP. Flávio Alterthum, FMJ, Jundiaí - SP. Francisco G. Alcântara, FMJ, Jundiaí - SP. Hélio A. Lotério, FMJ, Jundiaí - SP. Ikurou Fujimura, FMJ, Jundiaí - SP. Itibagi Rocha Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Jalma Jurado, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Figueiredo Brito, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Pereira Junior, FMJ, Jundiaí - SP. José Eduardo Martinelli, FMJ, Jundiaí - SP. José Hugo de Lins Pessoa, FMJ, Jundiaí - SP. Lenir Mathias, FMJ, Jundiaí - SP. Lia Mara Rossi Ferragut, FMJ, Jundiaí - SP. Luciano Gonçalves Nina, FMJ, Jundiaí - SP. Luiz P.W.C. Vasconcelos, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Dias, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Herculano, FMJ, Jundiaí - SP. Maria das Graças B. F. Evangelista, FMJ, Jundiaí - SP. Marta B.C. De Sartori, FMJ, Jundiaí - SP. Paulo Rowilson Cunha, FMJ, Jundiaí - SP. Reinaldo V.B. Miranda, FMJ, Jundiaí - SP. Ricardo Porto Tedesco, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Anania de Paula, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Focaccia, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Teixeira, FMJ, Jundiaí - SP. Rodrigo Paupério S. de Camargo, FMJ, Jundiaí - SP. Rogério Bonassi Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Saulo Duarte Passos, FMJ, Jundiaí - SP. Sergio Gemignani, FMJ, Jundiaí - SP. Simone Naomi Isuka, FMJ, Jundiaí - SP. Perspectivas Médicas, 18(1): 2-2, jan. / jun. 2007 de pareceristas. Mantivemos o Conselho Científico anterior inalterado e em poucos meses de intenso trabalho já fechamos a primeira edição de 2007 e nossa meta é editar dois exemplares já neste ano. Endereço para remessa de artigo e termo de submissão: [email protected]. Pretendemos que nossa Revista se torne, definitivamente, no mínimo semestral e para isso precisamos urgentemente de cada um de vocês, com qualquer colaboração possível que esteja ao seu alcance, nem que seja um simples manifesto de apoio ou mesmo propalar a outras pessoas ligadas ao Ensino e à Pesquisa que a nossa Revista tem e sempre teve QUALIDADE. Quem ensina e quem aprende Ciências da Saúde precisa publicar. Coloquem isso num compartimento em suas cabeças e partam para a ação. Brevemente vocês receberão a segunda edição da Revista em 2007 - leiam ambas, participem, opinem, publiquem, ela nasceu e sobreviveu a duras penas, você nem imagina quantas, mas ela existe POR VOCÊS. Grande abraço. Edmir Américo Lourenço Editor-Chefe Eduardo José Caldeira Co-Editor Perspectivas Médicas Revista PERSPECTIVAS MÉDICAS O Periódico Perspectivas Médicas é o órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, S.P., com sede à Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens Jundiaí, SP. - CEP 13202-550. Fone/Fax: (0xx11) 4587-1095. A Revista não aceita, em hipótese alguma, matéria científica paga em seu espaço editorial, embora aceite colaborações financeiras para viabilizar a continuidade de sua publicação, cedendo espaços para anúncios relacionados à Saúde. O exemplar encontra-se na íntegra no site www.fmj.br, possibilitando "downloads" porém é proibida sua reprodução, total ou parcial, para quaisquer finalidades, sem autorização escrita e assinada pelo Editor. EXPEDIENTE Impressão: Gráfica Apollo Ltda. - Fone: 4587-5248 / 4587-8809 E-mail: [email protected] Diagramação: Editora Gráfica Apollo - Rafael S. Lima Jornalista responsável: Gustavo Maia - Mtb 30.890 Tiragem: 1.200 exemplares NORMAS DE PUBLICAÇÃO Normas de Publicação Periódico Científico Oficial da Faculdade de Medicina de Jundiaí que tem como objetivo a apresentação de trabalhos na área experimental básica e das áreas de saúde. Os trabalhos poderão ser originais, revisões, comunicações curtas, relatos de caso, cartas ao editor e outras. Os trabalhos devem ser encaminhados ao Corpo Editorial preferencialmente na forma eletrônica através do endereço: [email protected] ou pelo endereço regular com cópia em CD para: Corpo Editorial da Revista Perspectivas Médicas Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens, Jundiaí, São Paulo, CEP: 13202-550. Tel.: (11) 4587-1095. Princípios Gerais: As normas deverão ser obedecidas com rigor para que o trabalho seja encaminhado para avaliação com vistas à sua publicação. Os trabalhos devem ser inéditos, ainda não publicados de forma completa em outro veículo de divulgação científica. Deve enquadrar-se em uma das diferentes seções, a saber: Artigos Originais: investigação experimental básica ou clínica, contendo título (45 caracteres ou 10 palavras no máximo) e palavras-chave (ambos em português e inglês), autor (es), principal titulação e departamento, resumo (até 250 palavras), abstract, introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Revisões (máximo de 3000 palavras): artigo que sumariza o conhecimento atual em determinado campo e período, devendo incluir título e palavras-chave (ambos em português e inglês), resumo, abstract, introdução e objetivos, materiais e métodos, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Comunicações Curtas (máximo de 2000 palavras): artigos práticos, curtos e objetivos incluindo aspectos pessoais, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso (máximo de 2000 palavras): relato de um caso ou de uma série de casos, com justificada razão para publicação como raridade, aspectos inusitados, evolução atípica e nova terapêutica, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Cartas ao Editor (máximo de uma lauda): perguntas, respostas, comentários e opiniões a respeito de artigos publicados. Outras: destinada a idéias e inovações, terapêutica, normas e rotinas e atualizações, devendo seguir a estrutura de uma comunicação curta. Elementos Básicos à Publicação: A estrutura dos trabalhos deverá conter na primeira página: -A seção onde o trabalho deverá ser incluído, bem como a área de conhecimento. -Título do trabalho em português e inglês. -Palavras-chave e Key Words, usando os descritores em Ciências da Saúde (DeCS)e o Medical Subject Headings (MeSH) acessáveis pelos endereços: http://www.bireme.org.br , http://decs.bvs.br ou www.nlm.nih.gov. -Nome do autor (es) identificado com asterisco, de acordo com a titulação e local de realização do trabalho logo abaixo. -Endereço completo para correspondência incluindo telefone e e-mail. -Fonte de Financiamento. A partir da segunda página, numerá-las em seqüência no canto superior direito seguindo a estrutura, a saber: -Resumo em português e inglês contendo no máximo 250 palavras, fazendo referência à essência do assunto. -Introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, seguidos de agradecimentos e referências bibliográficas. As referências citadas no corpo do texto deverão ser numeradas, entre parênteses e em caixa alta, por ordem de aparecimento no texto.. -Em folhas separadas locar as tabelas, gráficos e figuras, que devem ser numeradas e legendadas de acordo com a ordem de aparecimento no corpo do texto. -Todas as imagens devem ser encaminhadas em jpg, png ou gif. -Referências Bibliográficas devem ser ordenadas de forma numérica utilizando o Index Medicus para abreviaturas dos Jornais e Revistas seguindo: Periódicos Sobrenome do Autor, seguido de iniciais; sobrenome dos co-autores, seguidos de iniciais. Título do artigo. Nome do Periódico abreviado, ano; volume (número do fascículo): página inicial-página final. Teses Sobrenome do Autor, seguido de iniciais. Título da Tese, Cidade, ano, páginas (Dissertação de Mestrado ou Tese de Doutoramento, Nome da Instituição). Livros Sobrenome do Autor, seguido de iniciais; sobrenome Perspectivas Médicas, 18(1): 3-4, jan. / jun. 2007 dos co-autores, seguidos de iniciais. Nome do Livro, Edição, Cidade, Editora, ano, página inicialpágina final. que opinam independentemente com base em parâmetros pré-determinados com vistas à uniformidade de resultado. Capítulos de Livros: Sobrenome do Autor do capítulo, seguido de iniciais; sobrenome dos co-autores, seguidos de iniciais. Nome do Capítulo, In: Sobrenome do Autor do livro, Seguido de Iniciais. Nome do livro, Edição, Cidade, Editora, ano, página inicial-página final. Direitos Autorais A revista terá todos os direitos, inclusive de tradução em todos os países signatários da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. A reprodução total ou parcial em outros periódicos deverá mencionar a fonte e dependerá da autorização prévia da revista, sendo proibida para fins comerciais. Internet Sobrenome do Autor, seguido de iniciais; sobrenome dos co-autores, seguidos de iniciais ou Nome Institucional. Título do artigo eletrônico <nome do site> acesso em: data. Todo o material enviado deve apresentar-se em letra tamanho 12, Times New Roman, espaço duplo, papel A4, com margens laterais de 2,5cm e se de forma impressa, em duas vias, além de cópia eletrônica preferencialmente em CD. Preferir o editor de texto Word ou compatível ao Windows. Fluxo Todos os trabalhos submetidos à análise para publicação são submetidos a dois pareceristas (pares) Perspectivas Médicas, 18(1): 3-4, jan. / jun. 2007 DECLARAÇÃO Anexar a declaração prévia para publicação em caso de aprovação: “Declaro para fins de publicação na revista Perspectivas Médicas, que o presente artigo (Título) não foi e não será publicado em outro veículo de divulgação científica até o final da apreciação pelo Corpo Editorial. Igualmente, declaro que todas as informações apresentadas no presente artigo estão de acordo com a opinião de todos os autores”. Todos os autores deverão assinar e datar. 5 ARTIGO ORIGINAL Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias: experiência do ambulatório de cirurgia torácica do município de Piracicaba. Importance of bronchofibroscopies in diagnosis of lung diseases: experience of thoracic surgery outpatient care in the municipality of Piracicaba. Palavras-chave: doenças respiratórias, neoplasias, tuberculose, micose, broncoscopia. Key words: respiratory ilness, neoplasias, tuberculosis, mycosis, bronchoscopy. Eduardo Baldassari Rebeis * Álvaro Pereira Pinto ** Luís Gustavo Abdalla ** Carlos Tadeu dos Santos Dias *** Liliana Rensi **** Ludmila Marie Weiss Aloisi ***** Fernando Ernesto Cárdenas ****** *Cirurgião Torácico da Prefeitura de Piracicaba Doutor em Ciências na Área de Cirurgia Torácica e Cardiovascular pela Universidade de São Paulo, Piracicaba, São Paulo. **Cirurgião Torácico da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, São Paulo. ***Estatístico Professor Associado do Departamento de Ciências Exatas da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, Piracicaba, São Paulo. ****Enfermeira Coordenadora do Ambulatório de Especialidades do SUS-Piracicaba, São Paulo. *****Médica Coordenadora do Ambulatório de Especialidades do SUS-Piracicaba, São Paulo. ******Secretário de Saúde de Piracicaba, São Paulo. AMBULATÓRIO DE ESPECIALIDADES DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA: Travessa Newton de Almeida Mello s/n. Contato com o autor: [email protected] Artigo ainda não publicado. RESUMO Os objetivos deste trabalho são: analisar correlação entre indicações e diagnóstico definitivo obtido através da broncofibroscopia; verificar correlação entre pesquisa direta com cultura de BK e entre o histopatológico com a pesquisa de células neoplásicas. No período de fevereiro de 1997 à dezembro de 2005 foram analisadas 538 broncofibroscopias no Serviço de Cirurgia Torácica do Ambulatório de Especialidades de Piracicaba. Utilizou-se o teste exato de Fisher para as diversas correlações. O estudo dos tumores mostrou que de 529 exames realizados, 53 (10%) tinham câncer de pulmão. Em 32 exames com diagnóstico histopatológico de câncer pulmonar, a positividade para células neoplásicas no lavado broncoalveolar ocorreu em 13 exames (40,6%). De 392 exames analisados, em 30 (7,65%) o diagnóstico era de tuberculose e em seis a cultura foi negativa. Em conclusão, houve correlação significativa entre carcinoma epidermóde com atelectasia, entre processo intersticial com pesquisa direta de BK positiva, entre carcinoma de pequenas células e cultura de BK positiva com lesão pulmonar a esclarecer; a cultura de BK e a pesquisa direta de BK manteve alta correlação e o histopatológico teve correlação significativa com a pesquisa de células neoplásicas no carcinoma epidermóde. ABSTRACT The study aims are to analyse the correlation between indications and conclusive diagnosis obtained through bronchofibroscopy, checking the correlation between direct research of KB with KB culture and between the histopathological with research on neoplastic cells. From February 1997 to December 2005, 538 bronchofibroscopies were analyzed in the Service of Thoracic Surgery of the Specialities Outpatient Care of Piracicaba. The study of tumors showed that of 529 exams carried out, 53 (10%) had lung cancer. In 32 exams with histopathological diagnosis of lung cancer, the positivity of neoplastic cells in the bronchoalveolar lavage occurred in 13 exams (40.6%). The diagnosis of tuberculosis was confirmed in 30 (7.65%) of the 392 exams analyzed, and in six the culture was negative. In conclusion, there is relation: 1) between squamous cell carcinoma with atelectasis; 2) between interstitial pneumonitis with positive direct research of KB; 3) among small cell carcinoma and positive KB culture with indeterminate lung disease. b) There is high relation between positive direct research of KB with positive KB culture and the histopathology (squamous cell) has a significant relation with the cytopathology in the bronchoalveolar lavage. INTRODUÇÃO A broncoscopia é um procedimento de excelência para diagnóstico e terapêutica da via aérea. Foi introduzida por Killian em 1897 com o broncoscópio rígido e aprimorada por Ikeda em 1966 utilizando-se Perspectivas Médicas, 18(1): 5-8, jan. / jun. 2007 6 Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias. - Eduardo Baldassari Rebeis e cols. da fibra óptica(1). A broncoscopia flexível possibilita a realização do exame a nível ambulatorial com anestesia local da laringe, traquéia e brônquios e sedação do paciente permitindo se obter biópsias, escovado brônquico e lavado broncoalveolar do local desejado segundo Zavala (1975) citado por Silva(1). Os objetivos deste trabalho são: a) analisar a associação entre os registros das indicações dos exames e o diagnóstico definitivo; b) verificar a correlação entre a pesquisa direta versus cultura de BK e entre o histopatológico e o citológico no lavado broncoalveolar. MÉTODO No período de fevereiro de 1997 a dezembro de 2005 foram realizadas 538 broncofibroscopias com intuito diagnóstico no serviço de cirurgia torácica do ambulatório de especialidades do município de Piracicaba. O desenho do estudo foi transversal retrospectivo. Trezentos e cinqüenta e oito exames em homens e 180 em mulheres com idades entre 18 e 90 anos. Os pacientes tiveram seus exames indicados por médicos do sistema de saúde suplementar e do Sistema Único de Saúde das especialidades de clínica médica, pneumologia, cirurgia torácica , cirurgia de cabeça e pescoço e cirurgia geral. Todos os exames foram realizados pelo mesmo médico de forma ambulatorial em local equipado para atendimento de emergência. Os aparelhos utilizados pertenciam à prefeitura municipal de Piracicaba e à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (DIR 15), cujas marcas e modelos eram: Pentax FB 15 P e Olympus BF P2O D. Utilizamos sedação com diazepan (2,5-5mg) e anestésico local (lidocaína) nas apresentações: solução a 2%, geléia 2% e spray 10%. A via de introdução do aparelho em quase a totalidade dos casos foi a nasal, porém quando isto não foi possível, devido a desvio importante de septo nasal, utilizamos a via oral. Percorríamos a via aérea da laringe até brônquios segmentares e/ou subsegmentares. As biópsias endobrônquicas foram realizadas sob visão direta da lesão enquanto que os lavados broncoalveolares foram obtidos dos segmentos ou subsegmentos de acordo com orientação dos exames de imagem (radiografia e/ou tomografia de tórax) numa quantidade de aproximadamente 80 ml de soro fisiológico. A desinfecção do aparelho se fêz com glutaraldeído a 2% por período de 30 a 40 minutos conforme Rulata (1995) citado por Grande et al.(2). Verificamos o diagnóstico definitivo e sua relação com as seguintes indicações: aumento de hilo pulmonar, atelectasia, broncopneumonia, controle de tratamento cirúrgico, hemoptise, estadiamento de outras especialidades, lesão pulmonar a esclarecer, processo intersticial e tosse. Outras indicações que não estavam registradas foram catalogadas no nosso banco de dados como não mencionadas e foram analisadas apenas matematicamente pelo gráfico de biplot, porém Perspectivas Médicas, 18(1): 5-8, jan. / jun. 2007 não houve análise estatística para esta variável em virtude da falta de aplicabilidade clínica. Utilizamos para a análise estatística o programa SAS (Testes de Normalidade, Qui Quadrado e Teste Exato de Fisher). Significância estatística p< 0,05. Durante as análises o programa anulava os exames cujo preenchimento no banco de dados fosse inadequado, por isto, o tamanho da amostra variava a cada análise. RESULTADOS As idades dos pacientes nestes 538 exames apresentaram uma distribuição gaussiana com base em análise de normalidade pelos testes de Shapiro-Wilk (p<0,0001); Kolmogorov-Smirnov (p<0,0100); Cramer-Von Mises (p<0,0050) e Anderson-Darling (p<0,0050). A idade máxima foi de 90 anos; percentil 75 foi de 67 anos; mediana foi de 58 anos; percentil 25 foi de 47 anos e a idade mínima foi de 18 anos. Tivemos um óbito após realização de um exame em virtude de insuficiência coronariana, tendo este caso levado nossa mortalidade para 0,18%. Quinhentos e vinte e nove exames foram selecionados pelo programa para estudo da relação entre os tipos de tumores e as indicações das broncofibroscopias. Para esta análise foi utilizado o teste exato de Fisher. Foram identificados no nosso material 53 casos de tumores de pulmão distribuídos da seguinte forma: cinco adenocarcinomas, oito carcinomas de pequenas células, sete carcinomas de grandes células e 33 carcinomas tipo epidermóide. Não houve diferença significativa em relação ao sexo exceto nos portadores de carcinoma epidermóide, onde há predomínio do sexo masculino (p= 0,0020). As indicações observadas estão relacionadas a seguir: nove aumentos do hilo pulmonar, 10 atelectasias, 14 broncopneumonias, 34 controles pós-operatório, quatro estadiamentos de outras especialidades, 21 hemoptises, 91 lesões pulmonares a esclarecer, oito processos intersticiais e 31 tosses. Aplicando-se o Teste Exato de Fisher, relacionando os diagnósticos definitivos e as indicações dos exames, obtivemos significância estatística quando correlacionamos carcinoma epidermóide com atelectasia (p= 0,0190) e na correlação entre carcinoma de pequenas células com lesão pulmonar a esclarecer (p<0,0001). Quatrocentos e vinte e sete exames foram selecionados para estudo de associação pelo Teste Exato de Fisher entre os tipos de tumor e a positividade para células neoplásicas. Destes casos firmou-se diagnóstico histopatológico de câncer em 32 exames sendo que o citológico do lavado pulmonar foi positivo para células neoplásicas em 13 exames (40,6%) A relação entre histopatológico e citológico mostrou-se com significância estatística apenas para o carcinoma epidermóide (p<0,0001). Quatrocentos e quarenta e um exames foram utilizados pelo programa estatístico para estudo da 7 Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias. - Eduardo Baldassari Rebeis e cols. relação entre os 17 exames com pesquisa positiva de BK e as indicações destes exames, que foram divididas da seguinte forma: 9 aumentos do hilo pulmonar, 9 atelectasias,14 broncopneumonias, 17 controles pósoperatórios, 1 estadiamento de outras especialidades, 19 hemoptises, 79 lesões pulmonares a esclarecer, 8 processos intersticiais, 29 tosses. Não houve diferença da positividade do BK em relação ao sexo (p= 0,1482). Relacionando-se o diagnóstico de tuberculose por pesquisa de BK direta com as indicações dos exames, obtivemos significância estatística quando associamos pelo Teste Exato de Fisher as variáveis: processo intersticial e pesquisa de BK positiva (p= 0,0353). Trezentos e noventa e seis exames foram utilizados pelo programa estatístico para estudo pelo Teste de Fisher da relação entre 24 exames com cultura positiva e as indicações dos mesmos. Neste material contamos as seguintes indicações: 8 aumentos do hilo pumonar, 5 atelectasias, 13 broncopneumonias, 12 controles pósoperatório, 16 hemoptises, 71 lesões pulmonar a esclarecer, 8 processos intersticiais, 26 tosses. Não houve diferença significativa em relação ao sexo (p= 0,1737). Encontramos significância estatística para a correlação entre cultura de BK positiva e lesão pulmonar a esclarecer (p= 0,0248). Trezentos e noventa e dois exames foram utilizados pelo programa estatístico para estudarmos a concordância entre a pesquisa de BK positiva e a cultura de BK positiva. Tivemos 30 exames com diagnóstico final de tuberculose. Destes exames 11 (36,6%) tinham confirmação de ambos (pesquisa e cultura), em 6 (20%) apenas a pesquisa foi positiva e em 13 (43,3%) apenas a cultura foi positiva. A análise destes dados mostrou que estas variáveis são altamente correlacionadas (p< 0,0001). Dos 538 exames, 435 foram utilizados pelo programa estatístico e avaliados pelo Teste Exato de Fisher para relacionar micose pulmonar positiva com as seguintes indicações: 9 aumentos do hilo pulmonar, 8 atelectasias, 14 broncopneumonias, 17 controles pósoperatórios, 1 estadiamento de outras especialidades,19 hemoptises, 79 lesões pulmonares a esclarecer, 8 processos intersticiais, 29 tosses. Não encontramos relação significante entre estas variáveis. Procedendo-se à análise matemática gráfica (Biplot), obtivemos uma outra forma de estudar a casuística, encontrando quatro agrupamentos definidos entre as diversas variáveis: a) micose; b) não mencionado; c) pesquisa de BK positivo, cultura de BK positiva, processo intersticial pulmonar e broncopneumonia; d) carcinoma de grandes células, carcinoma de pequenas células, adenocarcinoma, carcinoma epidermóide, citológico, lesão pulmonar a esclarecer, tosse, alargamento de hilo pulmonar, controle pós-cirúrgico, hemoptise e atelectasia pulmonar (Gráfico 1). Estes grupos são identificados no gráfico na seqüência acima informada no sentido horário a partir do marco -5 em ordenada. Gráfico 1- Biplot- Associação das diversas variáveis estudadas (BK-P= bacilo de Koch positivo; Cultura de BK-P= cultura de bacilo de Koch positiva; Processo intersticial= processo intersticial pulmonar; Lesão pulmonar= lesão pulmonar a esclarecer; Carcinoma de grandes células= carcinoma pulmonar de grandes células; Carcinoma de pequenas células= carcinoma pulmonar de pequenas células; Alargamento do hilo pulmonar= aumento do hilo pulmonar; Citológico= citológico no lavado broncoalveolar; Carcinoma epidermóide= carcinoma pulmonar epidermóide; Controle= controle de pósoperatório). DISCUSSÃO Nossa amostra foi avaliada retrospectivamente. As diversas análises não puderam ser realizadas com o mesmo tamanho de amostra porque nem sempre o material colhido era igual para todas as broncofibroscopias. Além deste fato houve perda de dados devido a prontuários incompletos. Em 538 exames fizemos 88 (16,35%) diagnósticos divididos em: câncer, tuberculose e micose, distribuídos da seguinte forma: 53 (9,85%) casos de tumores de pulmão, 30 (5,58%) casos de tuberculose e cinco (0,93%) casos de micose. O nosso estudo confirmou a preferência da manifestação central do carcinoma epidermóide quando demonstrou correlação deste tipo de tumor e o achado de atelectasia pulmonar (p=0,019). Embora o carcinoma de pequenas células também se manifeste preferencialmente nos grandes brônquios, isto não foi confirmado pelo atual estudo que relacionou este tipo de tumor à lesão a esclarecer. Na nossa casuística a mortalidade foi de 0,18%. Markus et al.(3) relatam mortalidade de 0,02% em estudo que envolveu 1232 hospitais e 200.596 exames endoscópicos. Em outro estudo Pereira et al.(4) demonstram em 908 broncofibroscopias uma mortalidade em torno de de 0,1%. Uma das possíveis Perspectivas Médicas, 18(1): 5-8, jan. / jun. 2007 8 Importância da broncofibroscopia no diagnóstico de pneumopatias. - Eduardo Baldassari Rebeis e cols. explicações para esta divergência nas taxas de mortalidade pode residir no tamanho da amostra dos trabalhos. Neste estudo não foi realizada biópsia transbrônquica durante os exames em virtude de limitação da infra-estrutura de que se dispõe, embora concordemos com Bammann et al.(5) que relatam aumento do rendimento do exame para diagnóstico de tuberculose. Demonstramos neste estudo uma concordância do diagnóstico histopatológico e a positividade para células neoplásicas de 40,6%. Isto é coerente com os achados de Bilaceroglu et al.(6) que mostraram, em um estudo prospectivo em 84 pacientes com diagnóstico radiológico de possível neoplasia pulmonar, que o rendimento do lavado broncoalveolar foi de 4%. Entretanto encontramos na literatura autores que relatam 88,8% de concordância entre o histológico e a positividade do lavado broncoalveolar para células neoplásicas (Gonzáles et al.)(7). Estes autores não mencionam o tipo histológico do tumor, porém no nosso material a associação entre estas variáveis só foi significante estatisticamente para o carcinoma epidermóide. Ao analisarmos nossos dados em relação ao diagnóstico de tuberculose observamos 30 exames com diagnóstico de tuberculose pulmonar: 6 apresentavam cultura de BK negativa (20%), 24 apresentavam cultura de BK positiva (80%), 17 apresentavam pesquisa de BK positiva (56%) e 11 apresentavam pesquisa de BK e cultura de BK positivos (36,6%), demonstrando a importância da solicitação da cultura como rotina. Nesta casuística com a cultura obtivemos um aumento relativo do diagnóstico de tuberculose de 43,3%. White e Zoman citados por Silva(1) relatam que a cultura aumenta o diagnóstico de tuberculose de 31% para 90% portanto um aumento relativo de 59%, isto também é confirmado no estudo de Saglam et al.(8) que observaram maior sensibilidade para a cultura de BK do lavado broncoalveolar (86%) em relação à pesquisa de BK do lavado broncoalveolar e a cultura de BK do escarro. Através da representação matemática (Biplot) encontramos as seguintes associações: a) o diagnóstico de tuberculose com processo intersticial pulmonar e broncopneumonia; b) o diagnóstico de neoplasia pulmonar com lesão pulmonar a esclarecer, tosse, alargamento de hilo pulmonar, controle pós-cirúrgico, hemoptise e atelectasia pulmonar. O diagnóstico de micose não mostrou associação com outras variáveis estudadas. Neste tipo de gráfico as variáveis são representadas por linhas pontilhadas e quanto menor o ângulo formado por estas linhas maior a associação entre elas. As variáveis não mencionadas no prontuário não foram estudadas estatisticamente, contudo elas constam no gráfico por estarem listadas no banco de dados deste estudo. Perspectivas Médicas, 18(1): 5-8, jan. / jun. 2007 CONCLUSÕES Com base em nosso estudo concluímos que na broncofibroscopia com lavado broncoalveolar: a) o carcinoma epidermóide tem correlação com achado radiográfico de atelectasia pulmonar, a pesquisa direta de BK teve correlação com processo pulmonar intersticial, o carcinoma de pequenas células e a cultura de BK tiveram correlação com lesão pulmonar a esclarecer. b) a cultura de BK teve alta correlação com a pesquisa de BK e o histopatológico no carcinoma epidermóide teve relação significante com a pesquisa de células neoplásicas no lavado broncoalveolar. AGRADECIMENTOS Aos pacientes do Ambulatório de Cirurgia Torácica do Centro de Especialidades do Município de Piracicaba, São Paulo. À Dra Suzane Rocco Gomes Lima responsável pelo Laboratório Central da Prefeitura de Piracicaba. À Dra Marizete Medeiros da Costa Ferreira diretora da DIR 15. Às secretárias: Márcia Vicente de Jesus, Cacilda Aparecida Piantola Bento, Carolina Pozar Godtsfriedt e Sílvia Aparecida de Moura Idalgo. Ao grupo de enfermagem: Silvana Razera, Gertrudes S. A. Barbosa, Ceide Maria Correr, Sílvia Letícia da Silva, Ivana Arthur, Maria Laudina C. Detoni. Referências bibliográficas 1-Silva RM. A síndrome da imunodeficiência adquirida e o pulmão. J Pneumol. 2000;26:44-7. 2-Grande NS, Nakayama RA, Machado AMO, Yamaguti FA, Uehara C. Avaliação do risco de contaminação por bactérias no paciente submetido à broncoscopia , após o reprocessamento do broncoscópio. J Pneumol. 2002;28:250-9. 3-Markus A, Haussinger K, Kohlhaufl M, Hauck RW. Bronchoscopy in Germany. Cross-sectional inquiry with 681 institutions. Pneumologie 2000;54:499-507. 4-Pereira W, Kovnat DM, Snider GL. A prospective cooperative study of complications following flexibe fiberoptic bronchoscopy. Chest 1978;73:813-6. 5-Bammann RH, Fernandez A, Vázquez CMP, Araújo MRE, Leite KRM. Broncoscopia no diagnóstico de tuberculose: papel da biópsia transbrônquica em imunocompetentes e em HIV-positivos. J Pneumol. 1999;25(4):207-12. 6-Bilaceroglu S, Kumcuoglu Z, Alper H, Osma E, Cagirici U, Gunel O et al. CT bronchus sign-guided bronchoscopic multiple diagnostic procedures in carcinomatous solitary pulmonary nodules and masses. Respiration. 1998;65(1):49-55. 7-Gonzáles MV, Espineira RV, Serentill JC, Soler IB. Fibrobroncoscopia en el cáncer de pulmón. Revista Cubana 1997;36(3):178-82. 8-Saglam L, Akgun M, Aktas E. Usefulness of induced sputum and fiberoptic bronchoscopy specimens in the diagnosis of pulmonary tuberculosis. J Int Med Res. 2005;33(2):260-5. 9-Heitzman ER. Bronchogenic carcinoma: radiologic-pathologic correlations. Semin Roentgenol. 1977 Jul;12(3):165-74. 9 ARTIGO ORIGINAL Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. Reproducibility within-day of the electromyographic activity of the iliocostalis lumborum muscle in healthy people. Palavras-chave: eletromiografia, confiabilidade nos resultados, instrumentação. Key words: electromyography, reliability of results, instrumentation. Evanisi Teresa Palomari * Lilian Calili Camargo** Camila Adalgisa Oliveira** Flávia Daré Guerra** Ivan Luis de Souza Pires** Fabiano Politti*** * Professora Doutora responsável pelo Laboratório de Eletromiografia, Departamento de Anatomia, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo. ** Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo. *** Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo. Endereço para correspondência: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Avenida Bertrand Russel s/nº - Caixa postal 6109 - CEP 13083 865 - Campinas, SP. Contato: Profa. Dra. Evanisi Teresa Palomari. Rua Dr. Antônio Hossri nº 532 Cidade Universitária CEP 13083-370 – Campinas, SP. Fone: (19) 3521-6105 [email protected] Artigo ainda não publicado. Financiamento: FAPESP, FAEPX- Unicamp, CNPq e CAPES. RESUMO Os distúrbios que afetam a coluna lombar são muito comuns, sendo necessárias ferramentas confiáveis para a avaliação clínica. O objetivo do estudo foi avaliar a reprodutibilidade intradia da atividade elétrica do músculo iliocostal lombar. Foram realizadas duas avaliações eletromiográficas de superfície, com intervalo de 30 minutos de repouso, em 11 indivíduos. Os sujeitos realizaram contrações isométricas máximas de extensão do tronco em decúbito ventral e em ortostatismo (CIVM), e tarefas isométricas sub-máximas (60% e 30% da CIVM) em pé. Os resultados revelaram que não houve diferença estatisticamente significativa (p < 0.05) nos valores de força muscular (p=0.55), assim como nos valores da amplitude do sinal mioelétrico a 30% da CIVM para o músculo iliocostal direito (p=0.74) e esquerdo (p=0.53), e nos valores de 60% da CIVM à direta (p=0.81) e à esquerda (p=0.77) nas avaliações pré e pós-repouso. Concluiu-se que a reprodutibilidade da análise mioelétrica do músculo iliocostal lombar mostrou-se confiável. ABSTRACT Lumbar back disorders are very common and reliable tools are needed in clinical test. The purpose of this study was to verify the reproducibility within-day of the electromyographic activity of iliocostalis lumborum muscle. Two electromyographic measurements were performed with rest periods of 30 minutes in eleven subjects. The subjects were instructed to exert maximal voluntary isometric contractions of trunk extension in prone and upright posture (CIVM) and tasks submaximal (60 % and 30% of the CIVM) in upright position. There were no significant differences (p < 0.05) between the values of trunk extension torque (p=0.55), as well as the values of electromyographic activity at 30% of the CIVM for iliocostalis lumborum muscle right (p=0.74) and left (p=0.53), and the value 60% of the CIVM righ (p=0.81) and left (p=0.77) before and after rest periods. Our findings indicate that the reproducibility of surface electromyographic measurements of iliocostalis lumborum muscle showed reliable. INTRODUÇÃO A dor lombar é uma disfunção da coluna vertebral de alta incidência que afeta cerca de 85% da população mundial em alguma fase da vida (1). Há evidências de que a cronicidade desta dor acarreta disfunção nos movimentos e no controle motor dos indivíduos acometidos. Esta questão vem sendo investigada com o uso de técnicas que avaliam a função Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 10 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. muscular a fim de verificar a relação da funcionalidade com a lombalgia. Tanto na prática clínica, como no campo científico, cresce a necessidade de se desenvolver uma avaliação objetiva das condições funcionais que caracterizam os pacientes com dor lombar, para fechar o diagnóstico da doença e acompanhar a evolução dos programas de tratamento. A eletromiografia dos músculos dorsais tem sido utilizada como método diagnóstico para determinar as diferenças nos padrões de ativação muscular de indivíduos com e sem dor. Apesar de ainda ser questionável a validade desta técnica para avaliar as condições dos músculos paravertebrais, o aumento do uso da avaliação eletromiográfica na prática clínica requer a execução correta de protocolos de registro e de análise dos dados para interpretação dos seus resultados. É importante que os dados da avaliação eletromiográfica se reproduzam com confiabilidade para que, mediante a aplicação de qualquer intervenção, os resultados possam representar verdadeiramente os efeitos do tratamento. Vários estudos têm avaliado a reprodutibilidade dos registros eletromiográficos. Kollmitzer et al., realizaram avaliações eletromiográficas dos músculos anteriores da coxa após 03 minutos, 90 minutos e 6 semanas de intervalos, concluindo que os valores da eletromiografia entre as seções com menor intervalo de tempo demonstraram melhor reprodutibilidade quando comparados com os de maior intervalo(2). Lehman, também investigou a reprodutibilidade interdias das avaliações eletromiográficas do músculo eretor da espinha em populações com e sem dor lombar crônica, encontrando boa confiabilidade no protocolo utilizado(3). Larivière et al., realizaram três avaliações, com intervalo de no mínimo dois dias entre elas, em indivíduos com e sem dor lombar, a fim de analisar a confiabilidade da eletromiografia dos dois grupos(4). Utilizaram a contração voluntária isométrica máxima (CIVM) e as tarefas sub-máxima de 5%, 10% e 80% da CIVM dos músculos multífido, iliocostal lombar e longo do pescoço. Em ambos os grupos obtiveram bons resultados quanto à reprodutibilidade. Dankaerts et al., compararam a reprodutibilidade intra e interdias das atividades eletromiográficas dos músculos do multífido lombar, iliocostal, porções torácica e lombar, e eretor da espinha torácica, em indivíduos saudáveis e com dor lombar crônica, durante contração voluntária máxima e submáxima(5). Verificaram boa reprodução dos dados coletados intradia e interdias referente ao esforço submáximo, e contração máxima das coletas intradia. Para ambos os grupos, a contração voluntária máxima nas avaliações interdias demonstrou nível mais baixo de reprodutibilidade quando comparada à contração submáxima. Com base na literatura pertinente ao assunto, Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 buscou-se confirmar a reprodução confiável das avaliações eletromiográficas intradia ressaltada pelos autores citados. Assim, o objetivo do presente estudo, foi verificar a reprodutibilidade intradia da atividade do músculo eretor da espinha (iliocostal lombar) mensurada através da eletromiografia de superfície. A comprovação de uma boa reprodutibilidade possibilitará validar o protocolo de coleta, em estudos futuros, que queiram investigar o efeito de intervenções aplicadas à musculatura dorsal. MATERIAL E MÉTODO Participaram do estudo 11 voluntários, estudantes da Universidade Estadual de Campinas, de ambos os sexos (2 homens e 9 mulheres), que não apresentavam dor lombar, com idade média de 26,18 anos (± 6.27), peso médio 59,18 Kg (± 6.6) e altura média 1.65 m (± 0.08). Todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Formal e Esclarecido para a participação na pesquisa que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. A atividade mioelétrica do iliocostal lombar foi captada por meio de eletrodos ativos de superfície (Ag/AgCl) conectados a um eletromiógrafo EMG-800C (EMG System do Brasil ®, SP, Brasil). A conversão dos sinais analógicos para digitais foi realizada por uma placa A/D com faixa de entrada de 12 bits de resolução, freqüência de amostragem de 2000 Hz, módulo de rejeição comum maior que 100 dB, taxa de ruído do sinal menor que 3V RMS e impedância do sistema de 10 9 Ohms. Os canais são compostos por filtros com banda de freqüência entre 20 Hz (Filtro Passa Alta) e 500 Hz (Filtro Passa Baixa), do tipo Butterworth de dois pólos. O ganho do condicionador foi configurado para 100 vezes, e juntamente com o ganho de 20 vezes dos eletrodos ativos, totalizou ganho de 2000 vezes nos canais de eletromiografia. O eletromiógrafo foi conectado a uma bateria com capacidade de 12 Volts e foi interfaciado a um notebook CELERON II (ACCES ® , SP, Brasil), Processador TM 5600, 599 MHz e 240 MB de RAM. Para a análise dos sinais captados foi utilizado um programa específico (Windaq versão 2.26). A plataforma de força utilizada permitiu o posicionamento adequado dos voluntários para a avaliação eletromiográfica, sendo que os voluntários permaneceram em ortostatismo, com o tronco ereto, semiflexão de 20º de joelhos, pés justapostos e membros superiores cruzados na frente do tronco, conforme Figura 1. Para a obtenção dos ângulos articulares foi utilizado um goniômetro da marca Carci. Após tricotomia, esfoliação com tablete secopreparador de pele (Dry Prep Pad, Bio-logic Systems Corp ®) e limpeza da pele com álcool 70%, os eletrodos foram fixados, bilateralmente, sobre o músculo 11 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. Figura 1: Posicionamento do voluntário na plataforma de força. Figura 2: Posicionamento dos eletrodos de captação. iliocostal lombar, ao nível de L2, a um dedo medial da linha traçada entre a espinha ilíaca póstero-superior e o ponto inferior da última costela, estando o indivíduo em decúbito ventral. Os eletrodos foram posicionados longitudinalmente em relação às fibras musculares, com uma distância intereletrodos de 2,0 cm (6), conforme Figura 2. O eletrodo referência foi untado com gel eletrocondutor (Lectron II®) e fixado sobre o maléolo lateral do membro inferior direito. Os registros eletromiográficos foram obtidos, inicialmente, a partir de duas contrações isométricas máximas de extensão do tronco, em decúbito ventral, contra-resistida manualmente (dados utilizados como referência para a normalização do sinal eletromiográfico). Posteriormente, foram realizadas duas contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) de extensão do tronco, na posição em pé, e tarefas isométricas submáximas, a 60 % e 30% da CIVM, aleatoriamente, calculadas a partir da CVIM obtida em ortostatismo. A resistência ao movimento foi oferecida por um braço da plataforma de força, posicionado na altura da terceira vértebra torácica do voluntário, conforme Figura 1. A este anteparo foi acoplada uma célula de carga, com saída entre 0 a 20 mV e alcance entre 0 e 50 Kgf, para leitura do torque realizado durante a contração isométrica (7,8,9,10). Todos os registros EMG foram obtidos durante um período de quatro segundos com intervalo de dois minutos entre as tarefas. Decorridos 30 minutos de repouso, durante o qual o voluntário permaneceu na postura sentada com o tronco apoiado, uma nova avaliação EMG foi realizada, obedecendo-se aos mesmos procedimentos experimentais. Para análise quantitativa da amplitude do sinal eletromiográfico foi utilizado o valor de Root Mean Square (RMS), expresso em µV (11). Os resultados das avaliações foram submetidos aos testes T-Student, paramétrico, bicaudado, com nível de significância de p <0,05. RESULTADOS Os resultados, a seguir, referem-se aos valores de força muscular e atividade eletromiográfica em RMS do músculo iliocostal lombar. Na Tabela 1 pode-se observar os valores da força muscular desenvolvida individualmente por voluntário na avaliação inicial e na reavaliação, após os 30 minutos de repouso, e os valores de média e desviopadrão. Os resultados da Tabela 1 apontam que não há diferença estatisticamente significante nos valores de força muscular da avaliação inicial comparados aos da reavaliação (p=0,55). Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 12 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. Tabela 1 - Avaliação da força muscular do iliocostal lombar (em Kgf) na avaliação inicial e reavaliação após o repouso. Voluntário Força Muscular da Avaliação Inicial (em Kgf) Força Muscular da Reavaliação (em Kgf) 1 63,93 73,78 2 69,36 64,86 3 69,10 65,87 4 49,27 48,43 5 35,19 46,89 6 34,63 35,87 7 56,60 56,30 8 81,27 76,45 9 58,85 69,27 10 65,40 60,37 11 88,40 86,99 Média 60,81 61,13 Desvio - Padrão 16,88 14,76 * p <0,05 valores de RMS a 30% da CIVM para o músculo iliocostal direito (p=0,74) e esquerdo (p=0,53) da avaliação inicial e da reavaliação. Também não há significância nos valores de RMS a 60% da CIVM para o músculo iliocostal direito (p=0,81) e esquerdo (p=0,77) entre as duas avaliações, pré e pós-repouso. Nas Tabelas 2 e 3 podem-se observar os valores da atividade eletromiográfica em RMS referentes aos esforços submáximos de 30% e 60% da CIVM, respectivamente, da avaliação inicial e da reavaliação após o repouso. Os resultados nas Tabelas 2 e 3 apontam que não existem diferenças estatisticamente significantes nos Tabela 2 - Atividade eletromiográfica a 30% da CIVM do músculo iliocostal lombar (RMS) na avaliação inicial e reavaliação após repouso. Avaliação Inicial 30% da CIVM* Voluntário Reavaliação 30% da CIVM DIREITO ESQUERDO DIREITO ESQUERDO 1 60,10 89,10 25,59 89,64 2 45,91 23,23 41,69 22,51 3 26,04 30,87 24,79 17,94 4 109,39 14,31 82,22 15,80 5 124,51 73,28 112,51 74,55 6 49,15 55,88 41,52 65,20 7 126,56 105,63 83,81 88,71 8 38,07 34,26 24,17 40,72 9 413,54 58,06 353,23 52,85 10 135,56 101,61 248,52 78,54 11 167,13 65,57 204,38 80,58 Média 117,81 59,25 112,95 57,00 Desvio - Padrão 108,81 31,36 109,42 28,57 * Contração voluntária isométrica máxima / * p <0,05 Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 13 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. Tabela 3 - Atividade eletromiográfica a 60% da CIVM do músculo iliocostal lombar (RMS) na avaliação inicial e reavaliação após repouso. Avaliação Inicial 60% da CIVM* Voluntário Reavaliação 60% da CIVM DIREITO ESQUERDO DIREITO ESQUERDO 1 120,59 92,18 28,05 95,59 2 57,04 43,86 55,59 47,68 3 51,07 72,48 42,86 36,52 4 224,03 29,05 128,73 36,56 5 158,61 117,44 169,27 131,06 6 50,05 73,37 42,56 77,87 7 170,61 141,75 84,48 137,13 8 72,76 78,01 50,02 78,67 9 427,46 64,51 377,30 58,12 10 180,52 100,64 255,63 81,44 11 183,48 69,90 389,50 124,63 Média 154,20 80,29 147,64 82,30 Desvio - Padrão 109,58 31,84 134,92 36,55 * Contração voluntária isométrica máxima / * p <0,05 DISCUSSÃO Os resultados obtidos no presente estudo confirmam os achados de Larivière et al., os quais sugerem excelente reprodutibilidade das avaliações eletromiográficas interdias dos músculos multífido, iliocostal lombar e longo do pescoço, em ambos os grupos, com e sem dor lombar (4). Os testes de contração isométrica voluntária sub-máxima foram registrados por um período de sete segundos, com dois minutos de intervalo entre eles. Os autores registraram a atividade eletromiográfica dos músculos mencionados na postura em pé com estabilização de um dinamômetro, analisando a função muscular na mesma postura investigada em nosso estudo. A reprodutibilidade das reavaliações eletromiográficas intra e interdias foi testada por Kollmitzer et al.(2) . Os autores analisaram os músculos anteriores da coxa de 18 indivíduos, com intervalos entre as coletas de 3 minutos, 90 minutos e 6 semanas. Os autores concluíram que os valores da eletromiografia entre as seções com menor intervalo demonstraram melhor reprodutibilidade quando comparados com as demais, e que os valores de 50% CIVM demonstraram melhor reprodutibilidade que os de 100% CVIM. Estas conclusões dão confiabilidade para os experimentos que reproduzem as avaliações eletromiográficas em um mesmo dia, como no estudo em questão. Lehman, também verificou a reprodutibilidade da análise interdias da atividade eletromiográfica do músculo eretor da espinha, em indivíduos com e sem dor lombar (3). Os testes foram realizados em três dias não-consecutivos, com provas estáticas de cinco segundos de duração e intervalos de três minutos entre as contrações. Para a contração voluntária isométrica máxima, os voluntários permaneceram em decúbito ventral, realizando extensão do tronco sob resistência. No esforço submáximo, realizado em ortostatismo, os voluntários mantiveram um peso de 5 Kg suspenso a partir do chão por uma corrente de 45 cm. Assim como em nosso estudo, a tarefa realizada em decúbito ventral foi utilizada pelo autor como referência para normalização dos dados, a qual revelou boa reprodutibilidade dos resultados. Posteriormente, Dankaerts et al., também sugeriram boa reprodutibilidade interdias (2 dias não consecutivos) para o esforço submáximo e máximo dos músculos iliocostal lombar, torácico e multífido lombar (5). Para a obtenção da CIVM (tarefa de referência para normalização dos dados) os voluntários foram orientados a realizar a extensão do tronco a partir da posição de decúbito ventral, mediante resistência manual na região escapular. Os testes constaram de três segundos de contração, com três minutos de repouso entre as provas. Os autores comprovaram que a contração voluntária submáxima é Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 14 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. preferível para a normalização da amplitude do EMG e também apontaram uma boa reprodutibilidade das avaliações. Os resultados positivos quanto à confiabilidade das análises EMG dos músculos dorsais sugeriram a utilização do protocolo experimental como base para o desenvolvimento desse estudo. Recentemente, alguns pesquisadores investigaram uma bateria de testes clínicos desenvolvidos para a análise da estabilidade na coluna lombar. A bateria de exames incluía testes para o controle motor, propriocepção e ativação muscular (sEMG). Os testes foram realizados três vezes com um intervalo de uma semana entre cada avaliação. A atividade eletromiográfica dos músculos lombares foi registrada durante a execução de diferentes exercícios. Foram realizados exercícios em CIVM de extensão e flexão do tronco, estabilização do tronco com os membros em movimento e exercícios dinâmicos de flexão do tronco. Os eletrodos de superfície foram posicionados sobre as fibras inferiores do músculo oblíquo interno, multífidos, oblíquo externo e iliocostal lombar. A bateria de testes clínicos mostrou-se confiável e com excelente reprodutibilidade, como apontado pela análise de coeficiente de correlação intraclasse. Os pesquisadores afirmam que esses testes clínicos são ferramentas apropriadas para a avaliação de pacientes com dor lombar (12). A confiabilidade dos parâmetros de freqüência mediana no espectro de potência do sEMG, o índice de fadiga subjetiva e o torque extensor do tronco foram analisados por meio de registros no músculo eretor da espinha. A extensão isométrica do tronco foi realizada duas vezes a 80% da CIVM em três dias diferentes. Os autores sugerem que o erro padrão seja utilizado como um guia para as mensurações em testes clínicos. O intervalo de confiança de 95% para as variáveis estudadas foi de ± 10 Hz para a freqüência mediana (slope ± 0.4-0,5%/s), de ± 46 Nm para o torque de extensão máxima do tronco e ±1,6 para o índice de fadiga subjetiva. Contudo, mudanças ou diferenças dentro desses limites devem ser consideradas como prováveis variações normais e não podem então ser causadas por terapias clínicas específicas. Segundo os autores, o baixo coeficiente de correlação intraclasse para os dados eletromiográficos implica em um baixo potencial na discriminação de sujeitos com dor lombar (13). A eletromiografia e o torque dos músculos do tronco também foram investigados durante rotações axiais isométricas em diferentes níveis de execução. Duas sessões de testes com um intervalo mínimo de sete dias foram realizadas. A amplitude e freqüência do sEMG foi registrada por meio de eletrodos de superfície posicionados nos músculos reto do abdome, oblíquo interno, oblíquo externo, latíssimo do dorso, iliocostal lombar e multífidos, bilateralmente. As mensurações da atividade eletromiográfica e do torque Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 foram executadas a 100%, 70%, 50% e 30% da CIVM em rotações axiais do tronco. Os resultados demonstraram boa a excelente confiabilidade nos dados de amplitude e freqüência do sEMG para os seis músculos avaliados. O torque das contrações isométricas de rotação do tronco também apresentou excelente confiabilidade. O estudo concluiu que a eletromiografia e o torque tri-axial podem ser úteis para a avaliação do desempenho de indivíduos durante a reabilitação (14). Alguns estudos enfatizaram que os dados eletromiográficos dos músculos lombares apresentaram maior confiabilidade e reprodutibilidade durante posturas estáticas e posturas com a estabilização da coluna lombar, sendo excelente nessas condições(3,15). Contudo, podemos afirmar que os resultados obtidos no presente estudo aproximam-se daqueles encontrados pelos autores mencionados, cujos trabalhos serviram de base para os procedimentos experimentais utilizados e nortearam os questionamentos da nossa investigação. Nesse estudo, a variabilidade da atividade EMG e da força muscular não foi estatisticamente significativa. Portanto, a boa reprodução dos resultados foi atribuída ao cuidado tomado na realização dos procedimentos durante as sucessivas avaliações eletromiográficas. Com esta conduta, procurou-se buscar um rigor metodológico e controle sobre o maior número possível de variáveis extrínsecas à análise eletromiográfica. De acordo com DeLuca, os pesquisadores possuem um maior controle em sua metodologia quando supervisionam alguns fatores externos, como o eletrodo a ser utilizado e o tipo de contração do músculo a ser analisado, obtendo assim maior sucesso nas aquisições(16). Entretanto, essas preocupações não podem ser completamente dissipadas pela tecnologia atual e pelo conhecimento da anatomia humana. Contudo, os cuidados nessas aplicações podem assegurar a fidelidade do sinal EMG, reduzir crosstalk e dar estacionariedade suficiente ao sinal; sendo muito importante a normalização da amplitude do sinal que removerá a influência de muitas outras variáveis. CONCLUSÃO Mediante os resultados obtidos e de acordo com as condições experimentais, pode-se concluir que a reprodutibilidade intradia da análise eletromiográfica de superfície da atividade do músculo iliocostal lombar, mostrou-se confiável. AGRADECIMENTOS Os autores deste trabalho agradecem à empresa Righetto Fitness Equipament ®, Campinas/SP, por fornecer a plataforma de força para a realização das coletas de dados (eletromiografia), à FAPESP, à 15 Reprodutibilidade intradia da avaliação eletromiográfica do músculo iliocostal lombar em indivíduos saudáveis. - Evanisi Teresa Palomari e cols. FAEPEX - Unicamp, ao CNPq e à CAPES pelo apoio financeiro. Referências bibliográficas 1. Nascimento AZ; Aguiar CM; Ferreira PH. 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The use of surface electromyography in biomechanics. J Applied Biomechanics, 13: 135-63, 1997. Perspectivas Médicas, 18(1): 9-15, jan. / jun. 2007 16 ARTIGO ORIGINAL Avaliação anatômica de fístula na região mentual. Anatomical Evaluate of Fistula in the Mentalis Region. Palavras-chave: músculo mentual, fístula cutânea, estrutura muscular. Key words: mentalis muscle, cutaneous fistula, muscular structure. Eduardo José Caldeira * Juliana Mandato Ferragut ** Marcelo Rodrigues Cunha * Progresso José Garcia *** *Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo **Aluna do 1º ano do curso de graduação em Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo ***Professor Adjunto do Departamento de Anatomia do Instituto de Biociências, Unesp, Botucatu, São Paulo Instituição e Contato: Eduardo José Caldeira - Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí - Rua Francisco Telles, 250 – Vila Arens. CEP 13202-550 – Jundiaí, São Paulo. Fone: (11) 4587-1095 E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. RESUMO A mandíbula apresenta um corpo que se projeta anteriormente na linha mediana para formar a proeminência mentual. Nesta região são encontrados os músculos mentuais. Visto que a topografia desta região pode ser uma barreira biológica e assim poder determinar a trajetória de infecções buco-faciais, o objetivo do presente estudo foi avaliar a origem dos músculos mentuais em cadáveres e correlacionar a origem destes músculos ao trajeto de fistulas cutâneas como a que foi observada em um indivíduo do gênero feminino com 45 anos de idade que apresentou lesão cutânea na região mentual, com marcante prejuízo estético. Após análise, observou-se que em 88,5% das peças cadavéricas a posição média da origem dos músculos mentuais foi de 21 mm em relação à base da mandíbula, em 8,5% das peças cadavéricas foi observado que a origem média destes músculos em relação à base da mandíbula foi de 7 mm, semelhante ao observado no paciente onde se verificou fístula cutânea mentual com início na região da raiz dos dentes incisivos inferiores e 3% à 4 mm de distância. Assim, após análise das peças cadavéricas, observou-se que a estrutura muscular pode ser um fator relevante na trajetória de fístulas cutâneas, bem como pode influenciar no correto diagnóstico, cujo tratamento neste caso foi o cirúrgico com a reparação estética e Perspectivas Médicas, 18(1): 16-18, jan. / jun. 2007 funcional da região. ABSTRACT The cranial region presents the body of the jaw that itself project in the medium average line to form the mentalis process. In this region are found the mentalis muscles. Seen that the topography of this region can be a biological barrier and can be to decide to path of the infections. Thus, the aim of the present study was evaluate the origin of the cadaveric mentalis muscles and correlate the origin of these muscles to the journey of cutaneous fistulas, as well as observed in a female patient with 45 years old, that presented cutaneous fistula in the mentalis region. After analysis, 88,5% of the medium position of the origin of the mentalis muscles in relation of the mandible base was of 21 mm, in comparison in 8,5% was observed to 7 mm, similar to the observed in the patient, and 3% was observed to 4mm. After analysis, can be concluded that the muscular structure can be a factor in the path of cutaneous fistulas, as well as can be influenced in the correct diagnosis, which in this case was the surgical mode with the repair esthetics and functional of the region. INTRODUÇÃO A região cranial apresenta o corpo da mandíbula que se projeta anteriormente na linha mediana para formar a proeminência mentual. Nesta região são encontrados os músculos mentuais que elevam a pele da região e movimentam o lábio inferior. Cada músculo situa-se em um espaço triangular formado pelas margens mediais dos músculos depressores do lábio inferior. Sua origem óssea é localizada na fossa incisiva da mandíbula, tendo trajetória anterior e inferior inserindo-se na cútis mentual (1,2) . A propagação dos processos supurativos nesta região se faz em direção aos locais de menor resistência. O osso alveolar, as inserções musculares e as posições dentais podem ser barreiras que a infecção encontra(1,3,4,5,6,7). A infecção progride de maneira concêntrica dentro do osso até alcançar as corticais ósseas, normalmente ocorrendo manifestações intrabucais (1,3,8). Contudo, lesões buco-faciais com origem dental podem ocorrer e levam normalmente a dificuldades no diagnóstico, 17 Avaliação anatômica de fístula na região mentual. - Eduardo José Caldeira e cols. comprometendo o tratamento (7). Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a origem dos músculos mentuais em cadáveres e correlacionar a origem destes músculos ao trajeto de fístulas cutâneas, como foi observado em um indivíduo do gênero feminino com 45 anos de idade que apresentou lesão cutânea na região mentual, com marcante prejuízo estético. MATERIAIS E MÉTODOS A análise das características morfológicas dos músculos mentuais foi realizada em 35 cabeças cadavéricas do laboratório de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina de Jundiaí, na cidade de Jundiaí, estado de São Paulo. As peças anatômicas devidamente fixadas foram detalhadamente observadas priorizando a origem dos músculos mentuais em relação à base da mandíbula. Foram utilizados para este estudo músculos mentuais com características morfológicas íntegras que permitissem a identificação morfométrica de sua origem (Figura 1). Assim, após a observação das peças cadavéricas se realizou a comparação morfométrica da origem dos músculos mentuais dos cadáveres com a origem dos músculos mentuais de uma paciente do gênero feminino de 45 anos de idade que apresentou fistula cutânea na região mentual com marcante prejuízo estético (Figura 2). RESULTADOS Do total de peças anatômicas analisadas, 88,5% apresentaram a origem dos músculos mentuais a uma distância de 21 mm em relação à base da mandíbula; 3% das peças analisadas tiveram uma média de distância entre a origem dos músculos mentuais e a base da mandíbula nos valores de 4 mm, e 8,5% das peças anatômicas apresentaram uma distância da origem dos músculos mentuais em relação à base da mandíbula de 7 mm (Tabela 1), similar ao valor observado na paciente, onde se verificou fístula cutânea mentual com início na região da raiz dental (Figura 3). O aparecimento desta lesão ocorreu há 6 meses, sem sintomatologia dolorosa. Desde o início estava sendo tratada como lesão dermatológica, apresentando períodos de recuperação seguidos de formação de nova lesão. Verificou-se fístula crônica com início na região apical das raízes dos dentes incisivos inferiores, cuja lesão apresentou-se superior à origem dos músculos mentuais (Figura 4). A mucosa apresentou-se com coloração e consistência normais. Os dentes incisivos inferiores apresentaram-se hígidos e com vitalidade pulpar (Figura 5). O tratamento indicado foi a exploração cirúrgica da região sem intervenção dental (9). A cirurgia iniciou-se com anestesia local de cloridrato de lidocaína a 2% com epinefrina 1:80.000 Tabela 1: Média relativa percentual do total de 35 peças cadavéricas analisadas em relação à distância (em milímetros) da origem dos músculos mentuais em relação à base da mandíbula (D). Figura 1: Fotografia de um cadáver, onde observa-se o aspecto geral dos músculos mentuais e sua origem (M). X5. Figura 2: Fotografia onde observa-se lesão cutânea na região mentual de uma paciente do gênero feminino com 45 anos de idade, apresentando marcante prejuízo estético (seta). X5. Figura 3: Fotografia da paciente de 45 anos de idade, gênero feminino, onde observa-se presença de fístula crônica com origem na região da raiz dental (R). X5. Perspectivas Médicas, 18(1): 16-18, jan. / jun. 2007 18 Avaliação anatômica de fístula na região mentual. - Eduardo José Caldeira e cols. Figura 4: Fotografia da paciente de 45 anos de idade do gênero feminino, onde observa-se a lesão no osso da mandíbula (L), superior à origem dos músculos mentuais (M) . X5. Figura 5: Fotografia da paciente do gênero feminino de 45 anos, onde observa-se mucosa bucal apresentando-se com coloração e consistência normais (M). Os dentes incisivos inferiores apresentaram-se hígidos e com vitalidade pulpar (H). X5. (1.8 ml) (10). A seguir, realizou-se incisão ao longo eixo do rebordo alveolar com posterior descolamento da mucosa alveolar e periósteo (Figura 4). Realizada a curetagem do processo cístico estimulou-se à formação de coágulo e o tecido de revestimento foi suturado e reposicionado (Figura 6). DISCUSSÃO Alguns cistos crânio-faciais podem ser tratados sem o comprometimento dos dentes(9). Como foi demonstrado no presente estudo, após exame físico, com auxílio dos conhecimentos anatômicos, detectouse a presença de vitalidade dos dentes incisivos inferiores, que foi mantida após o procedimento cirúrgico. No presente estudo, a fístula cutânea foi determinada pelas inserções musculares e pela topografia alvéolo-dental, cuja lesão apresentou-se superior à origem dos músculos mentonianos, como foi observado na análise morfométrica, à semelhança em torno de 10% das peças cadavéricas, que apresentaram a origem dos músculos mentuais distantes em relação à base da mandíbula em valores iguais ou menores que 7 mm. Outros trabalhos descreveram de forma similar, infecções cujo trajeto da fístula foi determinado pelas origens e inserções musculares e pela topografia bucodental (1,8). Lesões faciais de origem dental podem levar a dificuldades no diagnóstico, comprometendo o tratamento(7), sendo que aproximadamente metade dos casos relatados na literatura são tratados de forma incorreta (11), a exemplo de paciente citada no presente estudo, que foi submetida a tratamento dermatológico durante 6 meses. Assim, após análise das peças cadavéricas, observou-se que a estrutura muscular pode ser um fator relevante na trajetória de fístulas cutâneas buco-faciais, bem como pode influenciar no correto diagnóstico, possibilitando um tratamento adequado. Perspectivas Médicas, 18(1): 16-18, jan. / jun. 2007 Figura 6: Fotografia da paciente do gênero feminino de 45 anos, onde observa-se o reposicionamento com a sutura do tecido de revestimento (S). X5. AGRADECIMENTOS FMJ, FAPESP, CNPq e CAPES. 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Palavras-chave: nicotina, dependência e enfermagem Key words: nicotine, dependence and nursing Eduardo José Caldeira * Anne Pavlowa Alves Ruela ** Cesar Alexandre Fabrega Carvalho*** *Professor Adjunto da Faculdade de Jaguariúna, FAJ e Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. ** Aluna Bolsista PIC do Curso de Enfermagem da Faculdade de Jaguariúna, FAJ, Jaguariúna, São Paulo. ***Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. Instituição: Faculdade de Jaguariúna, FAJ - Rodovia Ademar de Barros, Km 127 - Pista Sul, Jaguariúna, São Paulo. CEP: 13.820-000. Tel: (19) 3837-8500 - E-mail: [email protected] Suporte: PIC-FAJ Artigo ainda não publicado. RESUMO A dependência ao cigarro é considerada uma doença, tendo os enfermeiros papel fundamental durante todo o processo de tratamento. No entanto, observa-se que o número de enfermeiros fumantes vem aumentando a cada ano. Este fato pode estar relacionado a distúrbios emocionais relacionados à profissão. Assim, o objetivo do presente estudo foi identificar o grau de dependência à nicotina entre acadêmicos do primeiro ao terceiro ano da graduação do curso de Enfermagem da Faculdade de Jaguariúna. Um total de 250 alunos foram submetidos ao teste de Fagerström. Os resultados demonstraram que 12,80% dos alunos do primeiro ano se consideraram fumantes, enquanto que 18% dos alunos do segundo ano do curso de Enfermagem se consideraram fumantes, mas nenhum aluno apresentou dependência elevada à nicotina. Já, dos alunos do terceiro ano do curso de Enfermagem apenas 6,5% se consideraram fumantes, contudo 2% destes alunos apresentaram dependência muito elevada à nicotina. Assim, pode-se concluir que ocorreu uma porcentagem de fumantes entre os alunos do primeiro e segundo ano do curso de Enfermagem, demonstrando que este fator pode estar relacionado à adequação psico-social inicial dos alunos destes anos. Entretanto, os níveis de dependência entre os alunos do terceiro ano foram maiores, o que demonstra que os alunos que fazem uso do tabaco nos primeiros anos escolares podem tornar-se fumantes crônicos dependentes da nicotina. ABSTRACT The dependence of the cigarette is considered an illness, and the nurses have fundamental action during all the process of the handling. However, it's observed that smokers nurses number has increased each year. This fact can be related to emotional disturbances in the profession. Thus, the aim of the present study was to identify the dependence degree to nicotine between nursing students of the first from the third year of the graduation in nursing of the Jaguariúna School of Nursing. A total of 250 students were submitted to the Fagerström Test. The results showed that 12,80% of the students of the first year, were itself considered smokers, whereas, 18% of the students of the second year of the nursing course, itself considered smokers, but no student presented dependence elevated to the nicotine. Also, just 6,5% of the students of the third year of the nursing course itself considered smokers, however 2,0% of these students presented a lot dependence elevated to the nicotine. Thus, it was concluded that a significant percentage of smokers occurred between the first and second year of the nursing course, showing that this factor can be related to the initial adaptation of these students. However, the levels of dependence between the students of the third year were major, which shows that the students who initiate the use of tobacco can become dependent chronic smokers of the nicotine. INTRODUÇÃO Em países ocidentais em média 2200 jovens experimentam cigarro diariamente e aproximadamente 830 tornam-se usuários regulares (1). Do cigarro podese isolar mais de 4000 substâncias, sendo a nicotina responsável pela dependência química dentre outros efeitos nocivos (2,3). Estudos clínicos e experimentais relatam a toxicidade sistêmica do tabaco, sendo a nicotina o alcalóide mais importante (4). Em ratos e em humanos o tabaco pode causar alterações do pH da urina, processos inflamatórios, problemas cardioPerspectivas Médicas, 18(1): 19-21, jan. / jun. 2007 20 Avaliação do grau de dependência à nicotina em acadêmicos de enfermagem. - Eduardo José Caldeira e cols. vasculares, problemas respiratórios e alterações em músculo estriado esquelético (5,6,7,8,9). Assim, a dependência ao cigarro passou a ser considerada uma dependência física que deve ser tratada como doença, onde se utiliza um arsenal terapêutico com o objetivo de aliviar os sintomas e sinais clínicos apresentados pelos fumantes(8). Os enfermeiros têm papel fundamental durante todo esse processo terapêutico, bem como são fundamentais como disseminadores da prevenção. No entanto, observa-se que o número de enfermeiros fumantes vem aumentando a cada ano. Este fato pode estar relacionado a distúrbios emocionais, à profissão, visto que é necessário para o profissional de enfermagem intenso equilíbrio psíquico (10). Assim, o objetivo do presente estudo foi identificar através do Teste de Fagerström o grau de dependência à nicotina entre acadêmicos do primeiro ao terceiro ano da graduação do curso de Enfermagem, bem como correlacionar o uso do tabaco às adaptações psicosociais decorrentes do curso universitário. MATERIAIS E MÉTODOS Um total de 250 alunos, cerca de 80% dos alunos do curso de Enfermagem, cursando do primeiro ao terceiro ano do curso na Faculdade de Jaguariúna, foram submetidos ao teste de Fagerström para avaliação do grau de dependência à nicotina, sendo classificado como dependência muito baixa, baixa, média, elevada e muito elevada de acordo com o hábito de fumar (11). Este teste foi aplicado entre os acadêmicos durante o período de um ano de forma aleatória, sem priorizar classe social, rotina profissional e comportamento psicológico. Todo o processo de coleta de dados foi realizado pelo mesmo pesquisador que não identificou os sujeitos da pesquisa. Toda a pesquisa foi realizada de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa e após aceite do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo da comparação entre os dados obtidos foi analisado utilizando a distribuição percentual das variáveis(12) . RESULTADOS Os resultados demonstraram que 12,80% dos alunos do primeiro ano se consideraram fumantes. Enquanto que 18% dos alunos do segundo ano do curso de Enfermagem também se consideraram fumantes. Já, dos alunos do terceiro ano do curso de Enfermagem apenas 6,5% se consideraram fumantes. Após o teste de Fagerström, observou-se que dos alunos fumantes do primeiro ano do curso de Enfermagem, 2,5% foi classificado como tendo dependência muito baixa à nicotina e nenhum dos alunos apresentou dependência elevada. Já nos alunos fumantes do segundo ano, 13% foram classificados como tendo dependência muito baixa à nicotina e nenhum dos alunos apresentou dependência elevada. Nos alunos do terceiro ano do curso de Enfermagem notou-se que 4,3% dos alunos apresentaram dependência à nicotina muito baixa, contudo 2% dos alunos já apresentavam dependência muito elevada. DISCUSSÃO A relação entre o perfil psico-social e o consumo de tabaco vem sendo investigada em diversos países, sendo que os fatores mais analisados são os perfis depressivos, ansiedade, impulsividade e distúrbios psiquiátricos(13,14). De acordo com os resultados observados neste estudo pode-se constatar que apesar de uma grande porcentagem dos alunos entre o primeiro e segundo ano se considerarem fumantes, uma parcela destes apresentaram baixo grau de dependência. Rondina et al. (2001), observou que de modo geral os universitários fumantes são mais Tabela 1: Percentagem relativa de estudantes considerados fumantes de acordo com o total de alunos em cada ano escolar (N). Tabela 2: Percentagem relativa de dependência à nicotina segundo o Teste de Fagerström. Perspectivas Médicas, 18(1): 19-21, jan. / jun. 2007 21 Avaliação do grau de dependência à nicotina em acadêmicos de enfermagem. - Eduardo José Caldeira e cols. extrovertidos e impulsivos(15), o que explicaria a relação do uso do tabaco pelos alunos do primeiro ano e segundo ano, dos quais muitos utilizam o tabaco para poderem se relacionar melhor com o mundo e com as dificuldades que os cercam (16). Também, foi observado no presente estudo que os alunos do terceiro ano apresentaram certa dependência à nicotina. Patkar et al. (2003) comparando 397 estudantes de medicina e 126 estudantes de enfermagem observaram que a maioria dos fumantes e dependentes estava entre os estudantes de enfermagem (17). A relação de dependência à nicotina observada no presente estudo entre os alunos do terceiro ano pode estar relacionada ao período de uso do tabaco no qual os alunos se tornam fumantes crônicos. Além disso, os estudantes tendem a fumar cada vez mais, possivelmente, por necessitarem também de aceitação e aprovação social (15). Assim, a partir dos resultados pode-se concluir que ocorreu uma porcentagem de fumantes entre os alunos do primeiro e segundo ano do curso de Enfermagem, contudo os níveis de dependência à nicotina foram menores em relação aos alunos do terceiro ano, demonstrando que este fator pode estar relacionado a uma adequação psico-social inicial dos alunos do primeiro e segundo anos. Entretanto, os níveis de dependência entre os alunos do terceiro ano foram relativamente maiores, o que pode demonstrar que os alunos que fazem uso do tabaco nos primeiros anos escolares podem tornar-se fumantes crônicos dependentes da nicotina. Referências Bibliográficas 1. Hebert, R. What´s new in nicotine & tobacco research?, Nicotine Tobacco Res, v 2: 313-5, 2000. 2. Svensson, CK. Clinical pharmacokinetics of nicotine, Clin Pharmacokin, v 12: 30-40, 1987. 3. 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José Fernando Amaral Meletti * Reinaldo Vargas Bastos Miranda ** Fernanda Cristina Simões *** Camila de Souza Hagui **** Carolina Ramos Farrajota **** * Professor Adjunto e Responsável pela Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. ** Professor Auxiliar da Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. *** Acadêmica do 6° ano de graduação da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. **** Acadêmica do 5° ano de graduação da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. Endereço para correspondência: Faculdade de Medicina de Jundiaí: Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil, CEP 13202-550. Contato: José Fernando A. Meletti: Rua João Massagardi Filho, 98. Bairro Santa Tereza, Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil, CEP 13.211-421, Telefone: (11) 4587-7112, Celular: (11) 8403-9555. E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. RESUMO Delirium e disfunção cognitiva pós-operatórios são estados confusionais agudos desencadeados por fatores do perioperatório. Dos inúmeros fatores que contribuem para o aparecimento destas entidades, a idade está entre os principais. O delirium e a disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO) estão diretamente relacionados à maior morbi-mortalidade dos pacientes, sendo muito importante em termos de custos hospitalares. Pacientes com as síndromes tendem a maior permanência hospitalar, submetendo-se a riscos de infecções e também aumentando os gastos com a internação. Sabe-se que pacientes que apresentaram delirium ou DCPO têm maior taxa de mortalidade que demais pacientes no pós-operatório tardio. Este trabalho tem como objetivo avaliar a incidência de delirium e disfunção cognitiva de pacientes geriátricos submetidos a cirurgias ortopédicas de quadril ou membros inferiores sob anestesia condutiva e observar Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 fatores que possam influenciar na presença de tais sintomas no pós-operatório. O CAM, Confusion Assessment Method, é um teste com a propriedade de avaliar a presença de estado mental de confusão ou delirium, consistindo de uma investigação subjetiva (identifica-se início agudo ou flutuante, distúrbio de atenção, pensamento desorganizado, alteração do nível de consciência como fatores mais importantes). O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) tem o objetivo de identificar a Disfunção Cognitiva, sendo aplicado de maneira objetiva a partir de questões que evocam orientação, memória imediata, atenção, cálculos, evocação e linguagem. Através destes métodos entrevistamos 15 pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas de quadril e membros inferiores, em 4 momentos: M0 (pré-operatório), M1 (pós-operatório imediato), M2 24 horas após e M3, 48 horas após. Além disso os pacientes foram investigados quanto a conhecidos fatores de risco e co-morbidades. Dentre os resultados, os mais relevantes foram a idade do paciente, presença de delirium ou disfunção cognitiva prévia, e, principalmente, o tipo de cirurgia a que se submeteu o paciente. Foram encontradas maiores taxas de delirium e DCPO nos pacientes submetidos a cirurgias de artroplastia de quadril. A presença de co-morbidades também foi importante para o aparecimento de delirium e DCPO, sendo mais prevalente a hipertensão arterial. Concluímos que a alta incidência de delirium e disfunção cognitiva pós-operatórios reitera a importância de uma avaliação pré-operatória boa e cuidadosa, para evitar o aparecimento das síndromes naqueles pacientes mais suscetíveis, principalmente nos pacientes geriátricos submetidos à artroplastia de quadril. ABSTRACT Delirium and postoperative cognitive dysfunction are states sharp confusionais unchained by factors of the perioperatório. Of the countless factors that contribute to the emergence of these entities, the age is among the main ones. The delirium and the postoperative cognitive dysfunction (DCPO) they are directly related to the patients' largest morbi-mortality, 23 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. being very important in terms of costs hospitalares. Patient with the syndromes they tend the largest permanence hospitalar, undergoing risks of infections and also increasing the expenses with the internment. It is known that patient that presented delirium or DCPO have larger mortality tax than other patient in the postoperative late. This work has as objective evaluates the delirium incidence and cognitive dysfunction of patient geriátricos submitted to orthopedical surgeries of hip or inferior members under conductive anesthesia and to observe factors to influence in the presence of such symptoms in the postoperative. The CAM (Confusion Assessment Method), is a test with the property of evaluating the presence of mental state of confusion or delirium, consisting of a subjective investigation (he/she identifies beginning sharp or flotation, disturbance of attention, disorganized thought, alteration of the level of conscience as more important factors). THE Míni Exame of the Mental State (MEEM) he/she has the objective of identifying the Cognitive Dysfunction, being applied in an objective way starting from subjects that evoke orientation, immediate memory, attention, calculations, evocation and language. Through these methods we interviewed 15 patients submitted to orthopedical surgeries of hip and inferior members, in 4 moments: M0 (preoperative), M1 (postoperative immediate), M2 24 hours after and M3, 48 hours after. Besides the patients were investigated as for known risk factors and comorbidities. Among the results, the most relevant were the patient's age, delirium presence or previous cognitive dysfunction, and, mainly, the surgery type the one that submitted the patient. They were found larger delirium taxes and DCPO in the patients submitted to surgeries of hip artroplastia. The presence of comorbidities was also important for the delirium emergence and DCPO, being more prevalente the arterial hypertension. Thus, we ended that the high delirium incidence and postoperative cognitive dysfunction reiterates the importance of a good and careful preoperative evaluation, to avoid the emergence of the syndromes in those more susceptible patients, mainly in the geriatric patients submitted to the hip artroplastia. INTRODUÇÃO A prevalência de pacientes idosos em nossa sociedade tem aumentado significativamente e as implicações do envelhecimento da população cirúrgica para a prática anestésica são profundas. Dentre as possíveis complicações geriátricas no pós-operatório, o delirium acomete entre 25 até 65% dos pacientes e se manifesta por alterações que variam de desorientação leve até um estado de demência1. Em cirurgias ortopédicas, especialmente as de quadril, são relatadas incidências que variam de 17% para cirurgias eletivas até 40 a 50% para cirurgias de urgência (2,3). Estudos demonstram que o delirium implica em uma morbi-mortalidade elevada durante a internação (1,3,4,5) . Complicações clínicas, como retardo da mobilização pós-operatória, por exemplo, podem acarretar em úlceras de pressão, quedas e infecções pulmonares, cursando com internações mais prolongadas e contribuindo significativamente para aumento dos custos hospitalares (3,6,7,8). Ainda, após a alta hospitalar há um aumento da mortalidade dos pacientes que atinge até 63% após um ano, sendo três vezes maior daqueles que não apresentaram delirium durante a internação (9,10). Após um episódio de delirium existem evidências de perda da funcionalidade e de funções cognitivas(11). Portanto, torna-se necessária uma prevenção efetiva, e para isso os fatores de risco devem ser identificados. A disfunção cognitiva é descrita como uma diminuição do grau de atenção e memória, compreendendo um amplo espectro de desordens, variando entre disfunção neurocognitiva, demência (dano à memória) e, em casos mais graves pode ser acompanhada de confusão, alucinação e delirium3,8. Delirium é um estado confusional agudo com déficit cognitivo e de atenção. É definido como uma mudança do estado mental caracterizada por confusão, desorientação, mudanças no nível de consciência, concentração, percepção, memória, cognição, orientação, comportamento psicomotor e no ciclo sono-vigília, sendo geralmente reversível (12,13,14,15). Entre os principais fatores de risco já conhecidos para o desenvolvimento de delirium no pós-operatório estão: idade, prejuízo cognitivo prévio, déficit do estado funcional anterior, tipo de procedimento cirúrgico, duração da cirurgia, drogas psicoativas, complicações respiratórias, infecções secundárias e dor (1,3,14,15,16,17). A idade avançada, a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, as perdas neuronais e redução das concentrações dos neurotransmissores associados ao envelhecimento são fatores que também podem contribuir para a ocorrência desta síndrome (16,18). Quanto à disfunção cognitiva, diversos fatores têm sido relacionados à sua ocorrência. Entre eles, o estado físico, distúrbios eletrolíticos, visuais e imunológicos, alcoolismo, fármacos e senilidade figuram como mais importantes3. A magnitude das respostas metabólicas e endócrinas ao estresse cirúrgico também têm sido diretamente relacionadas com a ocorrência de disfunção cognitiva pós-operatória (17,19,20). A fisiopatologia desta síndrome ainda não está totalmente esclarecida. Alguns autores sugerem mecanismos que possam contribuir para seu desenvolvimento, como: desequilíbrio de neurotransmissores (acetilcolina, serotonina, GABA, dopamina e glutamato) e mediadores inflamatórios (interleucina 2, cortisol) (18,21,22). E, também, pacientes idosos são mais suscetíveis a efeitos adversos de medicações devido a uso de múltiplas drogas Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 24 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. (interação medicamentosa), diminuição do clearance renal e possível diminuição da função hepática, adicionando a hipótese de que estes fatos somados podem estar associados ao aumento do déficit cognitivo pós-operatório (3,14). Diante da freqüência e a influência que estas síndromes exercem na morbi-mortalidade e qualidade de vida dos pacientes idosos, torna-se importante avaliar suas incidências e relacionar os dados com fatores de risco observados no perioperatório. O objetivo do estudo é avaliar a incidência de delirium e disfunção cognitiva de pacientes geriátricos submetidos a cirurgias ortopédicas de quadril ou membros inferiores sob anestesia condutiva e observar fatores que possam influenciar na presença de tais sintomas no pós-operatório. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de estudo prospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí e pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (Ofício CEP 006/2005). Todos os participantes da pesquisa receberam orientações verbais e escritas sobre o trabalho e concordaram com suas condições através do termo de consentimento informado (Anexo I). ANEXO I Termo de Consentimento Informado Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa sobre “DELIRIUM E DISFUNÇÃO COGNITIVA EM IDOSOS SUBMETIDOS À CIRURGIA NO QUADRIL”. Os avanços na área da saúde ocorrem através de estudos como este, por isso a sua participação é importante. O objetivo deste estudo é avaliar a incidência de déficit cognitivo e/ou delirium no pós-operatório de pacientes geriátricos submetidos a cirurgia de quadril sob anestesia condutiva (raquieanestesia e peridural) e observar fatores que possam influenciar na presença de tais sintomas. Caso você participe, será necessário apenas se submeter a um exame clínico neurológico e entrevista, que serão realizadas logo após a sua cirurgia, no dia seguinte e no segundo dia, e 3 e 6 meses depois. Não será feito nenhum procedimento invasivo adicional que lhe traga qualquer desconforto ou risco à sua vida. Com este estudo pretendemos contribuir para a melhora na qualidade de vida de idosos que possam vir a se submeter a cirurgias. Esta participação é voluntária, e você poderá ter todas as informações que quiser e poderá não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo no seu atendimento. Pela sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. Seu nome não aparecerá em qualquer momento do estudo, pois você será identificado com um número. Telefone de contato dos pesquisadores: (19) 91115416, (11) 92193977 e (11) 97523545. Em caso de dúvida em relação a esse documento, você pode entrar em contato com o Comitê Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí, pelo telefone (11) 45871095. 1. Termo de Consentimento Eu, _________________________________________________________________, li e/ou ouvi o esclarecimento acima e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento a que serei submetido. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento, sem justificar minha decisão. Sei que meu nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro por participar do estudo. Eu concordo em participar do estudo. Jundiaí, ____/__________/200___ __________________________ Assinatura do voluntário RG: _________________________ Fernanda C. Simões RG: __________________________ Camila de Souza Hagui RG: _________________________ Carolina Ramos Farrajota RG: No período entre agosto de 2005 e maio de 2006, 17 pacientes com idade acima de 65 anos, estado físico ASA II ou III, admitidos para cirurgias ortopédicas de quadril e membros inferiores, foram selecionados. Os pacientes foram entrevistados em quatro momentos e submetidos à versão brasileira do CAM (Confusion Assessment Method) – Anexo II - e do Mini Exame do Estado Mental (MEEM, ou “Mini-Mental”) Anexo III - sendo M0 o pré-operatório, M1 o pósoperatório imediato, M2 24horas após a cirurgia e M3 48 horas após. Além da entrevista com os pacientes, foram observadas a existência de alguns fatores de risco, tais como: escolaridade, tipo de cirurgia, estado físico, hipotensão, hipóxia, sedação e duração da cirurgia. Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 Através do CAM procuramos avaliar a presença de estado mental de confusão ou delirium. Este teste consiste de nove sessões de perguntas que avaliam: 1. Início agudo e/ou curso flutuante, 2. Distúrbio de atenção, 3. Pensamento desorganizado, 4. Alteração do nível de consciência, 5. Desorientação, 6. Distúrbio (prejuízo) da memória, 7. Distúrbio de percepção, 8. Agitação psicomotora, 9. Alteração do ciclo sono. O diagnóstico de delirium pelo CAM é baseado nos quatro primeiros fatores (características clínicas) e requer a presença de início agudo dos sintomas e desordens de pensamento ou alterações do nível de consciência. Para firmar o diagnóstico de delirium através do CAM os Fatores 1 e 2 devem estar presentes e o paciente deve, também, mostrar sintomas da 25 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. ANEXO II CONFUSION ASSESSMENT METHOD (CAM), VERSÃO EM PORTUGUÊS. 1) Início agudo Há evidência de uma mudança aguda do estado mental de base do paciente? 2) Distúrbio da atenção 2A) O paciente teve dificuldade em focalizar sua atenção, por exemplo, distraiu-se facilmente ou teve dificuldade em acompanhar o que estava sendo dito? - Ausente em todo o momento da entrevista - Presente em algum momento da entrevista, porém de forma leve - Presente em algum momento da entrevista, de forma marcante - Incerto 2B) Se presente ou anormal, este comportamento variou durante a entrevista, isto é, tendeu a surgir e desaparecer ou aumentar e diminuir de gravidade? - Sim - Não - Incerto - Não aplicável 2C) Se presente ou anormal, descreva o comportamento: _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 3) Pensamento desorganizado O pensamento do paciente era desorganizado ou incoerente, com a conversação dispersiva ou irrelevante, fluxo de idéias pouco claro ou ilógico, ou mudança imprevisível de assunto? 4) Alteração do nível de consciência Em geral, como você classificaria o nível de consciência do paciente? - Alerta (normal) - Vigilante (hiperalerta, hipersensível a estímulos ambientais, assustando-se facilmente) - Letárgico (sonolento, facilmente acordável) - Estupor (dificuldade para despertar) - Coma - Incerto 5) Desorientação O paciente ficou desorientado durante a entrevista, por exemplo, pensando que estava em outro lugar que não o hospital, que estava no leito errado, ou tendo noção errada da hora do dia? 6) Distúrbio (prejuízo) da memória O paciente apresentou problemas de memória durante a entrevista, tais como incapacidade de se lembrar de eventos do hospital, ou dificuldade para se lembrar de instruções? 7) Distúrbios de percepção O paciente apresentou sinais de distúrbios de percepção, como por exemplo alucinações, ilusões ou interpretações errôneas (pensando que algum objeto fixo se movimentava)? 8) Agitação psicomotora Parte 1 - Durante a entrevista, o paciente apresentou aumento anormal da atividade motora, tais como agitação, beliscar de cobertas, tamborilar com os dedos ou mudança súbita e frequente de posição? Retardo psicomotor Parte 2 - Durante a entrevista, o paciente apresentou diminuição anormal da atividade motora, como letargia, olhar fixo no vazio, permanência na mesma posição por longo tempo, ou lentidão exagerada de movimentos? 9) Alteração do ciclo sono-vigília O paciente apresentou sinais de alteração do ciclo sono-vigília, como sonolência diurna excessiva e insônia noturna? Respostas positivas a algumas questões determinam os seguites fatores: Fator 1: Início agudo e curso flutuante Este aspecto é comumente obtido a partir de um familiar ou enfermeira. Questões 1 e 2B Fator 2: Distúrbio de atenção Questão 2A Fator 3: Pensamento desorganizado Questão 3 Fator 4: Alteração do nível de consciência Questão 4 O diagnóstico de delirium pelo CAM requer a presença dos fatores 1 e 2 e 3 ou 4 terceira (fator 3) ou quarta característica clínica (fator 4) (5,16). Os fatores de 5 a 9 podem estar positivos ou negativos independente do diagnóstico de delirium, uma vez que foi comprovada baixa especificidade e sensibilidade. Estes são mantidos porque podem antecipar e adicionar-se ao diagnóstico de delirium(2,5). Para avaliação de disfunção cognitiva foi utilizado teste de Mini Exame do Estado Mental, que considera a orientação, memória imediata, atenção, cálculos, evocação e linguagem. Como visto na literatura, este exame possui grande especificidade para o diagnóstico de distúrbios cognitivos e o ponto de corte para se determinar disfunção cognitiva é de 24 pontos para aqueles alfabetizados e 19 pontos para os não alfabetizados (Anexo III)(3, 22). Os pacientes foram classificados como portadores de delirium e/ou DCPO de acordo com essa definição, avaliando-se a incidência das síndromes, e comparados quanto: escolaridade, ASA, tipo de cirurgia; os resultados do CAM e MEEM foram comparados, para observar a associação entre delirium e DCPO nos pacientes. Os resultados dos testes foram avaliados através de freqüências absolutas (n) e relativas (%). Para avaliar Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 26 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. ANEXO III MINI EXAME DO ESTADO MENTAL ESCORE MÁXIMO 5 5 3 5 ESCORE OBTIDO Orientação Qual é: - dia da semana dia do mês mês ano hora aproximada Onde estamos: Estado País Cidade Hospital Andar Memória Imediata Repetir objetos (carro, vaso, janela) – 1 ponto para cada correta Repita as respostas até o indivíduo aprender as 3 palavras (5 tentativas). Tentativas: _________ Atenção e cálculo (100-7) 5 vezes sucessivamente (1 ponto para cada cálculo correto) Alternativa: Soletrar a palavra MUNDO de trás para frente. Evocação 3 9 ESCORE TOTAL: Repetir os três objetos ditos anteriormente (1 ponto cada) Linguagem Nomear uma caneta e um relógio (2 pontos) Repetir: “Nem aqui, nem ali, nem lá” (1 ponto) Executar comando em três estágios: “Pegue o papel com a mão direita, dobre ao meio e coloque-o no chão” (3 pontos) Ler e obedecer: “Feche os olhos” (1 ponto) Escrever uma frase (Deve conter um sujeito e um verbo e ter coerência. Gramática correta e pontuação não são necessários) – 1 ponto Copiar desenho abaixo (1 ponto) – Todos os 10 ângulos devem estar presentes e 2 deles devem interseccionar para ganhar 1 ponto. Ignorar o tremor e a rotação * ESCORE MÁXIMO = 30 PONTOS; DISFUNÇÃO COGNITIVA SE ABAIXO DE 24 PONTOS. a associação entre o MEEM no M0 e nos demais momentos utilizou-se o teste de McNemar por se tratar de um mesmo teste avaliado em diferentes momentos, medido em categorias. As demais associações foram avaliadas pelo teste exato de Fisher porque n<20. O nível de significância assumido foi de 5%. O software utilizado para análise foi o SAS versão 8.2. Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 RESULTADOS Dos 17 pacientes selecionados, dois não foram considerados elegíveis para o estudo pelas seguintes razões: um paciente recebeu anestesia geral e outro teve sua cirurgia suspensa após a realização da entrevista pré-operatória (M0). A análise estatística foi realizada a partir dos dados obtidos dos 15 pacientes restantes. 27 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. A média de idade encontrada foi de 75,43 anos, variando entre 66 e 88 anos. Onze pacientes eram alfabetizados (cursaram pelo menos uma série do primeiro grau). Todos os pacientes receberam raquianestesia, três com sedação pré-operatória. A média do tempo de internação foi de 4,73 dias, variando de 3 a 9 dias. Entre as co-morbidades observou-se: 4 pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS); 1 com Diabetes Mellitus (DM); 1 com Diabetes e HAS associados; 1 com acidente vascular cerebral (AVC) e HAS; 1 com AVC, HAS, DM e hipercolesterolemia; outro com HAS e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e 1 com ICC (insuficiência cardíaca crônica); 5 pacientes não apresentaram nenhuma co-morbidade. Destes 10 pacientes que apresentaram patologia associada, 8 (80%) demonstraram alteração no MEEM, e 3 (30%) também mostraram positividade no CAM; as patologias e sua relação direta com os testes de MEEM e CAM positivos estão dispostas na Tabela 1 e Gráfico 1 – Relação entre as co-morbidades encontradas e positividades dos testes do MEEM e CAM em algum momento do pós-operatório. Delirium foi encontrado em 2 pacientes (13,4%) em M0, 3 (20%) em M1 e M2 e 1 paciente (6,7%) em M3. A DCPO foi observada em 7 pacientes (46,7%) no préoperatório – M0 , 8 (53,4%) em M1, 7 (46,7%) em M2 e 6 (40,4%) em M3 (Tabela 2, Gráfico 2 – Incidência de delirium e DCPO nos diversos momentos). Os resultados de M1, M2 e M3 do Mini-Mental também foram comparados em relação a DCPO (disfunção cognitiva pós-operatória) prévia (M0). Obtivemos os seguintes resultados: dos 8 pacientes com resultado negativo do MEEM em M0, 3 (37,5%) apresentaram-se positivos em M1, 1 (12,5%) em M2 e zero em M3; daqueles que apresentaram disfunção cognitiva prévia (M0 positivo, 7 pacientes), 6 (85,7%) foram positivos em M1, M2 e M3 (Tabela 3, Gráfico 3 – Tabela 1 – Relação entre as co-morbidades encontradas e positividades dos testes do MEEM e CAM em algum momento do pós-operatório Total MEEM CAM n n % n % Ausente 5 3 60.0 1 20.0 HAS 8 6 75.0 3 37.5 DM 3 3 100.0 1 33.3 AVC 2 2 100.0 1 50.0 Hipercolesterolemia 1 1 100.0 1 100.0 DPOC 1 1 100.0 1 100.0 ICC 1 0 0.0 0 0.0 Associações 4 4 100.0 2 50.0 Gráfico 1 – Relação entre as co-morbidades encontradas e positividades dos testes do MEEM e CAM em algum momento do pós-operatório 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% CAM 50,0% 0,0% C IC C PO H ip er co le s D te ro le m ia AV C D M 0,0% 33,3% 50,0% 75,0% AS H Au se nt e 20,0% 37,5% 60,0% 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 100,0% MEEM Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 28 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. Tabela 2 – Incidência de delirium e DCPO nos diversos momentos 1. CAM MEEM Negativo 2. n Positivo 3. n % Negativo 4. n % Positivo 5. n % % M0 13 86.6 2 13.4 8 53,3 7 46.7 M1 10 80.0 3 20.0 7 46,6 8 53.4 M2 10 80.0 3 20.0 8 53,3 7 46.7 M3 14 93.3 1 6.7 9 59,6 6 40.4 Gráfico 2 – Incidência de delirium e DCPO nos diversos momentos M2 M3 n Negativo n Positivo % Negativo CAM Comparação do teste MEEM obtido em M0 e nos demais momentos). Observamos que 66,7% dos pacientes (n=10) tiveram resultado de Mini-Mental positivo em algum momento pós-operatório (M1, M2 ou M3), enquanto 20% (n=3) apresentaram delirium (diagnosticado pelo 7 8 7 6 % 46,7 53,4 46,7 40,4 53,3 46,6 53,3 59,6 % 8 7 8 9 n 13,4 20,0 20,0 6,7 2 3 3 1 13 10 10 14 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 M1 86,6 80,0 80,0 93,3 M0 n % Positivo MEEM CAM) no pós-operatório (Tabela 4, Gráfico 4 – Percentual de pacientes com exames positivos em algum momento do pós-operatório). Dos pacientes com MEEM positivos em M1, M2 ou M3, 5 (50,0%) eram estado físico ASA II e 5 (50,0%) ASA III. Destes, três pacientes (30,0%) não eram Tabela 3 – Comparação do teste MEEM obtido em M0 e nos demais momentos MEEM M0 Negativo Positivo n n % M1 Negativo Positivo 5 3 62.5 37.5 1 6 14.3 85.7 M2 Negativo Positivo 7 1 87.5 12.5 1 6 14.3 85.7 M3 Negativo Positivo 8 0 100.0 0.0 1 6 14.3 85.7 Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 Valor-p % 0.317 1.000 0.317 Teste de Mc Nemar Teste de Mc Nemar 6. MEEM 29 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. Gráfico 3 – Comparação do teste MEEM obtido em M0 e nos demais momentos. M1 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 85,7% 85,7% M2 M3 85,7% 37,5% 12,5% 0,0% Negativo Positivo MEEM M0 Tabela 4 – Percentual de pacientes com exames Positivos em algum momento do pós-operatório Testes N % MEEM - Algum momento do pós-operatório Positivo Negativo 10 5 66.7 33.3 CAM - algum momento do pós-operatório Positivo Negativo 3 11 20.0 80.0 Gráfico 4 – Percentual de pacientes com exame positivo em algum momento do pósoperatório. Negativo Positivo 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 80,0% 66,7% 33,3% 20,0% MEEM - Algum momento do pós alfabetizados e a maioria (6 pacientes, 54,5%) havia cursado pelo menos o primeiro grau (completo ou incompleto), sendo 6 (60,0%) o primeiro e 1 (10,0%) o segundo grau. A cirurgia realizada apresentou associação significativa com o resultado do teste MEEM em algum momento do pós, sendo que a maioria das pessoas que tiveram resultado positivo foram as CAM - algum momento do pós que fizeram artroplastia do quadril (Positivo= 60% e Negativo=40%). Não foi encontrada relação entre a cirurgia de prótese de joelho e DCPO, sendo que o paciente que realizou esta cirurgia obteve resultado negativo (Tabela 5 – Associação entre ASA, escolaridade e cirurgia com resultado do MEEM em algum momento do pós). Podemos observar a relação Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 30 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. Tabela 5 – Associação entre ASA, escolaridade e cirurgia com resultado do MEEM em algum momento do pós-operatório. MEEM – Algum momento do pós-operatório Valor-p Negativo Positivo n % n % ASA II III 4 1 80.0 20.0 5 5 50.0 50.0 Escolaridade Nenhuma 1oGrau 2oGrau Superior 1 2 1 1 20.0 40.0 20.0 20.0 3 6 1 0 30.0 60.0 10.0 0.0 Cirurgia Sem informação Artroplastia quadril Osteossíntese de fêmur Prótese joelho 1 2 1 1 0.5804 0.043 40.0 20.0 20.0 6 4 0 60.0 40.0 0.0 Teste Exato de Fisher 0.5338 Teste Exato de Gráfico 5 – Tipo de cirurgia segundo resultado do MEEM em algum momento doFisher pósoperatório. Negativo Positivo 70,0% 60,0% 60,0% 50,0% 40,0% 40,0% 40,0% 30,0% 20,0% 20,0% 20,0% 10,0% 0,0% 0,0% Artroplastia quadril Osteossíntese de fêmur Prótese joelho Tabela 6 – Resultados do exame CAM segundo resultado de MEEM em algum momento do pós-operatório. MEEM - Algum momento do pós-operatório Negativo n Positivo % N Valor-p % M0 Positivo Negativo 0 5 0.0 100.0 2 8 20.0 80.0 M1 Positivo Negativo 0 5 0.0 100.0 3 7 30.0 70.0 M2 Positivo Negativo 1 4 20.0 80.0 2 8 20.0 80.0 M3 Positivo Negativo 0 3 0.0 100 1 9 10.0 90.0 Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 0.524 0.5055 1.000 0.095 Teste Exato de Fisher Teste Exato de Fisher CAM 31 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. entre o tipo de cirurgia segundo resultado do MEEM em algum momento do pós-operatório no Gráfico 5. Dos pacientes que tiveram o exame de MEEM positivo em algum momento pós-operatório, 2 (20,0%) tiveram CAM positivo em M0, 3 (30,0%) em M1, 2 (20,0%) em M2 e 1 (10,0%) em M3, sendo que 2 pacientes foram de alta em M3, não sendo entrevistados (n=13 em M3), como demonstra a Tabela 6 – Resultados do exame CAM segundo resultado de MEEM em algum momento do pós. DISCUSSÃO / CONCLUSÕES A incidência de delirium pós-operatório encontrada em nosso estudo variou de 40,0% (M3) a 53,4% (M1), valores que coincidem com dados da literatura. Fong e cols14 encontraram uma variação de 10 a 60% de delirium em cirurgias não cardíacas em idosos, enquanto Kalisvaart e cols 23 apresentaram incidência de 5 a 45% e Bitsch e cols16 encontraram 16 a 62% em seus pacientes submetidos à cirurgia de quadril. Os resultados encontrados na literatura são variantes, pois a análise do CAM é subjetiva e pode variar entre os autores, o que não invalida o método, pois, se bem aplicado, tem sensibilidade de 94% e especificidade de 90% 5. Segundo Villalpando e cols10, a incidência de delirium, em geral, parece ser seriamente subestimada; quase a metade de todos os pacientes com delirium não é diagnosticada por seu médico. Os resultados positivos do MEEM em algum momento do pós-operatório (66,7%) não foram compatíveis com a literatura (13,24). A positividade de delirium e DCPO encontrada nos idosos pode ser explicada pelo fato desse tipo de população apresentar maior taxa de comorbidades (3,14). Observamos este fato em nosso trabalho, uma vez que 80,0% dos pacientes com comorbidades apresentaram CAM e/ou MEEM alterados. Encontramos delirium e DCPO positivos em 13,4% e 46,7%, respectivamente, no pré-operatório. Isso pode ser atribuído ao tempo de internação que antecede a cirurgia, uma vez que os pacientes idosos possuem comorbidades que devem ser estabilizadas antes do ato cirúrgico. A permanência em um local estranho, a dor e a imobilização pré-operatória afetam o estado mental desses pacientes (12,24). Notamos que a maioria dos pacientes com resultado de MEEM positivo (6 pacientes) no pósoperatório, 7 tiveram disfunção cognitiva identificada previamente (M0), sendo que apenas 1 não repetiu a positividade pós-operatória. Portanto, é provável que um dos fatores de risco para a DCPO, assim como citado por Boos e cols 3, seja a disfunção cognitiva prévia. O tipo de cirurgia realizada foi o fator mais significativo para predizer delirium e DCPO, pois, os pacientes submetidos a artroplastia de quadril tiveram maior taxa de incidência (60,0%). A literatura apresenta maior incidência de delirium e DCPO nas cirurgias ortopédicas, principalmente as de quadril. Além disso, a maioria dessas fraturas está relacionada à queda, aumentando a dor e stress dos pacientes, fatores que podem estar associados com o delirium e DCPO pós-operatórios(23). Outro fator importante é que cirurgias ortopédicas desse porte demandam maior stress do paciente, que permanece imobilizado por mais tempo, além do fator da dor pós-operatória. A partir de nosso estudo pudemos observar que o estado físico (ASA II ou III) não modifica a incidência de alterações comportamentais e disfunção cognitiva, sendo que este valor foi idêntico. Papaioannou e cols 24 reiteram essa observação a partir de seu estudo de 2005. Em relação à escolaridade, notamos que, quanto maior a escolaridade, menor a taxa de DCPO. Não há relação precisa entre o aparecimento de delirium associado a DCPO, pois, daqueles que tiveram MEEM positivo em algum momento (n=10), apenas 3 tiveram CAM positivo em algum momento. Concluímos existir alta incidência de disfunções pós-operatórias em idosos, como o delirium e a disfunção cognitiva, as quais alteram a qualidade de vida dos pacientes a curto e longo prazo. Isto reitera a importância de uma avaliação pré-operatória boa e cuidadosa, para identificar quais pacientes são mais suscetíveis ao delirium de pós-operatório, e a necessidade de intensificar vigilância e esforços de prevenção no pré-operatório e pós-operatório. Diante dos resultados obtidos pudemos concluir também que a incidência de delirium e DCPO tem relação com o tipo de cirurgia, dentre as cirurgias ortopédicas a maior incidência ocorre nas cirurgias de quadril. APOIO Estudo financiado pelo CNPQ. AGRADECIMENTOS Agradecemos também a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, colaboraram para a conclusão deste trabalho, em especial ao Dr. César de Araújo Miranda e Sra. Sirlei Siani, por toda a dedicação e ao Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (Jundiaí-SP) por nos ceder espaço e condições para que este estudo fosse concluído. Referências Bibliográficas 1. Roche V. Etiology and management of delirium. Am J Sci 2003; 325: 2030. 2. Ruiz-Neto PP, Moreira NA, Furlaneto ME, Delirium pós-anestésico. Rev Bras Anestesiol 2002;52:242-50. 3. Boss GL, Soares LF, Oliveira Filho GR. Disfunção cognitiva pósoperatória: prevalência e fatores associados. Rev Bras Anestesiol 2005;55:517-24. 4. Inouye SK, Charpentier PA. Precipitating factors for delirium in Perspectivas Médicas, 18(1): 22-32, jan. / jun. 2007 32 Delirium e disfunção cognitiva em idosos submetidos à cirurgias ortopédicas. - José Fernando Amaral Meletti e cols. hospitalized elderly persons. Predictive model and interrelationship with daseline vulnerability. JAMA 1996; 275: 852-7. 5. Inouye SK, van Dyck CH, Alessi CA, Blakin S, Siegal AP, Horwitz RI. Clarifying confusion: the confusion assessment method. A new method for detection of delirium. Ann Intern Med 1990;113(12):941-8. 6. Pompei P, Foreman M, Rudberg MA et al. Delirium in hospitalized older persons: outcome and predictors. J Am Geriatr Soc 1994; 42: 809-15. 7. O' Keeffe ST, Lavan JN. The prognostic significance of delirium in older hospital patients. J Am Geriatr Soc 1997; 45: 174-8. 8. Wu CL, Hsu W, Richman JM, Raja SN. Postoperative cognitive funcion as an outcome of regional anesthesia and analgesia. Reg Anesth Pain Med 2004;29:257-68. 9. 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Eur J Anesth 2005;22:492-9. 43 RELATO DE CASO Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial. Pyonephrosis associated with stenosis of the ureteropelvic junction in patient with pyelocalicial duplicity. Palavras-chave: estenose, pionefrose, junção uroteropélvica, duplicidade pielocalicial. Key words: stenosis, pyonephrosis, ureteropelvic junction, pielocalicial duplicity. Marco Túlio Alves Cruvinel * Leandro Ferro de Moraes Bezerra ** Nalisson Marques Pereira ** Domingos Nery Junior *** Eline Corrêa *** * Médico urologista assistente e Chefe do internato médico do Serviço de Urologia da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Goiânia, Goiás. ** Médico-residente do segundo ano do serviço de urologia da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Goiânia, Goiás. *** Acadêmico do internato médico da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Goiânia, Goiás. Contato com o autor: Rua T-38, n. 609, Apto 900, Resid. Avignon. CEP: 74223-040. Goiânia, Goiás. Telefone: (62)32417715/84084628. E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. RESUMO A junção ureteropélvica (JUP) é o local mais comum de obstrução do trato urinário superior. Sua incidência não é comum, sendo estimada em 1: 5.000 nascimentos vivos e ocorre mais no sexo masculino, em uma proporção de cerca de 3:1. O lado esquerdo é um pouco mais afetado que o direito. Em recém-nascidos (RN) e lactentes, a bilateralidade é maior, em torno de 25%. Assim, apresenta-se um caso de uma paciente admitida em nossa instituição por quadro de dor abdominal acompanhada de massa palpável em flanco direito e hematúria macroscópica. Durante investigação do quadro clínico foi evidenciada massa em topografia renal à direita de aspecto cístico (Bosniak III). A paciente foi submetida a lombotomia exploradora seguida de nefrectomia à direita. Análise macroscópica da peça sugestiva de duplicidade pielocalicial associado à estenose de JUP de unidade inferior renal e quadro de pionefrose, quadro este confirmado pelo exame anátomopatológico. ABSTRACT The ureteropelvic junction is the most common point of obstruction of the upper urinary tract. It has an incidence estimated of 1:5.000 newborns, and it is more common in males in proportion of the 3:1. The left side is more frequently affected them the right side. Thus, the present study introduces a case report of the patient entered in our institution complaining about abdominal pain and palpable mass on the right flank and gross hematuria. During investigation, we discovered a cystic mass on the right kidney topography (Bosniak III). The patient was submitted a lobotomy followed by a right nefrectomy. Macroscopic analysis of the surgical specimen suggested a case of pyelocalicial duplicity with ureteropelvic junction stenosis and severe pyonephrosis, which was confirmed by the pathological exam. INTRODUÇÃO A junção ureteropélvica (JUP) é o local mais comum de obstrução do trato urinário superior. Estas obstruções podem causar danos renais. Sua incidência é pouco comum, sendo estimada em 1: 5.000 nascimentos vivos e ocorre mais no sexo masculino, em uma proporção de cerca de 3:1. O lado esquerdo é um pouco mais afetado que o direito e a bilateralidade ocorre em cerca de 5%. Em recém-nascidos (RN) e lactentes, a bilateralidade é maior, tendo sua incidência em torno de 25% (1,2) . Tal alteração pode se dar por presença de alterações anatômicas ou por distúrbios de condução mioelétrica. As causas anatômicas podem ser intrínsecas (na luz do ureter) ou extrínsecas (2,3) . As causas intrínsecas são as mais comuns e embora geralmente congênitas, podem também ser adquiridas. Na maioria dos casos, há um segmento ureteral estenótico e hipoplásico, em conseqüência de alterações na configuração das fibras musculares lisas na JUP substituídas por fibras colágenas. A persistência de pregas ureterais fetais ou válvulas e pólipos ureterais também podem causar obstruções (1,2). As obstruções extrínsecas são aquelas causadas por vaso anômalo aberrante (polar inferior e anterior), que comprime o ureter proximal ao nível da JUP (1,2) . Também, são consideradas causas extrínsecas as bandas de aderências, bem como a inserção alta do ureter na porção antero-medial da pelve além de lesões associadas a iatrogenia. Em geral, mesmo nos casos de obstrução por causas extrínsecas, associam-se alterações intrínsecas ureterais e, em conseqüência, a Perspectivas Médicas, 18(1): 43-46, jan. / jun. 2007 44 Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial. - Marco Túlio Alves Cruvinel e cols. simples liberação do ureter, ureterólise, não resolverá o problema (1,4,5). Quando esta obstrução for total, o rim não se desenvolverá na sua forma normal, e resultará em um rim sem parênquima, como o multicístico displásico (RMD), ou haverá uma deterioração renal de forma progressiva e extremamente rápida. Como a obstrução é, em sua grande maioria, parcial e em graus variados, as dilatações podem progredir, piorando e deteriorando o rim. Em outras situações, o processo de dilatação renal pode se estabilizar ou até mesmo regredir de maneira espontânea (6). O conceito atual é que uma dilatação do trato urinário pode estar presente sem estar associada a uma obstrução verdadeira. As dificuldades em diagnosticar uma obstrução na JUP no RN mudaram a abordagem diagnóstica e terapêutica inicial. Quase 50% das dilatações diagnosticadas por ultra-sonografia (US) pré-natal não são confirmadas na avaliação pós-natal. Algumas obstruções parciais ou intermitentes que causem hidronefrose se resolvem espontaneamente com o desenvolvimento da criança. Como a grande maioria dos casos de dilatação detectada no período pré-natal desaparece até mesmo antes do final da gestação ou durante o primeiro ano de vida, o diagnóstico diferencial mais comum é entre dilatação dita fisiológica e obstrução verdadeira. Esta situação não é a regra, estes pacientes devem ser acompanhados, pois hidronefroses não-obstrutivas podem converter-se posteriormente em obstruções verdadeiras (3). Outras anomalias urológicas que causam dilatação devem ser consideradas no diagnóstico diferencial; RMD, megaureter obstrutivo e o não-obstrutivo, refluxo vesico-ureteral, síndrome de Prune Belly, megacalicose e cisto renal simples (2). O diagnóstico é, geralmente, dado através de exames de imagem durante período ante-natal, durante a gestação (4). A US pré-natal, de rotina, possibilita que dilatações das vias urinárias, no feto, sejam suspeitadas em cerca de 1:800 a 1.500 nascimentos. Porém nem todas são confirmadas após o nascimento(1,3). Se o diagnóstico não for feito no período pré-natal, por ocasião da US materna, no RN e lactente, o sinal mais comum é o aparecimento de um tumor abdominal nos flancos. Esta anomalia pode também se manifestar por sintomas mais vagos e menos específicos como dor abdominal tipo cólica, vômitos e irritabilidade. Na idade pré-escolar e escolar, as queixas são mais específicas, tais como dor abdominal ou lombar, principalmente quando existe uma ingestão aumentada de líquidos. Nesta faixa etária, pode surgir hematúria, devido a traumas leves por ruptura dos vasos da submucosa. A infecção urinária comprovada pode ser Perspectivas Médicas, 18(1): 43-46, jan. / jun. 2007 um sinal em cerca de 30% a 45% dos casos e continuada até a fase adulta (2,6) . Assim, apresenta-se um caso de uma paciente admitida em nossa instituição por quadro de dor abdominal e massa abdominal palpável com diagnóstico inicial de tumor renal e que, no decorrer da sua investigação diagnóstica, viu se tratar de uma complicação de obstrução da JUP. MATERIAIS E MÉTODOS Paciente, A.S.A., 17 anos, estudante, feminina, procedente de Goiânia, estado de Goiás, apresentou como queixa principal dor abdominal associada à febre. A paciente previamente hígida, entrou no serviço de Urologia da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia relatando aumento do volume abdominal há 6 meses. Após, foi submetida aos exames de rotina. RELATO DE CASO A paciente apresentou quadro de hematúria macroscópica, disúria, dor em flanco direito, inapetência, náuseas, vômitos iniciados há 05 dias da admissão com piora nas últimas 48 horas associado a 2 picos febris durante o período. Refere a perda de 4 kg de massa corporal em 10 dias. Ao exame, observou-se desidratação, anicterícia, acianótica e febril (37,8°C). Exame físico de abdômen evidenciou presença de massa volumosa, dolorosa em região epigástrica e mesogástrica. Dor a palpação de flanco direito e na loja renal direita. Sinal de Giordano positivo em região lombar direita, espaço de Traube livre, ruídos hidroaéreos presentes. À admissão apresentou US de Abdome Total (29/03/2006) realizado em serviço de origem evidenciando massa renal sólida com 18 cm de comprimento em pólo inferior do rim direito a esclarecer e hidronefrose leve à esquerda. Evoluiu com quadro clínico sugestivo de pielonefrite, sendo instituída antibioticoterapia com ciprofloxacino, com posterior melhora clínica e laboratorial. Realizada nova investigação imagenológica em nosso serviço através de Tomografia Computadorizada do Abdome Superior (Figura 1) e nova US do Abdome Total (05/04/2006) que revelaram no rim direito, imagem mista nos 2/3 renais, com volume de 408cm3 , sem vascularização, sugestivo de lesão cística complexa (Bosniak III). Terço superior do rim com discreta hidronefrose. O rim esquerdo apresentou hidronefrose e imagens sugestivas de microlitíase. Como hipótese diagnóstica, nota-se massa renal a esclarecer podendo ser cisto renal complexo, abscesso renal ou tumor renal. A partir disto, adotou-se conduta cirúrgica e a paciente foi submetida à lombotomia exploradora, evidenciando rim direito de dimensões aumentadas associada à duplicidade pielocalicial direita com 45 Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial. - Marco Túlio Alves Cruvinel e cols. Figura 1: Fotografia de tomografia computadorizada do abdome superior, evidenciando (seta) lesão cística de Bosniak III. Figura 3: Fotografia de peça cirúrgica aberta, evidenciando duas unidades pielocaliciais (setas). Além, de área de necrose em unidade inferior nitidamente dilatada associada a processo inflamatório (seta da esquerda). presença de abscesso renal em unidade inferior de rim direito. Submetida à nefrectomia à direita no mesmo ato na data de 06/04/06, para retirada da massa renal. Durante o ato cirúrgico, visualizou-se pelve renal extremamente dilatada com pionefrose, parênquima renal nos ¾ inferiores afilados, aparentemente inviável e pólo superior (1/4) lobulado (Figuras 2 e 3). observada reação inflamatória inespecífica com áreas de necrose, com presença de duplicidade do sistema pielocalicial, sendo diagnosticada a duplicidade pielocalicial à direita associada à estenose de JUP em unidade inferior e pionefrose. Figura 2: Fotografia de peça cirúrgica fechada, evidenciando duas unidades pielocaliciais (setas). Optou-se pela manutenção de antibioticoterapia com ciprofloxacino 500mg via oral de 12 em 12 horas por um período de 10 dias. Após o procedimento cirúrgico, a paciente evoluiu com melhora clínica significativa, recebendo alta no 4º dia de pósoperatório sem nenhuma queixa ou alteração no exame físico. Ao exame histopatológico da peça cirúrgica, foi DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Como observado neste caso, a JUP é o local mais comum de obstrução do trato urinário superior. Entende-se por estenose de JUP o processo de restrição ao fluxo urinário da pelve renal para o ureter. Tal alteração pode evoluir progressivamente, conforme o grau de obstrução, para perda de função renal. Isto tudo faz da estenose de JUP uma entidade nosológica de grande importância à saúde pública(2,3) . Esta enfermidade costumava ser mais freqüentemente diagnosticada na infância e na adolescência durante investigação de quadro de dor abdominal, massa abdominal e infecção do trato urinário (ITU). Porém, com a disseminação e uso rotineiro da US, a obstrução da JUP tem sido detectada em fases mais precoces, principalmente no período antenatal (1,2,3). É uma alteração mais freqüente no sexo masculino numa proporção de 3:1 e acomete com mais freqüência o lado esquerdo (60%). Apresenta uma incidência de 1: 5.000 nascidos vivos. A associação com outras enfermidades do trato urinário como refluxo vésicoureteral pode ocorrer em até 14% dos casos (3) . O diagnóstico é feito através de triagem em exames de rotina do pré-natal devendo este ser realizado em fase precoce da vida do paciente. O diagnóstico tardio pode acarretar inúmeras complicações dentre elas: pielonefrite, hematúria, trauma renal, dilatação pielocalicial, hidronefrose (associada ou não a processos inflamatórios e pionefrose) com progressiva alteração e perda de função renal (1,2,3,4) . Perspectivas Médicas, 18(1): 43-46, jan. / jun. 2007 46 Estenose de junção ureteropélvica associada a pionefrose em paciente com duplicidade pielocalicial. - Marco Túlio Alves Cruvinel e cols. A história natural de neonatos com hidronefrose assintomática tem mostrado, que esta é uma condição de progressão benigna,, em grande parte dos casos havendo resolução espontânea e preservação da função renal em 50% dos casos. Por outro lado, o caráter benigno da evolução desta enfermidade não isenta os pacientes da realização de um acompanhamento minucioso com o intuito de identificar e tratar os casos que não apresentam evolução satisfatória (3,6). O seguimento desses pacientes deve ser orientado de acordo com o grau da hidronefrose e análise de função renal avaliada através de estudo cintilográfico com radionucleídio (DTPA/DMSA). Pacientes com hidronefrose leve sem alteração de renograna devem ser acompanhados com US e renograma a cada 6 meses. Pacientes com hidronefrose severa com função renal maior que 40% necessitam de US a cada 3 meses e renograma a cada 6 meses nos primeiros 2 anos. Casos de hidronefrose severa com função renal menor que 40% necessitam de US e renograma a cada 3 meses no primeiro ano e a cada 6 meses no segundo ano. Qualquer alteração frente ao exposto sugere tratamento cirúrgico (4,5,6). Assim, o relato descreve um caso de evolução incomum de estenose de junção ureteropélvica, no qual o diagnóstico tardio da enfermidade pode acarretar Perspectivas Médicas, 18(1): 43-46, jan. / jun. 2007 complicações, como infecções graves. Situações como a citada neste relato de caso leva a reafirmar a necessidade de uma melhor avaliação e assistência antenatal a gestantes com o intuito de se realizar o diagnóstico precoce em pacientes portadores da estenose de JUP. Acredita-se que tal medida poderia reduzir muito o número de complicações e a diminuição de morbimortalidade em pacientes portadores de estenose de JUP, além de gerar menor gasto para os cofres públicos com internação prolongada, antibióticoterapia de longa duração, medicações para analgesia, procedimento cirúrgico de maior complexidade e maior tempo para retorno ao trabalho. Referências Bibliográficas 1. Reddy PP, Mandell J. Prenatal diagnosis. Therapeutic implications. Urol Clin North Am, v 25: 171-80, 1998. 2. Carr M. Anomalias cirúrgicas da junção uretero-pélvica em crianças. In Campbell´s Urology, 2002, 1995-2004. 3. Macedo Jr A. Hidronefrose antenatal. In: Macedo Jr A, Urologia Pediátrica. São Paulo, 2004, 21. 4. Sanders, M. Pediatric hydronephrosis: My approach to management. Dialogues in Pediatric Urology, 2002, 25. 5. Ben JB, Smith A. Ureteropelvic junction obstruction repair: when, how, what?. Current Opinion in Urology, v14: 55, 2004. 6. Ulman I, Jayanthi VR, Koff SA. The long-term followup of newborns with severe unilateral hydronephrosis initially treated nonoperatively. J Urol, v 164: 1101-5, 2000. 47 RELATO DE CASO Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia. Cor Pulmonale from obstructive ethiology: compensation post tonsillectomy with adenoidectomy. Palavras-chave: apnéia noturna, cor pulmonale, adenoamigdalectomia. Key words: sleep apnea, cor pulmonale, adenotonsillectomy. Simone Naomi Isuka* Adriana Umemura** Ana Laura Vargas** Davi Sandes Sobral*** Edmir Américo Lourenço**** Osvaldo Vinícius Biill Primo***** Ricardo Pompêo Bueno de Godoy*** *Professora Auxiliar da Disciplina de Otorrinolaringologia (ORL) da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) - São Paulo. ** Ex-médicas Residentes da Disciplina de ORL da FMJ - São Paulo. *** Médico Residente do 3° ano da Disciplina de ORL da FMJ - São Paulo. **** Professor adjunto regente da Disciplina de ORL da FMJ - São Paulo. ***** Médico Residente do 2° ano da Disciplina de ORL da FMJ - São Paulo. Instituição: Faculdade de Medicina de Jundiaí. Rua Francisco Telles, 250 – B. Vila Arens – Jundiaí – SP. CEP 13.202-550. Contato: Edmir Américo Lourenço – Rua do Retiro, 424 - 5º andar - conjuntos 53 e 54 – B. Anhangabaú – Jundiaí - SP. CEP 13.209-000. e-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. RESUMO A causa mais comum da Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) na criança é a hipertrofia adenoamigdaliana. As alterações nas crianças portadoras desta síndrome podem, ao longo do tempo, resultar em acentuada vasoconstrição pulmonar, cor pulmonale e insuficiência cardíaca. Os autores relatam uma paciente do sexo feminino de quatro anos de idade, com história prévia de roncos, respiração bucal e apnéia, que evoluiu para cor pulmonale e insuficiência cardíaca. Sendo a SAHOS a causa mais comum de apnéia em crianças, são discutidos aspectos relacionados ao quadro clínico, diagnóstico e tratamento e em conclusão a conduta mais adequada para prevenir o cor pulmonale, quando o principal fator de risco é a hipertrofia adenoamigdaliana. O objetivo deste trabalho é demonstrar que a remoção do tecido adenoamigdaliano pode reverter o quadro de hipertensão pulmonar decorrente do processo obstrutivo crônico. ABSTRACT The most common cause for SAHOS in children is adenotonsil`s hipertrophy. These children develop some important alterations along the time, which result in pulmonary vasoconstriction, cor pulmonale and heart failure. The authors report a case of a four years old child, female, with previous history of snoring, oral breath and apnea, developing cor pulmonale and heart failure. Due to SAHOS constitute the most common cause of apnea in children, it will be discussed clinical aspects, diagnosis and treatment, and in conclusion, how is the best way to previne cor pulmonale when adenotonsil`s hipertrophy is the principal risk factor. The objective of this article is to show that adenotonsilectomy can control a pulmonary hypertension resulted from chronic obstructive airway process. INTRODUÇÃO A Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) é uma enfermidade amplamente conhecida nos adultos, mas pouco estudada nas crianças. Esta síndrome é diferente nos adultos e crianças, tanto na sua origem como nas suas manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento. Aproximadamente 10% das crianças entre quatro e seis anos de idade roncam . Estima-se que o limite inferior de prevalência da síndrome nesta faixa etária seja de 1 a 3%. A incidência máxima está entre três e cinco anos de idade, a qual coincide com a época de maior crescimento do tecido linfóide (1) . A apnéia do sono pode ser definida como interrupção intermitente do fluxo de ar durante o sono por um período de dez segundos ou mais. Pode ser classificada em três grupos: central (por alterações nos centros de estímulo respiratório no SNC), obstrutiva (por alterações nas vias aéreas e Perspectivas Médicas, 18(1): 47-50, jan. / jun. 2007 48 Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia. - Simone Naomi Isuka e cols. conseqüente obstrução) e mista (por associação dos dois componentes citados anteriormente). Os sintomas durante o sono podem ser: ronco, movimentos paroxísticos do tórax e do abdômen, apnéia, dificuldade respiratória, enurese, cianose e transtornos durante o sono. Sintomas diurnos são obstrução nasal, respiração bucal, sonolência diurna excessiva. As conseqüências vão desde diminuição do rendimento físico e mental durante o dia, problemas de comportamento ou hiperssonolência diurna, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, hipertensão sistêmica, atraso no crescimento, cor pulmonale e morte. A polissonografia constitui o padrão-ouro para o diagnóstico da síndrome em adultos e crianças. A apnéia do sono se manifesta quando ocorrem mais de trinta episódios de apnéia em oito horas de sono ou o índice de episódios respiratórios (apnéia/ hipopnéia) por hora de sono é superior a cinco. O principal inconveniente deste exame é o alto custo, além do paciente ser obrigado a passar uma noite em um laboratório sonográfico. Cazerta e Pacheco descreveram duas crianças com cor pulmonale, edema pulmonar e dificuldade respiratória, devido à obstrução das vias aéreas superiores por aumento de volume das tonsilas. Após a cirurgia, as alterações reverteram em uma das crianças e a outra criança evoluiu para óbito, por uma importante e irreversível hipertrofia de ventrículo direito(2). Andrade e Britto relataram cinco crianças com alterações cardíacas em decorrência do aumento do volume das tonsilas e que, após intervenção cirúrgica, tiveram regressão das alterações em todos os casos (3). Na hipertensão pulmonar desencadeada pela hipertrofia adenoamigdaliana, ocorre hipoventilação pulmonar e conseqüente retenção de CO2 e hipoxemia. A retenção de CO 2 acarreta broncoconstrição pulmonar, aumentando o esforço respiratório e, paralelamente, a hipoxemia produz vasoconstrição pulmonar e, por conseguinte, aumento da pressão da artéria pulmonar, caracterizando a hipertensão pulmonar. Não há estudos desenvolvidos para a avaliação objetiva da repercussão pulmonar pelo aumento de tonsilas (4). O ecocardiograma pode ser bastante útil na determinação da hipertensão pulmonar, por se tratar de um exame seguro, prático e não invasivo, através da estimativa da pressão sistólica da artéria pulmonar (refluxo tricuspídeo e/ou regurgitação pulmonar). O principal tratamento das crianças portadoras de SAHOS consiste na desobstrução das vias aéreas tanto com medidas clínicas, como tratamento da rinite alérgica, diminuição de peso em obesos, uso de CPAP (“continuous positive airway pressure”), assim como medidas cirúrgicas, tais como: adenoamigdalectomia, cirurgia das conchas nasais, UPFP (uvulopalatofaringoplastia), traqueostomia e/ou cirurgia ortognática, sendo que a mais freqüentemente Perspectivas Médicas, 18(1): 47-50, jan. / jun. 2007 realizada em crianças é a adenoamigdalectomia (isto é, adenoidectomia associada à tonsilectomia das tonsilas palatinas). Atualmente, as indicações da tonsilectomia estão bem definidas e são divididas em absolutas e relativas (5,6,7). As indicações absolutas são: hipertrofia das tonsilas palatinas com obstrução respiratória superior, Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono, suspeita de malignidade, tonsilite hemorrágica, déficit de crescimento, anormalidades de linguagem, dificuldade de alimentação, má oclusão dentária e anormalidades do crescimento orofacial. As relativas são: tonsilites recorrentes sem resposta a tratamentos medicamentosos, tonsilites associadas com doenças sistêmicas, abscesso peritonsilar, halitose por tonsilite caseosa. Embora não se saiba com exatidão a prevalência do cor pulmonale, esta condição clínica é considerada uma indicação incontestável para a realização da adenoamigdalectomia. Este trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma paciente com cor pulmonale, decorrente de hipertrofia adenoamigdaliana, sendo o quadro compensado após adenoamigdalectomia. CASO CLÍNICO N. M. C. , sexo feminino, 4 anos de idade, natural de Cajamar, Estado de São Paulo, raça branca, encaminhada pelo Pediatra, deu entrada no ProntoSocorro Infantil do Hospital Universitário de Jundiaí, devido ao quadro clínico de aumento do volume abdominal há vinte dias, acompanhado de infecções de vias aéreas superiores, sendo diagnosticada pneumonia pelo pediatra. Os sintomas foram progressivos, evoluindo para edema de membros inferiores, anasarca, dispnéia principalmente noturna, inquietação e oligúria. Segundo a mãe, a criança fez acompanhamento com otorrinolaringologista há um ano, sendo diagnosticada hipertrofia adenoamigdaliana e aguardava cirurgia. No exame físico de entrada realizado pela pediatria: paciente taquidispnéica e taquicárdica, com batimento da asa do nariz, retração de fúrcula esternal e tiragem supraclavicular; proeminência da veia jugular na região cervical; ponta cardíaca propulsiva, no 6° espaço intercostal e à esquerda da linha hemiclavicular; ausculta pulmonar: roncos e estertores disseminados; ausculta cardíaca: ritmo regular com hiperfonese de B2; abdome: fígado palpável a oito centímetros do rebordo costal direito e baço percutível, mas não palpável; oroscopia: hipertrofia de amígdalas grau IV. No raio-X de tórax: aumento da área cardíaca em função da câmara direita e trama vascular aumentada (Figura 1). No raio-X de cavo realizado durante o tratamento com otorrinolaringologista apresentava importante hipertrofia adenoideana (Figura 2). O tratamento inicial foi oxigênio com máscara, furosemida e digoxina. Evoluiu com períodos 49 Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia. - Simone Naomi Isuka e cols. Figura 1 - R-X de tórax pré-operatório demonstra o grande aumento de câmaras cardíacas à direita (seta). Figura 2 - R-X em perfil do cavo mostra acentuada hipertrofia das vegetações adenóides (seta). de apnéia, estertores, sopro sistólico panfocal, sendo entubada. Realizado ecocardiograma, que mostrava disfunção ventricular direita, dilatação da artéria pulmonar e hipertensão pulmonar. Optou-se pela realização de adenoamigdalectomia, tendo em vista que a equipe de intensivistas não conseguia extubar a paciente, que a cada tentativa retomava o ciclo de obstrução de via aérea alta, hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca. O procedimento foi realizado após a retirada das drogas vasoativas, mantidos apenas os cardiotônicos. Foi realizada amigdalectomia por dissecção e adenoidectomia com a cureta de Beckmann. A paciente evoluiu com melhora do estado geral, do padrão respiratório e radiográfico (Figura 3), sendo extubada no 6° dia pós-operatório, com saturação de O2 de 98% em ar ambiente e Glasgow 15, recebendo alta hospitalar no 11° dia pósoperatório, sendo então acompanhada ambulatorialmente com otorrinolaringologista e cardiologista pediátrico. Perspectivas Médicas, 18(1): 47-50, jan. / jun. 2007 50 Cor pulmonale de etiologia obstrutiva: compensação pós-adenoamigdalectomia. - Simone Naomi Isuka e cols. Figura 3 – R-X de tórax pós-operatório mostra a excelente redução da área cardíaca (seta). DISCUSSÃO O tratamento da SAHOS, quando confirmada e avaliada mediante a realização da polissonografia, depende da causa da obstrução das vias respiratórias superiores, da intensidade dos sintomas clínicos, dos dados obtidos no estudo polissonográfico e da magnitude das complicações, sendo que estas devem ser reconhecidas precocemente pelos profissionais e conduzidas de forma correta. O diagnóstico e o tratamento da SAHOS exigem uma participação multidisciplinar incluindo pediatras, neonatologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas, para que se obtenha sucesso no tratamento devido às diferentes causas, variados fatores predisponentes e distintas repercussões orgânicas. Apesar de a polissonografia ser considerada o exame mais sensível e específico para avaliação da apnéia do sono, nesta paciente não foi realizado o exame, pois a mesma encontrava-se entubada e instável clinicamente, não permitindo sua permanência em um laboratório sonográfico. O quadro arrastou-se com inúmeras tentativas mal sucedidas de extubação, sendo então realizada adenotonsilectomia mesmo com a paciente ainda com quadro clínico instável. Em pacientes com importante hipertrofia adenoamigdaliana e sintomatologia exuberante, o ecocardiograma pode ser bastante útil na determinação da hipertensão pulmonar, sendo um exame seguro, prático e não invasivo(8). Nesta paciente foi determinante a indicação cirúrgica absoluta, Perspectivas Médicas, 18(1): 47-50, jan. / jun. 2007 comprovada pela melhora clínica imediata após o procedimento. O principal fator de risco associado com a Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono e conseqüente cor pulmonale nas crianças, é a hipertrofia adenoamigdaliana e o tratamento de eleição é a adenoamigdalectomia(5). CONCLUSÃO A hipertrofia adenoamigdaliana severa é um importante fator de risco para o desenvolvimento da SAHOS, e conseqüentemente do cor pulmonale em crianças. O ecocardiograma é uma ferramenta importante na determinação do diagnóstico de hipertensão pulmonar e pode auxiliar na indicação absoluta de cirurgia. Referências Bibliográficas 1. Castañón LA, Alvidrez R, Reyna GE, Monge JJLS, Navarro BR. Tratamiento no quirúrgico en caso de syndrome de apnea obstructive del sueño en pacientes pediátricos. Mx All Rev 2003; 50(6): 226-31. 2. Cazerta NMG, Pacheco ELB. Cor pulmonale secundário à obstrução das vias aéreas superiores. Radiol Brasil 1990; 23:83-5. 3. Andrade FWC, Britto MC. Doença cardíaca secundária à hipertrofia sintomática de amígdalas palatinas e adenóides. Rev do IMIP 1991; 5: 110-2. 4. Black LF, Hyatt RE. Maximal Respiratory Pressures, Normal Values and Relationship to Age and Sex. Am Rev Resp Dis 1969; 9: 696-702. 5. Kavanagh TK, Beckford SN. Adenotonsillectomy in children:Indications and Contraindications. Southern Medical Journal 1988; 81(4): 507-11. 6. Ahlqvist-Rastad J, Hultcrantz E, Svanholm H. Children with Tonsilar Obstruction: Indications for and Efficacy of Tonsillectomy. Acta Paediatr Scand 1988; 77: 831-5. 7. Suen SJ, Arnold EJ, Brooks JL. Adenotonsillectomy for treatment of Obstructive Sleep Apnea in Children. Arch Otolaryngol Head and Neck Surg 1995; 121: 525-30. 8. Miman MC, Kirazli T, Ozyurek R. Doppler echocardiography in adenotonsillar hypertrophy. Int J Pediatr Otorhinolaryngol 2000; 54(1):21-6. 33 REVISÃO Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. Vulvovaginitis in the children and adolescents: a qualitative review. Palavras-chave: vulvovaginite, infância e adolescência. Key words: vulvovaginites, childhood and adolescence. Andréa Marta Ferrian* Fernanda Cristina Simões* Paula Catarina Caruso* Edna Marina Cappi Maia** * Acadêmicas do 6º ano de Curso de Graduação em Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo. **Professora Adjunta da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo. Instituição e Contato: Edna Marina Cappi Maia - Faculdade de Medicina de Jundiaí - Rua Francisco Telles, 250 – Vl. Arens. CEP 13202-550 – Jundiaí, SP. Fone: (0XX11) 4587-1095 Artigo ainda não publicado. RESUMO A vulvovaginite é um problema ginecológico comum na infância e em garotas na pré-menarca embora sua incidência seja desconhecida. Os fatores predisponentes mais comuns podem ser causados por hábitos de higiene inadequados, história familiar, focos infecciosos, doenças sistêmicas, sintomas digestivos, urinários, cutâneos, conformação anatômica dos genitais, além de corpos estranhos intravaginais e da possibilidade da ocorrência de abuso sexual. Os sintomas clínicos como corrimento vaginal, desconforto, dor, prurido, hiperemia, irritação local, disúria e sangramento são os mais encontrados. Para a investigação de uma vulvovaginite a história clínica, obtida pelos pais e pela criança além do exame físico, deve ser realizada. Assim, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão qualitativa a respeito das vulvovaginites na infância e adolescência. As vulvovaginites na infância e adolescência podem ser de etiologia fisiológica, inespecífica ou específica. Cerca de 70% são inespecíficas, sendo a leucorréia fisiológica a causa mais comum entre as adolescentes. Na vulvovaginite específica, microorganismos como Candida albicans, Estreptococo beta hemolítico A, Enterobactérias Gardnerella vaginalis, e Trichomonas vaginalis, podem ser encontradas de acordo com alterações nos níveis hormonais, infecções de vias aéreas superiores ou parasitoses e com a iniciação da atividade sexual. Concluindo, o conhecimento sobre higiene urinária, fecal e informações específicas, que variam de acordo com o fator causador são fundamentais para o sucesso do tratamento das vulvovaginites. ABSTRACT The vulvovaginitis is the most common gynecologic problem during childhood, although the exact incidence of the disease is unknown. The principal predisposing factors are poor local hygiene conditions, a family history of gynecological disorders, infectious focus, systemic diseases, anatomical abnormalities of the genital system, intravaginal foreign bodies, and sexual abuse, as well as digestive, urinary, and cutaneous symptoms. The most common clinical symptoms are vaginal discharge, discomfort, pruritus, hyperemia, local irritation, dysuria and bleeding. In order to investigate vulvovaginitis, the clinical history should be taken from the parents and the child and a physical examination should be carried out. Thus, the aim of the present study was realized a review about vulvovaginitis in the children and adolescents. Vulvovaginitis in childhood and adolescence can be nonspecific or specific physiological etiology. Approximately, 70% of cases are of nonspecific etiology. Among adolescents leucorrhea is the most common cause. In specific vulvovaginitis, microorganisms such as Candida albicans, group A beta-hemolytic Streptococcus, Gardnerella vaginalis nterobacteriaceae, and Trichomonas vaginalis can be found depending on changes in hormone levels, upper airway infections, parasitosis, and the beginning of sexual activity. Concluding, the knowledge about fecal, urinary hygiene and specific information, which pierced according to the factor causal, are fundamental for the success of the treatment of the vulvovaginitis. INTRODUÇÃO As vulvovaginites são comuns na infância e na adolescência, embora a sua incidência seja desconhecida(1,2,3,4). Vulvovaginite é uma inflamação da vulva e do tecido vaginal (5). A vaginite é caracterizada Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 34 Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. - Andréa Marta Ferrian e cols. pelo eritema e inflamação da mucosa vaginal, normalmente com corrimento, sendo a vulvite uma irritação local causada por pouca higiene, irritação química ou mecânica, alergia ou trauma(6). Na prática, os termos vaginite, vulvite, e vulvovaginite são freqüentemente usados indistintamente no diagnóstico de uma condição inflamatória no trato genital inferior feminino(4). A epidemiologia e a apresentação da vulvovaginite diferem na infância e adolescência. Nas primeiras, a infecção começa na vulva e depois se espalha para a vagina; nas adolescentes está associada particularmente após o primeiro intercurso sexual, envolvendo primeiramente a vagina(1,3). A genitália feminina nessas fases é susceptível à infecção, seja por fatores anatômicos e fisiológicos ou por hábitos comportamentais. A apresentação da doença pode ser extremamente variável, compreendendo principalmente secreção vaginal, prurido, ardência, odor, dor ou sangramento. Dessa maneira, ginecologistas e pediatras devem estar preparados para atender estes tipos de queixas em seus consultórios. Assim, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão qualitativa a respeito das vulvovaginites na infância e adolescência. QUADRO 1 Fatores predisponentes as vulvovaginites na infância e adolescência Fatores anatômicos Pequena abertura himenal Ausência de coxins adiposos vulvares Ausência de pêlos pubianos Vagina atrófica e não estrogenizada Pele vulvar fina e sensível a trauma e irritações pH entre 6,5 e 7,5 Diminuição de mecanismos imunes locais Hábitos e higiene Inadequada lavagem das mãos após brincar em locais sujos Roupas apertadas e tecidos pouco ventilados Roupas úmidas Corpo estranho intra-vaginal Abuso e relação sexual Antibioticoterapia História familiar Infecções ginecológicas maternas Focos infecciosos Faringite Otite Conjuntivites Diarréia Oxiurose Doenças sistêmicas Doenças exantemáticas Psoríase Sintomas digestivos Constipação Encoprese Tenesmo Disúria Incontinência Enurese Sintomas cutâneos Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 Obesidade Diabates Mellitus Revisão Qualitativa Etiologia Vulvovaginite inespecífica Cerca de 70% das vulvovaginites na infância e adolescência são inespecíficas, sendo resultado de má higiene, limpeza inadequada, roupas apertadas ou irritação por banhos espumantes ou sabonetes. Fatores como a falta do pH ácido, de ácido lático, de estrogênio, de lactobacilos, além do epitélio vaginal afinado estão relacionados a este quadro clínico (Quadro 1). O Limpeza na direção anal-vulvar Banhos espumantes Sintomas urinários Leucorréia fisiológica O primeiro episódio de leucorréia fisiológica pode ocorrer ainda no recém-nascido do gênero feminino, enquanto os níveis de estrogênios maternos ainda estiverem presentes. Sendo o corrimento acinzentado e gelatinoso, podendo também apresentar sangue. A impregnação hormonal se traduz pelas modificações anatômicas (turgescência mamária e dos grandes lábios) e cutâneas (pele brilhante e seborréia). Este período, dura de dois a três meses, podendo haver infecção por Candida albicans(7). Nas adolescentes a leucorréia fisiológica é o corrimento vaginal mais comum e não é acompanhado de outros sintomas. O estrogênio estimula a telarca, produção de muco cervical e secreção vaginal cerca de 6 a 12 meses antes da menarca. A vulva não se inflama, não há odor e a secreção não é irritante, geralmente desaparece quando o ciclo menstrual se normaliza (7). Distância curta entre vagina e ânus Dermatoses extra genitais de localização vulvar corrimento típico neste caso é escasso, não purulento, mucóide e inodoro. Alguns casos de vulvovaginite não específica podem ser precedidos de infecções do sistema respiratório ou do tegumento. As mãos contaminadas, geralmente com Estreptococos, Enterococos ou Proteus, levam estes germes até os genitais. A infecção urinária também pode desencadear a inflamação dos tecidos da vulva e da vagina devido ao refluxo de urina durante a micção. O Haemophilus influenzae é outro responsável por parte dos quadros inespecíficos, e a vacinação para a gripe tem diminuído esse achado. A secreção neste caso é mucopurulenta ou mucóide, amarelada e sem odor, apresentando prurido, disúria, eritema e dor vulvar (1,7,8). Para as pacientes jovens que têm corrimento mal cheiroso, purulento e muitas vezes com sangue, deve-se pensar na presença de corpos estranhos, como papel higiênico e brinquedos. Nas adolescentes, o corpo estranho mais comumente encontrado é o absorvente higiênico. A retirada destes objetos pode requerer sedação(1,3,6). Alergias também são causa comum de vulvovaginite inespecífica, tendo Garcia-Aviles et al. 35 Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. - Andréa Marta Ferrian e cols. observado um caso de alergia genital ao ácaro doméstico em menina de 9 anos de idade(5). Vulvovaginites específicas É definida como a infecção vulvovaginal por microorganismos conhecidos, que podem ser isolados. Pode ser causada por bactérias não sexualmente transmissíveis, bactérias sexualmente transmissíveis ou enterobactérias. Vulvovaginites por bactérias não-sexualmente transmissíveis: Candidíase A Candida albicans geralmente não é isolada nas garotas pré-púberes, pois sua aparição é dependende de estrogênio, tendo sua maior freqüência a partir do início da adolescência. O patógeno também pode ser encontrado em meninas com fatores predisponentes, como o uso recente de antibióticos, uso de anticoncepcionais ou de corticóides, diabetes melittus, imunodeficiência e uso de fraldas(6,7). Ao exame físico, o achado é o eritema, edema de vulva e mucosa vaginal, com corrimento branco aderido, grumoso, inodoro e ácido. Em muitos casos, fissuras e escoriações causadas pelo intenso prurido podem ser encontradas. Nas garotas mais jovens o eritema perineal com lesões satélites também é comum (1,7). Vulvovaginite por Streptococcus do grupo A e Staphylococcus aureus A incidência do Estreptoco beta-hemolítico do grupo A é de 8 a 47% e vários estudos sugerem que esta infecção provém do trato respiratório ou de origem epitelial(6). Este patógeno acomete preferencialmente as pré-púberes, ocorrendo leucorréia profusa clara, acometimento inflamatório da vulva e vestíbulo, sendo uma manifestação regional freqüente a anite eritematosa (2,3,7) . O Staphylococcus aureus é um agente pouco comum, e não promove vasta sintomatologia (2). É importante ressaltar que as doenças sexualmente transmissíveis são incomuns nestas faixas etárias, seu aparecimento leva a pensar em início de atividade sexual ou mesmo de abuso e são: Gardenerella vaginalis Desenvolve-se no meio vaginal sem impregnação estrogênica e com pH elevado. Além do aparecimento em pré-púberes pode ser encontrada em mulheres no climatério. É considerada como saprófita que habita o meio vaginal com poucos labtobacilos. Apresenta corrimento cinzento, espumoso, com mau odor. No teste do potássio (“whiff test”) apresenta odor desagradável característico, pela liberação de putrefinas e cadaverinas(7,9). Raramente causa sintomas clínicos durante a infância e adolescência, podendo ser isolada em amostras de secreções vaginais de crianças sadias assintomáticas (9) . Deve-se sempre pensar na possibilidade do contato sexual quando feito este diagnóstico. Infecção por Trichomonas vaginalis Sua incidência estimada é de cerca de 3% das infecções genitais e possivelmente relacionada à produção de estrogênio, assim como a presença de infecção transmitida verticalmente(9). É rara a transmissão indireta como em piscinas, sendo seu período de incubação de 30 dias. A paciente refere corrimento vaginal amarelo-esverdeado, espumoso e fétido, disúria e prurido vulvar. O eritema dos genitais algumas vezes é acompanhado de hemorragias puntiformes da vagina e cérvice(1). O diagnóstico é feito pelo exame microscópico da secreção, apresentando microorganismos móveis, flagelados e em forma de lágrima. Gonorréia Causada pela Neisseria gonorrhoeae apresenta secreção abundante, purulenta, meato vaginal e vulva com sinais inflamatórios. A doença se dá por atividade sexual ou pela transmissão ascendente e através do canal de parto. Mais raramente que as mulheres adultas, as meninas podem ser portadoras desta doença. Os sintomas mais comuns são corrimentos vaginais abundantes e amarelo-esverdeados, disúria, sangramento inter-menstrual e metrorragia nas adolescentes(1). Parasitose A Chlamydia trachomatis é um parasita intracelular obrigatório que foi subdividido em linfogranuloma venéreo e tracoma, responsável por doenças oculogenitais humanas. As infecções são agudas, com uma leucorréia purulenta ou serosa. Após um episódio agudo é possível um longo período assintomático. As dores abdominais podem indicar infecção ascendente, responsável por danos tubários e peritonite subaguda. A infecção por Clamydia confirma o diagnóstico de abuso sexual, quando a infecção não ocorreu por via perinatal (1). Herpes genital Os vírus Herpes simplex também podem causar a doença genital. Pode ocorrer a transmissão pela via materno-fetal ou perinatal, mas a principal causa dessa moléstia é a atividade sexual. As pacientes apresentam prurido vaginal, disúria e dor local. Podem ser observadas as vesículas agrupadas e eritematosas, com dor e erosões. A cultura do vírus confirma o diagnóstico (1). Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 36 Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. - Andréa Marta Ferrian e cols. Enteroparasitoses e enterobactérias: Enterobíase Também é uma parasitose intestinal cujo agente etiológico é o Enterobius vermicularis. Os vermes adultos ocupam a região anal e perineal. Sua transmissão é fecal e oral, principalmente por auto infecção, ocorrendo quando os ovos presentes nos alimentos ou nas mãos sujas contaminadas são ingeridos ou aspirados, sendo comum à infestação em ambientes coletivos como escolas e creches. A contaminação vulvar em crianças ocorre por migração dos oxiúros a partir da região perianal ou por manipulação desta região pela própria pessoa, levando o parasita até a região vulvar. A vulvovaginite recorrente desenvolve-se em 20% das meninas infectadas. A característica clínica marcante é o prurido perianal, principalmente noturno, situação que pode levar ao desenvolvimento de proctites devido ao ato de coçar intensamente. A vulvovaginite se instala pela irritação e inflamação causadas pelo verme, associada à ação de bactérias intestinais que são carregadas por este helminto. O diagnóstico é feito pelo teste da fita adesiva, swab anal ou quando se encontra o verme na região perineal (1,2). Vulvovaginite por Shigella A shigelose não se desenvolve quando o pH do meio é inferior a 5,5 sendo mais comum nas fases não estrogênicas. A presença de diarréia é freqüente, de aspecto muco-purulento e hemorrágico, sendo responsável pela contaminação vulvar. Associações possíveis estão relacionadas com a Shigella e o abuso sexual, com a contaminação por Shigella e Gardenerella (7) . Vulvovaginite por Giardia A Giardia lamblia é um protozoário flagelado que parasita o trato gastrintestinal do ser humano, com prevalência elevada nas crianças de 1 a 12 anos. Manifesta-se com diarréia aquosa ou pastosa, dor epigástrica e síndrome de má absorção. A contaminação é fecal e oral e grande parte dos indivíduos infectados são assintomáticos, apenas eliminando cistos destes protozoários nas fezes. A contaminação vulvovaginal ocorre por contaminação fecal assintomática(1). Fatores predisponentes Entre os fatores predisponentes mais comuns nas pré-púberes e adolescentes, podem ser citados, fatores anatômicos, má higiene local, hábitos parafuncionais, história familiar, focos infecciosos, doenças sistêmicas, sintomas digestivos, urinários e cutâneos Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 (Quadro 1) (1,3,7,10,11). As fases de vida da menina diferem em muitos aspectos, desde o período neonatal até a adolescência. No período neonatal há a impregnação hormonal materna por passagem transplacentária, tornando o epitélio da vagina maduro, com pH semelhante ao encontrado nas mulheres adultas, enquanto a pele da vulva, ainda em desenvolvimento, é fina e elástica. Com a queda estrogênica no pós-parto, o pH vaginal aumenta gradualmente, tornando-se alcalino (7,0 – 8,0) em cerca de duas a seis semanas, e assim permanece até o início da puberdade (7,9). Na infância a ausência de estrogênio determina atrofia dos grandes lábios, ausência de secreção endocervical e descamação vaginal com células epiteliais pobres em glicogênio. Nessas condições os bacilos de Doderlein são ausentes e o pH vaginal é mais elevado, tornando-se mais susceptível a patógenos. Na fase pré-púbere o epitélio ciliado da mucosa tubária é pouco desenvolvido e a infecção ascendente pode facilmente se desenvolver. A instalação da puberdade é resultante da impregnação hormonal, e com a menarca o pH diminui para valores muito baixos (3,5 – 4,5), variando de acordo com a fase do ciclo menstrual. A flora menstrual é mais rica em bacilos de Doderlein, que são responsáveis pela manutenção da flora fisiológica da vagina, impedindo infecções externas. As relações sexuais precoces podem modificar este equilíbrio bacteriológico, deixando o meio frágil para a introdução de patógenos(7,9). Quadro clínico Na paciente pediátrica, o corrimento vaginal é uma queixa comum, sendo com freqüência o sintoma primário de vulvite, vaginite ou vulvovaginite. Os sinais e sintomas associados podem incluir prurido, disúria, micção freqüente ou enurese. Em 2000, um estudo brasileiro revelou, clinicamente, 100% de incidência de corrimento vaginal isolado (exclusivo em 40,9%), ou associado a outros fatores, como odor fétido na região genital (22,8%), prurido vulvar (14,3%), prurido e odor (13,4%), dor pélvica (5,2%) e queixas vulvares (3,4%)(12). Em outra casuística, Stricker et al. (2003), avaliando 80 garotas suíças com vulvovaginites, demonstraram que a principal queixa foi o corrimento (94%), seguido por prurido (45%), hiperemia (30%), disúria (19%), dor (8%) e sangramento (5%)(2). A vulvite manifesta-se principalmente por disúria e prurido, associados a eritema de vulva. Costuma apresentar um curso mais prolongado que a vaginite, a qual possui como característica marcante o corrimento sem relação com esses sintomas. A vulvovaginite consiste na associação dessas manifestações. Devendo-se observar a cor, odor e tempo de duração do 37 Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. - Andréa Marta Ferrian e cols. corrimento (2,12) . O sangramento vaginal nas meninas pré-menarca deve-se principalmente as vulvovaginites, com diagnóstico diferencial como líquen escleroso, puberdade precoce e trauma. Os microorganismos que estão associados particularmente com sangramento vulvovaginal são os Estreptococos do grupo A e a Shigella. A presença de corpo estranho é responsável por mais de 90% dos sangramentos vulvovaginais, enquanto a presença de corrimento de odor desagradável é menos freqüente neste caso(13). O Exame genital da criança. A anamnese deve ser obtida dos pais e, se possível, da criança. No caso de adolescentes, a entrevista pode ser individual, seguida da entrevista dos pais. Devem ser pesquisadas alterações de crescimento e desenvolvimento, doenças próprias da infância, anomalias congênitas, desempenho escolar e atividades habituais. Além disso, pessoas envolvidas na vida da menina podem influenciar nas afecções vulvovaginais, tanto pelo descuido quanto pelo excesso de medidas higiênicas. Ressalte-se que pacientes muito jovens não informam os sintomas com clareza e as queixas podem ser apenas de irritabilidade ou a observação pelos pais de que a filha coça, manipula a genitália ou senta com desconforto. A hipótese de abuso sexual deve ser sempre aventada em casos de corrimento purulento ou sanguinolento, ou a preocupação com anormalidade da genitália externa. A história deve conter questões sobre coceira, secreção vaginal (cor, quantidade, odor, consistência e duração), disúria e hiperemia, assim como a higiene perineal, exposição a irritantes, uso de medicações tópicas ou sistêmicas, início da vida sexual ou outros dos fatores predisponentes (Quadro 1) (1,10,11). O exame genital na criança deve ser realizado com a colaboração da paciente, informando a ela sobre o consentimento dos pais, assegurando o controle da situação e explicando a importância do exame. Ao exame físico devem ser pesquisadas evidências de doenças crônicas ou dermatológicas. Nas crianças, o períneo e o intróito vulvar devem ser inspecionados enquanto assumem a posição “frog-leg” (posição supina com as plantas dos pés unidas, como se fosse um “sapo”) ou com os joelhos sobre o peito. Os lábios devem ser delicadamente retraídos (para fora e para trás) para uma melhor visualização da vagina. Qualquer anormalidade do hímen deve ser documentada se houver suspeita de abuso sexual. Na adolescente deverá ser realizado o exame ginecológico completo. Devem ser pesquisados edemas, hiperemia, escoriações, fissuras, se há fezes ou secreções interlabiais. A secreção visível, sem sinais ou sintomas de inflamação pode ser considerada normal na recém nascida e no período da pré menarca. A anatomia deve ser observada, pois alterações anatômicas podem predispor a doenças (Quadro 2) (1) . QUADRO 2 Alterações anatômicas como causa de vulvovaginites na infância e adolescência Fusão dos lábios Hímen imperfurado Masculinização (hiperplasia adrenocortical congênita) Neoplasias Protusão perineal piramidal Exames complementares Amostras de secreção vaginal para bacterioscopia, exame a fresco e citologia devem ser colhidas, utilizando-se para isso swab umedecido com solução fisiológica para não traumatizar o tecido vaginal hipotrófico. A bacterioscopia associada à citologia fornece dados sobre a freqüência de bactérias presentes, sinais de processo inflamatório celular, assim como a identifição de fungos, como o Trichomonas e a Gardenerella, além de afastar processos neoplásicos(1). Diagnóstico citológico Diante da secreção vaginal, a presença de numerosas células polimorfonucleares indicam característica patológica. O exame realizado em lâmina permite pela coloração pelo método Gram a observação das leveduras nas formas de esporos ou nas formas filamentosas. O Trichomonas vaginalis é pesquisado a partir de secreções diluídas em soro fisiológico que reagem com o Potássio a 5%. O exame de imunofluorescência direta permite rastrear a Chlamydia trachomatis(1). Exame Bacteriológico Deve ser sistemático nas leucorréias da infância, podendo ser obtido no orifício vaginal. É preferível que seja colhido no próprio laboratório, pois o meio de transporte pode permitir a inoculação de meios de cultura especiais (Thayer & Martin, Sabouraud, Mac Coy e o meio para Trichomonas). Para evitar contaminação por germes da vulva, propõe-se obtenção da secreção por cateter (1). Exame protoparasitológico Além de exame comum, deve ser pesquisada a presença de Enterobius vermicularis através do teste da fita adesiva (“sellotape test”) e através de swab anal e vulvar(1). Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 38 Vulvovaginites em crianças e adolescentes: uma revisão qualitativa. - Andréa Marta Ferrian e cols. Exames Bioquímicos Para confirmação do diagnóstico de infecção por Clamydia, utiliza-se detecção do antígeno através da imunofluorescência direta ou pelo método ELISA, de leitura mais subjetiva. As amostras bacteriológicas são efetuadas juntamente com outros locais de infecção (por exemplo no caso de conjuntivite, faringite, diarréia). Os germes encontrados nas duas amostras serão comparados. O exame citobacteriológico de urina será realizado no caso de disúria, abuso sexual ou na pesquisa de Chlamydia e Gonococo. Um exame intracavitário será necessário diante de uma leucorréia sangrante ou recorrente. O toque retal pode rastrear um corpo estranho. A possibilidade de anestesia geral será discutida em função da idade da criança e da opinião dos pais. A utilização de um histeroscópio de um diâmetro de 4 mm permite a exploração da genitália sem danos(1). Tratamento Vulvovaginites inespecíficas O tratamento das vulvovaginites inespecíficas visa afastar a causa da doença. Na maioria dos casos, medidas simples e de baixo custo são suficientes. Podem ser realizados banhos de assento com soluções anti-sépticas (permaganato de potássio, benzidamina), orientação de higiene urinária e fecal, uso de sabonetes e vestuário adequado. Não havendo melhora clínica apreciável, recomenda-se a antibioticoterapia com amoxicilina (20 a 40mg/kg/dia, divididos em três doses)(4). TABELA 1 Tratamento das vulvovaginites de acordo com o patógeno envolvido Vaginose 30mg/kg/dia VO 10 dias Metronidazol 50mg/kg/dia VO 10 dias Ampicilina Candidíase Clotrimazol Aplicação tópica vulvar ou instilação vaginal Miconazol Nistatina Violeta de genciana 0,5% Ácido bórico Permaganato de potássio 1:20.000 Tricomoníase 30mg/kg/dia VO 10 dias Metronidazol Gonococcia Probecenid + Amoxicilina Penicilina G procaína 50mg/kg (até 1g) VO + 50mg/kg (até 3g) VO dose única 100.000U/kg (até 4.800.000 unidades) IM dose única Oxiuríase 5ml ou 1cp (100mg) VO 12/12h 3 dias. Mebendazol Perspectivas Médicas, 18(1): 33-38, jan. / jun. 2007 Repetir após 21 dias. Vulvovaginites específicas O tratamento dos corrimentos específicos depende da etiologia envolvida, sendo recomendados em nosso país diferentes fármacos (tabela 1) (10). DISCUSSÃO E CONCLUSÕES A vulvovaginite é uma infecção comum na infância e adolescência, sendo mais freqüente o tipo não específico, principalmente de causa infecciosa. As garotas pré-púberes são mais vulneráveis à infecção vulvovaginal devido ao pH vaginal elevado, pobreza de lactobacilos e mucosa tubária imatura, com possibilidade de infecção ascendente e seqüelas tubárias. Além disso, fatores anatômicos e hábitos próprios da fase etária predispõe as infantes e adolescentes a este tipo de infecção. Na vigência de vulvovaginite por patógenos sexualmente transmissíveis deve-se sempre lembrar da possibilidade de contato sexual ou mesmo abuso, e, quando este último é considerado, há necessidade da pesquisa de HIV e Sífilis (14). Alterações comportamentais e hábitos de higiene são capazes de diminuir a prevalência das vulvovaginites, principalmente as não específicas. O tratamento das doenças específicas é baseado no patógeno causador. Sendo que, novos estudos são necessários, contribuindo assim, com o esclarecimento dos fatores relacionados a estas doenças. Referências Bibliográficas 1. Kokots F, Adam HM. Vulvovaginitis. Pediatrics in review. v 27(3):116-7, 2006. 2. Stricker T, Navratti F, Serinnhauser FH. Vulvovaginitis in prepubertal girls. Arch Dis Child, v 88:324-6, 2003. 3. Merkley K. Vulvovaginitis and vaginal discharge in the pediatric patient. J Emerg Nurs, v 31(4):400-2, 2005. 4. Jaquieri A, Stylianopoulos A, Hogg G, Grover S. Vulvovaginitis: clinical features, aeiology, and microbiology of the genital tract. Arch Dis Child, v 81: 61-7, 1999. 5. García-Avilés C, Carvalho N, Fernández-Benítez M. Allergic vulvovaginitis in infancy: study of a case. Allergol Immunopathol (Madr), v 29(4):137-40, 2001. 6. Joishy M, Sandeep A, Jain A, Gonsalves R. Do we need to tracto vulvovaginitis in prepubertal girls? British Med J, v 330:186-8, 2005. 7. Larrègue M, Vabres P, Guillet G. Vulvo-vaginites dans l'enfance. 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Prolonged pregnancy: an actualized text. Palavras-chave: gravidez prolongada; morbidade fetal; mortalidade fetal. Key words: prolonged pregnancy; fetal morbity; fetal mortality. Nelson Lourenço Maia Filho* Lenir Mathias** Carlos Eduardo Saraiva Suzano*** *Professor Associado Regente da Disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. **Professora Emérita da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. ***Professor Assistente da Disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, São Paulo. Instituição e Contato: Nelson Lourenço Maia Filho - Faculdade de Medicina de Jundiaí - Rua Francisco Telles, 250 – Vl. Arens. CEP 13202-550 – Jundiaí, SP. - Fone: (011) 4587-1095 Artigo ainda não publicado. RESUMO A gestação prolongada é uma situação de risco na obstetrícia, onde pode ocorrer sofrimento fetal e a taxa de morbi-mortalidade perinatal aumenta. Os autores fazem uma atualização sobre conceitos, classificação, etiologia e sugerem a conduta obstétrica neste caso. Assim, após análise da literatura, a monitorização da atividade uterina e a avaliação das condições do feto são fundamentais para evitar complicações. ABSTRACT Prolonged pregnancy is a risk situation in obstetrics, where may occur fetal distress and increased morbidity e mortality perinatal tax. The authors make an actualization about yours concepts, classification, etiology e suggests obstetric procedure. Thus, after observe the specialized literature the follow-up of the uterine activity and fetal is an important condition for prevent complications. INTRODUÇÃO CONCEITO E TERMINOLOGIA Vários são os termos utilizados para a gestação prolongada, entre eles pós-termo, gestação tardia, gravidez serotínea e pós-data. O conceito é variável, pois a literatura é duvidosa quando se considera o tempo de duração da gestação. Gestação prolongada é toda aquela que tenha duração igual ou maior que 294 dias ou 42 semanas(1). Os demais termos apenas ratificam gestação além da data estabelecida para o parto, mas a duração não atingiu 42 semanas. Pós-maduro, seródio ou dismaturo é o recémnascido (RN) que apresenta sinais compatíveis com quadro clínico da gestação prolongada(2). CLASSIFICAÇÃO Quando a gestação se prolonga além de 42 semanas, ela pode ser considerada fisiológica, com placenta preservada e a patológica pode ser caracterizada quando ocorre a senescência placentária(2). ENVELHECIMENTO DA PLACENTA Na gestação a termo continuam as ramificações das vilosidades e as ramificações terminais tornam-se mais numerosas e menores, diminuindo o volume e o citotrofoblasto (Células de Langhans) tornando-se saliente; o sinciciotrofoblasto adelgaça-se formando nós e os vasos proeminentes aproximando-se mais da superfície do vilo. O estroma apresenta células do tecido conjuntivo com ramificações. A matriz intercelular torna-se mais frouxa e abundante e as células mais fusiformes e mais próximas. As células de Hofbauer (macrófagos fetais) apresentam citoplasma com muitos grânulos ou vacuolizados. A redução da espessura do sincício, a redução parcial das células de Langhans, a diminuição do estroma, o aumento do número de capilares e a aproximação dos capilares da superfície sincicial têm a finalidade de facilitar o transporte e as trocas, para atender as necessidades metabólicas crescentes do feto. Outras alterações que acontecem sugerem menor troca placentária, entre elas o espessamento das membranas basais dos capilares do trofoblasto, a obliteração de alguns vasos fetais, a deposição de fibrina na superfície vilosa e na camada basal, coriônica e em algumas partes do espaço interviloso. Pequenos focos subcoriônicos e marginais de degeneração fibrinoide do trofoblasto, calcificações e infartos isquêmicos (oclusão da artéria principal) causam rotura do sincício e exposição do tecido conjuntivo do estroma que fica em contacto com o sangue materno. Ocorre coagulação que se propaga e atinge várias vilosidades(3). Placas calcárias na superfície materna, visíveis ao Perspectivas Médicas, 18(1): 39-42, jan. / jun. 2007 40 Gestação prolongada: um texto atualizado. - Nelson Lourenço Maia Filho e cols. ultra-som (US) são à base da classificação de Grannum et al. (1970) (4) . Os autores relacionam estas placas à maturidade pulmonar fetal, mas as mesmas não são suficientes para indicar-se parto eletivo(4). O âmnio, mais que uma simples membrana avascular que funciona para conter o líquido amniótico (LA), é útil na proteção fetal. É metabolicamente ativo e envolvido no transporte de soluto e água, mantendo a homeostase do LA. Produz várias substâncias ativas como peptídeos, fator de crescimento, citoquinas que modulam o tono vascular e o fluxo coriônico. O LA aumenta sua quantidade durante toda a gestação e diminui próximo ao termo. Seu volume médio na 36ª semana é de 1000ml e no pós-termo na 42ª semana de 200ml. Esta redução proporciona aumento do risco fetal de compressão de cordão com aparecimento de desacelerações variáveis e sofrimento fetal. O LA é importante determinante da atividade fetal. Sendo que sua redução provoca diminuição dessa atividade(2). MECÔNIO É fraca a relação entre a presença do mecônio e a mortalidade perinatal, porque ele pode estar relacionado a um quadro de hipoxia, podendo representar maturação normal do feto (adquire controle neural) e podendo ainda advir de um aprisionamento transitório do cordão que proveria estímulo vagal promovendo sua eliminação, sendo então considerado como processo fisiológico. Entretanto, o mecônio pode representar risco ambiental para o feto. Nos casos de hipoxia, esta causaria hipercapnia, com conseqüente estímulo respiratório. O mecônio presente na cavidade amniótica poderia ser aspirado, causando lesão das células alveolares (aumentando a acidemia) e do parênquima pulmonar. A síndrome de aspiração de mecônio ocorre no feto acidótico. Este processo é agudo, imprevisível e provavelmente inevitável. O LA na gestação prolongada pode ser claro, esverdeado ou amarelo-esverdeado dependendo do tempo e da quantidade de mecônio eliminado(5). JUSTIFICATIVA, OBJETIVO E METODOLOGIA Tornam-se mais freqüentes os riscos fetais na síndrome pós-maduro, onde se podem encontrar os mais variados graus de sofrimento e aumento dos índices de morbiletalidade perinatal, de macrossomia fetal, bem como inúmeras repercussões psíquicas maternas(6). Assim, os autores fazem uma atualização utilizando bases de dados indexadas de literatura científica sobre conceitos, classificação, etiologia, incidência e complicações da gestação prolongada e sugerem a conduta obstétrica. RESULTADOS FETO O feto sujeito às conseqüências do processo de Perspectivas Médicas, 18(1): 39-42, jan. / jun. 2007 envelhecimento da placenta apresenta algumas características, descritas por Clifford em 1954, a saber, pele enrugada, com descamação segmentar, unhas longas, corpo longo e magro, olhos abertos com aspecto de alerta, aspecto de “velho e preocupado”. O peso encontra-se pouco abaixo do 10° percentíl para a idade gestacional (IG). Raramente apresenta CIUR. Esta síndrome ocorre em 10% das gestações de 41 a 43 semanas e 33%, na 44ªsemana, e relaciona-se muito com o oligoâmnio(2). Segundo Nahum et al. (1995), o feto continua o processo de crescimento, mas em velocidade mais lenta a partir da 42ª semana, mesmo com função placentária não comprometida(7) . Silver et al. (1987) chamam atenção para a diminuição do diâmetro do cordão umbilical intraparto, quando presente o oligoâmnio, pois deve ocorrer sofrimento fetal (SF), diminuição da produção de urina e redução da deglutição fetal(8). INCIDÊNCIA Segundo Grant (1993) a incidência dos sinais e sintomas de gestação prolongada varia de 4 a 12% por ocasião da 42ª semana, e aparece em cerca de 7% nas gestações com 43 semanas, sendo mais freqüente nas primíparas e entre 20-25 anos (7). Como fatores relacionados à incidência de gestação prolongada, cita-se, a data da última menstruação imprecisa ou desconhecida, ovulação irregular, variação no comprimento da fase folicular do ciclo, uso de anticoncepcionais hormonais, situação sócio-econômica desfavorável acompanhada freqüentemente de ausência ou início tardio da assistência pré-natal e a não realização de US precoce. Com base em dados de US, Campbell et al. (1989) verificaram que 80% das gestações terminam entre a 38ª e 40ª semana, 7% com menos de 37 semanas e 5 % com 42 ou mais semanas(9). COMPLICAÇÕES FETAIS Durante o crescimento fetal pode-se desenvolver a macrossomia ou mais raramente a CIUR (Crescimento Intra-Uterino Restrito), bem como a maior incidência de oligoâmnio e suas conseqüências, como aspiração do líquido meconial, sofrimento fetal e mortalidade perinatal elevada. O prognóstico destes quadros clínicos dependerá do tempo do prolongamento da gestação e da associação com outras situações como a primiparidade tardia, mau passado obstétrico, apresentações anômalas, intercorrências clínicas e obstétricas e alterações da vitalidade fetal. Também, há fatores que per si levam à gestação prolongada, como anomalias fetais congênitas como a anencefalia, hipoplasia supra-renal e ausência de pituitária fetal, no sexo masculino a baixa taxa de estradiol e a deficiência de sulfatase placentária. A mortalidade fetal é maior na 42ª semana quando comparada aos fetos na 40ª semana. A mortalidade 41 Gestação prolongada: um texto atualizado. - Nelson Lourenço Maia Filho e cols. duplica em fetos na 43ª semana e quintuplica na 44ª semana. A mortalidade intraparto é quatro vezes maior que no período gestacional. A mortalidade neonatal é três vezes mais freqüente se comparada com RN de gestações de termo. A mortalidade perinatal é quatro a cinco vezes mais freqüente quando se associa gestação prolongada a outras patologias. As seqüelas tardias do Recém Nascido são controvertidas, fala-se em maior mortalidade no segundo ano de vida, maior incidência de hospitalização nos três primeiros anos de vida, alterações do desenvolvimento psicomotor, distúrbios neurológicos como paralisia cerebral e epilepsia, e maior perturbação do sono no primeiro ano de vida(10). COMPLICAÇÕES MATERNAS Existe ausência de amadurecimento cervical em 70% das vezes, maior ansiedade materna, trabalho de parto prolongado, mais tocotraumatismo, maior percentual de cesáreas, maior freqüência de hemorragia pós-parto, pela utilização de ocitocina e macrossomia fetal(11). COMPLICAÇÕES NO PARTO Pode se instalar a inércia uterina, a compressão do cordão, o líquido amniótico (LA) pode se apresentar meconial e espesso facilitando o aparecimento da síndrome de aspiração do LA, pode haver ainda desproporção céfalo-pélvica e hemorragia pósparto(12). COMPLICAÇÕES DO RECÉM-NASCIDO São comuns as alterações distróficas, a desidratação, a hipoxia, a hipoglicemia, a hipovolemia, a hipofunção adrenal, bem como a policitemia vera, acidose, além de problemas pulmonares como a síndrome de insuficiência respiratória e aspiração de LA. Também, traumas, lesões nervosas, fratura da clavícula (distocias do ombro). E maior mortalidade perinatal por malformação fetal, como a asfixia e aspiração de mecônio(2). CONCLUSÕES Todos os fatores envolvidos no determinismo do parto, se alterados, podem ser responsáveis por gestação que se prolonga, entre eles, fatores hormonais, neuro-musculares, mecânicos, imunológicos e bioquímicos ao nível do endométrio, do feto e do colo uterino. O objetivo inicial é excluir a gestação falsamente prolongada e separar a gestação fisiologicamente prolongada da patologicamente prolongada. No diagnóstico propriamente dito é necessário saber, a idade gestacional, existência de malformações fetais, condições do colo, presença de intercorrências clínicas, existência de intercorrências obstétricas, maturidade fetal, vitalidade fetal, condições do crescimento fetal e existência de Recem Nascido seródio(13) . São pontos importantes a serem observados: Diagnóstico da idade gestacional (IG), baseado na data da última menstruação, algumas dificuldades podem ocorrer: oscilações do intervalo menstrual, ciclos irregulares, alterações menstruais, uso de anticoncepcionais hormonais, nidação diferida, perda sanguínea devida à gestação incipiente e incerteza da data. São importantes os dados obtidos no pré-natal, como a altura uterina e o ultra-som (US). São mais fiéis os resultados obtidos no US realizado no primeiro trimestre, pela mensuração do saco gestacional e do comprimento cabeça-nádega. No segundo e terceiro trimestre, a fim de minimizarmos os índices de erros ao US, podemos nos valer de algumas medidas como: DBP, CC, CA e CF, comprimento do úmero, comprimento dos ossos longos, comprimento do pé, dimensões dos rins, distância intra-orbicular e centro de ossificação dos ossos longos. Entretanto, quanto mais avançada a idade gestacional, aumentam os erros de avaliação (14) . Diagnóstico da vitalidade fetal, onde utiliza-se a quantidade de LA e o comportamento fetal frente a oligoamnia. O LA pode ter sua quantidade alterada, desenvolvendo oligoamnia (ILA menor ou igual 5cm) e também sua qualidade (LA claro sem grumos gestação pré-termo; turvo e leitoso - gestação de termo, e ainda a presença de mecônio). Comportamento fetal, com a redução de LA o feto apresenta-se aprisionado e com diminuição de seus movimentos (importante avaliar-se o mobilograma). Pode haver compressão do cordão (aparecimento de DIP variável). Pelo perfil biofísico simplificado determina-se o ILA e as possíveis alterações da freqüência cardíaca fetal diagnosticando-se assim, sofrimento fetal (15). Diagnóstico do crescimento fetal, sendo importante o diagnóstico da macrossomia fetal. Para tanto, se utiliza a palpação obstétrica, onde se observa altura uterina superior a 40 cm, além do US. No US, várias medidas foram propostas, na tentativa de se avaliar o crescimento fetal: CA, diâmetro do tronco, largura do ombro, US cabeça , medida ossos longos. Prevê-se a macrossomia em apenas 50% dos casos. Utilizam-se também os índices CT/CA: circunferência do tórax e circunferência abdominal maior que 35 cm, espessura do tecido mole na porção proximal úmero ou fêmur, espessura da linha gordurosa do abdome fetal, distância de uma bochecha a outra. Diagnóstico das malformações fetais pelas alterações da altura uterina durante o pré-natal, transluscência nucal ao US no primeiro trimestre e US morfológico no segundo. Na ausência de informações anteriores (pré-natal), se houver suspeitas, antes da indicação da interrupção da gestação, deve-se fazer um Perspectivas Médicas, 18(1): 39-42, jan. / jun. 2007 42 Gestação prolongada: um texto atualizado. - Nelson Lourenço Maia Filho e cols. RX de abdome ou US. Diagnóstico das condições do colo, será feito pelo toque vaginal, quando se procura determinar o índice de Bishop. Diagnóstico das intercorrências clínicas e obstétricas, faz-se às custas de anamnese minuciosa, exame físico geral, especial e obstétrico, antecedentes pessoais e familiares, além do US. Diagnóstico da maturidade fetal, onde utiliza-se avaliação do LA quanto à sua qualidade e composição, e o US, onde se buscam: biometria fetal, ILA, maturidade da placenta (método de Grannun), presença de haustração intestinal, ecogenicidade pulmonar maior que a hepática, diâmetro cerebelar transverso. E o diagnóstico do RN, sendo eutrófico, macrossômico e distrófico (síndrome pós-maduro) (16). Assim, conclui-se que ao ser estabelecida a IG, deve-se verificar principalmente a maturidade do colo, avaliar o peso e maturidade fetal e a possibilidade de malformação fetal, e então: 1) Conduta ativa, nos casos da presença de intercorrências clínicas e/ou obstétricas, na presença de oligoâmnio ou mecônio, na presença de desaceleração variável e se houver história de perda fetal em gestação anterior. 2) Conduta conservadora, quando se deve intensificar os cuidados a partir da 41ª semana e não deixar ultrapassar 42 semanas. O exame da gestante deve ser feito duas vezes por semana. Solicita-se o mobilograma e verifica-se a quantidade de LA amniótico pelo toque vaginal e ou US. Auscultar a FCF procurando DIP variável, através de monitoragem clínica e, se possível, cardiotocografia. Para a conduta ativa tem-se que ter como metodologia o colo, apresentando-se maduro (índice de Bishop>5), usando-se assim a ocitocina para induzir o parto. No colo imaturo promove-se o amadurecimento pelo sucessivo descolamento do polo inferior do ovo, ou colocação intracervical de sonda vesical (método de Krause) ou ainda a utilização do misoprostol na dose de 25mcg cada seis horas no fundo de saco vaginal. Antes de se iniciar a indução, se houver oligoâmnio deve-se proceder à prova de Pose. Monitorizar sempre a FCF durante o trabalho de parto. Além disso, na 41ª semana se o feto apresentar-se macrossômico, indica-se cesárea. No feto de tamanho normal com colo uterino favorável (maduro), procedese á indução com ocitocina e, depois de iniciadas as contrações, deve-se romper as membranas. No colo desfavorável, tanto se pode promover seu amadurecimento profilático como intensificar a supervisão fetal até a 42ª semana, com duas visitas semanais, quando procurar-se-á determinar o ILA, a movimentação fetal e a FCF. Nas situações de sofrimento fetal, indica-se o parto. Perspectivas Médicas, 18(1): 39-42, jan. / jun. 2007 Nos casos de IG incorreta ou duvidosa, deve-se excluir malformações e gestação no pré-termo. Procura-se identificar o oligoâmnio que, quando presente, torna o parto imperativo e, quando ausente permite atitudes mais conservadoras. Ou ainda a movimentação fetal que, se estiver normal permite adoção de atitude conservadora, porém, se estiver reduzida, geralmente acompanhada de oligoâmnio, indica a interrupção da gestação. No parto deve-se ter como conduta em relação à parturiente a posição em decúbito lateral. A amniotomia deve ser realizada o mais tardiamente possível, em casos de redução do LA (risco de compressão do cordão), ou precocemente nos casos em que estiver indicada a indução, a fim de corrigir precocemente as distocias funcionais. A amnioinfusão tem sua indicação na presença de mecônio espesso com dilatação avançada(16). Assim, após análise da literatura científica podemos concluir que a monitorização da atividade uterina e das condições fetais podem evitar tais complicações e contribuir para a qualidade de vida da parturiente e do feto. Referências Bibliográficas 1. Weingold, AB. The management of prolonged pregnancy. 3th Edition, Chicago, Year Book Obstetrics and Gynecology, 1982, 1-879. 2. Neme, B. Obstetrícia Básica, 3ª Edição, São Paulo, Sarvier, 2006, 1-670. 3. Zugaib, M. Protocolos assistenciais da clínica obstétrica da FMUSP. 4 Edição, São Paulo, Editora Ateneu, 1996, 1-450. 4. Grannum, PA; Berkowitz, RL; Hobbins, JC. The ultrasonic changes in the maturing placenta and their relations to fetal pulmonic maturity. Am J Obst Gynecol, 133(8):915-22, 1979. 5. Mathias, L; Maia Filho, NL. Manual de Obstetrícia. Rio de Janeiro, EPUC, 1997. 6. Williams, JK. Obstetrics. 21th Edition, CA, International Edition McGraw- Hill, 2004, 1-1789. 7. Grant, JM. Sweeping of the membranes in prolonged pregnancy. 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