. WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference MERCADO DE TRABALHO: UMA FORMA DE INCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA DE PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA FERNANDA DOS SANTOS TEODORO Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC CHRISTINE BENCCIVENI FRANZONI Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC ANA MARIA BENCCIVENI FRANZONI Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC RESUMO A Reforma Psiquiátrica, que surgiu no Brasil nos anos de 1970, através do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, trouxe garantias legais às pessoas com transtorno mental, a sua reinserção na sociedade, consequentemente favorecendo sua inclusão no mercado de trabalho. Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo geral verificar as possibilidades que as pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho. Foram investigados aspectos referentes à: transtorno mental e suas distinções em relação à deficiência física e mental; a esquizofrenia como um tipo de transtorno mental; o trabalho e a esquizofrenia. Pode-se concluir que as pessoas com esquizofrenia, que trabalham em diferentes níveis de atenção à saúde, têm possibilidades de se inserirem no mercado de trabalho. Palavras-chave: Esquizofrenia. Mercado de trabalho. Inclusão social. . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference MERCADO DE TRABALHO: UMA FORMA DE INCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA DE PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA RESUMO A Reforma Psiquiátrica, que surgiu no Brasil nos anos de 1970, através do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, trouxe garantias legais às pessoas com transtorno mental, a sua reinserção na sociedade, consequentemente favorecendo sua inclusão no mercado de trabalho. Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo geral verificar as possibilidades que as pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho. Foram investigados aspectos referentes à: transtorno mental e suas distinções em relação à deficiência física e mental; a esquizofrenia como um tipo de transtorno mental; o trabalho e a esquizofrenia. Pode-se concluir que as pessoas com esquizofrenia, que trabalham em diferentes níveis de atenção à saúde, têm possibilidades de se inserirem no mercado de trabalho. Palavras-chave: Esquizofrenia. Mercado de trabalho. Inclusão social. 1 INTRODUÇÃO O Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental - MTSM teve um papel fundamental no início da Reforma Psiquiátrica, o qual abriu um espaço de debate e luta pela transformação da assistência psiquiátrica, propondo alternativas antimanicomiais, defendendo a humanização do hospital psiquiátrico e restabelecendo a cidadania e a dignidade da pessoa com transtorno mental (ROCHA, 2005). A Reforma Psiquiátrica, ao debater a questão relacionada à inclusão das pessoas com transtorno mental no meio social deu às mesmas a garantia, em lei, de serem reinseridas na sociedade, portanto, no mercado de trabalho, o que ocorreu com a aprovação da Lei Federal de Saúde Mental nº. 10.216/01 (BRASIL, 2009a). Conforme Teodoro (2009), a legislação dá amparo legal à pessoa com transtorno mental e lhe garante direitos e proteção, assim sendo, cabe a família e a sociedade criar meios para a sua integração e reabilitação. Para Zambroni-de-Souza (2006), o sofrimento mental interfere na capacidade produtiva das pessoas, sendo que em certos momentos este sofrimento poderá dificultar o seu relacionamento social, não significando, entretanto, que elas se tornem definitivamente incapazes de seguir as orientações exigidas para qualquer atividade, em especial a atividade de trabalho. Continuando, o autor afirma que, “se entendermos melhor como essas pessoas com transtornos mentais enfrentam o mercado de trabalho ajuda no entendimento do que sejam os sofrimentos mentais – que a CID reconhece com o nome de transtornos. Ainda, pode-se compreender melhor o que é o trabalho e o lugar que o mesmo ocupa ou poderia . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference ocupar na vida de todos os seres humanos.” (ZAMBRONI-DE-SOUZA, 2006, p. 176). Como exemplo de iniciativa de capacitação para o mercado de trabalho de pessoas com transtorno mental, que já certificou cerca de 700 pessoas, cita-se a Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego da Cidade do Rio de Janeiro com o Projeto Deixa Comigo, que tem como objetivo a capacitação de pessoas com transtorno mental para o mercado de trabalho. Visando a reinserção no mercado de trabalho de pessoas com esquizofrenia, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, lançou em 2008 o ‘Projeto Esquizofrenia’. Em 2010 o Departamento de Psiquiatria da UNIFESP criou o Programa de Inserção Profissional e saúde mental, o qual, por meio de parceria com empresas insere pessoas com esquizofrenia no Mercado de Trabalho. Segundo dados do DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2009), em 2007 o número de desempregados das seis principais regiões metropolitanas do País foi estimado em cerca de 3 milhões de pessoas. No mesmo ano, foram gerados 553 mil novos postos de trabalho. Observa-se que o número de desempregados é muito superior ao número de novos postos de trabalho. Enquanto que, pelos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho no ano de 2007, havia 37,6 milhões de postos de trabalho, sendo que apenas 348,8 mil (1%) foram ocupados por pessoas com necessidades especiais e, destes, 2,4% têm deficiência intelectual (CORREIO BRASILIENSE, 2009). Salienta-se que os dados apresentados do DIEESE não fazem referência a índices ou taxas de empregados ou desempregados com transtorno mental. Os dados da RAIS referem-se a pessoas com necessidades especiais e com deficiência intelectual, excluindo àquelas pessoas com transtorno mental (TEODORO, 2009). Assim sendo, é pertinente investigar as possibilidades de inserção de pessoas com esquizofrenia no mercado de trabalho. 2 DEFINIÇÃO DE TRANSTORNO MENTAL E SUAS DISTINÇÕES EM RELAÇÃO À DEFICIÊNCIA FÍSICA E MENTAL Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental - DSM IV, da Associação Americana de Psiquiatria, transtornos mentais: são concebidos como síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente importantes, que ocorrem num individuo ou estão associados com sofrimento ou incapacitação ou com risco significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda importante da liberdade. [...]“qualquer que seja a causa original a síndrome deve ser considerada no momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou biológica no indivíduo” (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2003, p. 27 e 28). Observa-se que tanto a Associação Americana de Psiquiatria (2003) quanto a . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference OMS - Organização Mundial de Saúde (1993), concebem o transtorno mental como uma associação de sintomas acompanhados de sofrimento. Enquanto Amaral (2009) e a OMS (1993) afirmam que este transtorno prejudica a vida do sujeito. Nesse contexto, pode-se dizer que o transtorno mental afeta a vida pessoal do sujeito, bem como, sua relação com a sociedade. A fim de esclarecer melhor o conceito de transtorno mental é importante citar, ainda, duas modalidades de deficiência, a deficiência física e a deficiência mental, bem como, que seja estabelecida a diferença entre deficiência física, mental e transtorno mental. O termo deficiência significa “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.” (BRASIL, 2001). Ballone (2003) afirma que a deficiência mental é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Pelo Decreto nº. 3.298/09 tem-se que a deficiência física é a alteração total ou parcial de um ou mais parte do corpo humano, ocasionando o comprometimento da função física. (BRASIL, 2009). Nesse contexto, pode-se afirmar que enquanto a deficiência física é uma alteração que afeta a função física, a deficiência mental é caracterizada por uma redução da função intelectual e o transtorno mental é um conjunto de sintomas que afetam a mente das pessoas. Para Louzã Neto (1996), quando se fala em transtorno mental as pessoas associam-no à loucura e estão acostumadas a dizer que alguém está louco, quando este alguém apresenta uma perda da noção de realidade compartilhada por todos, isto quer dizer que a pessoa estaria fora dos padrões normais impostos pela sociedade. Acredita-se que, nesse contexto, uma das consequências positivas da Reforma Psiquiátrica, no âmbito social, foram também os estudos e debates no sentido de um maior esclarecimento e de uma visão mais humanizada acerca das pessoas com transtorno mental. A loucura, conforme Foucault (2000), no período da Idade Média e no Renascimento, era considerada como perversões sobrenaturais, sendo que as pessoas consideradas como loucas eram vistas pela sociedade como possuídas pelo demônio. Nessa época, do teocentrismo, conforme o mesmo autor, as pessoas que tinham um comportamento diferente das demais, ou comportamento agressivo e agitado, eram consideradas loucas, por conta da hierarquia católica, eram, também, perseguidas pela prática da Inquisição, queimadas ou submetidas a rituais, pois precisavam ser exorcizadas. Mas foi com Hipócrates que a loucura foi afastada da influência divina e foi considerada como uma manifestação do desarranjo na natureza orgânica do homem. Essas idéias passaram a influenciar a medicina nos séculos XVIII e XIX. (CECCARELLI, 2005). Nos estabelecimentos de internação são criados os Workhouses ou Zuchthausern (casas de trabalho), onde os internos realizavam trabalhos forçados, como fabricar objetos para serem vendidos no mercado de trabalho e o lucro era revertido para o funcionamento do hospital. Esse trabalho tinha como objetivo a sanção e o controle moral. Para Vieira (2009) foi necessária a formação de uma nova sensibilidade social para isolar a categoria da loucura e destiná-la ao internamento. Até então o transtorno mental ainda não era cogitado como doença mental e sim . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference como loucura que “é vista no horizonte social da pobreza, da incapacidade para o trabalho e da impossibilidade de integrar-se no grupo". (FOUCAULT, 2000, p.78) Com a Reforma Psiquiátrica o Brasil passou a integrar um grupo de países com uma moderna legislação em conformidade com a Organização Mundial da Saúde. Não mais se fala em loucura e sim em transtorno mental. A Reforma psiquiátrica ao favorecer a revisão do modelo manicomial até então vigente, ao dar garantias legais às pessoas com transtorno mental, bem como, dar a elas a possibilidade de recuperação pela inserção na família, no trabalho e na sociedade, fez com o termo loucura fosse aos poucos desmistificado e a sociedade passasse a enxergar essas pessoas sem preconceitos e estigmas. Nesse mesmo período surge no Brasil a discussão sobre a atenção na saúde mental. Intelectuais da época criticam a relação entre as instituições e a loucura, criando no Brasil o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), o qual criticava o saber psiquiátrico e dava ênfase a um novo modelo assistencial não mais baseado em manicômios, mas sim em serviços extra-hospitalares. (AFONSO et al., 2009). Segundo Alves (2009), a mudança na assistência só terá sustentação se as pessoas com transtornos mentais receberem cuidados adequados, não forem excluídas da comunidade em que vivem, bem como não se tornarem um fardo para seus familiares. Pode-se afirmar que as transformações na concepção da loucura vão depender de uma alteração na maneira como as próprias pessoas, isto é a família, as instituições, enfim, a sociedade de maneira geral, a concebem. Com a Reforma Psiquiátrica, no meio científico e social, de acordo com Teodoro (2009, p.29) o termo loucura está sendo gradativamente substituído por outras nomenclaturas, tais como, deficiência mental e transtorno mental, todavia as pessoas que apresentam um transtorno mental na maioria das vezes parecem ainda ser consideradas como inúteis e tendem a ser excluídas do mercado de trabalho. (TEODORO, 2009, p.29) 3 ESQUIZOFRENIA: UM TIPO DE TRANSTORNO MENTAL Shirakawa, Chaves e Mari (2001) afirmam que a esquizofrenia é uma psicose que afeta a capacidade da pessoa distinguir se as experiências vividas são ou não reais. Para Ballone (2008), a psicose é uma doença mental que se caracteriza pela distorção da realidade e ausência de harmonia entre o pensamento e a afetividade, sendo a esquizofrenia a representante mais característica das psicoses. O termo psicótico tem, no decorrer da história, conforme a Associação Americana de Psiquiatria (2003), definições diferentes, sendo que até o momento nenhuma delas teve aceitação universal. Conforme Lopes (2001), para Kurt Schneider, a única psicose propriamente dita é a esquizofrênica, pois a psicose maníaco-depressiva “está sendo retirada das manifestações psicóticas para entrar do lado das doenças corporais do pânico, e, sobretudo ela está sendo considerada uma doença do humor.” (LOPES, 2001, p.4) A esquizofrenia, apesar de existir a mais tempo, só foi conceituada de forma mais precisa no final do século XIX. Sadock e Sadock (2008) destacam a contribuição de Emil . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference Kraepelin e Eugen Bleuler ao longo da história, para a compreensão da esquizofrenia. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (2003, p. 316), a esquizofrenia é uma: perturbação com duração mínima de 6 meses e inclui no mínimo 1 mês de sintomas da fase ativa (i. é, dois, [ou mais] dos seguintes: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). A palavra esquizofrenia vem do grego, esquizo que significa cisão e frenia que significa mente, sendo que, em 1911, Eugen Bleuler, foi o primeiro psiquiatra a utilizar o termo esquizofrenia para definir uma doença psíquica caracterizada, basicamente, pela "cisão do pensamento, do afeto, da vontade e do sentimento subjetivo da personalidade". (GATTAZ, 2005, p. 1). Na mesma linha de pensamento, para Stotz (2006), a pessoa com esquizofrenia faz uma cisão entre o bom e o mau, ela não consegue ter estes dois sentimentos ao mesmo tempo. Além da cisão, ocorre também a negação maciça da realidade. Para um diagnóstico de esquizofrenia é importante que tenhamos dois ou mais dos seguintes sintomas: delírio, alucinação, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos. (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2003, p. 315). No primeiro momento, antes de acontecer a crise, fase ativa, a pessoa entra na fase prodrômica que é o momento onde os sintomas começam a aparecer, porém nesta fase é difícil o diagnóstico do transtorno esquizofrênico, pois os delírios e alucinações ainda não estão presentes, sintomas estes que evidenciam a esquizofrenia. Ainda, conforme o autor, após a fase prodrômica, entra a fase ativa onde, geralmente, começam a aparecer os delírios, alucinações, discurso desorganizado ou comportamento desorganizado. Essa fase dura um mês, sendo o ponto culminante da crise. Por último ocorre a fase residual quando a pessoa com esquizofrenia não apresenta sintomas das fases prodrômica e nem da fase ativa, entretanto pode apresentar perturbação. Essas três fases juntas têm a duração de mais ou menos seis meses. É importante salientar que, como a esquizofrenia é um transtorno crônico e degenerativo, cada vez que a pessoa entra em uma nova crise há uma piora, por isto é importante evitar uma próxima crise, fazendo uso de medicamentos prescritos pelo médico responsável. (STOTZ, 2006). 4 O TRABALHO E A ESQUIZOFRENIA Refletir sobre o trabalho, bem como sobre o universo que ele representa, na visão de Magalhães (2007), é pensar nas possibilidades de identificações que o trabalho permite, nas relações sociais que se organizam e se estabelecem a partir dele, bem como, pensar nos sentimentos por ele despertados. Na visão de Luna e Baptista (2001), o ser humano é uma totalidade, então, cada identidade que este ser possui, reflete outra identidade que ele também possui. Portanto, a sua identidade vai se transformando nas rotinas cotidianas, na sua integralidade em outros grupos, na convivência com novos amigos, novas organizações; na transformação através das relações . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference sociais, entre si e o outro, em suma, a “identidade é um processo de construção da representação de si, e que é entendido como transformação e metamorfose”. (LUNA e BAPTISTA, 2001, p. 40). Consequentemente, uma pessoa que é excluída das relações sociais, como as pessoas com esquizofrenia constroem uma identidade diferente da realidade, porque sozinha a pessoa apresenta dificuldades em sustentar um conceito de si mesmo, bem como, de interagir com a sociedade, pois, ela não se identifica e nem é identificada por esta sociedade. Para Hegel e Marx a alienação está ligada ao trabalho. Enquanto que, para Hegel, é pelo trabalho que o homem pode realizar inteiramente suas habilidades em produções materiais; para Max, o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. (SALATIEL, 2009). Na visão de Hegel essa alienação tem um sentido positivo, enquanto que, na de Max tem um sentido negativo. SOUSA (2001) afirma que o trabalho vem sendo utilizado, como terapia para as pessoas com transtornos mentais. Continuando, o autor diz que trabalhar deve ser um direito de todas as pessoas, até mesmo para aquelas com transtornos mentais, sendo que a falta de trabalho pode potencializar o sofrimento das pessoas com transtorno, pois o trabalho é uma referência econômica, psicológica e cultural na sociedade. Conforme Carvalho-Freitas (2009), as pesquisas sobre as dificuldades que as pessoas com deficiência têm para se inserirem no mercado de trabalho assinalam para uma ausência acentuada de conhecimento em relação à capacidade de trabalho destas pessoas, bem como, o desconhecimento do que seja a deficiência. Todavia, tem-se, devido à grande competitividade na procura por emprego, uma exclusão significativa de pessoas que aparentemente não apresentam nenhum tipo de deficiência e nem transtorno mental. Assim sendo, fica difícil a inclusão no mercado de trabalho de pessoas com transtorno mental, visto que elas são estigmatizadas pela sociedade, sofrendo muitas vezes preconceito e discriminação por parte da população. Dessa forma, para Zambroni-de-Souza (2006), as pessoas com transtornos mentais graves conseguem colocar-se muito pouco no trabalho, seja no mercado – formal ou informal – seja fora dele. Frequentemente essas pessoas são impedidas de realizar até mesmo o trabalho doméstico em suas casas. A Lei nº 8.213/91 deu amparo legal às pessoas com algum tipo de deficiência, ao instituir a obrigatoriedade das empresas de preencherem uma parcela de seus cargos com estas pessoas, bem como, com beneficiários reabilitados da Previdência Social. Observa-se, que a referida Lei não trata da inserção de pessoas com transtornos mentais no mercado de trabalho. É com o trabalho que a pessoa vai se modificando, pois a sua relação com ele não se dá simplesmente em produzir coisas, mas sim, na relação com a natureza e com a sociedade. Ao modificar a natureza, o homem se modifica e modifica a sociedade e, é nessa transformação, que ele vai mudando o seu jeito de ser e seu pensamento. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiram com a Reforma Psiquiátrica e foram inicialmente concebidos como alternativas terapêuticas ao modelo de atendimento centrado no hospital psiquiátrico. (CARDOSO e SEMINOTTI, 2006). Esses serviços, que foram regulamentados pela Portaria nº. 336/GM de 19 de fevereiro de 2002 e integrados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS), passaram a ter função de atendimento em saúde mental e de estarem capacitados para realizar prioritariamente o atendimento de pessoas com transtornos mentais severos e persistentes em sua área territorial. (BRASIL, 2009b). Passados dez anos da Reforma Psiquiátrica o Governo Federal viu a necessidade da reestruturação do modelo de atenção às pessoas com transtornos mentais. Tanto os Serviços Terapêuticos criados em 2000, como os CAPS em 2002 passaram a adotar a partir de . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference então, entre outras medidas, a inserção de pessoas com transtorno mental no mercado de trabalho. John Nash, ganhador do prêmio Nobel de economia e de outras honrarias, apesar de ser uma pessoa com esquizofrenia, é um exemplo de que pessoas com transtorno mental, desde que tratadas clinicamente e incentivadas pela família, podem trabalhar, ter destaque profissional e contribuir, por exemplo, para o desenvolvimento tecnológico, social e econômico do país. Nash lutou contra o estigma que existia sobre ele, quer na sua vida escolar, quer na profissional, assim mesmo, é professor universitário e aos 21 anos concluiu o curso de doutorado. (CARREIRO, 2005). O estudo realizado por Cardoso et al. (2006), que teve como objetivo investigar a qualidade de vida em homens e mulheres com diagnóstico de esquizofrenia, explorando os fatores associados com a baixa qualidade de vida no domínio ocupacional; investigou 123 pacientes com esquizofrenia selecionados de um Serviço de Referência em Saúde Mental (SERSAM, Divinópolis, Minas Gerais). Cardoso et al. (2006) afirmam que, mesmo sem levar em consideração o trabalho formal, mas sim a inserção do paciente em atividades ocupacionais diárias, o estudo contribui com informações relevantes, dado a escassez de investigações sobre a importância do trabalho na esquizofrenia, sobre a inclusão de pessoas com esquizofrenia no mercado de trabalho. Para os autores, pessoas que exercem alguma atividade profissional têm se mostrado mais satisfeitas, incluindo-se pessoas com esquizofrenia e com outras formas de doenças mentais. Martini (2009) afirma que a inserção de pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho tem um papel determinante na sua inclusão econômica, e, principalmente, social. É nesse ambiente de trabalho que essas pessoas com deficiência podem demonstrar a sua capacidade produtiva, fazendo com que sejam vistas com um novo olhar, e não mais como pessoas menos produtivas ou improdutivas, pois a “pessoa com deficiência deve ser entendida como alguém capacitada para o trabalho através de um processo de habilitação ou reabilitação”. (MARTINI, 2009, p. 3). Nota-se em Carvalho-Freitas (2009) e em Martini (2009), que os autores não fazem referência a pessoas com transtorno mental e sim àquelas com algum tipo de deficiência. Mais uma vez fica demonstrada a escassez de pesquisas sobre a inserção de pessoas com transtorno mental no mercado de trabalho. É possível pensar, então, que as pessoas com esquizofrenia não conseguem se inserir no mercado de trabalho, pois a sociedade desconhece a capacidade produtiva dessas pessoas? Pode-se concluir que o trabalho é uma das formas a partir das quais as pessoas podem produzir e expressar o seu jeito de ser, bem como, se transformar, pois cumprem uma atividade que contém uma referência social. No caso específico das pessoas com esquizofrenia, o trabalho pode contribuir para o aumento da auto-estima dos sujeitos, para a melhora da relação dele com a sociedade e, como forma de construção de sua identidade profissional. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo teve por objetivo geral verificar as possibilidades que as pessoas . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho. Pode-se dizer que a esquizofrenia é um transtorno psicótico e mental e que o sujeito com esquizofrenia apresenta um comprometimento cerebral. A possibilidade de inserção de pessoas com esquizofrenia no mercado de trabalho está de acordo com os preceitos da Reforma Psiquiatra, a qual favorece a possibilidade de recuperação, dessas pessoas, pela inserção na família, no trabalho e na sociedade. A inserção no mercado de trabalho faz com que a pessoa com esquizofrenia construa uma identidade profissional, tenha benefícios e as instituições empregadoras obtenham vantagens. Todavia, para que essa inserção de pessoas com esquizofrenia no mercado de trabalho aconteça é necessário uma maior conscientização da sociedade, quer seja, por meio de palestras em escolas de nível fundamental, médio e superior e de artigos científicos. Finalmente, pensar que esses sujeitos terão mais oportunidades de reabilitação psicossocial e de desenvolvimento social. Destaca-se que o presente estudo, não esgota as possibilidades do tema em questão. Assim sendo, recomenda-se para futuras pesquisas: - aprofundar o estudo a fim de conhecer a opinião das próprias pessoas com esquizofrenia sobre sua inserção no mercado de trabalho; - realizar uma pesquisa com o objetivo de verificar as possibilidades que as pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho, na concepção de gerentes que trabalham em diversos setores empresariais; - fazer uma pesquisa com os familiares das pessoas com esquizofrenia com a finalidade de verificar as possibilidades que essas pessoas com esquizofrenia possuem para se inserir no mercado de trabalho, na concepção dos próprios familiares. . WWW.CONVIBRA.ORG Business Conference REFERÊNCIAS AFONSO, Adalberto et al. A loucura e o controle das emoções. Disponível em: <http://www.icb.ufmg.br/lpf/revista/revista1/volume1_loucura.htm>. Acesso em 20 mar. 2009. ALVES, Domingos Sávio N. Reforma Psiquiátrica. Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/reforma.html>. 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