UMA FORMA DE INCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA DE

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MERCADO DE TRABALHO: UMA FORMA DE INCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA
DE PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA
FERNANDA DOS SANTOS TEODORO
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
CHRISTINE BENCCIVENI FRANZONI
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
ANA MARIA BENCCIVENI FRANZONI
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
RESUMO
A Reforma Psiquiátrica, que surgiu no Brasil nos anos de 1970, através do Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental, trouxe garantias legais às pessoas com transtorno mental, a
sua reinserção na sociedade, consequentemente favorecendo sua inclusão no mercado de
trabalho. Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo geral verificar as possibilidades
que as pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho. Foram
investigados aspectos referentes à: transtorno mental e suas distinções em relação à
deficiência física e mental; a esquizofrenia como um tipo de transtorno mental; o trabalho e a
esquizofrenia. Pode-se concluir que as pessoas com esquizofrenia, que trabalham em
diferentes níveis de atenção à saúde, têm possibilidades de se inserirem no mercado de
trabalho.
Palavras-chave: Esquizofrenia. Mercado de trabalho. Inclusão social.
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MERCADO DE TRABALHO: UMA FORMA DE INCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA
DE PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA
RESUMO
A Reforma Psiquiátrica, que surgiu no Brasil nos anos de 1970, através do Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental, trouxe garantias legais às pessoas com transtorno mental, a
sua reinserção na sociedade, consequentemente favorecendo sua inclusão no mercado de
trabalho. Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo geral verificar as possibilidades
que as pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho. Foram
investigados aspectos referentes à: transtorno mental e suas distinções em relação à
deficiência física e mental; a esquizofrenia como um tipo de transtorno mental; o trabalho e a
esquizofrenia. Pode-se concluir que as pessoas com esquizofrenia, que trabalham em
diferentes níveis de atenção à saúde, têm possibilidades de se inserirem no mercado de
trabalho.
Palavras-chave: Esquizofrenia. Mercado de trabalho. Inclusão social.
1 INTRODUÇÃO
O Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental - MTSM teve um papel
fundamental no início da Reforma Psiquiátrica, o qual abriu um espaço de debate e luta pela
transformação da assistência psiquiátrica, propondo alternativas antimanicomiais, defendendo
a humanização do hospital psiquiátrico e restabelecendo a cidadania e a dignidade da pessoa
com transtorno mental (ROCHA, 2005). A Reforma Psiquiátrica, ao debater a questão
relacionada à inclusão das pessoas com transtorno mental no meio social deu às mesmas a
garantia, em lei, de serem reinseridas na sociedade, portanto, no mercado de trabalho, o que
ocorreu com a aprovação da Lei Federal de Saúde Mental nº. 10.216/01 (BRASIL, 2009a).
Conforme Teodoro (2009), a legislação dá amparo legal à pessoa com transtorno
mental e lhe garante direitos e proteção, assim sendo, cabe a família e a sociedade criar meios
para a sua integração e reabilitação.
Para Zambroni-de-Souza (2006), o sofrimento mental interfere na capacidade
produtiva das pessoas, sendo que em certos momentos este sofrimento poderá dificultar o seu
relacionamento social, não significando, entretanto, que elas se tornem definitivamente
incapazes de seguir as orientações exigidas para qualquer atividade, em especial a atividade
de trabalho.
Continuando, o autor afirma que, “se entendermos melhor como essas pessoas
com transtornos mentais enfrentam o mercado de trabalho ajuda no entendimento do que
sejam os sofrimentos mentais – que a CID reconhece com o nome de transtornos. Ainda,
pode-se compreender melhor o que é o trabalho e o lugar que o mesmo ocupa ou poderia
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ocupar na vida de todos os seres humanos.” (ZAMBRONI-DE-SOUZA, 2006, p. 176).
Como exemplo de iniciativa de capacitação para o mercado de trabalho de pessoas
com transtorno mental, que já certificou cerca de 700 pessoas, cita-se a Secretaria Municipal
de Trabalho e Emprego da Cidade do Rio de Janeiro com o Projeto Deixa Comigo, que tem
como objetivo a capacitação de pessoas com transtorno mental para o mercado de trabalho.
Visando a reinserção no mercado de trabalho de pessoas com esquizofrenia, o
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, lançou em
2008 o ‘Projeto Esquizofrenia’.
Em 2010 o Departamento de Psiquiatria da UNIFESP criou o Programa de
Inserção Profissional e saúde mental, o qual, por meio de parceria com empresas insere
pessoas com esquizofrenia no Mercado de Trabalho.
Segundo dados do DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (2009), em 2007 o número de desempregados das seis principais regiões
metropolitanas do País foi estimado em cerca de 3 milhões de pessoas. No mesmo ano, foram
gerados 553 mil novos postos de trabalho. Observa-se que o número de desempregados é
muito superior ao número de novos postos de trabalho. Enquanto que, pelos dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho no ano de 2007, havia 37,6
milhões de postos de trabalho, sendo que apenas 348,8 mil (1%) foram ocupados por pessoas
com necessidades especiais e, destes, 2,4% têm deficiência intelectual (CORREIO
BRASILIENSE, 2009).
Salienta-se que os dados apresentados do DIEESE não fazem referência a índices
ou taxas de empregados ou desempregados com transtorno mental. Os dados da RAIS
referem-se a pessoas com necessidades especiais e com deficiência intelectual, excluindo
àquelas pessoas com transtorno mental (TEODORO, 2009).
Assim sendo, é pertinente investigar as possibilidades de inserção de pessoas com
esquizofrenia no mercado de trabalho.
2 DEFINIÇÃO DE TRANSTORNO MENTAL E SUAS DISTINÇÕES EM RELAÇÃO
À DEFICIÊNCIA FÍSICA E MENTAL
Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental - DSM IV, da
Associação Americana de Psiquiatria, transtornos mentais:
são concebidos como síndromes ou padrões comportamentais ou
psicológicos clinicamente importantes, que ocorrem num individuo ou
estão associados com sofrimento ou incapacitação ou com risco
significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência
ou perda importante da liberdade. [...]“qualquer que seja a causa
original a síndrome deve ser considerada no momento como uma
manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou
biológica no indivíduo” (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE
PSIQUIATRIA, 2003, p. 27 e 28).
Observa-se que tanto a Associação Americana de Psiquiatria (2003) quanto a
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OMS - Organização Mundial de Saúde (1993), concebem o transtorno mental como uma
associação de sintomas acompanhados de sofrimento. Enquanto Amaral (2009) e a OMS
(1993) afirmam que este transtorno prejudica a vida do sujeito.
Nesse contexto, pode-se dizer que o transtorno mental afeta a vida pessoal do
sujeito, bem como, sua relação com a sociedade.
A fim de esclarecer melhor o conceito de transtorno mental é importante citar,
ainda, duas modalidades de deficiência, a deficiência física e a deficiência mental, bem como,
que seja estabelecida a diferença entre deficiência física, mental e transtorno mental.
O termo deficiência significa “uma restrição física, mental ou sensorial, de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.”
(BRASIL, 2001).
Ballone (2003) afirma que a deficiência mental é um estado onde existe uma
limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da
média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa.
Pelo Decreto nº. 3.298/09 tem-se que a deficiência física é a alteração total ou
parcial de um ou mais parte do corpo humano, ocasionando o comprometimento da função
física. (BRASIL, 2009).
Nesse contexto, pode-se afirmar que enquanto a deficiência física é uma alteração
que afeta a função física, a deficiência mental é caracterizada por uma redução da função
intelectual e o transtorno mental é um conjunto de sintomas que afetam a mente das pessoas.
Para Louzã Neto (1996), quando se fala em transtorno mental as pessoas
associam-no à loucura e estão acostumadas a dizer que alguém está louco, quando este
alguém apresenta uma perda da noção de realidade compartilhada por todos, isto quer dizer
que a pessoa estaria fora dos padrões normais impostos pela sociedade. Acredita-se que, nesse
contexto, uma das consequências positivas da Reforma Psiquiátrica, no âmbito social, foram
também os estudos e debates no sentido de um maior esclarecimento e de uma visão mais
humanizada acerca das pessoas com transtorno mental.
A loucura, conforme Foucault (2000), no período da Idade Média e no
Renascimento, era considerada como perversões sobrenaturais, sendo que as pessoas
consideradas como loucas eram vistas pela sociedade como possuídas pelo demônio. Nessa
época, do teocentrismo, conforme o mesmo autor, as pessoas que tinham um comportamento
diferente das demais, ou comportamento agressivo e agitado, eram consideradas loucas, por
conta da hierarquia católica, eram, também, perseguidas pela prática da Inquisição, queimadas
ou submetidas a rituais, pois precisavam ser exorcizadas.
Mas foi com Hipócrates que a loucura foi afastada da influência divina e foi
considerada como uma manifestação do desarranjo na natureza orgânica do homem. Essas
idéias passaram a influenciar a medicina nos séculos XVIII e XIX. (CECCARELLI, 2005).
Nos estabelecimentos de internação são criados os Workhouses ou Zuchthausern
(casas de trabalho), onde os internos realizavam trabalhos forçados, como fabricar objetos
para serem vendidos no mercado de trabalho e o lucro era revertido para o funcionamento do
hospital. Esse trabalho tinha como objetivo a sanção e o controle moral.
Para Vieira (2009) foi necessária a formação de uma nova sensibilidade social
para isolar a categoria da loucura e destiná-la ao internamento.
Até então o transtorno mental ainda não era cogitado como doença mental e sim
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como loucura que “é vista no horizonte social da pobreza, da incapacidade para o trabalho e
da impossibilidade de integrar-se no grupo". (FOUCAULT, 2000, p.78)
Com a Reforma Psiquiátrica o Brasil passou a integrar um grupo de países com
uma moderna legislação em conformidade com a Organização Mundial da Saúde. Não mais
se fala em loucura e sim em transtorno mental. A Reforma psiquiátrica ao favorecer a revisão
do modelo manicomial até então vigente, ao dar garantias legais às pessoas com transtorno
mental, bem como, dar a elas a possibilidade de recuperação pela inserção na família, no
trabalho e na sociedade, fez com o termo loucura fosse aos poucos desmistificado e a
sociedade passasse a enxergar essas pessoas sem preconceitos e estigmas.
Nesse mesmo período surge no Brasil a discussão sobre a atenção na saúde
mental. Intelectuais da época criticam a relação entre as instituições e a loucura, criando no
Brasil o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), o qual criticava o saber
psiquiátrico e dava ênfase a um novo modelo assistencial não mais baseado em manicômios,
mas sim em serviços extra-hospitalares. (AFONSO et al., 2009).
Segundo Alves (2009), a mudança na assistência só terá sustentação se as pessoas
com transtornos mentais receberem cuidados adequados, não forem excluídas da comunidade
em que vivem, bem como não se tornarem um fardo para seus familiares.
Pode-se afirmar que as transformações na concepção da loucura vão depender de
uma alteração na maneira como as próprias pessoas, isto é a família, as instituições, enfim, a
sociedade de maneira geral, a concebem. Com a Reforma Psiquiátrica, no meio científico e
social, de acordo com Teodoro (2009, p.29)
o termo loucura está sendo gradativamente substituído por outras
nomenclaturas, tais como, deficiência mental e transtorno mental,
todavia as pessoas que apresentam um transtorno mental na maioria
das vezes parecem ainda ser consideradas como inúteis e tendem a ser
excluídas do mercado de trabalho. (TEODORO, 2009, p.29)
3 ESQUIZOFRENIA: UM TIPO DE TRANSTORNO MENTAL
Shirakawa, Chaves e Mari (2001) afirmam que a esquizofrenia é uma psicose que
afeta a capacidade da pessoa distinguir se as experiências vividas são ou não reais.
Para Ballone (2008), a psicose é uma doença mental que se caracteriza pela
distorção da realidade e ausência de harmonia entre o pensamento e a afetividade, sendo a
esquizofrenia a representante mais característica das psicoses.
O termo psicótico tem, no decorrer da história, conforme a Associação Americana
de Psiquiatria (2003), definições diferentes, sendo que até o momento nenhuma delas teve
aceitação universal.
Conforme Lopes (2001), para Kurt Schneider, a única psicose propriamente dita é
a esquizofrênica, pois a psicose maníaco-depressiva “está sendo retirada das manifestações
psicóticas para entrar do lado das doenças corporais do pânico, e, sobretudo ela está sendo
considerada uma doença do humor.” (LOPES, 2001, p.4)
A esquizofrenia, apesar de existir a mais tempo, só foi conceituada de forma mais
precisa no final do século XIX. Sadock e Sadock (2008) destacam a contribuição de Emil
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Kraepelin e Eugen Bleuler ao longo da história, para a compreensão da esquizofrenia.
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (2003, p. 316), a esquizofrenia é
uma:
perturbação com duração mínima de 6 meses e inclui no mínimo 1
mês de sintomas da fase ativa (i. é, dois, [ou mais] dos seguintes:
delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento
amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos).
A palavra esquizofrenia vem do grego, esquizo que significa cisão e frenia que
significa mente, sendo que, em 1911, Eugen Bleuler, foi o primeiro psiquiatra a utilizar o
termo esquizofrenia para definir uma doença psíquica caracterizada, basicamente, pela "cisão
do pensamento, do afeto, da vontade e do sentimento subjetivo da personalidade". (GATTAZ,
2005, p. 1).
Na mesma linha de pensamento, para Stotz (2006), a pessoa com esquizofrenia
faz uma cisão entre o bom e o mau, ela não consegue ter estes dois sentimentos ao mesmo
tempo. Além da cisão, ocorre também a negação maciça da realidade.
Para um diagnóstico de esquizofrenia é importante que tenhamos dois ou mais dos
seguintes sintomas: delírio, alucinação, discurso desorganizado, comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico e sintomas negativos. (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE
PSIQUIATRIA, 2003, p. 315).
No primeiro momento, antes de acontecer a crise, fase ativa, a pessoa entra na fase
prodrômica que é o momento onde os sintomas começam a aparecer, porém nesta fase é
difícil o diagnóstico do transtorno esquizofrênico, pois os delírios e alucinações ainda não
estão presentes, sintomas estes que evidenciam a esquizofrenia. Ainda, conforme o autor,
após a fase prodrômica, entra a fase ativa onde, geralmente, começam a aparecer os delírios,
alucinações, discurso desorganizado ou comportamento desorganizado. Essa fase dura um
mês, sendo o ponto culminante da crise. Por último ocorre a fase residual quando a pessoa
com esquizofrenia não apresenta sintomas das fases prodrômica e nem da fase ativa,
entretanto pode apresentar perturbação. Essas três fases juntas têm a duração de mais ou
menos seis meses. É importante salientar que, como a esquizofrenia é um transtorno crônico e
degenerativo, cada vez que a pessoa entra em uma nova crise há uma piora, por isto é
importante evitar uma próxima crise, fazendo uso de medicamentos prescritos pelo médico
responsável. (STOTZ, 2006).
4 O TRABALHO E A ESQUIZOFRENIA
Refletir sobre o trabalho, bem como sobre o universo que ele representa, na visão
de Magalhães (2007), é pensar nas possibilidades de identificações que o trabalho permite,
nas relações sociais que se organizam e se estabelecem a partir dele, bem como, pensar nos
sentimentos por ele despertados.
Na visão de Luna e Baptista (2001), o ser humano é uma totalidade, então, cada
identidade que este ser possui, reflete outra identidade que ele também possui. Portanto, a sua
identidade vai se transformando nas rotinas cotidianas, na sua integralidade em outros grupos,
na convivência com novos amigos, novas organizações; na transformação através das relações
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sociais, entre si e o outro, em suma, a “identidade é um processo de construção da
representação de si, e que é entendido como transformação e metamorfose”. (LUNA e
BAPTISTA, 2001, p. 40). Consequentemente, uma pessoa que é excluída das relações sociais,
como as pessoas com esquizofrenia constroem uma identidade diferente da realidade, porque
sozinha a pessoa apresenta dificuldades em sustentar um conceito de si mesmo, bem como, de
interagir com a sociedade, pois, ela não se identifica e nem é identificada por esta sociedade.
Para Hegel e Marx a alienação está ligada ao trabalho. Enquanto que, para Hegel,
é pelo trabalho que o homem pode realizar inteiramente suas habilidades em produções
materiais; para Max, o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de
humanizá-lo, o desumaniza. (SALATIEL, 2009). Na visão de Hegel essa alienação tem um
sentido positivo, enquanto que, na de Max tem um sentido negativo.
SOUSA (2001) afirma que o trabalho vem sendo utilizado, como terapia para as
pessoas com transtornos mentais. Continuando, o autor diz que trabalhar deve ser um direito
de todas as pessoas, até mesmo para aquelas com transtornos mentais, sendo que a falta de
trabalho pode potencializar o sofrimento das pessoas com transtorno, pois o trabalho é uma
referência econômica, psicológica e cultural na sociedade.
Conforme Carvalho-Freitas (2009), as pesquisas sobre as dificuldades que as
pessoas com deficiência têm para se inserirem no mercado de trabalho assinalam para uma
ausência acentuada de conhecimento em relação à capacidade de trabalho destas pessoas, bem
como, o desconhecimento do que seja a deficiência.
Todavia, tem-se, devido à grande competitividade na procura por emprego, uma
exclusão significativa de pessoas que aparentemente não apresentam nenhum tipo de
deficiência e nem transtorno mental. Assim sendo, fica difícil a inclusão no mercado de
trabalho de pessoas com transtorno mental, visto que elas são estigmatizadas pela sociedade,
sofrendo muitas vezes preconceito e discriminação por parte da população. Dessa forma, para
Zambroni-de-Souza (2006), as pessoas com transtornos mentais graves conseguem colocar-se
muito pouco no trabalho, seja no mercado – formal ou informal – seja fora dele.
Frequentemente essas pessoas são impedidas de realizar até mesmo o trabalho doméstico em
suas casas.
A Lei nº 8.213/91 deu amparo legal às pessoas com algum tipo de deficiência, ao
instituir a obrigatoriedade das empresas de preencherem uma parcela de seus cargos com estas
pessoas, bem como, com beneficiários reabilitados da Previdência Social. Observa-se, que a
referida Lei não trata da inserção de pessoas com transtornos mentais no mercado de trabalho.
É com o trabalho que a pessoa vai se modificando, pois a sua relação com ele não
se dá simplesmente em produzir coisas, mas sim, na relação com a natureza e com a
sociedade. Ao modificar a natureza, o homem se modifica e modifica a sociedade e, é nessa
transformação, que ele vai mudando o seu jeito de ser e seu pensamento.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiram com a Reforma Psiquiátrica
e foram inicialmente concebidos como alternativas terapêuticas ao modelo de atendimento
centrado no hospital psiquiátrico. (CARDOSO e SEMINOTTI, 2006). Esses serviços, que
foram regulamentados pela Portaria nº. 336/GM de 19 de fevereiro de 2002 e integrados à
rede do Sistema Único de Saúde (SUS), passaram a ter função de atendimento em saúde
mental e de estarem capacitados para realizar prioritariamente o atendimento de pessoas com
transtornos mentais severos e persistentes em sua área territorial. (BRASIL, 2009b).
Passados dez anos da Reforma Psiquiátrica o Governo Federal viu a necessidade
da reestruturação do modelo de atenção às pessoas com transtornos mentais. Tanto os
Serviços Terapêuticos criados em 2000, como os CAPS em 2002 passaram a adotar a partir de
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então, entre outras medidas, a inserção de pessoas com transtorno mental no mercado de
trabalho.
John Nash, ganhador do prêmio Nobel de economia e de outras honrarias, apesar
de ser uma pessoa com esquizofrenia, é um exemplo de que pessoas com transtorno mental,
desde que tratadas clinicamente e incentivadas pela família, podem trabalhar, ter destaque
profissional e contribuir, por exemplo, para o desenvolvimento tecnológico, social e
econômico do país. Nash lutou contra o estigma que existia sobre ele, quer na sua vida
escolar, quer na profissional, assim mesmo, é professor universitário e aos 21 anos concluiu o
curso de doutorado. (CARREIRO, 2005).
O estudo realizado por Cardoso et al. (2006), que teve como objetivo investigar a
qualidade de vida em homens e mulheres com diagnóstico de esquizofrenia, explorando os
fatores associados com a baixa qualidade de vida no domínio ocupacional; investigou 123
pacientes com esquizofrenia selecionados de um Serviço de Referência em Saúde Mental
(SERSAM, Divinópolis, Minas Gerais). Cardoso et al. (2006) afirmam que, mesmo sem levar
em consideração o trabalho formal, mas sim a inserção do paciente em atividades
ocupacionais diárias, o estudo contribui com informações relevantes, dado a escassez de
investigações sobre a importância do trabalho na esquizofrenia, sobre a inclusão de pessoas
com esquizofrenia no mercado de trabalho. Para os autores, pessoas que exercem alguma
atividade profissional têm se mostrado mais satisfeitas, incluindo-se pessoas com
esquizofrenia e com outras formas de doenças mentais.
Martini (2009) afirma que a inserção de pessoas com deficiência no mercado
formal de trabalho tem um papel determinante na sua inclusão econômica, e, principalmente,
social. É nesse ambiente de trabalho que essas pessoas com deficiência podem demonstrar a
sua capacidade produtiva, fazendo com que sejam vistas com um novo olhar, e não mais
como pessoas menos produtivas ou improdutivas, pois a “pessoa com deficiência deve ser
entendida como alguém capacitada para o trabalho através de um processo de habilitação ou
reabilitação”. (MARTINI, 2009, p. 3).
Nota-se em Carvalho-Freitas (2009) e em Martini (2009), que os autores não
fazem referência a pessoas com transtorno mental e sim àquelas com algum tipo de
deficiência. Mais uma vez fica demonstrada a escassez de pesquisas sobre a inserção de
pessoas com transtorno mental no mercado de trabalho.
É possível pensar, então, que as pessoas com esquizofrenia não conseguem se
inserir no mercado de trabalho, pois a sociedade desconhece a capacidade produtiva dessas
pessoas?
Pode-se concluir que o trabalho é uma das formas a partir das quais as pessoas
podem produzir e expressar o seu jeito de ser, bem como, se transformar, pois cumprem uma
atividade que contém uma referência social. No caso específico das pessoas com
esquizofrenia, o trabalho pode contribuir para o aumento da auto-estima dos sujeitos, para a
melhora da relação dele com a sociedade e, como forma de construção de sua identidade
profissional.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve por objetivo geral verificar as possibilidades que as pessoas
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com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho.
Pode-se dizer que a esquizofrenia é um transtorno psicótico e mental e que o
sujeito com esquizofrenia apresenta um comprometimento cerebral.
A possibilidade de inserção de pessoas com esquizofrenia no mercado de trabalho
está de acordo com os preceitos da Reforma Psiquiatra, a qual favorece a possibilidade de
recuperação, dessas pessoas, pela inserção na família, no trabalho e na sociedade.
A inserção no mercado de trabalho faz com que a pessoa com esquizofrenia
construa uma identidade profissional, tenha benefícios e as instituições empregadoras
obtenham vantagens.
Todavia, para que essa inserção de pessoas com esquizofrenia no mercado de
trabalho aconteça é necessário uma maior conscientização da sociedade, quer seja, por meio
de palestras em escolas de nível fundamental, médio e superior e de artigos científicos.
Finalmente, pensar que esses sujeitos terão mais oportunidades de reabilitação
psicossocial e de desenvolvimento social.
Destaca-se que o presente estudo, não esgota as possibilidades do tema em
questão. Assim sendo, recomenda-se para futuras pesquisas:
- aprofundar o estudo a fim de conhecer a opinião das próprias pessoas com
esquizofrenia sobre sua inserção no mercado de trabalho;
- realizar uma pesquisa com o objetivo de verificar as possibilidades que as
pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho, na concepção de
gerentes que trabalham em diversos setores empresariais;
- fazer uma pesquisa com os familiares das pessoas com esquizofrenia com a
finalidade de verificar as possibilidades que essas pessoas com esquizofrenia possuem para se
inserir no mercado de trabalho, na concepção dos próprios familiares.
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